PLURALIDADE CULTURAL – DE MEMÓRIAS À GERAÇ@O.COM

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PLURALIDADE CULTURAL – DE MEMÓRIAS À GERAÇ@O.COM
Vera Beatriz Hoff Pagnussatti1 - SEED
Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
“A era digital requer novas habilidades tanto dos estudantes quanto de professores e
educadores” (GABRIEL, 2013b). Diante desta premissa, não é mais possível conceber a
escola distanciada da inclusão digital, voltada para a dinamicidade e inovação do processo de
ensino e aprendizagem, que desenvolva as habilidades necessárias para a realidade vigente e
promova os envolvidos para a construção do conhecimento e mudança de atitudes. Neste
contexto, o trabalho expõe a experiência do projeto “Pluralidade Cultural - De memórias à
ger@ção.com”, realizado com quatro turmas do Ensino Fundamental e duas do ensino Médio
do Colégio Eron Domingues de Marechal Cândido Rondon-PR em parceria com o PIBID de
Letras – Língua Portuguesa da UNIOESTE. O Projeto teve como foco permitir ao aluno, via
diferentes gêneros textuais, e esferas de circulação, pesquisar, conhecer, rever e compartilhar
de um legado cultural de gerações, englobando transformações culturais que retratam um
passado e um presente muito próximos. A experiência mostra que independentemente de cor,
raça, credo e gênero todos são transformados e transformadores da sociedade, onde todo tipo
de preconceito gerado pelas diferenças deve ser combatido. Neste viés de pesquisas, resgates,
produções, socializações e parcerias se efetivou o projeto, explorando a oralidade, leitura,
escrita e análise linguística, culminando em exposições, fórum e seminários, tendo como
suporte as diferentes mídias com ênfase nas redes sociais. O Projeto desenvolvido veio ainda
ao encontro de dois pressupostos teóricos básicos para o trabalho com as linguagens em sala
de aula: a importância dos multiletramentos no ambiente escolar e a necessidade da discussão
sobre as culturas e suas manifestações com os alunos adolescentes e jovens, familiares e
comunidade escolar.
Palavras-chave: Culturas. Mídias. Interação.
Introdução
Refletir sobre um país plural implica em considerar como a cultura se faz, propaga-se,
mantém-se e se modifica. Admitir e visualizar a cultura como patrimônio de um povo é
oportunizar e desvendar a história de cada um, suas origens, costumes e “heranças”,
1
Professora QPM de Língua Portuguesa e Literatura da Secretaria de Estado do Paraná- SEED, atua no Colégio
Estadual Eron Domingues desde 1987. Professora PDE 2007. Especialista em Língua Portuguesa, Literatura
(Unioeste) e Pedagogia Empresarial (ISEPE). E-mail: [email protected] CPF 483436 099 72
ISSN 2176-1396
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preservando as peculiaridades de cada família ou grupo, valorizando as diferenças sem
desmerecê-las, reiterando que nas diversidades étnicas e raciais reside a imensa riqueza e
identidade cultural de um povo.
Um aluno “pluralizado” é resultado desta diversidade de culturas, de linguagens, de
hábitos, crenças, carências e necessidades para acompanhar uma realidade em transformação
constante, instigante e assustadora. Novas habilidades são exigidas, esperadas, cobradas a
todo instante de todos os segmentos e envolvidos do processo de ensino-aprendizagem. E em
grau maior, da escola que continua sendo um espaço privilegiado de troca de saberes, de
sistematização de conteúdos, de reflexão sobre o velho e o novo, sobre um passado cultural
ancorado nas memórias e oralidade, comparativamente aos novos olhares de uma geração
onde tudo é compartilhado, curtido, trocado via suportes tecnológicos móveis ou não, de
forma veloz e “simplificada”. Neste contexto, como resgatar um passado, ora valorizado ora
esquecido, lembrando que é parte e patrimônio do processo cultural do qual fomos moldados
e interagir com esses “novos olhares” digitalizados?
