Universidade Federal de Juiz de Fora Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-graduação em Ecologia Impactos ambientais em unidades de conservação Fernanda Maria de Freitas Viana1* Cezar Henrique Barra Rocha2* Material didático apresentado ao Programa de Pós-graduação em Ecologia da Universidade Federal de Juiz de Fora como parte das exigências para a conclusão da disciplina Estágio de Docência. Introdução A referência ao termo perturbação ambiental, traz a idéia de grandes desastres naturais. Entretanto, não são apenas os grandes desastres, os modificadores da paisagem, pequenas alterações podem ser responsáveis por grandes impactos no meio, isso depende do quão grande é o fator impactante sobre a área analisada. Um exemplo, refere-se ao fato de pequenas áreas serem constantemente impactadas pela presença antrópica. Sendo assim, estudos que assegurem conhecimentos sobre dinâmica de um ecossistema e seus agentes modificadores são de fundamental importância para que se tenha a conservação destes locais. Evolução de um Ecossistema e Perturbação Ambiental Ecossistema: refere-se às comunidades biótica e abiótica e suas interações. Em ambientes onde a interferência externa (alogênica) supera a interferência interna (autogênica) o ambiente pode desestabilizar-se, algumas vezes de forma irreversível. O organograma abaixo ilustra este processo. Sucessão Ecológica do Ecossistema Conceitos: - Sere: comunidades que substituem umas as outras; - Estádios serais ou pioneiras: comunidades transitórias; - Clímax: ambiente estabilizado terminal; 1 Bióloga, pós - graduada em Análise Ambiental, Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ecologia – UFJF/ PGECOL. ([email protected].) 2 Engenheiro Civil, Coordenador do Curso de Análise Ambiental, D.Sc. em Geografia – UFJF, MG. 1 - Perturbação: evento pontual (não continuado) que retarda ou regride o processo sucessional. Principais tipos de sucessão: - Sucessão primária: ocorre geralmente em substrato desocupado; - Sucessão secundária: ocorre onde já existiam espécies estabelecidas ou onde o solo original foi mantido após um distúrbio (Dobson et al. 1997 apud Farjalla). Evolução e Desenvolvimento do Ecossistema A figura 1 ilustra um ecossistema florestal em desenvolvimento, em busca da estabilidade. Embora, esta não seja alcançada, o ambiente tende a caminhar para o equilíbrio, estando sempre em processo dinâmico. O meio natural sofre oscilações constantes, sendo assim modificado frequentemente. Figura 1 Evolução e desenvolvimento de um ecossistema florestal. Fonte: Almeida (2009). Analisando-se dois ambientes naturais em processo de sucessão ecológica, podese dizer que o ambiente primário apresenta menor complexidade do ecossistema e maior variação das condições ambientais, o mesmo não ocorre em ambientes maduros (Clímax) onde a complexidade do ecossistema é alta e as variações ambientais menores, ainda que estas ocorram constantemente. Esta representação, pode ser observada no organograma abaixo. Fonte: USP (2009b). 2 Sucessão Ecológica A sucessão ecológica pode ser visualizada no gráfico que se segue, o qual as curvas A e B representam a organização do ecossistema em função das perturbações, em um determinado tempo que ocorram. Curva A: Sucessão em ambiente com baixa probabilidade de perturbação; Curva B: Ambiente de perturbações periódicas (tempestades, tremores, derramamentos de lava, entre outros) que faz com que este retroceda, mantendo assim um nível baixo de organização. A curva A representa um ambiente com maior organização em relação à curva B de um ambiente com perturbações, neste caso pode-se dizer que o ambiente B apresenta maior plasticidade fenotípica (capacidade de se restabelecer após a ocorrência de um distúrbio que provoque o desequilíbrio do ambiente), uma vez que as espécies deste ambiente possuem adaptações as constantes perturbações a que estão sujeitas. Unidades de Conservação Figura 2. Distribuição das unidades de conservação brasileiras Áreas naturais protegidas ou unidades de conservação são áreas criadas com a finalidade de proteger pequenos remanescentes florestais ou grandes extensões de áreas naturais, bem como seus recursos naturais, assegurando a conservação da biodiversidade e garantindo a utilização sustentável ou a proteção integral destas (Figuras 2 e 3). Objetivos: Conservação e preservação de amostras representativas de toda a diversidade de biomas, ecossistemas e espécies (MILANO, 1989). Fonte: IBGE (2007) 3 Figura 3: Unidades de conservação brasileiras Fonte: Rylands & Brandon (2005). A primeira área protegida implementada foi o Parque Yellowstone (1872) nos Estados Unidos (Figura 4), a implementação desta unidade trouxe idéias de conservação e preservação que serviram de motivação para a criação de outras unidades pelo mundo. Dentre os princípios da criação de unidades de conservação destacam-se: - a conservação e educação ambiental; - a pesquisa científica; - a contemplação da natureza em seu estado original ou mais próximo deste. Figura4: Parque Nacional de Yellowstone, USA. 4 É válido ressaltar que a criação de unidades de conservação deve apresentar como principal ideal a conservação das áreas naturais e de sua biodiversidade entretanto, é possível notar, algumas vezes, que este ideal não é mantido sendo priorizados outros valores com menor relevância para conservação, tal como o incentivo ao turismo desordenado como fonte de captação de renda para as unidades. A prática desta atividade deve ser tida como uma ferramenta para auxiliar a conservação, devendo ser utilizada de forma controlada assegurando não só a obtenção de recursos, mas principalmente a conservação destes ambientes. Segundo Soares (2007) o desordenamento destas atividades são mais comuns no Brasil e em países em desenvolvimento. Existem ainda, problemas decorrentes de leis infringidas e da utilização de propostas de monitoramento e diretrizes estrangeiras, neste último, o problema refere-se à inadequação em alguns casos destas técnicas a realidade brasileira (MATHEUS, 2003). Países desenvolvidos apresentam, na maioria das vezes, os recursos necessários para investimentos de infraestrutura, pessoal, equipamentos e outros necessários a viabilização de estratégias de conservação. Os impactos de uso nas unidades de conservação podem ser tanto de origem natural como de origem antrópica, podendo ainda serem distribuídos em impactos positivos ou negativos de acordo com as alterações que provocam nos ambientes. Estas alterações podem ser verificadas no meio biológico, físico e social por meio de pesquisas. A seguir serão apresentados os principais impactos constatados em algumas unidades de conservação brasileiras. Impactos Negativos – Biológicos Impactos em ambientes naturais por abertura de trilhas ou desmatamentos de uma determinada área provocam alterações na dinâmica de todo um ecossistema, dentre estas alterações a fauna é um dos alvos de impacto. Exemplos de impactos negativos sobre a fauna podem ser averiguados ao se realizarem estudos sobre a ecologia das espécies destes locais, os quais demonstram alterações na dieta e nos hábitas animais em decorrência das mudanças a que são expostos nestes ambientes. Algumas espécies vegetais essenciais a alimentação destes animais são extintas com simples alterações no ambiente, também são constatadas mudanças comportamentais na fauna e aumento dos índices de mortalidade. As fotos 1 e 2 representam dois casos de prováveis riscos a conservação da fauna. Fotos 1-2. 1. Aproximação de um quati e exposição do animal a uma situação de risco (presença humana). 2. Representa a fragilidade animal, uma vez que, este seria facilmente pisoteado em uma trilha, devido a falta de percepção de um visitante ao realizar uma caminhada em um ambiente natural. 1 2 5 A extinção de espécies endêmicas, raras ou ameaçadas (Fotos 3 a 5) juntamente com a degradação da vegetação (Fotos 6 e 7), geralmente são impactos irreversíveis. Estes impactos devem assim ser evitados de forma a garantir a conservação dos recursos de uma área natural. Fotos 3-7: 3 – 5. Flora do Parque Estadual do Ibitipoca, MG. 6 - 7. Degradação das trilhas e impacto sobre a vegetação. 7 6 3 4 5 Espécies - exóticas invasoras Atualmente, espécies exóticas invasoras são consideradas a segunda maior ameaça, a perda de biodiversidade, perdendo apenas para ambientes que são convertidos para uso humano. (DRUMMOND et al., 2005). Um exemplo é a espécie Melinis minutiflora Beauv. que pode ser encontrada em vários locais do Parque Estadual do Ibitipoca, MG (Foto 8) e no Parque Nacional da Serra do Órgãos, RJ (Foto 9). Fotos 8 9: 8. Melinis minutiflora Beauv no Parque Estadual do Ibitipoca, mg. 9. Melinis minutiflora Beauv no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, RJ. 9 8 6 Para adaptação, uma espécie exótica, no ambiente, passa por algumas etapas adaptativas como descrito a seguir: Figura 5: Status da espécie exótica no novo ambiente “Status da espécie exótica no novo