clinica medica cirurgica reproducao e medicina - TCC On-line

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
Faculdade de Ciências Biológica e da Saúde
Curso de Medicina Veterinária
Paula Cristina Capponi Ferrari
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
(T.C.C)
Curitiba
2006
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
Faculdade de Ciências Biológica e da Saúde
Curso de Medicina Veterinária
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
(T.C.C)
Curitiba
2006
Reitor
Prof. Luiz Guilherme Rangel Santos
Pró-Reitor Administrativo
Sr. Carlos Eduardo Rangel Santos
Pró-Reitora Acadêmica
Profª. Carmen Luiza da Silva
Pró-Reitor de Planejamento
Sr. Afonso Celso Rangel dos Santos
Pró-Reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão
Profª. Elizabeth Tereza Brunini Sbardelini
Secretário Geral
Prof. João Henrique Ribas de Lima
Diretor da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde
Prof. João Henrique Faryniuk
Coordenador do Curso de Medicina Veterinária
Profª. Neide Mariko Tanaka
Coordenador de Estágio Curricular do Curso de Medicina Veterinária
Profª. Elza Maria Ciffoni
CAMPUS CHAMPAGNAT
Rua. Marcelino Champagnat, 505 – Mercês
CEP 80.215-090 – Curitiba – PR
Fone: (41) 3333-1795
ii
APRESENTAÇÃO
Trabalho de Conclusão de Curso (T.C.C) apresentado ao Curso de
Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológica e da Saúde da
Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de
Médico Veterinário é composto de um Realtório de Estágio, no qual são descritas
as atividades realizadas durante o período de estágio: 04 de setembro à 04 de
novembro de 2006, período este em que estive na EQUIVET – Assistência
Veterinária no Jockey Clube do Paraná, localizado no município de Curitiba – PR
cumprindo estágio curricular e também consta uma Monografia que versa sobre o
tema: “Mieloencefalite Protozoária Eqüina (MEP)”
.
iii
DEDICATÓRIA
Dedico primeiramente esse trabalho aos cavalos; seres inigualáveis que
com sua força, inteligência e magnitude nos ensinam a cada dia e fazem da
medicina veterinária um desafio extremamente gratificante, a Deus; por ter guiado
meu caminho, aos meus pais; mesmo à distância contribuem e muito para que um
sonho tornasse realidade e por fim a todos os médicos veterinários, meus mestres
da faculdade ou simplesmente colegas de profissão que nunca negarão ajuda
para que os casos clínicos e situações fossem: interpretadas, entendidas e
vivenciadas.
iv
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais: Marli Capponi e Ironi Peron Ferrari por terem acreditado e
investido num sonho e sabem compreender que quilômetros de distância,
saudades, comemorações especiais e a falta de convívio será retribuída com a
carreira de Medica Veterinária.
A família Presezniak que ajudou enfrentar todas as dificuldades na
adaptação da minha vida em Curitiba; uma nova família para sempre ser com
carinho lembrado, pois, não há formas de agradecer ou retribuir tudo que eles
significam para mim.
Aos meus animais: Lilica e Mel por serem minhas verdadeiras amigas e
companheiras. Meu cavalo Quinarius San por auxiliar em meu aprendizado
principalmente ao compreender a relação de proprietário perante uma alteração
clínica qualquer, me fazendo sentir um aperto enorme no peito e preocupação. E
em especial a todos os animais em geral que passaram por mim e me ensinaram
muitas coisas inclusive a desencadear essa paixão por medicina veterinária.
Ao meu professor e orientador: Antonio Carlos do Nascimento sempre
disposto a tirar minhas dúvidas, dando oportunidades de estágio no qual tive
incentivo e comecei conhecer as noções básicas de semiologia dos animais,
principalmente dos cavalos.
Aos meus mestres: professores que participaram da minha formação
acadêmica e em especial a Dra Henriette Graf, excelente profissional que sempre
está disposta a dividir suas experiências e ensinar, grande amiga (uma mãe
querida) que me ensinou a gostar, entender e compreender o mundo dos cavalos.
A toda equipe Equivet: pessoas amigas e competentes que sempre me
ensinam, apóiam e me ajudam.
A toda a equipe do CARE: pessoas amigas que sempre deram apoio.
Aos meus colegas de turma que de certa forma fizeram com que eu
realmente me aproximasse do que eu gostava e queria pra minha vida.
Aos meus amigos queridos: todos que continuam ao meu lado me
compreendendo, auxiliando, acreditando e principalmente sendo parceiros e
companheiros, com quem a cada momento estou aprendendo algo novo, vivendo
momentos tristes e felizes.
vi
A Prece do Cavalo
“Ao meu amo, ofereço a minha Oração;
Dá-me comida e cuida de mim, e quando a jornada
terminar dá-me abrigo, uma cama limpa e seca e
uma baia ampla pra eu descansar em conforto;
Fala comigo, tua voz, muitas vezes, significa pra
mim,o mesmo que as rédeas;
Afaga-me, as vezes para que eu possa servir com
mais alegria e aprenda a te amar;
Não maltrates minha boca com o freio e não me faças
correr ao subir um morro;
Nunca, eu te suplico, me agridas ou me espanques
quando eu não entender o que queres de mim,
mas dá-me uma oportunidade de te compreender;
E, quando não for obediente ao teu comando, vê se
algo não esta correto nos meus arreios, ou
maltratando meus pés;
E, finalmente, quando a minha utilidade se acabar,
Não me deixes morrer de frio ou a míngua, nem me
vendas para alguém cruel para ser lentamente
torturado ou morrer de fome;
Mas, bondosamente, meu amo, sacrifica-me tu
mesmo e teu Deus te recompensará para sempre e
não me julgues irreverente se te peço isso em
nome daquele que também nasceu num estábulo.”
Paula Cristina Capponi Ferrari
CLÍNICA MÉDICA, CIRURGICA, REPRODUÇÃO E MEDICINA
ESPORTIVA DE EQÜÍNOS
Relatório de Estágio Curricular apresentado ao
Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de
Ciências Biológicas e de Saúde da Universidade
Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para
obtenção do título de Médico Veterinário.
Professor Orientador: Dr. Antonio Carlos do
Nascimento
Orientador Profissional: Drª Henriette Graf
Curitiba
2006
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS ............................................................................... viii
LISTA DE FIGURAS ................................................................................... ix
RESUMO .................................................................................................... xi
1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 1
2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO................................................... 2
3 ATIVIDADES REALIZADAS..................................................................... 3
4 DESCRIÇÃO DE CASOS CLÍNICOS........................................................ 9
4.1 Afecções da Pele e Anexo.................................................................... 9
4.1.1 Caso Clínico I: Habronemose Cutânea.............................................. 13
4.1.2 Caso Clínico II: Habronemose Cutânea............................................. 18
4.2 Afecções do Aparelho Digestório..................................................... 21
4.2.1 Caso Clínico I: Sobrecarga Alimentar................................................ 24
4.2.2 Caso Clínico II: Enterólito................................................................... 28
4.2.3 Caso Clínico III: Obstrução Intestinal por Corpo Estranho................ 33
4.3 Afecções do Aparelho Locomotor.................................................... 37
4.3.1 Caso Clínico I: Paralisia Periódica por Hipercalemia (HYPP)........... 40
4.4 Afecções do Sistema Nervoso.......................................................... 43
4.4.1 Caso Clínico I: Síndrome do Mau Ajustamento Neonatal................. 48
4.5 Afecções do Sistema Urinário........................................................... 54
4.5.1 Caso Clínico I: Uroperitônio............................................................... 58
5. CONCLUSÃO......................................................................................... 66
6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA........................................................... 67
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
TABELA 1 – CASOS CLÍNICOS ACOMPANHADOS NA EQUIVET NO PERÍODO
DE: 04/09 À 04/11/2006..................................................................... 3
TABELA 2 – CASOS DA CLÍNICA MÉDICA ACOMPANHADOS NA EQUIVET NO
PERÍODO DE: 04/09 À 04/11/2006....................................................3
TABELA 3 – AFECÇÕES DA PELE E ANEXOS ACOMPANHADOS NA EQUIVET
NO PERÍODO DE: 04/09 À 04/11/2006..............................................4
TABELA 4 – AFECÇÕES DO SISTEMA DIGESTÓRIO ACOMPANHADOS NA
EQUIVET NO PERÍODO DE 04/09 À 04/11/2006............................ 4
.
TABELA 5 – AFECÇÕES DO SISTEMA LOCOMOTOR ACOMPANHADOS NA
EQÜIVET NO PERÍODO DE 04/09 À 04/11/2006............................ 5
TABELA 6 – AFECÇÕES OCULARES ACOMPANHADOS NA EQÜIVET NO
PERÍODO DE 04/09À 04/11/2006.................................................. 5
TABELA 7 – AFECÇÕES DO SISTEMA REPRODUTIVO ACOMPANHADOS NA
EQUIVET NO PERÍODO DE 04/09 À 04/11/2006............................ 6
TABELA 8 – AFECÇÕES DO SISTEMA NERVOSO ACOMPANHADOS NA
EQUIVET NO PERÍODO DE 04/09 À 04/11/2006.......................... 6
TABELA 9 – AFECÇÕES DO SISTEMA RESPIRATÓRIO ACOMPANHADOS NA
EQUIVET NO PERÍODO DE 04/09 À 04/11/2006............................. 6
TABELA 10 – AFECÇÕES DO SISTEMA URINÁRIO ACOMPANHADOS NA
EQUIVET NO PERÍODO DE 04/09 À 04/11/2006........................ 7
TABELA 11 – OUTRAS ATIVIDADES ACOMPANHADAS NA EQUIVET NO
PERÍODO DE 04/09 À 04/11/2006............................................... 7
TABELA
12
–
PROCEDIMENTOS CIRURGICOS ACOMPANHADOS NA
EQUIVET NO PERÍODO DE 04/09 À 04/11/2006..................... 8
TABELA 13 – RELAÇÃO DE NECRÓPSIAS REALIZADAS PELA EQUIVET NO
PERÍODO DE 04/09 À 04/11/2006................................................. 8
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – Animal acometido por Habronemose Cutânea................................. 13
FIGURA 2 – Membro anterior direito acometido................................................... 14
FIGURA 3 – Casqueamento e Ferrageamento especial........................................16
FIGURA 4 – Evolução clínica após casqueamento e ferrageamento....................17
FIGURA 5 – Evolução clínica após os curativos diários........................................ 17
FIGURA 6 – Animal sendo preparado para laparotomia exploratória................... 30
FIGURA 7 – Exteriorização das alças intestinais.................................................. 31
FIGURA 8 – Enterólito retirado............................................................................. 31
FIGURA 9 – Pré-operatório................................................................................... 34
FIGURA 10 – Retirada do conteúdo impactado................................................... 35
FIGURA 11 – Estrutura da impactação intestinal................................................. 35
FIGURA 12 – Corpo estranho retirado da alça intestinal...................................... 36
FIGURA 13 – Animal acometido........................................................................... 50
FIGURA 14 – Animal em decúbito esternal.......................................................... 51
FIGURA 15 – Evolução clínica: reflexo de sucção............................................... 52
FIGURA 16 – Evolução clínica............................................................................. 53
FIGURA 17 – Pré-operatório................................................................................ 61
FIGURA 18 – Líquido na cavidade peritonial....................................................... 62
FIGURA 19 – Bolsas isoladas de urina na cavidade abdominal.......................... 62
FIGURA 20 – Comprometimento de alças intestinais.......................................... 63
FIGURA 21 – Ponto de ruptura da bexiga urinária.............................................. 66
FIGURA 22 – Ruptura da bexiga urinária............................................................ 67
1. INTRODUÇÃO
O presente relatório tem como objetivo descrever as atividades
desenvolvidas durante o período de Estágio Curricular Supervisionado, na área
de Clínica Médica e Cirúrgica de Eqüinos. O estágio foi realizado na EQUIVET
- Assistência Veterinária que possui uma equipe de dois Médicos Veterinários
(Henriette Graf e Marcos Aurélio Laidane Filho) disponibilizando atendimento
em haras, fazendas de criação e centros de treinamento.
