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DOMINGO - O Estado do Maranhão - São Luís, 29 de setembro de 2013
SAÚDE/BEM-ESTAR
Ouvir música durante a atividade física ajuda a ter mais disposição e melhora o humor do atleta
Trilha sonora
pode influenciar a
prática de esportes
Alguns atletas consideram a música indispensável para
animar a prática de atividade física e melhorar rendimento
P
ORTO ALEGRE - Faltam
apenas alguns minutos
para terminar a corrida.
As pernas começam a ficar
cansadas, a respiração cada vez
mais ofegante, o corpo beira a
exaustão, e a vontade de desistir é grande. Mas eis que começa a tocar aquela música especial, com um ritmo agitado, e o
trajeto parece ficar mais leve e
fácil de percorrer. Quando o
atleta se dá conta, já cruzou a
linha de chegada. E com um
ânimo extra.
Para Adelaide Moraes, 56
anos, essa sensação é comum.
A empresária, que começou a
correr há cerca de dois anos, admite que as passadas ficam
mais animadas quando realizadas ao som de suas bandas
preferidas. Os roqueiros irlandeses do U2 são seus companheiros frequentes durante o
exercício, dividindo o espaço do
player com as divas do pop Beyoncé e Rihanna. Ainda que o
gosto musical seja variado, Adelaide Moraes garante que todas
as canções que escuta durante
a atividade são escolhidas conforme o ritmo que quer dar ao
seu treino.
Nos percursos que realiza
pelo menos três vezes por semana, os fones de ouvido são tão
indispensáveis que ocupam a
segunda posição do seu "kit sobrevivência da corrida". Antes
deles, somente o tênis.
É por meio das canções que
Adelaide Moraes encontra disposição e ânimo para correr. E
ela não é uma exceção. O uso da
música nas atividades físicas sejam elas em grupo ou individuais, na água ou nas pistas, para
relaxar ou para animar - é tão
frequente que despertou a curiosidade de pesquisadores em
diferentes áreas.
Disposição - Estudos mostram
que as melodias podem influenciar o exercício físico de diversas formas. A música pode
elevar o humor, dar mais disposição, distrair da dor e do
cansaço, aumentar a resistência e reduzir a percepção do esforço. Ela tem o potencial, inclusive, de melhorar o desempenho do atleta.
"Os sons podem ser eficientes para produzir uma sincronização das ondas cerebrais e
para a execução dos movimentos do corpo. Isso pode ser produtivo para o aumento do rendimento dos exercícios", explica o psicólogo Vinícius Ferreira,
professor de neuropsicologia da
Faculdade Imed e membro da
Sociedade Brasileira de Neuropsicologia (SBNp) e da Sociedade
Brasileira de Neurociência e
Comportamento (SBNeC).
Conforme o especialista, a
melhora no desempenho se dá
também porque as melodias
podem favorecer a liberação de
noradrenalina, substância que
A companhia da música
Vantagens
- Aumenta a sensação de bem-estar
- Cria sensação de que o tempo do exercício passa mais rápido
- Reduz a percepção de intensidade do exercício
- Pode promover maior resistência física pela sincronização dos movimentos com a batida
- Em exercícios de baixa intensidade, a música pode inibir a sensação
de cansaço, tornando o treino mais prazeroso
Atenção
- Afasta a pessoa do ambiente em que está. Em esportes ao ar livre,
você pode não ouvir buzinas, avisos de outras pessoas etc.
- Distância de outros sons produzidos durante a atividade, como respiração e impacto dos pés no chão
- Se a música for mal selecionada, pode diminuir o rendimento por
ter um ritmo diferente
- "Distrai" a pessoa do exercício físico, afastando-a dos sinais que o
corpo envia
prepara o corpo para o exercício físico, aumentando a capacidade respiratória e a frequência
dos batimentos cardíacos.
Ritmo - Ainda que a forma exata como as melodias atuam no
cérebro não seja totalmente
clara para os pesquisadores, já
se sabe que elas têm uma grande capacidade de modular os
estados de ânimo das pessoas e até de outros animais -, explica o neurocientista Ivan Izquierdo, coordenador do Centro de
Memória do Instituto do Cérebro da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul
(PUCRS).
As canções podem induzir o
cérebro a liberar diversos neurotransmissores relacionados
ao bem-estar, como a serotonina e a dopamina. A partir daí,
a relação é direta: com bom humor, qualquer atividade fica
mais prazerosa.
O que vai definir qual a substância liberada é o tipo de melo-
dia (se é mais relaxante ou mais
dinâmica) e a expectativa que a
pessoa possui do efeito que a
música terá sobre seu comportamento, explica o psicólogo
Vinícius Ferreira.
Mas, para isso, é preciso saber escolher bem a trilha sonora. Ao mesmo tempo em que
servem como incentivo, ela
pode atrapalhar os atletas. Por
estarem diretamente relacionadas ao estado anímico, algumas músicas têm o potencial
de desanimar ao trazerem recordações ruins, ou simplesmente não serem do gosto de
quem as escuta.
Já canções que trazem boas
memórias, mas que têm um ritmo muito lento, também não
são indicadas para determinadas
atividades. Tudo depende de aspectos pessoais e culturais dos
indivíduos. "Um samba, por exemplo, faz os brasileiros se mexerem muito mais que os alemães", exemplifica Izquierdo.
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