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CARACTERÍSTICAS CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICAS DE LESÕES BUCAIS
DIAGNOSTICADAS EM CAMPANHA DE PREVENÇÃO EM JACAREÍ-SP
Clinical and epidemiological characteristcs of oral lesions diagnosed in the prevention
campaign in the city of Jacareí–SP
Luiza Gomes FURTADO1; Andresa Costa PEREIRA2; Lúcia Helena Denardi Roveroni
FAVARETTO3; Elaine Dias do CARMO4
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Acadêmica do curso de Odontologia das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU)
2
Professora Doutora da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
3
Mestre em Biopatologia Bucal – Faculdade de Odontologia de São José dos Campos –
(FOSJC/UNESP)
4
Professora Doutora das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU)
Autor Responsável:
Elaine Dias do Carmo
Rua Barão de Jaceguai, 908 apto 192 – torre B
Campo Belo – São Paulo – SP
CEP: 04606-001
Telefone: (11) 35640332/ (11) 97720602
e-mail: [email protected]
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RESUMO
O Brasil carece de estudos epidemiológicos sobre as lesões bucais em relação ao
gênero, a idade e a etnia do paciente, tanto quanto a localização anatômica e a
classificação da lesão. O objetivo deste estudo foi identificar as lesões mais comumente
encontradas na cavidade bucal de indivíduos residentes da cidade de Jacareí (SP), além
de levantar dados relacionados ao gênero, idade e etnia dos indivíduos avaliados. O
estudo de diagnóstico da situação de saúde foi realizado durante a 2ª Campanha de
Prevenção e Diagnóstico Precoce de Câncer Bucal da cidade de Jacareí-SP. Foram
avaliados clinicamente 730 indivíduos que responderam a um questionário contendo
dados referentes ao gênero, etnia e idade, bem como hábitos de tabagismo e etilismo.
Dos avaliados, 369 eram do gênero masculino (50,5%) e 361 do gênero feminino
(49,5%). A faixa etária variou entre 20 e 90 anos, sendo que a quarta e quinta décadas
de vida foram mais prevalentes (20,1% e 22,8%, respectivamente). Verificou-se 65,1%
de leucodermas, 16,0% de melanodermas, 1,2% de xantodermas e em 17,7% não havia
descrição da etnia na ficha clínica. As lesões bucais mais prevalentes foram candidose
(31,9%), queilite actínica (28,9%), hiperplasia fibrosa inflamatória (11,8%) e a
leucoplasia (10,6%) apresentando-se menos prevalente. Colhidos os dados da pesquisa
concluiu-se que as campanhas de prevenção e diagnóstico precoce de lesões bucais
são uma importante ferramenta para a realização de estudos epidemiológicos. Por meio
destes estudos o cirurgião-dentista torna-se conhecedor das lesões bucais mais
incidentes e do perfil dos indivíduos acometidos nas mais diversas regiões do país.
Desta forma, assegura-se que medidas preventivas e curativas sejam planejadas e
executadas.
PALAVRAS-CHAVE: Epidemiologia; Mucosa bucal; Doenças da boca.
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ABSTRACT
Brazil lacks on epidemiological studies about oral lesions, including gender, age and
ethnic group of the patient, as well as the anatomical location and classification of the
lesion. The objective of this study was to identify the more frequent lesions occurring in
oral cavity of individuals living in the city of Jacareí (SP, Brazil), besides collecting data
related to gender, age and ethnic group of the evaluated individuals. The diagnostic
study of the patient health condition was conducted during the second Campaign for
Prevention and Early Diagnosis of Oral Cancer in the city of Jacareí-SP. During this
campaign, a total of 730 individuals were clinically evaluated after answering a
questionnaire containing data related to gender, age and ethnic group, as well as
smoking habits and alcohol consumption. Among those, 369 were male (50,5%) and 361
females (49,5%). Their ages ranged between 20 and 90 years, and the fourth and fifth
decades of life were more prevalent (20,1% and 22,8%, respectively). There was a total
of 65,1% of Caucasian and the most prevalent lesions were oral candidiasis (31,9%),
actinic cheilitis (28,9%), inflammatory fibrous hyperplasia (11,8%) and leukoplakia
(10,6%). Based on this survey, it can be concluded that prevention campaigns and early
diagnosis of oral lesions are an important tool for epidemiological studies. Through these
studies, dentists may become more knowledgeable about the most frequent oral lesions
and the profile of affected individuals in various regions of the country. This will ensure
that preventive and curative measures are planned and executed.
KEYWORDS: Epidemiology; Oral mucosa; Mouth diseases
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INTRODUÇÃO
A saúde bucal, na maioria dos municípios brasileiros constitui ainda um grande
desafio aos princípios do Sistema Único de Saúde, principalmente no que se refere
ao diagnóstico precoce de lesões bucais. Neste contexto, o levantamento
epidemiológico é um recurso importante para conhecer a situação da saúde bucal de
uma determinada população e adotar medidas preventivo-curativas.
