UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA – UCB PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO CURSO DE PSICOLOGIA PACIENTES ONCOLÓGICOS E SEUS MECANISMOS DE DEFESA DURANTE O PROCESSO DE ADOECIMENTO Autora: MARINA SALES RODRIGUES Orientador: Prof. Dr. Jorge Hamilton Sampaio Projeto apresentado como requisito para a aprovação na disciplina de TCCI BRASÍLA 2010 INTRODUÇÃO É possível observar, seguindo literatura especializada, que pacientes em situações de adoecimento utilizam diversos tipos de mecanismos de defesa para se protegerem desse momento de crise que desorganiza as suas vidas. O adoecimento é o encontro com uma parte da realidade não levada ao nível consciente no cotidiano de um sujeito. É o momento em que ele esbarra com o real e se dá conta de que a morte, coisa que por vezes ignora, existe e que pode e vai ocorrer com ele algum dia. E isso é perturbador, gera um momento de crise, medo e angústia (SIMONETTI, 2004). Segundo Simonetti, durante o processo de adoecimento o sujeito pode passar pelos períodos de negação, revolta, depressão e enfrentamento, que são alguns dos mecanismos de defesa de que ele lança mão para tentar aliviar o sofrimento psíquico que o adoecimento pode acarretar. Na negação, que é uma defesa psicológica, o sujeito se defende do que lhe está sendo aversivo no momento, não suportando enfrentar a nova realidade que agora se faz presente, lançando mão da repressão, que nada mais é do que uma fuga ao desprazer, ao que incomoda, tentando manter à distancia, fora do alcance da consciência, a doença que é real. (FREUD, 1915: REPRESSÃO). A revolta é um período no qual o paciente tenta expressar os diversos sentimentos reprimidos que o adoecimento acarreta, que pode desencadear explosões de raiva com os familiares, equipe de saúde e consigo. Já no período da depressão, que é uma reação esperada perante o processo de adoecimento, não se pode acreditar que o paciente está se entregando à doença. Na verdade, ele está tentando elaborar psiquicamente a nova realidade que se apresenta. Freud ensina que o período de enlutamento é preciso durante um processo de perda ou transformação, para que a energia psíquica seja focada para o interior, para justamente auxiliar nessa elaboração (FREUD, 1915: LUTO E MELANCOLIA). No enfrentamento, há uma fluidez nos sentimentos e pensamentos, na qual o paciente consegue lidar melhor com o processo real de adoecimento. Soares e Mautoni discorrem sobre o tema perdas e luto em seu livro Conversando sobre o Luto (2007). Relatam que o processo de adoecimento pode ser marcado por algumas perdas, como já descrito. Essas perdas nos colocam frente a uma dor emocional grandiosa e de difícil enfrentamento e elaboração, demandando certo tempo para que essa elaboração ocorra. O processo de luto por essas perdas leva tempo; tempo este em que o paciente pode oscilar na órbita reacional descrita por Simonetti. Este trabalho pretende mostrar quais são os mecanismos de defesa utilizados por pacientes oncológicos em um momento de adoecimento, que possíveis benefícios eles trazem ao aparelho psíquico do sujeito e quais os possíveis malefícios que podem trazer durante o período de tratamento. O adoecimento, apesar de ser marcado pelas perdas, também se constitui em alguns ganhos de atenção, de cuidados (SIMONETTI, 2004), havendo com isso alguns ganhos secundários com a doença. O interesse em observar pacientes oncológicos surgiu em razão de ser uma doença que culturalmente é carregada de significados negativos como, por exemplo, não ter cura, ou ser quase que uma sentença de morte quando descoberta, mas também composta por vários outros significados, trazendo assim uma carga de proibido, de renegado, que o sujeito e seus familiares tentam manter fora do alcance da consciência. Por isso o desejo de estudar esse conteúdo à luz da psicanálise, que busca esse não dito, o que fica encoberto, que é deixado para o inconsciente, e que no processo de adoecimento pode acabar emergindo mais facilmente ou não, já que o sujeito se encontra em um momento de crise e fragilidade psíquica. Atos psíquicos como os sonhos, os atos falhos que não podem ser facilmente explicados pela consciência acontecem frequentemente, tanto nas pessoas ditas saudáveis, quanto nas adoecidas (FREUD, 1915: O INCONSCIENTE), trazendo à tona conteúdos que a priori tentamos deixar fora do alcance da consciência. Segundo Simonetti, “a doença é um real