UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC CURSO DE ARTES VISUAIS BACHARELADO LEANDRO MARTINS CARDOSO CAPAS DE DISCO: UMA ABORDAGEM DA RELAÇÃO ENTRE SOM E IMAGEM APRESENTADA ATRAVÉS DE ELEMENTOS HISTÓRICOS E PROCESSOS CRIATIVOS CRICIÚMA, JULHO DE 2010 UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC CURSO DE ARTES VISUAIS BACHARELADO LEANDRO MARTINS CARDOSO CAPAS DE DISCO: UMA ABORDAGEM DA RELAÇÃO ENTRE SOM E IMAGEM APRESENTADA ATRAVÉS DE ELEMENTOS HISTÓRICOS E PROCESSOS CRIATIVOS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para a obtenção do grau de Bacharel no Curso de Artes Visuais – Bacharelado, da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Orientador: Prof. Espec. Rildo Ribeiro Batista CRICIÚMA, JULHO DE 2010 LEANDRO MARTINS CARDOSO CAPAS DE DISCO: UMA ABORDAGEM DA RELAÇÃO ENTRE SOM E IMAGEM APRESENTADA ATRAVÉS DE ELEMENTOS HISTÓRICOS E PROCESSOS CRIATIVOS Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenção do Grau de Bacharel em Artes Visuais no Curso de Artes Visuais Bacharelado da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC, com Linha de Pesquisa em Processos e Poéticas. Criciúma, 02 de julho de 2010. BANCA EXAMINADORA Prof. Rildo Ribeiro Batista – Especialista em Ensino da Arte - (UNESC) Orientador Prof. Aurélia Regina de Souza Honorato - Mestre em Educação – (UNESC) Prof. Édina Regina Baumer - Mestre em Educação – (UNESC) Este trabalho é dedicado à minha família, em especial à minha mãe por sempre estar ao meu lado me apoiando nas minhas decisões buscando minha satisfação pessoal e ao meu pai por ser um dos maiores exemplos de pessoa e caráter em quem eu poderia me espelhar. AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar a cada um dos integrantes da minha família que me aturam desde sempre, aos amigos próximos e não tão próximos. Também agradeço os ―chapa quentes‖ Marcus (pela preocupação constante com a minha pessoa e por compartilhar das minhas idéias de hipertrofia), Alex (por ser a minha ―outra metade‖ musical, por me ajudar ativamente na obra deste trabalho e por dividir os momentos de pirose (sic) psicológica comigo), Andrey (colega que conheci durante o curso e que compartilha muitas idéias e pensamentos comigo além de me ajudar e motivar também na elaboração deste trabalho) e ao meu primo Fernando (parceiro nas noites internéticas e no wrestling, além do mesmo ser sinônimo de diversão garantida). Agradeço ao meu professor e orientador Rildo, que, mesmo batendo atrás do carro que eu dirigia antes de nos conhecermos, ajudou muito durante todo o curso e principalmente agora, na conclusão do mesmo. Agradeço a Honda, por ter inventado o VTEC, e à banda Fear Factory, por ter feito eu gostar realmente de música. Deixo também um agradecimento especial à Ana, menina que apareceu na minha vida ―de páraquedas‖, trazendo uma nova rotina para minha antiga vida insossa, fazendo com que eu voltasse a ver graça em coisas simples que já não mais faziam parte do meu cotidiano, além, é claro, de ter se disponibilizado a ajudar de forma extremamente incisiva no desenvolvimento deste trabalho, neutralizando a minha falta de habilidade com alguns processos. Agradeço também a todas as pessoas que fazem parte ou fizeram parte da minha vida, me proporcionando momentos bons, ou me auxiliando em momentos não tão bons assim, fazendo com que eu me tornasse a pessoa que sou hoje. Vocês sabem quem são! Obrigado! It's all about the game and how you play it! (MOTÖRHEAD, The Game) RESUMO Através da leitura de livros e artigos, e do processo de pesquisa e análise de imagens, o presente trabalho toma forma acerca do universo das capas de discos, através da utilização de pesquisa metodologicamente classificada como qualitativa de caráter exploratório, seguindo a linha de Processos e Poéticas, unida a uma vasta pesquisa bibliográfica. A motivação desse trabalho se dá em virtude de vivência pessoal com o mundo da música, apresentando como problema o estudo da relação do meio musical com as artes visuais, englobando aspectos históricos acerca do cenário fonográfico e a evolução da ilustração das capas de discos, notando-se gradativo aumento na preocupação com a ligação entre o som e a imagem. Ao fim da pesquisa foi elaborada a produção de uma capa e contracapa de ilustrações originais, criadas a partir de uma composição musical. Palavras chave: Capas de disco. Arte. Design. Ilustração. Música. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Fonógrafo de Edison............................................................................ 22 Figura 2 – Graphophone....................................................................................... 23 Figura 3 – Gramophone........................................................................................ 24 Figura 4 – Cilindro de fonógrafo............................................................................ 25 Figura 5 – Selo de chapa de gramophone............................................................ 25 Figura 6 – Toca-discos.......................................................................................... 28 Figura 7 – Selo padrão de discos......................................................................... 29 Figura 8 – Carnaval em Long Playing....................................................................33 Figura 9 – A História da Baratinha........................................................................ 34 Figura 10 – Alice no País das Maravilhas............................................................. 34 Figura 11 – A Formiguinha e a Neve.................................................................... 35 Figura 12 – Tom Jobim......................................................................................... 39 Figura 13 – Vinícius de Moraes e Odette Lara..................................................... 40 Figura 14 – Maysa................................................................................................ 41 Figura 15 – O Pequeno Príncipe........................................................................... 42 Figura 16 – Bola Sete e os Quatro Trombones.................................................... 46 Figura 17 – Jograis de São Paulo......................................................................... 47 Figura 18 – Fear Factory – Demanufacture.......................................................... 50 Figura 19 – Sepultura – Roots.............................................................................. 51 Figura 20 – Peças-chave para montagem de capa.............................................. 56 Figura 21 – Capa após processo de edição final.................................................. 57 Figura 22 – Comparação entre capa profissional e amadora............................... 58 Figura 23 – Banda em processo de gravação...................................................... 61 Figura 24 – Gravação do teclado/sintetizador...................................................... 62 Figura 25 – Esboço da idéia inicial....................................................................... 64 Figura 26 – O cenário e os elementos utilizados.................................................. 67 Figura 27 – Estudo de posicionamento dos elementos da imagem..................... 67 Figura 28 – Teste de posicionamento com o líquido............................................ 68 Figura 29 – Imagem escolhida para edição digital................................................ 68 Figura 30 – Início do tratamento da imagem........................................................ 69 Figura 31 – Capa finalizada.................................................................................. 70 Figura 32 – Contracapa finalizada........................................................................ 71 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas CBS – Columbia Broadcasting System CD – Compact Disc LP – Long Play NBR – Norma brasileira RCA – Radio Corporation of America RPM – Rotações por minuto SINTER – Sociedade Interamericana de Representações UOL – Universo On-Line SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO....................................................................................................11 1.1 Justificativa....................................................................................................12 1.2 Objetivos gerais.............................................................................................12 1.3 Objetivos específicos....................................................................................13 1.4 Estrutura do trabalho.....................................................................................13 2 METODOLOGIA.................................................................................................15 3 CONCEITOS BÁSICOS UTILIZADOS NA PESQUISA.....................................17 4 HISTÓRICO........................................................................................................19 4.1 Breves considerações sobre o surgimento das gravações......................19 4.2 A evolução da aparelhagem..........................................................................26 4.3 As primeiras embalagens de discos............................................................29 4.4 O início da preocupação com o design de capas.......................................36 4.5 Os profissionais do design de capas...........................................................43 4.6 As capas de discos na publicidade..............................................................44 4.7 Mudança de pensamento dos músicos e designers..................................48 4.8 Relação entre imagem e som na atualidade...............................................49 5 PROCESSO DE CRIAÇÃO................................................................................53 6 A OBRA..............................................................................................................59 6.1 Concepção da obra........................................................................................59 6.2 Execução da