Avaliação da exposição à metformina durante gestação e lactação sobre a reatividade da aorta abdominal e torácica da prole de ratos. Kawane Fabricio Moura, Graziela Scalianti Ceravolo. e-mail: [email protected] Laboratório de Farmacologia Vascular, Departamento de Ciências Fisiológicas, Universidade Estadual de Londrina Área e sub-área do conhecimento: Palavras-chave: Reatividade vascular; exposição intrauterina a fármacos; metformina. Resumo O princípio de que a incidência de certas doenças dos adultos, pode estar ligada ao desenvolvimento uterino é chamado de “Origem Desenvolvimentista da Saúde e Doença” ou DOHaD (“Developmental Origins of Health and Disease”) e baseia-se na percepção de que eventos que ocorrem durante o desenvolvimento do organismo, como a exposição materna a fármacos, podem afetar o desenvolvimento morfológico e funcional de órgãos, o que está relacionado com a origem de doenças tardiamente. A metformina é uma biguanida utilizada como alternativa terapêutica, no tratamento de diabetes gestacional, embora atravesse a placenta e tenha sido detectada no cordão umbilical em concentrações iguais as do sangue materno, é considerada um medicamento seguro durante toda a gestação, inclusive no primeiro trimestre. Em camundongos, a exposição intrauterina à metformina causa na vida adulta, aumento do peso corpóreo, do depósito de gordura visceral, da glicemia de jejum e intolerância a glicose, indicando que a metformina pode causar na prole adulta alterações metabólicas, tais como obesidade e diabetes, o que favoreceria o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Portanto, existe a necessidade de mais estudos para caracterizar as alterações funcionais que este fármaco pode causar na vida adulta da prole exposta durante o desenvolvimento. Sendo assim, o objetivo deste estudo será avaliar na prole masculina exposta a metformina durante a gestação e amamentação a resposta contrátil da aorta abdominal e torácica. Introdução e objetivo A metformina é uma biguanida amplamente utilizada para tratar resistência à insulina, diabetes melitus tipo 2, síndrome do ovário policístico (GLUECK et al., 2002; VIOLLET et al., 2012). Mulheres diabéticas ou com 1 síndrome do ovário policístico tratadas com este fármaco antes da gestação, em geral continuam o uso após engravidarem, classificando este como categoria B (GLUECK et al., 2002, JOHNSON, 2011). Em um estudo randomizado, realizado em mulheres com diabetes gestacional foi demonstrado que a exposição intrauterina a metformina não altera o crescimento de crianças expostas a este fármaco (BONEY et al., 2005).Entretanto, ainda não está claro se a exposição intrauterina a metformina pode resultar em benefícios metabólicos para prole de mães obesas e diabéticas (ALI et al., 2011; SCARPELLO ET AL., 2008). O objetivo do trabalho foi avaliar, em ratos Wistar adultos que foram expostos à metformina durante a gestação e a amamentação a responsividade da aorta torácica ao agente vasoconstritor fenilefrina. Paralelamente, foi padronizada a técnica de reatividade da aorta abdominal também em ratos expostos à metformina. Procedimentos metodológicos Animais e exposição à Metformina Os procedimentos utilizados neste projeto foram aprovados pelo Comitê de Ética no Uso de Animais da Universidade Estadual de Londrina (CEUA no 6996.2015.02). Para geração parental foram utilizados ratos e ratas albinos Wistar. Para o acasalamento, no final da tarde foi colocado um macho em cada gaiola contendo duas fêmeas. Na manhã do dia seguinte, o esfregaço vaginal foi realizado e a fêmea considerada prenhe se no esfregaço fossem observados espermatozóides e a fase estro. Neste dia, denominado dia gestacional (DG) 0, as fêmeas foram distribuídas aleatoriamente nos seguintes grupos experimentais: 1) Ratas tratadas com metformina (293mg/Kg/dia), por via oral (gavagem) do DG0 até o dia do desmame da ninhada, ou seja, dia pós-natal (DPN) 21. 2) Ratas tratadas com água, por via oral (gavagem) do DG0 até o DPN 21. Grupos experimentais As proles foram divididas nos seguintes grupos experimentais: 1) Metformina (MetGL): ratos adultos que as mães foram tratadas com metformina, por gavagem do DG0 até DPN 21. 