do corpo no qual o homem esbarra, e quando isso acontece toda sua subjetividade é sacudida”, validando, assim, o processo de adoecimento como um campo para a psicanálise. Objetivo Geral: Identificar os mecanismos de defesa utilizados por pacientes oncológicos em momento de adoecimento, com destaque para os possíveis benefícios e malefícios que eles trazem ao aparelho psíquico do sujeito. Objetivos Específicos • Observar quais os mecanismos de defesa e de produção psíquicos são utilizados durante o adoecimento; Propor novas formas de auxiliar os pacientes oncológicos e seus familiares a atravessarem este período; Aprimorar a escuta da subjetividade de pacientes e de seus familiares; Encontrar formas de enfrentamento e suporte para esse processo invariavelmente doloroso e sofrido. Metodologia Trata-se de uma pesquisa qualitativa que proporciona a investigação exploratória da vivência do sujeito no fenômeno apresentado. Para tanto, utilizaremos como método o estudo de caso, uma vez que ele nos permite delimitar o foco de investigação para uma coleta profunda e detalhada envolvendo fontes múltiplas de informação, permitindo-nos um estudo investigativo de um fenômeno contemporâneo no contexto real em que acontece, principalmente quando os limites entre este contexto e o fenômeno é tênue, como é o caso de pacientes oncológicos e os mecanismos de defesa por eles utilizados para protegerem seu aparelho psíquico durante o processo de adoecimento. (YIN, 2005). Utilizaremos para isso alguns instrumentos posteriormente descritos, como por exemplo o completamento de frases, que propõe observar os significados particulares que os participantes da pesquisa terão frente às frases (GOLZÀLEZ REY, 2002) auxiliando assim em uma investigação aprofundada de casos singulares e significativos para a compreensão dos mecanismos de defesa que buscamos compreender com esse trabalho. (MAZZOTTI, 2006). Participantes Participarão deste estudo 03 sujeitos de pesquisa (pacientes oncológicos) que estejam em diferentes fases de adoecimento: 01 no inicio do tratamento; 01 com o tratamento já em curso e; 01 no processo final de tratamento. Pacientes que fazem tratamento quimioterápico ou radioterápico, que não precisam necessariamente estar internados em uma unidade de saúde continuamente. Instrumentos/ técnicas A coleta de dados ocorrerá através de entrevista semi-estruturada (ANEXO I) com o enfoque no período de adoecimento vivido pelo sujeito, completamento de frases (ANEXO II) e observação (ANEXO III). Procedimento Submeteremos o referido projeto ao Comitê de Ética em Pesquisa da UCB para que sejam julgadas as relevâncias sociais e científicas da proposta, bem como a autorização para execução da mesma. Posteriormente à aprovação, entraremos em contato com os sujeitos da pesquisa para apresentação das propostas e início da coleta de dados, de acordo com a disponibilidade dos colaboradores. Apresentaremos a eles o termo de consentimento livre e esclarecido (ANEXO IV) antes de iniciarmos a coleta. As entrevistas serão gravadas e transcritas na íntegra pela pesquisadora. As observações serão feitas durante o tratamento, com foco nos mecanismos de defesa por eles utilizados durante este processo de adoecimento e tratamento. O completamento de frases será aplicado durante o período de observações, a fim de obter dos sujeitos pensamentos sem muitos julgamentos do superego, os primeiros pensamentos que venham à sua memória. Análise A análise mais favorável para atingir o nosso objetivo é a análise de discurso, uma vez que a principal característica deste instrumento é a interpretação dos conteúdos presentes nos dados obtidos durante o estudo com estabelecimento prévio das categorias (CRESWELL, 2007). Ressalta-se que a análise será realizada exclusivamente pela pesquisadora. