Sintomas e danos causados por PALESTRA vírus em culturas de importância econômica. 217 SINTOMAS E DANOS CAUSADOS POR VÍRUS EM CULTURAS DE IMPORTÂNCIA ECONÔMICA Alexandre Levi Rodrigues Chaves Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal Instituto Biológico São Paulo-SP. E-mail: [email protected] RESUMO As viroses são importantes economicamente, principalmente, quando causam variações significativas que fogem da normalidade no desenvolvimento das plantas. Em estudos experimentais, usualmente dependemos, de certa forma, da reprodução da doença em sua forma biológica. Os sintomas foram particularmente importantes no início das pesquisas realizadas com vírus, porém, anteriormente a esse período, nenhuma das viroses haviam sido isoladas e caracterizadas. PALAVRAS-CHAVE: Vírus, interação, hospedeiros. ABSTRACT SYMPTOMS AND DAMAGE CAUSED BY VIRUS IN ECONOMIC IMPORTANCE CROPS Viruses are economically important only when they cause some significant deviation from normal in the growth of a plant. For experimental studies, we are usually dependent on the production of disease in some form to demonstrate biological activity. Symptoms were particularly important in the early days of virus research, before any of the viruses themselves had been isolated and characterized. KEY WORDS: Virus, interaction, host. Registros consistentes de sintomas em plantas, atualmente atribuídos a vírus, datam do século XIX. Porém, muito antes desse período, mesmo desconhecendo-se que o agente causal de tais anomalias tratava-se de um fitopatógeno, descrições, poemas e gravuras retratavam com clareza os sintomas induzidos por vírus. A mais antiga referência descrevendo sintomas causados por vírus em plantas data do ano 752, sendo esta um poema de autoria da imperatriz japonesa Koken. Mais tarde, historiadores identificaram a planta descrita no poema como sendo Eupatorium lindyanum, espécie altamente suscetível ao Tobacco leaf curl virus (Geminivirus) (H ULL, 2002). Outros exemplos da descrição de sintomas causados por vírus são registrados, sendo o mais clássico o das flores variegadas das tulipas, que eram altamente valorizadas na região oeste da Europa no século XVIII. Somente em 1926 a variegação das flores de tulipas foi definitivamente elucidada como sendo causada por um vírus, devido às características de ser transmitida para outras plantas de tulipas por meio de extratos e afídeos (WALKEY, 1985). Atualmente, é de conhecimento que os agentes causais dessa variegação são as espécies Tulip band breaking virus e Tulip breaking virus (Potyvirus) (VAN REGENMORTEL , 2000). Durante 30 anos (1904 a 1935), muitas doenças causadas por fitovírus foram descritas com base apenas nos sintomas induzidos nas plantas sendo este critério, atualmente, utilizado pelo International Committee for Virus Taxonomy (ICTV) não somente para a designação das espécies de vírus descritas, como também para nomear novas espécies. É importante ressaltar que esta forma de utilizar os sintomas como parâmetro para a designação dos vírus foi uma recomendação insistentemente proposta por COSTA (1975) que considerava imprescindível denominar um novo vírus com a descrição da doença dada pelo produtor que, em geral, reflete bem as suas propriedades patológicas. Assim, muitos virologistas de plantas brasileiros tem tido o privilégio de "batizar" alguns vírus inéditos entre nós como, por exemplo, mosaico dourado do feijoeiro, mosaico comum da soja, vírus X do patchuli, antocianose do algodão, amarelo letal Biológico, São Paulo, v.64, n.2, p.217-219, jul./dez., 2002 218 A.L.R. Chaves do mamoeiro, mancha amarela da graviola que, atualmente, são reconhecidos pela literatura internacional (KITAJIMA et al., 1997). De acordo com os conceitos da fitopatologia, vírus induzem, na planta infectada, apenas sintomas, que por definição caracterizam-se pela reação da planta a um agente nocivo. Os sinais, visualização e exteriorização das estruturas do patógeno no tecido doente, não são observados no caso dos vírus. Portanto, o termo sintomatologia, que vem a ser o conjunto das ações recorrentes dos sintomas e sinais, por definição não devem ser empregadas nas doenças causadas por fitovírus (BERGAMIN FILHO et al., 1995). Os sintomas induzidos por vírus na planta hospedeira, vêm a ser a expressão externa das modificações estruturais, fisiológicas e bioquímicas sofridas pelas células após a penetração das partículas virais. Com relação às alterações fisiológicas e bioquímicas observa-se a redução da fotossíntese, da respiração, síntese de proteínas, aminoácidos, substâncias reguladoras de crescimento e dos compostos fenólicos (VICENTE, 1979). Estas alterações como conseqüência induzem o desenvolvimento dos sintomas externos que podem ser observados em diferentes órgãos vegetativos como ramos, folhas, flores e frutos. Entretanto, deve-se considerar que os sintomas são influenciados não só pelo genoma viral e pela constituição genotípica da hospedeira, mas também, por