Ruídos na comunicação

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Ruídos na comunicação
Raquel Falabella
No universo da comunicação que vivemos atualmente, utilizam-se três
linguagens: a formal, que representa a maneira como se escreve; a informal,
que reproduz o modo como se escreve; e a específica da internet.
Compreender quais as situações em que se empregam corretamente essas
formas e que o escrever e o falar constituem duas maneiras diferentes de
expressão contribui para a diminuição dos ruídos na comunicação interpessoal,
algo muito importante que os professores devem enfatizar em sala de aula.
A primeira coisa que uma pessoa precisa saber a respeito da qualidade do
uso que faz da língua portuguesa é a seguinte: se você escreve do mesmo jeito
que fala, algo está errado. Ao longo de vários anos como professora de
redação, tenho constatado que, ao contrário do que se pensa, os adultos
misturam, equivocadamente, muito mais os registros formal e informal do que
os adolescentes. Estes costumam respeitar as formas do discurso em cada
situação específica: com os pais, com os amigos, com os professores, etc.
A linguagem formal só é empregada quando redigimos. Na realidade atual
do mercado de trabalho, saber redigir bem representa um diferencial essencial.
E redigir bem não é um dom, e sim uma técnica que se adquire com muito
treino, como qualquer outra atividade que exige destreza. Para se redigir um
texto com qualidade e correção, são necessárias duas características:
objetividade e clareza.
A linguagem informal representa a maneira como falamos e a empregamos
com as pessoas das nossas relações cotidianas. Mas mesmo a linguagem
informal precisa respeitar a norma culta. Discordo dos que pensam que seja
admissível falar errado, por se tratar de registro informal. Nossos alunos,
adolescentes, necessitam de um modelo de correção do uso da linguagem, e
procuram esse exemplo em seus professores — o que torna inaceitável o uso
de gírias e posturas inadequadas em sala de aula. Também neste caso a
objetividade e a clareza são fundamentais.
Apesar do que pensa a maioria das pessoas, falar é muito mais difícil do que
redigir. Assim dizem pesquisas realizadas nos EUA, e assim também acredito,
pois para redigir se dispõem de mais tempo e de recursos para consultar
(dicionários, gramáticas e outras obras), ao passo que o ato de falar é
concomitante à ação e demanda atenção. Portanto, o que diferencia a
linguagem formal da informal é a riqueza de vocabulário, e, para torná-lo rico,
necessita-se de constante leitura.
Como podemos exigir que nossos alunos tenham bom vocabulário se não
exercemos o hábito da leitura? O ajuste na linguagem com nossos alunos é
muito difícil, e o vocabulário constitui o grande diferencial. Para que se alcance
o sucesso na comunicação, faz-se necessária a simplicidade. Só que isso
exige um nível de sofisticação muito intenso.
Quanto à linguagem da internet, é extremamente simples e rápida, baseada
mais nos fonemas. Infelizmente, trata-se da tendência do mundo futuro — hoje,
assustadoramente, usa-se até em documentos formais. Essa realidade
demonstra o quanto causamos os ruídos na comunicação ao utilizarmos a
linguagem inadequada em situações específicas.
Há algumas regras que podemos seguir para evitar ruídos na comunicação:
a linguagem verbal deve estar de acordo com a não-verbal; desenvolver a
análise crítica; capacidade de escutar; jamais interromper os outros; atentar
para a realidade cultural do receptor; lembrar que a responsabilidade é do
emissor; empregar vocabulário apropriado, correto e pontual; ser breve e
objetivo, mas sem aparentar rudeza; evitar usar em excesso termos técnicos,
modismos e palavras estrangeiras; sempre se atualizar.
Uma técnica muito prática para evitar ruídos na comunicação é empregar a
estrutura básica da frase SVC (sujeito + verbo + complemento). As regras de
pontuação, que não apresentam dificuldades maiores, devem ser atentamente
respeitadas para que a frase tenha sentido. Porém, ao adaptarmos o discurso à
realidade dos interlocutores devemos lembrar sempre que isso não significa o
empobrecimento do texto. Ao contrário, só com uma boa carga de leitura,
riqueza vocabular e sofisticação se atinge o outro.
Outras dicas importantes contra os ruídos na comunicação: não usar
abreviações; não esquecer as caixas altas (letras maiúsculas); evitar lugarescomuns; só utilizar palavras estrangeiras quando não houver similares na
língua portuguesa; ser seletivo no emprego de gírias; não repetir a mesma
palavra constantemente; não abusar das citações; ter cuidado com frases
interrompidas e incompletas; evitar a redundância e os vícios de linguagem; ser
sintético; nunca empregar siglas desconhecidas; não construir frases longas;
ter cuidado com a ortografia para não falar errado.
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