ambiente (Figura 5). Ultrapassa a primeira barreira, a geográfica, ela é considerada exótica. Quando ultrapassa a barreira reprodutiva, já está naturalizada. Naturalizada e conseguindo avançar com sucesso em locais diferentes da sua introdução, torna-se invasora” (REIS, 2006). Figura 6: Estágios de ocupação por uma gramínea invasora Melinis minutiflora Beauv As figuras 6 e 7 ilustram os estágios de ocupação da espécie invasora Melinis minutiflora Beauv e a facilidade de adaptação e propagação desta espécie, o qual necessita de processos de erradicação, uma vez que foi introduzida no ambiente. Esta medida não é a única alternativa ao controle da espécie, entretanto, ajuda a atenuar sua dispersão e competição com espécies nativas. Figura 7: Gráfico de ocupação por uma gramínea invasora Fonte: Espécies invasoras de Portugal. Fonte: USP (2009a) Poluição do solo e cursos d’água; A poluição de cursos d’água em ambientes naturais que recebem visitação pode acontecer tanto por dispersão de produtos químicos (bronzeadores, condicionadores, cremes, dentre outros) durante um banho como pelo lançamento de esgotos de alojamentos e pousadas diretamente nos cursos d’água, quando o local não detém os recursos de infraestrutura necessários ao atendimento do turismo e ao controle do impacto ocasionado pelo uso desordenado destas áreas. 7 É importante ressaltar que a ciclagem de nutrientes acontece naturalmente. Em casos de poluentes dispersados no solo ou na água, alguns podem ser acumulados em espécies, atingindo diversos níveis na cadeia alimentar. Raízes expostas A exposição de raízes em ambientes naturais pode ser consequência tanto de impactos naturais quanto antrópico. Canais de drenagem irregulares podem provocar o afundamento de trilhas e desgaste do solo colocando as raízes em evidência no solo. Em alguns casos, o próprio pisoteio ajuda a agravar esta situação. O estudo desta variável deve ser realizado considerando a susceptibilidade do local a este tipo de ocorrência. Em alguns parques é comum a ocorrência de raízes expostas, sendo estas utilizadas inclusive como degraus para facilitar a caminhada em trilhas, entretanto, também podem ser encontradas áreas onde a exposição das mesmas deve-se a falta de manutenção do destes ambientes. Diante disso, locais com este tipo de problema devem ser estudados sendo realizada a avaliação conforme a realidade encontrada para cada local. As fotos 10 e 11 foram retiradas em dois parques que recebem visitação. A presença das raízes expostas nos dois casos pode ser provavelmente atribuída ao impacto provocado pelo uso das trilhas juntamente com o interismo a que estão sujeitos estes ambientes. Fotos 10 e 11. 10. Raíz exposta em uma trilha no Parque Nacional da Serra dos Órgãos. 11. Raíz exposta na trilha de acesso a Ponte de Pedra no Parque Estadual do Ibitipoca, MG. 11 10 Foto 12. Trilha que passou por manutenção corretiva com melhoria do sistema de drenagem. Parque Nacional da Serra dos Órgãos, RJ. Impactos Negativos: físicos As fotos 13 e 14 representam um outro tipo de impacto, muito comum em unidades de conservação. Pontos de alagamento (Foto 13) em consequência do mau funcionamento dos canais de drenagem (Foto 14) são responsáveis por inúmeros problemas nas trilhas. Nota-se que na 128 foto 12 não são visualizados estes problemas, já que a trilha passou por uma manutenção corretiva recentemente e apresenta valas laterais para escoamento da água. As fotos 13 e 14 representam áreas que ainda não passaram por esta correção. Fotos 13 e 14. Trilhas sem manutenção corretiva do sistema de drenagem. Parque Nacional da Serra dos Órgãos, RJ.13. Ponto de alagamento. 14. Mau funcionamento do canal de escoamento da água. 13 14 Pontos erodíveis São assim considerados todos os pontos onde é possível notar o desgaste das camadas superficiais do solo, geralmente este tipo de impacto associase a canais irregulares de escoamento de água (Foto 15). Locais com desgaste excessivo do solo (Fotos 16 e 17) devem passar por manutenção periódica de forma a evitar o avanço dos processos erosivos. Foto 15-17. 15 Canal de escoamento de água com formação de ravinas. 16 e 17. Desgaste das camadas superficiais do solo nas trilhas do Parque Estadual do Ibitipoca, MG. 16 15 17 9 Impactos Negativos: Sociais Os impactos sociais, de uma maneira geral, estão relacionados a má conduta do visitante durante a visitação. Um exemplo, refere-se à poluição visual. É considerada poluição visual, atos de vandalismo que depreciam a beleza da paisagem natural. As fotos 18 e 19 exemplificam alguns tipos de impactos provocados pela má conduta do visitante durante a visitação. Foto 18-19. 