obra..........................................................................................65 7 CONCLUSÃO.....................................................................................................72 REFERÊNCIAS.....................................................................................................74 APÊNDICE A – Representações gráficas da obra............................................78 APÊNDICE B – Letra original e tradução...........................................................80 1 INTRODUÇÃO Baseado em experiências onde obtive os primeiros contatos com a música, especialmente através de jogos de vídeo game, comecei a criar interesse pela área musical e todos os seus segmentos, que envolvem, inclusive, o design do "pacote" ao qual a música em si é parte integrante. Um álbum não é somente um conjunto de músicas elaborado por um grupo musical, mas sim um apanhado de informações expressas na forma sonora, lírica e também visual. No ano de 2000, quando cursava a 8ª série do ensino fundamental em um colégio particular da minha cidade, comecei a ter contato direto com a música, mais precisamente com os instrumentos. As aulas de artes foram divididas em pintura, dança e música, e cabia a cada aluno escolher uma das opções, respeitando o limite máximo de vagas por turma. Eu e meus amigos mais próximos prontamente optamos pela música, então a partir deste ponto iríamos finalmente aprender a tocar alguma coisa. Alguns deles já compravam seus violões, eu não fiz diferente, mesmo não tendo o mínimo de habilidade com instrumentos de cordas. Com o passar das aulas percebi que, enquanto todos tentavam tirar notas musicais das cordas dos violões, eu apensa observava com certa frustração. Até que, em um determinado dia, virei o violão e comecei a usar seu corpo como um instrumento de percussão. A partir desse momento, percebi que meu destino não eram as cordas, mas sim os tambores. Após algum tempo, e novamente sob influência dos amigos, surgiu-me a idéia de adquirir uma bateria. Desde então é o que eu tenho feito no campo musical, porém, acompanhando as evoluções tecnológicas da área. 11 1.1 Justificativa O trabalho aqui desenvolvido visa evidenciar o processo de elaboração das capas de discos, trazendo um apanhado histórico sobre o tema, salientando o surgimento da preocupação com a elaboração das capas de disco, assim levantando a questão que caracteriza o problema desta pesquisa: Qual a importância dada à relação entre imagem e som na elaboração de uma capa de disco? Além do problema, esta pesquisa busca apresentar estudos complementares sobre a capa de disco, tais como sua estruturação, de que forma ela é construída, como é o processo, e vários outros tópicos que visam resolver as seguintes questões existentes sobre este tipo de processo artístico: 1 – Quais os fatores evolutivos que englobam o histórico das capas de disco, desde o início das gravações até o início da preocupação da união entre som e imagem? 2 – Como se dá o processo criativo do designer ou ilustrador na criação da capa de disco? 3 – Com quais ferramentas trabalham os designers e ilustradores de capas de disco? 1.2 Objetivos gerais 12 Apresentar e analisar de forma histórica e prática os elementos que envolvem a produção das capas de discos, além da sua relação com o conteúdo sonoro dos mesmos. 1.3 Objetivos específicos Apresentar um breve histórico do surgimento das gravações e das capas de disco; Demonstrar a crescente importância das artes visuais na indústria fonográfica; Observar a aproximação da arte visual com a musical de um álbum; Estudar os processos de criação aplicáveis à elaboração de uma capa; Criar uma capa de disco conceitual a partir do conteúdo lírico e musical do mesmo. 1.4 Estrutura do trabalho O capítulo inicial do presente trabalho traz os procedimentos metodológicos utilizados na presente pesquisa. O segundo capítulo traz uma seleção de conceitos úteis à compreensão da leitura do trabalho, relativos aos termos mais utilizados ao longo do texto. No terceiro capítulo é apresentado o histórico que envolve as capas de discos, da criação dos primeiros aparelhos capazes de reproduzir músicas até a evolução da importância das capas, e, ao final, enfatizando e exemplificando a atual preocupação em relacionar música e imagem. 13 O quarto capítulo trata dos processos de criação aplicáveis ao design de capas, apresentando exemplos práticos dos mesmos. Por fim, o quinto capítulo apresenta a elaboração da obra, a ser uma capa de disco e sua respectiva contracapa, baseadas em uma música de autoria própria, compartilhada com os demais músicos da banda. 14 2 METODOLOGIA A linha de pesquisa utilizada no presente trabalho caracteriza-se por Processos e Poéticas. A natureza da pesquisa possui uma abordagem qualitativa. De acordo com Denzin & Lincoln (2006, p.17): A pesquisa qualitativa envolve o estudo do uso e a coleta de uma variedade de materiais empíricos – estudo de caso; experiência pessoal; introspecção; história de vida; entrevista; artefatos; textos e produções culturais; textos observacionais, históricos, interativos e visuais – que descrevem momentos e significados rotineiros e problemáticos na vida dos indivíduos. Ainda sobre a pesquisa qualitativa, Minayo (2004, p. 21) trata que: A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das ralações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. No que tange aos objetivos do trabalho, é utilizada a pesquisa exploratória com procedimentos técnicos de pesquisa bibliográfica, que, segundo Marconi & Lakatos (2008), abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, inclusive conferências seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma forma, quer publicadas quer gravadas. (MARCONI;LAKATOS, 2008. p.57) Para Dantas (2000, p. 78) a pesquisa exploratória consiste em: 15 Busca identificar e definir problemas, identificar variáveis relevantes e definir hipóteses. Para realizá-la, procuram-se pontos de informação secundária, como bibliotecas, museus, universidades, material impresso (livros, apostilas, fascículos, teses, anuários e mensários, etc.), faz-se consulta a entendidos no assunto, utilizam-se estudos comparativos de situações análogas e estudos de grupo. A pesquisa exploratória tem uma carga qualitativa muito grande, uma vez que é a base para uma investigação mais detalhada de fenômenos diversos. Oliveira (1999) afirma que a pesquisa bibliográfica tem por finalidade a identificação de pesquisas científicas já realizadas sobre o determinado assunto. De acordo com a ABNT (apud BRITO, 2004), a norma NBR 6023/2002 específica que a investigação bibliográfica é o conjunto padronizado de elementos descritivos, retirados de um documento que permite sua identificação individual, seguindo normas vigentes, permitindo desta forma, que as informações contidas no texto possam ser efetivamente comprovadas, quando necessário. 16 3 CONCEITOS BÁSICOS UTILIZADOS NA PESQUISA Visando facilitar a compreensão do leitor perante este trabalho, cabe desde o início trazer os conceitos de alguns dos termos mais discutidos ao longo da pesquisa. Os elementos de maior incidência selecionados para a prévia conceituação foram: arte, artista, design, designer, ilustrador e música. Quanto ao conceito de arte, para Bosi (2000), a mesma resume-se em um fazer, sendo um conjunto de atos pelos quais se muda a forma, se transforma a matéria oferecida pela natureza e pela cultura. Munari (2001) conceitua o artista afirmando que trata-se de um indivíduo que: Trabalha de um modo muito pessoal, tentando exprimir, através de uma linguagem que em termos visuais configura um estilo próprio, as sensações que nascem nele a partir dos estímulos que recebe do mundo em que vive. (MUNARI, 2001, p. 25) O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, disponível eletronicamente, define artista como sendo: 1. Pessoa que pratica uma das belas-artes, especialmente uma das artes plásticas ou dos seus prolongamentos actuais!. 2. Pessoa que interpreta uma obra musical, teatral, cinematográfica, coreográfica. Design, de acordo com Azevedo (1998), é uma palavra de origem inglesa que tem como significado projetar, compor visualmente ou colocar em prática um plano intencional. Já o designer, a partir da visão de Battistoni Filho (2008), é: 17 um projetista dotado de sentido estético; dele depende, em boa parte, o êxito de determinada produção industrial. (...) O designer inicia o seu trabalho depois de ter sido informado de todos os elementos destinados a fazer com que o seu projeto ou protótipo se torne exeqüível com o menor dispêndio de energias. (...) O designer procura construir o objeto com a mesma naturalidade com que a natureza forma as coisas. (BATTISTONI FILHO, 2008, p. 149) Complementando o conceito de designer anteriormente citado, Munari (2001) nos traz a idéia de que: O designer não trabalha para uma elite, ainda que hoje a produção industrial tente transformar o seu trabalho no de um elitista. (...) O seu objetivo, pelo contrário, é de tentar produzir da melhor forma possível objetos vulgares e de uso corrente. (MUNARI, 2001, p. 30) Renato Alarcão (2010), ilustrador, relata em entrevista ao portal eletrônico Mingau Digital que o ilustrador é um artista que cria imagens narrativas, que comunicam mensagens e contam histórias. Sua arte é feita não para paredes de museus, nem das casas ou das galerias de arte, mas para ser reproduzida em muitas cópias, seja sobre papel, vídeo, internet etc. Por fim, segue abaixo o conceito de música, extraído do Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, disponível eletronicamente: 1. Arte e técnica de combinar os sons de maneira agradável ao ouvido. 2. Teoria dessa arte. 3. Composição resultante dessa arte. Vale ressaltar que os conceitos levantados anteriormente são recentes, pois, de acordo com Munari (2001), no passado, certas distinções não existiam: Giotto pintava e projetava edifícios, Leonardo da Vinci pintava e inventava máquinas. Pintor, arquiteto, poeta, eram diferentes atividades ligadas por um único método objetivo de projetar. 