Os atendimentos clínicos são realizados em Curitiba e região
Metropolitana. As cirurgias são realizadas no Centro Avançado de Reabilitação
Eqüina (CARE), localizado no Jockey Club do Paraná, sendo responsáveis por
este, os Veterinários: José Ronaldo Garotti e Ricardo de Bem e Freitas.
O estágio foi realizado no período de 04 de setembro a 04 de novembro
de 2006, totalizando 380 horas de estágio. As atividades realizadas eram
acompanhadas pelo médico veterinário responsável, incluindo assistência em
casos clínicos e cirúrgicos, acompanhamento em pós-operatório, terapias
diárias e terapias intensivas.
O estágio foi realizado sob a orientação do Professor Antonio Carlos do
Nascimento e supervisionado pela Médica Veterinária Henriette Graf
responsável pela EQUIVET.
2
2. DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO
A EQUIVET - Assistência Veterinária é uma entidade particular,
integrada por médicos veterinários autônomos, constituindo uma equipe
especializada em medicina eqüina; prestando atendimento na Clínica Médica,
Clínica
Cirúrgica,
Radiologia,
Ultra-sonografia,
Endoscopia,
Orientação
Zootécnica e Medicina Esportiva principalmente nas raças; Quarto de Milha,
Crioulo, Paint horse, Apaloosa,e Mangalarga Marchador.
A equipe de Médicos Veterinários é composta pelos seguintes
profissionais:
- M.V. Msc Henriette Graf - Clínica Médica e Cirúrgica, Medicina
Esportiva e Reprodução;
- M.V. Marcos A. Laidane Filho - Clinica de Emergência e Radiologia;
- Sidnei Barbosa e Heitor – Serviços Gerais
- Monika – Secretária
- M.V. Ângela – Clínica Médica de Pequenos Animais
A clínica está localizada na Avenida Victor do Amaral n° 2290, Bairro do
Tarumã, na cidade de Curitiba, Paraná, nas dependências do Jockey Club de
Curitiba (Hipódromo do Tarumã), especificamente no grupo 28 da vila hípica. A
clínica possui uma estrutura abrangendo: um escritório, sala de estudos, uma
cozinha, um lavador para cavalos, ambulatório para procedimentos diversos,
farmácia, dez cocheiras para internamento de animais, sendo destas três baias
para animais em pós-operatórios.
3
As cirurgias são realizadas junto ao Hospital Veterinário do Jockey
Clube do Paraná sobre responsabilidade dos Médicos Veterinários: José
Ronaldo Garotti e Ricardo de Bem e Freitas.
Os cuidados pós-operatórios são realizados nas dependências da
EQUIVET e o animal é monitorado 24 horas por dias, assim como tem à
disposição os serviços prestados pela clínica.
3. ATIVIDADES REALIZADAS
TABELA 1 – CASOS CLÍNICOS ACOMPANHADOS NA EQUIVET NO
PERÍODO DE: 04/09 À 04/11/2006.
ESPECIALIDADE
Nº DE CASOS
Clínica Médica
350
Clínica Cirúrgica
09
Análises Clínicas
45
Ultrassonografia
82
Análises Radiográficas
45
Patologia
09
TOTAL
540
FONTE: Levantamento de dados Equivet.
TABELA 2 – CASOS DA CLÍNICA MÉDICA ACOMPANHADOS NA EQUIVET
NO PERÍODO DE: 04/09 À 04/11/2006.
CASOS
Nº DE CASOS
Afecções do Aparelho Digestório
65
Afecções do Aparelho Locomotor
48
Afecções de Pele e Anexos
10
Afecções do Aparelho Reprodutivo
06
4
Afecções do Sistema Nervoso
05
Afecções Oculares
03
Outros
175
TOTAL
312
FONTE: Levantamento de dados Equivet.
TABELA 3 – AFECÇÕES DA PELE E ANEXOS ACOMPANHADOS NA
EQUIVET NO PERÍODO DE 04/09 À 04/11/2006.
Nº DE CASOS
CASOS
Abscessos
02
Fotossensibilização
02
Piodermite
01
Habronemose
03
Papilomatose
02
TOTAL
10
FONTE: Levantamento de dados Equivet.
TABELA 4 – AFECÇÕES DO APARELHO DIGESTÓRIO ACOMPANHADOS
NA EQUIVET NO PERÍODO DE 04/09 À 04/11/2006.
CASOS
Nº DE CASOS
Sobrecarga Alimentar
15
Obstrução Esofágica
04
Colite
03
Ruptura de Estômago
01
Gastrite
05
Enterite
03
Torção Intestinal
03
Diarréia
01
TOTAL
35
FONTE: Levantamento de dados Equivet.
5
TABELA 5 – AFECÇÕES DO APARELHO LOCOMOTOR ACOMPANHADOS
NA EQUIVET NO PERÍODO DE 04/09 À 04/11/2006.
CASOS
Nº DE CASOS
Lesões de Casco
05
Deformidade Angular dos Membros
02
Claudicações Gerais
12
Fraturas Diversas
08
Contraturas
01
Laminite
02
Miopatia por Esforço
03
Miosite
03
Artrite Séptica
01
Lesões Ligamentares
09
Tendinite
05
HYPP
02
Espasmos Musculares
02
Arpejamento (Strinkhalter)
01
TOTAL
56
FONTE: Levantamento de dados Equivet.
TABELA 6 – AFECÇÕES OCULARES ACOMPANHADAS NA EQUIVET NO
PERÍODO DE 04/09 À 04/11/2006.
CASOS
Nº DE CASOS
Conjuntivite
01
Lesão de Córnea
01
Lesão de Conjuntiva
01
TOTAL
03
FONTE: Levantamento de dados Equivet.
6
TABELA 7 – AFECÇÕES DO APARELHO REPRODUTIVO ACOMPANHADOS
NA EQUIVET NO PERÍODO DE 04/09 À 04/11/2006.
CASOS
Nº DE CASOS
Parto Distócico
01
Aborto
02
Endometrite
02
Pneumovagina
05
TOTAL
10
FONTE: Levantamento de dados Equivet.
TABELA 8 – AFECÇÕES DO SISTEMA NERVOSO ACOMPANHADOS NA
EQUIVET NO PERÍODO DE 04/09 À 04/11/2006.
CASOS
Nº DE CASOS
Mieloencefalite Protozoária Eqüina
02
Síndrome do Mau Ajustamento Neonatal
01
Encefalomielite
01
Incoordenação Motora
02
Traumatismo Craniano
01
TOTAL
07
FONTE: Levantamento de dados Equivet.
TABELA 9 – AFECÇÕES DO SISTEMA RESPIRATÓRIO ACOMPANHADOS
NA EQUIVET NO PERÍODO DE 04/09 À 04/11/2006.
CASOS
Nº DE CASOS
Adenite
03
Hemiplegia de Laringe
01
Inflamação de Bolsa Gutural
01
Hemorragia Pulmonar por Esforço
04
Pleuropneumonia
01
Bronquite Alérgica
01
7
Pneumonia por Aspiração
01
TOTAL
12
FONTE: Levantamento de dados Equivet.
TABELA 10 – AFECÇÕES DO SISTEMA URINÁRIO ACOMPANHADOS NA
EQUIVET NO PERÍODO DE 04/09 À 04/11/2006.
CASOS
Nº DE CASOS
Insuficiência Renal Crônica
01
Ruptura de Bexiga
02
Úroperitônio
01
TOTAL
04
FONTE: Levantamento de dados Equivet.
TABELA 11 – OUTRAS ATIVIDADES ACOMPANHADAS NA EQUIVET NO
PERÍODO DE 04/09 À 04/11/2006.
CASOS
Nº DE CASOS
Exames Clínicos Gerais
25
Desverminação e Vacinação
66
Eutanásia
04
Manipulação Odontológica
03
Coletas de Sêmen
10
Anemia Hemolítica Autoimune
01
Suturas Diversas
12
Assistência Reprodutiva
39
Radiologia
30
Ultrassonografia Reprodutiva/ Fisiológica
54
Neonatologia
03
Infiltrações Articulares
15
Fisioterapia
02
Eutanásia
06
TOTAL
FONTE: Levantamento de dados Equivet.
272
8
TABELA 12 – PROCEDIMENTOS CIRURGICOS ACOMPANHADOS NA
EQUIVET NO PERÍODO DE 04/09 À 04/11/2006.
CIRURGIA
Nº DE CASOS
Laparotomia Exploratória
10
Orquiectomia Bilateral
17
Vulvoplastia
03
Grampeamento de Periósteo
01
Desmotomia
02
Neurectomia
03
TOTAL
36
FONTE: Levantamento de dados Equivet.
TABELA 13 – RELAÇÃO NECRÓPSIAS REALIZADAS PELA EQUIVET NO
PERÍODO DE 04/09 À 04/11/2006.
“CAUSA MORTIS”
Nº DE CASOS
Enterite
02
Colite
02
Súbita (ruptura de estômago)
01
Torção de intestino delgado
03
Enterólito
01
TOTAL
09
FONTE: Levantamento de dados Equivet.