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA CRESWELL, J. W., Projeto de pesquisa – Métodos qualitativo, quantitativo e misto, 2ª. ed., Porto Alegre (RS), Artmed, 2007 FREUD, S. A história do movimento psicanalítico, Artigos sobre a metodologia e outros trabalhos. Obras completas, Vol. XIV, 1914-1916. Edição Standard Brasileira. Editora Imago, Rio de Janeiro, 2006. _____. A Repressão. Obras completas, Vol. XIV, 1914-1916. Edição Standard Brasileira. Editora Imago, Rio de Janeiro, 2006. _____. Luto e Melancolia. Obras completas, Vol. XIV, 1914-1916. Edição Standard Brasileira. Editora Imago, Rio de Janeiro, 2006. _____. O Inconsciente. Obras completas, Vol. XIV, 1914-1916. Edição Standard Brasileira. Editora Imago, Rio de Janeiro, 2006. GONZÁLEZ REY, F. L. Pesquisa qualitativa em psicologia: Caminhos e desafios. São Paulo, Thomson Learnig, 2002. MAZZOTTI, A. J. A . Usos e abusos dos estudos de caso. Cadernos de Pesquisa, Vol, 36, Nº, 129, São Paulo, Setembro-Dezembro, 2006. SIMONETTI, A. Manual de psicologia hospitalar: o mapa da doença. Casa do Psicólogo. São Paulo, 2004. SOARES, E.G.B., MAUTONI, M.A.A.G., Conversando sobre o luto. Editora Livro Pleno. Campinas(SP), 2007. YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3. Ed. Porto Alegre: Bookman, 2005. ANEXO I Entrevista Semi-estruturada 1 – Fale-me como foi para você descobrir que estava com câncer? 2- Que sentimentos surgiram quando você se deu conta de que estava doente? 3- Como você ficou quando descobriu o câncer? 4- E como você se observa hoje frente a doença? 5 – Conte-me como tem sido para você o processo de tratamento da doença? ANEXO II Protocolo de Observação O foco da observação será na vivência do sujeito durante o processo de adoecimento, buscando observar quais os mecanismos de defesa que este sujeito lança mão para proteger seu aparelho psíquico do processo de adoecimento. ANEXO III Completamento de Frases Eu gosto... Eu sou... Fico alegre... Fico triste... Tenho medo... Tenho vontade... Minha família... Estar doente... Eu quero... Um sonho... Se eu pudesse... Um dia eu quero... Quando fico triste... Fico feliz... ANEXO VI CRONOGRAMA DE ATIVIDADES Este Cronograma tem de ser refeito para início em dezembro de 2010 e témino em junho de 2011 (defesa) Indicador Físico Meta Etapa Fase Unidade Especificação Duração Quantid ade Início Término 1 Elaboração Conceitual Revisão de literatura Texto 08 Dezembro de 2010 Fevereir o de 2011 2 Planeja mento Aprofundamento do tema Texto 06 Fevereiro de 2011 Março de 2011 3 Instrumentali Elaboração de protocolo de Protocolo zação observação e completamento e de frases para coleta de dados; Completa mento de frases 01 Março de 2011 Março de 2011 4 Coleta dados de Entrar em contato com os possíveis colaboradores da pesquisa. Entrevistas, observações e completamento de frases. Lista de fontes, Entrevista s, Observaç ões 01 Abril de 2011 Maio de 2011 5 Análise dados de Análise dos dados coletados Analise e durante a pesquisa. classificaç ão dos dados 01 Maio de 2011 Junho de 2011 14 Finalização Relatório final da pesquisa. Relatório 01 Junho de 2011 Junho de 2011 15 Finalização Entrega para Relatório 01 Junho de 2011 Junho de 2011 01 Junho de 2011 Junho de 2011 do relatório impressão; 16 Finalização Apresentação para a banca de Apresenta ção monografia. ANEXO V TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Você está sendo convidado (a) a participar, como voluntário (a), da pesquisa: Pacientes oncológicos e seus mecanismos de defesa durante o processo de adoecimento, realizada por Marina Sales Rodrigues da Silva sob a orientação do Prof. Dr. Jorge Hamilton Sampaio, do Curso de Psicologia da Universidade Católica de Brasília Esta pesquisa tem o caráter sigiloso, em que será preservada a identidade do colaborador. Sua fala será gravada e transcrita. Sua participação não é obrigatória, e a qualquer momento você poderá desistir de participar e retirar seu consentimento até a data prevista para a publicação do mesmo, sem necessidade de justificar os motivos. Ressalta-se que não haverá nenhum tipo de pagamento ou gratificação para os colaboradores. Contudo, caso você tenha algum gasto financeiro decorrente de sua participação na pesquisa, basta você declarar o valor e nós faremos o ressarcimento. No caso de você concordar em participar, favor assinar ao final do documento. Você receberá uma cópia deste termo onde constam o telefone e e-mail da pesquisadora, podendo tirar dúvidas do projeto e de sua participação. Desde já agradecemos pela disponibilidade e participação no referido trabalho. Eu,_____________________________________RG_______________, declaro que li as informações contidas nesse documento, e fui devidamente informado (a) e esclarecido (a) sobre o projeto de pesquisa citado nesse termo. Declaro ainda que recebi uma cópia desse Termo de Consentimento. Nome por extenso: ___________________________________________ Assinatura:_________________________________________ Pesquisadora: Marina Sales Rodrigues da Silva E-mail: [email protected] Brasília, outubro de 2010.