1 O ADOECIMENTO PSÍQUICO DE PROFESSORES DA

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O ADOECIMENTO PSÍQUICO DE PROFESSORES DA REDE PÚBLICA
ESTADUAL: PERSPECTIVA DOS DOCENTES
Autoria: Lílian Maria Badaró Ferreira Araújo, Rosânia Rodrigues de Sousa
RESUMO:
Esta pesquisa teve como objetivo verificar as possíveis relações entre o adoecimento
psíquico de professores e os relatos acerca dos motivos que o geraram. Para tanto, foram
selecionados 135 prontuários de saúde dos servidores periciados na Superintendência
Central de Perícia Médica e Saúde Ocupacional e que entraram em Ajustamento Funcional
no período de janeiro a dezembro de 2011 pelo código F00 à F99 (Transtornos mentais e
comportamentais). Foram também realizadas entrevistas semi-estruturadas com 10
professores. Os resultados encontrados nos mostraram que a maior parte dos professores
atribui a causa de seu adoecimento psíquico às questões relacionadas ao trabalho, relações
interpessoais com alunos, colegas e direção.
Palavras-chave: adoecimento psíquico, professor, trabalho, ajustamento funcional,
qualidade de vida no trabalho.
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INTRODUÇÃO:
O contexto de mudanças intensas e rápidas nas dimensões econômicas, sociais,
tecnológicas, gerenciais e o aumento de metas e processos competitivos no mundo do
trabalho influenciam a vida profissional e pessoal dos trabalhadores. No contexto escolar,
depara-se com alunos que estão desmotivados, sem interesse em aprender, indisciplinados,
desrespeitando o professor, como figura de autoridade e saber.
Percebe-se que o regente encontra-se submetido a diversos tipos de pressões
emocionais e relacionais em seu trabalho; não apenas com os alunos, mas também a chefia
que “força” a resolução dos conflitos, tendo que enfrentar as diversas demandas que lhe são
apresentadas e criar recursos internos para a realização de seu trabalho, porém nem sempre
isto ocorre de uma maneira adequada.
De acordo com Mendes (1999), o trabalho faz parte da condição humana, sendo
indissociável de sua existência, constituindo a forma de construção das sociedades e dos
homens. Trabalhar é uma necessidade inerente ao ser humano e pode ser considerado um
fator importante para promover a saúde. No entanto, percebe-se que nem sempre o trabalho
cumpre esse papel, acabando por influenciar negativamente e causar doenças.
Um dos sentidos do trabalho é o prazer. Esse prazer emerge quando
o trabalho cria identidade. Possibilita aprender sobre um fazer
específico, criar, inovar e desenvolver novas formas para execução
da tarefa, bem como são oferecidas condições de interagir com os
outros, de socialização e transformação do trabalho. (...) permite
que o trabalhador se torne sujeito da ação, criando estratégias, e
com essas possa dominar o seu trabalho e não ser dominado por ele,
embora nem sempre isso seja possível, em função do poder da
organização do trabalho para desarticular as oportunidades para uso
dessas estratégias (MENDES, 2007, p. 51).
Gardenal (2009) afirma que existe a necessidade de estabelecer um vínculo afetivo e
emocional para exercer a docência; no entanto este vínculo está sendo bloqueado pelo jogo
de interdições que caracterizam a atuação dos profissionais da educação, surgindo então o
sofrimento psíquico, uma vez que o investimento afetivo, emocional e cognitivo não
apresenta retorno na díade relacional professor e aluno. Percebe-se que com a mudança nas
relações sociais e familiares a categoria profissional dos educadores, está cada vez mais
exposta a riscos relacionados à integridade física e estes riscos são exteriores e ao mesmo
tempo inerentes ao trabalho e independem da vontade do trabalhador. Os riscos podem ser
coletivos ou personalizados, reais ou supostos.
Verifica-se que existe, nas escolas públicas, uma precariedade material, nos recursos
que auxiliam o professor na ministração das disciplinas, restando, muitas vezes, apenas a
voz, a lousa, o giz e o grande desafio de sustentar a atenção cognitiva e o comprometimento
dos alunos, que já se encontram sem interesse pelo ensino formal.
