FeSBE Federação das Sociedades de Biologia Experimental SBNeC Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento Comportamento de peixes: Vantagens e utilidades nas neurociências Amauri Gouveia jr Colaboram: Caio Maximino Thiago Marques de Brito 2006 2 Reprodução permitida desde que citada fonte Como citar este trabalho em referências: Gouveia Jr, A., Maximino, C. & Brito, T.M. (2006). Comportamento de peixes: Vantagens e utilidades nas neurociências. Faculdade de Ciências/UNESP. Bauru: SP. DIVISÃO TÉCNICA DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO UNESP – BAURU G739c Gouveia Jr, Amauri. Comportamento de peixes : vantagens e utilidades nas neurociências / Amauri Gouveia Junior, Caio Maximino, Thiago Marques de Brito. –Bauru : [s.n.], 2006. 80 f. 1. Peixes. 2. Comportamento. 3. Modelos animais. 4. Ansiedade. I. Maximino, Caio. II. Britto, Thiago Marques de. III. Título. CDD 591.5 Ficha catalográfica elaborada por Maristela Brichi Cintra – CRB 5046 3 “O peixe é bastante diferente Ninguém pode entender como é seu gênio Reservas porções de oxigênio Mutações para o meio ambiente Tem mais cartilagem resistente Habitando na orla ou profundeza Devora outros peixes pra despesa E tem época do acasalamento revestido de escamas esse elemento Com a força da santa natureza” (Ivanildo Vilanova e Xangai - Natureza (trecho)) 4 sumário Prefácio ............................................................................... 04 Cap 1 - Vantagens do uso de peixes ............................... 05 Cap 2 – O que é comportamento?.................................... 13 Cap 3 – Modelos comportamentias em peixes ............... 19 Cap 4 – Modelos de ansiedade piscina .......................... 45 Referências ........................................................................ 57 Anexo I – modelo de laboratório portátil para comportamento de peixes ................................................ 71 5 Prefácio Os estudos comportamentais com peixes possuem uma longa tradição que remonta ao advento da psicologia científica. Thorndike (1911) utilizou a espécie Fundulus sp em estudos de labirinto. Lorenz (1983) executou diversos estudos etológicos com peixes cliclídeos. Peixes como o Danio rerio (Paulistinha, Zebrafish) são utilizados como modelos de desenvolvimento e bioindicadores. A fisiologia e a ecologia de peixes são assuntos que mobilizam centenas de laboratórios no mundo e os estudos relativos a aqüicultura são fonte de crescente interesse e financiamento. No entanto, o estudo do comportamento de peixes não desperta tanto interesse; Volpato (2003 – comunicação pessoal) levantou apenas 19 grupos brasileiros que trabalhavam com comportamento de peixes. Destes dados, podemos concluir que o uso de peixes como modelos comportamentais animais não é uma coisa comum. O objetivo deste texto é divulgar algumas das possibilidades de uso e facilidades a partir de uma revisão da literatura que, ainda que não seja exaustiva, possa servir de incentivo para que mais grupos se animem a este tipo de pesquisa e permitam o aumento da comunidade e a densidade de pesquisadores na área. Amauri Gouveia Jr 6 Cap. 1 Vantagens do uso de peixes Peixes como animais experimentais Peixes, de forma geral, podem ser definidos como um conjunto de espécies que vivem em ambiente aquático, possuem escamas, utilizam-se de movimentos da base da calda para locomoverem-se e tem o sistema olfativo diferenciado da respiração (Pough, Janis & Heiser, 2003); as semelhanças entre os diversos taxa param aí. Algumas espécies apresentam sensores químicos ou físicos especializados para determinados estímulos, como campos elétricos; outras podem gerar campos elétricos com funções diversas de eletrorrecepção e eletrocomunicação; algumas apresentam visão de cores, outras têm olhos residuais ou mesmo ausentes. Embora grande parte deles absorva oxigênio da água pelas guelras ou pele, tal função não é regra. Os ambientes em que são encontrados variam desde fossas abissais até poças de água, sob uma diversidade de condições de salinidade, dureza da água, pH, turbidez, ou quantidade de matéria em suspensão. Sua distribuição comportamental em termos de alimentação inclui desde filtradores de resíduos até carnívoros, passando por diversos tipos de dieta. Existem peixes gregários, solitários, que estabelecem hierarquias, que formam casais e que constroem ninhos. Seu tamanho pode variar desde milímetros até 7 7 metros; sua reprodução pode ser por partenogênese, ovípara ou ovovivípara; pode apresentar cuidado com o filhote ou não. Tal diversidade, antes de constituirse em um obstáculo, é uma vantagem para seu uso como animal de laboratório e seu estudo. Talvez a primeira coisa a se considerar é que pensar em peixes como uma classe homogênea é uma abstração. Um tubarão tem tanto a ver com uma enguia como um ornitorrinco com um elefante. Desta forma, falar de peixes de forma genérica é sempre um risco. O primeiro conselho para quem se aventurar no estudo comportamental de peixes é: conheça o “seu” animal. A ecologia, formas de manutenção, hábitos, alimentação e fisiologia devem ser exaustivamente estudadas na literatura embora para a grande maioria dos peixes isto não possa ser feito, em especial para os peixes neotropicais. Há cerca de dois anos atrás, um conhecido pesquisador de peixes neotropicais de Manaus declarou que a fisiologia de peixes era por vezes divisível em “trutologia” e o “resto”, dado o grande número de estudos com estes salmonídeos e a tendência dos pesquisadores de generalizarem seus dados para outras espécies; no entanto, a biologia de peixes tropicais é uma área de grande variabilidade entre espécies, fruto de um enorme processo de especialização e especiação em ambientes dos mais variados que levaram ao desenvolvimento de adaptações bioquímicas e fisiológicas únicas, que tornam este estudo ainda mais fascinante (Val e Almeida-Val, 1999). Os peixes são divididos taxonomicamente, de forma inicial, em agnatos e gnatotomatos, conforme a ausência ou presença de mandíbulas, respectivamente, 8 sendo a primeira classificação corresponde a lampreias e feiticeiras e a segunda a todos os demais peixes. A segunda categoria (os gnatotomatos) é tradicionalmente dividida em elastomobranchios e hosteochitideos, sendo os primeiros correspondentes aos peixes cartilaginosos (tubarões, raias e quimeras) e os segundos a todos os demais peixes ósseos. Estes últimos são divididos em sarcopterigios e teleósteos. A figura 1, abaixo, apresenta a divisão taxonômica dos peixes. Os peixes mais utilizados em pesquisa comportamental são teleósteos; isto se deve à sua maior dispersão geográfica e conhecimento de sua fisiologia. Dentre estes, os peixes utilizados em aquarismo são mais utilizados, provavelmente devido a seu manejo já estabelecido, facilidades de reprodução (em parte deles, especialmente aqueles de domesticação mais antiga, como a carpa e o goldfish) e de manutenção. Pelos mesmos motivos, observamos predomínio dos peixes de água-doce. Em geral, os peixes utilizados em pesquisa laboratorial são de pequeno porte, de forma que se pode montar um laboratório em espaços reduzidos (eu mesmo tive o meu primeiro laboratório de peixes em minha sala no departamento onde dou aulas, sobre uma mesa de não mais de 1,60 x 0,80 m). 9 figura 1 – distribuição taxonômica dos peixes. (Adaptado de Emde, 2000). 10 Além disto, os animais podem ser mantidos em grupos relativamente grandes (de até 15 a 25 por aquário) de forma tranqüila. Sua manutenção exige alguns cuidados básicos, o que, por sua vez, exige a compra de alguns equipamentos (um termostato, lâmpada, um filtro externo ou aerador e reagentes para a qualidade de água - sempre lembrando que peixes gostam de água com uma biota adequada, não tão limpa) - mas estes são de baixo custo quanto comparados com os exigidos por animais experimentais mais tradicionais, como roedores. Peixes também são animais que consomem, proporcionalmente, menos comida que mamíferos, o que reduz os gastos com alimentação. Estes equipamentos e formas de manejo mais simples podem ser encontrados em bons livros de aquarismo e comprados em petshops. Um modelo de laboratório portátil para o estudo de comportamento de peixes encontra-se no anexo 1. Tabela 1 – equipamentos básicos para manutenção de peixes. • • • • • • • Aquários (podem ser substituídos por potes plásticos, caixas d’água e similares) Areador (para quebrar a tensão superficial da água e permitir troca gasosa) Filtro (externo ou biológico) Termostato (adequar a potência ao tamanho do aquário) Luzes Temporizador (“timer”) Testes e corretores para: o pH (pHmetro, se houver) o Nitritos (para aquários marinhos) o Amônia o Dureza da água Os aquários podem ser de plástico, vidro ou acrílico. Sua opacidade e forma podem variar grandemente segundo os objetivos do ambiente: reprodução, 11 manutenção ou criação, bem como pela espécie de peixe que se cria. Em geral, tanques e aquários maiores permite maior estabilidade de ambiente e conseqüentemente, menor perda de sujeitos e cuidados com a manutenção. A Tabela 1 indica os equipamentos básicos para manutenção dos animais. Se esta for à linha principal do laboratório, e irá ser mantida por muito tempo, sugere-se que os equipamentos sejam adaptados para grande porte, com a substituição, por exemplo, de aeradores por turbinas de ar ligadas a tubos. As espécies a serem utilizadas em laboratórios piscinos podem variar grandemente, segundo os objetivos das pesquisas, possibilidade de coleta, compra ou reprodução destas. espaço disponível, Em uma revisão não exaustiva da literatura que usaremos aqui, as principais espécies estudadas para comportamento são apresentadas na tabela 2. Cabe destacar que o Goldfish (Carassius auratus) corresponde a quase 50% de todos os trabalhos, seguido pelo Paulistinha (Zebrafish, Danio rerio - 25%) e pela tilápia (Oreochromis niloticus -15 %). Tabela 2 – Espécies estudadas em aspectos comportamentais na revisão apresentada • Betta splendens • Carassius auratus • Cichlassoma meeki • Fundulus heteroclitus • Hexagrammus decagrammus • Macropodus opercularis • Oncorhicus mykiss (anteriormente Salmo gairdneri) • Pachyurus squalmipinnis • Rivulus marmuratus • Thymallus thymallus • Brachyhypopomus pinnicaudatus • Danio rerio • Gymnotus carapo • Ictalurus nebulosus • Notemigonus crysoleuca • Oreochromis niloticus • Poecilia reticulata • Sciaenops ocellatus • Xyphophorus variatus • Micropterus salmoides 12 Chama a atenção à pequena participação de peixes amazônicos, representados pela Tuvira ou carapó (Gymnotus carapo) e pelo Lebiste ou guppy (Poecilia reticulata). Esta concentração em poucas espécies tem motivos históricos (o goldfish foi um dos primeiros peixes domesticados), de disseminação (o guppy é peixe introduzido em vários países), de uso de dados “secundários” (o zebrafish é um dos modelos de embriologia mais utilizados no mundo; a Tilapia é o principal peixe de aqüicultura tropical) ou por propriedades dos peixes (a Tuvira é um peixe fracamente elétrico). Claro que o uso de peixes não se limita a estudos comportamentais. Em uma revisão (Bollis et al., 2001), encontram-se diversos usos de peixes como animais experimentais: fisiologia cardíaca e respiratória; cultura celular; ecotoxicologia; endocrinologia; carcinogênese; gerontologia; neurofarmacologia; e biologia molecular. Bollis et al. (2001) indicaram a possibilidade do uso de modelos comportamentais animais em 6 destas categorias. Apesar disto, os objetivos deste texto se concentrarão em modelos comportamentais. Conforme foi falado, a revisão feita não é exaustiva e outros artigos que apresentam o mesmo modelo não foram citados. Desta forma, estudiosos de agressão, por exemplo, vão nos acusar de poucos artigos deste modelo, mas o objetivo é simplesmente dar uma geral das formas de trabalhar em comportamento mais comuns, com ênfase em modelos de ansiedade. 13 Cap 2 O que é comportamento? Em geral o uso do termo “comportamento” tem significados diferentes para diferentes autores; grosso modo, pode ser agrupado em dois significados básicos: é comportamento todo ato motor de um animal; é comportamento todas as interações de um animal com seu ambiente, como organismo, e não somente os atos motores. Esta segunda definição apresenta duas acepções básicas: por um lado, o comportamento é uma espécie de “fisiologia de segunda ordem”, que se refere não à fisiologia do sistema ou de parte dele, mas do conjunto de sistemas, e assim inclui tudo aquilo que normalmente é caracterizado como “psicológico” - como pensamento, linguagem, memória, percepção, etc 1 ; por outro, as unidades definidas como alvo de estudo do comportamento podem ser maiores ou menores, segundo quem as define. 1 Isso não implica, entretanto, que as “leis psicológicas” são redutíveis às “leis do comportamento”. 14 De forma geral, quando um biólogo fala de comportamento, fala de grandes unidades, como o comportamento alimentar ou reprodutivo; um psicólogo, por outro lado, fala de unidades menores, como apertar uma barra ou caminhar. Estas definições são, sem sombra de dúvida, bastante controversas, e geraram uma grande quantidade de estudos que fogem do escopo deste breve trabalho. 2 O quadro 1 apresenta níveis de organização em que o comportamento pode ser estudado. Uma breve olhada sobre este indica que o comportamento pode ser tanto algo coletivo, como a ação de parte do corpo. Tal variabilidade de usos de termos exige que se defina claramente o que está sendo chamado de “comportamento” para o julgamento das estratégias utilizadas. A pesquisa comportamental pode ser de dois tipos: centrada em espécies, ou centrada em comportamentos. No primeiro tipo de pesquisa, em geral identificada com a zoologia e etologia clássica, bem como com a ecologia comportamental, o objetivo é conhecer o particular de um comportamento de uma espécie, e, comumente, compará-lo com o de espécies próximas ou de ecologia similar. No segundo tipo, o objetivo é a dedução de uma lei geral de comportamento, válida para um grande número de espécies - em geral, tal tipo de pesquisa é identificada com o behaviorismo e as ciências cognitivas, bem como com a psicologia cognitiva. Normalmente, o primeiro grupo de pesquisa visa a busca de causa evolutivas para o comportamento, relacionando as respostas comportamentais a 2 Estudos de campo em geral são referentes aos seguintes aspectos da vida dos animais: alimentação; cuidado com a prole; mating; comportamento agonistico e hierarquia; organização de grupo e migração. 15 particularidades da seleção natural ou fatores motivacionais intrínsecos; o segundo grupo de pesquisas busca a dedução de leis gerais do comportamento, em geral ligadas a aprendizagem e memória, sem muita ênfase sobre as características espécies especificas destes comportamentos (Lehner, 1996). O conjunto de elementos que apresentamos tanto é valido para o estudo das bases fisiológicas do comportamento, como para sua organização mais macro; tanto para uma situação natural, como para o laboratório; tanto para o estudo de espécies e grupos, como para o estudo de indivíduos, gerando um modelo tridimensional do estudo do comportamento. Quadro 1 – Níveis de organização do comportamento que podem ser alvo de pesquisas (inspirado em Lehner, 1996). Nível de organização Exemplo Espécie Fatores sazonais que determinam a migração de peixes oceânicos População Comportamento migratório de peixes Grupos familiares Cuidado parental no Betta splendens Díades Display de agressão no Peixe-do-paraiso (Macropodus opercularis) Indivíduos Busca alimentar Tipo de comportamento Alimentação Ato comportamental Mordida Partes do corpo Mandibula Músculos Cardíaco Neurônios/nervos Vago Bioquimica Variação de 5-Ht Para nossos propósitos, vamos definir como comportamento tudo o que o animal faz, e assumiremos que a unidade de análise pode ser variada e será explicitada sempre que possível. Por outro lado, não assumimos que fenômenos 16 como memória, percepção ou outros podem ser descritos sem estes termos específicos ou sejam redutíveis a uma única natureza de fenômeno, mas assumiremos que, dentro do repertório de coisas que um animal pode fazer, existem diversas categorias funcionais que podem ser estudadas de formas diversas ou complementares (cf. Donahoe & Palmer, 1994). Em geral, a análise de um comportamento, como definido acima, implica em manipulação de variáveis biológicas ou ambientais e a mensuração de um padrão de ação definido. Por exemplo, sabemos que ratos expostos a uma situação composta por uma arena circular tendem a distribuir sua exploração de forma desigual entre o centro deste aparato e a periferia, explorando mais esta última. Sabemos também que o comportamento de explorar (isto é, andar pelo aparato) diminui ao longo do período de exposição. Neste caso, variações ambientais de luminosidade, tamanho do aparato, horário do dia em que é feito o teste, cor do aparato, e objetos introduzidos na arena alteram este padrão de ambulação. Sabemos também que drogas, lesões, privação de água ou alimento, e variações de cepas, entre outras variáveis, alteram o comportamento (cf. Prut & Belzung, 2003). O cruzamento entre estas variáveis é objeto de estudo nosso. Pode-se também analisar como a ambulação, ou outros comportamentos emitidos pelo sujeito experimental, se dá. É claro que o comportamento não ocorre ou não pode ser somente estudado em situação laboratorial, mas para os nossos propósitos somente nos deteremos neste tipo de estudo. 17 Resumidamente, o estudo experimental do comportamento pode ter três objetivos diferentes: o comportamento pode ser uma medida indireta de um efeito (como nos modelos que aqui falamos, por vezes chamados de ensaios biocomportamentais ou bioensaios comportamentais); pode ser um estudo de seus elementos determinantes (tanto ambientais como biológicos) em termos paramétricos (em geral , o objeto das ciências do comportamento); ou pode ser uma manipulação que vise alterar os efeitos de outra manipulação (como nos estudos clássicos de fisiologia do exercício). De forma geral, quando a manipulação do comportamento é organizada de forma a servir de medida para uma categoria de pesquisa, fala-se de modelos comportamentais; estes são a redução de uma categoria de comportamentos 3 aos seus elementos considerados, de forma teórica, como essenciais em um ambiente padronizado, de forma a permitir o estudo das bases farmacológicas, biológicas ou ambientais de cada uma destas categorias. Há diversos textos sobre modelos (confira, por exemplo, Willner, 1991; Gouveia Jr, 1999). A leitura destes textos pode ser feita sobre quem tiver mais curiosidade sobre este tema e por aqueles que decidirem seguir a área. Na escolha do comportamento a ser analisado, o conhecimento da ecologia comportamental e da fisiologia da espécie é de suma importância. Tal fato evita a antropomorfização dos estímulos e comportamentos – o famoso “Cânone de Morgan” - ou seja, evita que o pesquisador interprete os dados observados através de um tipo de psicologia ingênua (Folk psychology), baseado na leitura 3 Uma categoria de comportamentos inclui diversas classes de respostas, i.e., um grupo de coisas que o animal faz com a mesma função e suas respectivas topografias, ou seja, a forma como isto é feito. Por exemplo, uma categoria comportamental “agressão” implica nas classes de resposta de luta, fuga, observação, etc, e estas podem incluir diversas formas de ocorrência, como displays e lutas físicas. 