REDUÇÃO DE ÓXIDO DE NEODÍMIO PARA A FABRICAÇÃO DE

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21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais
09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil
REDUÇÃO DE ÓXIDO DE NEODÍMIO PARA A FABRICAÇÃO DE ÍMÃS DE
NDFEB
Marcos Flavio de Campos(1), Daniel Rodrigues(1), José Adilson de Castro(1)
(1)
Universidade Federal Fluminense
Av. dos Trabalhadores 420 - Vila Santa Cecilia 272552-125 Volta Redonda RJ
[email protected]
Resumo
Tendo como ponto de partida os óxidos de terra-raras, duas etapas são importantes
para a produção de ímãs. Uma delas é a separação de óxidos de terra-raras e outra
é a redução do óxido de terra-rara para a obtenção da terra-rara na forma de uma
liga metálica. Neste estudo, é discutida a sequência de separação de óxidos, a qual
depende do tipo de minério e também as possibilidades para a obtenção da liga
metálica. A liga metálica pode ser obtida por três maneiras: (1) redução
calciotérmica, (2) eletrólise ígnea usando cloretos, (3) eletrólise ígnea usando
fluoretos. O processo mais empregado atualmente é a eletrólise ígnea por meio de
fluoretos, o qual tem muitas similaridades com o processo Hall-Heroult de produção
de alumínio.
Palavras-chave: terras-raras, ímãs, monazita
INTRODUÇÃO
Dois itens são especialmente importantes na indústria de terras-raras: (i) separação
de óxidos de terras raras, (ii) produção de terra rara metálica. Estes dois itens serão
discutidos no presente estudo. Mischmetal, uma mistura de metais terras-raras, tem
muito baixo valor comercial (em 2007 valia menos que 10 $ /kg)(1), sendo necessário
extrair do minério óxidos separados, por exemplo de neodímio, praseodímio,
disprósio, térbio e de európio, os quais são os de maior interesse econômico
atualmente(2). Existe amplo mercado para o didímio, uma mistura de óxidos de
neodímio e praseodímio utilizada para a produção de ímãs(3). As terras raras em
geral são trivalentes e apresentam similar raio atômico(4). Isso resulta em grande
solubilidade das terras raras em diversos compostos, e também nos minerais
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encontrados na natureza. Alguns dos minerais contendo terras raras, como por
exemplo monazita, xenotima e minerais semelhantes podem apresentar substancial
quantidade de tório e urânio(5-8), como mostra a Tabela I. Ou seja, ao estabelecer o
fluxograma de produção de óxidos de terras-raras, não se pode negligenciar o
possível conteúdo de tório e urânio.
Tabela I. Minerais contendo terras raras e possíveis teores de urânio e tório
Mineral
Monazita
Fórmula Básica
Ocorrência no Brasil
(Ce,La,Nd,Pr,Th)PO4 Araxá, Catalão, Morro dos
Tório
Urânio
ThO2
UO2
até 27%
até 16%
Seis Lagos, Guarapari
Bastnaesita
(Ce,La,Nd,Pr)(CO3)F
-
até 3%
?
Xenotima
(Y,Dy,Ce)PO4
Pitinga
Até 9%
Até 6%
Argilas
AlSiOx(Y,Dy)
Serra Verde
?
?
lateríticas
Tabela II – Preços de óxidos de terras-raras na China, em 1º de agosto de 2014(9).
Todos os óxidos apresentam 99% de pureza, exceto Eu (99.9%) e Y (99.999%)
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A Tabela II demonstra que é extremamente necessário realizar a separação de
óxidos para agregar valor. O Brasil apenas pode tirar pleno proveito das reservas de
monazita e de outros minerais, se houver em nosso país: (i) separação de óxidos de
terras raras, (ii) produção de neodímio metálico e (iii) produção de ímãs(2,3). Pitinga
tem amplas reservas de xenotima(10), mas a maior parte das reservas do Brasil,
assim como no restante do mundo(11) são monazita, por exemplo Morro dos Seis
Lagos(12). Assim, há um especial interesse no processo de separação da monazita.
SEPARAÇÃO DE ÓXIDOS DE TERRAS RARAS
A Rhodia recentemente anunciou a reativação de sua planta de separação de óxidos
de terras-raras(13,14). Apenas a partir do início dos anos 60 foi possível no mundo
separar industrialmente grandes quantidades de óxidos de terras raras, quando a
Rhone-Poulenc (Rhodia) começou a usar a extração líquido-líquido em La Rochelle,
costa oeste da França. Também chamada de extração por solvente, a extração
líquido-líquido pode separar diferentes compostos com base em suas relativas
solubilidades em dois líquidos imiscíveis, por exemplo água e um solvente
orgânico(15). O processo se baseia nas solubilidades relativas dos elementos terrarara no líquido. Alguns detalhes do processo de separação de monazita(16) utilizado
pela Rhone-Poulenc até os anos 1990 são expostos brevemente a seguir:
Inicialmente, soda cáustica (NaOH) em altas temperaturas (180oC) é utilizada para
romper o fosfato. A solução de fosfato trissódico (Na3PO4) é removida.