18 4 HISTÓRICO 4.1 Breves considerações sobre o surgimento das gravações De acordo com Egeu Laus (2005), o início das gravações deu-se no final do século XIX, época na qual fervilharam novas idéias e invenções. Destaca como frutos desse período o fonógrafo, o graphophone e seu sucessor, o gramophone. O primeiro, criado por Thomas A. Edison em 1877, surgiu durante o processo de invenção do telégrafo, principal invento de Edison. Pouco depois, em 1880, Alexander Grahan Bell expôs uma criação semelhante ao fonógrafo, patenteando-o de graphophone em 1886. O aparelho inovava com a utilização de agulhas flutuantes no processo de gravação. Foi aprimorado posteriormente por Emile Berlinder, da American Bell Telephone Company, passando a ser comercializado sob o nome de gramophone a partir de 1888. O aparelho utilizava chapas gravadas, as quais ficaram conhecidas por discos, enquanto o fonógrafo de Edison fazia uso de cilindros. Laus (2005) demonstra que a vantagem dos cilindros era sua reciclabilidade, tendo em vista que os mesmos eram cobertos com cera, a qual poderia ser raspada para uma nova cobertura, possibilitando nova gravação. Inclusive, em certos casos, havia desconto na compra de novos cilindros mediante a entrega de usados. A verdadeira industrialização do processo só aconteceu, no entanto, a partir de 1893, permitindo a reprodução de cópias e dando partida, no mundo da música, àquilo que hoje conhecemos como a indústria do entretenimento. (LAUS, 2005, p. 296) 19 O autor prossegue, tratando que os cilindros eram comercializados em embalagens de papelão, igualmente cilíndricas, contendo a marca do fabricante, e os discos em envelopes pardos contendo um buraco no centro, através do qual se lia o selo dos mesmos. Nos próximos anos houve a estabilização dos formatos de dez e doze polegadas, respectivamente usados para música popular e erudita, com rotação padrão de 78 rpm. A primeira fábrica de discos na América Latina foi a Odeon, iniciando suas atividades em 1913. De acordo com Tinhorão (1981), o primeiro fonógrafo chegou ao Brasil em 1879, trazido a Porto Alegre por Eduardo Perris, representante de Thomas Edison. A gravação de músicas teve início com Frederico Figner, no Rio de Janeiro, em 1892, que fundou a Casa Edison em 1900, atuando no comércio de aparelhos, cilindros e chapas gravadas, e em 1902 efetuou as primeiras 228 gravações comerciais no país. Pioneiro, utilizava discos gravados em ambos os lados, conhecidos por ―chapa dupla‖, antes até dos americanos e europeus. Egeu Laus (2005) estima que Figner tenha feito em torno de 3 mil gravações até 1903, fato que fazia do Brasil o terceiro país em produção fonográfica no ranking mundial, atrás dos Estados Unidos e Alemanha. Não é possível precisar qual teria sido a primeira gravação, mas, de acordo com os registros históricos de Laus (2005), acredita-se que o posto é do lundu de Xisto Bahia ―Isto é bom‖, cantado por Manuel Pedro dos Santos e etiquetada como ―Zon-O-Phone nº 10.001‖. Franceschi (1984) constata que, através de análise realizada em catálogos entre 1900 e 1912, constam 371 fonogramas gravados na Argentina e 144 em Portugal, e menos que 10 fonogramas de músicas brasileiras. Entretanto, em um único catálogo da Casa Edison para 2002 constam 219 gravações, lembrando que este não é o único catálogo e esta não é a única gravadora. O autor ainda 20 trata que o mercado brasileiro, que estava apenas começando, já sofria todo o envolvimento das grandes companhias internacionais. A produção fonográfica nacional teve novo impulso a partir de então através das emissoras de rádio, com a liberação da publicidade comercial em 1932 e a criação da Rádio Nacional em 1936. 21 Figura 1 – Fonógrafo de Édison Fonte: Disponível em <http://eltamiz.com/2008/01/31/inventos-ingeniosos-el-fonografo/> 22 Figura 2 – Graphophone Fonte: Disponível em <http://www.edisontinfoil.com/col-g.htm> 23 Figura 3 – Gramophone Fonte: Disponível em <http://www.electricka.com/etaf/muses/music/music_prizes/grammy_awards/grammy_awards.htm > 24 Figura 4 – Cilindro de fonógrafo Fonte: Disponível em <http://eltamiz.com/2008/01/31/inventos-ingeniosos-el-fonografo/> Figura 5 – Selo de chapa de gramophone Fonte: Disponível em <http://bixography.com/images/78labels.htm> 25 4.2 A evolução da aparelhagem Ainda de acordo com a linha estudada por Egeu Laus (2005), na década de 1940 o fonógrafo já estava ultrapassado, reinando nos lares o toca-discos, ao lado de álbuns 78 rpm e caixas de som. Entretanto, a rotação a 78 rpm permitia apenas 5 minutos de música de cada lado do disco, de modo que para ouvir um concerto era comum se fazer necessário empilhar vários discos, com o empecilho da pausa de som na troca de cada um deles. Não bastasse, o autor afirma que os discos eram repletos de ruídos e chiados, sendo frágeis e pesados em função de sua composição: goma-laca e cera de carnaúba. Em 1947 a CBS/Columbia, após três anos de pesquisas, apresentou ao mercado um novo formato de disco, feito com material mais leve, prometendo maior qualidade de som e menor rotação, possibilitando uma maior quantidade de músicas por disco. Eram prensados em PVC (cloreto polivilítico), também conhecido como vinil. Laus (2005) define o vinil como um polímero, composto essencialmente de água, sal e petróleo, tendo sido aperfeiçoado durante a Segunda Guerra e sendo largamente utilizado em função de sua versatilidade. Denominado microgroove, ou microssulco, possuía rotação de 33⅓ rpm, mantendo os diâmetros tradicionais de dez e doze polegadas, dando início à era dos long playing, logo apelidados de LP. Um ano após o lançamento dos LPs da CBS/Columbia, a RCA/Victor lançou a sua versão de discos de vinil, operando a 45 rpm de velocidade, tendo superior qualidade sonora em relação aos de 33⅓ rpm. Seu formato, no entanto, 26 era menor: sete polegadas. Este formato encontrou seu público nos singles1, ideais para a ampla divulgação em rádio e lançamentos avulsos. O autor ressalta que, embora fosse comercializado em vinil colorido, havendo uma cor correspondente para cada ritmo musical, os discos em 33⅓ rpm ainda eram preferidos em função da maior quantidade de músicas contidas. A RCA tentou resguardar sua parcela de mercado oferecendo toca-discos portáteis e baratos nas lojas, que só rodavam em 45 rpm. (...) tais lutas são necessárias às sociedades anônimas. Se uma delas conseguir monopolizar o mercado com o seu modelo de aparelho, fica propícia a dominar o negócio de peças sobressalentes, lucrativo e de longo prazo, para ditar a futura evolução e os aperfeiçoamentos do sistema e para conservar o poderio definitivo sobre a linha de produtos e conteúdo que acompanhará a aparelhagem. Além disso, terá a possibilidade de patentear o seu sistema em escala mundial e de receber os royalties correspondentes. (CHAPPLE;GAROFALO, 1989, p.48) Posteriormente, as grandes gravadoras celebraram um acordo comercial, licenciando os formatos e velocidades para todas, e passando os toca-discos, a partir de 1950, a virem com as três opções de velocidade (33⅓, 45 e 78 rpm) no mesmo aparelho. Nessa altura, o formato 78 já se aposentava, tendo a música erudita adotado como formato ideal o 33⅓, deixando de ser prensado pelas grandes gravadoras em meados de 1957. Egeu Laus (2005) afirma que o país acompanhou a evolução das matrizes, com suas diferenças. O single de 45 rpm não durou muito, desaparecendo e dando espaço ao compacto simples, que rodava a 33⅓ rpm, como o compacto duplo. O LP chegou em 1951 no formato de dez polegadas, posteriormente 1 Single: canção considerada viável comercialmente o suficiente pelo músico e pela companhia para ser lançada individualmente, mas é comum que também apareça num álbum. 27 padronizando-se o formato de doze polegadas, com 31 centímetros de diâmetro, em 1957. O autor relata também sobre a primeira fábrica de LPs do Brasil, que foi instalada no Rio de Janeiro, tendo sua sede sido projetada por Oscar Niemeyer. Fundada em 1945, passou por vários nomes, iniciando como Sinter (Sociedade Interamericana de Representações), tornando-se a Companhia Brasileira de Discos (1955), passando a lançar discos também com o selo Phillips (1959). Em 1971 passou a se chamar CBD-Phonogram, alterando sua razão social para Polygram Discos Ltda. em 1978, e Polygram do Brasil Ltda. em 1985. Em 1997 a Polygram foi comprada pela canadense Seagram, detentora dos direitos da Universal, passando a chamar-se Universal Music Group definitivamente. Figura 6 – Toca-discos Fonte: Disponível em <http://www.htforum.com/vb/showthread.php/127537-Toca-discos- Gradiente-b-25> 28 4.3 As primeiras embalagens de discos Egeu Laus (2005) estima ainda que os discos importados, no começo do século XX, chegavam à Casa Edison em caixas de papelão, intercalados com folhas de papel, não possuindo embalagem individual. Os envelopes que serviam de embalagem no Brasil eram feitos de papel pardo, em formato quadrado, de gramatura fina e com abertura em um dos lados. No centro, um círculo vazado do diâmetro dos rótulos, que permitia a leitura das informações dos mesmos, que indicavam nome do intérprete, músicas, autores, estilo musical, eventuais informações complementares e o número do catálogo, não esquecendo do logotipo da gravadora e séries dos discos, bem como as companhias fonográficas. Figura 7 – Selo padrão de discos Fonte: Disponível em <http://abracadabra-br2.blogspot.com> 29 O autor afirma que, na época, não havia o apelo visual e comercial que temos hoje, de modo que a principal propaganda de um produto era o seu conteúdo, razão pela qual a embalagem de disco vazada no centro se fazia ideal, dando ao consumidor acesso às informações relativas às músicas ali contidas. Prosseguindo, Laus (2005) trata que, no início, os discos eram comercializados quase que exclusivamente pelas gravadoras, as quais aproveitavam o envelope padronizado para expor propaganda de seus demais produtos, entre discos e aparelhos, como a Odeon e a Victor que recomendavam o uso da ―Victrola‖ para maior qualidade de som. Mais tarde outras lojas passaram a revender os discos, imprimindo seus próprios envelopes e utilizandoos para outros anúncios. Não havia nenhum interesse do consumidor nesses envelopes, já que, uma vez comprados e levados para casa, era hábito acondicionar os discos em