18 das reações do animal a partir do pressuposto de que elas correspondem a suas próprias reações (o caso típico é do sujeito que considera que um peixe de fundo – “limpa vidro” - isolado em um saco de plástico e exposto a luz nada de um lado para o outro por estar “feliz”, e não como parte de um comportamento defensivo de tentar buscar uma toca ou sombra). Exemplificamos: conhecer o que uma espécie enxerga pode evitar o uso de estímulos “não visíveis” para estes animais. Um modelo animal largamente utilizado é o Gymnotus sp (Carapó ou tuvira), um peixe fracamente elétrico que usa um campo eletromagnético para se localizar no ambiente. Uma leitura antropomórfica do experimento evitaria o uso deste comportamento, com prejuízos claros para o conhecimento. A construção de um modelo comportamental depende do embricamento dos conhecimentos relativos aos comportamentos da espécie, das leis comportamentais e da biologia, integrando o conhecimento naturalístico ao laboratorial, de forma a subsidiar a interpretação de dados com vistas ao desenvolvimento de tecnologias comportamentais médicas, industriais e de pesquisa. Não se trata de tarefa fácil, e implica em uma leitura de causalidade “aninhada” (“nested”) dos diversos níveis de organização do comportamento e das diversas causas (Willner, 1991; Killeen, 2001; Barker et al., 2003) 19 Cap. 3 Modelos comportamentais animais com peixes (Piscinos) Abaixo iniciaremos a analise da bibliografia selecionada, tendo por parâmetros 1) a disponibilidade desta; 2) a tentativa de incluir o máximo de diversidade de modelos (de forma que não foram citados todos os trabalhos de um único autor, quando a sua metodologia é igual); e 3) a inserção somente do que constituía observação direta do ato comportamental, seja pelo observador, seja por instrumentos, retirando da amostra estudos como de alimentação, mas que ao invés de observarem o animal se alimentado, fizeram análise de conteúdos estomacais, ou de reprodução que somente contaram filhotes vivos. Uma análise da revisão citada por nós indica, inicialmente, uma dispersão dos artigos consultados em diversas revistas de diversas áreas de conhecimento. A tabela 3 apresenta as revistas que aparecem na nossa revisão. Pode-se notar que há revistas de psicologia, biologia, toxicologia, zoologia e bioquímica, entre outras. Tal fato nos indica uma larga dispersão dos dados, usos e objetivos das pesquisas em comportamento, que se estende desde o estudo da recepção de sons até efeitos de compostos químicos. Esta dispersão dos dados, embora impeça que se acompanhe uma ou duas revistas para dar-nos um panorama da área, exigindo buscas através de ferramentas de busca e similares, indica uma ampla possibilidade de usos além da 20 biologia de peixes ou do estudo restrito de animais aquáticos. Nesta revisão, encontramos trabalhos desde a década de 40 e é curioso notar que há um deslocamento dos títulos, de revistas de psicologia e zoologia no inicio do século, para revistas específicas de animais ou ambientes aquáticos e para revistas de áreas de pouca relação direta com estas, o que indica dois movimentos diversos: por um lado, a criação e/ou consolidação de uma área de estudo; por outro, generalização dos modelos com objetivos de medida de outras variáveis. Tabela 3 – Revisão de revistas (não exaustiva) onde foram encontraram artigos sobre comportamento de peixes. • American Zoologist • Animal Behavior • Animal Learning and Behavior • Aquatic Toxicology • Behavioral and Neural Biology • Behavioral Brain Research • Behavioral Neurosciences • Behavioral Processes • Biosystems • Brain Research Bulletin • Brazilian J. of Biological and Medical Research • Bulletin of the Psychonomic Society • Comparative Biochemistry and Physiology • Ekolojija • Environmental Toxicology and Chemistry • Ethology • Hearing Research • Hormones & Behavior • J of Comparative Psychology • J of Experimental Biology • J. of Experimental Marine Biology and Ecology • J. of Experimental Biology • J. of Fish Biology • J. of General Physiology • J. of Genetic Psychology • Learning and Motivation • Neurobiology of Learning & Memory • Neurosciences Letters • Neurotoxycology and Teratology • Perceptual & Motor Skill • Physiology and Behavior • PNAS • Progress in Neuro-psychopharmacology & Biological • Psychological Records Psychiatry • Psychological Reports • Psychonomic Sciences • The Sciences of Total Environment • Vision Research • Zebrafish • 21 Vamos examinar cada um dos experimentos selecionados em relação a qual tipo de comportamento é utilizado, segundo uma classificação prévia. Por vezes, um mesmo experimento pode ser utilizado como modelo de mais de um tipo de comportamento. Em cada sessão teremos uma tabela com o nome dos autores, ano, objetivo original do trabalho, tipo de resposta medida e aparato. Quando um tipo de manipulação couber em mais de uma categoria, será citada na tabela. Inicialmente, vamos analisar o tipo de resposta utilizada em cada um dos modelos selecionados, categorizada em atividade espontânea, quando a resposta do animal não tem que ser ensinada ou treinada; respondente, quando uma resposta já existente é relacionada por um treino ou manipulação a um estímulo outro; operante, quando o controle da resposta é posterior à resposta do animal; e misto, quando mais de um destes padrões estão colocados 4 . Modelos que usam atividade espontânea A Tabela 4 apresenta os trabalhos selecionados como utilizando atividade espontânea, como variável principal. Pode-se perceber que o animal mais usado é o goldfish (Carassius auratus), seguido do Danio rerio (Paulistinha, zebrafish), sendo os experimentos com o zebrafish os mais recentes – os experimentos mais antigos utilizam as outras espécies. Tal aparecimento de artigos com o Danio rerio pode refletir a 4 Obviamente estas categorias podem ser questionadas, e um leitor com uma leitura mais etológica pode reclamar dos termos utilizados, enquanto outro, com uma formação mais behaviorista, do uso de comportamentos mistos (que seriam operantes) e da atividade espontânea, que seria um operante não ensinado. Assumimos o uso “flácido” da teoria e não desconsideramos estas e outras críticas, mas avaliamos que para a população alvo deste texto estas sutilezas teóricas não seriam o objetivo, ao menos neste momento. 22 disseminação do uso do Zebrafish como modelo biológico de desenvolvimento e bioindicador (confira Henk et al, 2004, para uma análise da política do National Institute of Health americano – NIH – com relação ao zebrafish e sua disseminação), e estes dados seriam secundários a outras pesquisas biológicas desenvolvidas. Tabela 4 – Artigos selecionados que utilizam atividade espontânea como variável dependente (resposta medida), conforme autor, ano, periódico e animal experimental. autor ano periodico CRAWSHAW 1975 Comparative Biochemistry and Biology especie Ictalurus nebulosus Lepomis macrochirus KLEREKOPER, TIMMS, WESTLAKE, DAVY, MALAR & ANDERSON 1970 Animal Behavior Carassius auratus Acta Biotheoretica Carassius auratus NEVITT & HALL 1977 Perceptual & Motor Skills Carassius auratus PLAUT & GORDON 1994 J. of Experimental Biology Danio rerio Physiology and Behavior Carassius auratus Behavioral Brain Research Carassius auratus Physiology and Behavior Danio rerio Animal Behavior Poecilia reticulata MATTIOLI, NELSON, HUSTON & SPIELER 1998 Brain Research Bulletin Carassius auratus MOK & MUNRO 1998 Physiology and Behavior Oreochromis niloticus MATIS, KREERELOPER & GENSLER 1974 IIGO & TABATA 1996 SALAS, BROGLIO, RODRIGUEZ, LOPEZ PORTAVELLA & TORRES 1996 HURD,DEBRUYNE, STRAUME & CAHILL 1998 LACHLAN, CROOKS & LALAND 1998 Brazilian J. of Biological and Medical Research Danio rerio BUDICK & O'MALLEY 2000 J. of Experimental Biology Danio rerio HERNANDEZ 2000 J. of Experimental Biology Danio rerio SERRA, MEDALHA & MATTIOLI 1999 Mas para que tipo de objetivo é utilizado a atividade espontânea? A tabela 5 sumariza os principais objetivos dos artigos selecionados. 23 Tabela 5 – objetivos e principais resultados segundo autor e ano dos artigos selecionados na categoria atividade espontânea. autor CRAWSHAW ano Objetivo Resultado 1975 Atividade espontânea Alterações T dependentes KLEREKOPER, TIMMS, WESTLAKE, DAVY, MALAR & ANDERSON Teste de equipamento de monitoramento de A locomoção é sistemática 1970 MATIS, KREERELOPER & nado Testar padrões de oscilação do nado A locomoção muda ao longo do tempo GENSLER 1974 espontâneo NEVITT & HALL 1977 Relação entre atividade, peso e temperatura Correlação parcial entre as variáveis Medidas de metabolismo de nado entre PLAUT & GORDON 1994 Sem diferenças clones e selvagens Determinar ciclo cronobiológico de atividade Os animais apresentam ciclo circadiano de atividade IIGO & TABATA 1996 SALAS, BROGLIO, RODIRGUEZ, LOPEZ PORTAVELLA & TORRES 1996 MATTIOLI, NELSON, HUSTON & SPIELER motora Aprendizagem espontânea com dica em Alterações relativas a constância, mas não as dicas em labirinto em animais lesados animais com ablação Preferência condicionada por predisposição - Alteração de T dose dependente 1998 efeito de antagonista H1 1998 Ciclo circadiano de atividade Variação circadiana da atividade Discriminar variáveis no forrageamento A preferência por seguir segue uma interação entre as grupal variáveis HURD,DEBRUYNE, STRAUME & CAHILL LACHLAN, CROOKS & LALAND 1998 Efeitos de apomorfina e ablação sobre nado Padrão de atividade similar ao de mamíferos e ação das MOK & MUNRO 1998 SERRA, MEDALHA & MATTIOLI 1999 BUDICK & O'MALLEY manipulações Preferência por escuridão Preferência por escuridão Etograma de nado Variações intra-sujeitos e entre sujeitos, com repertórios diferentes de nado em cada situação. 2000 Efeitos da morfologia da mandíbula sobre HERNANDEZ 2000 comportamento alimentar Dependente da morfologia A tabela 5 dá uma idéia das possibilidades de uso de modelos comportamentais animais piscinos, como o desenvolvimento de equipamentos, 24 fatores cronobiológicos, uso como modelos de estudo farmacológico, para determinar diferenças entre metabolismo de espécies e efeitos de manipulações neurológicas. Mas quais tipos de atividade e aparato ocorrem? Na tabela 6, podemos ver o tipo de aparato utilizado para os estudos de atividade espontânea e o tipo de atividade que é realizada. Uma breve olhada indica que as atividades espontâneas mais comumente utilizadas são a ambulação e a permanência, seguida de perto pela ingestão. Apenas poucos autores separam as topografias, isto é, a forma como ocorre o nado, para classificá-las. Os aparatos mais usados são aquários sem outras modificações, sendo que poucos automatizam as respostas e há modificações na cor do aquário e apenas uma ocorrência de modificação da forma do aquário, com um labirinto em X, ocorre. No exame do método, vemos que a ambulação é feita contando números de quadrantes percorridos ou o numero de cruzamentos entre ambientes do aparato, como é o caso do labirinto em X e das caixas branco/preto. É curioso notar que o uso de células fotoelétricas ocorre em trabalhos com Goldfish; tal uso deve ser evitado, pois estes animais têm visão de ultravioleta, utilizado nas células fotoelétricas, o que pode ser uma variável interveniente sobre os testes. O trabalho de Budick e O’Malley (2000) usa placas de Petri; dado que o estudo utiliza-se de larvas, esse equipamento se justifica como um aquário. 