Acrescenta-se uma crescente depreciação da atividade docente, em razão de baixos
investimentos na educação e um reduzido reconhecimento salarial, apesar de muitas vezes
se afirmar que a educação pode mudar a história de um país.
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Na perspectiva apresentada sobre o trabalho, Mills (1976) afirma que o trabalho em
si mesmo não tem qualquer significado, é o homem quem significa o que faz a partir de
como percebe que faz. Se o indivíduo valoriza o ato de fazer, pelo que tem de gratificante e
até mesmo lúdico, há significado intrínseco. No entanto, se percebe o trabalho apenas como
fonte de subsistência, empresta sentido apenas àquilo que ele pode proporcionar em termos
de consumo, então só há significado extrínseco. De acordo com o modo de produção
capitalista, a maior parte dos trabalhadores encontra no trabalho apenas o segundo sentido.
E como afirma Antunes (1995), os profissionais continuam com salário rebaixado,
qualidade de vida no trabalho insatisfatória, ritmo intenso de trabalho e competição
acirrada, o que sobra no final da jornada é o cansaço, a sensação de ter dado mais do que
ganhou, não compensando o esforço e a exaustão do corpo.
Detecta-se uma desvalorização da figura do professor e uma exigência maior de sua
atualização em busca de melhorias, o que gera investimentos financeiros e de tempo que o
regente, na maioria das vezes, não consegue cobrir. O resultado disto acentua os efeitos do
desgaste físico e psicológico, incorrendo no absenteísmo, licenças recorrentes ou mesmo
abandono da profissão. Hoje, o professor precisa de um esforço maior para ter valorização
e reconhecimento do seu trabalho.
Vê-se que as modificações no contexto social também alteraram as exigências
pessoais e do meio em relação à eficácia da atividade exercida pelo professor e isto tem
exigido uma mudança de atitudes e posturas.
Estas pressões funcionais e sociais têm contribuído para o afastamento funcional
temporário ou definitivo do professor, gerando sintomas psíquicos e comportamentais que
impactam negativamente no aluno e em toda comunidade escolar.
Dejours (1992) afirma que o sofrimento tem início quando a relação homemorganização do trabalho está dificultada e o homem não percebe o significado de seu
trabalho. Há um sentimento de inutilidade, que pode estar ligado à falta de qualificação e
finalidade. Não é o trabalho em si que adoece, mas o tipo de trabalho e as condições em que
é realizado.
De acordo com Mendes (2008), o trabalho na sociedade capitalista contemporânea
tem adquirido vários sentidos para os trabalhadores, ora oferece condições de emancipação,
ora de servidão. Nesse contexto, o psíquico muitas vezes é envolvido no jogo da dominação
social, associada às leis da racionalidade econômica, reproduzidas nos princípios da
produtividade, da flexibilidade e do consumo, deixando os trabalhadores a se sujeitarem no
lugar de resistir e de emancipar.
Sabe-se que a pressão emocional, funcional e pessoal pode gerar sintomas e
patologias físicas no educador e sobre seu desempenho, ocasionando problemas
organizacionais e nas suas relações interpessoais. Conseqüentemente, provocando
desmotivação laboral, descrença nos seus ideais profissionais, gasto com medicamentos,
hospitalizações, Licença para Tratamento de Saúde - LTS, desviando o orçamento para
gastos não previstos.
Duran (2000) constata que em cada indivíduo que adoece há um desacordo entre o
modo de trabalho que anula o que ele tem de melhor a oferecer. Pode-se ver no indivíduo
que adoece: local de trabalho, função exercida, exigências da chefia, sendo oportuno fazer
correlação positiva entre os sintomas e estes fatores. O funcionário é a pessoa que exerce a
função, os sintomas se manifestam no indivíduo, mas o que está doente é a função. A
doença funciona como alerta para o ambiente e expressa insatisfação de todos, mesmo que
não se tenha consciência disto. A doença é uma forma não verbal do indivíduo com ele
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mesmo e é necessário encontrar a origem do problema que está sendo manifestado de forma
visível na dor.