18 Pichações em rochas no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, RJ. 19. Pichações em grutas no Parque Estadual do Ibitipoca, MG. 18 19 Lixo, empecilhos no caminho e problemas da falta de manejo. A falta de manutenção das trilhas leva a agravância dos impactos, uma vez que os locais continuam sendo utilizados para visitação. A presença de empecilhos no trajeto do visitante são alguns dos aspectos que ocasionam na degradação de pontos específicos nas trilhas (Foto 20). A presença de empecilhos no caminho leva os visitantes ao desvio destes, ocasionando em abertura de novos caminhos e aumento na largura da trilha. A presença de lixo (Fotos 21 e 22), além de denegrir a paisagem, torna-se foco de doenças e aumenta os riscos de incêndios para uma determinada área. Certos tipos de lixo, principalmente o lixo seco (papéis, latas, etc.) podem desencadear um incêndio facilmente. Sendo assim, nota-se a importância do controle destes aspectos para que se aumentem as chances de conservação de áreas naturais. 10 Fotos 20-22. 20. Área fortemente impactada pela visitação que está passando por manutenção no Parque Estadual do Ibitipoca, MG. 21. Lixo orgânico em uma das trilhas do Circuito das Águas no Parque Estadual do Ibitipoca, MG. 22. Lixo encontrado em uma das trilhas do Parque Estadual Dois Irmãos, PE. 21 22 20 Remoção de atrativos naturais (pedras, vegetais, pequenos animais) para abertura de trilhas. A retirada de recursos naturais para abertura de trilhas (Foto 23) provoca alterações significativas no ambiente. Dentre os impactos principais destacam-se: alterações na temperatura do local, na composição da vegetação e na dinâmica do ambiente. Estes fatores levam a extinção de espécies de fauna (Foto 24) e flora sensíveis a mínimas alterações. Fotos 23-24. 23. Trilha aberta em bambuzal no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, RJ. 24. Pequeno anfíbio encontrado em uma trilha aberta para visitação no Parque Estadual do Ibitipoca, MG. 23 24 11 Poluição sonora A emissão de sons pelo uso de veículos (Foto 25) ou por sons em áreas de acampamento (Foto 26) levam ao afugentamento de animais. Devem assim, ser evitados. Fotos 25-26. 25. Poluição sonora por motocross em área natural. 26. Área de camping no Parque Estadual do Itacolomy, MG. 26 25 Incêndios A ocorrência de incêndios (Foto 27), em grande parte das vezes, apresenta mais aspectos negativos do que positivos para uma determinada área. A maioria dos incêndios é de origem antrópica e geralmente de difícil controle, uma vez que são provocados sem práticas adequadas que assegurariam a conservação do local. Dentre as vantagens da ocorrência de incêndios destacam-se a reciclagem de nutrientes e a germinação de sementes, que desencadeiam este processo depois de expostas à altas temperaturas. Dentre as desvantagens destacam-se a extinção de espécies nativas; o esgotamento dos solos e a proliferação de espécies exóticas. Foto 27. Representa uma unidade de conservação, sujeita recentemente a um evento de incêndio, quando estava em processo de implementação. O incêndio destruiu grande parte da biodiversidade presente neste local. 27 12 Impactos Positivos É válido destacar que além dos impactos negativos existem também os impactos positivos do uso das unidades de conservação. A difusão de informação ambiental por meio de programas de educação ambiental (SOARES, 2007) auxilia para a conservação destes ambientes por meio de uma sensibilização ambiental (Foto 28). Foto 28. Centro de visitantes do Parque Estadual do Ibitipoca, MG onde se tem a difusão de informação ambiental para a conservação destes ambientes por meio da apresentação aos visitantes dos recursos naturais do parque. 28 O envolvimento da comunidade nos planos para conservação de áreas naturais são estratégias fundamentais para o sucesso das atividades. A foto 29 ilustra uma reunião realizada com a comunidade de Ibitipoca para discussão de questões a serem implementadas no parque. Foto 29. Reunião com a comunidade de Ibitipoca, MG para discussão de questões a serem implementadas no parque. 29 13 A geração de recursos da visitação traz como benefícios do turismo o auxílio financeiro para a manutenção das áreas de uma unidade de conservação e outros financiamentos que auxiliem na conservação destas áreas. As fotos 30 e 31 ilustram investimentos que podem ser realizados com verbas oriundas do turismo. É importante lembrar que o turismo deve ser praticado de forma ordenada a não esgotar os recursos da área, mesmo que os recursos financeiros sejam advindos desta prática. Fotos 30-31. 