25 Tabela 6 – Artigos selecionados de atividade espontânea, com variável dependente (medida) e descrição sumária do aparato utilizado. Autor ano CRAWSHAW 1975 variáveis Aparato Nado Aquario 3 l Ingestão Ventilação KLEREKOPER, TIMMS, WESTLAKE, DAVY, MALAR & Ambulação Aquário 5x5x5 com células fotoelétricas MATIS, KREERELOPER & GENSLER 1974 Ambulação Aquário 5x5x5 com células fotoelétricas NEVITT & HALL 1977 Ambulação Aquário com sensores Velocidade de nado Aquário 30 l Ambulação Aquário com sensores Permanência Labirinto em X ANDERSON 1970 PLAUT & GORDON 1994 IIGO & TABATA 1996 SALAS, BROGLIO, RODIRGUEZ, LOPEZ PORTAVELLA & TORRES 1996 MATTIOLI, NELSON, HUSTON & SPIELER 1998 Ambulação Permanência Caixa branco/preto Ambulação HURD,DEBRUYNE, STRAUME & CAHILL 1998 LACHLAN, CROOKS & LALAND 1998 MOK & MUNRO 1998 SERRA, MEDALHA & MATTIOLI 1999 BUDICK & O'MALEY 2000 Atividade motora Aquário Forrageamento Aquário colorido 91 x81 x30 cm Ambulação Campo aberto (Aquário redondo) Tempo e ambulação Caixa branco/preta Nado de torno Placas de Petri com Paramencium Nado de fuga Alimentação HERNANDEZ 2000 Alimentação (tempo e quantidade) Aquário 26 Modelos que usam comportamentos que podem ser alvo de aprendizagem: operantes, respondentes e mistos Para os nossos propósitos, a aprendizagem pode ser definida como uma modificação consistente de uma certa resposta (o que o organismo faz) ao longo do tempo por força de uma variável controlável (Flaherty, 1985). A aprendizagem é uma característica essencial de todo ser vivo e permite a sua adaptação no meio. A aprendizagem pode ser definida em dois momentos: 1) aquisição (ou aprendizagem em alguns teóricos) – o momento em que um comportamento passa a ocorrer e se modifica ao longo do tempo; e 2) manutenção (ou memória): quando a taxa de ocorrência de um comportamento em uma dada situação é constante ou retoma níveis similares ao de suas ultimas exposições quando da re-exposição 5 . Classicamente, divide-se a aprendizagem entre aprendizagem respondente ou pavloviana, quando um determinado comportamento já existente fica sob controle de um estimulo neutro antecedente após um treino; e operante ou instrumental, quando uma resposta fica sob controle de uma conseqüência desta após um treino. As relações entre tipos de aprendizagem são um capitulo a parte e também fonte de exaustivas controvérsias (para uma revisão, ver Flaherty, 1985, ou Catania, 1999). 5 O termo memória é alvo de estudos e controversisas diversas. Para uma revisão, sugerimos Xavier (1993) e Isquerdo (2002). 27 Manipulações que declaram usar cognição 6 normalmente tratam de seqüências de estímulos que sinalizam a resposta em configurações variadas e são exemplos de relações operantes/respondentes; aqui, estes estão classificados como modelos mistos. As tabelas 7, 8 e 9 apresentam os artigos selecionados. A análise das revistas em que são veiculados os artigos selecionados indica uma forte presença de revistas de comportamento, só recentemente havendo uma maior dispersão por revistas de biologia, toxicologia e outras áreas. Nos comportamentos operante e respondente podemos observar a forte presença do Goldfish (Carassius auratus), especialmente nos artigos mais antigos. Já naqueles considerados como mistos há maior diversidade de espécies, com destaque para o Danio rerio, que também se destaca nas tabelas anteriores como animal experimental, especialmente nos artigos mais recentes. 6 Outra fonte de confusão, a palavra cognição. Para uma revisão veja Sternberg (2000). 28 Tabela 7 – Alguns artigos que usam comportamentos operantes, conforme autor, ano e animal experimental utilizado Autor Ano Periódico PADILLA, PADILLA, KETTERER & GIACALONE 1970 Psychonomic Sciences BEHREND & BITTERMAN 1963 JEAB SCOBIE & HERMAN 1972 Learning and Motivation DILL 1974 Animal Behavior SCOBIE & GOLD 1975 Animal Learning and Behavior WOLACH, MCHALE, BERSCHOT & FLEMING 1975 Psychological Reports BRONSTEIN 1984 J of Comparative Psychology COUVILLON 1984 J of Comparative Psychology BROWN, SMITH & PETERS 1985 Psychological Reports SHISHIMI 1985 J. of Comparative Psychology DOUGLAS, EVA & GUTTRIDGE 1988 Behavioral Brain Research BUDAEV 1997 J. of Comparative Psychology Espécie Carassius auratus Carassius auratus Carassius auratus Danio rerio Carassius auratus Carassius auratus Betta splendens Carassius auratus carassius auratus Carassius auratus Carassius auratus Poecilia reticulata MATTIOLI, SANTANGELO, COSTA & VASCONCELOS 1997 Behavioral Brain Research DÖOR & NIUMEYER 1997 Vision Research MIZUKAMI, GUNJI & MIGITA 1999 Biosystems Carassius auratus Carassius auratus carassius auratus SPIELER, NELSON, HUSTON & MATTIOLI 1999 Neurosciences Letters Carassius auratus TALTON, HIGA &STADDON 1999 Behavioral Processes carassius auratus Progress in Neuro-psychopharmacology MEDALHA, COELHO & MATTIOLI 2000 & Biological Psychiatry Carassius auratus LOPEZ, BINGMAN, RODRIGUEZ, GOMEZ & SALAS 2000 Behavioral Neurosciences SANTANGELO, MORATO & MATTIOLI 2001 Neurosciences Letters WILLIAMS, WHITE & MESSER JR 2002 Behavioral Processes Carassius auratus Carassius auratus Danio rerio Notemigonus WEBBER & HAINES 2003 Environmental Toxicology and Chemistry crysoleuca CRAFT, VELKEY II, SZALDA-PETREE 2003 Behavioral Processes Betta splendens HIGA & SIMM 2004 Behavioral Processes Betta splendens COLWILL, RAYMOND. FERREIRA & ESCUDERO 2005 Behavioral Processes BILOTTA, RISNER, DAVIS & HAGGBLOOM 2005 Zebrafish Danio rerio Danio rerio 29 Tabela 8 – Alguns artigos que usam aprendizagem respondente, conforme autor, ano e animal experimental utilizado autor ano SCOBIE & HERMAN 1972 PRIEDE 1974 Periódico Espécie Learning and Motivation J. of Experimental Biology Carassius auratus Salmo gairdineri Carassius auratus/ salmo ERSPAMER E MEYER 1978 Bulletin of the Psychonomic Society BREUNING & WOLACH 1979 Psychological Record Carassius auratus ERSPAMER & MEYER 1979 Bulletin of the Psychonomic Society Carassius auratus WOLACH 1980 Psychological Record Carassius auratus ZELLA & HOLACH 1980 Psychological Record Carassius auratus gairdneri BREUNING, FERGUNSON, MCHALEN & MELVIN, PRENTICE-DUNN, ADANS & HERRING III 1986 LAMING & MCKINNEY 1990 HALPERIN, DUNHAN & YE 1992 BRONSTEIN 1994 HALL & SUBOSKI 1995 J. of Comparative Psychology Behavioral Neurosciences Betta splendens Carassius auratus Behavioral Processes Betta splendens J-of-Comparative Psychology Betta splendens Neurobiology of Learning & Memory Danio rerio Comparative Biochemistry and MANTEIFEL & KARELINA 1996 FAY 1998 DARLAD & DOWLING 2001 Physiology Carassius auratus Hearing Research Carassius auratus PNAS Danio rerio Neurotoxycology and Teratology Danio rerio LEVIN, CHRYSANTHIS, YACISIN & LINNEY 2003 Brachyhypopomus STODDARD, MARKHAM & SALAZAR 2003 J. of Experimental Biology pinnicaudatus BARRETO & VOLPATO 2004 Behavioral Processes Oreochromis niloticus MOREIRA & VOLPATO 2004 J of Fish Biology Oreochromis niloticus MOREIRA, PULLMAN & POTTINGER 2004 Hormones & Behavior Oncorhicus mykiss O Betta splendens teve uma redescoberta nos últimos anos, devido ao interesse no estudo da agressão, comportamento do qual é um modelo clássico. 30 Por ser um peixe relativamente robusto (chega a 15 cm) é tão adequado para manipulações estereotáxicas como o Carassius aurautus (possuindo, como este, atlas adequado: Marino-Netto e Sabbatini, 1988), além de exigir poucos cuidados, a espécie têm sido bastante utilizada. As espécies do gênero Oreochromis apresentam maior intensidade de ocorrência nos últimos anos na literatura, devido ao seu uso como animal de corte. Tabela 9 - Alguns artigos que usam aprendizagem mista, conforme autor, ano e animal experimental utilizado. Autor Ano COLE & CALDWELL 1956 Periódico J Comparative Physiology & Psychology SHAKLEE LAMING & SAVAGE JAKOBSEN & JOHNSEN GERLAI & HOGAN CAPURRO, REYES-PARADA, OLAZABAL, PERRONE, SILVEIRA & MACADAR 1963 1980 1989 1992 J. of Genetic Psychology Behavioral and Neural Biology Ethology J. of comparative Psychology 1997 Comparative Biochemistry and Physiology NEMETH 1997 SMITH & WEIS ANSTIS, HUTAHAJAN & CAVANAGH FJELD, HAUGEN & VOLLESTAD KRAUSE, HARTMANN & PRITCHARD MIKLOSI, ANDREW & SAVAGE 1997 1998 1998 1998 1998 WEIS & WEIS LOPES-CORREA & HOFFMANN FUIMAN, SMITH & MALLEY HSU & WOLF MIKLÓSI & ANDREW GERLAI, LAHAV, GOU & ROSENTHAL PLAUT SAMSON, GOODRIDGE, OLOBATUYI & WEIS PETRAUSKIENE 1998 1999 1999 1999 1999 2000 2000 J. of Experimental Biology J. of Experimental Marine Biology and Ecology Vision Research The Sciences of Total Environment Animal Behaviour Physiology and Behavior J of Experimental Marine Biology and Ecology Physiology & Behavior J. of Fish Biology Animal Behavior Behavioral Brain Research ???? J of Experimental Biology 2001 2002 Aquatic Toxicology Ecology Espécie Carassius auratus Cichlassoma meeki Xyphophorus variatus Danio rerio Carassius auratus Carassius auratus Danio rerio Macropodus opecularis Gymnotus carapo Hexagrammus decagrammus Fundulus heterocritus Poecilia reticulata Thymallus Thymallus Danio rerio Danio rerio Fundulus heterocritus Gymnotus carapo Sciaenops ocellatus Rivulus marmuratus Danio rerio Danio rerio Danio rerio Danio rerio Oncorhicus mykiss Seguindo o mesmo caminho feito anterior, analisaremos inicialmente o tipo de objetivo e resultado e posteriormente qual tipo de resposta comportamental e aparato de foi utilizado em cada uma das categorias apresentadas. 