2) Controle gestacional e lactação (CtrGL): ratos e ratas adultos que as mães foram tratadas com água, por gavagem do DG0 até DPN 21. Reatividade da porção da aorta abdominal e torácica 2 Os ratos foram anestesiados com tiopental (40 mg/kg, ip), e após toracotomia, as porções abdominal e torácica da aorta foram removidas, dissecadas e seccionadas em 2 anéis transversais cada. Em um dos anéis o endotélio foi removido (E-) e no outro anel, o endotélio foi preservado (E+). Os anéis de aorta foram montados em banhos para estudo de órgãos isolados, mantidos em solução de Krebs, a 37°C. Para a avaliação da função contrátil, foram feitas curvas concentração-efeito cumulativas para fenilefrina (10-9 a 103M), agonista alfa1-adrenérgico. O mesmo protocolo experimental foi adotado para a aorta torácica. As comparações entre os diferentes grupos experimentais foram realizadas pela determinação das respostas máxima e concentração efetiva 50 (EC 50) para o agonista. As comparações foram feitas com o teste ANOVA de uma via, seguido do teste de Tukey, considerando a diferença estatística quando p<0,05. Resultados e Discussão Durante o desenvolvimento deste projeto foi realizada a padronização do protocolo de reatividade da aorta abdominal, entretanto, devido às dificuldades encontradas não foi possível apresentar resultados referentes a esta porção da aorta. Por conseguinte, os dados apresentados neste relatório são referentes à reatividade da aorta torácica. A Rmax para fenilefrina em anéis foi semelhante entre os grupos MetGL E+ [2,151±0,22 (8)] e CtrGL E+ [2,366±0,24 (10)]; MetGL E- [3,384±0,34 (8)] e CtrGL E- [3,056±0,26 98)]. Segundo Kinnan e colaboradores (2015) o uso de metformina para o tratamento de gestantes com diabetes mellitus 2 apresentam efeitos protetores sobre o endotélio das mesmas, seu mecanismo ainda precisa ser melhor elucidado. Benefícios para a prole também foram descritos no trabalho de Rowan e colaboradores (2011), onde foi observado um menor número de crianças entre os 5-7 anos com excesso de peso. O presente estudo acrescenta a informação de que o tratamento de ratas prenhes com metformina não altera a resposta da aorta torácica para fenilefrina. Não houve diferença no pD2 para fenilefrina, entre os grupos experimentais MetGL E+ [6,836±0,08 (8)] e CtrGL E+ [6,895±0,07 (10)]; MetGL E- [8,169±0,27 (8)] e CtrGL E- [8,048±0,12 (8)].. A pD2 é um parâmetro utilizado para avaliar potência de um agonista, considerando a sensibilidade de tecidos a um agonista e a afinidade deste agonista ao seu receptor (ARAUJO et al. 2013). Podendo sugerir-se que a sensibilidade dos receptores adrenérgicos não foi alterada pela exposição intrauterina e lactacional à metformina. Conclusões 3 Com o presente estudo foi possível concluir que o tratamento com metformina em ratas durante a gestação e amamentação não altera a resposta da aorta torácica à fenilefrina. Sugerindo que a exposição a este fármaco é seguro para o sistema vascular da prole exposta. Agradecimentos Agradeço à orientadora e aoPIBIC pela concessão da bolsa de iniciação científica. Referências ALI, A.T. et al. Insulin resistance in the control of body fat distribution: a new hypothesis. Horm Metab Res. v. 43, p.77–80, 2011. ARAUJO, S. J. A. et al.Treinamento Resistido Controla a Pressão Arterial de Ratos Hipertensos Induzidos por L-NAME. Arq Bras Cardiol. v.100, p.339-346, 2013. BONEY, C.M. et al. Metabolic syndrome in childhood: association with birth weight, maternal obesity, and gestational diabetes mellitus. Pediatrics. V.115, p.290–296, 2005. GLUECK, C.J. et al.Pregnancy outcomes among women with polycystic ovary syndrome treated with metformin. Hum Reprod. v.17, p.2858-2864, 2002. JOHNSON, N. Metformin is a reasonable first-line treatment option for nonobese women with infertility related to anovulatory polycystic ovary syndrome – a meta-analysis of randomised trials. Aust N Z J Obstet Gynaecol. v.51, n. 2, p.125–129, 2011. KINAAN, M. et al. 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