9
4. DESCRIÇÃO DE CASOS CLÍNICOS
4.1 Afecções da Pele e Anexos
Habronemose Cutânea (Ferida de Verão)
A
habronemose
cutânea
(ferida
de
verão)
é
uma
dermatite
granulomatosa restrita ao cavalo. A moléstia resulta da migração intradérmica
aberrante das larvas dos nematóides adultos Habronema muscae, Draschia
megastoma e Habronema micróstoma (STANNARD 1984).
O
ciclo
biológico
é
indireto,
portanto
utilizando
hospedeiros
intermediários, representados principalmente por dípteros das espécies Musca
doméstica, Stomoxys calcitrans, Muscina stabulans e Haematobia irritans. Os
ovos contendo L1 são eliminados com as fezes dos eqüinos parasitados. Após
a eclosão, a L1 é ingerida por larvas dos dípteros. Nestes desenvolvem-se a
larva infectante (L3), sendo que a maturação da mesma coincide com a
emergência da mosca. As moscas fazem a deposição das larvas ao redor da
boca, narinas, conjuntivas e lesões cutâneas atraídas pelo calor e umidade
dessas regiões do corpo do animal. As larvas somente atingem o estágio
adulto no estômago, quando a infecção for por via oral. As larvas que penetram
na pele causam uma reação inflamatória seguida de vascularização intensa do
local com formação de nódulos onde não evoluem e permanecem em L3
(CORREA et. al 2001).
O estágio adulto de habronema normalmente residem no estômago,
onde causam pouca reação tecidual, com a exceção de Draschia megastoma,
que produz nódulos gástricos de dimensões variáveis, junto à “margo plicatus”.
As fêmeas são vivíparas, e as larvas são eliminadas junto com as fezes, onde
10
então são ingeridas pelas larvas de moscas que atuam como hospedeiros
intermediários. Habronema muscae e Draschia megastoma desenvolvem-se na
mosca doméstica, Musca doméstica; e Habronema miscrostoma desenvolve-se
na mosca dos estábulos, Stomoxys calcitrans. Em seguida, as larvas de
terceiro estágio são depositadas em torno da boca do cavalo e são deglutidas,
indo até o estômago, onde maturam até a fase adulta. As lesões cutâneas
ocorrem quando as larvas são depositadas na pele ou em áreas de umidade no
corpo. As larvas podem penetrar na pele sadia normal. Nestas localizações
aberrantes, as larvas são incapazes de maturar até a fase adulta, e acredita-se
que as lesões proliferativas resultantes representem um tipo de reação
hipersensível aos antígenos liberados pelas larvas mortas ou morimbundas.
(FADOCK e STANNARD 1984).
A habronemose cutânea é um distúrbio estacional correspondente à
ocorrência da mosca que atua como vetor. Há uma tendência para recidiva das
lesões nos anos subseqüentes. As lesões associadas à habronemose são
comumente encontradas nas partes inferiores dos membros (localização
comum para ferimentos), no canto medial do olho (possivelmente relacionado à
maceração decorrente do corrimento ocular), e no processo uretral. Estas
lesões consistem de massas ulcerativas, nodulares e tumorais com múltiplos
focos necrosados amarelos e contendo larvas mortas mineralizadas. O
diagnóstico se baseia na história e achados clínicos, e biópsias de leões
apresentadas à histopatologia. Os achados histopatológicos característicos são
o tecido de granulação com infiltração difusa de eosinófilos e superfície epitelial
ulcerativa. O tecido de granulação comumente contém áreas focais de necrose
de coagulação, circundadas por denso infiltrado eosinofílico. Secções
11
transversais das larvas frequentemente podem ser identificadas dentro de
alguns focos necrosados. Raramente são detectadas larvas em raspados das
lesões. A habronemose cutânea deverá ser considerada no diagnóstico
diferencial de todas as lesões ulcerativas não-cicatrizantes, particularmente as
que envolvem as junções mucocutâneas. O carcinoma epidermóide, sarcóides,
tecido de granulação exuberante, botriomicose (granuloma bacterianao) e
infecções por fungos são os principais diagnósticos diferenciais. Qualquer
lesão ulcerativa poderá ser complicada por habronemose secundária, e a
causa primária poderá passar despercebida, se biópsias para histopatologia
não contiverem tecido adequado. (EVANS 1994).
O tratamento da habronemose cutânea visa a quatro objetivos: redução
das dimensões das lesões, redução da inflamação associada às lesões,
eliminação do Habronema adulto do estômago e redução da população de
vetores. Quando possível, as lesões são reduzidas por debridamento cirúrgico.
Se tais lesões estão localizadas em áreas inacessíveis à cirurgia, a criocirurgia
poderá ser uma alternativa viável. (McMULLA 1983).
Foram propostos diversos tratamentos para redução da inflamação.
Quando estão presentes múltiplas lesões, deveremos administrar prednisona
ou prednisolona na base de 01 mg/kg durante 10-14 dias, seguida de 0,5 mg/
kg por mais 10-14 dias. Se ocorrerem apenas uma ou duas lesões isoladas,
poderemos injetar triancinolona intralesional na base de 5-15 mg/ lesão, não
excedendo a dose total de 20 mg. Este procedimento poderá ser repetido em
intervalos de 10 -14 dias, se houver necessidade. Para as lesões que envolvem
a conjuntiva, serão benéficas freqüentes aplicações tópicas de preparações
12
corticóide oftálmica. As preparações tópicas de DMSO-corticóide podem ser
benéficas também para outras regiões. (STANNARD 1984).
A terapia inseticida sistêmica é importante para eliminação do
Habronema adulto do estômago, o que reduzirá o potencial de reinfecção;
ivermectim a 0,2 mg/kg é eficaz. Diclorvós e dissulfeto de carbono também são
de conhecida eficácia contra Habronema, e todos os cavalos presentes nas
instalações deverão ser tratados. A pré-dosagem de 30 minutos com 8 quartos
de NaHCO3 a 2% aumentará a eficácia anti-helmíntica, ao auxiliar na
dissolução dos tampões mucoso dos nódulos de Draschia megastoma.
(McMULLA 1983).
Para evitar a reinfecção das lesões, é importante fazer curativos e dar
proteção às feridas existentes, bem como o controle das populações de
vetores. A pronta remoção e o destino adequado dos dejetos e camas sujas
são medidas vitais para a eliminação dos habitats de reprodução dos vetores.
Em geral, o prognóstico para a resolução das lesões individuais é bom, se
forem atingidos os ideais terapêuticos. Os proprietários deverão estar cientes
da possibilidade de recidivas, caso não sejam praticados de modo efetivo os
cuidados com as feridas e o controle das moscas. (EVANS 1994).
4.1.1 Caso Clínico I: Habronemose Cutânea
Espécie: Asinina
Idade: 28 anos
Raça: Catalão
Sexo: Macho
13
Função: Reprodução
Histórico:
Animal a pasto, lesão traumática com arame, foi realizado tratamento
após a ocorrência da lesão, porém, não foi realizada seqüência correta do
tratamento indicado para esse tipo de lesão.
FIGURA 1: Animal acometido por Habronemose Cutânea
FONTE: arquivos EQUIVET
Ananmese:
Lesão traumática à aproximadamente 10 meses, não sendo realizada
sutura, o curativo local foi feito juntamente com antibioticoterapia não relatada
durante os três primeiros dias da lesão.
14
Exame Físico:
O animal apresenta-se debilitado, com relutância ao se movimentar,
score corporal baixo, desidratação e com grau elevado de claudicação.
Exame Clínico:
Claudicação intermitente no membro anterior direito, dor acentuada no
local da lesão, processo inflamatório instalado, com secreção purulenta,
aumento de volume significante com tecido de granulação, sangramento
constante e presença de miíase cutânea.
FIGURA 2: Membro anterior direito acometido
FONTE: Arquivos EQUIVET
15
Exames Complementares
Exame radiográfico do membro anterior direito não apresentou alteração
óssea sob a área com aumento de volume pelo tecido de granulação.
Tratamento
Limpeza diária da lesão com solução iodopovidona degermante
(Riodeine®), iodopovidona tópico (Riodeine®) e aplicação tópica de solução
repelente (Bactrovet@) e cicatrizante fitoterápico (pau de andrade – Persea
major pyrifolia).
Evolução Clínica
Após a instituição do tratamento o animal continuou apresentando
claudicação e na impossibilidade de ser realizado curativo diário o animal foi
encaminhado para EQUIVET para ser realizado exames complementares.
Exames Complementares II
- Exame Histológico: coletado um pequeno fragmento da borda da lesão.
- Radiografia simples da região da terceira falange
Diagnóstico
O exame histopatológico revelou tecido de granulação com infiltração
difusa de eosinófilos e superfície epitelial ulcerativa. Tecido de granulação
contendo áreas focais de necrose de coagulação, circundada por denso
infiltrado eosinofílico característico de habronemose cutânea.
16
O exame radiográfico indicou rotação da terceira falange, osteíte e
osteomielite importante instalada.
Tratamento II
Para habronemose cutânea não foi instituído tratamento específico,
sendo somente realizado curativo local duas vezes ao dia com curetagem e
limpeza adequada da lesão com o uso de solução iodopovidona degermante
(Riodeine®),
iodopovidona
tópico
(Riodeine®)
e
solução
cicatrizante
fitoterápica (pau de andrade - Persea major pyrifolia).
A laminite foi controlada com casqueamentos e ferrageamentos
corretivos com o uso de ferradura especial e administração tópica de iodo
fórmico para o fortalecimento do casco.
FIGURA 3: Casqueamento e ferrageamento especial.
FONTE: Arquivos EQUIVET
17
Evolução Clínica
Após dois meses da instituição do tratamento a lesão teve redução
significante do aumento de volume e após o casqueamento e ferrageamento
consecutivo o grau de claudicação foi reduzido e o animal retornou à função
reprodutiva.
FIGURA 4: Evolução Clínica após casqueamento e ferrageamento
FONTE: Arquivos EQUIVET
FIGURA 5: Evolução Clínica após os curativos diários
FONTE: Arquivos EQUIVET
18
Discussão:
Diversas terapias inseticidas tópicas e sistêmicas são recomendadas
para lesões cutâneas, mas seus benefícios para lesões já instaladas são
motivos de controvérsia, com base na crença de que a patogênese da
habronemose cutânea esteja relacionada à morte larval, que ocorre logo após
seu ingresso na pele (CORREA et. al, 2001).
Conclusão
Perante a impossibilidade fisiológica do animal se submeter a um
procedimento cirúrgico para remoção da área lesionada, e o desinteresse do
proprietário em seguir um protocolo adequado indicado na bibliografia o animal
obteve resultado significativo somente com procedimentos básicos de cuidados
diários.
