Teorias dos Movimentos Sociais – Paradigmas Clássicos e

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“Teorias dos Movimentos Sociais –
Paradigmas Clássicos e
Contemporâneos”,
Maria da Glória Gohn
Matéria: Movimentos Sociais, Poder Político e
Cidadania
Professora: Nair Bicalho
Aluna: Patrícia Reis Paiva
A autora
• Gohn é socióloga (1970), mestre em Sociologia (1979) e
doutora em Ciência Política (1983) pela Universidade de
São Paulo. Pós-doutorado em Sociologia (1996) na New
School University, Nova York;
• Desde 2002 é Secretaria do board do Research
Committee Social Movements and Social Classes;
• Tem experiência na área de Educação, com ênfase em
Educação Não Formal, atuando principalmente nos
seguintes temas: movimentos sociais, cidadania,
movimento social e educação, formação do educador
social, organização da sociedade civil em ONGs e redes
solidárias do Terceiro Setor, e políticas sociais.
A obra
• 1ª ed. 1997; 6ª ed. 2007;
• Objetivo geral: mapear
paradigmas e teorias
sobre movimentos
sociais;
• Divisão em 3 partes:
abordagem norteamericana; produção
teórica européia; e
paradigma latinoamericano.
Apresentação
• 4 objetivos básicos (p.9):
 Sistematizar principais teorias e paradigmas;
 Realizar estudo comparativo entre teorias (semelhanças e
diferenças);
 Apresentar o caso da América Latina e a inadequação de teorias
correntes;
 Delinear tendências para o Brasil com base na globalização da
economia, política e relações socioculturais.
• Motivações e razões (p.9-10): ausência/limitação de textos na
literatura brasileira:
 A produção brasileira se caracterizou por: estudos de natureza
empírico-descritiva (centro: fala dos agentes), divisão em áreas
acadêmicas, com foco no paradigma europeu;
 Resultado dessa produção: inadequação do uso de teorias
elaboradas no exterior para analisar o Brasil e a América Latina,
e silêncio sobre o paradigma norte-americano.
Apresentação
• Anos 60, o estudo se ampliou através de várias teorias no mundo,
devido:
 À visibilidade dos movimentos (enquanto fenômenos históricos
concretos na sociedade);
 Ao desenvolvimento de teorias sobre o social e ações coletivas;
 Ao deslocamento de interesse do “Estado” para a “sociedade
civil”.
• Apesar do interesse dos cientistas sociais, permanecem grandes
questões (lacunas ou problemas não resolvidos): conceito de
movimento social e novos movimentos sociais, distinção da ação
coletiva do MS e das ONGs, papel no final do século. “... Entre o
futuro e o passado, como eles se situam de fato no presente? ”
(p.11).
• Noção de MS (semelhante a Melucci): “movimentos transitam,
fluem, acontecem em espaços não consolidados das estruturas e
organizações sociais” (p.12). São inovadores (Habermas) e atuam
como “lente” (Melucci). Gohn também coloca que não há um único
conceito, “mas vários, conforme o paradigma utilizado” (p.13) (tb:
p.19).
Apresentação
• Europa e EUA: posturas metodológicas geraram
teorias próprias.
• América Latina: posturas metodológicas
híbridas, orientadas por teorias criadas em
outros contextos (ex: NMS).
• Hoje com a globalização da economia e as
tendências dos processos sociais nos anos 90
há um intercâmbio entre pesquisadores e o uso
de análises comparativas. Tarefa enfrentada:
separar tendências gerais de especificidades
nacionais.