fatores ambientais, como fotoperíodo e temperatura que podem acelerar ou retardar o surgimento dos mesmos ou ainda mascarar, atenuar ou aumentar a sua severidade (AGRIOS, 1988). Os vírus, como os demais fitopatógenos, são responsáveis pela indução de sintomas morfológicos que são qualificados como necróticos ou plásticos e causam, por sua vez, alterações visíveis na forma ou anatomia dos órgãos da planta. No caso dos vírus observa-se mais freqüentemente o desenvolvimento dos sintomas plásticos que se caracterizam por anomalias no crescimento, multiplicação ou diferenciação de células vegetais que levam a distorções nos órgãos das plantas infectadas, podendo ser estes caracterizados como albinismo, clorose, estiolamento, enfezamento ou nanismo, mosaico, roseta, bronzeamento, enação, encarquilhamento e epinastia (BERGAMIN FILHO et al., 1995). Mesmo com o advento de técnicas sorológicas e moleculares, que são ferramentas importantes para o diagnóstico, identificação e caracterização dos fitovírus, o reconhecimento dos sintomas ainda é peça fundamental e indispensável na fitovirologia, pois permitem, muitas vezes, realizar o pré-diagnóstico e a tomada de decisões no emprego das técnicas mais sofisticadas (WALKEY, 1985). Diferentes sintomas induzidos por vírus numa mesma planta, ou em hospedeiras diversas servem para formar um quadro que pode ser utilizado para identificar um vírus. A especialidade de um vírus por determinadas espécies vegetais ou por variedades de uma mesma espécie, associada ao tipo de sintomas produzidos, podem ser úteis na caracterização destes vírus podendo-se citar como exemplo, o viracabeça (Tospovirus) (BERGAMIN FILHO et al., 1995). Plantas da família solanácea como pimentão e tomate, quando infectadas por esse vírus desenvolvem sintomas característicos de anéis cloróticos e necróticos nas folhas e frutos infectados, mosaico, arroxeamento ou bronzeamento das folhas, nanismo, deformação foliar, necrose severa das hastes e das folhas seguida, muito freqüentemente, da morte da planta (POZZER et al., 1996). Amostras de plantas com estes sintomas quando levadas ao laboratório e inoculadas mecanicamente em plantas indicadoras, como diferentes espécies e variedades de fumo, reproduzem os mesmos sintomas observados na planta original, porém, plantas de Petunia hybrida, desenvolvem apenas lesões de pontos necróticos nas folhas inoculadas, o que permite concluir que o isolado pertence ao gênero Tospovirus (COLARICCIO et al., 2000). Muitas vezes, uma espécie de vírus pode induzir sintomas diferenciados em uma mesma espécie ou variedade de planta cultivada nas mesmas condições, o que caracteriza que estes vírus apresentam-se subdivididos em tipos. Como exemplo desse caso pode-se citar o registro, em couve manteiga, do Turnip mosaic virus (TuMV), responsável por sintomas severos que variavam de mosaico a necrose em plantações comerciais na região do cinturão-verde de São Paulo. Testes sorológicos permitiram a identificação do vírus, porém somente com a utilização de plantas indicadoras da espécie Nicotiana glutinosa, que reage com sintomas locais ou sistêmicos distintos, de acordo com o tipo I e II do TuMV, foi possível determinar a ocorrência, em couve, dos dois tipos no Brasil (COLARICCIO et al., 2000). Isolados do Tomato mosaic virus (Tobamovirus), provenientes de diferentes variedades de tomateiro cultivados em regiões distintas do Estado de São Paulo, também já foram descritos causando sintomas que variavam desde a ausência de sintomas nas folhas, porém, com produção de frutos deformados e manchados até a forma clássica de sintomas descritos para esse vírus, com indução de arqueamento, afilamento e mosaico com baixa produção de frutos. Este fato se deve, possivelmente, à inserções de genes que conferem resistência ao ToMV ou ao resultado das interações entre o ambiente e o estádio de desenvolvimento das plantas ao serem infectadas. Essas variações de sintomas podem muitas vezes ser responsáveis por diagnósticos equivocados quando baseados apenas na observação de sintomas no campo, podendo con- Biológico, São Paulo, v.64, n.2, p.217-219, jul./dez., 2002 Sintomas e danos causados por vírus em culturas de importância econômica. tribuir para a manutenção de fonte de inóculo e para a disseminação do vírus (C OLARICCIO et al., 2001). Assim, devido às variações dos sintomas induzidos pelos vírus, os prejuízos causados são inevitáveis, podendo causar quebra de até 100% da produção. Para se obter um controle bem sucedido a prevenção ainda é o sistema mais eficiente, devendo-se adotar para tanto a utilização de variedades resistentes e realizar periodicamente diferentes práticas culturais como o controle dos insetos vetores, erradicação e distruição de plantas sintomáticas tanto da vegetação espontânea como cultivadas (MICHEREFF, 2001). REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS AGRIOS, G.N. Plant Pathology. 3. ed. 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