Aula de português na ponta da língua tão fácil de falar e de entender Já esqueci a língua em que comia, Em que pedia para ir lá fora Em que levava e dava pontapé, A língua, breve língua entrecortada Do namoro com a prima. A linguagem na superfície estrelada de letras, sabe lá o que ela quer dizer? O português são dois; o outro mistério. A linguagem Carlos Drummond de Professor Carlos Góis, ele é quem sabe, Andrade e vai desmatando o amazonas da minha ignorância figuras de gramática, esquáticas, atropelam-se, aturdem-me, seqüestramme. LÍNGUA PORTUGUESA MORFOSSINTAXE Profa Eliana Nagamini Dezembro de 2007 Ensino da língua materna • Competência comunicativa: emprego da língua em diversas situações de comunicação • Adequação do ato verbal às situações de comunicação • Competências: gramatical ou lingüística e a textual • Competência gramatical ou lingüística: capacidade de gerar seqüências lingüísticas gramaticais • Competência textual: capacidade de, em situações de interação comunicativa, produzir e compreender textos • Capacidades textuais básicas: formativa (compreender, produzir e avaliar); transformativa (modificar e julgar a adequação para as modificações); qualificativa (reconhecer a tipologia de texto) Gramática • Normativa: manual com regras de bom uso da língua a serem seguidas por aqueles que querem se expressar adequadamente • Descritiva: descrição da estrutura e funcionamento da língua, de sua forma e função • Internalizada: variedades utilizadas por um conjunto de falantes de acordo com o exigido pela situação de interação comunicativa Meu professor de análise sintática era do tipo de sujeito inexistente. Um pleonasmo, o principal predicado da sua vida, regular como um paradigma da primeira conjugação. Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial, ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito assindético de nos torturar com um aposto. Casou com um regência. Foi feliz. Era possessivo como um pronome. E ela era bitransitiva. Tentou ir para os EUA. Não deu. Acharam um artigo indefinido em sua bagagem. A interjeição do bigode declinava partículas expletivas, conectivos e agentes da passiva, o tempo todo. Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça. Paulo Leminsky MORFOSSINTAXE Tradição gramatical Morfologia: estudo do vocábulo isolado Sintaxe: estudo vocábulos da combinatória dos Outro dia maltratei bastante o valor da linguagem como instrumento expressivo da vida sensível. Agora conto um caso que exprime bem a força dominadora das palavras sobre a sensibilidade. Quem reflita um bocado sobre uma palavra, háde perceber que mistério poderoso se entocaia nas sílabas dela. Tive um amigo que às vezes, até na rua, parava, nem podia respirar mais, imaginando, suponhamos, na palavra “batata”. “Ba” que ele, “ta”, repetia, “ta” assombrado. Gostosissimamente assombrado. De fato, a palavra pensada assim não quer dizer nada, não dá imagem. Mas vive por si, as sílabas são entidades grandiosas, impregnadas do mistério do mundo. A sensação é formidável. (Mário de Andrade, Os filhos da Candinha) Conceitos básicos (Carone) • Articulação: propriedade que têm as formas lingüísticas de serem suscetíveis de análise; divisão em partes • Articulação das unidades significativas ocorre no plano do conteúdo • Articulação dos fonemas situa-se no plano de expressão • Functivos: os dois elementos que contraem em si uma função • Função: papel exercido por um dos componentes em relação a outro Gramática: abrange a ocorrência de articulações entre unidades dotadas de significado Limites: morfema (menor unidade significativa) e período (simples ou composto MORFOSSINTAXE E GRAMÁTICA Morfossintaxe: estudo das variações formais que caracterizam os morfemas em relação com os processos sintáticos que as condicionam flexão = concordância = sintaxe (Kehdi) “toda sintaxe é morfologia e toda morfologia é sintaxe” (Hjelmslev) “a sintaxe é a morfologia da frase e a morfologia é a sintaxe da palavra” (Carone) MORFOSSINTAXE E GRAMÁTICA • Morfologia e sintaxe: ocorre que, a rigor, tudo na língua se refere sempre a combinações de “formas” (Bechara) • (Coseriu) a) “constitucional” (descreveria a configuração material da “forma” gramatical – palavras, oração e período); b) “funcional” (investiga as funções dos diferentes estratos de estruturação gramatical – paradigmas); c) “relacional” (estuda as relações entre os diferentes paradigmas pelos quais se expressam funções designativas análogas). (Bechara) MORFOSSINTAXE Traço fundamental que identifica morfologia e sintaxe: “é um só o princípio estrutural que organiza os elementos mórficos e os elementos sintáticos – uma relação de dependência que articula dois functivos, gerando uma unidade superior” RELAÇÕES • do sujeito ao predicado: o homem + apanha laranjas • do objeto ao verbo: apanha + laranjas • do complemento nominal ao nome: apanhador + de laranjas • do adjetivo ao substantivo: laranja + azeda • da desinência flexional a um tema: laranja + -s • do sufixo ao radical: laranj- + -al • no plano da expressão, da consoante à vogal: l + a MORFOLOGIA (LUFT) • MORPHE + LOG (OS) + IA = tratado, estudo das formas • Sentido restrito: se ocupa de problemas gramaticais (classes de palavras, categorias gramaticais, flexões, etc) • Sentido lato: trata de problemas lexicais (estrutura, formação e sentido de palavras, etc) MORFOLOGIA • Segundo a NGB, a morfologia trata das palavras: • a) quanto a sua estrutura e formação; • b) quanto a suas flexões; • c) quanto a sua classificação • a) refere-se à morfologia no sentido mais lato, lexical e b) e c) no sentido restrito, gramatical NOMENCLATURA GRAMATICAL BRASILEIRA • Problemas com a falta de padronização • Filólogos e pedagogos • Anteprojeto de Simplificação e Unificação da Nomenclatura Gramatical Brasileira Portaria n.36, de 28 de janeiro de 1959 • Art.1º - Recomendar a adoção da Nomenclatura Gramatical Brasileira, que segue anexa à presente Portaria, no ensino de Língua Portuguesa e nas atividades que visem à verificação do aprendizado, nos estabelecimentos de ensino • Art.2º - Aconselhar que entre em vigor: a)para o ensino programático e atividades dele decorrentes , a partir do início do primeiro período do ano letivo de 1959; b)para os exames de admissão, adaptação, habilitação, seleção e do art. 91, a partir dos que realizarem em primeira época para o período letivo de 1960. Clóvis Salgado CLASSES DE PALAVRAS (NGB) SUBSTANTIVO ARTIGO ADJETIVO NUMERAL PRONOME VERBO ADVÉRBIO PREPOSIÇÃO CONJUNÇÃO INTERJEIÇÃO CLASSE DE PALAVRAS Nova Gramática do Português Contemporâneo (CUNHA E CINTRA) • substantivos; adjetivos; artigos; numerais; pronomes; verbos; advérbios; preposições e conjunções • interjeições: vocábulo-frase CLASSE DE PALAVRAS Moderna Gramática Portuguesa (BECHARA) • Substantivo, adjetivo, artigo, pronome, numeral, verbo, advérbio, preposição, conjunção, interjeição SUBSTANTIVO Rocha Lima, Gramática portuguesa, p. 65: normativa da língua • “é a palavra com que nomeamos os seres em geral, e as qualidades, ações, ou estados, considerados em si mesmos, independentemente dos seres com que se relacionam.” SUBSTANTIVO Napoleão Mendes de Almeida, Gramática metódica da língua portuguesa, p. 80: • “Existem palavras que sempre designam coisa, ser, substância. Toda a palavra que encerra essa idéia denomina-se substantivo. Substantivo é, pois, como o próprio nome está a indicar, toda a palavra que especifica substância, ou seja, coisa que possua existência, ou animada (homem, cachorro, laranjeira) ou inanimada (casa, lápis, pedra), quer real (sol, automóvel), quer imaginária (Júpiter, sereia), quer concreta (casa), quer abstrata (pureza).” SUBSTANTIVO Evanildo Bechara, Moderna gramática portuguesa, p. 112: • “é a classe de lexema que se caracteriza por significar o que convencionalmente chamamos objetos substantivos, isto é, em primeiro lugar, substâncias (homem, casa, livro) e, em segundo lugar, quaisquer outros objetos mentalmente apreendidos como substâncias, quais sejam qualidades (bondade, brancura), estados (saúde, doença), processos (chegada, entrega, aceitação).” SUBSTANTIVO Celso Cunha & Lindley Cintra, Nova gramática do português contemporâneo, p. 171: • “é a palavra com que designamos ou nomeamos os seres em geral. • São, por conseguinte, substantivos: • a) os nomes de pessoas, de lugares, de instituições, de um gênero, de uma espécie ou de um de seus representantes (...) • b) os nomes de noções, ações, estados e qualidades, tomados como seres (...) • Do ponto de vista funcional, o substantivo é a palavra que serve, privativamente, de núcleo do sujeito, do objeto direto, do objeto indireto e do agente da passiva. Toda palavra de outra classe que desempenhe uma dessas funções equivalerá forçosamente a um substantivo (pronome substantivo, numeral ou qualquer palavra substantivada).” CLASSIFICAÇÃO DOS SUBSTANTIVOS Celso Cunha & Lindley Cintra, Nova gramática do português contemporâneo: • Os substantivos podem ser classificados como: - próprios e comuns - concretos e abstratos - coletivos CLASSIFICAÇÃO DOS SUBSTANTIVOS Evanildo Bechara, Moderna gramática portuguesa: concretos e abstratos concretos próprios e comuns; comuns contáveis e não-contáveis não-contáveis coletivos coletivos universais e particulares