De acordo com Menezes (2004), o trabalho como construtor de identidade e
inclusão social age sobre o indivíduo e interfere em sua vida como um todo, inclusive na
relação saúde-doença e em alguns casos contribue para o surgimento de problemas físicos
ou psíquicos. Desta forma, não se pode descartar o trabalho ao diagnosticar e intervir sobre
as doenças e os sofrimentos do trabalho.
Segundo Berman (1992) as transformações, características do mundo moderno, com
seus valores de progresso e mudanças, atingiram os destinos da vida em comunidade, dos
laços sociais e da vida privada do homem contemporâneo, de forma surpreendente e
assustadora, tornando o trabalho, entre outras coisas, uma das questões mais complexas da
atualidade.
Diante de um contexto social de mudanças, Bueno e Lapo (2002) afirmam que os
professores se sentem insatisfeitos por não conseguirem cumprir, com excelência, as
exigências de sua profissão e nem reverter à situação precária em que se encontram.
Percebem que a globalização tem trazido transformações rápidas na dinâmica do trabalho,
na organização do trabalho, e nas novas exigências de competências do trabalhador, que
interferem em sua saúde.
Conforme Fiore (2009), a realidade do trabalho sofre alterações focadas em uma
política que elege a denominada “competências individuais”, buscando evidenciá-las e
respondê-las em seus alunos, igualmente o corpo docente também é estimulado a
desenvolver e manifestar estas competências. Assim, debater o adoecimento do professor
requer discussões pertinentes à questão do contexto social, às condições físicas e
emocionais em que está inserido. De acordo Noronha et al (2008), o adoecimento do corpo
docente teria origem no paradoxo que percebem entre a missão e a invisibilidade do
trabalho, aos olhos da organização escolar.
No caso em estudo, constatou-se que, grande número de professores periciados na
Superintendência Central de Perícia Médica e Saúde Ocupacional – SCPMSO, da
Secretaria de Estado de Minas Gerais, por médicos psiquiatras e psicólogos, apresenta
sintomas psíquicos e/ou comportamentais, que geram afastamento da função de regência,
através de licenças médicas ou ajustamento em outras funções fora da sala de aula.
Em perícia médica, capacidade laborativa é a condição física e mental para o
exercício de atividade produtiva. É a expressão utilizada para habilitar o examinado a
desempenhar as atividades inerentes ao cargo, função ou emprego. O individuo é
considerado capaz para exercer uma determinada atividade ou ocupação quando reúne as
condições morfopsicofisiológicas compatíveis com o seu pleno desempenho.
Até poucos anos atrás, não se atribuía a causa de doença mental ao trabalho, apesar
de popularmente já se mencionar a responsabilidade do trabalho no sofrimento psíquico.
Atualmente, alguns pesquisadores se interessam pelo trabalho e a relação com o
adoecimento e o prazer do trabalhador.
Segundo Mendes (2007) a saúde no trabalho está relacionada às tentativas de
transformação das situações adversas no movimento de busca do prazer e fuga do
sofrimento. Acrescenta que não é a ausência do sofrimento que sugere um comportamento
saudável e sim, as possibilidades internas e externas de o indivíduo transformar o
sofrimento por meio da tomada de consciência de suas causas, dos conflitos e frustrações
que o geraram.
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Neste sentido,esta pesquisa teve como objetivo verificar as possíveis relações entre
o adoecimento psíquico de professores e os relatos dos mesmos acerca dos motivos que
geraram tal adoecimento.
Justificou-se esta pesquisa pela importância da verificação das causas do
adoecimento psíquico do professor e o impacto negativo decorrente desta situação - gastos
com medicação, leitos ocupados e reduzida qualidade de vida dos mesmos. Na escola, os
prejuízos, geralmente, são: desmotivação ou ausência do professor no trabalho, perdas no
processo de ensino-aprendizagem, além de dificuldades e gastos com a contratação de
professores substitutos. Desta forma, considera-se desafiador e necessário o entendimento
do processo saúde-doença deste trabalhador, a fim de se propor alternativas de prevenção
e/ou mudanças para diminuir o número de licenças, ajustamentos funcionais e
aposentadorias prematuras.