31 A tabela 10 apresenta os objetivos e resultados dos experimentos que utilizaram respostas operantes. Tabela 10 - Artigos selecionados de atividade operante, com objetivo e descrição sumaria dos resultados obtidos Autor Ano Objetivos BEHREND & BITTERMAN 1963 Esquiva de sidman PADILLA, PADILLA, KETTERE & GIACALONE 1970 Desamparo aprendido SCOBIE & HERMAN 1972 Teste de choques para uso posterior Efeitos da apresentação de modelos, DILL 1974 filmagem de predador sobe fuga DILL 1974 Efeitos da experiência sobre a esquiva Resultado obtido Constata desamparo similar a mamíferos Variação paramétrica da resposta e habituação Variação entre apresentações Habituação SCOBIE & GOLD 1975 Efeito de reforçamento de baixas taxas Aprendizagem similar a outras espécies WOLACH, MCHALEN, BERSCHOT & FLEMING 1976 Efeito de aquisição e extinção sucessiva Peixes se comportam como ratos BRONSTEIN 1984 Uso de agressão como operante Animais trabalham para agredir COUVILLON 1984 Reforçamento diferencial em FI Aprendizagem BROWN, SMOTH & PETERS 1985 Desamparo aprendido SHISHIMI 1985 Inibição latente Desamparo aprendido Existe inibição latente no goldfish DOLGLAS, EVA & GUTTRIDGE 1988 Percepção de constância de tamanho Constância de tamanho relatada Padrões de personalidade, ambulação e BUDAEV 1997 esquiva de predador Relação entre padrões de exploração e esquiva MATTIOLI, SANTANGELO, COSTA & Efeito de Substância P em memória VASCONCELOS 1997 apetitiva Facilitação de memória por substancia p DÖOR & NIUMEYER 1997 Aprendizagem de contraste de cores DORR & NEUMEYER 1997 Contraste de cores MIZUKA,I, GUNGI & MIJITA 1999 Discriminação simples SPIELER, NELSON, HUSTON & Efeitos de bloqueador H1 sobre MATTIOLII 1999 aprendizagem e memória TALTON, HIGA &STADDON 1999 VI e FI Esquiva inibitória e efeitos de MEDALHA, COELHO & MATIOLLII 2000 histaminérgicos LOPEZ, BINGMAN, RODRIGUEZ, Efeitos da ablação telencefálica sobre GOMEZ & SALAS 2000 aprendizagem de labirinto Esquiva inibitória - efeitos da substância SANTANGELO, MORATO & MATTIOLII 2001 P WILLIANS, WHITE & MESSER JR 2002 Resposta apetitiva na shuttlebox Efeitos de dieta mercurial sobre esquiva de presa WEBBER & HAINES 2003 Predação CRAFT, VELKEY II, SZALDA-PETREE 2003 Condicionamento de escolha Condicionamento temporal (FI) passar HIGA & SIMM 2004 em uma argola COLWILL, RAYMOND. FERREIRA & ESCUDERO 2004 Discriminação de cores BILOTTA, RISNER, DAVIS & HAGGBLOOM 2005 Discriminação apetivitiva Determinação do espectro de visão Ocorrência de contraste de cores O animal aprende nesse esquema Diferenças entre animais tratados e controle O animal aprende nesses esquemas Modulação histaminérgica sobre comportamento Dissociação de dicas e lugar se mantém no animal lesado Efeitos da substância P facilita a aprendizagem O peixe aprendeu Alterações dose-dependentes da predação O peixe apresenta aprendizagem de escolha O peixe apresenta aprendizagem de controle temporal Aprendizagem e extinção em todas as situações O peixe aprende discriminação simples 32 A observação dos trabalhos apresentados indica uma ampla utilização dos modelos operantes para diversas respostas comportamentais, algumas caracteristicamente alvo de estudos operantes clássicos ligados aos efeitos de história comportamental sobre a aprendizagem: desamparo aprendido, efeitos de experiência, extinções e aquisição. Outros estudos que tentam mostrar a ocorrência de fenômenos já demonstrados em mamíferos, como ratos, entram nesta categoria: o efeito de reforçamento de baixas taxas, reforçamento diferencial em intervalo fixo, inibição latente, estudos em intervalo variado e fixo (VI e FI), resposta apetitiva na shuttlebox, condicionamento de escolha, condicionamento temporal. Alguns trabalhos se dedicam a estudos mais paramétricos, com o estudo de testes de choques, o uso de agressão como operante, entre outros, por fim, alguns trabalhos utilizam operantes para demonstrar experimentalmente efeitos de drogas e toxinas, manipulações cirúrgicas, ou medir limiares de percepção ou gerar padrões correlacionais (de personalidade). De maneira geral, embora o numero de espécies seja pequeno, todos os trabalhos relatam sucesso em suas manipulações. O exame da tabela seguinte (Tabela 11) indica qual operante foi utilizado em cada estudo e qual o aparato. Uma breve análise desta tabela indica que as respostas motoras utilizadas podem ser divididas em 3 grandes tipos: nadar para fora ou dentro de algum compartimento, permanecer (ou seja, não nadar) e apertar um disco ou uma chave, algo parecido com uma resposta de focinhar em ratos ou bicar em pombos, ou caçar/ agredir. Desta forma, em que difere estas manipulações daquelas colocadas como de operante livre? 33 Em primeiro lugar, elas estão relacionadas a um arranjo de estímulos externos diversos; por outro lado, exige uma modificação consistente deste comportamento relacionada à apresentação do estímulo escolhido, ou seja, aprendizagem. Esta necessidade se expressa na maior variabilidade de aparatos utilizados, que embora sejam aquários, apresentam adaptações de forma, como nos labirintos; de outros componentes colocados para serem manipulados pelos animais, como argolas, barras, chaves ou luzes; ou o uso de aparelhagens simples baseadas em aversão ou comportamento espontânea como elemento de aprendizagem, como na caixa branco e preto ou nas modificações da eficácia de caça. O uso de operantes apresenta uma certa constância ao longo dos anos vistos, no entanto, a linguagem utilizada modifica-se, sendo abandonado um vocabulário típico do behaviorismo, uma linha teórica da psicologia, por um vocabulário mais descritivo dos objetivos do estudo. Consideramos tal fato vantajoso, dado que permite a uma gama de profissionais maior trabalharem juntos, e diminui tolas discussões sobre que tipo de vocabulário é o mais adequado pra falar sobre comportamento. 34 Tabela 11 - Artigos selecionados de atividade operante, com variável dependente (medida) e descrição sumaria do aparato utilizado Autor Ano Variáveis BEHREND & BITTERMAN PADILLA, PADILLA, KETTERE & GIACALONE 1963 Cruzar ambiente para postergar choque 1970 Fuga (nado) Shuttle box SCOBIE & HERMAN 1972 Fuga (nado) Shuttle box DILL 1974 Fuga (nado) Aquários adaptados SCOBIE & GOLD WOLACH, MCHALEN, BERSCHOT & FLEMING 1975 Operante livre (nado), tempo sem resposta Caixa de Skinner Operante livre (nado), com extinções ou não inter1976 periodos Aquário de 8 compartimentos relacionados BRONSTEIN 1984 Resposta em FI (chave) para acesso a espelho Aquário/caixa de resposta motora COUVILLON 1984 Respostas em uma chave Aquário com luzes e alvos (chaves) BROWN, SMOTH & PETERS 1985 Esquiva de duas vias (nadar) de choque Shuttle box SHISHIMI 1985 Atividade/taxa de resposta (nadar/chave) Activimentro/caixa de Skinner/ Shuttle box DOLGLAS, EVA & GUTTRIDGE 1988 Escolha (nadar) BUDAEV MATTIOLI, SANTANGELO, COSTA & VASCONCELOS 1997 Ambulação (campo aberto), esquiva de predador Labirinto com buracos Campo aberto hexagonal 0.9m/labirinto de inspeção de predador/ DÖOR & NIUMEYER 1997 Manutenção de aprendizagem (permanência) Resposta operante de matching de cores/ Resposta operante sobe disco de luz (focinhar e 1997 nadar) MIZUKA,I, GUNGI & MIJITA 1999 Taxa de respostas certas treinadas SPIELER, NELSON, HUSTON & MATTIOLI 1999 Escolha TALTON, HIGA &STADDON 1999 Chave Aparato shuttlebox Labirinto em Y branco/preto Aquário adaptado com projeção de luzes Aquário de 3 compartimentos Caixa de Skinner MEDALHA, COELHO & MATTIOLI 2000 Esquiva de ambiente claro (nado) LOPEZ, BINGMAN, RODRIGUEZ, GOMEZ & SALAS 2000 Resposta operante em labirinto (nado) Caixa branco/preta SANTANGELO, MORATO & MATTIOLI 2001 Latência de saída (nado) Caixa branco/preta WILLIANS, WHITE & MESSER JR 2002 Alternação (nado) Shuttle box WEBBER & HAINES 2003 Esquiva/caça de camarões Aquário e filmadora CRAFT, VELKEY II, SZALDA-PETREE 2003 Operante de resposta de entrada(nado) Passagem por argola de tubos em função do 2004 tempo Labirinto Argola de tubos/espelho 2004 Escolha (permanência) Labirinto em T HIGA & SIMM COLWILL, RAYMOND. FERREIRA & ESCUDERO BILOTTA, RISNER, DAVIS & HAGGBLOOM 2005 Operante de resposta de entrada (nado) Labirinto em X com dicas Labirinto A Tabela 12 apresenta os dados relativos aos testes aqui classificados de respondentes, ou seja, aqueles que usam um comportamento já observado em um animal, mas tentam colocar esta resposta sob controle de um estimulo 35 antecedente, ou buscar correlatos fisiológicos do qual este comportamento possa vir a ser uma medida indireta. Podemos perceber que as respostas cardíacas e respiratórias parecem ser as preferidas como forma de estudo, embora respostas apetitivas e agressivas também possam ser utilizadas, ou sons. A principal característica aqui é um deslocamento da aprendizagem para estudos de percepção ou emoção, nos quais as respostas incondicionadas têm papel essencial. Também aqui, os trabalhos visam os correlatos comportamentais de alterações fisiológicas com maior freqüência, de certa forma tentando usar a metodologia comportamental como uma forma de “entrar” na fisiologia do animal. Tal fato se reflete no uso de respostas como variável dependente, com mais respostas como display, preferência (que, embora tenha um elemento motor operante, é, em geral, inata), resposta de aglutinação, forma de onda elétrica em peixes fracamente elétricos, mas ainda com várias respostas de ambulação, ou de exploração, como a resposta orptomotora e de permanência. Os aparatos utilizados vão refletir estas escolhas dos pesquisadores, com geradores de estímulos como ondas sonoras e luzes, e aparelhagem especial, como um aparelho especial de condicionamento de resposta ventilatória e frequencímetros. 36 Tabela 12 - Artigos selecionados de atividade respondente, com objetivo e descrição sumária dos resultados obtidos Autor Ano SCOBIE & HERMAN PRIED ERSPAMER E MEYER BREUNING & WOLACH ERSPAMER BREUNING, FERGUNSON, MCHALEN & WOLACH ZELLA & HOLACH MELVIN, PRENTICE-DUNN, ADANS & HERRING III LAMING & MCKINNEY HLAPERIN, DUNHAN & YE BRONSTEIN HALL & SUBOSKI MANTEIFEL & KARELINA FAY DARLAD & DOULING LEVIN, CHRYSSANTHIS, YACISIN & LINNEY STODDARD, MARKHAM & SALAZAR BARRETO & VOLPATO MOREIRA, PULLMAN& POTTINGER MOREIRA & VOLPATO Objetivos 1972 Teste de choques para uso posterior Efeitos do nado em taxa cardíaca de peixes 1974 vagotimizados 1978 Condicionamento de resposta cardíaca Contraste negativo (alteração US-CS) em função da 1979 forma de alojamento Resultado Variação da resposta em função da intensidade e salinidade Relação clara ente velocidade e taxa cardíaca Ausência de condicionamento Tipo de alojamento muda curva de resposta 1979 Condicionamento de resposta cardíaca Condicionamento Condicionamento de resposta respiratória - efeitos de 1980 magnitude do choque A resposta é modulável pela magnitude 1980 Condicionamento de contraste (pavloviano) Os peixes aprendem 1986 Efeitos da punição sobre agressão Efeito da ablação sobre habituação de resposta 1990 cardíaca Diminuição do display em função da punição 1992 Efeitos de privação social sobre agressão 1994 Fatores paramétricos na agressão Testar aprendizagem respondente da reação de 1995 alarme Ablação não altera habituação Maior agressão em isolados Fatores de predictibilidade, habituação e sensibilização podem ser observados. Aprendizagem Ocorre 1996 Testar aversão condicionada a alimento