No Brasil, observa-se a escassez de informações epidemiológicas sobre as
lesões bucais em relação ao gênero, a idade e a etnia do paciente, tanto quanto a
localização anatômica e a classificação da lesão. Estes dados são de grande
importância para o cirurgião dentista que deve ser conhecedor das lesões bucais
mais incidentes no país e do perfil do indivíduo acometido.
As campanhas de prevenção de lesões de boca são de grande valia para
alertar e educar a população sobre os riscos destas lesões. Além disso, tal ação
auxilia no diagnóstico precoce das lesões bucais e no encaminhamento do paciente
ao tratamento adequado.
A candidose, a queilite actínica, a hiperplasia fibrosa inflamatória e a
leucoplasia figuram entre as lesões bucais mais frequentemente encontradas nos
estudos epidemiológicos (Amadei et al., 2009; Silveira et al., 2009; Prado et al., 2010;
Kniest et al., 2011).
A candidose é uma infecção fúngica oportunista bastante comum em cavidade
bucal causada principalmente pela Candida albicans. Pode se manifestar sob
diversas formas clínicas, sendo as mais comuns a pseudomembranosa e a
eritematosa. O diagnóstico costuma ser estabelecido pelos sinais clínicos. Áreas
brancas podem ser usualmente raspadas pela pressão firme com uma espátula de
madeira, deixando uma superfície cruenta, sangrante. O esfregaço do material,
exame de citologia esfoliativa, ao ser examinado ao microscópio, revela a presença
de hifas de Candida (Neville et al., 2004; Moreira et al., 2001).
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A queilite actínica é uma alteração difusa e pré maligna do vermelhão do lábio
inferior, que resulta da exposição excessiva ou a longo prazo ao componente
ultravioleta da radiação solar, ocorrendo principalmente em homens acima de 45
anos. Clinicamente observa-se atrofia da borda do vermelhão do lábio inferior,
posteriormente, nota-se a presença de áreas ásperas e leucoplásicas que com a
progressão da lesão tornam-se ulceradas. Pode ocorrer também devido a traumas
brandos por cigarro ou cachimbo (Neville et al., 2004; Corso et al., 2006).
A hiperplasia fibrosa inflamatória caracteriza-se por um aumento do tecido
conjuntivo fibroso em decorrência de traumas mecânicos crônicos causados por
próteses totais ou parciais mal adaptadas (Neville et al., 2004). Clinicamente
apresenta-se como única ou múltiplas pregas de tecido hiperplásico na região
vestibular do rebordo alveolar. Ocorre em maxila e mandíbula com preferência pela
região anterior e é mais prevalente em mulheres (Neville et al., 2004).
A leucoplasia é definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), como
uma placa ou mancha branca que não pode ser caracterizada clinicamente ou
patologicamente como qualquer outra doença. É associada principalmente ao hábito
de tabagismo. Mais de 80% dos pacientes acometidos são fumantes. As regiões mais
afetadas são lábio inferior, língua, assoalho bucal e mucosa jugal. Sua incidência se
dá principalmente em pacientes de meia idade do gênero masculino (Neville et al.,
2004).
Considerando a importância dos levantamentos epidemiológicos, o presente
estudo teve como objetivo identificar as lesões mais comumente encontradas na
cavidade bucal de indivíduos residentes da cidade de Jacareí (SP), além de levantar
dados relacionados ao gênero, idade e etnia dos indivíduos avaliados.
METODOLOGIA
O estudo foi realizado durante a 2ª Campanha de Prevenção e Diagnóstico
Precoce de Câncer Bucal da cidade de Jacareí-SP. Foram submetidas ao exame
clínico para avaliação das condições bucais, 730 pessoas. Além disso, os avaliados
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responderam a um questionário contendo dados referentes ao gênero, etnia e idade,
bem como hábitos de tabagismo e etilismo.
Os dados obtidos foram tabulados, e logo após, submetidos à análise
estatística descritiva, sendo apresentados por meio de gráficos.
RESULTADOS
Dos 730 indivíduos avaliados, 369 eram do gênero masculino (50,5%) e 361
do gênero feminino (49,5%) (Figura 1).
A faixa etária variou entre 20 e 90 anos, sendo que a quarta e quinta décadas
de vida foram as de maior prevalência (20,1% e 22,8%, respectivamente) (Figura 2).
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Quanto à etnia verificou-se 475 (65,1%) leucodermas, 117 (16,0%)
melanodermas 9 (1,2%) xantodermas e 129 (17,7%) deles não foram identificados
quanto a etnia, pois esta informação não constava na ficha clínica (Figura 3).
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Registrou-se 169 lesões, sendo que as mais prevalentes foram clinicamente
compatíveis com candidose (54 casos – 31,9%), queilite actínica (49 casos – 28,9%),
hiperplasia fibrosa inflamatória (20 casos – 11,8%) e leucoplasia (18 casos – 10,6%),
como ilustra o gráfico abaixo (Figura 4).