4.1.2 Caso Clínico II: Habronemose Cutânea
Espécie: Eqüina
Raça: Mangalarga Marchador
Sexo: macho
Idade: 14 anos
Função: reprodução
Histórico:
O animal apresentou aumento de volume na região prepucial, presença
de prurido e lesões cutânea, apresentando irritação do local com freqüentes
tentativas de alcançar o local lesionado.
19
Anamnese:
O animal apresenta sinais clínicos de dor ao promover a monta natural,
permanece maior parte do tempo inquieto quando solto no pasto e ao ser
colocado na baia tenta lamber a região prepucial.
Exame físico:
Realizado enquanto era coletado sêmen do animal que apresentou
dificuldade em ejacular, desconforto e após a coleta do sêmen observou
presença de secreção serosanguinolenta.
Exame Clínico:
Durante a palpação da região prepucial observou aumento de volume e
sensação dolorosa, presença de larvas (miíase) e conteúdo fétido com
presença de sangue.
Conduta Clínica:
Com o animal tranqüilizado foi realizada curetagem do prepúcio, não
evidenciando alterações penianas, realizada limpeza e desinfecção da área
lesionada.
Tratamento:
Limpeza duas vezes ao dia da lesão com solução iodopovidona
degermante (Riodeine®), iodopovidona tópico (Riodeine®) e solução repelente
(Bactrovet®). Administração de antibiótico Gentamicina (Gentatec® - 4mg/kg
20
bid; intravenoso, durante sete dias) e Ceftiofur (Topceff® - 2mg/kg, endovenoso
uma vez ao dia durante 7 dias).
Evolução Clínica:
Após a instituição do tratamento houve redução do conteúdo
serosanguinolento, redução do aumento de volume, o animal se auto-mutilava
permanecendo a área da lesão sempre irritada.
Exames Complementares:
Realizado exame hispatológico após a coleta de segmento da lesão, o
resultado indicou a presença de infiltração difusa de eosinófilos e superfície
epitelial ulcerativa característica de habronemose.
Conduta Clínica:
Após o resultado do exame histopatológico e não havendo evolução
clínica favorável optou por realizar criocauterização da área lesionada e
colocação de colar protetor no animal para evitar a auto-mutilação retirando
esse somente quando o animal ia realizar a monta para coleta de sêmen.
Evolução Clínica:
Após a realização da criocauterização e a proteção contra a automutilação do animal houve redução significativa do aumento de volume,
ausência de secreção e perda da sensação dolorosa que o animal
apresentava.
21
Discussão:
Quando possível, as lesões são reduzidas por debridamento cirúrgico.
Se tais lesões estão localizadas em áreas inacessíveis à cirurgia, a criocirurgia
poderá ser uma alternativa viável (MCMULLA 1983).
Em geral o prognóstico para redução das lesões individuais é bom, se
forem atingidos os ideais terapêuticos. Os proprietários deverão estar cientes
das possibilidades de recidivas, caso não sejam praticados de modo efetivo os
cuidados com as feridas e o controle de moscas (SMITH 1994)
Conclusão:
Não foi possível realizar um procedimento cirúrgico adequado para
remoção da área lesionada, porém, com a criocauterização os resultados foram
satisfatórios e os cuidados necessários que terão que ser mantidos nesse
animal, principalmente, nas estações mais quentes que favorecem o
aparecimento de recidivas devem ser redobrados bem como o uso contínuo do
colar protetor para impedir o animal de exercer o hábito adquirido da automutilação.
4.2 Afecções do Aparelho Digestório
Síndrome do Abdômen Agudo
Cólica é definida como a manifestação de dor abdominal visceral. Pode
ser aguda, crônica ou recorrente. Há três causas básicas: distenção do
intestino por gases, líquido ou material ingerido, tracionamento de raiz de
22
mesentério, isquemias ou infartos. O cavalo exibe cólica frequentemente visto
que este animal tem baixo limiar de dor, sendo frequentemente atacado por
distúrbios digestivos menores que resultam em distenção abdominal. São
sintomas de cólica no cavalo: animal intranqüilo, deitar e levantar, rolar,
sudorese, olhar para o flanco, escoicear o abdômen, subitamente cair ao chão
por dor. Anorexia e depressão frequentemente acompanham esses sintomas.
Os cavalos também apresentam aumento da freqüência cardíaca, com pulso
fraco e prolongado tempo de preenchimento capilar, extremidades frias e
membranas mucosas de coloração vermelho vivo (fase vasodilatadora),
seguida de mucosas escuras (fase vasoconstritora), se o problema for grave e
afeta a integridade cardiovascular. A evidência de choque esta geralmente
presente apenas quando o problema é grave e envolve uma moléstia infartante
(volvulo, torção ou tromboembolismo), ou distenção visceral avançada
(flatulência extrema, compactação ou dilatação). Esses sintomas são
manifestações de dor visceral mediada pelo sistema nervoso simpático. A
palpação externa e a pressão sobre o abdômen não promove geralmente dor a
menos que a víscera afetada (inflamada ou dilatada) seja atingida. A dor
parietal associada à peritonite em geral produz reação à palpação externa.
Enquanto que o animal com dor visceral exibe sintomas ativos de cólica, o
animal com dor parietal mostra-se geralmente relutante em se mover e
apresenta rigidez abdominal. A peritonite aguda ocorre dentro de minutos após
a ruptura do estômago ou perfuração de úlceras decorrentes da irritação
imediata de superfícies serosas pelo conteúdo ácido, enquanto que a ruptura
de cólon ou reto talvez transcorram 12 horas ou mais antes que a peritonite
seja clinicamente aparente (SMITH, 1994).
23
A técnica cirúrgica de laparotomia exploratória é o procedimento mais
indicado nos casos que envolvem o aparelho digestório quando não há
resposta imediata ao tratamento clínico. A técnica cirúrgica indica a incisão
acima da cicatriz umbilical estendendo-se cranialmente seu comprimento
dependendo do procedimento, tem geralmente 30-40 centímetros. A incisão de
pele prolonga-se através de uma camada de tecido subcutâneo, que é delgada
na maioria dos animais. A hemorragia é controlada e a linha alba é incisada.
Uma leve divergência partindo da linha mediana resultará na penetração do
músculo reto do abdômen, particularmente na porção cranial da incisão, mas
este evento normalmente não traz conseqüências. A incisão na linha Alba
revela o tecido adiposo retroperitoneal profundamente. O perritônio é reparado
e aberto com tesouras de Metzenbaum, e a incisão tanto poderá se estender
com as tesouras como poderá ser ampliada pela mão. Qualquer alça intestinal
exteriorizada deverá ser mantida úmida enquanto se faz a exploração
sistemática do abdômen. Seguindo a abertura do abdômen, o problema poderá
ser rapidamente identificado ou imediatamente encontrado num exame ligeiro.
Em muitas instâncias um exame sistemático deverá ser efetivado antes do
fechamento do abdômen. Se o ceco estiver deslocado deve ser identificado
logo após a penetração da cavidade peritoneal. O ceco é um ponto de
referência para a exploração sistemática tanto do intestino grosso como do
intestino delgado (AUER 2006).
A incisão da linha mediana é fechada em três camadas: a linha alba é
fechada com suturas interrompidas simples posicionada 01 cm uma da outra. A
seleção de material de sutura depende da preferência pessoal, mas o categute
e materiais absorvíveis sintéticos ou materiais inabsorvíveis sintéticos podem
24
ser empregados. O tecido subcutâneo é fechado com uma camada contínua
simples de material absorvível sintético. O principal objetivo dessa camada é
cobrir a extremidade das largas suturas interrompidas sobre a linha alba de
forma que não protraiam da incisão da pele. O objetivo do cirurgião ao realizar
qualquer intervenção é que esta seja segura e eficiente. O procedimento deve
ser o mais rápido possível, com o menor trauma tecidual, restaurando a função,
e
conseqüentemente
diminuindo
ao
máximo
as
possibilidades
de
intercorrências no pós-operatório. A moderna cirurgia atinge estes objetivos de
forma bastante satisfatória, porém, as complicações relacionadas às suturas
ainda ocorrem com alguma freqüência (AUER 2006).
4.2.1 Caso Clínico I: Sobrecarga Alimentar
Espécie: Eqüina
Raça: Hanoveriano
Idade: 03 anos
Sexo: Macho
Função: Esporte
Histório:
O animal apresentou sinais clínicos de desconforto abdominal e
inquietação após a alimentação matinal, administrado analgésico sistêmico. No
decorrer do dia o animal apresentou anorexia e depressão.
25
Anamnese:
Relatado o fornecimento de cenoura em excesso durante e após a
alimentação, não ingestão de água, indisposição e desidratação acentuada.
Exame Físico:
O animal permanecia a maior parte do tempo em decúbito lateral, rolava,
olhava o flanco, apresentava distenção abdominal esquerda e direita.
Exame Clínico:
No estado clínico que o animal se encontrava não foi possível a
realização de um exame clínico adequado.
Tratamento Emergencial:
Passagem de sonda nasogástrica para promover esvaziamento gástrico,
no qual foi retirada grande quantidade de conteúdo já em processo de
fermentação.
Realizada administração endovenosa de Dobutamina (Dornot® 5 mg/kg
endovenoso)
para
promover
analgesia
e
realização
dos
primeiros
procedimentos.
Tratamento Clínico
Após a retirada do conteúdo gástrico o animal continuou apresentando
sinais clínicos de dor severa, realizada administração de leite magnésia,
26
ruminol e sedacol por sonda nasogástrica e administração endovenosa de
Dornot e Xilazina.
Após a instituição do tratamento emergencial e tratamento clínico foi
possível a realização de um exame clínico completo onde observou atonia dos
quatro quadrantes na auscultação abdominal, tempo de preenchimento capilar
(TPC): 4 segundos, freqüência cardíaca: 98 batimentos/ minuto. O animal
permaneceu em decúbito lateral alternando para dorsal.
Exames Complementares:
Paracentese: Coleta de líquido peritoneal para análise de sua coloração
indicando se houve comprometimento das alças intestinal.
Diagnóstico:
Sobrecarga
alimentar
com
discreto
comprometimento
de
alças
intestinais após a realização da paracentese.
Conduta Clínica:
Na impossibilidade de realizar outros exames complementares no local e
não tendo resposta clínica com a instituição do tratamento o animal foi
encaminhado ao Hospital Veterinário do Jockey Clube do Paraná para
realização de novos exames complementares, instituição de novos tratamentos
e suposta intervenção cirúrgica.
27
Tratamento Clínico:
Realizada fluidoterapia 12 litros de Ringer Lactato endovenoso e ao
apresentar refluxo gástrico pela sonda, realizada a administração de
antibioticoterapia e analgésico antiinflamatório. Após a estabilização dos sinais
clínicos o animal foi encaminhado à EQUIVET onde permaneceu em
observação durante 48 horas.