álbuns, muito semelhantes aos álbuns de fotografias, sendo as embalagens originais meras proteções temporárias. Embora até hoje seja tradição norte-americana referir-se a ―álbum‖ como sinônimo de LP, os registros de Laus (2005) apontam que os primeiros álbuns surgiram em função das gravações de orquestras, que necessitavam de várias unidades de discos para uma única obra, os quais eram todos guardados em um álbum. Estes álbuns eram vendidos vazios, sem qualquer relação com as obras que viriam a ser seu conteúdo, no entanto, em 1939, alguns músicos passaram a ter interesse na produção de álbuns personalizados, contendo capas, textos e repertório, e, eventualmente, contracapas e libretos. Nesse momento, Alex Steinweiss, o jovem diretor de arte da Columbia Records, persuadiu os executivos da gravadoras a dar uma maior atenção para as capas dos produtos, a fim de torná-las mais atraentes ao consumidor. Deu-se 30 neste ponto da história da indústria fonográfica o que pode ser entendendido como o primeiro passo rumo ao desenvolvimento consciente das capas de discos. Egeu Laus (2005) relata que, passaram então a produzir capas ilustradas, inspiradas em cartazes alemães e franceses que Steinweiss havia visto, que eram impressas em papéis e coladas aos cartões das capas. Alguns anos depois, em 1948, junto ao lançamento do long playing nos Estados Unidos, Steinweiss apresentou o que seria adotado como o modelo definitivo de capa de disco: uma folha de cartão impressa, aberta e em seguida dobrada ao meio. Bruno Leo Rocha apresenta resumidamente a contribuição de Steinweiss para o mundo das capas de discos: Ele queria expressar a qualidade das músicas dos álbuns, em imagens criativas para exercer um papel de divulgação dos artistas. Em 1947 Steinweiss inventou uma capa de papelão que poderia ser utilizada como proteção e ao mesmo tempo, poderia ser impressa em uma máquina gráfica. Esse projeto de capa tornou-se padrão em todas as gravadoras por mais de 50 anos – período ao longo do qual as capas passaram por vários estilos de design e culturas diferentes. (ROCHA, 2008) As primeiras capas personalizadas no Brasil surgiram no fim dos anos 40, de acordo com os registros históricos estudados por Egeu Laus (2005), tendo maior expressividade nos discos voltados ao público infantil. No entanto, os discos infantis não costumavam trazer as datas de lançamento ou produção, ao contrário dos voltados à música popular. Desta forma, é difícil precisar as datas. Por aproximação e comparação, a partir dos números de matriz gravados na própria cera dos discos, foi possível deduzir a data do mais antigo deles: Branca de Neve e os sete anões, de 1946. Segundo depoimentos, no entanto, esses discos foram represados várias vezes, talvez com novas matrizes; e na falta de provas mais sólidas fica difícil precisar se anteriormente houve outros lançamentos ou mesmo se Branca de Neve é de algum ano anterior (o filme original de Walt Disney é de 1938). Também é possível que os discos tenham sido lançados 31 sem capa e a ilustração incorporada somente por volta de 1949. Foram lançados ainda Os quatro heróis, A Gata Borralheira, Alice no país das maravilhas (com desenhos originais de Walt Disney), A Formiguinha e a neve e Chapeuzinho Vermelho, com desenhos de capa assinados por Alceu. Em 1949 foi lançado História da baratinha, com desenho de Nássara [1910-1995]. É bastante provável que todos esses discos infantis não assinados tenham sido ilustrados pelo mesmo Alceu que assinou Chapeuzinho e Baratinha. (LAUS, 2005, p. 309) Em 1950 a produção de capas no país passou a ter maior atenção, passando a serem lançadas várias capas ilustradas para os álbuns de 78 rpm até o ano seguinte, e até mesmo um lançamento especial pela Odeon de um álbum para discos de formato 78, feito especialmente para o acondicionamento de obras de Francisco Alves. 32 Figura 8 – Carnaval em Long Playing Fonte: Disponível em <http://www.overmundo.com.br/overblog/o-fim-das-capas-de-discos> 33 Figura 9 – A História da Baratinha Fonte: Disponível em <http://chiadofone.blogspot.com/2009/07/historias-infantis-em-78- rpm.html> Figura 10 – Alice no País das Maravilhas Fonte: Disponível em <http://chiadofone.blogspot.com/2009/07/historias-infantis-em-78-rpm.html> 34 Figura 11 – A Formiguinha e a Neve Fonte: Disponível em <http://chiadofone.blogspot.com/2009/07/historias-infantis-em-78-rpm.html> 35 4.4 O início da preocupação com o design de capas De acordo com Egeu Laus (2005), nos primórdios o design era apenas a união de uma ilustração simples com um lettering2 desenhado manualmente. Eventualmente havia a união de fotos com as ilustrações, mas mantendo a impressão em preto sobre o papel branco, com pobres arranjos tipográficos, e o logotipo da gravadora em destaque. Às contracapas era reservada a função de relatar informações a respeito do disco, não podendo intervir o designer nas mesmas. As contracapas só passaram a ter maior atenção na metade dos anos 50, passando a conter textos e fotos do músico. Ruy Castro (2000), no entanto, afirma que neste ponto ainda era raro haver uma integração entre o estilo da capa e o tipo de música gravada no disco. Em um disco de um cantor ou cantora, colocava-se na capa a foto dos mesmos, e em discos de orquestras apelava-se pra uma paisagem ou uma modelo. O autor afirma ainda que a capa e a contracapa abusavam de desenhos, fotos, textos, fios, firulas e toda a espécie de adornos, sem que houvesse qualquer sentido. Laus (2005) afirma que também não havia grande criatividade na criação das primeiras capas, de modo que era comum notar semelhança com modelos populares de capas estrangeiras, em especial as americanas, configurando cópias baratas de qualidade inferior. Imagine você ter que colocar em um papel branco, no formato de uma página de jornal: título, subtítulo, foto, ilustração, vinheta, texto, cupom, logotipo, etc... ―Como arrumar estes itens todos sem ficar visualmente confuso? Seria o mesmo que você nesse espaço branco ir espalhando as notas musicais: colcheia, semi-breve, breve, fusa, clave de sol, etc. Nenhum músico saberá o que você quer dizer, mas, se ao contrário, você as 2 Lettering: escrita, caracteres tipográficos. 36 colocar nas pautas, naquelas cinco linhas, eles entenderão.(VILLELA, 2003, p. 13) Após o centésimo disco da Sinter (atual Universal), em 1956, o mercado fonográfico nacional iniciou um processo de estruturação para um novo padrão de produção de discos, tendo em vista que, até aquele momento, a maior parte da produção de LPs era de regravações de discos de formato 78 rpm. Na mesma época foi criado o selo Festa, de pequeno porte, que primava por um padrão de alta qualidade no aspecto visual de seus álbuns. Laus (2005) aponta que o selo dava atenção não só às capas, mas às contracapas também, de modo que todas traziam créditos e fotografias dos respectivos músicos. O selo lançou 104 títulos, sendo 67 deles de poesia, e até uma versão adaptada da obra de Antoine de Saint-Exupéry, ―O Pequeno Príncipe‖. A primeira gravadora a se preocupar com o conceito gráfico de seus discos foi a Elenco, criada em 1963 por Aloysio de Oliveira. Em entrevista com Ronaldo Evangelista, colaborador do portal eletrônico UOL, César G. Villela fala a respeito da criação da gravadora: O Aloysio de Oliveira saiu da Odeon e começou fazer shows no Au bom Gourmet, onde eu fazia os cenários. O primeiro foi O Encontro, com João Gilberto, Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Os Cariocas. E ele e o Flávio Ramos - o dono do Au Bom Gourmet - resolveram fazer uma gravadora para lançar aquele elenco. A maioria dos músicos da bossa nova não tinha gravadora, a Odeon só queria o João Gilberto. E todos queriam botar o nome na praça, então todo mundo adorou. Depois o Flavio Ramos acabou saindo da parceria e o Aloysio criou a Elenco sozinho. (EVANGELISTA, 2008) A identidade visual da gravadora foi elaborada pela equipe formada pelo designer César Villela e o fotógrafo Chico Pereira. A arte das capas seguia um padrão de duas cores, a serem o vermelho e o preto, em função de baixo 37 orçamento, o que não limitou a imaginação de Villela, que com seu bom gosto criou verdadeiras obras-primas entre as capas de discos nacionais. Villela (2003) afirma que os discos da Elenco precisavam se sobressair, tendo em vista a concorrência com os discos das multinacionais, e que a simplificação das capas foi a saída encontrada para tal. O autor afirma que a capa era o principal veículo de venda, servindo para motivar a compra, razão pela qual sentiu a necessidade de simplificar o visual das capas da Elenco, a fim de que se destacassem. Não se pretende que alguém ―entenda‖ uma capa de LP mas sim que se sinta decisivamente atraído por ela. Assim, deve a capa provocar uma reação imediata, um impulso, um apelo. Seu pior fracasso é passar despercebida: ser um envoltório comum, sem força de venda. A capa deve ―soar‖ graficamente, numa mensagem convincente e fácil de ser gravada. Não devemos nos orientar pelo critério beleza: principalmente no nosso caso é por demais relativo (já dizia Voltaire: ―a beleza para o sapo é a sapa‖). Em ótica, no entanto, somos todos iguais. O truque visual – permitido pela razão gráfica – é a forma mais rápida, direta e rentável de comunicação entre a capa e o indivíduo. Chamo ―razão gráfica‖ a solução simbólica visual de alguma coisa. Além do mais, esse tipo de capa nos permite, justamente por sua simplicidade, disfarçar a deficiência de impressão. Certas companhias primam pela capa confusa, cheia de detalhes, com dizeres ilegíveis e excesso de cores. É um despropósito. Ao contrário, ao decidir-nos por uma ―simplicidade de bom gosto‖ estaremos muito mais perto de obter embalagens ideais para os produtos em questão… (apud LAUS, 2005, p. 333) 38 Figura 12 – Tom Jobim Fonte: Disponível em <http://freakshowbusiness.com/2009/08/02/as-capas-dos-discos-da- gravadora-elenco/> 39 . Figura 13 – Vinícius de Moraes e Odette Lara Fonte: Disponível em <http://freakshowbusiness.com/2009/08/02/as-capas-dos-discos-da- gravadora-elenco/> 40 Figura 14 – Maysa Fonte: Disponível em <http://freakshowbusiness.com/2009/08/02/as-capas-dos-discos-da- gravadora-elenco/> 41 Figura 15 – O Pequeno Príncipe Fonte: Disponível em <http://abracadabra-br2.blogspot.com/> 42 4.5 Os profissionais do design de capas As gravadoras passaram a otimizar seus novos lançamentos a partir da segunda metade da década de 1950, diante da consolidação do formato LP. Passaram então a dar maior atenção à parte gráfica dos álbuns, em especial às capas, que, entre outras inovações, passaram a exibir imagens dos cantores. Egeu Laus (2005) trata sobre o novo padrão de trabalho gráfico, que requereu profissionais com maior capacitação, dando início ao trabalho em equipe de um fotógrafo e um responsável pelo layout, o qual definia a composição e diagramação dos elementos da capa e da contracapa do novo álbum. Essas duplas de profissionais atuavam na forma de freelancers3, e cada gravadora mantinha uma equipe dessas, que era responsável por quase todas as capas produzidas. Laus (2005) afirma que a principal formação acadêmica para os ilustradores daquele tempo foi a Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Os profissionais da época transitavam pelo mercado editorial sem deixar de lado sua produção autoral. Ressalta ainda que o Rio de Janeiro era o principal mercado para esses profissionais, tendo em vista ser a sede da maioria das gravadoras. 