30 Construção de pontes evitando o pisoteio direto sobre a rocha e pela água no Parque Estadual do Ibitipoca, MG. 31. Veículos de fiscalização no Parque Estadual do Ibitipoca, MG. 31 30 A conservação das áreas que se localizam no entorno de unidades de conservação é de fundamental importância para a conservação de áreas protegidas. Com o correto planejamento, estas áreas podem funcionar como pólos de atração para visitação, auxiliando para redistribuição do fluxo de visitantes, diminuindo a pressão do pisoteio em alguns locais e ocasionando no aumento da oferta de espaços de recreação e lazer nestes ambientes (Fotos 32 e 33). Fotos 32-33. 32. Restaurante no Parque Estadual do Ibitipoca, MG. 33. Mirante no Parque Estadual do Ibitipoca, MG. 32 33 14 Impactos em áreas naturais sem proteção ambiental Apesar do nome “unidades de conservação” remeter ao entendimento de áreas conservadas é possível notar impactos significativos nestas áreas devido ao uso inadequado destes ambientes. Diante desta situação, torna-se preocupante o estado de conservação de áreas de grande riqueza natural e que não apresentam nenhum tipo de proteção ambiental. Neste caso, a situação é ainda mais grave, o qual é possível à constatação de impactos que podem levar a extinção de diversas espécies e degradação dos recursos naturais existentes nestes locais. Abaixo serão apresentados alguns dos principais problemas observados em uma área natural, próxima a fragmentos de Mata Atlântica nativa (Cadeia do Espinhaço), localizada na região sudeste de Minas Gerais, nas proximidades do município de Chapada, próximo à cidade de Ouro Branco (Fotos 34 a 39). Este município possui áreas naturais com atrativos à visitação, entretanto não apresenta nenhuma restrição de uso. O primeiro impacto observado refere-se a livre circulação de animais domésticos nestes ambientes que atuam como vetores de doenças para animais nativos e para seres humanos. Foi observada a presença de diversas espécies ornamentais na borda das trilhas, o qual pode provavelmente ser atribuída ao plantio destas nas proximidades destas áreas e na falta de controle sobre sua propagação nestes ambientes (Foto 34). Nos dois exemplos citados a educação ambiental é alternativa muito eficaz para redução destes problemas. Foto 34. Trilha de acesso à cachoeiras em um remanscente de Mata Atlântica sem proteção ambiental no município de Chapada, MG. Nota-se um animal doméstico e a presença de espécies ornamentais na borda da trilha. 34 15 A presença de pontos erodidos nas trilhas é mais expressiva nestas áreas como pode ser visualizado nas fotos 35 e 36. Fotos 35-36. Pontos erodidos nas bordas das trilhas de acesso a cachoeira no município de Chapada, MG. 35 36 Foram observadas ainda: pichações em rochas (Foto 37), presença de lixo em diversos pontos das trilhas (Foto 38) e resquícios de fogueira (Foto 39) em áreas próximas a cachoeiras ou cursos d’água. Foto 37-39. Os círculos em amarelo destacam as pichações em rochas na Cachoeira do Gavião, munícipio de Chapada, MG; 38. Círculos em vermelho destacam o lixo depositado em local inadequado; 39. Círculos em verde destacam resquícios de fogo. 37 38 39 16 Controle da Situação As situações relatadas nos tópicos anteriores são facilmente constatadas tanto em áreas protegidas quanto em áreas sem esta proteção. A agravância desta situação, somente será atenuada caso sejam realizadas pesquisas sobre a origem dos impactos, o planejamento de uso, a correção dos impactos, a manutenção constante das áreas e por meio da implementação de planos de monitoramento pertinentes com o tipo de uso da área. Medidas corretivas tais como a interdição e recuperação das áreas degradadas (Fotos 40 e 41) são muito eficazes no auxílio a recuperação de trilhas, uma vez que permitem a regeneração natural e aceleram a recuperação do local. Foto 40-41. 