METODOLOGIA DO ESTUDO:
A metodologia utilizada foi a análise dos prontuários médicos dos professores
atuantes nas Escolas Estaduais de Belo Horizonte, que foram ajustados funcionalmente por
incapacidade de manter-se na função de origem ou que obtiveram a prorrogação de um
Ajustamento Funcional, periciados na Superintendência Central de Perícia Médica e Saúde
Ocupacional, no período de janeiro a dezembro de 2011, pelo código F00 à F99
(Transtornos mentais e comportamentais) da Classificação Internacional de Doenças – CID
10. Nos 135 prontuários selecionados, foram consultadas as avaliações psicológicas e
verificados os motivos descritos, pelos servidores, que desencadearam seu adoecimento
psíquico. Estes prontuários foram também categorizados com a finalidade de realizar uma
análise das doenças mais recorrentes.
Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com dez professores que se
encontram em Ajustamento Funcional para maior compreensão da realidade vivenciada
pelos entrevistados.
Mendes (2002) relata que a vivência de prazer ou sofrimento depende da mediação
entre a subjetividade do trabalhador e as condições (ambientais, socioculturais, econômicas
e políticas) nas quais o trabalhador está inserido. A organização do trabalho desempenha
um papel facilitador para a saúde psíquica do trabalhador quando oferece espaço para
manifestação da individualidade, não obrigando o mesmo caminho a todos para busca do
prazer e para proteção contra o sofrimento. O sofrimento é fonte de adoecimento quando
permanece e não é enfrentado pelas defesas ou mobilização subjetiva.
No que diz respeito aos prontuários selecionados, foi analisado o Protocolo de
Inspeção Psicológica, item V – Queixas - parte b. De acordo com o relato coletado nestes
prontuários dos servidores, o fator desencadeante de seu adoecimento está relacionado com
os seguintes fatores: 1) questões pessoais alheias ao trabalho; 2) trabalho; 3) ambos os
fatores ou 4) não sabe identificar. Em alguns prontuários inclusive há relatos descritivos das
causas deste adoecimento. Os dados coletados nesses prontuários foram organizados de
acordo com estes quatro itens.
ANALISE DOS DADOS:
O resultado da pesquisa evidenciou que 41% dos professores identificam a causa do
seu adoecimento o trabalho, devido à localização da escola em área de vulnerabilidade
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social, problemas referentes às relações interpessoais com alunos: indisciplina, desinteresse,
desrespeito, confrontos físicos e verbais gerando situações de estresse emocional.
Destacaram-se ainda dificuldades de relacionamento com a chefia e colegas, pouco
reconhecimento de seu trabalho, insatisfação salarial, sobrecarga de trabalho para
complementação de renda, além de questões sócio-familiares; 28% dos professores
atribuem a causa do seu adoecimento a fatores pessoais como problemas sócio-familiares
ou outras patologias de base, alheias ao trabalho; 28% do número de professores não sabem
identificar o que causou seu adoecimento e 8% atribuem à causa do seu adoecimento
psíquico tanto a problemas pessoais quanto problemas relacionados ao trabalho.
Segundo, Diniz et al. (2004) o trabalho é visto como um dos aspectos mais
importantes da vida adulta. Ele é fonte de status, poder e independência financeira. É
também um local de construção de uma rede social de apoio e de validação da competência
relacional. Além de estar socialmente ligado à produção de bens e serviços, constitui fator
importante de identidade e auto-estima.
Simultaneamente foi realizado um levantamento dos códigos F referentes aos
Transtornos mentais e comportamentais da Classificação Internacional de Doenças – CID
10, cujos resultados trouxeram evidências importantes sobre possíveis nexos entre certos
distúrbios mentais ocasionados pelo exercício da atividade profissional e de gênero.
Quanto aos tipos de transtornos mentais e comportamentais detectados nas
principais categorias identificados no estudo tem-se 45% dos professores das escolas
públicas sofre de transtorno depressivo recorrente; 33% de transtorno ansioso; 10% de
transtorno afetivo bipolar; 10% de reação ao “stress” e 2% de transtorno de adaptação e
outros.
Nos transtornos depressivos, a perturbação principal é a alteração do humor, junto
com anedonia (perda de interesse e prazer), energia reduzida com cansaço aumentado.