De acordo com Alegretti et al. (2012, p. 55), “há uma desterritorialização do espaço
educacional institucionalizado, exigindo a ressignificação dos atores envolvidos na
aprendizagem a partir das ferramentas que trazem a conectividade para qualquer lugar”. Daí a
necessidade de intercalar situações práticas em que o aluno busque dados via internet em
diferentes suportes móveis e saiba como utilizá-los na produção e socialização de
determinado assunto, utilizando-se de diferentes gêneros textuais desde músicas, poemas,
charges, imagens, notícias, reportagens entre outros. É imprescindível explorar de forma
coerente e contextualizada os conteúdos específicos de cada disciplina via TICs, propiciando
a propagação e reflexão de opiniões, a troca de conhecimentos e informações e favorecer
sobremaneira as novas formas de letramento.
Diante deste cenário em transformação, como instigar para que os alunos conheçam e
valorizem sua herança cultural familiar e se sintam participantes do processo cultural de sua
comunidade, município, estado e sociedade?
Neste sentido, o Projeto Pluralidade Cultural – De memórias à ger@ção.com se
justifica: resgatar a pluralidade cultural a começar pela família, município, estado e
consequentemente do país, através de diferentes gêneros textuais inerentes a cada ano dos
alunos envolvidos, utilizando as diferentes mídias como aliadas do processo de ensinoaprendizagem e a partir deste resgate, produzir, interagir e socializar as multiculturalidades
entre os pares, famílias, comunidade escolar e diferentes meios de informação e comunicação.
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O Projeto foi realizado no Colégio Estadual Eron Domingues, no período de fevereiro a
setembro, envolveu alunos de tais anos e teve colaboração dos graduandos da área de LetrasLíngua Portuguesa, bolsistas do PIBID da Unioeste, campus de Marechal Cândido Rondon.
Para este resgate, visibilidade, aprendizagem e convívio harmonioso entre as
diferenças, a escola é o local ou espaço ímpar, especial de convivência e coexistência de
diferenças e ou diversidades socioculturais. Consequentemente, é o ambiente profícuo para
explorar e socializar temas ou conteúdos ligados à cidadania e que retratem a formação do
povo brasileiro. Como mencionado no material publicado pelo MEC “O trabalho com
Pluralidade Cultural se dá a cada instante, exige que a escola alimente uma ‘Cultura da Paz’”
(BRASIL, 1997, p. 117) – significa que a Pluralidade Cultural é baseada na tolerância, no
respeito aos direitos humanos e na noção de cidadania compartilhada por todos os brasileiros.
Desenvolvimento – Novos Tempos de Globalização e Formas de Interação
Inegavelmente, vivemos um novo tempo, um novo espaço de comunicação e
socialização, de interação e conectividade, panorama atual notoriamente irreversível. Logo,
não há como retroceder, não há como desvincular ou supor a sociedade atual, e, por via de
consequência, a educação, nos seus diferentes níveis, sem os meios de comunicação
midiáticos e as novas tecnologias integradas num cenário de um mundo globalizado. “Pensar
o papel da escola em um mundo globalizado, e por que não dizer digitalizado e multifacetado,
tornou-se imprescindível” (GARCIA; SILVA; FELÍCIO, 2012, p. 123).
Com o objetivo de atrelar conteúdos e temas às tecnologias é que foi pensada a
proposta do projeto Pluralidade Cultural. De memórias à ger@ção.com. Especialmente,
buscou-se pensar na necessidade de desvendar a cultura de forma concreta; de como foi
produzida; de como determinados traços culturais se mantém em determinados grupos e se
perpetuaram no decorrer dos tempos, lembrando que
As culturas são produzidas pelos grupos sociais ao longo das suas histórias, na
construção de suas formas de subsistência, na organização da vida social e política,
nas suas relações com o meio e com outros grupos, na produção de conhecimentos
etc. (BRASIL, 1997, p. 121).