40. Trilha recuperada com recursos naturais no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, RJ. 41. Trilha interditada para regeneração no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, RJ. 40 41 17 Perfil do visitante e percepção ambiental Estudos sobre a origem dos impactos são realizados a partir do estudo minucioso dos ambientes, pesquisas sobre o tipo de uso da área, perfil do visitante e tipo de atividades preferidas por estes (Foto 42) Foto 42. Visitantes em lazer em cachoeira no auxiliam para a definição de municípo de Chapada, MG. estratégias de conservação e para o planejamento da visitação. Estas pesquisas auxiliam ainda na compreensão para o estabelecimento de relações entre o impacto da presença antrópica no ambiente natural; 42 Para ações de planejamento econômico e de infraestrutura local para atendimento ao tipo de visitante; E, para o zoneamento das áreas de acordo com as atividades praticadas. O zoneamento das áreas permite o uso adequado dos ambientes naturais, evitando impactos maiores futuros e promovendo a conservação. A figura 8 representa a distribuição das áreas do Parque Estadual do Ibitipoca, MG, quanto ao tipo de uso dos ambientes. Figura 8: Mapa de Zoneamento do Parque Estadual do Ibitipoca, MG. 18 A sensibilização e educação ambiental são uma das ferramentas de maior relevância para a conservação ambiental, uma vez que muitos impactos são provocados pelo desconhecimento das necessidades de conservação e das práticas adequadas de uso destes ambientes. A foto 43 ilustra o desenvolvimento da sensibilização ambiental por meio da apresentação dos recursos naturais e de sua importância. A foto 44 ilustra a falta de sensibilização, sendo visualizada pela constatação de atos de vandalismo, o qual são arrancadas as placas de sinalização de diversas trilhas em uma área de preservação ambiental. Fotos 43-44. 43. Educação ambiental no Centro de Visitantes do Parque Estadual do Ibitipoca, MG. 44. Destruição da sinalização no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, RJ. 43 44 Figura 9: Monitoramento ambiental pelo uso de insetos bioindicadores. O monitoramento de indicadores de impacto ambiental é outra estratégia de fundamental importância para conservação de ambientes naturais. A figura 9 exemplifica uma situação hipotética do modo como pode ser realizado este tipo de monitoramento. O exemplo demonstrado é realizado com insetos, entretanto, é importante ressaltar que existem diversos tipos de indicadores que podem ser monitorados, estes tanto podem ser indicadores biológicos, como indicadores do meio físico e/ou social. Deve-se atentar apenas para a aplicação dos mesmos a realidade do local estudado, para que se tenha eficácia dos resultados. 19 Sobre as espécies indicadoras de impacto ambiental é importante ressaltar que: São aquelas em que: 1. a presença indica a presença de outras espécies; condições criadas pelo homem; condições ambientais específicas; 2. sua adição ou eliminação resulta em mudanças no ecossistema; 3. apresentam sensibilidade às alterações ambientais (PEARCE & VENIER, 2006). Para a escolha do indicador ideal este deve ser: • conhecido e possuir estabilidade; • facilmente encontrado e manipulado; • ter distribuição geográfica ampla na área de estudo (HODKINSON & JACKSON, 2005). Como bioindicadores podem ser destacadas espécies: • • • • • • Sentinelas: introduzidas para indicar níveis de degradação e prever ameaças ao ecossistema; refletem perturbações no meio ambiente. Ex: felinos selvagens e ungulados (NAVA, 2008). Detectoras: ocorrem naturalmente e respondem ao stress de forma mensurável; Exploradoras: reagem positivamente ao distúrbio ou agente estressor; Acumuladoras: acumulam agentes estressores permitindo avaliar a bioacumulação. Ex. liquens e musgos; Bio-ensaio: usados na experimentação. Ex.: algumas espécies de plantas; Sensíveis: modificam acentuadamente o comportamento. Espécies bioindicadoras podem ser classificadas de acordo com o que indicam: “Indicadoras de saúde ambiental: apontam efeitos poluentes ou efeitos ambientais que afetam a saúde. Exemplo: filtradores capazes de acumular poluentes; Indicadoras de populações: sinalizam condições do habitat para outras espécies. Exemplo: a morte de aves marinhas jovens indica temperatura baixa da água (não conseguem nadar mais profundamente para encontrar peixes); Indicadoras de biodiversidade: conhecendo as cadeias alimentares, é possível inferir a presença de várias espécies a partir de uma das que fazem parte da cadeia. Exemplo: a presença de um inseto pode indicar que na área existem determinados pássaros e outras espécies em grandes quantidades. Indicadoras “guarda-chuva”: requerem uma área muito extensa. São espécies que “acolhem” outras, permitem a identificação e monitoramento das características de um habitat que deve ser protegido e são utilizadas no planejamento da conservação. Fonte: Zamoner, M. Biologia Ambiental.” Exemplo: Estrela do Mar e sobrevivência dos recifes de corais. 