Além de outros sintomas como: diminuição de concentração e atenção; dificuldade em
tomar decisões; sentimento de desvalorização; oscilação do humor; esmorecimento e
isolamento social; baixa auto-estima; idéias de inutilidade e sentimento de culpa; visões
pessimistas do futuro; ideação suicida; alteração do sono. O homem deprimido na maioria
das vezes irá fazer uso de bebida alcoólica e a mulher irá usar alimentos doces, ambos de
forma exagerada, trazendo prejuízo para pessoa. Outros sintomas da depressão são a queda
capilar, unha quebradiça, nervosismo, irritabilidade, intolerância a ruído, entre outros.
De acordo com o manual de Avaliação de Capacidade Laborativa em Psiquiatria,
elaborado pela equipe de psiquiatria da SCPMSO, em 2009, a depressão é um transtorno
recorrente e o início de episódios individuais está relacionado com eventos ou situações
estressantes. De acordo com estudos já realizados, cerca de 80% dos indivíduos que
receberam tratamento terão um segundo episódio depressivo ao longo de sua vida. Este fato
recorrente é acompanhado por aceleração do ciclo e gravidade crescente a cada episódio
subseqüente, particularmente na ausência de intervenção terapêutica. O tempo de
tratamento, dura em média de 6 a 24 meses, podendo ser interrompido ou não, após este
período, de acordo com o parecer médico para cada caso acompanhado. A resposta ao
tratamento agudo com antidepressivo ocorre entre 2 a 6 semanas após o início de seu uso.
O episódio depressivo pode tornar-se crônico, quando não há resposta clínica ao
tratamento. Questões pontuais que geram angústia e tristeza podem durar apenas um dia,
mas o agente estressor diário tem que ser revisto e o indivíduo deve buscar solução para
sair do estresse.
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Neste mesmo manual, o transtorno afetivo bipolar é caracterizado por dois ou mais
episódios nos quais o humor e o nível de atividade do sujeito estão profundamente
perturbados, sendo que este distúrbio consiste em algumas ocasiões de uma elevação do
humor e aumento da energia e da atividade (hipomania ou mania) e em outras, de um
rebaixamento do humor e de redução da energia e da atividade (depressão).
Os transtornos ansiosos podem ser classificados em fóbicos-ansiosos, agorafobia,
fobias sociais, transtorno de pânico, ansiedade generalizada, transtorno misto de ansiedade
e depressão e transtorno ansioso, não especificado.
De acordo com a percepção dos professores o fator desencadeante do adoecimento
está relacionado ao trabalho, levando a quadros depressivos e ansiosos e tendo como pano
de fundo o estresse a que está submetido na escola. Relatam questões referentes à própria
organização do trabalho, em que o professor já não é visto como autoridade e muitas vezes,
não tem o domínio de turma; não consegue manter a disciplina dificultando o ensino, seja
pelo ambiente marcado por tumulto, indisciplina, desrespeito dos alunos, ou mesmo pela
capacitação insuficiente para ministrar as informações. Queixam falta de apoio da direção e
da supervisão da escola, que muitas vezes, se distanciam da situação de conflito por
entender que o professor tem que administrar as dificuldades sozinho, pois faz parte do seu
papel enquanto profissional. Assim resta a ele, o sentimento de impotência, insegurança e
desmotivação, aliado a uma série de problemas econômicos e sociais vivenciados.
Interessante registrar que os professores analisados estão lotados em escolas
diferentes, mas suas queixas são semelhantes, o que nos faz atentar para a presença de
mudanças históricas, sociais e de bases legais ocorridas no campo das relações sociais e
especificamente no contexto familiar e escolar.