Evolução Clínica:
Durante as 48 horas que o animal permaneceu em observação foi
administrada solução fisiológica, juntamente com antibioticoterapia. E na
observação o animal urinou normalmente e defecou conteúdo anormal
ressecado e de consistência significante. Após esses episódios foi descartada
a condição do procedimento cirúrgico. O animal não apresentou nenhum
sintoma clínico característico de dor abdominal.
Discussão:
Segundo SMITH (1994) a cólica sendo um problema comum em
cavalos, graus leves e moderados de dor abdominal são freqüentemente
tratados de início sintomaticamente com analgésicos e/ ou laxantes, antes que
esforços diagnósticos mais importantes sejam levados a cabo. Na maior parte
das vezes, a cólica de gravidade leve e moderada responde favoravelmente ao
tratamento sintomático. Em geral a dor grave e /ou dor que não responde a
analgésicos indica um problema mais sério para o qual pode ser indicada a
correção cirúrgica.
28
Conclusão:
A abordagem clínica correta da síndrome do abdômen agudo é
fundamental para a evolução e controle clínico embora tenha relatos das mais
diversas terapias e procedimentos que podem ser realizados uma sondagem
adequada e uma interpretação correta dos sinais clínicos e físicos juntamente
com a instituição de tratamento emergencial nos permite uma margem de
segurança muito ampla na evolução clínica do paciente.
4.2.2 Caso Clínico II: Enterólito
Espécie: Eqüina
Raça: Puro Sangue Inglês
Idade: 06 anos
Sexo: Macho
Função: Esporte
Histórico:
Animal apático, com anorexia, emagrecimento progressivo, inquietação,
hábitos estranhos, alimentação inadequada e relutância ao se movimentar.
Anamnese:
Aproximadamente 03 dias antes de ser examinado o animal não se
alimentou, tem dificuldade para urinar ou defecar, tem episódios de dores
abdominais sem outra sintomatologia clínica aparente.
29
Exame Físico:
Alimentação dificultada, decúbito dorsal ou lateral a maior parte do
tempo em que permanece na baia, tenesmo ao caminhar e distenção
abdominal direita.
Exame Clínico:
Ausência de movimentos intestinais (atonia) do lado direito do flanco,
freqüência cardíaca aumentada, tempo de preenchimento capilar (TPC) 4
segundos e temperatura corporal normal.
Exames Complementares:
Palpação retal onde observou distenção de alças e aumento de volume
considerável com conteúdo consistente na região do cólon ventral.
Diagnóstico:
Presença de enterólito e impactação intestinal.
Tratamento Clínico:
Estabilização
eletrolítica
e
suporte
clínico
para
realização
de
procedimento cirúrgico: laparotomia exploratória.
Tratamento Cirúrgico:
Laparotomia exploratória com enterotomia do segmento intestinal para
remoção do conteúdo intestinal impactado e do enterólito.
30
FIGURA 6: Animal sendo preparado para a laparotomia exploratória
FONTE: Arquivos da EQUIVET
Após ser localizada a área lesionada na tentativa de exposição da
mesma, houve rompimento do segmento intestinal impactado devido às
alterações sistêmicas existentes provocadas pela falha no fluxo intestinal.
Realizado esvaziamento do conteúdo e enterectomia dos segmentos. Após a
localização do enterólito localizado foi realizada a sua retirada, na inviabilidade
de grande parte do segmento intestinal e com prognóstico ruim optou-se pela
eutanásia do animal.
31
FIGURA 7: Exteriorização das alças intestinais
FONTE: Arquivos da EQUIVET.
FIGURA 8: Enterólito retirado
FONTE: Arquivos da EQUIVET.
Discussão:
Segundo (MAIR et. al 2003): enterólitos ou cálculos intestinais são
concreções mineralizadas que se desenvolvem no cólon maior devido ao
32
depósito concreto de sais ao redor de um núcleo central por uma pequena
pedra de silício ou objeto metálico. Os enterólitos podem manter-se dentro do
intestino grosso por períodos prolongados sem causar sinais clínicos de
enfermidade e quando obstruem o lúmen do cólon maior ou menor provocam
sinais de dores abdominais. Os enterólitos são compostos em especial por
cristais de fosfato magnésio de amônia (estruvita). Devido à produção
constante de amoníaco pela flora microbiana do intestino grosso e a
abundância de fosfatos na alimentação dos cavalos a formação de enterólitos
depende da concentração de magnésio, mais que de amoníaco de fosfato no
alimento. As dietas de feno e alfafa contem uma concentração elevada de
magnésio. Um enterólito dentro do cólon menor causa obstrução completa e
sinais de dores abdominais mais intensos que a obstrução intermitente ou
parcial do cólon transverso ou dorsal. A palpação de um enterólito no cólon
menor só é possível quando está alojado no reto ou na porção distal do cólon
menor. Quando o enterólito está alojado na porção média ou distal do cólon
maior, as alças do cólon menor estarão repletas com gás.
Conclusão:
A remoção cirúrgica de qualquer segmento intestinal depende da sua
viabilidade, se a chance de reverter essa patologia é mínima e o sofrimento
bem como os cuidados pós-operatórios do animal devem ser criteriosamente
analisados.
33
4.2.3 Caso Clínico III: Obstrução Intestinal por Corpo Estranho
Espécie: Eqüina
Raça: Puro Sangue Inglês
Idade: 02 anos
Sexo: Macho
Histórico:
Animal foi encaminhado à EQUIVET com sinais clínicos de dor
abdominal intensa, sudorese excessiva e distenção abdominal aparente.
Anamnese:
Animal solto no pasto, com relato de episódios de cólicas freqüentes em
um curto intervalo de tempo, alimentação normal, mas, não houve observação
de defecação nas últimas 24 horas.
Exame Físico:
Distenção abdominal dos dois flancos, posição de micção, tenesmo,
apatia e prostração evidente.
Exame clínico:
Auscultação abdominal com atonia intestinal, aumento de motilidade
com acúmulo de gás na região do flanco direito, leve desidratação, aumento da
freqüência respiratória e no tempo de preenchimento capilar.
34
Exames Complementares:
Paracentese abdominal e palpação retal.
Diagnóstico:
A paracentese revelou comprometimento leve das alças intestinais e na
palpação retal observou distenção das mesmas por acúmulo de gás e massa
impactada.
Tratamento Cirúrgico:
Foi realizada laparotomia exploratória para promover esvaziamento do
conteúdo gasoso e remoção da área impactada devido à ingestão de corpo
estranho localizado no cólon menor através de enterotomia.
FIGURA 9: Pré-operatório
FONTE: Arquivos EQUIVET
35
FIGURA 10: Retirada do conteúdo impactado
FONTE: Arquivos EQUIVET.
FIGURA 11: Estrutura da impactação intestinal
FONTE: Arquivos EQUIVET.
36
FIGURA 12: Corpo estranho retirado da cavidade abdominal.
FONTE: Arquivos EQUIVET.
Tratamento Pós-Cirúrgico:
Após a remoção da massa impactada e retorno anestésico o animal foi
encaminhado à EQUIVET onde permaneceu em observação durante 15 dias.
O tratamento instituído: fluidoterapia (Ringer Lactato), administração
endovenosa de analgésicos Flunexin meglumine (Banamine® 0,2 mg/kg, bid) e
antibióticos Gentamicina (Gentatec 04mg/kg) durante 07 dias. Curativo diário
da linha de incisão. Restrição alimentar com relação ao fornecimento de ração.
Discussão:
Segundo (MAIR et. al 2003) os materiais estranhos comprometidos em
obstruções de cólon menor compreendem fibras de náilon de cabrestos, fardos
de feno, cordas enrredadas de material de goma, frascos plásticos
descartáveis e cordas dos sacos de alimentos. O material estranho é recoberto
37
com um precipitado mineral que incrementa seu volume. As massas
resultantes são irregulares e podem causar necroses do intestino obstruído. O
material estranho pode manter-se dentro do cólon maior durante muito tempo
antes de chegar ao cólon menor obstruindo-o. As obstruções de cólon menor
com material estranho só afetam cavalos de 03 anos de idade ou menos
porque, estes animais possuem hábitos alimentares menos discriminatórios.
Conclusão:
O cuidado com o manejo dos animais jovens se torna mais rígido uma
vez que qualquer objeto diferente é inspecionado e provado por esses animais
até mesmo como forma de passatempo. E o hábito de ficar instigando e roendo
os objetos pode se tornar irreversível.
4.3 Aparelho Locomotor
Paralisia Periódica por Hipercalemia (HYPP)
Nos últimos anos foi descrita uma moléstia que afeta os cavalos Quarto
de Milha puros ou cruzados. Estes animais sofrem episódios de debilidade
muscular similares aos descritos em seres humanos que sofrem de Paralisia
Periódica por Hipercalemia (PPH) ou Hyperkalemic Periodic Paralysis (HYPP).
A PPH é causada por uma deficiência genética hereditária que rompe uma
proteína chamada de “canal do íon sódio”, uma pequena passagem na
membrana das células musculares. A deficiência genética rompe o fechamento
e a abertura normal do canal, de modo que ocorram influxos incontroláveis de
sódio. Esses influxos alteram a voltagem corrente das células musculares
38
causando contrações musculares incontroláveis ou profunda fraqueza muscular
(SMITH 1994).
Na maioria dos casos clínicos tem início com breve período de miotonia,
e alguns cavalos exibem prolapso da terceira pálpebra no início dos sintomas.
Geralmente
ocorre
sudorese,
podendo
ser
observadas
fasciculações
musculares. Os animais afetados gravemente entram em decúbito, ocorrendo
flacidez muscular dentro de alguns minutos. Em animais menos gravemente
atingidos, a estimulação e as tentativas de movimentação podem exacerbar as
fasciculações musculares. A debilidade muscular durante episódios é
característica da PPH. A freqüência cardíaca e a respiratória podem estar
elevadas, e os cavalos podem exibir manifestações de tensão, embora
permaneçam relativamente vivazes e alertas durante os episódios. Comumente
os cavalos afetados respondem aos ruídos e aos estímulos dolorosos durante
as manifestações clínicas do distúrbio. Os episódios perduram por períodos
variáveis de tempo, geralmente de 15-60 minutos. Diversos cavalos morreram
durante os episódios agudos. (COX, 1985).
Em casos agudos, diversos tratamentos poderão ser benéficos, inclusive
a administração intravenosa de bicarbonato de sódio (1 a 2 mEq/kg), dextrose
(6 ml/kg de uma solução a 5%), líquidos isotônicos isentos de potássio e,
possivelmente, insulina. Efeitos benéficos da administração de gluconato de
cálcio (0,2 a 0,4 mg/kg de solução a 23%) têm sido relatados. (SPIER et. al,
1987).