3 Freelancer: profissional autônomo, que se autoemprega em diferentes empresas ou, ainda, guia seus trabalhos por projetos, captando e atendendo seus clientes de forma independente. É uma tendência no mercado de jornalismo, design, propaganda, tecnologia da informação, música e muitos outros. 43 4.6 As capas de discos na publicidade Em 1958, aniversário de dez anos do lançamento internacional do LP, ocorreu o ―Primeiro Salão Nacional de Capas de Long Playing, uma homenagem ao progresso da indústria fonográfica nacional‖, promovido pela parceria entre a revista Radiolândia e o jornal O Globo, cuja exposição durou quinze dias e foi sediada na Associação Brasileira de Imprensa. Egeu Laus (2005) relata que o Salão foi um sucesso, marcando a presença de cantores, cantoras, jornalistas e radialistas, tendo sua repercussão mencionada em revistas e jornais da época. Houveram diversas premiações no Salão, como, por exemplo, melhor trabalho fotográfico dirigido por César G. Villela para o LP da Odeon, intitulado Bola Sete e 4 trombones, do guitarrista Bola Sete, que apresentava composição tipográfica una e projeto de conceito firme. Tal capa apresentava o guitarrista sobre uma mesa de sinuca, apresentando forte contraste com o verde da mesma a partir da utilização de fundo vermelho. Notava-se ainda a guitarra em mãos do músico, e quatro trombones deitados sobre a mesa, além de várias bolas de bilhar espalhadas. Não bastasse, a contracapa dava continuidade no conceito, apresentando linhas de trombone e mais bolas, dando destaque especial para a de número sete. Outro prêmio notório foi o do trabalho de Darcy Penteado, por melhor ilustração, no disco Moderna poesia brasileira, dos Jograis de São Paulo, pela gravadora Festa. Houve ainda, por iniciativa do jornalista Silvio Túlio Cardoso, a entrega do Disco de Ouro. Em 29 de outubro de 1958, o jornal O Globo apresentou um especial de 24 páginas dedicadas à indústria fonográfica nacional, apresentando textos que tratavam da história do LP no Brasil, a história do disco, e artigos afins, com 44 participação dos presidentes da Columbia da Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD). No mesmo ano, a revista Grafas apresentou preocupação com a indústria fonográfica. Apresentou em seu primeiro número, escrita pelo jornalista Max Gold (1958), uma coluna sobre o assunto, onde o mesmo analisava e comparava duas capas nacionais com obras norte-americanas. Suas críticas alfinetaram elementos como baixa qualidade fotográfica, infantilidade no lettering e a nudismo expresso, questionando se imagens apelativas ajudariam na venda de um álbum. Mesmo após sete anos do lançamento dos LPs, as capas de discos continuavam sendo tratadas como cartazes, e as contracapas com desdém. Mais uma vez a revista Grafas apresentou preocupação com relação à indústria fonográfica, em sua segunda edição, com o artigo ―Contracapa e venda de LongPlaying‖: Entre nossas gravadoras está se difundindo, felizmente, o hábito de caprichar nas capas dos discos LPs. As fotografias são bem feitas, o leiaute é limpo, claro e moderno, enfim, o conjunto apresentado é agradável. Mas, existe um fator que tem sido descuidado: a contracapa. Em geral, as nossas gravadoras, com honrosas exceções, é claro, utilizam apenas a contracapa para catálogo de seus discos já lançados ou ainda por lançar. Outras gravadoras, sem saber o que fazer para preencher o espaço da contracapa, entregam esta para ser feita por cronistas de outros setores ou outra espécie de curioso. (apud LAUS, 2005, p. 324) 45 Figura 16 - Bola Sete e os 4 Trombones Fonte: Disponível em <http://loronix.blogspot.com/2008/04/bola-sete-bola-7-e-4-trombones- 1958.html> 46 Figura 17 - Jograis de São Paulo Fonte: Disponível em <http://toquemusical.wordpress.com/category/jograis-de-sao-paulo/> 47 4.7 Mudança de pensamento dos músicos e designers Egeu Laus (2005) afirma que os músicos, em esmagadora maioria, não se preocupavam a respeito da capa de seus discos, dando atenção exclusivamente ao aspecto musical de suas obras. Notava-se um grande desinteresse dos cantores da época em relação às artes visuais, relutando até mesmo com as sessões fotográficas para divulgação dos lançamentos. A conseqüência de tal atitude era, não raro, uma desagradável surpresa ao encontrar os próprios discos nas lojas, tendo em vista que era esse o primeiro contato que muitos tinham com as capas de suas obras, e então era tarde demais para qualquer providência. Com o distanciamento histórico, sabemos que Villela estabeleceu novos padrões para o design de capas de disco no Brasil. No entanto, sua influência naquele momento foi praticamente nenhuma. Os discos da Elenco, em tiragens reduzidas, circulavam essencialmente pela Zona Sul do Rio de Janeiro e a gravadora só resistiu por cinco anos. As capas, de modo geral, continuavam sem um projeto gráfico integrado que incluísse a contracapa. (LAUS, 2005, p. 336) Após anos de verdadeiro relapso com o aspecto gráfico, em 1968, com o surgimento do tropicalismo, o design de capas tomou nova força, cabendo citar Rogério Duarte como designer da época, o qual produziu capas para nomes renomados como Gilberto Gil e Caetano Veloso. Começava, então, uma nova era na indústria fonográfica, onde música e design andariam lado a lado. 48 4.8 Relação entre imagem e som na atualidade Atualmente é possível perceber a grande preocupação entre o conteúdo do disco e a imagem da capa que o representa em diversos estilos musicais. Conforme Sousa (2010), as capas de disco podem nos revelar até mesmo como um artista musical procura sintetizar os valores que acredita ou pode mostrar de que maneira uma determinada classe artística foi interpretada por seus ouvintes, admiradores e críticos musicais. Trabalhos incríveis podem ser encontrados do meio musical do rock pesado, ou heavy metal, podendo ser citados exemplos como a capa do álbum Demanufacture, de 1995, da banda Fear Factory, elaborada pelo ilustrador Dave McKean4, que ganhou destaque dentro da gravadora Roadrunner, ficando em quarto lugar na lista das melhores capas da gravadora. Sobre a arte de capa deste disco e sua relação com a temática das músicas e da banda, o site Blabbermouth.net informa, através do artigo ―Fear Factory’s Demanufacture Is One Of Ten Greatest Covers In Roadrunner History‖: As for the album's art, the stark simplicity of a bar code (the actual bar code of the album for purchase) melded into a human spine signified the man-made machine, machine-conquers-man theme prevalent in FEAR FACTORY's lyrics and sound. Em relação à arte do álbum, a simplicidade de um código de barras (o código de barras real para compra do disco) mesclado a uma espinha humana significava a ―máquina feita pelo homem‖, ―máquina conquista o homem‖, temas predominantes nas letras e nas músicas do Fear Factory. 4 Dave McKean: célebre desenhista britânico de quadrinhos e ilustrador de capas de disco e livros, além de cineasta e músico. 49 Figura 18 – Fear Factory - Demanufacture Fonte: Disponível em <http://www.roadrunnerrecords.com/blabbermouth.net/news.aspx?mode=Article&newsitemID=137 172> Outra capa que merece destaque pela composição de sua imagem é a capa do disco Roots, de 1996, da banda brasileira Sepultura, que também entrou para a lista das dez melhores capas da gravadora Roadrunner, em terceiro lugar. A capa mostra a face de um indígena, com raízes ao fundo coloridas em tons de vermelho, a fim de representar a principal música de trabalho do grupo, ―Roots Bloody Roots‖ (Raízes, sangrentas raízes), além de toda a temática sonora do disco, que envolveu composições musicais tribais criadas e gravadas juntamente com os índios da tribo dos Xavantes, em plena selva brasileira. Sobre a arte da capa, o próprio vocalista da banda, Max Cavalera, diz, através do artigo 50 ―SEPULTURA's Roots Is One Of Ten Greatest Covers In Roadrunner History‖, disponível no site Blabbermouth.net, que: Roots is actually not really that much changed from an extinct Brazilian dollar bill. That's where I got it from — it's public domain so anybody could use it and we didn't have to pay anything. The Brazilian dollar had that face with the Indian on it. It's actually original from the old dollar bill from the '80s that's no longer in circulation. Roots na verdade não é muito diferente da imagem de uma extinta cédula de dinheiro brasileira. Foi onde eu a consegui – É domínio público, então qualquer um pode usá-la e nós não tivemos que pagar nada. A cédula brasileira tinha o rosto deste índio em um dos lados. É originária de uma antiga cédula de dinheiro dos anos 80 que não está mais em circulação. Figura 19 – Sepultura - Roots Fonte: Disponível em <http://www.roadrunnerrecords.com/blabbermouth.net/news.aspx?mode=Article&newsitemID=137 249> 51 No mesmo artigo, Cavalera ainda afirma que Michael Whelan5, o responsável pela elaboração da capa, apenas teve que adicionar a logomarca da banda, a ser a letra ―S‖ estilizada como um desenho tribal, e colocar as raízes ao fundo com realce da cor vermelha, dando a devida atenção para os detalhes. Por meio de simples exemplos é possível observar a grande importância dada à representação gráfica na capa de um trabalho musical, cabendo ressaltar que não apenas em um estilo de música tal preocupação se desenvolveu. Há hoje músicos que se preocupam em passar sua mensagem não somente através da música, mas também pela imagem agregada à sua produção musical, comprovando que, no decorrer dos anos, a atenção dada ao significado e conteúdo da capa de um disco se intensificou, sendo facilmente perceptível quando analisada através de uma perspectiva histórica. Nos dias de hoje, com o desenvolvimento de novas mídias, inúmeros recursos são agregados a uma boa representatividade gráfica para compor um pacote completo a ser distribuído, não apenas com a música, mas também com vídeos (DVD), interatividade (internet) e outros elementos que já fazem parte da nossa realidade, ampliando as possibilidades de criação, utilização e divulgação do trabalho, tanto para o músico, quando para o ilustrador ou designer. 