Dos professores entrevistados, todos estão a mais de um ano em ajustamento
funcional. Oito deles se sentem melhor na função que estão exercendo e relatam que após
sair da regência interromperam o tratamento com psiquiatra e o uso da medicação, devido à
cessação dos sintomas. Nenhum dos professores entrevistados faz acompanhamento com
psicólogo, todos disseram da impossibilidade por questões financeiras, embora tenha sido
encaminhado pelo médico assistente. Estes oito professores não pretendem voltar à
regência, pois sentem dificuldade no trato com alunos, relatam que não têm paciência, não
estão tolerantes à barulho, já estão desatualizados da disciplina que ministram (a maioria
ficou quase dois anos de licença médica antes de entrar em AF) e bem adaptados em outra
função. Dizem de bom relacionamento com chefia e colegas, mas contam que tiveram
problemas com alunos no passado, relacionados à agressão física ou verbal, ameaças,
intimidação, alunos drogados em sala de aula, desrespeito, indisciplina, entre outros. Dois
professores relataram que o professor em ajustamento é visto pela escola como alguém
incapaz, improdutivo, que está ocupando lugar de outro profissional habilitado para aquele
cargo. Acrescentam ainda que não conseguem aprender o serviço da secretaria, pois além
de não ter interesse, não tem quem queira ensinar, acreditam que serão mais úteis na sua
área. Relatam não terem um relacionamento com chefia e colegas muito bom. Acreditam
que o fato de estarem em AF gera mais sentimentos de baixa auto-estima, o que pode vir a
piorar o quadro de saúde. Disseram ainda que não têm problemas com alunos e
manifestaram interesse de voltar à regência. Neste período se atualizaram fazendo pósgraduação, disseram que se sentem bem emocionalmente e afirmam que o adoecimento foi
devido a problemas pessoais, não referentes ao trabalho e que já foram resolvidos.
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Desta forma, procurou-se desvelar a causa do adoecimento psíquico na perspectiva
destes professores, as dificuldades encontradas para cumprir a função de ensinar, os
investimentos pessoais para buscar a cura e a projeção para seu futuro profissional.
CONCLUSÕES:
A presente pesquisa constatou que é grande o número de professores que se sente
insatisfeito no trabalho que realiza, embora estes não tenham nem coragem de pensar em
fazer mudanças em sua vida profissional. Muitas vezes, estes profissionais se prendem à
estabilidade e ao fato de não ficarem desempregados. Desta forma, se mostram mais
vulneráveis ao adoecimento psíquico ou físico. Vários sinais alertam que algo está errado,
como: desânimo geral ou em relação ao trabalho, indisposição, cansaço, problemas
gástricos, enxaqueca, problemas interpessoais com colegas e chefia, entre outros.
A maioria dos professores atribui a problemas relacionados ao trabalho, como a
causa do seu adoecimento psíquico: queixam da rotina, da utilização precária de seu
potencial e competência, bem como das condições inadequadas de trabalho e riscos a que
estão expostos. Não desejam voltar a dar aula e querem acreditar que o Afastamento
Funcional (AF) é algo definitivo. Faz-se necessário rever o tempo que o servidor ficará em
ajustamento funcional, devendo este ser um período mínimo necessário, visto que é
transitório o afastamento da regência.
É importante que os professores busquem as causas da insatisfação, avaliem os
motivos que estão envolvidos e também todos os ganhos que o trabalho representa e então,
no que depender dele mesmo, resolver esses dilemas saindo da posição de vítima da
situação e se posicionando como sujeito de sua história.
Diante desta realidade, fica evidente também a necessidade de um programa de
qualidade de vida no trabalho através de ações que possam contribuir para implantação de
segurança, saúde e melhoria do clima organizacional, incluindo as relações de trabalho e
suas conseqüências na saúde das pessoas e da instituição.
As mudanças mais eficazes são planejadas e executadas de forma clara, às vezes,
pequena, mas contínua. Elas, em geral, desestabilizam, podendo gerar ansiedade, mas
manter novas ações tende a reduzir a dificuldade inicial fortalecendo o aprendizado, e o
prazer obtido irá sustentar a continuidade da atividade. É importante registrar que qualquer
mudança de paradigma, independente da área ou dimensão, começa pela atitude individual
de cada pessoa.
Não há mais espaço e nem tempo para negligenciar esta realidade, recusando
investir (econômica, social e comportamental) em projetos que podem garantir a saúde (e
com qualidade) no trabalho. A proposta é que se o poder público não liderar campanhas
amplas e de controle desta situação, que pelo menos cada gestor público ou cada indivíduo
inicie esta mudança, fazendo a sua parte.
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