Clinical UpdateClinical Update Publicação de Atualização PProfissional rofissional da Dentsply Brasil Publicação de Atualização PProfissional rofissional da Dentsply Brasil • • • • • • • • Nº 2 Clareamento Caseiro Supervisionado pelo Profissional de Odontologia para Dentes com Vitalidade Pulpar Materiais para Núcleos de Preenchimento Silicones de Condensação Uso Racional dos Fluoretos na Odontologia de Promoção de Saúde Uso de Colutórios e Géis de Clorexidina na Prática da Odontologia Contemporânea A Endodontia de Vanguarda ao Alcance do Clínico: O Emprego das Limas Profile .04 e .06 Utilização do ProRoot na Prática Odontológica Uso Combinado de TPH - Esthet-X na Resolução de Fratura em Dentes Anteriores - Relato de Caso Clínico Etiologia das descolorações Clareamento Caseiro Supervisionado pelo Profissional de Odontologia para Dentes com Vitalidade Pulpar De um modo simplificado, as manchas ou alterações de cor podem ser classificadas em: A) Extrínsecas: Este tipo de descoloração pode advir da simples aposição de pigmentos oriundos da dieta alimentar (chá, café, vinho tinto, refrigerantes, etc...) e de outras substâncias (tabaco) sobre a superfície do esmalte (ou sobre o biofilme da placa). Um controle de placa deficiente exacerba este tipo de descoloração, que em muitas vezes pode ser resolvido por uma profilaxia e polimento coronário, aliado à cooperação do paciente no tocante à higiene, atenuação ou mesmo mudança de hábitos. Nestes casos, se o paciente ainda sentir a necessidade estética, o clareamento caseiro pode ser empregado para tornar mais “claros” os dentes que foram previamente “limpos”. B) Intrínsecas: Estas descolorações podem advir de fatores pré-eruptivos aonde podemos destacar a ingestão excessiva de medicamentos como tetraciclinas, fluoretos (fluorose dental), distúrbios sistêmicos como hipocalcemia, má formação congênita de esmalte ou dentina e ainda doenças exantemáticas . Para estas situações, o clareamento deixa de ser o tratamento estético de eleição, exceto nos casos de escurecimento leve por tetraciclinas sem formação de bandas. Nos casos moderado e severo e nos outros fatores etiológicos descritos acima, outros tipos de abordagem podem ser considerados para se que alcance os resultados estéticos desejados. Nas descolorações intrínsecas do tipo pós-eruptivas podemos destacar a impregnação crônica de pigmentos oriundos da dieta e substâncias como o tabaco, o “amarelamento” fisiológico oriundo da progressiva calcificação pulpar em função do avanço da idade, traumas, necrose pulpar ou até mesmo descoloração natural desde a erupção (acinzentado ou amarelado). Nestes casos o clareamento caseiro supervisionado constitui a modalidade de tratamento de escolha para aqueles que anseiam por dentes mais claros. Rodrigo Reis Mestre em Odontologia Restauradora – University of Michigan Mestre em Biomateriais Odontológicos – University of Michigan Doutor em Odontologia – Materiais Preventivos e Restauradores – UFRJ Coordenador Dentística I, II, III e Materias Dentários da UNIGRANRIO - RJ. Coordenador Especialização em Dentística Restauradora da UNIGRANRIO- RJ Diretor de Garantia de Qualidade da Dentsply-Brasil. Introdução Em face à crescente valorização da estética, a odontologia contemporânea dispõe de vários recursos para o alcance dos padrões estéticos estabelecidos. Dentre estes padrões, destaca-se o conceito de que dentes mais claros estariam com freqüência associados às características aparentes de saúde e jovialidade. No universo de procedimentos odontológicos estéticos atuais, grande ênfase tem sido colocada naqueles considerados minimamente invasivos, confiáveis, de fácil execução e de bons resultados, além de acessíveis economicamente. Tais características conferem uma alta relação custo/benefício a uma técnica como a do clareamento caseiro supervisionado pelo profissional de odontologia. Esta técnica foi inicialmente descrita por Haywood e Heyman em 1989, através do uso de géis clareadores em moldeiras individuais por algumas horas a cada dia, durante 1 a 3 semanas. Considerando-se que o clareamento dental constitui um procedimento eminentemente estético, torna-se mandatório que, previamente a este tratamento, tenhamos uma saúde oral adequada e em equilíbrio, cujo indicadores clínicos traduzem-se em ausência de lesões cariosas, periodonto sadio e controle de placa eficaz praticado por um paciente altamente motivado. Para eficácia de todo e qualquer tratamento, se faz necessário o correto diagnóstico e conhecimento da etiologia de uma dada condição clínica. Além disso, uma criteriosa seleção de