20 Métodos de avaliação dos impactos nas trilhas A figura 10 ilustra dois exemplos de modelos de amostragem em trilhas. A primeira representa a avaliação por seções o qual é realizado o monitoramento dos impactos por parcelas no leito e nas áreas de influência (bordas) da abertura das trilhas. O segundo exemplo ilustra a amostragem que pode ser realizada por censo, ou seja, anotação de todos os impactos constatados e ainda a amostragem de forma sistemática, o qual pode ser realizado pelo estabelecimento de uma distância fixa entre os pontos sendo realizado o monitoramento destes. O tipo de amostragem a ser utilizada deve ser feito a partir das características do local a ser monitorado. A amostragem por censo, por exemplo, não deve ser escolhida para áreas grandes devido ao tempo que requer para realização de toda a amostragem. Sendo assim, para cada caso deve-se avaliar a melhor opção de amostragem a ser utilizada. Figura 10: Métodos de amostragem em trilhas Uso de indicadores é considerado uma das alternativas para o monitoramento de impactos em trilhas. O modo de avaliação consiste geralmente na comparação entre a estado de conservação ideal para a área em contraste com o estado de conservação constatado, no campo, em um dado momento. As fotos 45 e 46 representam duas áreas de trilhas com visitação, sendo a primeira (Foto 45) com o leito mais conservado e a segunda com o início de focos erosivos (Foto 46). O acompanhamento periódico destas áreas permite o monitoramento da evolução dos impactos e a definição de alternativas para manutenção e conservação. Fotos 45-46. 45. Trilha conservada no Parque Estadual o Ibitipoca, MG. 46. Trilha com início de processos erosivos no Parque Estadual o Ibitipoca, MG. 45 46 21 Estudo da origem dos impactos A origem dos impactos relaciona-se aos agentes modificadores do meio, sendo estes chamados agentes estressores. A compreensão destes fatores contribui significativamente para o controle e monitoramento dos impactos. Louzada (2001) caracteriza dois tipos de agentes estressores, os naturais e os antrópicos, para o autor: “Agentes estressores são considerados os fatores bióticos ou abióticos, que atuando isoladamente, ou em conjunto, alteram o equilíbrio de um sistema biológico, que passa a se expressar de maneira anormal.” Considerações Finais O organograma a seguir representa a sequência de procedimentos a partir da detecção de um stress ambiental, ressaltando os quatro passos básicos, com suas respectivas etapas, a serem seguidos para o monitoramento e conservação de ambientes naturais sujeitos a impactos naturais ou antrópicos. É válido destacar a necessidade de planejamento das atividades, para que todas as etapas sejam realizadas com eficácia. Quanto maior for a abrangência da pesquisa maior será a clareza dos resultados e maiores serão as chances de conservação destas áreas. Uma questão de suma importância refere-se as dificuldades quanto ao planejamento das atividades de Ecoturismo. Adotando a definição dada por Boo (1995) para o termo “Ecoturismo” como atividades praticadas em meio natural, que gerem o mínimo impacto e que promovam a conservação e valorização do patrimônio cultural e ecológico deve-se considerar a problemática acerca das dificuldades de aplicação do conceito na prática. Normalmente, o que ocorre é o turismo praticado de forma 22 desordenada em ambientes naturais e visando o lucro, em maior instância, sendo esta atividade equivocadamente chamada de Ecoturismo. Isso gera uma série de consequências ao ambiente, dentre elas a dificuldade de quantificar os impactos, da manutenção da integridade do ecossistema e da recuperação destas áreas naturais. Sendo assim, a conservação destas áreas requer a aplicação de três procedimentos mínimos a serem seguidos, conforme pode ser visualizado no diagrama abaixo. O Planejamento das atividades, a Implementação do que foi planejado e o Monitoramento para verificação da eficácia das duas outras etapas. Estes três procedimentos quando adequadamente organizados ocasionam na Sustentabilidade do processo, ou seja, aumentam as chances de conservação dos ambientes naturais. 23 Referências Bibliográficas Boo, E. O planejamento ecoturístico para áreas protegidas. In: LINDBERG, K; HAWKINS, D. E. (Orgs.). Ecoturismo: um guia para planejamento e gestão. 