Laplantine, François. “Os pais fundadores da Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1994. etnografia”. In: Aprender - Se existiam no final do século XIX homens (geralmente missionários e administradores) que possuíam excelente conhecimento das populações no meio das quais viviam (ex.: Codrington, 1891, melanésios; Spencer e Gillen, 1899, aborígines australianos; Junod, 1898, A Vida de uma Tribo Sul-Africana) a etnografia propriamente dita só começa a existir a partir do momento no qual se percebe que o pesquisador mesmo deve efetuar no campo sua própria pesquisa e que esse trabalho de observação direta faz parte da sua pesquisa (p. 75). - Ocorre uma revolução na disciplina durante os primeiros 30 anos do século XX. Cessa a repartição de tarefas entre o observador (viajante, missionário, administrador), com papel subalterno de provedor de informações; e o pesquisador erudito, que fica na metrópole a receber, analisar e interpretar os dados observados por outrem [Separação entre a figura do filósofo e a do viajante vinha desde XVIII] (p. 75). - O pesquisador deixa seu gabinete de trabalho para ir compartilhar da intimidade daqueles que deixam de ser considerados informantes a serem questionados e se tornam aqueles que o recebem como hóspede e mestres que o ensinam. O pesquisador aprende, como se fosse um aluno, não apenas a viver entre os outros, mas a viver como eles, a falar sua língua e a pensar nessa língua – a sentir as emoções dos outros a partir de si mesmo [Isso fica como um norte, um norteador da pesquisa, um processo que nunca se completa – não se trata de “virar nativo”, mas de buscar compreender suas maneiras de sentir e de estar no mundo] (p. 76). - “Em suma, a antropologia se torna pela primeira vez uma atividade ao ar livre, levada, como diz Malinowski, „ao vivo‟, em uma „natureza imensa, virgem, aberta‟” (p. 76). - O trabalho de campo está longe de ser um modo de conhecimento secundário a fim de ilustrar uma tese. Ele é considerado a própria fonte de pesquisa (p. 76). Houve toda uma nova geração de antropólogos/as que, desde os primeiros anos do século XX, realizou pesquisas prolongadas entre populações ao redor do globo [ou, ao menos, onde havia colônias européias]. Alguns exemplos: Em 1906 e 1908, Radcliffe-Brown estuda os habitantes das ilhas Andaman. Em 1909 e 1910, Seligman dirige uma missão científica no Sudão. Alguns anos mais tarde, no entre Guerra, Malinowski permanece entre os melanésios de um pequeno arquipélago, as ilhas Trobriand. Fala dos trobriandeses. 1901 – Rivers, umdos fundadores da antropologia inglesa, os Toda da Índia; depois da I GM, Evans-Pritchard estuda entre os Azande e os Nuer; Nadel, entreos Nupes da Nigéria; Fortes, os Tallensi; Margaret Mead, ilhéus da Nova Guiné etc (p. 76). - Mas duas figuras são centrais para pensarmos na elaboraçã da etnografia, do trabalho de campo antropológico. Um americano de origem alemã, Franz Boas; e um polonês naturalizado inglês, Bronislaw Malinowski [E ambos vieram das ciências naturais – o primeiro, geógrafo e físico; o segundo era físico também]. - Boas (1858-1942). - Ele trouxe uma virada antropológica. Era um homem de campo. Pesquisas pioneiras, iniciadas no final do século XIX (em particular entre os Kwakiutl e os Chinook da Colúmbia Britânica [Canadá]) (p. 77). - Foi ele quem ensinou que tudo deveria ser meticulosamente anotado em campo: desde os materiais constitutivos das casas até as notas das melodias cantadas pelos esquimós – e atentando para o detalhe do detalhe [para os mínimos detalhes]. - “Tudo deve ser objeto da descrição mais meticulosa, da retranscrição mais fiel (por exemplo, as diferentes versões de um mito, ou diversos ingredientes entrando na composição de um alimento)”, diz o Laplantine (p. 77). - Quanto às sociedades. Cada uma delas tem o estatuto de totalidade autônoma. Formula, junto com colaboradores [como Lowie] uma crítica radical e elaborada das noções de origem e de reconstituição de estágios [e Malinowski e RadcliffeBrown seguem essaorientação – não se pode opor sociedades “simples” a “complexas”, “inferiores” evoluindo para algo “superior”; as primeiras não são “formas originais” das quais as segundas “se originam”. Contra idéia de “sobrevivências” culturais] (p. 77). - Para Boas, um costume só tem significação se relacionado ao contexto particular no qual se inscreve, E para compreender o sigificado ou o lugar particular de determinado costume não se pode mais confiar em investigadores outros e muito menos naqueles que, lá da metrópole, confiam neles. Só o próprio antropólogo pode elaborar uma monografia – dar conta cientificamente de uma microssociedade, apreendida em sua totalidade e considerada em sua autonomia teórica. Observador e teórico estão finalmente reunidos aqui, nessa perspectiva. Nasce uma etnografia profissional que não se contenta mais em coletar dados, à maneira de um antiquário – procura é detectar o que faz a unidade da cultura que se expressa através desses materiais (p. 77-78). - Boas considera que não existe objeto mais ou menos importante na ciência. As piadas de um contador são tão importantes quanto a mitologia que expressa o patrimônio metafísico de um grupo (p. 78). Anunca algo que hoje é chamado de “etnociência” [saberes locais, explicações científicas nativas espalhadas ao redor do globo, idéia por exemplo de “medicina tradicional” etc.]. - Foi um dos primeiros a nos mostrar a importância, a necessidade do acesso à língua nativa, à língua da cultura que se está buscando estudar (p. 78). [Falar a mesma língua de seus interlocutores passa a ser fundamental – ainda mais se a gente tem em mente que esse não deixa de ser um procedimento que acaba por atenuar as desigualdades em termos de relações de poder entre sujeito e “objetos”/informantes – aliás, como chamá-los? Essa é uma questão importante também] (p. 78). - Boas nunca escreveu nenhum livro nenhuma obra acabada, com rigor e concisão. Diferentemente do Malinowski com ua escrita carregada de emoção e até do Frazer, com seu charme na escrita, apesar d suas idéias evolucionistas terem sido bastante criticadas (p.79). Boas também nunca formulou de maneira bem acabada uma teoria. É um pensador, desses pontos de vista, modesto (p. 79). - De qualquer modo, sua influência foi considerável. Foi um dos primeiros etnógrafos. Além da preocupação com a descrição precisa dos fatos observados, também se preocupou com a conseração metódica do patrimônio recolhido (foi conservador do Museu de Nova Iorque). E como professor formou toda uma geração de antropólogos e antropólogas americanos/as (Kroeber, Lowie, Sapir, Herskovitz, Linton, Ruh Benedict, Margaret Mead). Permanece como “mestre incontestado da antropologia americana na primeira metade do século XX” (p. 79). - Malinowski (1884-1942). - Ele dominou a cena antropológica por 20 anos, entre 1922, ano de publicação de Os Argonautas do Pacífico Ocidental, até sua morte em 1942 (p. 79). - 1) Trabalho de campo. Não foi o primeiro a conduzir uma experiência etnográfica, mas radicalizou essa prática – procurou romper ao máximo durante o campo contatos com o mundo europeu. Ninguém antes dele tinha se esforçado tanto para penetrar intensamente na mentalidade dos outros e em compreendê-los desde dentro. Uma verdadeira busca por uma despersonalização, para entender o que sentem os homens e mulheres que pertencem a outra cultura. Como no caso das ilhas Trobriand, onde fez trabalho de campo (p. 80). - Enquanto Boas e seus discípulos queria mostrar o maior número possível de correlações entre variáveis, Malinowski queria mostrar como a partir de um único costume, ou mesmo d um único objeto (por eemplo, a canoa trobriandesa), aparece o perfil do conjunto de uma sociedade. - 2) Totalidade – Relativismo. Malinowski rompe com a chamada história conjectural (reconstituição especulativa dos estágios da história unilinear) e também com a teoria difusionista (que tendeu, no início do século, a ocupar o lugar do evolucionismo e postulava a existência de centros de difusão de cultura, a qual se transmite por empréstimos – uma geografia especulativa). Para ele, uma sociedade deve ser estudada enquanto uma totalidade e tal como “funciona” no momento da observação [“presente etnográfico”] (p. 80). - Sua postura era bem diferente da de Frazer (“Deus me livre!”). Frazer inclusive escreve o prefácio dos Argonautas. E a orientação metodológica de Malinowski é bem diferente da dele. “Enquanto Frazer procurava responder à pergunta: „Como nossa sociedade chegou a se tornar o que é?