A incidência de PPH clínica em cavalos pode também ser reduzida pela
remoção do feno rico em potássio da dieta e pelo exercício regular e/ou por
permitir freqüente acesso a grande recinto fechado ou piquete.
39
O momento que o PPH ocorre é imprevisível, o qual em muitos casos
pode levar ao colapso e morte súbita. O animal morre usualmente por parada
cardíaca e falência respiratória. A doença é caracterizada por episódios
intermitentes de tremores musculares manifestados por contrações e fraqueza
muscular localizada ou generalizada. Em casos de ataques moderados, os
tremores musculares podem ser tão discretos que só são detectados por um
clínico experiente realizando eletromiografia (STEISS; NAYLOR, 1986).
Sinais clínicos de HYPP variam significativamente entre diferentes
cavalos. Cavalos homozigotos são afetados mais severamente que cavalos
heterozigotos. Dentro das práticas ideais de manejo, o gene defeituoso não
parece ter efeitos adversos, mas o stress e/ou o aumento de potássio no soro
pode causar o aparecimento de sinais de disfunção muscular. A causa de
alguns cavalos manifestarem sinais severos da doença e outros exibirem
pouco ou nenhum sinal é desconhecida, mas existem estudos sendo
realizados. Um cavalo portando um gene defeituoso e manifestando poucos
sintomas, tem a mesma chance de passar o gene para as futuras gerações que
um cavalo afetado manifestando severos sintomas (DUARTE, 1993).
O defeito genético original causador da HYPP é uma mutação natural
que ocorre como parte do processo de evolução. A maioria das mutações
deste tipo, as quais estão ocorrendo constantemente, não são compatíveis com
a vida. Entretanto, a mutação genética que causa a HYPP produz um canal de
sódio funcional, embora alterado. Esse gene mutante não é produto de
cruzamentos
co-sanguíneos.
O
gene
mutante
que
causa
a
HYPP
40
inadvertidamente tornou-se comum quando criadores tentaram produzir
cavalos com musculatura pesada (GARCIA et al, 1996).
O HYPP é associado a cavalos com musculatura pesada, mas isto não
significa que cavalos com bom desenvolvimento muscular têm a doença. O
gene mutante que causa HYPP tem sido identificado em descendentes do
cavalo Quarto de Milha "Impressive", que apresentava sintomas da doença.
Ainda não tem sido realizadas pesquisas em outras linhas de sangue para
determinar se existem a mesma ou mutação similar também causando HYPP.
Desde que os descendentes do "Impressive" são tão numerosos, a mutação
genética em linhas sanguíneas é comum (GARCIA et al, 1996).
4.3.1 Caso Clínico I: Paralisia Periódica por Hipercalemia (HYPP).
Espécie: Eqüina
Idade: 4,5 anos
Raça: Quarto-de-Milha
Sexo: Fêmea
Histórico:
Animal mantido em cocheira, após alimentação com ração e alfafa
começou a apresentar sinais de tremores e fasciculações musculares.
41
Anamnese:
Animal nunca havia apresentado nenhum sinal de HYPP, mas
apresentava sinais da doença, e era descendente do cavalo Impressive.
Exame Físico:
Apresentava-se em decúbito lateral, com tremores e fasciculações
musculares e sudorese excessiva.
Exame Clínico:
Dificuldade respiratória, freqüência cardíaca próxima dos 65 batimentos
por minuto. Em alguns momentos durante a crise o animal apresentou
nistagmo e prolapso de terceira pálpebra.
Diagnóstico:
Os sinais clínicos apresentados pelo animal, à resposta rápida ao
tratamento realizado e o fato de possuir na sua genealogia o cavalo
Impressive, foram suficientes para fechar o diagnóstico.
Tratamento Emergencial:
Durante a crise, foi realizado tratamento emergencial, com uso de 3 litros
de dextrose 5% por via intravenosa, suplementando assim a glicose, a qual
estimula a liberação de insulina e promove a entrada de potássio nas células.
O uso de corticóides (Dexametasona®) para ajudar a estabilizar as membranas
celulares.
42
Evolução Clínica:
Após o tratamento, o animal levantou e não apresentou qualquer sinal
clínico da doença. O proprietário do animal foi instruído a mudar a alimentação
do animal, retirando a alfafa de sua dieta, dando preferência somente a pasto.
Discussão:
Não existe um tratamento para a doença, por se tratar de uma alteração
genética. O animal deverá ser manejado através de dietas, retirando alfafa da
alimentação, que possui grandes quantidades de potássio, exercícios
moderados e medicação, reduzindo assim o risco de mortalidade. O HYPP não
precisa ser uma doença limitante para o animal. Utilizando um manejo
adequado para o animal, realizando exercícios diários e mantendo estes
animais soltos em piquetes, há chances de crises diminuem bastante. Além
disso, dificilmente o animal morre decorrente da HYPP. Nos poucos casos que
isto ocorre, está relacionado à insuficiência cardíaca e respiratória. Para evitar
que a doença propague-se por varias gerações, pesquisadores indicam realizar
testes de DNA, podendo assim estipular cruzamentos (GARCIA, 1996).
Conclusão:
Animais acometidos pela doença podem trabalhar normalmente, porém
os proprietários destes animais deverão ter cuidados simples com relação à
alimentação e manejo destes animais.
43
4.4 Afecções do Sistema Nervoso
Síndrome do Mau Ajustamento Neonatal (SNN)
A Síndrome do Mau Ajustamento Neonatal é uma condição não
infecciosa de potros, caracterizada por distúrbios comportamentais graves.
Potros afetados parecem normais ao nascimento e o parto não é complicado;
os sintomas aparecem dentro de 12 horas. Normalmente o primeiro sintoma é
a perda de afinidade pela mãe e do reflexo de sucção. À medida que a
condição progride, aparecem hiperexitabilidade, bruxismo, cegueria aparente,
perambulação e espasmos clônicos. Ocorrem nessa ordem; opistótomo e
rigidez extensora, perda do reflexo de correção, decúbito e, finalmente, estado
comatoso. Hipoxia e acidose acompanham as alterações comportamentais. O
tratamento consiste em medidas de suporte, bem como aquelas dirigidas aos
sintomas. A manutenção de temperatura corporal normal, equilíbrio ácidobásico normal, níveis ótimos de líquidos corpóreos, nutrição adequada e
ventilação controlada são essenciais ao sucesso do tratamento. Em potros que
recuperam as funções neurológicas retornam na ordem inversa aquelas em
que foram perdidas (FERREIRA 1991).
A expressão síndrome do desajuste neonatal (SND) foi usada para a
descrição de distúrbio não infeccioso do SNC de potrinhos recém-nascidos
com duração de gestação normais, associado as visíveis anormalidades
comportamentais. São sinônimos para a condição: latidores, perambuladores, e
molengas.
O
momento
em
que
surgem
os
sintomas
varia,
desde
imediatamente após o nascimento, até 24 horas de idade. Distúrbios
44
neurológicos estão relacionados e a etiologia provavelmente não é a mesma
para todos os distúrbios. Quanto mais viermos a aprender acerca da fisiologia
destas condições, maior a possibilidade de uma terminologia mais precisa
(JOHNSON e ROSSDALE 1975).
Os potrinhos afetados podem, principalmente, exibir funcionamento
cerebral desarranjado, sintomas principalmente de lesões da medula espinhal,
ou ambas as ocorrências concomitantes. Os sintomas cefálicos comumente
observados são: perda de reflexo de sucção, perambulação a esmo e aparente
cegueira central, hiperexitabilidade ou depressão, espasmos extensores ou
convulsões clônicas, excessivo mastigamento e salivação, vocalização
anormal, e padrões respiratórios anormais. Os sintomas da medula espinhal
são: debilidade nos membros locomotores torácicos, pélvicos, ou em todos os
membros, na dependência da localização da lesão, ataxia, e depressão dos
reflexos espinhais. Os potrinhos podem exibir comportamento muito normal por
período variável após o nascimento, que pode ser seguido por período de
deterioração da função neurológica (KOTERBA 1994).
Nenhuma lesão do SNC pode ser identificada macroscópicamente ou
histológicamente em aproximadamente 60 % dos potrinhos com o diagnóstico
clínico de SDN, submetidos à necropsia. Nos restantes 40 %, os achados mais
comuns foram: necrose de tronco cerebral, diencéfalo, e córtex cerebral;
hemorragia da substância branca e cinzenta do córtex cerebral e cerebelo,
hemorragia subaracnóide no cérebro e medula espinhal; e edema circundando
as áreas de hemorragia (CLEMENT 1986).
A etiologia da condição não está bem definida. As lesões necrosantes do
SNC são similares às lesões resultantes da asfixia experimentalmente induzida
45
em neonatos de outras espécies. Contudo, em muitos casos de SDN, não é
observado episódio de asfixia claramente definido. O aumento da pressão
vascular intracraniana durante o parto poderia ser responsável pela patologia
observada. Também pode evidenciar aumentos da pressão vascular do SNC
em resposta à asfixia parcial, e a obstrução das vias respiratórias. (JOHNSON
e ROSSDALE).
Para que seja firmado o diagnóstico de SDN, outros processos
patológicos causadores de sintomas similares precisam ser descartados. Em
particular, septicemia, meningite e distúrbios metabólicos podem mimetizar
intensamente a SDN. Assim, a coleta de completa base de dados, conforme foi
delineado anteriormente, é essencial para a diferenciação das possibilidades. É
importante a obtenção da completa história, e, em particular, o estabelecimento
dos eventos perinatais e o momento do nascimento. SDN deve ser improvável
num potrinho anteriormente normal, e no qual o início das atividades
convulsivas ocorre aos 03 dias de idade; septicemia ou anormalidades
eletrolíticas seriam mais prováveis. Potrinhos com SDN devem apresentar
leucometria relativamente normal e fibrinogênio e eletrólitos normais. A análise
do líquido cerebroespinhal pode revelar aumento na xantocromia, proteínas, e
eritrócitos, mas em muitos casos, resultará normal. As radiografias torácicas e
a análise dos gases sangüíneos arteriais comumente indicam algum grau de
disfunção respiratória. Hipoxemia e hipercapnia moderadas e infiltrados
intersticiais sugestivos de pneumonia ou atelectasia são achados comuns. A
hemocultura e outras culturas bacterianas devem estar negativas, pelo menos
à altura do surgimento dos sintomas clínicos. A determinação de IgG a 18-24
horas de idade comumente revela insuficiência de transferência passiva (ITP)
46
da imunidade, geralmente resulatando de insuficiente ingestão de colostro
durante as primeiras horas de vida, como decorrência do surgimento de
anormalidades comportamentais. Esta ITP predispõe o indivíduo a infecções
bacterianas secundárias, que, se tratadas inadequadamente, frequentemente
resultam na morte do animal (KOTERBA 1994).