Posteriormente, os hidróxidos de terras raras e tório são dissolvidos com ácido
nítrico. Então, em uma segunda etapa, nitratos de tório e de urânio são separados
pelo método líquido-líquido. Usando unidades de extração por solvente a maioria
dos óxidos é separada, porém o método não é muito adequado para isolar neodímio
e praseodímio, que permanecem reunidos com o nome de didímio. A RhonePoulenc foi obrigada pelo governo francês a parar o processamento de monazita
importada da Austrália e África do Sul, devido ao problema de estocar tório(17), e a
partir de 1994 começou a processar bastanaesita. Em novembro de 2013, a Rhodia
anunciou que tem estocado tório suficiente para suprir a França 190 anos de energia
elétrica, desde que seja possível construir usinas nucleares usando tório como
combustível(18). No Brasil, a quantidade de óxidos separados em laboratório nunca
excedeu alguns gramas. A tecnologia de separação de óxidos de terras raras em
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grande escala nunca foi dominada pelo Brasil, mas nesse período foram feitos
diversos estudos em escala laboratorial. Em 1994, Alcídio Abrão publicou em
português uma revisão sobre terras raras incluindo os métodos líquido-líquido e de
troca iônica(19). O problema é que o método da troca iônica é inadequado para
quantidades industriais. Os chineses desenvolveram sua própria metodologia de
separação de óxido de terras-raras, chamada de teoria da contra-corrente(20-23). Uma
vantagem seria que o método da contra-corrente permitiria separar efetivamente
neodímio de praseodímio(20).
LIGA METÀLICA DE TERRA-RARA PARA PRODUÇÃO DE ÍMÂS
Existem basicamente três métodos para produção de liga de terra-rara metálica: (i)
redução calciotérmica, ((ii) eletrólise ígnea usando cloretos, (iii) eletrólise ígnea
usando fluoretos. A CIF produziu mischmetal em sua unidade próxima a São João
del Rei MG, até meados dos anos 1990(24), por eletrólise ígnea usando fluoretos.
Esse método continua em uso industrialmente para a produção de ligas de Nd e de
Dy até hoje(25). Ligas SmCo5 tem sido comercialmente produzidas por reduçãodifusão, ou por co-redução (processo Goldschmidt), a partir do início dos anos 1970
mas esse método não é adequado para ligas Nd-Fe, pois essas ligas são mais
susceptíveis a oxidação. Em 1996, a planta e patentes da alemã Elektro Thermit
(processo Goldschmidt) para produção de pós de SmCo5 foram compradas pela
britânica LCM (Less Common Metals), empresa fundada por David Kennedy em
1992. Mais recentemente, em 2008, a canadense Great Western adquiriu a LCM.
Ligas SmCo5 produzidas por co-redução continuam sendo um produto comercial(26).
Segundo David Kennedy, o processo de produção de ligas de Nd tem muito em
comum com o processo de produção do alumínio metálico. Entretanto as dimensões
das células empregadas para redução de terras raras são muito menores do que as
grandes células do processo Hall-Heroult da indústria do alumínio, o qual utiliza
também um fluoreto, a criolita, para abaixar a temperatura de fusão. No caso do
neodímio, as vantagens da eletrólise ígnea por fluoretos em relação a cloretos são
discutidas em detalhes por Gupta e Krishnamurti(27) e uma delas é que fluoretos são
menos higroscópicos do que cloretos. A mistura eutética LiF-CaF2 (79-21 % molar,
Tf=763 oC) é uma opção para a produção de Nd metálico (28). Um exemplo de
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produção de lingotes de neodímio metálico a partir de células de redução na Baotou
Xijun Rare Earth em Baotou foi apresentado por Simon Parry e Ed Douglas(29). A
produção de lingotes de lantânio na Jinyuan Company's próximo à cidade de
Damao, na China, é ilustrada por fotografias de David Gray(30). A elaboração de
terras raras metálicas exige o uso de máscaras para proteção contra fumos, por
exemplo como mostrado em
imagens da célula da LCM, em Ellesmere Port,
próximo de Liverpool, no lado oeste da Inglaterra(31-33). Em vez de células grandes
como na indústria de alumínio, os fabricantes chineses optam por várias pequenas
células de redução, uma ao lado da outra, como por exemplo na Jiangxi Metals,
situada na cidade de Jiujiang, província de Jiangxi (34,35) .
CONCLUSÕES
O Brasil apenas pode tirar pleno proveito de suas reservas de monazita, xenotima e
de outros minerais, se houver em nosso país todas as seguintes três etapas: (i)
separação de óxidos de terras raras, (ii) produção de terra rara metálica e (iii)
produção de ímãs. A separação de tório e de urânio para possível geração energia
nuclear deve ser considerada na etapa de digestão de minério e separação de
óxidos. Neodímio metálico para produção de ímãs é obtido industrialmente por
eletrólise ígnea de fluoretos, em um processo com grande similaridade ao processo
Hall-Heroult de produção de alumínio.
AGRADECIMENTOS
CNPq, FAPERJ e CAPES
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NEODYMIUM OXIDE REDUCTION FOR NDFEB MAGNETS MANUFACTURING
Considering as starting point the rare earth oxides, two steps are relevant for the
magnet production. One is the rare earth oxide separation and the other is the
reduction of the rare-earth oxide for obtaining the rare Earth as a metallic alloys. In
this study, the sequence of oxide separation is discussed, which depends on the ore
type and also the possibilities for producing the metallic alloy. The metallic alloy can
be obtained by three different ways: (1) calicothermic reduction, electrowining using
chlorides (3) electrowining using fluorides. The most used process nowadays is the
electrolysis with fluorides as molten salts, which is very similar to the Hall-Heroult
process for aluminum production.
Key-words: rare-earths, magnets, monazite
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