‟; e respondia escrevendo essa „obra épica da humanidade‟ que é O Ramo de Ouro, Malinowski se pergunta o que é uma sociedade dada em si mesma e o que a torna viável para os que a ela pertencem, observando-a no presente através da interação dos aspectos que a constituem” (p.81). - A Antropologia se torna uma ciência da alteridade – deixa de fazer sentido a perspectiva evolucionista e a busca por reconstituir as origens da civilização e passa a ser importante estudar as lógicas particulares características de cada cultura. A lição principal dos Argonautas é que os costumes trobriandeses t~em uma significação e uma coerência. Hoje todos os antropólogos sabem que sociedades diferentes dasnossas são sociedades humanas também, que se comportam de maneira diferente de nós, e não “primitivos” atrasados que pararam no tempo e vivem tradições estúpidas. Mas nos anos 1920 essas idéias eram verdadeiramente revolucionárias! (p. 81). - 3) Teoria. Funcionalismo. Para pensar a coerência interna de cada sociedade, Malinowski elaborou a teoria funcionalista, que tira seu modelo das ciências naturais. Elabora [uma teoria controvertida] a idéia das necessidades básicas, ou fundamentais. Cada cultura tem como função satisfazê-las, sempre à sua maneira particular. E realiza isso elaborando instituições (econômica, políticas, jurídicas, educativas etc.), que fornecem respostas coletivas e organizadas e constituem, cada uma à sua maneira, soluções originais para atender a essas necessidades (p. 81). - 4) Quarta característica de Malinowski. Sem “fronteiras disciplinares”. Preocupação em abrir tais fronteiras. O homem deve ser estudado através da tripla articulação entre o social, o psicológico e o biológico. - Para ele, uma sociedade funciona ao modo de um organismo (p. 82). - Ele procura reviver nele próprio os sentimentos dos outros, fazendo da “observação participante” uma participação psicológica do pesquisador. O antropólogo deve “compreender e compartilhar os sentimentos” das pessoas que estuda e tentar “interiorizar suas reações emotivas” (p. 82). - Assim sendo, a partir dele a Antropologia supõe uma identificação (ou pelo menos uma busca pela identificação) com a alteridade. A vida social do Outro não é mais considerada como forma social anterior à civilização, mas como uma forma que lhe é contemporânea. [Isso não significa que Mlinowski não tenha, em alguns momentos, “exagerado na dose” e caído na armadiha, digamos assim, da idealização romântica do selvagem. Eles seriam “autênticos”, algo que nos faz falta. Ler trecho da página 51] (p. 83). - Sua teoria, o funcionalismo, que desenvolve no final da vida, era muito rígido e foi alvo de muitas críticas. “Nesta perspectiva, as sociedades tradicionais são sociedades estáveis e sem conflitos, visando naturalmente a um equilíbrio através de instituições capazes de satisfazer às necessidades dos homens. Essa compreensão naturalista e marcadamente otimista de uma totalidade cultural integrada, que postula que toda sociedade é tão boa quanto pode ser, pois suas instituições estão aí para satisfazer a todas as necessidades defronta-se com duas grandes dificuldades: como explicar e mudança social?” [Como dar conta dos conflitos?] (p. 83). - Essa idéia de funcionalismo não tem relação com a realidade colonial dos anos 1920. Essa situação colonial é “ocultada” nessa perspectiva [“Ah, num vi...”]