Aprendizagem de aversão 1998 Percepção de sons O peixe reconhece tons de forma mamífera 2001 Dependência de cocaína Cocaína altera os três testes 2003 Efeito de pesticida Efeitos de diminuição da aprendizagem 2003 Efeitos de serotoninérgicos sobre resposta elétrica Correlação entre resposta ventilatória e indicadores 2004 de estresse Seleção de resposta para estresse, condicionamento 2004 e extinção pavloviana. A onda é modulada A resposta ventilatória é indicador de estresse crônico, mas não agudo O animal aprende 2004 Condicionamento pavloviano de resposta a estressor Condicionamento 37 Tabela 13 - Artigos selecionados de atividade respondente, com variável dependente (medida) e descrição sumaria do aparato utilizado Autor Ano SCOBIE & HERMAN PRIED ERSPAMER E MEYER Variáveis Aparato 1972 Reação motora (levantamento da nadadeira dorsal) Shuttlebox 1974 Taxa cardíaca e velocidade Aquário em O 1978 Taxas em relação a US Aquário de contenção/ frequencímetro Aquários isolados com caixas acústicas e 1979 Atividade (ambulação) entre US-CS luz 1979 Taxas em relação a US Aquário de contenção/ frequencímetro MCHALEN & WOLACH 1980 Parada de comportamento ventilatório Condicionador de resposta respiratória ZELLA & HOLACH 1980 Parada de comportamento ventilatório Condicionador de resposta respiratória 1986 Duração do display Aquário e gerador de choques 1990 Taxa de resposta cardíaca e ventilação Luzes p/ sobressalto HLAPERIN, DUNHAN & YE 1992 Display Aquários/espelho BRONSTEIN 1994 Display Aquários 1995 Reação de alarme (nado e aglutinação) Aquário 1996 Ingestão Aquário 1 l 1998 Freqüência respiratória Condicionador de resposta respiratória BREUNING & WOLACH ERSPAMER BREUNING, FERGUNSON, MELVIN, PRENTICE-DUNN, ADANS & HERRING III LAMING & MCKINNEY HALL & SUBOSKI MANTEIFEL & KARELINA FAY Aquário com dicas visuais/ T-maze/resposta DARLAD & DOULING 2001 Preferência de lugar orptomotora 2003 Treino de preferência lateral condicionada Aquário de escolha com três câmeras 2003 Forma de onda Frequencímetro 2004 Indicadores fisiológicos e resposta ventilatória Observação em aquário 2004 Tanque/luz 2004 Cortisol plasmático Luz e confinamento LEVIN, CHRYSSANTHIS, YACISIN & LINNEY STODDARD, MARKHAM & SALAZAR BARRETO & VOLPATO MOREIRA, PULLMAN& POTTINGER MOREIRA & VOLPATO 38 A Tabela 14 apresenta os artigos classificados como usando atividade mista. Estes trabalhos são em suas maioria paramétricos, ou seja, exploram os efeitos de dimensões da variável independente sobre a resposta comportamental dos sujeitos. Seus objetivos são bastante variáveis, com motivação, lateralização, busca de estratégias e correlatos com tetrápodes aparecendo com bastante constância. Tanto metodologias operantes como respondentes estão presentes, por vezes, dentro de manipulações de variáveis respondentes com vistas a sinalizar ou alterar variáveis operantes. Tais relações ficam claras na tabela 15, em que se observam os tipos de variáveis dependentes mensuradas. Podemos perceber que estas variáveis são padrões mais complexos de comportamento que se articulam com variações ambientais. Os aparatos utilizados, por sua vez, primam pela simplicidade, utilizado variáveis naturalísticas com pouca ou nenhuma variação. 39 Tabela 14 - Artigos selecionados de atividade mista, com objetivo e descrição sumaria dos resultados obtidos. Autor Ano COLE & CALDWELL SHAKLEE LAMING & SAVAGE JAKOBSEN & JOHNSEN Objetivos Resultado 1955 Uso de luz para motivar exploração A luz diminui tempo e aumenta acertos 1963 Medidas de medo Diferenças inter-espécies Mapeamento de alterações leva a concluir que estas seguem um padrão mamífero 1980 Alterações fisiológicas no alerta e fuga GERLAI & HOGAN CAPURRO, REYES-PARADA, OLAZABAL, PERRONE, SILVEIRA & MACADAR 1992 Interação inato aprendido na agressão Efeito concorrente do feromônio Os animais aprendem a agredir imitando a outros Esquiva e agressão de descarga elétrica / efeitos 1997 NMDA NMDA aumenta agressão NEMETH 1997 Tipo de captura de presa / segundo tipo de presa Diferenças entre estratégias SMITH & WEIS MIKLOSI, ANDREW & SAVAGE KRAUSE, HARTMANN & PRITCHARD FJELD, HAUGEN & VOLLESTAD WEIS & WEIS ANSTIS, HUTAHAJAN & CAVANAGH CORREA & HOFFMANN MIKLÓSI & ANDREW FUIMAN, SMITH & MALLEY HSU & WOOF GERLAI, LAHAV, GOU & ROSENTHAL PLAUT SAMSON, GOODRIDGE, OLOBATUYI & WEIS PETRAUSKIENE 1989 Efeitos de feromônio de alarme sobre alimentação 1997 Efeitos da poluição sobre comportamento de predação Alterações relativas à taxa de poluição 1998 Verificar lateralização Escolha de companheiros em função de estado 1998 nutricional Efeito do metil-mercurio sobre a ingestão alimentar 1998 1998 Efeito do chumbo sobre predação, nado e atividade. Lateralização tipo tetrapode Escolha de co-especifico/maior escolha de nutrido/melhor forrageamento destas duplas Diminuição dose-dependente da eficácia alimentar Alterações dose dependentes em todos os parâmetros Animal Apresenta resposta 1998 Resposta orptomotora Variação das descargas elétricas em função de drogas 1999 em teste de novidade Alterações dose e droga dependente 1999 Lateralização e decisão de comer Testar padrões de sobressalto e variável de controle, 1999 se acústica ou visual. Efeitos da experiência de vencer/perder sobre o 1999 comportamento Há lateralização da decisão de morder A resposta é mais controlada pela visão que pela acústica Diferenças no comportamento segundo a história de vida 2000 Efeitos de etanol em parâmetros comportamentais Etanol altera todos os parâmetros Testar efeito de diferença de tamanho da nadadeira na 2000 velocidade de nado Diferenças relativas a tamanho da nadadeira 2001 Efeitos do MeHg Alterações dose dependentes 2002 Agressão após exposição a metais pesados Alterações pela exposição 40 Tabela 15 - Artigos selecionados de atividade mista, com variável dependente (medida) e descrição sumaria do aparato utilizado. autor Ano COLE & CALDWELL SHAKLEE LAMING & SAVAGE JAKOBSEN & JOHNSEN GERLAI & HOGAN CAPURRO, REYES-PARADA, OLAZABAL, PERRONE, SILVEIRA & MACADAR NEMETH SMITH & WEIS MIKLOSI, ANDREW & SAVAGE KRAUSE, HARTMANN & PRITCHARD FJELD, HAUGEN & VOLLESTAD WEIS & WEIS ANSTIS, HUTAHAJAN & CAVANAGH CORREA & HOFFMANN MIKLÓSI & ANDREW FUIMAN, SMITH & MALLEY HSU & WOOF GERLAI, LAHAV, GOU & ROSENTHAL PLAUT SAMSON, GOODRIDGE, OLOBATUYI & WEIS PETRAUSKIENE Variáveis 1955 Tempo, ambulação e erros Aparato Labirinto de oito braços, complexo. 1963 Ambulação e esquiva de luz Aquário com luzes/campo aberto 1980 Alterações fisiológicas a apresentação de estímulos Aquário/ fisiógrafos 1989 Densidade de presas e snacks Aquário 26 x 10 x 10 cm. 1992 Diversos parâmetros Aquário 1997 Taxas de disparo Osciloscópio 1997 Tipo de captura/movimentos Filmagem 1997 Snack sobre camarões Aquário e camarões Espelhos/objetos em aquário de 1998 Perseguição a espelho e aproximação de objeto novo 20/40/20 cm 1998 Outros espécimes/privação Labirinto 1998 Aquários e dafnias Alterações dose dependentes 1998 Snacks em artemia/ nado/ ambulação 1998 Resposta orptomotora Aquário e artemias Aquário esférico com estímulos circulatórios 1999 Descargas elétricas Osciloscópio 1999 Morder Aquário com estímulos laterais 1999 Espaço percorrido/velocidade Tanque 150 l 1999 Luta/resultados Agressão/ambulação/preferência por grupos/comportamento antipredatorio/preferência por 2000 escuridão Aquário Resposta a espelho/schooling/ caixa claro-escuro/ modelo de predador 2000 Ambulação e nado de performance (induzido) Tubo de nado forçado 2001 Nado/captura de presas Aquário 2002 Etograma agressão/atividade total Aquário Modelo de quê? O objetivo declarado de nosso percurso até aqui foi demonstrar alguns modelos experimentais para peixes; no entanto, o que é um modelo comportamental? Conforme definimos anteriormente, para cientistas do comportamento, “modelo” não é uma espécie especifica, mas um set up, ou seja, um arranjo composto por um aparato e um procedimento que caracteriza uma manipulação 41 relativa a uma categoria de comportamento. Desta forma, o mesmo aparato pode servir para modelos diferentes: por exemplo, a caixa branco/preto tanto pode ser utilizada como modelo para esquiva inibitória como para preferência; no primeiro caso, uma porta e posta em seu meio, o animal em sua parte escura e a latência, (isto é, o tempo que o animal demora a sair) do lado escuro é computado. Este procedimento é repetido algumas vezes com intervalo entre as tentativas, e o resultado é uma curva de aprendizagem, com o aumento das latências ao longo das tentativas. Na outra manipulação, a preferência, há duas portas corrediças no centro que delimitam um compartimento inicial; após uma breve habituação, as portas são abertas e o tempo despendido em cada ambiente, taxa de cruzamentos e o número de acessos a cada ambiente são computados. As categorias de comportamento que os modelos buscam replicar visam o entendimento de patologias e comportamento não patológicos típicos de nossa espécie, buscando homologias e analogias que dependem de opções teóricas subsidiadas pelas teorias psicológicas, e pelo conhecimento de neurociências e de elementos de fisiologia comparada. Desta forma, comportamentos aparentemente distantes de uma patologia podem ser utilizados para o estudo desta. Por exemplo, um teste feito em ratos, o teste de enterramento, mede a velocidade de um roedor para se enterrar em uma cama de maravalha, após uma modificação no ambiente. Considerado um teste de ansiedade, pois responde a fármacos ansioliticos, possui uma semelhança no mínimo tênue com os comportamentos de ansiedade em humanos. 42 Para que um modelo animal se torne útil, além de apresentar um set up bem descrito e uma consistência teórica que o habilite, deve apresentar, em graus variados, uma validade farmacológica, ou seja, uma resposta a drogas próxima à patologia ou o grupo de patologias a que o modelo se propõe mimetizar; uma validade de face, ou seja, uma semelhança na apresentação do comportamento que facilite seu reconhecimento e interpretação; e uma validade preditiva, ou seja, que este modelo permita o desenvolvimento de fármacos e tratamentos. Tomamos a liberdade de classificar a bibliografia aqui apresentada dentro de possíveis modelos (Tabela 16). Tal classificação não visa ser uma forma absoluta ou taxativa, dado que muitos destes modelos não tem uma validação farmacológica ou sua fisiologia bem estudada, mas tentamos gerar uma possível agenda de pesquisa para os grupos que estejam estabelecidos nas áreas de modelos, indicando possíveis caminhos e com o estimulo para que mais pesquisadores motivem-se a militar nesta área. A classificação foi feita com base na analogia de modelos em ratos (por exemplo, o uso da inibição latente como modelo de esquizofrenia) ou elementos naturalísticos da resposta do animal (todos os modelos que envolvem a apresentação de um estressor e medida de fuga foram classificados como possíveis modelos de ansiedade/medo). 