Revista Mensal do JAZZ – Julho/ 2007 Por Pedro Cardoso REVISTA MENSAL DO JAZZ Músicos, Nascimentos, Músicas, Fatos, Curiosidades “DO OUTRO LADO DO JAZZ” é uma seqüência de textos resultantes de trabalho de pesquisa de MÁRIO JORGE JACQUES (autor do livro “GLOSSÁRIO DO JAZZ”, 1ª Edição, 2005, 350 páginas, Editora Papel Virtual), que autorizou PEDRO CARDOSO a revisá-los e editá-los para inclusão periódica na “REVISTA MENSAL DO JAZZ” e dentro do site da “TRADITIONAL JAZZ BAND BRASIL”. DO OUTRO LADO DO JAZZ ▪ # 1 Texto adaptado da palestra de mesmo título proferida no Clube de Jazz de Niterói a 0 9 de Maio de 2001. Gravura de Aline de Leandro O objetivo desta série é apresentar alguns aspectos estreitamente ligados de alguma forma à música de Jazz, mas que normalmente estão em "off" ou seja, escondidos nos bastidores ou mesmo providos de caráter subjetivo; digamos, então, que fazem parte do outro lado do Jazz. Assim o assunto Jazz, a par de sua musicalidade, vem incorporando inúmeras histórias e estórias ligadas aos músicos, produtores, aficionados, pesquisadores, enfim de todos que vêm criando e divulgando a “Arte Maior do Jazz” por todo esse tempo e aos fatos que os envolvem. SÉCULO XX O Jazz tem sua trajetória histórica desde o início do século XX e ao atravessá-lo compartilhou com a humanidade de suas conquistas sociais e tecnológicas, bem como de suas glórias e infortúnios. Neste processo sofreu dos efeitos das drogas alucinógenas, do racismo aos seus fiéis criadores, da grande Depressão Econômica de 1929, dos gangsteres de Chicago, da grande greve dos anos 1942/44, não nos esquecendo do primeiro golpe que foi o fechamento do distrito de Storyville em New Orleans no ano de 1917. Textos originais de MÁRIO JORGE JACQUES, que autorizou PEDRO CARDOSO a revisá-los e editá-los Revista Mensal do JAZZ – Julho/ 2007 Por Pedro Cardoso No desenvolvimento da tecnologia o Jazz esteve presente nos inventos como o da pianola, do gramofone, dos processos de gravação de áudio, do cinema sonoro, do início das transmissões comerciais do rádio e da gravação de imagens. O Jazz, dispensado que foi do serviço militar na 1ª Guerra Mundial, alistou-se para a 2a. Grande Guerra tendo uma atuação soberba, mas acabando por sofrer perda irreparável como a do major Glenn Miller. Ao fim da guerra, desfrutou de momentos de euforia através das “big bands”, dos “ballrooms” e “night clubs” e crescendo como arte chegou ao meio século de existência. Dos anos 60 em diante passou por momentos difíceis vivendo novas concepções estruturais como atonalidade, escalas modais e até mesmo as exóticas como as indianas e orientais, enfrentou desavenças rítmicas onde melodia e acompanhamento seguem métricas diferentes e até, por vezes, conflitantes. As sonoridades foram eletrificadas e adicionados efeitos eletrônicos e com estes ingredientes ocorreu o advento do “free”, do “fusion”, vindo a ser atacado pelo ácido – “Acid Jazz”. O século XX terminou sob o “nu-jazz”, expressão cunhada ao final dos anos de 1990 (NU corruptela de "new" que se pronuncia também como niu), relacionada à combinação de texturas e instrumentação jazzísticas com a música eletrônica, aventurando-se em território do “groove.jazz”, este mais próximo do “funk”, “soul” e “rhythm & blues”. Parece-nos que tais mudanças não acrescentaram mais emoção que o cornetim de Armstrong, o clarinete de Goodman, o piano de Peterson ou o sax de Charlie Parker e, para não sermos tão tradicionalistas e conservadores, ainda dentro do horizonte daquilo que se possa chamar de um Jazz livre, entendemos que o limite tenha se situado em torno de Cecil Taylor, Ornette Coleman e John Coltrane, dentre outros.... DO OUTRO LADO DO JAZZ ▪ # 2 JOTA, A, ÉSSE, ÉSSE A origem da palavra JAZZ, inicialmente escrita com "s" - na forma JASS, possui várias versões, umas até bem fantasiosas. Contudo, as mais plausíveis e de acordo com muitos pesquisadores, é a de que tenha se originado do verbo em francês-creole JASER que possuía 2 significados: um como apressar, acelerar e outro com conotação sexual e, talvez como gíria, sendo usado pelas prostitutas de New Orleans da maneira allez-vous jaser? (algo como - vamos transar?). Parece que a expressão foi aplicada à música "hot" que passou a ser tocada nos