5 Michael Whelan: artista americano voltado ao realismo imaginativo, trabalhou por mais de 30 anos como ilustrador especializando-se em ficção científica e fantasia antes de dedicar todo seu trabalho a uma carreira nas belas artes. 52 5 PROCESSO DE CRIAÇÃO Conforme citação anterior, Bosi (2000) afirma que arte é um fazer, é um conjunto de atos pelos quais se muda a forma, se transforma a matéria oferecida pela natureza e pela cultura. Capas de disco são trabalhos artísticos, e, encaixando-se neste segmento, apresentam as características de uma produção artística, portanto pode-se afirmar que não existe um manual definitivo a respeito de como se dá o processo de criação das mesmas. Sobre a falta de ―exatidão‖ e de regras a serem seguidas na composição de uma obra artística, OSTROWER (1995, p.43) reforça dizendo que na arte estamos lidando com a sensibilidade e não com a geometria. As possibilidades de elaboração de uma capa são tantas quantas resultarem de uma combinação de fatores como princípios da banda, disponibilidade financeira, contatos sociais e profissionais, tendências da moda, conceito do álbum, entre outros, ou seja: infinitas possibilidades. Mozart (apud ALENCAR, 1995), em relação ao seu processo criativo, afirmava que era em momentos de solidão e bom humor que as idéias fluiam melhor e com maior abundância, sem que pudesse forcá-las ou definir de onde e como vêm. Ainda sobre criatividade, Kubie (apud ALENCAR, 1995), reforça a questão aqui levantada afirmando que a criatividade implica invenção, a criação de novos processos pela aplicação e combinação de fatos e princípios novos, visando revelar novos fatos, combinações e padrões. Embora muitos se dediquem ao estudo, análise e interpretação de capas, os próprios ilustradores que as elaboram afirmam não haver qualquer técnica ou lógica a ser fielmente seguida, como afirma Storm Thorgerson (2010) – 53 consagrado designer de capas, famoso por trabalhar com bandas como o Pink Floyd – em entrevista com Haden-Guest (2010): I get people writing to me sometimes, which is very sweet, saying I’ve been studying your album covers for twenty-five years and dududuluh! Which is not what it’s about. But it is to them. Which is fine! If it means that to them I’m happy for that. It sort of protects my ambiguity. Eu tenho pessoas me escrevendo às vezes, o que é muito legal, dizendo ―Eu venho estudando suas capas de álbuns há vinte e cinco anos e blábláblá‖. O que não é sobre o que isto é. Mas é para eles. E está tudo bem! Se significa isso para eles eu estou feliz por isso. Isso de certa forma protege minha ambigüidade. O entrevistado comenta ainda sobre como há vinte e cinco anos admiradores de seus trabalhos escrevem relatando suas interpretações e conclusões a respeito dos mesmos e, embora respeite a importância dada pelos fãs, afirma que não se trata de nada disso. Por vezes, a capa sequer possui ligação com qualquer música constante no álbum – a banda elege a capa que achar mais legal, reforçando assim as idéias de criatividade de Kubie e Mozart, sem que exista descaso com o trabalho do músico, visto que o próprio é quem dá a palavra final na escolha da capa. Um exemplo desse tipo de capa é a do álbum Atom Heart Mother, da banda Pink Floyd, que, conhecida pelo uso de capas elaboradas e enigmáticas, optou pelo uso da foto de uma vaca como capa. Com a única diretriz de produzir um design com ―algo plano‖, Storm Thorgerson foi até o campo e fotografou a primeira vaca que viu, apresentando a imagem à banda, que a aprovou. Em entrevista com Ronaldo Evangelista, indagado sobre seu processo de criação, César G. Villela, responde: ―Eu dirigia as fotos, às vezes desenhava 54 como imaginava que elas deveriam ser. (...) E muita coisa eu desenvolvi por pura intuição, como as setas na capa do primeiro disco da Nara Leão.‖. Sobre um dos elementos característicos de suas produções, o alto contraste, Villela relata em entrevista ao portal UOL que: O alto-contraste surgiu na Odeon. (...) E certa vez vi uma exposição com diferentes experimentações na revelação e gostei de uma, que estava em alto-contraste. (...) Resolvi experimentar e todo mundo topou, ninguém falou nada. Aí, quando o Aloysio me chamou pra fazer as capas da Elenco eu disse, "vamos fazer tudo em alto contraste! (EVANGELISTA, 2008) Diante do momento da criação artística, uma das possibilidades de se efetuar tal procedimento, especialmente no caso de uma capa de disco onde, além do designer/ilustrador, a banda ou músico também está envolvido, é através de um brainstorm, que, de acordo com Osborn (apud ALENCAR, 1995) constitui uma forma de resolução de problemas onde os participantes são incentivados a comunicar quaisquer idéias que venham à mente, sem medo de serem criticados. Esse incentivo à espontaneidade se dá com o objetivo de ampliar as possibilidades de trabalho, de modo que as idéias obtidas são posteriormente submetidas a uma triagem, afunilando as mesmas a fim de reduzir a seleção entre as que melhor apresentam o conceito do trabalho, para enfim optar pela melhor idéia. Cabe agora discutir sobre a forma de execução do trabalho. A execução trata da forma com que a idéia da capa é transformada em algo concreto, é o processo mecânico da produção de uma capa de disco. Uma das formas de execução mais utilizadas para a construção da imagem de uma capa é a fotomontagem, que, de acordo com Hedgecoe (1999, p. 394), é o ato de combinar 55 duas ou mais imagens numa única imagem. Iglesias (2000) define fotomontagem como montar em uma única composição diversas imagens, gráficos, textos e outros elementos. A fim de exemplificar a forma de execução da criação, é apresentado um exemplo de capa de disco elaborada por um profissional com a utilização do processo de fotomontagem. As imagens abaixo foram utilizadas como base para a elaboração da capa em seguida, demonstrando a execução de fotomontagem a partir do uso de uma miscelânea de fotografias com imagens digitais, seguida de um pesado tratamento gráfico digital. O trabalho em questão foi elaborado para uma banda cujo estilo musical caracteriza-se como rock cristão, notando-se na composição da capa elementos como pessoas em adoração, imagem celeste e construções de grande porte em perspectiva, simbolizando a distância entre o Céu e a Terra, conforme pode ser observado no trabalho finalizado, aliado a detalhes de acabamento como notas musicais em partitura e tipografia estilizada. Figura 20 – Peças-chave para montagem de capa Fonte: Disponível em <http://fernandoart.blogspot.com/2008/01/view-from-hear.html> 56 Figura 21 – Capa após processo de edição final Fonte: Disponível em <http://fernandoart.blogspot.com/2008/01/view-from-hear.html> O resultado final do trabalho de uma capa influencia diretamente no marketing do produto, tendo em vista que o apelo visual não raro chega aos consumidores antes mesmo do produto musical. A seguir, nota-se um exemplo prático da diferença de um design profissional (esquerda) e de uma capa amadora (direita). Percebe-se na capa amadora a pobre qualidade no tratamento da imagem, o excesso de simplicidade do nome da banda e do título do álbum, bem como do lettering. Já a capa produzida profissionalmente traz maior cuidado na apresentação do trabalho, notável com a utilização de uma paleta de cores padronizada, tratamento de envelhecimento da foto e lettering de estilo retrô, 57 combinando com o conjunto dos demais elementos, reforçando a idéia do título do disco Another Chance (Outra Chance), a ser uma oportunidade de retorno de algo antigo, de outra época. Figura 22 – Comparação entre capa profissional e amadora Fonte: Disponível em <http://www.cddesign.com/covertalk/archives/to_design_or_not_to_design_t.html> 58 6 A OBRA 6.1 Concepção da obra A proposta original da obra consistia em fazer uso da letra de uma música existente pertencente a uma banda que se encaixasse em um estilo similar ao do meu gosto pessoal, porém sem que eu tivesse conhecimento do trabalho gráfico da capa do disco que contivesse a música correspondente, para servir de base para uma criação gráfica própria, utilizando apenas a temática da letra, e ao final da produção seria feito um comparativo entre a obra produzida e o material original da banda, destacando as similaridades e assim estabelecendo a conexão entre o conteúdo lírico da música e a sua representação gráfica. Com o passar do tempo essa proposta foi amadurecida, e, aliada à experiência pessoal como músico, veio à tona a idéia de compor todo o material a ser usado na obra, desde o conjunto letra e música, fazendo assim uma criação original, com base em material próprio. O processo de composição musical se deu em parceria com os colegas de banda Alex Magnus6, atuando no vocal, guitarra e baixo, e Gustavo Casagrande7, responsável pelo teclado/sintetizador, ficando, por fim, a bateria ao meu encargo. Toda a concepção musical, tanto a letra quanto o som, e, posteriormente, o visual da capa, foi elaborada em torno do estilo musical e ideais da banda, chamada int0xic 8, tendo por estilo assumido o rock/industrial. 