Apresentação – divisão com recorte histórico
Teorias (critério geográficoespacial)
Paradigma norte-americano
(estrutura das organizações):
Teorias clássicas sobre ação
coletiva
Categorias básicas (p.14 e 15)
Sistema, organização, ação coletiva,
comportamentos organizacionais,
integração social, etc
MR
MP
Produção teórica européia – no
plural
Conceitos e noções
Escolhas racionais,
mobilização de
recursos,
institucionalização de
conflitos, ciclos de
protestos, frames,
oportunidades
políticas (*80), etc
-
NMS (foco mais conjuntural, nos
microprocessos da vida cotidiana)
Cultura, identidade, subjetividade,
atores sociais, interação política, etc
Identidade coletiva,
solidariedade, redes
sociais, etc
Teorias marxistas de análise dos
movimentos (processo histórico
global de contradições e lutas de
classes)
Classes sociais, contradições, lutas,
consciência, etc
Experiência coletiva,
projeto político,
cultura política, etc
Paradigma latino-americano
70 (marxismo): hegemonia,
contradições urbanas e lutas sociais
80 (NMS): autonomia e identidade.
Releitura: novos sujeitos históricos,
cidadania coletiva, exclusão social, etc
Realidade latino-americana
Movimentos sociais no Brasil
Brasil nos anos 90 e a globalização
Apresentação – América Latina
• Paradigma próprio a ser construído, há esboços;
• Dilemas:
 Ênfase (p.16): estrutura (estruturalistas) x ator social
(interacionistas);
 Terreno de deslocamento (p.17): fatores sóciopolíticos (NMS) ou político-econômicos (marxista)
• Problemas gerados pela globalização da economia
(políticas econômicas neoliberais, economia informal)
foram situados na discussão do paradigma latinoamericano e no Brasil:
 Ação coletiva, a partir de 90, voltada para
“resultados”;
 Protestos diminuíram e militância decresceu.
Apresentação – desfecho
• “Movimentos sociais são fenômenos históricos,
decorrentes de lutas sociais. Colocam atores
específicos sob as luzes da ribalta em períodos
determinados. Com as mudanças estruturais e
conjunturais da sociedade civil e política, eles se
transformam” (p.19-20).
• “Enquanto a sociedade não resolver seus
problemas básicos de desigualdades sociais,
opressão e exclusão, haverá lutas, haverá
movimentos. E deverá haver teorias para
explicá-los...” (p.20).
Considerações Finais
• Conclusão geral: não há teoria,
concepção e tipo únicos de movimento
social. “Há várias teorias formadas em
paradigmas teóricos explicativos” (p.327).
Considerações Finais – Conceito de
movimento social na bibliografia geral das
ciências sociais
• Movimentos sociais como objeto de estudo junto com o nascimento
da sociologia (p.328), também é tema da política (p.329).
• 1920-1960 predomínio da abordagem clássica na sociologia norteamericana, com foco nas ações e comportamentos coletivos:
 Escola de Chicago: interacionismo simbólico. Movimento como
problema, disfunção da ordem. Destaque: Blumer (dec. 50), que
dividia os MS em gerais e específicos, abordando estrutura,
funcionamento e o papel das lideranças;
 Abordagem sócio-psicológica: comportamento coletivo das
massas (segundo características biológicas e culturais).
Indivíduo dentro de uma macroestrutura social: a inadaptação
gera desajuste, conflito. Destaque: Durkheim (anomia social) e
Smelser (análise estrutural-funcionalista) (dec. 60);
 Abordagem sociedade de massas. Distúrbios populares (riots).
Base: Le Bon (1895).
Considerações Finais – Conceito de
movimento social na bibliografia geral das
ciências sociais
• Maior visibilidade dos MS nas décadas de 60, 70 e 80 e a mudança
no paradigma norte-americano.
• Até os anos 50: movimento social associado à luta de classes
(paradigma marxista). Os movimentos eram vistos como:
reformistas (mudança), reacionários ou revolucionários
(transformação social).
• Anos 50-60: novos olhares (estudantes, mulheres, paz). Revisão da
teoria comportamentalista-funcionalista norte-americana, dando
origem a MR. Olson (1963) (teoria da escolha racional), McCarthy e
Zald (1972 e 1979) (OMS), Snow (1986) (Frames), Tilly (1978)
(Repertórios de ação coletiva). Ótica econômica, com objetivos de
organização, interesses, recursos, oportunidades e estratégias.
• Anos 80: revisão do MR e debate com o NMS – Cohen (1985) e
Tarrow (1994) (oportunidades políticas), formando a MP.