bordéis e cabarés do mal afamado distrito de Storyville, sendo referida em certa época como “musique pour jaser”. Por sucessivas transformações chegou ao inglês como “jass music” que soaria melhor para os norteamericanos se fosse escrita com a letra "z", já que o som era “djazi”. Bem ... o certo é que esta suposta versão da origem do termo jazz é até certo ponto corroborada pela declaração do pianista Eubie Black (1863-1963) de que jamais pronunciara a palavra JAZZ na frente de senhoras; dizia: - “a música que toco é o ragtime, stomp e blues”. Outra teoria plausível para a etimologia da palavra JAZZ é de que tenha se originado do termo JASBO. No início dos “minstrel shows” (espetáculo de menestréis e variedades) por volta de 1840 havia um Mr. Jasbo, exímio dançarino especialista no “cakewalk” e seu nome teria designado também a música sincopada que empregava em suas apresentações. Textos originais de MÁRIO JORGE JACQUES, que autorizou PEDRO CARDOSO a revisá-los e editá-los Revista Mensal do JAZZ – Julho/ 2007 Por Pedro Cardoso Como aconteceu com muitas palavras a sílaba final teria sido eliminada (apócope) passando a ser conhecida por jas depois jass e finalmente jazz. Há também uma corrente etimológica que tenta atribuir a origem de jass ao vocábulo irlandês teas, o qual seria pronunciado em inglês-americano como - t'as, chas ou jass, significando calor, excitação, alto espírito, entusiasmo e por associação teria passado à música sincopada. Disto tudo, a realidade é que jamais saberemos a verdade! Tom Brown, trombonista e líder de uma orquestra branca de New Orleans, afirma ter sido quem usou pela primeira vez a palavra jass, com referência ao tipo de música que apresentou em 1916 no Lamb's Cale de Chicago. Entretanto no jornal de São Francisco The Bulletin de 06/Março/1913 a palavra jazz (assim mesmo com "z") aparece várias vezes como referência, não só à música sincopada mas também com sentido de entusiasmo; seria uma jass music ou "música de bordel"? Tudo indica ter sido esta a primeira vez que a palavra foi usada com conotação à música. A primeira notícia que se tem da palavra ter aparecido escrita em algo com maior significado musical foi em 1916, quando um grupo de rapazes brancos de New Orleans formaram um quinteto e o nome escolhido foi “Original Dixieland Jass Band”. O que podemos supor é que usaram jass em vez de jazz talvez de uma maneira jocosa, já que desde 1913 jazz era escrito com "z". A palavra jazz não designou logo a música criada pelos negros norte-americanos. O gênero sincopado e saltitante – "hot" - oriundo do sul foi por muito tempo designado por STOMP - em inglês “to stomp” significando marchar cadenceado ou dançar com passos duros, passou curiosamente a ser empregado o seu substantivo como referência próxima ao “swing”. O termo “stomp” nos anos 20 designava simplesmente uma música sincopada, sendo ou não especificamente Jazz. É muito comum encontrar em anúncios de espetáculos da época que determinado músico iria executar “ragtimes”, “blues” e “stomp” A expressão “Fox-Trot” também foi largamente empregada, principalmente na “Era do Jazz” (década de 20), inicialmente designando os passos de uma dança; a quase totalidade dos discos de música de Jazz tinham estampados no selo a classificação fox-trot e, em se tratando de baladas, lia-se slow-fox. Uma expressão também criada na década de 20 procurava traduzir os novos costumes e as idéias em moda a partir da 1ª Guerra Mundial, época de grande transição social em função dos efeitos da guerra e, assim, o posicionamento da sociedade era tido como “Novelty”, tanto nas artes como no comportamento social do povo norte-americano e europeu. A “Era do Jazz” não fugiu às “Novelties” e várias etiquetas de discos (por exemplos, das bandas de Fletcher Henderson, King Oliver, Clarence Williams, Paul Whiteman) classificavam a música como sendo “Novelty”. Muitas bandas incluíram o vocábulo em seu título como a Jimmy Durante's Jazz and Novelty, Billy Arnold's American Novelty Jazz, Supreme Novelty Orchestra do banjoista Jim Coker, The International Novelty Orchestra do cantor Billy Murray e outras... (segue na “Revista Mensal de Agosto/2007”) Textos originais de MÁRIO JORGE JACQUES, que autorizou PEDRO CARDOSO a revisá-los e editá-los