Durante o desenvolvimento das atividades integrantes do projeto, salientou-se que
cultura vai além de pensar em folclore, danças, comidas, vestimentas apenas. Implica em todo
um conjunto de saberes de vivências de interações, de valorização como podemos comprovar
o teor transcrito no dicionário Aurélio:
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Cultura [Do lat. cultura] S. f. […] 6. A parte ou aspecto da vida coletiva
relacionada à produção e transmissão de conhecimento, à criação intelectual e
artística etc. 7. O processo ou estado de desenvolvimento social de um grupo, um
povo, uma nação, que resulta do aprimoramento de seus valores, instituições,
criações, etc.; civilização, progresso. 8. Atividade e desenvolvimento intelectuais de
um indivíduo, saber, ilustração, instrução. (FERREIRA, 2009, p. 587).
Como manter viva as memórias e histórias de um povo, num mundo digitalizado,
globalizado e conectado? Sabemos que a globalização – tema amplamente discutido em todos
os segmentos mundiais – trouxe benefícios para o mundo de cada indivíduo – no que se refere
à visibilidade de diferentes culturas, serviços, consumos, inovações científicas, evoluções,
investimentos, conhecimento e troca de ideias de qualquer parte do planeta – tudo isso, graças
aos avanços tecnológicos na área de informações.
Por outro lado, estes mesmos avanços tecnológicos globalizados acentuaram
problemas como o desemprego, a desigualdade social, a dependência econômica de países
menos desenvolvidos ampliando sobremaneira o fluxo migratório entre países, gerando
muitas vezes o aparecimento de situações como a não aceitação de culturas “importadas”,
causando a discriminação e a intolerância, mudando o cenário e a cultura de um povo. Ideias
xenofóbicas, discriminatórias contra grupos menores, muitas vezes ganham respaldos via
tecnologias e disseminam estereótipos, quando não incitam a violência contra negros, judeus,
nordestinos, homossexuais ou outras diversidades tidas como “inferiores” por algumas
correntes, grupos ou pessoas sem senso de ética.
Neste cenário de culturas mil e “anti-culturas” é que surge o papel da escola que é de
refletir, coibir e evitar a propagação de preconceitos culturais sejam eles étnicos ou raciais, de
gêneros ou classes sociais, conscientizando o aluno para a valorização e aceitação de
diferentes manifestações culturais do mundo, do seu país e sociedade da qual faz parte, não
aceitando ou compactuando com quaisquer interferências prejudiciais a qualquer cidadão.
No capítulo “Pedagogia dos multiletramentos – Diversidade cultural de linguagens na
escola”, a matéria enfatiza e faz referência à necessidade de uma pedagogia dos
multiletramentos. Já em 1996, um grupo de pesquisadores dos letramentos, reunidos em Nova
Londres publicou um manifesto onde mencionam a
necessidade da escola tomar a seu cargo os novos letramentos emergentes na
sociedade contemporânea, em grande parte – mas não somente – devido às novas
TICs, e de levar em conta e incluir nos currículos a grande variedade de culturas já
presentes nas salas de aulas de um mundo globalizado e caracterizada pela
intolerância na convivência com a diversidade cultural, com a alteridade. (ROJO;
MOURA, 2012, p. 11).
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Pelo exposto, o Projeto desenvolvido veio ao encontro de dois pressupostos teóricos
básicos para o trabalho com as linguagens em sala de aula: a importância dos
multiletramentos na sala de aula e a necessidade da discussão sobre as culturas e suas
manifestações com os alunos adolescentes e jovens.
Pluralidade Cultural e Tecnologias – Novas Culturas – Novos Letramentos
Os problemas suscitados no ambiente escolar, diante destes novos desafios de
“virtualidade”, devem ser pautados e direcionados à construção do conhecimento e da
criticidade dos alunos diante dos desafios deste novo milênio, para que sejam desenvolvidas
as habilidades esperadas, para que estes sejam agentes de transformação e de mudança.
Sabemos que a forma de “ensinar”, de mediar do professor será determinante na forma do
aprender e do assimilar pelo aluno. E essas premissas – novas aprendizagens e formas de
intervenção – devem ser repensadas junto com as instituições de ensino.