. A antropologia vitoriana era a justificativa do período da conquista colonial [evolucionismo]. O discurso monográfico a-histórico do funcionalismo não deixa de ser uma justificação de uma nova fase do colonialismo (p. 83-84). - Apesar dessas críticas, há contribuições importantes de Malinowski. Vejamos: - Deixa o legado da observação participante. É o primeiro a colocá-la em prática. Só participando da existência dos outros é que se pode conhecê-los em profundidade. Esse fato de efetuar uma estadia prolongada, impregnar-se da mentalidade de seus hóspedes esse esforçar para pensar em sua própria língua pode parecer banal hoje, trivial até. Mas não o era durante os anos 1914-1920 na Inglaterra, e muito menos na França. “Malinowski nos ensinou a olhar”, dando o exemplo do que deveria ser uma investigação de campo – muito mais do que um mero “investigador” questionando “informantes” (p. 84). - Em segundo lugar, nos Argonautas pela primeira vez o social deixa de ser anedótico, “curiosidade exótica”. Assim, por exemplo, as canoas trobriandesas são descritas em relação ao grupo que as fabrica e utiliza, ao ritual mágico que as consagra, ás regulamentações que definem sua posse, etc.. Algumas transportando de ilha em ilha colares de conchas vermelhas, outras, pulseiras de conchas brancas, efetuando em sentidos contrários percursos invariáveis, passando necessariamente de novo por seu local de origem. Ele busca mostrar que estamos diante de um processo de troca generalizado, irredutível a uma dimensão puramente econômica, pois nos permite perceber os significados políticos, mágicos, religiosos, estéticos do grupo todo que do Kula participa (p. 8485). [Da Matta. Relativizando.p. 107-108-109]. - Uma terceira qualidade de Malinowski é a restituição da existência desses homens e mulheres que puderam ser conhecidos a partir de uma relação e de uma experiência pessoais. Ele conduz um projeto científico sem abrir mão da sensibilidade artística. Isso é antropologia, vai dizer o Laplantine. Assim, ele nos ensinou não só a olhar, mas a escrever. Restituindo cor e relevo às cenas da vida cotidiana [o que ele próprio vai chamar de “carne, sangue e espírito”] (p. 85).E os Argonautas é um livro exemplar nesse sentido. - Mesmo a Antropologia Visual já estava anunciada nos Argonautas – fotografias tiradas em 1914 pelo autor figuram no livro (p. 86). Laplantine, François. “Os primeiros teóricos da Antropologia”. In: Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1994. - Vai falar aqui de Durkheim e Mauss. - Boas e Malinowski fundaram a Etnografia. Mas Boas não era um teórico. Equanto ao segundo, o que há de teórico em sua obra é que é contestado. - Laplantine vai dizer que faltava á Antropologia instrumentos operacionais que permitissem construir um verdadeiro objeto científico. E foi nisso que se empenharam pensadores franceses dessa época, que pertenciam à chamada “Escola Francesa de Sociologia”. Partiam da idéia da autonomia do social. Mas faltava, para que isso alcançasse um caráter propriamente científico, elaborar um quadro teórico, conceitos e modelos que fossem próprios da investigação do social. Ou seja, que independessem tanto da explicação histórica (evolucionismo), geográfica (difusionismo), biológica (o funcionalismo de Malinowski [com suas necessidades básicas universais]) ou mesmo psicológica (p. 87). - São filósofos e sociólogos que vão fornecer à Antropologia o quadro teórico e os instumentos analíticos que ainda lhe faltavam (p. 88). - Durkheim nasceu em 1858, mesmo ano de nascimento de Boas. Em suas primeiras pesquisas era distanciado da Antropologia e da prática etnográfica. - Sua preocupação era mostrar que havia uma especificidade do social, e que portanto a sociologia, ciência dos fenômenos sociais, deveria se emancipar dos demais discursos sobre o homem, incluindo a psicologia. Não estava questionando a existência da psicologia, nem sua pertinência [ou validade]. Mas era contrário a explicações psicológicas do social. Por exemplo: a relação do homem com o sagrado não poderia ser abordada psicologicamente estudando os estados afetivos dos indivíduos, ou uma suposta psicologia coletiva. Do mesmo modo como a linguagem, que também é fenômeno coletivo, não poderia encontrar sua explicação na psicologia daqueles e daquelas que a falam, sendo algo independente da criança que a aprende, sendo-lhe exterior, a precedendo e continuando a existir depois