contáveis nomes de grupos CLASSIFICAÇÃO DOS SUBSTANTIVOS Rocha Lima, Gramática normativa da língua portuguesa: concretos e abstratos comuns e próprios comuns coletivos coletivos indeterminados e determinados indeterminados gerais (exército) e partitivos (batalhão) determinados numéricos (quantidade – par, dezena) e especiais (qualidade – cardume) CLASSIFICAÇÃO DOS SUBSTANTIVOS Nomenclatura Gramatical Brasileira - Comuns e próprios - Concretos e abstratos FLEXÃO DOS SUBSTANTIVOS • É a propriedade que têm certas classes de palavras de sofrer alterações na parte final (desinência), enquanto o restante (tema ou radical) pode ou não variar, em decorrência de motivações históricas de transformação. Podem ser: - variáveis: substantivo, artigo, adjetivo, numeral, pronome e verbo - invariáveis: advérbio, preposição, conjunção (e interjeição FLEXÃO DOS SUBSTANTIVOS Celso Cunha & Lindley Cintra, Nova gramática do português contemporâneo: • NÚMERO: singular; plural • GÊNERO: masculino; feminino • GRAU: normal; aumentativo; diminutivo FLEXÃO DOS SUBSTANTIVOS Evanildo Bechara, Moderna gramática portuguesa: • NÚMERO: singular; plural • GÊNERO: masculino; feminino • GRAU: aumentativo; diminutivo; auxiliados por sufixos derivacionais FLEXÃO DOS SUBSTANTIVOS Nomenclatura Gramatical Brasileira • NÚMERO: singular; plural • GÊNERO: masculino; feminino; epiceno; comum de dois gêneros; sobrecomum • GRAU: aumentativo; diminutivo SUBSTANTIVOS CONCRETOS designam “coisa que tem subsistência própria, isto é, coisa que existe de per si: livro, lápis, luz.” (NMA) “designam seres que têm existência independente, ou que o pensamento apresenta como tal. Pouco importa que tais seres sejam reais ou não, materiais ou espirituais.” (RL) “é o que designa ser de existência independente: casa, mar, sol, automóvel, filho, mãe.” (EB) “designam os seres propriamente ditos, isto é, os nomes de pessoas, de lugares, de instituições, de um gênero, de uma espécie ou de um de seus representantes” (CCLC) SUBSTANTIVOS ABSTRATOS • designam “coisa que não tem subsistência própria, ou seja, (...) que só existe em nossa mente” (NMA)* • “designam nomes de qualidades, ações ou estados – umas e outros imaginados independentemente dos seres de que provêm, ou em que se manifestam.” (RL) • * Nota do autor: “A classificação dos substantivos em concretos e abstratos pertence mais à filosofia que à gramática; encerra ou gera sutilezas ou discrepâncias de nenhum proveito para o idioma.” • designam o “ser de existência dependente: (...) ações (beijo, trabalho, saída, cansaço), estado e qualidade (prazer, beleza), considerados fora dos seres, como se tivessem existência individual.” (EB) • “designam noções, ações, estados e qualidades, considerados como seres” (CCLC) “Designação dada aos nomes, usados como substantivos, para as qualidades e as ações, que ficam assim abstraídas dos seres que, respectivamente, as possuem ou as executam. O substantivo abstrato de qualidade associa-se assim a um adjetivo, que exprime a mesma qualidade como atributo de um determinado ser; ex.: tristeza (cf. triste). O substantivo abstrato de ação se associa, por sua vez, a um verbo, que exprime a mesma ação por um determinado ser; ex. julgamento (cf. julgar). (...) a forma plural serve às vezes para opor o uso concreto do abstrato ao seu uso como abstrato (cf. bens <objetos de riqueza> oposto a bem <felicidade ou virtude>).” (MATTOSO CAMARA, Dicionário de Lingüística e Gramática) SUBSTANTIVOS COMUNS • “Quando se aplica a todos os seres de uma mesma espécie ou quando designa uma abstração” (CCLC) • “É o que se aplica a um ou mais objetos particulares que reúnem características inerentes a dada classe: homem, mesa, livro, cachorro, lua, segunda-feira” (EB) SUBSTANTIVO PRÓPRIO • “Quando se aplica a determinado indivíduo da espécie” (CCLC) • “É o que se aplica a um objeto ou a um conjunto de objetos, mas sempre individualmente. Isto significa que o substantivo próprio se aplica a esse objeto ou a esse conjunto de objetos, considerando-os como indivíduos” (EB) • Antropônimos, topônimos, prenome, sobrenome, apelido (EB) FUNÇÕES SINTÁTICAS DO SUBSTANTIVO NA ORAÇÃO (CCLC) • sujeito • predicativo do sujeito, do objeto direto, do objeto indireto • objeto direto • objeto indireto • complemento nominal • adjunto adverbial • agente da passiva • aposto • Vocativo FUNÇÕES SINTÁTICAS DO SUBSTANTIVO NO SINTAGMA (CCLC) • como adjunto adnominal: • como caracterizador do adjetivo: amarelo-ouro, azul-petróleo (equivale a advérbio de modo) • caracterizado por um nome: o raio do menino • como núcleo das frases sem verbo (nominais): Nova crise no Oriente Médio