Segundo Martha Gabriel (2013a, p. 109):
o mundo digital muda muito rapidamente, ao passo que a educação e as escolas
mudam pouco e lentamente. Acredito que seja esse o maior desafio que educadores
e instituições de ensino têm enfrentado. O professor exerce um papel essencial nesse
novo mundo digital, não mais como um “provedor de conteúdos”, mas funcionando
como um catalisador de reflexões e conexões para seus alunos nesse ambiente mais
complexo, que também é mais rico e poderoso.
Ao longo do tempo, foram as diferentes inovações que mudaram todo o processo de
ensino-aprendizagem: da lousa ao quadro de giz, da internet, dos celulares ao Notebook, do
Smarphone ao Tablet, dentre outros. E consequentemente, a cultura como um todo, sofreu e
sofre contínuas modificações em todos os espaços, para o bem comum ou não, para o
crescimento cultural ou discriminação.
É fundamental que o professor se prepare e prepare o conteúdo ou tema a ser
trabalhado via TICs, para que este seja realmente aprendido pelos alunos e que a junção entre
conteúdo e tecnologia seja de fato coerente e acrescente, que instigue o aluno a construir
conhecimento e a agir de acordo com os objetivos elencados previamente.
“‘O contato com os estudantes na internet ajuda o professor a conhecê-los melhor’,
afirma Betina von Staa (pesquisadora da divisão de Tecnologia Educacional do Positivo
Informática” (PECHI, 2011). “Quando o professor sabe quais são os interesses dos jovens
para os quais dá aulas, ele prepara aulas mais focadas e interessantes, que facilitam a
aprendizagem”, relata (PECHI, 2011).
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Como proceder para efetivar um projeto diante de novos temas, novos desafios, novos
suportes tecnológicos?
Um Novo Olhar sobre a Pluralidade Cultural, na Prática
Previamente ao início dos trabalhos, no ano de 2014, sobre a temática pluralidade
cultural, sugerido pelo Projeto Televisando o Futuro, RPC TV, foi verificado através de
enquete o conhecimento prévio dos alunos sobre o que é cultura, o que é pluralidade cultural.
Necessário se fez certificar-se do que era conhecido pelos alunos sobre o tema e a partir daí
elaborar, construir e priorizar atividades para rever, resgatar e valorizar a história de vida de
cada um de modo particular em sua família, na comunidade onde os alunos estão inseridos,
estudar as raízes culturais de formação do município e posteriormente do estado. E por
último, analisar o “mosaico” de culturas do país dentro de uma perspectiva contemporânea
sob o olhar de um aluno “criado” num mundo digitalizado.
Desde o princípio, o foco foi atrelar ao tema pluralidade cultural os conteúdos/gêneros
textuais e esferas de circulação de Língua Portuguesa, objetivando trabalhar a leitura, a
oralidade e a escrita, explorar as diferentes formas de linguagens, verbal e não verbal,
verificar através das produções, a coesão e coerência das ideias, trabalhando de forma
interdisciplinar com História e Geografia, Arte e Educação Física, perfeitamente observável e
comprovado no encaminhamento e resultados das atividades.
Um assunto foi intercalado com o outro, de forma a permitir uma sequência lógica
entre subtemas, conteúdos e ações. Os conteúdos estruturantes da disciplina e os específicos
foram pesquisados de forma partilhada entre alunos, professores e comunidade, propiciando
aos envolvidos sair do senso comum, sair além dos muros da escola, possibilitar ao aluno ser
leitor, pesquisador, autor e agente de transformação.
Propôs-se ainda trazer até a sala de aula e ampliar para fora desta, como
complementação; utilizar as diferentes mídias como a televisão, redes sociais, Blog e afins
como ponto de partida e base de pesquisas e socialização de resultados. Os alunos foram
inseridos em grupos no Facebook e este passou a ser um espaço a mais de trocas de
informações e integração entre os envolvidos, ao mesmo tempo em que foi facilitador para
visitação do blog da disciplina.