6 Alex Magnus: músico multi-instrumentista, conhecido de longa data do autor, responsável pelo trabalho de guitarra, baixo, vocal e composição de letras para o projeto musical int0xic. 7 Gustavo Casagrande: tecladista e operador de sintetizador do projeto musical int0xic. 8 int0xic: o nome do projeto musical, concebido a partir de um jogo de palavras e números, derivando do termo inglês ―intoxicated‖, o qual significa intoxicado. 59 Utilizando-se da bagagem pessoal de cada membro da banda e de diversas idéias aguardando para serem postas em prática, foi eleito um projeto antigo para ser a base da música single que seria a inspiração da obra do presente trabalho. Com base estrutural desta idéia, os arranjos sonoros do projeto foram totalmente refeitos nos moldes atuais de cada músico, dando uma nova faceta à composição, totalmente ―reciclada‖, encaixando-a efetivamente no estilo industrial, com uma sonoridade mecanizada. Após a preparação da estrutura musical, foi feita a composição da letra que representaria a opinião da banda. A letra é obra do membro Alex Magnus, inspirada experiências pessoais do mesmo, somada a pequenas colaborações da banda, resultando na música chamada ―The Damage Done‖9. A letra retrata uma visão pessimista sobre o próprio cotidiano, tratando a forma sistêmica com que o ambiente e seus problemas nos são apresentados como uma doença, presente em cada um de nós. Diante da dificuldade proporcionada pelo alto custo da locação de tempo em estúdios profissionais de gravação musical, todo o trabalho sonoro foi feito de forma caseira, fazendo uso de elementos simples de gravação e computadores pessoais para edição do áudio. A gravação perdurou por algumas semanas, esbarrando em barreiras como a disponibilidade de tempo dos músicos e problemas técnicos causados por equipamentos amadores. O primeiro instrumento a ser gravado foi a bateria, por servir de base para a gravação dos demais instrumentos. Em seguida foi feita a gravação do baixo, duas linhas distintas de guitarra, os efeitos de teclado/sintetizador, e, por último, o vocal. 60 A mixagem de som foi feita de forma igualmente caseira, através do uso de programas de computador de licença gratuita, tornando o custo da produção da música nulo, apesar das dificuldades técnicas enfrentadas. Com a gravação finalizada, o resultado final se caracteriza como uma música demo 10. disponibilizada, juntamente com a imagem da capa, no site da banda, disponível no endereço eletrônico http:///www.int0xic.com. Figura 23 – Banda em processo de gravação Fonte: Arquivo pessoal do autor 9 The Damage Done: termo em inglês que significa ―O Estrago Feito‖. Demo: música em pré-produção, antes de ser gravada em estúdio profissional 10 61 Figura 24 – Gravação do teclado/sintetizador Fonte: Arquivo pessoal do autor Com a música gravada, a atenção do projeto voltou-se à elaboração da capa. Para a concepção do aspecto visual, foram utilizados brainstorms. De acordo com Gomes (2003), o brainstorm é uma técnica desenvolvida por um grupo de pessoas que desejam encontrar soluções para um problema, a partir de idéias espontâneas que surgem de cada uma delas. A partir deste exercício foi notada um maior incidência de temas como ―doença‖, ―tóxico‖ e ―veneno‖ a partir da letra da música, e até mesmo por influência do próprio nome da banda. A partir destas idéias principais, foi idealizado o que seria o embrião da ilustração do trabalho visual. 62 A ilustração é, como o texto, uma forma de expressar a mensagem. (SANT’ANNA, 2002). Adotando este ideal, um par de frascos de remédio fotografados em um fundo totalmente branco, com um deles quebrado, ou virado, deixando escorrer um líquido viscoso e negro representando veneno, contrastando com o branco extremo do fundo, foi a idéia inicial de capa, por representar perfeitamente as palavras anteriormente definidas pelo grupo. Com a base para a composição da imagem já idealizada, um enriquecimento nos detalhes fez-se necessário. Com a finalidade de se criar algum tipo de identificação da banda na imagem, surgiu a idéia de adicionar a própria logomarca do grupo à composição da imagem. Esta criada pelo amigo e apoiador da banda Fernando Becker11, consiste em um crânio humano usando uma máscara de gás, com o ícone que representa risco biológico ao fundo. Adicionada à imagem como o rótulo do frasco de veneno, a logomarca era o detalhe final que faltava. 11 Fernando Becker: designer e arte finalista, ex-colega de banda do autor e apoiador do projeto musical int0xic. 63 Figura 25 – Esboço da idéia inicial Fonte: Arquivo pessoal do autor 64 6.2 Execução da obra Fotografia foi a forma escolhida para executar este projeto, tendo em vista os conhecimentos na área adquiridos no curso de Artes Visuais, bem como experiência própria no uso de ferramentas de edição de imagem, proporcionando a capacidade de uma produção profissional. De acordo com Cesar (2002), em uma boa fotografia, o tema principal está bem definido. Um enquadramento bem feito chama a atenção para a área mais importante da foto, que será vista primeiro. O que se apresenta em segundo plano na imagem deve fazer sentido e estar de acordo com o que foi fotografado. O segundo plano será demonstrado na finalização da obra. O autor também trata da luz como aspecto que define a beleza de uma foto, devendo ser usada nas proporções corretas para a melhor visualização do objeto fotografado, tendo em vista que luz fraca ou excessiva é capaz de tornar disformes ou invisíveis partes do mesmo. Salienta ainda que as texturas, as formas e os detalhes são revelados ou escondidos conforme a luz, tornando fundamental o equilíbrio entre o claro e o escuro. Com a execução da imagem já planejada, um estúdio portátil foi montado, possuindo um cenário branco com aspecto ―infinito‖ (sem horizonte), construído com cartolina branca, vidros ambarinos com rótulos em branco dispostos em primeiro plano, esmalte de unhas preto para representar o líquido negro, e iluminação extra. Com o cenário montado, várias fotos foram feitas de diversos ângulos, a fim de ter um amplo estoque de fotografias disponíveis para escolha, eliminando as que não se encaixavam no padrão de qualidade mínimo para uma edição posterior em computador. 65 Foram realizados alguns estudos com o cenário e os vidros, preocupandose já com a composição final da imagem, ou seja, o layout, que consiste em expressar a estrutura da peça publicitária (SANT’ANNA, 2002), ou neste caso, da imagem a ser utilizada na produção. Roman e Maas (2010) enfatizam que o layout deve seguir uma seqüência natural, não necessariamente de cima para baixo. Os olhos do leitor vão se deter primeiro no ponto mais poderoso da imagem. Algumas fotos foram selecionadas, e a que possuía melhor disposição dos elementos, iluminação e, especialmente, contraste, foi escolhida para ser a foto definitiva da capa, visto que o uso de cores contrastantes, quando bem empregado, pode conduzir a um conjunto harmônico com a vantagem de despertar interesse pela vivacidade ou mesmo pela tensão que ocasiona. (FARINA, 1990). Com a foto em mãos, era hora de melhorá-la digitalmente e adicionar o restante dos elementos que iriam compor a capa propriamente dita. Na edição digital, feita com a utilização do programa Adobe Photoshop CS2, o contraste foi melhorado, detalhes e imperfeições do cenário foram removidos, a logomarca foi colocada no rótulo do frasco e o tamanho foi ajustado para o formato quadrado de capa de disco. 66 Figura 26 – O cenário e os elementos utilizados Fonte: Arquivo pessoal do autor Figura 27 – Estudo de posicionamento dos elementos da imagem Fonte: Arquivo pessoal do autor 67 Figura 28 – Teste de posicionamento com o líquido Fonte: Arquivo pessoal do autor Figura 29 – Imagem escolhida para edição digital Fonte: Arquivo pessoal do autor 68 Figura 30 – Início do tratamento da imagem Fonte: Arquivo pessoal do autor Com a imagem já tratada, restava adicionar os elementos tipográficos, o logotipo da banda e o título da música, de forma que ambos se encaixassem na imagem, mantendo o equilíbrio da mesma e enfatizando o conceito da música. A tipografia com o título da música foi criada durante a composição da imagem final, elaborada a partir de uma fonte de domínio público, disponível gratuitamente na internet, com estilo simples, de ângulos retos, assim simbolizando a mecanicidade do tipo de música envolvida, com um detalhe para a palavra ―Damage‖, que foi destacada com a mesma cor dos vidros ambarinos. Mesmo neste ponto avançado do trabalho, já com a logomarca inserida nos rótulos dos vidros e o lettering com local definido, a imagem carecia de um elemento que a completasse, então, mais uma vez, foi usada a logomarca da 69 banda, porém desta vez, apenas como uma espécie de marca d’água ao fundo, em uma tonalidade sutilmente contrastante ao branco, dando o acabamento final. Figura 31 – Capa finalizada Fonte: Arquivo pessoal do autor Com a finalização da capa, uma nova proposta surgiu com a intenção de otimizar o trabalho: a elaboração de uma contracapa. Utilizando os mesmos elementos básicos da capa, como tipografia e esquema de cores, a contracapa foi 70 elaborada contendo a letra da música, além da logomarca da banda novamente apresentada em forma de marca d’água, porém em contraste com as cores usadas anteriormente, para que se pudesse, assim, concluir a capa de um disco, elemento estudado desde o início desta pesquisa. Figura 32 – Contracapa finalizada Fonte: Arquivo pessoal do autor 71 7 CONCLUSÃO A capa de disco, no início da indústria fonográfica, possuía mínima importância, caracterizando-se apenas como embalagem para transporte e comercialização, sem que houvesse preocupação com o que nela era apresentado, servindo até mesmo como um mero espaço para publicidade das gravadoras e lojas que os vendiam. No entanto, através da leitura e compreensão de livros, textos e artigos que abordam este tema, foi possível analisar e entender a evolução do design de capas de discos, notando-se um gradativo, porém significativo, aumento da importância das artes visuais no mercado fonográfico, desde o