• Anos 90: teoria das oportunidades políticas.
Considerações Finais – Conceito de
movimento social na bibliografia geral das
ciências sociais
• Na Europa, a partir de 60, um novo paradigma
para as ações sociais (estudantes, mulheres,
paz, ecologia), tornando os MS como tema
central de investigação:
Abordagem neomarxista. Castells (1972),
Hobsbawn;
NMS. Touraine (1975) (MS, acionalismo dos
atores), Melucci (1984) (noção de MS e NMS,
identidade coletiva), Offe (1988), Cohen
(1985).
Considerações Finais – Conceito de
movimento social na bibliografia geral das
ciências sociais
• Anos 70 e 80 nos países do Terceiro Mundo:
 Novos atores, problemáticas, cenários sócio-políticos.
Gohn (1985), Scherer-Warren (1987). A maioria dos
estudos foram histórico-descritivos.
• Anos 90 na América Latina. Surgimento de ONGs por
uma teoria da Ação Comunicativa (recuperação do
pensamento de Habermas em 70). Ampliação do tema:
“protestos sociais”, “grupos políticos e políticas
públicas”, “grupos de pressão”, “direitos sociais”.
• Anos 90 no mundo: aumento de publicações (EUA e
Europa) ao mesmo tempo do “declínio da importância e
centralidade dos movimentos sociais de forma geral, na
sociedade ocidental, desenvolvida e em
desenvolvimento” (p.336). Também houve uma
tendência de unir abordagens (lidar com ação e
estrutura, micro e macroteoria, e articulação entre
disciplinas).
Conceitos gerais – tentativa de cronologia geral
Décadas
Paradigmas
(séc. XX)
EUA
Europa
Am. Lat.
Antes 20
Funcionalismo
Marxismo x
distúrbios populares
Marxismo
20-40
T. Clássica
Marxismo
Marxismo
50
T. Clássica/ MR
Influencia de Parons
tb
Marxismo
Inglaterra - ações
coletivas (Weber e
Parsons)
Marxismo
60 ( maior
visibilidade dos MS)
MR
NMS/ neomarx.
Marxismo
70
MR
NMS/ neomarx.
Marxismo
80
MP (MR + NMS)
NMS/ neomarx.
NMS
90
MP (novidade:
oportunidade
política – Tarrow)
NMS/ neomarx.
NMS
Considerações Finais – A globalização e a
reconstrução dos paradigmas
• Mudanças com a globalização da economia, declínio do
marxismo, revitalização das políticas neoliberais, entre
outras, afetaram “os referenciais dos paradigmas sobre
movimentos sociais”(p.338). A “sociedade civil” toma um
papel mais destacado (não mais autonomia de grupos).
• Anos 90: volta das marchas e concentrações (em nível
internacional) com milhares de pessoas nas ruas. Mas, a
militância mudou, é mais seletiva e qualitativa (vida pessoal>
interesses do movimento: mais racionalidade, estratégia e
menos paixão).
• Redefinição dos movimentos para um “caráter mais global”.
• Cuidado: “homogeneização que recobre as profundas
diferenças e desigualdades” (p.339).
• Mais formas x menos esperanças de transformação. É
preciso fazer novas reflexões sobre “liberdade, igualdades,
solidariedade e fraternidade” (p.340).
Considerações Finais – A globalização e a
reconstrução dos paradigmas - desfecho
• “... Embora haja razoável nível de coerência interna
entre as noções e categorias utilizadas, e uma produção
considerável a respeito, aquelas teorias não chegam a
delinear matrizes ou corpos teóricos totalmente
satisfatórios” (p.342).
• “... Nunca haverá uma teoria completamente pronta e
acabada sobre eles (movimentos sociais). Trata-se de
uma característica do próprio objeto de estudos. Os
movimentos são fluidos, fragmentados, perpassados por
outros processos sociais. Como uma teia de aranha eles
tecem redes que se quebram facilmente, dada sua
fragilidade.... Mas, sempre presentes” (p.343).
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