Reitera-se sempre que o meio digital e as diferentes leituras advindas deste suporte são
“abertas”, frequentemente realizadas de forma individual, cabendo ao aluno fazer suas
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inferências, leituras e análises, longe do “olhar” do professor. Neste sentido, corrobora
(GARCIA; SILVA; FELÍCIO, 2012, p. 132) quando afirmam que:
[...] a leitura no meio digital, por exemplo, realiza-se alinearmente, não obedecendo
a uma sequência e não havendo a ideia de um todo previamente existente. Nesse
sentido, o leitor é mais do que um expectador, já que também realiza escolhas e
toma decisões (interatividade, colaboração, cooperação).
O projeto Pluralidade Cultural – De memórias à ger@ção.com construído, foi de usar
estes mesmos meios tecnológicos e virtuais como suportes de informação e socialização de
ideias sobre as diversidades e manifestações culturais brasileiras, excluindo todos e quaisquer
preconceitos gerados pelas diferenças, partilhando entre os participantes diferentes gêneros
textuais desde propagandas, folder, cartuns, grafite, fotos, artigos de opinião, editoriais,
vídeos entre outros, objetivando a produção de significados e educando para a mudança de
atitudes tendo como princípio a ética e o respeito entre os indivíduos. Ou seja, mudança de
atitudes enquanto cidadãos que transformam e são transformados.
Além de reviver e valorizar as manifestações culturais de forma geral, foram incluídos
os temas polêmicos, que propagam estereótipos e geram intolerância, previstos no programa
dos 9º Anos, como: diversidades, sexualidade, formas de violência, racismo, discriminação,
desigualdades sociais, prostituição infantil, atrelando estes ao trabalho e pensando em ações,
tendo como princípio o direito à igualdade e a aceitação das diferenças, salientando que a
riqueza da pluralidade se faz quando se respeita as diversidades.
O projeto possibilitou sobremaneira levar para outros espaços o resultado dos
trabalhos realizados em sala de aula, interagindo com a comunidade escolar e demais
ambientes, tanto usando os suportes midiáticos e redes sociais como os trabalhos de oralidade,
exposição de fotos, cartazes, danças, teatro, músicas e afins expandindo os resultados e
propiciando ao aluno ser leitor, pesquisador, e alguém que constrói conhecimento, o que foi
também observado durante os Seminário de Socialização sobre culturas e suas peculiaridades,
iniciando pelo município, estado do Paraná e depois o Brasil aproveitando/desfrutando o
momento especial vivenciado pela Copa do Mundo de 2014, momento ímpar de mistura de
culturas do mundo inteiro.
O Fórum Eron - Por um país plural sem preconceitos, culminou de forma espetacular
com o Projeto Pluralidade Cultural – De memóri@s à geração.com. Desde o início, o projeto
foi uma proposta construída, amadurecida e partilhada entre todos, já antevendo o momento
de conclusão do projeto. O objetivo maior do Fórum foi o de integrar os 150 alunos do
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Projeto com os demais alunos do colégio, ex-alunos, pais, professores, alunos de outras
escolas, artistas do nosso e de outros municípios, grupos de danças e de teatro, alunos e
professores da UNIOESTE, por meio do PIBID, tendo como tema norteador as diferentes
culturas, suas especificidades e a necessidade de valorização, respeito e interação entre todas.
Ao término do Fórum, comprovou-se que envolver a comunidade como um todo num
só tema, num “mundo” plural sem preconceito é possível, onde as diferenças acrescentam e
não diminuem, onde todas as culturas são importantes, onde cada um do seu jeito de viver é
especial e contribui para uma sociedade democrática, conforme é ressaltado na apresentação
do documento sobre Pluralidade Cultural MEC: “Para viver democraticamente em uma
sociedade plural é preciso respeitar os diferentes grupos e culturas que a constituem”
(BRASIL, 1997, p. 117).
Logo, é necessário investir realmente numa educação pautada para a utilização das
diferentes mídias e suportes de forma responsável e estes a serviço da democratização de
saberes. A escola, pelos professores, tem um papel fundamental a cumprir, pois será ele o
agente de transformação que vai mediar, direcionar, permear, conduzir/retomar e fazer com
que os objetivos para determinadas atividades e ou conteúdos sejam atingidos e ou
contemplados.