43 Tabela 16 – distribuição dos autores citados segundo possível uso dos experimentos como modelos. Condicionamento clássico: BRONSTEIN,1994 Agressão: MELVIN, PRENTICE-DUNN, ADANS & HERRING III,1986; HLAPERIN, DUNHAN & YE ,1992; GERLAI & HOGAN, 1992 BRONSTEIN,1994; NEMETH, 1997; GERLAI, LAHAV, GOU & ROSENTHAL, 2000 Ansiedade/ medo: BREUNING, FERGUNSON, MCHALEN & WOLACH,1980; BUDAEV,1997; CAPURRO, REYES-PARADA, OLAZABAL, PERRONE, SILVEIRA & MACADAR,1997; CORREA & HOFFMANN,1999; DILL,1974; ERSPAMER,1979; FUIMAN, SMITH & MALLEY,1999; GERLAI, LAHAV, GOU & ROSENTHAL,2000; HALL & SUBOSKI,1995; HSU & WOOF,1999; JAKOBSEN & JOHNSEN,1989; KLEREKOPER, TIMMS, WESTLAKE, DAVY, MALAR & ANDERSON,1970; LAMING & MCKINNEY,1990; MATTIOLI, NELSON, HUSTON & SPIELER,1998; MEDALHA, COELHO & MATTIOLI,2000; MOK & MUNRO,1998; SANTANGELO, MORATO & MATTIOLI,2001; SCOBIE & HERMAN,1972; SERRA, MEDALHA & MATTIOLI,1999; SHAKLEE,1963; WEBBER & HAINES,2003; ZELLA & HOLACH,1980; BEHREND & BITTERMAN, 1963 Aprendizagem/ cognição: SCOBIE & GOLD ,1975; LEVIN, CHRYSSANTHIS, YACISIN & LINNEY,2003; MATTIOLI, NELSON, HUSTON & SPIELER,1998; MIZUKA,I, GUNGI & MIJITA,1999; DOLGLAS, EVA & GUTTRIDGE,1988; WOLACH, MCHALEN, BERSCHOT & FLEMING,1976; MANTEIFEL & KARELINA,1996; BREUNING & WOLACH,1979; MIZUKA,I, GUNGI & MIJITA,1999; BRONSTEIN,1994,GERLAI & HOGAN,1992; BRONSTEIN,1984; WILLIANS, WHITE & MESSER JR,2002; SPIELER, NELSON, HUSTON & MATTIOLI,1999 Cronobiologia: IIGO & TABATA,1996; HURD,DEBRUYNE, STRAUME & CAHILL,1998; MATIS, KREERELOPER & GENSLER,1974 Dependência: DARLAD & DOULING, 2001 Depressão: PADILLA, PADILLA, KETTERE & GIACALONE,1970; BROWN, SMOTH & PETERS, 1985 Desenvolvimento de comportamento complexo: BUDICK & O'MALEY, 2000 Doença cardíaca: PRIED, 1974 Escolha social?: KRAUSE, HARTMANN & PRITCHARD, 1998 Esforço físico: PLAUT & GORDON,1994; PLAUT, 2000 Esquizofrenia: SHISHIMI,1985 Estresse: BARRETO & VOLPATO,2004; MOREIRA, PULLMAN& POTTINGER,2004 ERSPAMER E MEYER, 1978; MOREIRA & VOLPATO,2004; CRAWSHAW, ? Exploração: CORREA & HOFFMANN,1999 Lateralidade: MIKLOSI, ANDREW & SAVAGE,1998; MIKLÓSI & ANDREW, 1999 Memória: KLEREKOPER, TIMMS, WESTLAKE, DAVY, MALAR & ANDERSON,1970; SCOBIE & HERMAN,1972; SCOBIE & HERMAN,1972; WILLIANS, WHITE & MESSER JR,2002; DARLAD & DOULING,2001; MIZUKA,I, GUNGI & MIJITA,1999; SPIELER, NELSON, HUSTON & MATTIOLI,1999; MEDALHA, COELHO & MATTIOLI,2000; SANTANGELO, MORATO & MATTIOLI,2001; TALTON, HIGA &STADDON,1999; DOLGLAS, EVA & GUTTRIDGE,1988; MATTIOLI, SANTANGELO, COSTA & VASCONCELOS,1997; BILOTTA, RISNER, DAVIS & HAGGBLOOM,2005; SALAS, BROGLIO, RODIRGUEZ, LOPEZ PORTAVELLA & TORRES,1996; COLE & CALDWELL,1955; LOPEZ, BINGMAN, RODRIGUEZ, GOMEZ & SALAS,2000; CRAFT, VELKEY II, SZALDA-PETREE,2003; HIGA & SIMM,2004; COLWILL, RAYMOND. FERREIRA & ESCUDERO,2004 Screening de drogas: SAMSON, GOODRIDGE, OLOBATUYI & WEIS,2001; STODDARD, MARKHAM & SALAZAR,2003 Surdez: FAY, 1998 Temporização do comportamento: TALTON, HIGA &STADDON, 1999 Toxicologia: PETRAUSKIENE,2002; FJELD, HAUGEN & VOLLESTAD, 1998; SMITH & WEIS, 1997; WEIS & WEIS, 1998 Visão: DARLAD & DOULING,2001; ANSTIS, HUTAHAJAN & CAVANAGH,1998; DORR & NEUMEYER,1997; DOLGLAS, EVA & GUTTRIDGE,1988; COLWILL, RAYMOND. FERREIRA & ESCUDERO,2004 44 Uma análise do conteúdo apresentado na tabela 16 indica que o uso de peixes pode ser tão amplo quanto o de roedores, e envolve aspectos diversos do comportamento, que podem ser utilizados para estudo da aprendizagem (tanto em condicionamento clássico, como respondente), cognição, memória, aspectos desenvolvimentais do comportamento, percepção e reação ao tempo e a variáveis cronobiológicas, além de aplicações nos estudos de psicopatologia, toxicologia, aspectos complexos do ponto de vista da neurologia e de doenças cardíacas. De certa forma, quase tudo o que tradicionalmente fazemos com roedores pode ser feito com peixes, exceto, talvez, privá-los de água. 45 Capitulo 4 Modelos de ansiedade piscina Nesta sessão examinaremos especificamente os trabalhos de nossa seleção que versam sobre ansiedade/medo e estresse. Para tanto, iniciaremos falando sobre como ansiedade, medo e estresse se relacionam, suas definições e sobre a forte relação homológica dos sistemas monoaminérgicos que medeiam a ansiedade em peixes e mamíferos. Em situações em que um animal é predado, ou se vê defronte de um perigo intenso, uma seqüência previsível de reações ocorre, com mecanismos de deflagração, topografia e fisiologia correlata extremamente similares em todos os mamíferos (Blanchard, Yudko, Rodgers & Blanchard, 1993). A reação de defesa é uma seqüência de 3 níveis (Graeff, 1994; Blanchard & Blanchard, 1988), relacionada com 4 estratégias comportamentais: imobilização (freezing), fuga, agressão defensiva ou submissão (Zangrossi Jr., 1996; Blanchard e Blanchard, 1988). Cada um destes níveis está relacionado com a probabilidade e proximidade de um estímulo potencialmente aversivo. Estes comportamentos são altamente plásticos em sua apresentação, podendo assumir topografias diversas 46 segundo a historia de vida. A Tabela 17 sumariza os comportamentos, emoções e as áreas de ativação em mamíferos, onde este fenômeno está mais estudados. Tabela 17 – Nível de defesa, substrato neural e emoção relacionada (adaptada de Graeff, 1994). Perigo Comportamentos Emoção Sistema nervoso central relacionada Potencial Levantamento de risco Distal Congelamento, Ansiedade fuga, Medo esquiva. Proximal Fuga, luta. Amígdala, Sistema septo-hipocampal (SHS) Matéria cinzenta periaquiductal-dorsal (PAG), Núcleos medianos da rafe; SHS, hipotálamo medial pânico PAG Tal tipo de comportamento implica em uma base aminérgica conhecida desde a década de 80 (Gray,1982) e que é mais recentemente relacionada com a ação da serotonina (5-HT), que é o principal neurotransmissor das regiões citadas e que tem, segundo alguns autores, um sistema dual de ativação de todos os comportamentos em função da proximidade do estimulo (McNaughton & Corr, 2004). Tal grupo de comportamentos também está correlacionado a relação de decisão sobre a estratégia a ser tomada (esquiva ou luta defensiva), evento este, sumarizado nas Figura 1 e relacionado a áreas do encéfalo e síndromes clinicas na figura 2. 47 Figura 1 - processos envolvidos na reação de defesa (Graeff, 1993) 48 Figura 2 – papel dual da serotonina sobre a ativação de áreas neurais e comportamento em função da proximidade do estimulo e da decisão de fuga defensiva ou esquiva defensiva, segundo hierarquia de ativação (de baixo para cima), nível neural e complexidade do comportamento ativado, relacionado com síndrome comportamental clinica relacionada. (onde: TOC: Transtorno Obsessivocompulsivo; TAG : Transtorno de Ansiedade Generalizada; 5-Ht: % hidroxitripitamina (serotonina); NA: Noradrenalina.. Observe que quanto maior a distância defensiva, isto é, a distância do estimulo aversivo, mais complexa e menos motora a reação. Adaptado de McNaughton & Corr, 2004 A complexidade do comportamento descrito indica que diferentes modelos devem estar relacionados a diferentes síndromes e áreas do cérebro, mas que compartilham uma base bioquímica e anatômica comuns, relacionada a serotonina (File, 1996; Stanford, 1996). 49 Tal base é conservada em todos os vertebrados, não sendo diferente nos peixes (confira, por exemplo, Ritchie, Livingston, Hughes, McAdoo & Leonard, 1989; Lundin & Holmgren, 1989). Esta manutenção evolutiva permite que modelos de ansiedade e depressão possam ser consistentemente generalizados entre espécies, desde que conhecida a estrutura da ecologia comportamental de cada uma delas e sua base bioquímica. Não estamos dizendo com isto, que as espécies são iguais entre si, mas que o conhecimento produzido sobre uma espécie pode colaborar com o conhecimento produzido sobre outras, nesses aspectos evolutivamente conservados. Podemos ver que toda a teoria por trás do entendimento da ansiedade implica em uma relação com uma possível punição ambiental. Tal relação não ocorre somente no sistema nervoso central, mas implica em alterações hormonais não especificas, chamadas comumente de estresse, com ênfase nas alterações do eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal e simpático-adreno-medular em vertebrados, relativas à necessidade de manutenção de homeostase do organismo e acompanhada de alterações comportamentais e fisiológicas. Por um mecanismo de generalização, o estresse passou a designar uma variedade de manipulações de variáveis externas (os estressores), que também passaram a ser chamados de estresse, bem como suas respostas comportamentais relacionadas. Desta forma, diversos modelos que aqui discutiremos como modelos de ansiedade são tratados como modelos de estresse na literatura, e buscam a identificação de correlatos comportamentais das alterações fisiológicas (Volpato & Fernandes, 1994). Na área de estudos de comportamento de peixes, tais modelos são, comumente voltados para a 50 piscicultura e o crescimento de animais de corte. A Tabela 18 é uma tentativa de classificação dos modelos aqui apresentados. Numa primeira aproximação, podemos acreditar que todos os níveis de apresentação da ansiedade estão representados, mas a classificação como feita por nós não está livre de problemas. Vários dos modelos apresentados são cotidianamente utilizados em roedores; no entanto, em roedores estes modelos costumam apresentar formas mistas de ansiedade, que envolvem os dois ou três níveis. Cremos que estes problemas devem se manter entre peixes. Tabela 18 – Sumula dos modelos apresentados neste texto. A letra R indica similar em roedores. Aparato/modelos Exploração de ambiente novo R Preferência por escuridão (caixa branco/preta) R Esquiva de luz R Condicionamento de resposta cardíaca (?) Condicionamento