casos, aliada à isenta e individualizada avaliação da opções de tratamento, se faz necessário. Concomitantemente, deve-se possuir domínio para execução correta da técnica proposta e compreensão de suas limitações e possíveis efeitos colaterais. Este trabalho tem por objetivo discutir os aspectos clínicos atuais relativos à técnica do clareamento caseiro supervisionado para dentes com vitalidade pulpar . Agentes clareadores para técnica caseira supervisonada Para esta técnica, os agentes clareadores modernamente empregados são o peróxido de carbamida nas concentrações de 10, 16 e 22% associados ao carbopol. O papel do carbopol seria de ser um agente espessante que reduz o excessivo escoamento do produto. Portanto, dentre os 1 Clinical Update Publicação de Atualização PProfissional rofissional da Dentsply Brasil trocar as mesmas e informar ao paciente que uma provável nova troca de restauração posterior ao tratamento será necessária por razões estéticas. Deve-se, no entanto, aguardar pelo menos 14 dias após o tratamento para que todo oxigênio residual seja eliminado. · Nos casos de pacientes que apresentem hipersensibilidade pela exposição dentinária ou cementária devido à retrações gengivais, deve-se tratar primeiramente desta hipersensibilidade, protegendo esta região exposta e posteriormente realizar o tratamento clareador. Nestes casos, a moldeira de clareamento pode ser confeccionada com sua margem aquém da cervical (cemento/ dentina). Após a inserção da moldeira recomenda-se que o paciente, com auxílio de uma escova, remova o excesso de gel clareador. B) Alterações na Superfície do Esmalte Uma vez que as soluções clareadoras penetram pelo esmalte por meio de frinchas e espaços interprismáticos rompendo macromoléculas de pigmentos orgânicos, é lícito crer que algumas alterações na superfície adamantina possam ocorrer. Autores relatam que, durante o tratamento, a ação de agentes clareadores aumenta a permeabilidade do esmalte. Outro fator seria de que nos primeiros minutos o pH do peróxido de carbamida tende a ficar próximo do pH crítico de dissolução do esmalte e que, por volta de 30 minutos, tende a estar básico devido ao contato do subproduto uréia com os tecidos. No entanto, este efeito desmineralizador tem sido clinicamente comparado a uma simples profilaxia com pasta abrasiva ou até mesmo um breve condicionamento ácido. Outros autores mencionam que a exposição por 6 horas a uma solução de peróxido de carbamida a 10% daria ao esmalte a mesma aparência quando exposto por 2,5 minutos a um refrigerante. Logo, o profissional deve instruir aos seus pacientes que durante o tratamento a dieta de alimentos ricos em pigmentos deve ser evitada. Em uma situação “in vivo” devemos levar em conta o poder remineralizante da saliva (capacidade tampão) e de dentifrícios fluoretados. Notadamente, clínicos observam que após ao término do clareamento, em poucos dias se observa um ligeiro escurecimento. Isto pode ser explicado pela hidratação dos espaços interprismáticos por onde permeou o agente clareador e pela própria remineralização superficial do esmalte. Portanto, em verdade, não houve um escurecimento, mas sim redução na opacidade (aspecto esbranquiçado) da superfície do esmalte. Com o intuito de se minimizar efeitos de agentes clareadores a base de peróxido de carbamida sobre a superfície de esmalte, recomendamos o uso da mínima concentração considerada efetiva e de preferência de um produto que contenha fluoreto em sua composição (peróxido de carbamida a 10% com flúor). C) Potencial Carcinogênico Tem sido demonstrado em ensaios experimentais em cobaias que o peróxido de hidrogênio possui um potencial promotor e não iniciador de uma proliferação celular desordenada. Substâncias que possuem potencial iniciador quando o usuário as utiliza em demasia são bebidas alcóolicas, fumo, alimentos com conservantes, agentes que contém carbopol, do ponto de vista de conforto clínico para o paciente durante o tratamento, os agentes clareadores com alta viscosidade seriam preferíveis. O carbopol propicia ainda uma lenta liberação de hidrogênio, fato que aumenta o tempo de eficácia do material. Com relação às diferentes concentrações, tem sido descrito que, no início do tratamento, as concentrações mais altas promovem um resultado mais acelerado no tocante ao clareamento, porém com maiores relatos de sensibilidade térmica. Autores relatam que ao final do tratamento, no entanto, não existia do ponto de vista de clareamento final diferenças entre as concentrações. Mecanismo de atuação do peróxido de carbamida Quanto ao mecanismo de atuação, o