Conforme comenta Setton (2011, p. 103): “A competência do professor deve se
deslocar no sentido de incentivar a aprendizagem e o pensamento. O professor se torna um
animador da inteligência coletiva dos grupos que estão em seu encargo”. Portanto, neste
papel, o professor é o protagonista da inserção de diferentes suportes e conteúdos para serem
pesquisados, trabalhados de forma colaborativa propiciando e ampliando as práticas de
multiletramentos, considerando que a aquisição de saberes, conteúdos, ideologias
perpassaram há muito tempo o espaço escolar institucionalizado.
Considerações Finais
Como enfatiza Pier César Rivoltella: “Os jovens de hoje são criados numa sociedade
digital. Por isso, educar para os meios de comunicação é educar para a cidadania. Daí, a
urgência da escola se integrar e essa realidade” (DIDONÊ, 2007, p. 16). Estudar o tema
pluralidade cultural, rever aspectos culturais do país, estado e município, elaborar sequências
didáticas e aplicá-las, foi desafiador, instigante e envolvente. Explorar os temas pertinentes
que envolvem a vida dos alunos, já cidadãos em potencial, foi altamente gratificante.
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Dar voz ao aluno, saber que ele se percebe como alguém que pode e deve fazer a
diferença, torná-lo mais crítico, independente e questionador é tudo o que almejamos como
educadores. Perceber que o trabalho desenvolvido através das atividades, postagens no Blog e
socializado via redes sociais, incluindo as apresentações além muros da Escola, envolvendo a
família e a própria comunidade no processo ensino-aprendizagem, foi altamente positivo.
O projeto possibilitou de certa forma um “letramento digital” para os envolvidos, pois
muitos aprenderam a digitar, compartilhar, interagir e passaram a utilizar o Facebook para
receber e trocar de informações, acrescentar e opinar. Muitos começaram a buscar novas
informações no Blog da disciplina, sempre realimentado com fundamentações teóricas sobre
os gêneros textuais e atividades inerentes aos mesmos. A busca por sites disponibilizados em
relação a artes, músicas, folclore, formas de vivência, culturas mundiais diversas, enfim,
previamente elencados, conforme o gênero e tema estudado, também fez parte do dia a dia do
projeto. Comungamos da opinião de que
Diante do ‘novo’ e ‘multi’ mundo que se configura, trabalhar com elementos
culturais é uma maneira da escola lidar produtivamente com a questão da educação.
O uso das artes se justifica como uma ferramenta para a construção de pontes entre
pessoas de diferentes países, culturas, classes, grupos étnicos, gênero e posições de
poder... (GARCIA; SILVA; FELÍCIO, 2012, p. 124).
Sempre focando e relembrando o cuidado e o comportamento “midiático” exigido de
cada um como cidadão consciente e responsável, como menciona Martha Gabriel (2013, p.
185), com o qual concordamos: “[...] a educação digital focada em comportamentos on-line e
construção da reputação passa a ser fundamental na formação dos jovens”. Logo, durante
todas as atividades do Projeto sempre foi reiterado e relembrando esse cuidado e o
comportamento “midiático”, exigido de cada um como cidadão consciente e responsável pelo
que posta ou compartilha nas redes sociais, em particular e nos grupos.
É mister salientar a necessidade de atrelar o conteúdo trabalhado com as novas
tecnologias existentes nas escolas e nas casa dos alunos como nova estratégia metodológica,
novas propostas de aprendizagem, objetivando um aprofundamento e ou complementação do
ensino-aprendizagem, baseado em pesquisas, interação e socialização. Não é mais possível
negar a grande influência dos novos suportes e técnicas disponíveis como as redes sociais, os
blogs e a importâncias destes quando atreladas de forma conciente e organizada nos nossos
planejamentos. Desta forma, desde o ano de 2012, organizou-se um Blog da disciplina de
Língua Portuguesa, divulgado no Facebook, para conhecimento, troca de ideias, postagem de
textos, leituras das produções efetivadas pelos alunos, espaço para atividades enfim.