início da elaboração de capas rudimentares para os discos comercializados, até o ponto em que o conteúdo artístico gráfico torna-se parte integrante da obra musical, servindo como complemento da mesma, representando, através de imagens, o que o músico cria em formato sonoro. Com o devido embasamento teórico fundamentando este estudo, foi possível avaliar como se dá o processo criativo de uma capa de disco, conhecer elementos amplamente usados neste ramo, como a fotografia e a fotomontagem, além de apresentar exemplos de processos criativos feitos por profissionais, mostrando as etapas de produção da capa, e como estes profissionais captam a temática de uma banda ou conteúdo de um disco, e transformam esta informação em uma imagem que a representa. Com os conhecimentos adquiridos no presente trabalho, e a partir de experiências próprias vivenciadas em projetos musicais, produziu-se um trabalho tendo como base letra e música de autoria própria, em conjunto com demais 72 músicos, resultando em uma capa de disco conceitual, a fim de complementar visualmente um single, elaborada com elementos fotográficos e edição digital. Utilizando a presente pesquisa como ponto de partida pode-se facilmente, a partir da compreensão do processo de criação, elaborar novos elementos visuais com a intenção de representar obras musicais na forma de capas de discos, tendo em visto o fato de, ao contrário do que acontecia no início do século XX, esse tipo de atividade já estar difundida no cenário musical, fazendo parte da cultura de quem o vivencia, inclusive sendo um trabalho bastante requisitado por músicos em busca de um complemento para sua produção sonora. 73 REFERÊNCIAS ALENCAR, Eunice M. L. Soriano de. Criatividade. Editora UnB. 2ª edição. Brasília: 1995. AZEVEDO, Wilton. O que é design. São Paulo : Brasiliense, 1988. BATTISTONI FILHO, Duílio. Pequena História da Arte. Campinas: Papirus Editora, 2008 BOSI, Alfredo. Reflexões sobre a arte. Série Fundamentos, 2000. BRITO, Gisele Ferreira de. Manual para elaboração de referências bibliográficas: segunda a NBR 6023/2002. Centro universitário Álvares Penteado. UNIFECAP. São Paulo: 2004. CASTRO, Ruy. O Estado de São Paulo, 8 de abril de 2000. CESAR, Newton. Direção de arte em propaganda. 4. ed. São Paulo: Futura, 2002. CHAPPLE, S.; GAROFALO, R. História e política da industria musical. Lisboa: Editorial Caminho, 1989. DANTAS, Edmundo Brandao, Gerencia De Marketing. Editora: Senac.. 1ª Edição, 2000. DENZIN, Norman K.; LINCOLN, Yvonna S. O planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e abordagens. 2. ed Porto Alegre: Bookman, 2006. FARINA, Modesto. Psicodinâmica das cores em comunicação. 4. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 1990. FRANCESCHI, Humberto Moraes. Registros sonoros por meios mecânicos no Brasil. Rio de Janeiro: Studio HMF, 1984. GOMES, Neusa Demartini. Publicidade: comunicação persuasiva. Porto Alegre: Sulina, 2003. HEDGECOE, John. O novo manual de fotografia. 2. ed. São Paulo: Senac, 1999. LAUS, Egeu. Capas de discos: os primeiros anos. In: CARDOSO, Rafael. O Design Brasileiro: Antes do design. São Paulo: Cosac Naify, 2005. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. . Técnicas de pesquisa: 74 planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e interpretação de dados. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2008. MINAYO, Maria Cecilia de Souza. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 23. ed. Petrópolis: Vozes, 2004. MUNARI, Bruno. Artista e Designer. Lisboa: Edições 70, 2001. OLIVEIRA, Silvio Luiz de. Tratado de metodologia científica: projetos de pesquisas, TGI, TCC, monografias, dissertações e teses. São Paulo: Pioneira, 1999. OSTROWER, Fayga. Acasos e Criação Artística. Rio de Janeiro: Campus, 1995. SANT’ANNA, Armando. Propaganda: teoria, técnica, prática. 7. ed. rev. e atual. São Paulo: Pioneira, 2002. TINHORÃO, José Ramos. Musica Popular: Do Gramofone ao Rádio e TV. São Paulo: Ática, 1981. VILLELA, Cesar G. A História Visual da Bossa Nova. Rio de Janeiro: ADGBrasil e UniverCidade, 2003. 78 rpm Record Labels. Disponível em <http://bixography.com/images/78labels.htm> Acesso em: 14 jun. 2010. Abracadabra – LPs do Brasil 2. Disponível em <http://abracadabrabr2.blogspot.com/> Acesso em: 14 jun. 2010. ALARCÃO, Renato. Disponível em <http://www.mingaudigital.com.br/rubrique.php3?id_rubrique=314> Acesso em: 09 jul. 2010. BAUER, Henrik. Mega Mind Vídeo Department. Disponível em <http://www.henrikbauer.com/index.php?page_id=1058> Acesso em: 14 jun. 2010. Bola Sete – Bola 7 e os 4 Trombones. Disponível em <http://loronix.blogspot.com/2008/04/bola-sete-bola-7-e-4-trombones-1958.html> Acesso em: 14 jun. 2010. BONARES, Charles. Histórias Infantis em 78 rpm. Disponível em <http://chiadofone.blogspot.com/2009/07/historias-infantis-em-78-rpm.html> Acesso em: 14 jun. 2010. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Disponível em <http://www.priberam.pt/dlpo/> Acesso em: 09 jul. 2010. 75 EVANGELISTA, Ronaldo. Responsável pelas capas da Elenco, César Villela ajudou a criar a imagem da bossa. Disponível em: <http://musica.uol.com.br/ultnot/2008/07/31/ult5955u28.jhtm> Acesso em 14 jun. 2010. Fear Factory’s Demanufacture Is One Of Ten Greatest Covers In Roadrunner History. Disponível em <http://www.roadrunnerrecords.com/blabbermouth.net/news.aspx?mode=Article& newsitemID=137172> Acesso em 14 jun. 2010. GÓMEZ-ESTEBAN, Pedro. Inventos ingeniosos – El fonógrafo. Disponível em <http://eltamiz.com/2008/01/31/inventos-ingeniosos-el-fonografo/> Acesso em: 14 jun. 2010. HADEN-GUEST, Anthony. Q&A With Storm Thorgerson, Álbum-Cover Artist Extraordinaire. Disponível em: <http://www.artinfo.com/news/story/34555/qawith-storm-thorgerson-album-cover-artist-extraordinaire/?page=1> Acesso em: 07 jun. 2010. IGLESIAS, Ricardo. Fotografia Digital. Disponível em <http://www.iar.unicamp.br/disciplinas/fotografiadigital/artigo01.htm> Acesso em: 14 jun. 2010. Jograis de São Paulo – Moderna Poesia Brasileira (1956). Disponível em <http://toquemusical.wordpress.com/category/jograis-de-sao-paulo/> Acesso em: 14 jun. 2010. LAUS, Egeu. O Fim das Capas de Discos. Disponível em <http://www.overmundo.com.br/overblog/o-fim-das-capas-de-discos> Acesso em: 14 jun. 2010. MEDINA, Fernando. Christian Music CD Design – Graphic Designer: Christian Rock. Disponível em: <http://fernandoart.blogspot.com/2008/01/view-fromhear.html> Acesso em: 07 jun. 2010. ROCHA, Bruno Leo. Alex Steinweiss. Disponível em < http://coversdesign.blogspot.com/2008/10/alex-steinweiss.html> Acesso em 14 jun. 2010. ROMAN, Kenneth; MAAS, Jane. Como fazer sua propaganda funcionar. Brasil: Nobel. Disponível em: <http://books.google.com.br/books?id=7voIoJKaOtAC&printsec=frontcover>. Acesso em: 17 jun. 2010. RONDEAU, René. Perfected Graphophone Type G. Disponível em <http://www.edisontinfoil.com/col-g.htm> Acesso em: 14 jun. 2010. 76 SANTOS, Alexandre. As Capas dos Discos da Gravadora Elenco. Disponível em <http://freakshowbusiness.com/2009/08/02/as-capas-dos-discos-dagravadora-elenco/> Acesso em: 14 jun. 2010. Sepultura’s Roots Is One Of Ten Greatest Covers In Roadrunner History. Disponível em <http://www.roadrunnerrecords.com/blabbermouth.net/news.aspx?mode=Article& newsitemID=137249> Acesso em: 14 jun. 2010. SOUSA, Rainer. A história pelos discos. Disponível em <http://www.educador.brasilescola.com/estrategias-ensino/a-historia-pelosdiscos.htm> Acesso em: 14 jun. 2010. The Grammy Awards. Disponível em <http://www.electricka.com/etaf/muses/music/music_prizes/grammy_awards/gram my_awards.htm> Acesso em: 14 jun. 2010. The PC Game Soundtrack Database. Disponível em <http://www.bysmitty.com/Soundtracks/Messiah/Messiah.htm> Acesso em: 14 jun. 2010. Toca discos Gradiente b-25. In: HT Fórum. Disponível em <http://www.htforum.com/vb/showthread.php/127537-Toca-discos-Gradiente-b25> Acesso em: 14 jun. 2010. To Design or Not To Design – That is the question. Disponível em: <http://www.cddesign.com/covertalk/archives/to_design_or_not_to_design_t.html > Acesso em: 07 jun. 2010. 77 APÊNDICE A – Representações gráficas da obra 78 79 APÊNDICE B – Letra original e tradução Under pressure / I lost my days All my fears / Are here again Escape from the pain inside Fuck off and let me die It seems so innocent Give up and be decent Consumin’ pills, slave of prozac Can I release? Rejectin’ This is an addiction One more disease And in the end it’s all so far away I’m falling away from life living in shades of gray Sob pressão / Eu perdi meus dias Todos os meus medos / Estão aqui novamente Fugir da dor interna Dane-se e deixe-me morrer Parece tão inocente Desista e seja decente Consumindo pílulas, escravo de prozac Posso me livrar? Rejeitando Isto é um vício Uma doença a mais E no fim está tudo tão longe Estou padecendo da vida vivendo em nuances de cinza Hallucinations seem so real Deep as the pain I feel Spiritual decay in me No more suffering Alucinações parecem tão reais Profundas como a dor que sinto Decadência espiritual em mim Sem mais sofrimento Escape from the pain inside Fuck off and let me die It seems so innocent Give up and be decent Fugir da dor interna Dane-se e deixe-me morrer Parece tão inocente Desista e seja decente Consumin’ pills, slave of prozac Can I release? Rejectin’ This is an addiction One more disease Consumindo pílulas, escravo de prozac Posso me livrar? Rejeitando Isto é um vício Uma doença a mais And in the end it’s all so far away I’m falling away from life living in shades of gray E no fim está tudo tão longe Estou padecendo da vida vivendo em nuances de cinza And every time I’m awake, how can I dare to raise my face? I’m trying, I’m falling, I feel so sick E sempre que estou acordado, como ouso levantar meu rosto? Estou tentando, estou caindo, me sinto tão doente Just feeling sick I’m tired of feeling sick The sickness of myself To see my life starts again I drown my head in a lake of pain Forever standing alone Looks like the damage is done Só me sentindo doente Estou cansado de me sentir doente A doença de mim mesmo Para ver minha vida começar novamente Afogo minha cabeça em um lago de dor Ficando sozinho para sempre Parece que o estrago está feito 80