A terapia está direcionada para o controle das convulsões e da violenta
agitação aleatória. Diazepam e Fenobarbital são os anticonvulsivantes mais
comumente empregados, mas a cuidadosa contenção manual em superfície
bem acolchoada é também importante para evitar traumatismos auto-infligidos,
se o potrinho estiver caído. Em particular, o entrópio e a ulceração da córnea
precisam ser identificados e tratados prontamente, para evitar o desnecessário
prolongamento da internação hospitalar. Um tratamento auxiliar apropriado é
crucial para o desfecho favorável. Temperatura corporal, hidratação, ingestão
calórica, equilíbrio eletrolítico, dos gases sangüìneos, e acidobásico, e a
higiene devem ser mantidos durante todo o período de convalescença. Uma
vez que o potrinho esteja conexo/ coerente, frequentemente precisará
reaprender como andar, mamar, e seguir a sua mãe, e o processo
normalmente, é trabalhoso. A insuficiência de transferência passiva é melhor
prevenida se nos assegurarmos que o potrinho ingere pelo menos 1 litro de
colostro de boa qualidade nas primeiras 6 horas de vida. Se ocorre a
insuficiência de transferência passiva, ficará indicada terapia plasmática e por
meio de antibióticos, e o potrinho deverá ser cuidadosamente controlado em
busca de sintomas de infecção. A ulceração gástrica é também comum em
potrinhos com SDN, e em geral é administrada medicação antiúlcera
empiricante, em particular se estiver sendo empregado tubo nasogástrico, para
47
o apoio nutricional. Dimetilsulfóxido (DMSO) foi empregado por via endovenosa
em série de potrinhos exibindo anormalidades neurológicas sugestivas de
SDN. Este agente é empregado para a redução do edema cerebral, bem como
para a remoção de radicais de oxigênio livre que podem ser decorrentes das
lesões causadas pela asfixia. Embora não tenham sido observados efeitos
adversos na dosagem de 1 g/kg diluída numa solução a 10-20% e administrada
por via endovenosa, 1-2 vezes ao dia, também não há evidência definitiva de
sua eficácia (CLEMENT 1986).
A
despeito
dos
sintomas
freqüentemente
graves
de
disfunção
neurológica, muitos potrinhos diagnosticados como sofrendo SND obtêm
recuperação integral, mediante o tratamento auxiliar intensivo, tornando-se,
quando adultos, cavalos de desempenho atlético e normal; geralmente não
estão presentes deficiências neurológicas residuais, por ocasião do exame
neurológico. O melhor prognóstico está associado ao nível normal para IgG às
18 horas de idade, e o parto espontâneo e aparentemente normal, com o
potrinho ficando em estação e fazendo esforços para mamar antes de exibir
sintomas de desajustamento. Se a insuficiência da transferência passiva
resulta numa infecção secundária, ou se o potrinho nunca conseguiu ficar em
pé ou não demonstrou resposta de sucção, o prognóstico cai de 80% de
sobrevivência, para menos de 50%. Quando ocorrer grave distocia, há maior
chance de ocorrência de disfunção multissitêmica, secundária à asfixia.
(KOTERBA 1994)
A maior parte dos potrinhos que se recuperam da SDN exibem algum
tipo de patamar de gravidade dos sintomas clínicos por volta de 24-48 horas, e
gradual melhora após 48-72 horas. Se mais de 4 dias se passam sem qualquer
48
sintoma de alguma forma de melhora, o prognóstico é consideravelmente mais
reservado(JOHNSON 1975).
4.4.1 Caso Clínico I: Síndrome do Mau ajustamento Neonatal
Espécie: Eqüina
Raça: Mangalarga Marchador
Sexo: Fêmea
Idade: 01 dia
Histórico:
Animal com um dia de idade, parto normal sem nenhuma complicação,
se alimentou do colostro.
Anamnese:
Prestado atendimento no haras o proprietário relatou que o animal não
segue a mãe, não tem reflexo de sucção e está apresentando letargia e
depressão.
Exame Físico:
O animal permanecia em decúbito esternal, com dificuldade respiratória
e fraqueza generalizada.
49
Exame Clínico:
Batimentos
cardíacos
aumentados,
mucosas
normocrômicas,
desidratação acentuada, tempo de preenchimento capilar (TPC ) 4 segundos,
hipermotilidade intestinal, dores abdominais, perda de reflexos oculares
bilateral e ausência do reflexo de sucção.
Diagnóstico:
Síndrome do Mau Ajustamento Neonatal.
Tratamento Emergencial:
Passagem de sonda nasogástrica para verificar conteúdo retido no
estômago e alimentação com o leite materno ordenhado da égua e fornecido
via oral sonda nasogástrica.
Administração de solução fisiológica aquecida para evitar hipotermia.
Administração de plasma sanguíneo da mãe.
Administração endovenosa de dexametazona 2ml antes de administrar o
plasma para evitar choque.
50
FIGURA 13: Animal acometido
FONTE: Arquivos EQUIVET.
Conduta Clínica:
Durante a instituição do tratamento o animal manifestou sinais clínicos
de convulsão, estabelecido os quadros o animal foi solto no piquete, seus
sinais de comprometimento neurológico eram bem evidenciados. O animal se
manteve em estação, porém, com perda de visão necessitando de auxílio pra
encontrar e succionar o leite. Foi prescrito auxilio ao animal para mamar a cada
duas horas bem como observações freqüentes se seus sinais clínicos.
51
FIGURA 14: Animal em decúbito external
FONTE: Arquivos EQUIVET.
Evolução Clínica
O animal não apresentou melhora clínica satisfatória e foi encaminhado
à EQUIVET para ser acompanhado clinicamente e mantido o tratamento
adequado de terapia intensiva.
Conduta Clínica:
O animal passou a ser monitorado, sinais clínicos graves: opistótomo,
convulsão, incoordenação motora, fraqueza muscular e grau acentuado de
desidratação com hipotermia.
Tratamento Emergencial:
Administração endovenosa de Solução Fisiologia, Glicose 5%, bolsas de
plasma retirado da mãe, corticoídes e ACTH sintético. Leite materno via sonda
52
nasogástrica 50 ml a cada uma hora. Administração endovenosa de antibiótico
(Gentamicina e Topceff).
Evolução Clínica:
Após três dias de cuidados intensivos, seguido os protocolos
terapêuticos o animal começou apresentar melhora clínica favorável com
reflexos de sucção e retorno visual. Permaneceu durante sete dias em
observação retornando para o haras sem sinais clínicos de alteração
neurológica.
FIGURA 15: Evolução Clínica; reflexo de sucção.
FONTE: Arquivos EQUIVET.
53
FIGURA 16: Evolução Clínica
FONTE: Arquivos EQUIVET.
Discussão:
Segundo SMITH (1994): a despeito dos sintomas freqüentemente graves
de disfunção neurológica, muitos potrinhos diagnosticados como sofrendo da
síndrome do mau ajustamento neonatal obtêm recuperação integral, mediante
o tratamento auxiliar intensivo, tornado-se, quando adultos, cavalos de
desempenho atlético e normal; geralmente não estão presentes deficiências
neurológicas residuais, por ocasião do exame neurológico. O melhor
prognóstico está associado ao nível normal de IgG às 18 horas de idade, e o
parto espontâneo e aparentemente normal, com o potrinho ficando em estação
e fazendo esforços para mamar antes de exibir sintomas de desajustamento.
Potrinhos que se recuperam exibem algum tipo de patamar de gravidade dos
sintomas por volta de 24-48 horas, e gradual melhora após 48-72 horas. Se
54
mais de quatro dias se passam sem qualquer sintoma de alguma forma de
melhora, o prognóstico torna-se consideravelmente mais reservado.
Conclusão:
O rápido tratamento emergencial e o diagnóstico precoce das alterações
do sistema nervoso favorecem a evolução clínica.
4.5 Afecções do Sistema urinário
Uroperitônio
O uroperitônio resulta do extravasamento de urina do trato urinário
dentro do espaço peritonial (REED e BOYLY 2000). É uma condição séria que
resulta no desenvolvimento de uremia e severos desequilíbrios eletrolíticos e
ácido-básico (AUER & STICK 2006).
O uroperitonio ocorre comumente por ruptura durante o parto ou
secundário a uma anormalidade congênita no trato urinário. Entretanto, com
intensos e longos cuidados dos potros neonatos esta aumentando a incidência
de quadro clínico tardio de rupturas do trato urinário (KOTERBA, DRUMMOND
e KOSCH 1998).
A ruptura de bexiga pode ocorrer devido à compressão que sofre a
bexiga urinária do potro durante os esforços de expulsão realizados pela égua
no momento do parto, ou a extrema tensão que sofre o cordão umbilical,
fazendo com que conseqüentemente, o úraco tracione a bexiga repleta de
urina (THOMASSIAN 2005). Ocorre mais em potros do que em potrancas, visto
55
que o macho possui um diâmetro uretral menor que as fêmeas, com isso há
uma resistência maior no fluxo passivo da urina (KOTERBA, DRUMMOND e
KOSCH 1998). A ruptura ocorre ao longo da margem dorsal ou dorsocranial da
bexiga dos potros pela espessura fina da parede desta região. Com menos
freqüência, cistorrafias também são realizadas em eqüinos adultos com
uroperitonio, e por ser secundária a uma doença obstrutiva da uretra (AUER &
STICK 2006).
Outros autores sugeriram ser provável que alguns casos de uroperitonio
estejam associados a defeitos vesicais anômalos em virtude do tamanho, da
localização ou da falta de inflamação aparente nas margens dos defeitos
(REED e BOYLY 2000).
Estranguria, demonstrada pelo aumento na freqüência e na redução do
volume de micção, quase sempre é o primeiro sinal clínico observado. O
estímulo para micção desses potros geralmente é a distenção abdominal,
porque a bexiga não está distendida. A presença de um jato de urina não
descarta a presença de uroperitonio, porque o potro pode ser capaz de
acumular urina na bexiga e evacua-la parcialmente (REER e BOYLY 2000).
O animal apresenta ainda: tenesmo, manifestações de desconforto
abdominal, taquipnéia, taquicardia, conjuntivas pálidas, letargia e convulsão
nas fases finais da afecção. O abdômen apresenta abaulamento progressivo
causado pelo acúmulo de urina, assim como podem surgir sinais de
intoxicação, levando alguns potros a coma e morte por uremia (THOMASSIAN
2005).