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As demais lesões diagnosticadas clinicamente somaram 28 casos
(16,5%), sendo que algumas delas foram afta, herpes labial, queilite angular,
leucoedema, mucocele, úlcera traumática, hiperplasia gengival medicamentosa,
estomatite protética, hemangioma, fibroma e papiloma.
Neste universo de lesões
foram ainda diagnosticados 3 casos de carcinoma epidermóide, representando 1,7%
do total de lesões clinicamente diagnosticadas.
Os pacientes que apresentaram
alterações compatíveis com lesões malignas e com potencial carcinogênico foram
encaminhados para a realização de biópsia e de exame anatomopatológico para
confirmação do diagnóstico.
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Os pacientes foram questionados quanto aos hábitos de tabagismo e etilismo.
Dos 730 avaliados, 117 (16,0%) confirmaram o hábito de tabagismo e 108 (14,8%) o
uso de álcool. Na ficha de avaliação não foi informado o uso de tabaco em 0,14% dos
casos. (Figura 5).
DISCUSSÃO
O universo de 730 indivíduos avaliados na população de Jacareí-SP muito
contribui para a pesquisa de dados clínico-epidemiológicos referente às lesões
bucais. De maneira geral, o Brasil carece de estudos nesta área, e na Odontologia é
muito importante o conhecimento de lesões que mais acometem a cavidade oral e do
perfil da população mais atingida por tais lesões, para que se elabore estratégias de
prevenção e tratamento.
Em relação ao gênero o estudo mostra uma leve predileção pelo gênero
masculino. Discordando dos trabalhos de Amadei et al. (2009) e Kniest et al. (2011)
que observaram maior incidência de lesões em mulheres.
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Quanto à etnia, foi observado maior número de leucodermas, seguidos por
melanodermas, assim como encontrado na literatura (Prado et al., 2009; Silveira et
al., 2009, Kniest et al., 2011).
Avaliando a idade dos pacientes desta amostra, observou-se que as lesões de
mucosa bucal apareceram em maior número entre a 4ª e a 5ª décadas de vida.
Dados similares foram observados por Izidoro et al. (2007) onde a idade média dos
avaliados foi de 51 anos. Rocha et al. (2006) avaliando 4592 indivíduos verificaram
maior frequencia nas 3ª e 4ª décadas de vida. O estudo de Marin et al. (2007) mostra
maior prevalência de lesões bucais entre 10 e 39 anos de idade.
As lesões bucais mais encontradas neste estudo foram a candidose, seguida
pela queilite actínica, hiperplasia fibrosa inflamatória e leucoplasia. O trabalho de
Kniest et al. (2011) também mostra a candidose e a queilite actínica como as lesões
mais freqüentes em cavidade bucal.
A queilite actínica foi a segunda lesão mais diagnosticada neste estudo,
corroborando com os relatos da literatura que mostram alta prevalência desta lesão
(Alves et al., 2004; Corso et al., 2006; Silva et al., 2011). Silveira et al. (2009)
realizaram um estudo onde avaliaram somente as lesões bucais com potencial de
malignização e verificaram a leucoplasia, seguida da queilite actínica como lesões
mais incidentes.
A hiperplasia fibrosa inflamatória que é uma patologia relacionada a traumas,
de baixa intensidade e longa duração, causados principalmente por próteses mal
adaptadas é uma das mais frequentemente encontradas nos levantamentos
epidemiológicos em diferentes estados do Brasil, como mostram os estudos de
Moresco et al. (2003), Marin et al. (2007) e Izidoro et al. (2007). Segundo Bomfim et
al. (2008), 42,5% dos pacientes examinados em seu estudo apresentaram hiperplasia
fibrosa inflamatória relacionada às próteses totais. Já no trabalho de Feltrin et al.
(1987) a lesão aparece em 31,4% dos casos. Nos estudos de França et al. (2003) a
lesão aparece com 15% dos casos, no de Kniest et al. (2011) em 12,6%, e no de
Esteves et al. (2005) em 7,3%.
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De acordo com Neville et al. (2004) a leucoplasia é considerada como a lesão
pré cancerizável mais freqüente na cavidade bucal, associada principalmente ao
hábito de tabagismo. Neste estudo, apesar da maioria dos pacientes (83,9%)
negarem o uso de tabaco, a leucoplasia apareceu em 27,1% dos casos. O trabalho
de Prado et al. (2010) aponta a leucoplasia como segunda lesão mais frequente em
cavidade bucal . Em contrapartida, a leucoplasia aparece com 1,6% de freqüência no
estudo de Kniest et al. (2011) . A mesma associada ao alcoolismo é observada em
1,08% dos casos no estudo de Fernandes et al. (2008).
CONCLUSÃO
As campanhas de prevenção e diagnóstico precoce de lesões bucais são uma
importante ferramenta para a realização de estudos epidemiológicos. Por meio destes
estudos o cirurgião dentista torna-se conhecedor das lesões bucais mais incidentes
nas diversas regiões do país e do perfil dos indivíduos acometidos. Desta forma,
assegura-se que medidas preventivas e curativas sejam planejadas e executadas.
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