de resposta ao estressor(?) Condicionamento de resposta respiratória (?) Efeito de feromonios sobre alimentação Variação de descargas elétricas de peixe fracamente elétrico em função de manipulações ambientais Sobressalto R Esquiva inibitória R Esquiva de duas vias R Esquiva de Sidman R Efeitos de luta sobre comportamento posterior Resposta ventilatória ao estresse R A seguir tentamos de classificação dos modelos de ansiedade aqui apresentados. Numa primeira aproximação, podemos acreditar que todos os níveis de apresentação da ansiedade estão representados, mas a classificação como feita por nós não está livre de problemas. Vários dos modelos apresentados 51 são cotidianamente utilizados em roedores; no entanto, em roedores estes modelos costumam apresentar formas mistas de ansiedade, que envolvem os dois ou três níveis (tanto tipo-medo, como tipo-ansiedade) (conf. Zangrossi Jr, 1996). Cremos que estes problemas devem se manter entre peixes. Os modelos já utilizados com roedores podem ser mais facilmente validados no futuro, já que a sua comparação pode ser feita de forma mais direta. Estes estão assinalados na tabela. A tabela 19 apresenta um rearranjo das tabelas anteriores, indicando o tipo ansiedade provavelmente apresentada nos artigos citados e seu método, bem como aparato. Podemos perceber que a resposta dos possíveis modelos utilizados pode ser dividida em modelos que exigem aprendizagem e que não exigem esta; destes, podemos falar de modelos que exigem aprendizagem respondente e aqueles que usam aprendizagem operante. Do que conhecemos do modelo de ansiedade, podemos considerar alguns modelos como sendo de ansiedade (aqueles que o perigo é potencial), de medo (onde o perigo é distal, na forma de um predador ou punição) e de pânico (onde o perigo é proximal). Por economia, colocamos o único modelo que se aproximaria desta forma de apresentação junto com os modelos de medo. Em nosso laboratório, 4 modelos estão em uso: a preferência claro escuro, a esquiva inibitória de estímulo naturalístico, a esquiva de duas vias de estímulo naturalístico e o labirinto em Y. Consideramos que os 3 primeiros são potenciais modelos de ansiedade e o último, de aprendizagem operante e memória. 52 Tabela 19 – classificação dos possíveis modelos de ansiedade piscina segundo exigência de aprendizagem e técnica. Ansiedade Modelos que exigem aprendizagem tecnica: Condicionamento de preferência Dissonância por aprendizagem concorrente (supressão?) Esquiva ativa Esquiva de Sidman Esquiva inibitória aparato Caixa branco/preto Aquário 26 x 10 x 10 cm. AUTOR E ANO MATTIOLI, NELSON, HUSTON & SPIELER,1998 JAKOBSEN & JOHNSEN, 1989 Aquários adaptados shuttlebox Caixa branco/preta DILL,1974 BEHREND & BITTERMAN,1963 MEDALHA, COELHO & MATTIOLI,2000; SANTANGELO, MORATO & MATTIOLI,2001 Modelos de atividade espontânea Modelos de confronto Modelo de: Confronto agonistivo labirinto de inspeção de predador/ Aquário e filmadora Modelo de predador AUTOR E ANO CAPURRO, REYES-PARADA, OLAZABAL, PERRONE, SILVEIRA & MACADAR, 1997 BUDAEV, 1997 WEBBER & HAINES, 2003 GERLAI, LAHAV, GOU & ROSENTHAL, 2000 aparato Campo aberto (Aquário redondo) AUTOR E ANO MOK & MUNRO,1998 Campo aberto (quadrado) CRAWSHAW,1975; HSU & WOOF,1999 Campo aberto hexagonal 0.9m/ Campo aberto (quadrado) BUDAEV,1997 KLEREKOPER, TIMMS, WESTLAKE, DAVY, MALAR & ANDERSON,1970 GERLAI, LAHAV, GOU & ROSENTHAL,2000 SERRA, MEDALHA & MATTIOLI,1999; GERLAI, LAHAV, GOU & ROSENTHAL,2000 CORREA & HOFFMANN,1999 aparato Osciloscópio Esquiva de predador Modelos de exploração Modelo de: Exploração Resposta a espelho Caixa branco/preta Teste de novidade Osciloscópio Medo Modelos que exigem aprendizagem Modelo de: Aprendizagem respondente Fuga aparato Condicionador de resposta respiratória Shuttlebox Aquário com luzes/campo aberto AUTOR ZELLA & HOLACH,1980 SCOBIE & HERMAN,1972 SHAKLEE,1963 ano Modelos de atividade espontânea Modelos de confronto Sobressalto Tanque 150 l FUIMAN, SMITH & MALLEY,1999 Estresse (correlato funcional de ansiedade crônica) Modelo de: Condicionamento de resposta respiratória - respondente Condicionamento de resposta cardíaca - respondente Condicionamento de resposta cardíaca- respondente aparato Observação em aquário Condicionador de resposta respiratória Luz e confinamento Tanque/luz Aquário de contenção/ frequencímetro Luzes p/ sobressalto AUTOR ano BARRETO & VOLPATO,2004 BREUNING, FERGUNSON, MCHALEN & WOLACH,1980 MOREIRA & VOLPATO,2004 MOREIRA, PULLMAN& POTTINGER,2004 ERSPAMER,1979; ERSPAMER E MEYER,1978 LAMING & MCKINNEY,1990; HALL & SUBOSKI,1995 53 Dados de nosso laboratório. Embora vejamos uma serie de potenciais modelos de ansiedade, em nosso laboratório temos desenvolvido trabalhos com dois possíveis modelos de ansiedade, por um lado, a esquiva inibitória, utilizando estimulo naturalístico, por outro, a caixa branco-preto, para estudo de preferência. Claro escuro. Preferência por escuridão ou claro escuro: O teste de preferência é realizado em um aquário (15 x 10 x 45 cm) com dois compartimentos, um branco e outro preto, com uma área central (5 cm) delimitada por portas corrediças e que é usado como compartimento de inicio do teste. Após 5 minutos de habituação, as portas são suavemente removidas, dando acesso a ambos os compartimentos, permitindo ao animal explorar livremente o ambiente durante um período de 15 (quinze) minutos. , Registra-se principalmente o tempo despendido em cada compartimento além do numero de sujeitos que preferem cada ambiente na primeira latência, bem como a latência de saída do compartimento inicial para qualquer um dos lados. Figura 3 – Aparato para preferência branco-preto. Observe as portas corrediças. Uma variação deste, com uma única porta pode ser utilizado para esquiva inibitória do lado branco. 54 Os resultados de nosso laboratório coadinam com a literatura (Serra et al, 1999), e vêm indicando maior preferência pelo lado escuro (Gouveia et al, 2005b, Gouveia et al, 2006, submetido), sendo a padronização comportamental, realizada a partir da utilização de aquários branco-branco e preto-preto em contraste ao de duas cores., Esse modelo foi originalmente aplicado em Danio (Danio rerio) por Serra et al (1999), sendo posteriormente testado em Goldfish (Carassius auratus) (Gouveia et al, 2005), Lambari (Axtyanax autiparanae), Néon (paracheirodon sp), Zebrafish (Danio rerio), Tuvira (Gymnotus sp), Lebiste (Poecila reticulata) e Tilapia (Oreochromis niloticus). Esquiva inibitória de estimulo naturalístico: É composta pelo mesmo aparato, porém, sem portas, após 5 minutos de exploração livre, um dos lados é punido pela queda de um peso metálico de 15 g preso a uma trave de uma altura de 22 cm do aquário, sempre do mesmo lado. A queda do peso é repetida cada vez que o animal cruza a linha média do aquário, até o limite de 7 vezes ou quando o animal fica mais de 300 s sem cruzar a linha. Espécies já testadas: Lambari (Astyanax altiparanae), Goldfish (Carassius auratus), Zebrafish (Danio rerio) (Anexo 1) 55 Figura 4 – Aparato para esquiva de uma via de estimulo naturalistico. Uma variação deste, com uma única porta pode ser utilizado para esquiva inibitória do lado branco De forma proposital, não apresentamos nenhum trabalho de nosso laboratório. Esta decisão teve duas motivações: por um lado, preservar os nossos dados, já que em grande parte estes estão submetidos ou em fase final de redação; e, por outro, permitir que descrevêssemos de forma detalhada os modelos que vimos utilizando em nosso laboratório e que já foram eventualmente comunicados em congressos.. Esperamos que tal descrição sirva de estímulo para que outros pesquisadores venha a se engajar nesta área de modelos comportamentais piscinos. 56 Quadro 2 – dicas para a construçãode uma shuttlebox com estimulo naturalístico. Descrição de materiais para Sutllebox: - Aquário: - dimensões: 45 cm comprimento x 15 cm altura x 10 cm largura; - Barreira de acrílico: - dimensões: 14,5 cm comprimento x 9,5 cm largura x 1 mm espessura; - Placas laterais de acrílico - (02) duas: - dimensões: 26 cm comprimento x 30 cm altura x 1 mm espessura; - Suporte para parafusos: - dimensões: 19 cm comprimento x 12,5 cm altura x 11,5 cm largura; - 02 (dois) conjuntos: parafuso com quatro porcas, sendo que cada conjunto tem espessura de 11 mm, comprimento de 19 cm e peso de 110 gramas; - Base de compensado (madeira): - dimensões: 54 cm comprimento x 1,5 cm altura x 33 cm largura; - 04 (quatro) pés de madeira com 30 cm de altura cada; - travessa frontal ligando dois pés frontais: 45,5 cm comprimento x 03 cm altura x 1 cm espessura; - 02 (dois) pregadores; - 02 (duas) arruelas metálicas; - 10 (dez) roldanas pequenas (cinco em cada suporte); - Linha de polietileno preta 2,5 mm espessura x 2,5 m comprimento; 57 Referências Anstis S., Hutahajan P. & Cavanagh P. 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The Psichological Record, 30, 25-37. 71 ANEXO I – Mini-laboratório para peixes 72 Materiais: • 2 lâmpadas de aquário, completas (com calha, reator, starter); • 5 metros de cortina Black out. • 4,5 metros de trilho pra cortinas e acessórios (rolinhos, gancho, derlimitadores) • 1 timer • 2 tomadas de extensão de 4 plugs • 5 metros de fio para tomadas • 1 plug macho para tomada • 4 aquecedores • um areador de 4 saidas ou 4 filtros externos de 60 l • 4 aquários de vidro de 35x20x25 cm • aquários de teste conforme descritos anteriormente no texto • 1 aquário de vidro de 30 x 30 x 20 cm (para uso como campo aberto) • Rack feito em madeira resistente ou metalão 25; o Para ser feito de madeira 4 caibros de madeira de 5 x 5 x 10 cm 8 caibros de madeira de 5 x 5 x 60 cm. parafusos para fixar e cola 3 madeiras (pode ser compensando revestido) de 2,5 x 55 x 55 cm 73 1 madeira compensada revestida de 130 x 55 x 2,5 cm 4 roldanas para geladeira resistentes. O desenho esquemático segue nas próximas paginas. 74 55 cm 2,5 cm 1 60 cm Frontal 2.5 cm 2 130 cm 60 cm 2,5 cm 3 75 2,5 cm 1 60 cm 2.5 cm 2 130 cm 60 cm 2,5 cm 3 Lateral 76 2,5 cm 60 cm Traseira 2.5 cm 130 cm 60 cm 2,5 cm 77 55 cm peça 1 superior 55 cm 55 cm inferior 55 cm 78 55 cm peça 2 superior 55 cm 55 cm inferior 55 cm 79 55 cm peça 3 superior 55 cm 55 cm inferior 55 cm 5cm colunas pés 10 cm 4x 8x 60 cm 80 eletrica plug vista traseira Timer p/lampada 1 p/ tomada 1 p/lampada 2 P/ tomada 2