A uremia pode ser definida por presença de excessivos constituintes
urinários no sangue e como os seus defeitos tóxicos sistêmicos. Os sintomas
56
clínicos predominantes da uremia, observados em animais de grande porte
são: depressão e anorexia. Convulsões e/ ou encefalopatia podem ocorrer em
alguns casos em que há graves episódios uremicos (SMITH 1994).
No potro com uroperitonio, embora o total de água corporal geralmente
esta aumentada como resultado do acúmulo de urina dentro da cavidade
peritoneal, o volume circulatório efetivo do paciente está seriamente reduzido.
A avaliação da quantidade do pulso e outros parâmetros cardiovasculares são
essenciais para determinar a necessidade de estabilização imediata.
(KOTERBA, DRUMMOND e KOSCH 1998).
Pelo acúmulo considerável de fluido na cavidade peritoneal, sinais de
sofrimento respiratório podem ser notados. Isto é causado pela compressão do
tórax pela distenção abdominal. Além disso, pode haver significante acumulo
de fluido pleural em alguns potros que podem contribuir para difusão intersticial
formando sugestiva atelectasia freqüentemente observada com radiografia
torácica (KOTERBA, DRUMMOND e KOSCH 1998).
O quadro de desconforto abdominal (cólica) apresentado pelo animal
decorre, primeiramente, devido a instalação de peritonite irritativa (asséptica),
desencadeada juntamente pela presença de urina na cavidade. O peritônio
consiste em uma camada única de células escamosas mesoteliais que reveste
a cavidade peritoneal e as superfícies serosas de vísceras intra-abdominais.
Essa única camada de células funciona como uma barreira semi-permeável à
difusão de água e solutos de baixo peso molecular entre o sangue e a cavidade
abdominal. O peritônio secreta líquido seroso que lubrifica a cavidade
abdominal, inibe a formação de aderências e tem pequenas propriedades
antibacterianas. A inflamação do revestimento mesotelial da cavidade
57
peritoneal
caracteriza-se
por
escamação
e
transformação
de
células
mesoteliais, quimiotaxia de neutrófilos, liberação de vários mediadores solúveis
da inflamação e exsudação de soro, fibrina e proteína na cavidade peritoneal.
O acúmulo de urina na cavidade abdominal resulta de falha em regular os
constituintes sangüíneos (REED e BOYLY 2000).
A bioquímica sérica revela hipercalemia, hipocloremia e azotemia (REED
e BOYLY 2000). Avaliação laboratorial sangüínea que apóiam, mas não
confirmam a presença de uroperitonio incluem hipercalemia, hipocloremia,
hiponatremia, azotemia e acidose metabólica. Anormalidades similares também
podem ser observadas em potros com septicemias, doença renal, doença
gastrointestinal ou obstrução urinária. Potros podem apresentar todos esses
problemas simultaneamente. Esses valores laboratoriais ocorrem mais
freqüentemente em potros com uroperitonio que tem acesso ao leite da égua e
não tenham sido tratados ainda com fluidoterapia apropriada. O leite da égua
tem relativamente alto nível de sódio e baixo nível de potássio (KOTERBA,
DRUMMOND e KOSCH 1998).
Arritmias cardíacas, particularmente bradicardia, podem ser observadas
como resulatado da hipercalemia. Tanto a uréia como a creatinina se
acumulam no sangue, apesar de um aumento na concentração de creatinina
sérica pode ser mais consistente nos potros. Esta condição de valores
bioquímicos é altamente sugestiva de uroperitônio. Todavia, causas pré-renais,
insuficiência renal e bloqueio funcional ou estrutural da uretra podem causar
anormalidades séricas semelhantes. Uma relação entre creatinina do líquido
peritoneal e a creatinina sérca de 2:1 confirmará a presença de urina no
abdome. A uréia é uma molécula pequena e rapidamente se equilibra através
58
do peritônio, mas a molécula maior, a creatinina se equilibra com velocidade
mais lenta. Precocemente no curso da doença, essas anormalidades séricas e
peritoneais podem não estar presentes (REED e BOYLY 2000).
A colheita de líquido peritoneal para avaliação laboratorial é realizada
por paracentese abdominal, que pode ser um recurso diagnóstico valioso
(RADOSTITS, MAYHEN 2002). A amostra de um potro com uroperitônio
usualmente apresenta odor de urina ou amônia quando quente. A
concentração de creatinina é determinada pelo fluido peritoneal sérico. Se a
relação das concentrações de creatinina entre os dois for 2:1 ou maior, esta
alta relação confirma o uroperitônio, mas, a ausência de elevada creatinina no
fluido peritoneal não exclui o diagnóstico. Isto ocorre quando o exame é
realizado nas fases iniciais do curso da doença, onde a creatinina peritoneal e
a sérica ainda não estão significativamente alteradas a contagem total de
células e proteínas elevadas (KOTERBA, DRUMMOND e KOSCH 1998).
Outras técnicas diagnósticas são necessárias para determinar o local do
extravasamento e incluem: ultrassonografia, radiografia contrstada, migração
do corante da bexiga para a cavidade peritoneal e laparotomia exploratória
(REED e BOYLY 2000).
4.5.1 Caso Clínico I: Uroperitônio
Espécie: Eqüina
Raça: Puro Sangue Inglês
Idade: 01 mês
Sexo: fêmea
59
Histórico:
O animal foi encaminhado ao hospital veterinário do Jockey Clube do
Paraná após ter sido observado sinais clínicos diferenciados estando esses se
manifestando há alguns dias, não respondendo aos tratamentos não relatados
administrados.
Anamnese:
Foi relatada presença de líquido constante na região posterior, o animal
permanecia maior parte do tempo em decúbito, deprimido e houve surtos de
diarréia intermitente. Aumento das dores abdominais.
Exame Físico:
O animal se apresentava em decúbito, apático, deprimido com
incapacidade motora de se manter em estação e presença de líquido na região
do posterior.
Exame Clínico:
Desconforto abdominal, desidratação, incontinência urinária, mucosas
normocoradas, tempo de preenchimento capilar (TPC): 3 segundos, leve
bradicardia, taquipnéia, sem reflexos no membro posterior na região perianal e
cola, febre, auscultação pulmonar com estertores, auscultação intestinal com
hipermotilidade e presença de gás.
60
Conduta Clínica
Após a avaliação clínica do animal foi instituída fluidoterapia e coleta de
material para realização de exames complementares.
Exames Complementares
Hemograma completo.
Bioquímico de creatinina, sódio e potássio.
Radiografias
Ultrassonografia
Paracentese
Diagnóstico
Os exames radiográficos apresentaram grande opacidade dos pulmões,
as imagens não foram conclusivas por ser uma região de difícil acesso.
A
ultrassonografia
evidenciou
a
presença
de
coleção
líquida
encapsulada por fibrina no intestino, abcessos pulmonares e bexiga com pouco
conteúdo e sua parede com alterações no contorno e densidade.
A paracentese apresentou alteração do líquido peritonal; amarelo turvo e
com leve odor de urina. Realizada análise rápida em microscopia eletrônica
observando grande quantidade de células polimorfonucleares.
O hemograma demonstrou alterações de células leucocitárias com
leucositose, neutrofilia e aumento considerável de bastonetes evidenciando
uma infecção ativa de curso longo com resposta satisfatória da medula óssea,
porém, a infecção aparente não estava sendo controlada pelo organismo. O
fibrinogênio aumentado é evidência de processo inflamatório.
61
Conduta Clínica:
Após avaliação clínica e o resultado dos exames complementares não
sendo possível definir com exatidão o diagnóstico o animal foi submetido à
laparotomia exploratória para a redução e lavagem abdominal.
FIGURA 17: Pré-operatório
FONTE: Arquivos EQUIVET
Tratamento Cirúrgico:
Laparotomia
exploratória;
ao
acessar
a
cavidade
abdominal
diagnosticou-se uroperitonio com formação de bolsas de urina isoladas pela
fibrina distribuída por toda a cavidade abdominal, circundando várias
estruturas, aderência avançada de fibrina entre todos os órgãos, alças
intestinais congestas pela toxicidade da urina.
Não sendo viável a remoção das alterações encontradas foi realizada
eutanásia do animal.
62
FIGURA 18: Líquido na cavidade peritonial
FONTE: Arquivos EQUIVET
FIGURA 19: Bolsas isoladas de urina na cavidade abdominal
FONTE: Arquivos EQUIVET
63
FIGURA 20: Comprometimento de alças intestinais
FONTE: arquivos EQUIVET
Achados de Necropsia
Aderência dos órgãos abdominais, congestão difusa e atonia das alças
intestinais, orifício na face craniodorsal da bexiga urinária, com bordas
regulares em torno de 0,5 cm de diâmetro evidenciando o extravasamento de
urina para a cavidade abdominal, divertículo na região de inserção do úraco
sem rompimento em fase de regressão, fígado congesto, esplenomegalia. Na
região torácica observou: congestão pulmonar com atelectasia, abcessos,
efusão pleural de aspecto amarelado, hidropericardite e hipertrofia flácida dos
músculos cardíacos.
64
FIGURA 21: Ponto de ruptura da bexiga urinária
FONTE: Arquivos EQUIVET
FIGURA 22: Ruptura da bexiga urinária
FONTE: Arquivos EQUIVET
65
Discussão:
Segundo AUER & STICK (2006): potros com moderada a severa
distenção abdominal requerem drenagem peritonial para melhorar a condição
cardiovascular e a ventilação pulmonar. A correção de desequilíbrios
eletrolíticos é importante, principalmente a hipercalemia pela arritmia gerada.
Drenagem
da
urina
peritonial
ou
diálise
peritoneal
com
coincidente
suplementação de cloreto de sódio e bicarbonato devem ser eficientes.
Conclusão
Após a realização de todos os meios diagnósticos e a realização da
eutanásia do animal fica evidente que nem todos os animais apresentam
determinados sinais clínicos e ficam vulneráveis a manifestação clínica da
doença segundo a literatura consultada as alterações encontradas relatam um
espaço de tempo considerável para serem instaladas e a toxemia gerada não
permitiria muita sobrevida ao animal.
66
5. CONCLUSÃO
O estágio realizado na EQUIVET – Assistência Veterinária foi a
oportunidade que tive de adquirir novos conhecimentos nas áreas de: Clínica
Médica, Clínica Cirúrgica, Reprodução e Medicina Esportiva Eqüina mostrando
diferentes níveis de métodos diagnósticos e problemas clínicos relacionado aos
eqüinos fornecendo orientação para resolução dos problemas que podem
afeta-los.
Aprendi durante todo percurso acadêmico e no estágio curricular
supervisionado, que os conhecimentos são adquiridos através do estudo, nas
experiências pessoais e da pesquisa, buscando sempre o aprimoramento
profissional e humano.
67
6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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