que ela morra (p. 88-89). - Assim, os fatos sociais são coisas que só podem ser explicadas em relação com outros fatos sociais. A sociologia conquista com Durkheim uma autonomia, e relação às demais ciências e explicações sobre o homem (p. 89). [Intuito de mostrar como fenômenos qu já tinham explicações no âmbito de outras ciências também poderiam ser explicadas a partir de uma lógica social]. - Seu pensamento também é funcionalista, mas deixa de ser um funcionalismo biológico [ligado a uma idéia de necessidades básicas]. É um funcionalismo social. E esse funcionalismo vai exercer uma influência consideável sobre a pesquisa antropológica, particularmente na Inglaterra, na França [mas também nos EUA] (p. 89). - Marcel Mauss era 14 anos mais novo e sobrinho de Durkheim. Se para seu tio a Antropologia era o estudo das sociedades “primitivas”, uma sociologia delas, Mauss vai dizer (junto com Paul Rivet) que a Antropologia era uma ciência verdadeira, própria, não um mero anexo da Sociologia. Chega a dizer, em 1924, que o lugar a Sociologia está na Antropologia, e não o inverso (p. 89-90). - Um dos principais conceitos elaborados por ele é o de fenômeno social total. Ele consiste da integração dos diferents aspectos (biológico, econômico, jurídico, histórico, religioso, estético...) constitutivos de uma dada realidade social, que convém apreender em sua integralidade. Os sociólogos podem dividir para estudá-los, mas devem juntar os elementos sociais no final, reconstituindo o todo. Mauss vai dizer que os fenômenos sociais são, antes de tudo, sociais – mas também e ao mesmo tempo fisiológicos e psicológicos. O simples estudo do fragmento de nossas vidas que é as nossas vidas em sociedade não basta, para ele. As condutas humanas devem ser apreendidas em todas as suas dimensões e particularmente na dimensão sociológica, histórica e psicofisiológica (p. 90). - Idéia de totalidade, de uma multiplicidade de planos distintos na realidade. E que só podem ser apreendidos a partir dos indivíduos. A única garantia que podemos ter de que um fenômeno social corresponda à realidade da qual procuramos dar conta é que possa ser apreendido na experiência concreta de um ser humano. Mauss vai dizer: “O que é verdadeiro, não é a oração ou o direito, e sim o melanésio de tal ou tal ilha” (p. 90). É pelo estudo da consciência individual, partindo do indivíduo, que se chega ao social. Para apreender um fenômeno social total, é preciso apreendê-lo de fora, como um coisa (Durkheim), mas também como uma realidade vivida, “de dentro”, como “representação” [parte que Mauss introduz no esquema do tio]. Especificidade das ciências do homem – observador sujeito, pra compreender seu “objeto”-sujeito, esforça-se para se colocar no lugar dele. E reconhece que ele é sujeito também (p. 91). Mauss está mais longe do distanciamento sociológico objetivista de Durkheim e mais próximo da prática etnográfica de Malinowski (p. 91). Os Argonautas e O Ensaio sobre o Dom de Mauss são puplicados com intervalo de um ano (o de Mauss em 1923). São obras muito próximas uma da outra, em vários sentidos. “Os Argonautas são uma descrição meticulosa desses grandes circuitos marítimos transportando, nos arquipélagos melanésicos, colares e pulseiras de conchas: a kula. O Ensaio sobre o Dom [Ou Sobre a Dádiva] é uma tentativa de esclarecimentoe elaboração da kula, através da qual Mauss não apenas visualiza um processo de troca simbólica generalizado, mas tambpem começa a extrair a existência de leis de reciprocidade (o dom e o contradom) e da comunicação, que são próprias da cultura em si, e não apenas da cultura trobriandesa (p. 91-92) [generalização – francês... universalização]. Já expressa certas preocupações estruturais [Estruturalismo] (p. 92). [Por isso estruturas inglesas e francesas são tão dierentes... particularismo x universalismo]. - Mauss ocupa na França um lugar equiparável ao de Boas nos Estados Unidos [e de Malinowski e Radcliffe-Brown na Inglaterra], especialmente para aqueles/as preocupados em promover a especificidade e unidade das ciências humanas (p. 92).