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O Blog e o Facebook são, sem dúvida poderosas ferramentas que podem e devem ser
utilizadas com fins educacionais dando um novo significado à aprendizagem, pois ambos
possibilitam a mostragem do trabalho elaborado, a socialização das produções e ações
propostas. São espaços virtuais, são novas culturas, em que o aluno pode interagir com uma
infinidade de pessoas, expondo sua opinião e ao mesmo tempo em que serve especificamente
como interação mais dinâmica e colaborativa entre autores e leitores.
Não se pode mais conceber a escola distanciada da inclusão digital, seja a
alfabetização, letramento, ou multiletramento, e estes, voltados para a dinamicidade e
inovação do processo de ensino-aprendizagem. Importante ressaltar que o todo resultado da
aquisição de conteúdos, da construção do conhecimento, da socialização de ações, da tomada
de decisões, através de tecnologias, mídias, suportes, de um trabalho individualizado ou
coletivo, é um processo em constante transformação e está incorporado às novas práticas
educativas. E por serem “novas”, necessitam estudos mais aprofundados, novos letramentos,
repensar o currículo diante das novas questões, analisar as esferas de onde emergem os
gêneros textuais, elaborar propostas fundamentadas e ancoradas nas diferentes possibilidades
de abordar a diversidade de gêneros associados a temas e ações que levem à produção de
conhecimento e reflexão.
É imprescindível que a escola seja um espaço democrático de aprendizagem, de
cooperação, de compartilhamento, de convivência pacífica entre as diferenças. Espaço este de
respeito, de tolerância entre diferentes manifestações culturais, eliminando o preconceito e
intensificando a luta contra e exclusão social, seja por meios tradicionais ou virtuais. É
essencial que as novas práticas, via diferentes mídias não sejam “entendidas” como
entretenimento ou lazer, ou simplesmente mais um canal diferente de transmitir um mesmo
currículo, mas que levem de fato os educandos a assumirem uma postura ética, crítica e que
sejam promotores de uma nova cultura, de um novo agir.
É papel da escola e dos professores reconhecerem que a virtualidade não abarca
unicamente o entretenimento, mas pode educar os estudantes para a ética, a estética,
e a crítica (por meio de e em diferentes linguagens e mídias) objetivando em última
instância, que os alunos produzam significados e sejam protagonistas da sociedade
em que vivem. (GARCIA; SILVA; FELÍCIO, 2012, p.133).
Complementarmente, é papel da escola instigar os alunos para que não se tornem
alienados de uma indústria cultural, que “engloba” ou “padroniza” a todos sem distinção,
induzindo muitas vezes para que todos pensem de uma mesma forma ou que não tenham
discernimento crítico. Nada que é produzido e veiculado pelas diferentes mídias é sem
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intenção e sem objetivo. Portanto, é no diálogo, na observação, comparação, discussão e
muitas leituras, analisando o contexto de produção, os interesses subjacentes a cada discurso,
as ideologias dominantes, que alunos, professores e demais envolvidos no processo de ensinar
e aprender tornar-se-ão “letrados” ou “multiletrados”, de forma mais crítica, mais autônoma e
aptos às novas habilidades exigidas para o novo milênio, especialmente no que se refere à
Língua Portuguesa e suas linguagens. Concordamos com o exposto...
“O ensino de língua portuguesa vê-se levado a promover novas práticas pedagógicas
que contemplem os atuais letramentos demandados pelas práticas que renovam e inovam as
relações sociais e instalam conflitos entre gerações” (MELO; OLIVEIRA; VALEZI, 2012, p.
152).
Repensando esta nova realidade educacional, com a forte e necessária presença das
TICs e diferentes serviços na escola e na sociedade, analisando de que forma escolher as
mídias que mais se adaptem ao perfil dos alunos, dos trabalhos e dos resultados esperados,
certamente, a aprendizagem será muito melhor, mais proveitosa, mais criativa e de forma
mais crítica. Isso foi possível perceber com o desenvolvimento do Projeto.
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