4ªed. São Paulo: SENAC 1995. p. 31-58. Costa, L. Calçamento da via vila-parque e novas instalações facilitam o turismo. Disponível em: http://www.ibitipoca.tur.br/noticias/calcamento2008. Acesso em 16 Abr 2009. Almeida, J.A. F. Princípios Básicos da Agroecologia. Disponível em: http://www.ceplac.gov.br/radar/Artigos/artigo23.htm. Acesso em Mai 2009. Drummond, G. M.; Martins, C. S.; Machado, A. B. M.; Sebaio, F. A. & Antonini, Y. (orgs.). Biodiversidade em Minas Gerais, um atlas para sua conservação. 2ª ed. Fundação Biodiversistas. Belo Horizonte, 2005. 222 p. Espécies invasoras de Portugal. Disponível em: http://www.uc.pt/invasoras/especies_perfis.htm. Acesso em 25 Mai 2009. Farjalla, V. Sucessão Ecológica. Ecolgia de Comunidades. Apresentação ppt. Disponível em: <http://www.biologia.ufrj.br/matedida/ecologia/ecologia_basica(IBE231)/Sucess%E3o%20Ecol %F3gica.pdf>. Acesso em Abr. 2009. Hodkinson, I. D.; Jackson, J. K.Terrestrial and Aquatic Invertebrates as Bioindicators for Environmental Monitoring, with Particular Reference to Mountain Ecosystems. Environmental Management Vol. 35, No. 5, pp. 649–666. 2005. IBGE. Unidades de Conservação Federais. Diretoria de Geociências, 2007. Portal Altamontanha. Incêndio na Serra do Mar. Disponível em: <http://altamontanha.com/news/9/news/news_item.asp?NewsID=174>. Acesso em 07 Abr 2009. Leite, F. Motocicletas e desrespeito à natureza. Postado em Meio ambiente, Mountain Bike com as tags ética, preservação, trilhas às Dezembro 3, 2007 por Sergio Morais. Disponível em: http://www.sergiomoraes.wordpress.com/tag/etica. Acesso em 07 Abr 2009. Louzada, J. N. C. Bioindicadores de Qualidade Ambiental. Apresentação. Universidade Federal de Lavras. V Congresso Brasileiro de Ecologia, em Porto Alegre. 2001. Matheus, F. S. Capacidade de Carga e Manejo dos Visitantes. Monografia (Bacharelado em Turismo).Universidade São Paulo. São Paulo, 2003. 90p. Milano, M. S. Unidades de conservação: conceitos e princípios de planejamento e gestão. 1ed. Curitiba: Fupef, 1989. v. 1. 72 p. Nava, A. F. D. Espécies sentinelas para Mata Atlântica: as consequências epidemiológicas da fragmentação florestal no Pontal do Paranapanema, São Paulo. Tese (Doutorado) Universidade de São Paulo. 147f. 2008. Odum, E.P. Ecologia. Ed. Guanabara, RJ, 434p. 1983. Parque Estadual do Itacolomi inaugura área de camping. Disponível em: <http://www.ouropreto.com.br/noticias/detalhe.php?idnoticia=606> Acesso em 07 Abr 2009. 24 Parque Nacional do Yellowstone, USA. Disponível em: <http://www.nationalparkreservations.com/yellowstone.htm> Acesso em 16 Abri 2009. Plano de Manejo do Parque Estadual do Ibitipoca - Equipe de Ciências Naturais - Documento Final. Encarte2. Manual de Gestão do Parque Estadual do Ibitipoca. Belo Horizonte. 2006. Pearce, J.L; Venier, L.A. The use of ground beetles (Coleoptera: Carabidae) and spiders (Araneae) as bioindicators of sustainable forest management: A review. Ecological Indicators 6 p.780–793. 2006. Reis, A. Restauração de Áreas Degradas – Imitando a Natureza. Apostila. Florianópolis, 2006. Ribeiro, E. M. S. 2006. Estudo para avaliação dos impactos ocasionados pelo uso público nas trilhas do Parque Estadual Dois Irmãos. Centro Federal de Educação Tecnológica de Pernambuco (CEFET-PE). Recife, 40 p. Rylands, A. B.; Brandon, K. Unidades de conservação brasileiras. Revista Megadiversidade. Belo Horizonte. v. 1, n 1. 2005. Simiqueli, R. F. Perspectivas para a conservação do Parque Estadual do Ibitipoca – MG: participação social, avaliação, manejo e percepção ambiental. Dissertação (Mestrado em Ecologia). Juiz de Fora. 2008. Soares, M. Impactos do turismo: os efeitos do ecoturismo em unidades de conservação. Revista de Turismo. Instituto Cenecista Fayal de Ensino Superior – IFES. Itajaí – SC. 2ª ed. v.2 n. 2, 2007. Viana, F. M. F. Análise ambiental da capacidade de carga antrópica nas trilhas do Circuito Janela do Céu -Parque Estadual do Ibitipoca, MG. 102f. Monografia (Especialização) Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora. 2008. Zamoner, M. Bioindicadores e relatores ambientais. Disponível em: <http://www.protexto.com.br/texto.php?cod_texto=371> Acesso em 25 Mai 2009. USP. Estágios de ocupação por uma gramínea invasora. Disponível em: <http://www.eco.ib.usp.br/cerrado/aspectos_conservacao.htm>. Acesso em 25 Mai 2009a. USP. Sucessão Ecológica. Disponívle em: http://www.ib.usp.br/ecologia/sucessao_ecologica_print.htm. Acesso em 19 Abr 2009b. Ajude a conservar o meio ambiente, você também faz parte dele!! e-mail: [email protected] Agradecimentos e apoio: 25