peróxido de carbamida a 10% quando em contato com tecidos ou saliva, se degrada em peróxido de hidrogênio a 3% e uréia a 7%. Em seguida, o peróxido de hidrogênio se degrada em oxigênio e água, e a uréia em dióxido de carbono e amônia. No processo de clareamento, acredita-se que o oxigênio (através da permeabilidade da estrutura dental) ocasione uma oxidação de pigmentos orgânicos ou ainda uma quebra progressiva de macromoléculas complexas em moléculas menores (reduzido peso molecular que refletem menos luz) que seriam parcialmente ou totalmente eliminadas da matriz dos tecidos dentais por um mecanismo de difusão. Este fenômeno se traduz clinicamente pela eliminação ou redução do pigmento, tornando a aparência dos dentes mais claras. Deve-se esclarecer ao paciente que em qualquer tipo de tratamento clareador não existe previsibilidade do resultado final em termos de quanto se conseguirá clearear. Efeitos Colaterais A) Sensibilidade: face a alta capacidade de penetração dos agentes clareadores e à permeabilidade da estrutura dental, existem vários relatos de sensibilidade transitória durante o período de tratamento que, via de regra, cessa após o término do mesmo. Alguns fatores no entanto, contribuem para impedir a difusão em direção à polpa, são eles: pressão pulpar positiva, viscosidade do gel e a permeabilidade da estrutura dental que varia de acordo com cada caso, além da concentração do produto (quanto maior a concentração maior o potencial irritante). Para se minimizar a sensibilidade algumas recomendações se tornam pertinentes: · Selecionar o produto de alta viscosidade e concentração mínima considerada efetiva pela literatura (peróxido de carbamida a 10%) e de preferência contendo flúor. · Em casos onde o paciente relate desconforto, recomenda-se a aplicação tópica semanal durante a visita de controle de um gel fluoretado neutro incolor a 2% ou ainda bochecho diário com colutório de fluoreto de sódio a 0,05% durante o tratamento. · Nos dentes que apresentarem restaurações com integridade marginal deficiente, previamente ao tratamento, deve-se 2 Clinical Update Publicação de Atualização PProfissional rofissional da Dentsply Brasil mentos empregados para polimento de compósitos. · Na segunda consulta, experimente a moldeira no paciente, verificando se a mesma encontra-se bem adaptada e sem exercer pressão sobre tecidos gengivais ou com interferência sobre lábios, língua e bochecha. Deve-se optar por se clarear uma arcada por vez (proporciona maior conforto e facilita o controle da evolução do tratamento pelo profissional e pelo paciente). Instrua ao paciente a aplicar uma gota do agente clareador por dente na face vestibular interna da moldeira, como assentar a moldeira e a remover eventuais excessos de agente clareador que por ventura extravasem por meio de uma escova dental. agrotóxicos, além de exposição excessiva ao sol. Vale ressaltar que a quantidade de peróxido de hidrogênio liberada pelo peróxido de carbamida é de apenas 3%, aproximadamente. Desde 1979 o FDA (Food and Drug Administration) reconhece que o peróxido de hidrogênio a 3% como anti-séptico oral seguro e eficaz. Mais recentemente, a ADA (American Dental Association) concedeu aceitação a alguns clareadores de peróxido de carbamida a 10%. Deve-se levar em conta de que os riscos do potencial carcinogênico do peróxido de hidrogênio estaria associado a uma dose elevada ( provavelmente não sendo o caso da degradação do peróxido de carbamida a 10%) e em pacientes com notados fatores pré-disponentes ao desenvolvimento de um carcinoma. Portanto, deve-se evitar tanto por este motivo quanto pelo comprometimento do sucesso do tratamento do ponto de vista estético o clareamento caseiro supervisionado em fumantes e em alcóolatras. Devemos atentar que enxaguatórios bucais que contém elevado teor de álcool poderiam em tese também apresentar riscos e no entanto encontram-se disponíveis no mercado. Mais uma vez, para qualquer tipo de tratamento, ressalta-se a importância de uma detalhada anamnese e seleção de caso e como prática utilizar a menor dose considerada efetiva, neste caso o peróxido de carbamida a 10%. D) Danos aos tecidos moles: Este fato está relacionado mais às rebarbas e ao acabamento deficiente das moldeiras do que ao agente clareador propriamente dito. Por isto a supervisão do profissional se faz imperativa ao longo do tratamento. Fig. 1: Pré-Operatório Sequência do Tratamento · Documentação e exame clínico, radiografias periapicais pré-operatórias, esclarecimento da técnica ao paciente junto com suas limitações. Profilaxia e Registro da cor (escala e se possível fotografias). Moldagem das arcadas dentárias com alginato e vazar modelos com gesso tipo IV. · Recortar modelos deixando uma base reta em forma de “U” (sem assoalho bucal e sem palato). Em casos de maior escurecimento pode ser feito um alívio de 0,5 a 1,0 mm (aplicando uma fina camada de resina fotopolimerizável) somente na face vestibular de incisivos caninos e pré-molares. Este alívio, feito aquém (0,5 mm) da cervical e do bordo incisal, cria um reservatório, aumentando a quantidade de agente clareador na face vestibular, permitindo melhor assentamento da moldeira e minimizam o desperdício do gel. · Estando preparado o modelo, selecionar uma folha plástica flexível de 0,8 a 1,0 mm de espessura e confeccionar a moldeira utilizando uma termoplastificadora a vácuo (procedimento feito pelo CD em seu consultório ou pelo TPD). A moldeira preferencialmente deve ser recortada com seus limites estando aproximadamente de 1 a 2mm além da coroa clínica dos dentes (melhora vedamento e aumenta estabilidade da moldeira) ou ainda recortada próximo ao nível da margem gengival livre. Este recorte deve ser feito com lâminas de bisturi afiadas, não deixando rebarbas. A borda pode ainda ser refinada com discos de acaba- Fig. 2: Posicionamento da moldeira com Clarigel Gold Fig.3: Vista estética da paciente com a moldeira em posição Recomenda-se como protocolo o uso da moldeira de 4 a 8 horas diárias (noturno durante o sono ou mesmo diurno) durante um período de 2 a 4 semanas conforme o caso. Ressalte a importância da escovação prévia, bem como posterior ao tratamento diário, além da limpeza da moldeira. Forneça uma seringa ao paciente e remarque uma consulta de controle após 7 dias. Diante de qualquer desconforto o profissional deve ser contactado e instruir ao paciente de como proceder conforme explicado anteriormente 3 Clinical Update Publicação de Atualização PProfissional rofissional da Dentsply Brasil na parte de possíveis efeitos colaterais. com clareamento vital no consultório ou ainda como complemento em clareamento de dentes desvitalizados) Recomendações: Vantagens da Técnica · O paciente deve se abster da ingestão de alimentos e bebidas enquanto estiver usando a moldeira com o gel clareador. Por isso recomendamos o protocolo noturno. · Por se tratar de um procedimento estético e eletivo, deve-se evitar o tratamento clareador caseiro em gestantes ou lactantes. · Nas consultas de controle verificar a evolução do tratamento. Normalmente o maior efeito se nota após duas semanas. No entanto, o tratamento deve ser interrompido quando o paciente estiver satisfeito com o resultado obtido. Alguns clínicos relatam que a arcada inferior a velocidade de clareamento é mais lenta, talvez pela lixiviação do gel pelo alto fluxo salivar. Fig.7: Antes... Fig.8: Vista estética após algumas semanas · Simples, efetiva, confiável, minimamente invasiva e bem documentada na literatura. · Consultas curtas e tratamento de baixo custo operacional para o profissional, gerando maior rentabilidade. Fig.4: Resultado após 2 semanas de uso Considerações Importantes · Requer um paciente colaborador. · Requer a supervisão pelo profissional de odontologia. Leitura Recomendada · Baratieri LN et al. Odontologia Restauradora: Fundamentos e Possibilidades 1a edição 2001, Ed. Quintessence. · Baratieri LN et al. Clareamento Dental 1a edição 1993, Ed. Quintessence. · Fraga RC e Fraga LR. Dentística: Bases Biológicas e Aspectos Clínicos 2a edição 2001, Ed. Medsi. · Haywood VB. Nightguard vital bleaching. Quint. Int. 20: 173-76, 1989. · Haywood VB. Nightguard vital bleaching: Current concept and research. JADA, 128: 19-25, 1997. · Heymann HO et al. em Sturdevant´s: The art and Science of Operative Dentsitry. 3a ed. 1994, Ed. Mosby. · Leonard RH et al. Risk factors for developing tooth sensitivity and gingival irritation associated with nightguard vital bleaching. Quint. Int. 28: 527-34, 1997. · Weitzman AS et al. Effects of hydrogen peroxide on oral carcinogenesis in hamsters. J. Preiodont. 57: 68588, 1986. · Woolverton CJ et al. A toxicologic screen of two carbamide peroxide tooth whiteners. J. Dent. Res. 70: 558 (abstract 2338), 1991. Fig. 5: Pré-Operatório Fig.6: Pós-Operatório · Dependendo de cada caso e dos hábitos do paciente, por volta de 1 a 3 anos pode haver um leve escurecimento que, caso seja desejo do paciente, pode ser facilmente revertido com uma semana de novo tratamento. · A técnica caseira supervisionada empregando peróxido de carbamida pode ainda estar sendo empregada em conjunto com outras técnicas de clareamento (associação 4