Dificuldade, distúrbio e transtorno

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Unidade 4
Dificuldade, distúrbio e transtorno
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Mesmo com tantas informações e diagnósticos prescritos de con‑
dições neuropsicológicas, há uma imensa confusão em relação ao que
é uma dificuldade, um distúrbio e um transtorno. Esta unidade discu‑
tirá essas terminologias e as causas e consequências desses problemas
que comprometem a aprendizagem.
Crianças com algum transtorno podem apresentar, desde pequenas, dificuldades na fala, no
andar e no correr. Por isso o professor é tão importante na vida das crianças, como fonte de
alerta para esses reais problemas.
A normalidade está relacionada aos padrões considerados adequa‑
dos para determinada realidade cultural, ou seja, o que é normal para
uma sociedade pode não ser para outra.
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No período entre o nascimento e os 6 meses, é normal que um bebê
chore porque tem fome ou algum desconforto, que reaja a barulhos ou
luzes e que tenha um sono tranquilo. Essas são algumas caracterís‑
ticas de crianças nessa faixa etária. O problema é quando a criança,
em determinado momento, chora sem parar, não dorme bem, só quer
mamar e ficar no colo, mesmo sem motivo aparente, o que cria uma
dificuldade. O problema torna‑se um distúrbio ou transtorno quando
a criança não demonstra nenhuma reação a estímulos, chora constan‑
temente, grita demasiadamente, não dorme ou dorme demais.
Na visão comportamentalista, distúrbio e transtorno são nomenclaturas que equivalem,
ou seja, tanto a palavra distúrbio quanto a palavra transtorno são usadas em uma
mesma situação, diferentemente da visão neurológica, que faz distinção entre distúrbio
e transtorno.
Quando essas características são pontuais, ficam inseridas no
padrão de normalidade e dificuldades que aos poucos se resolvem.
Todavia, quando a situação é constante, a criança deve ser encami‑
nhada ao pediatra, pois certamente algo errado está ocorrendo. Esse
profissional fará as devidas avaliações e encaminhará a criança para
consulta com o especialista necessário.
Para França (1996), estudioso comportamentalista, os termos dificuldade, distúrbio e transtorno têm suas diferenças. A dificuldade não
está centrada somente no aluno, ou seja, no seu processo de aprendiza‑
gem, mas também no processo de ensino (professor), em uma situação
emocional e na organização social. A dificuldade é pontual e deve ser
trabalhada por especialistas das áreas pedagógica, fonoaudiológica e/
ou psicológica para que seja excluída.
O distúrbio ou transtorno já difere da dificuldade por ser relacio‑
nado a algo patológico, que sugere comprometimentos neurológicos
das funções cerebrais. Os especialistas que trabalham com esses pro‑
blemas são os neurologistas e/ou psiquiatras, conforme cada caso
(OLIVER, 2010).
De acordo com o Comitê Nacional de Dificuldades de Aprendizagem,
nos Estados Unidos distúrbios de aprendizagem é a designação genérica
de um grupo heterogêneo de alterações manifestas por dificuldades
significativas na aquisição e no uso da audição, da fala, da leitura, da
escrita, do raciocínio ou de habilidades matemáticas. Essas alterações
são intrínsecas ao indivíduo e presumivelmente devidas à disfunção
do sistema nervoso central. Apesar de um distúrbio de aprendizagem
poder ocorrer concomitantemente com outras condições desfavoráveis
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(por exemplo, alteração sensorial, retardo mental, distúrbio social ou
emocional) ou influências ambientais (como diferenças culturais,
instrução insuficiente/inadequada, fatores psicogênicos), não é resul‑
tado direto dessas condições ou influências (PERRAUDEAU, 2009,
p. 119).
Um aluno com distúrbio de aprendizagem apresenta algumas
características que devem ser observadas atentamente pelo professor
(PERRAUDEAU, 2009, p. 117):
• refugia‑se no mutismo, ou seja, evita falar, recusa‑se a ir ao
quadro, participa pouco, deixa‑se esquecer;
• tem o sentimento, às vezes correspondente à realidade, de não
ser ouvido, de ser excluído, de ser rejeitado pelo professor;
• sente‑se marginalizado ou mantido afastado por seus colegas
no recreio, não se sente à vontade com seus amigos, tem difi‑
culdade em se inserir em uma atividade em grupo;
• busca de forma exclusiva o contato com o adulto, fala facilmente
com os professores, mas tem pouco contato com os colegas;
• perde o apetite, recusa‑se a comer antes de ir à escola, queixa‑se
de dor de barriga ou dor de cabeça;
• opera uma separação considerável entre a vida escolar e a vida
familiar.
Entretanto, esses indicadores não devem ser considerados como
fatores determinantes, pois há alunos que falam pouco e brincam sozi‑
nhos sem que isso seja um indicador de dificuldade, pois essas ações
fazem parte da sua personalidade. Descartando-se essas condutas par‑
ticulares, porém, esses indicadores discretos podem denotar grandes
problemas com a escola, com a sala de aula, os colegas e os professo‑
res e, por essa razão, devem ser levados em conta.
Os transtornos e suas características
Segundo Perraudeau (2009, p. 121), os transtornos podem ser clas‑
sificados conforme segue.
• Transtornos de saúde – São algumas disfunções que podem
evoluir ao longo do tempo, porém não afetam as funções cogni‑
tivas da pessoa. Mas há transtornos de saúde que podem inter‑
ferir nas estruturas neurológicas, como é o caso da epilepsia.
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• Transtornos do sono – Alteram os tempos de repouso do corpo
e resultam em insônia ou problemas contrários, como dormir
demasiadamente e ter pesadelos.
• Transtornos psicomotores – Podem se apresentar de diferentes
maneiras, como inibição psicomotora, a dispraxia sem dano
neurológico, os tiques e a hipercinesia. Pessoas com esses
transtornos podem apresentar dificuldades para aprender.
Dispraxia – É a dificuldade que a pessoa tem para pronunciar de forma ordenada uma
frase, uma palavra. Ela não tem noção da própria pronúncia, que às vezes pode estar certa
e, às vezes, errada. Esse transtorno na fala acontece porque existe uma pequena lesão no
cérebro, na parte da coordenação motora, que impede tal mecanismo de realizar o som da
palavra adequadamente. Geralmente quem tem dispraxia apresenta outras comorbidades
da fala, como disgrafia e dislexia.
É uma disfunção motora neurológica que impede o indivíduo de desempenhar os movimen‑
tos corretamente. É chamada de “síndrome do desastrado”.
Hipercinesia – Quem apresenta essa síndrome tem uma grande agitação motora que não
consegue controlar, pois é involuntária. A pessoa tem aumento de apetite, mas acompa‑
nhado de perda de peso. Apresenta suor e tremores, palpitação e irritabilidade. A hiperci‑
nesia tem relação com a disfunção da glândula tireoide.
• Transtornos ligados à depressão – A síndrome depressiva tra‑
duz‑se por uma depreciação que a pessoa faz de si mesma e do
mundo. Quando o aluno apresenta características pertinentes
à depressão (sono, perda de apetite, ansiedade, insônia etc.),
pode apresentar defasagem na aprendizagem.
• Transtornos de comportamento – Manifestam‑se por meio de
condutas inapropriadas, como roubo, mentiras, fugas, auto e
heteroflagelação.
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