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Sintomas e danos causados por PALESTRA
vírus em culturas de importância econômica.
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SINTOMAS E DANOS CAUSADOS POR VÍRUS EM
CULTURAS DE IMPORTÂNCIA ECONÔMICA
Alexandre Levi Rodrigues Chaves
Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de
Sanidade Vegetal
Instituto Biológico
São Paulo-SP.
E-mail: [email protected]
RESUMO
As viroses são importantes economicamente, principalmente,
quando causam variações significativas que fogem da normalidade
no desenvolvimento das plantas. Em estudos experimentais, usualmente dependemos, de certa forma, da reprodução da doença em sua
forma biológica. Os sintomas foram particularmente importantes no início das pesquisas realizadas com vírus, porém, anteriormente a esse período, nenhuma das viroses haviam sido isoladas e caracterizadas.
PALAVRAS-CHAVE: Vírus, interação, hospedeiros.
ABSTRACT
SYMPTOMS AND DAMAGE CAUSED BY VIRUS IN ECONOMIC IMPORTANCE CROPS
Viruses are economically important only when they cause some significant deviation from
normal in the growth of a plant. For experimental studies, we are usually dependent on the
production of disease in some form to demonstrate biological activity. Symptoms were particularly
important in the early days of virus research, before any of the viruses themselves had been
isolated and characterized.
KEY WORDS: Virus, interaction, host.
Registros consistentes de sintomas em plantas,
atualmente atribuídos a vírus, datam do século XIX.
Porém, muito antes desse período, mesmo desconhecendo-se que o agente causal de tais anomalias tratava-se de um fitopatógeno, descrições, poemas e
gravuras retratavam com clareza os sintomas induzidos por vírus. A mais antiga referência descrevendo
sintomas causados por vírus em plantas data do ano
752, sendo esta um poema de autoria da imperatriz
japonesa Koken. Mais tarde, historiadores identificaram a planta descrita no poema como sendo
Eupatorium lindyanum, espécie altamente suscetível ao
Tobacco leaf curl virus (Geminivirus) (H ULL, 2002).
Outros exemplos da descrição de sintomas causados
por vírus são registrados, sendo o mais clássico o das
flores variegadas das tulipas, que eram altamente
valorizadas na região oeste da Europa no século XVIII.
Somente em 1926 a variegação das flores de tulipas
foi definitivamente elucidada como sendo causada
por um vírus, devido às características de ser transmitida para outras plantas de tulipas por meio de
extratos e afídeos (WALKEY, 1985). Atualmente, é de
conhecimento que os agentes causais dessa
variegação são as espécies Tulip band breaking virus e
Tulip breaking virus (Potyvirus) (VAN REGENMORTEL ,
2000).
Durante 30 anos (1904 a 1935), muitas doenças
causadas por fitovírus foram descritas com base apenas nos sintomas induzidos nas plantas sendo este
critério, atualmente, utilizado pelo International
Committee for Virus Taxonomy (ICTV) não somente
para a designação das espécies de vírus descritas,
como também para nomear novas espécies. É importante ressaltar que esta forma de utilizar os sintomas
como parâmetro para a designação dos vírus foi uma
recomendação insistentemente proposta por COSTA
(1975) que considerava imprescindível denominar um
novo vírus com a descrição da doença dada pelo produtor que, em geral, reflete bem as suas propriedades
patológicas. Assim, muitos virologistas de plantas
brasileiros tem tido o privilégio de "batizar" alguns
vírus inéditos entre nós como, por exemplo, mosaico
dourado do feijoeiro, mosaico comum da soja, vírus X
do patchuli, antocianose do algodão, amarelo letal
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A.L.R. Chaves
do mamoeiro, mancha amarela da graviola que, atualmente, são reconhecidos pela literatura internacional (KITAJIMA et al., 1997).
De acordo com os conceitos da fitopatologia, vírus
induzem, na planta infectada, apenas sintomas, que
por definição caracterizam-se pela reação da planta a
um agente nocivo. Os sinais, visualização e
exteriorização das estruturas do patógeno no tecido
doente, não são observados no caso dos vírus. Portanto,
o termo sintomatologia, que vem a ser o conjunto das
ações recorrentes dos sintomas e sinais, por definição
não devem ser empregadas nas doenças causadas por
fitovírus (BERGAMIN FILHO et al., 1995).
Os sintomas induzidos por vírus na planta hospedeira, vêm a ser a expressão externa das modificações
estruturais, fisiológicas e bioquímicas sofridas pelas
células após a penetração das partículas virais. Com
relação às alterações fisiológicas e bioquímicas observa-se a redução da fotossíntese, da respiração, síntese
de proteínas, aminoácidos, substâncias reguladoras
de crescimento e dos compostos fenólicos (VICENTE,
1979). Estas alterações como conseqüência induzem
o desenvolvimento dos sintomas externos que podem
ser observados em diferentes órgãos vegetativos como
ramos, folhas, flores e frutos. Entretanto, deve-se considerar que os sintomas são influenciados não só pelo
genoma viral e pela constituição genotípica da hospedeira, mas também, por fatores ambientais, como
fotoperíodo e temperatura que podem acelerar ou
retardar o surgimento dos mesmos ou ainda mascarar, atenuar ou aumentar a sua severidade (AGRIOS,
1988).
Os vírus, como os demais fitopatógenos, são responsáveis pela indução de sintomas morfológicos que
são qualificados como necróticos ou plásticos e causam, por sua vez, alterações visíveis na forma ou
anatomia dos órgãos da planta. No caso dos vírus
observa-se mais freqüentemente o desenvolvimento
dos sintomas plásticos que se caracterizam por anomalias no crescimento, multiplicação ou diferenciação
de células vegetais que levam a distorções nos órgãos
das plantas infectadas, podendo ser estes caracterizados como albinismo, clorose, estiolamento,
enfezamento ou nanismo, mosaico, roseta,
bronzeamento, enação, encarquilhamento e epinastia
(BERGAMIN FILHO et al., 1995).
Mesmo com o advento de técnicas sorológicas e
moleculares, que são ferramentas importantes para o
diagnóstico, identificação e caracterização dos
fitovírus, o reconhecimento dos sintomas ainda é peça
fundamental e indispensável na fitovirologia, pois
permitem, muitas vezes, realizar o pré-diagnóstico e a
tomada de decisões no emprego das técnicas mais
sofisticadas (WALKEY, 1985).
Diferentes sintomas induzidos por vírus numa
mesma planta, ou em hospedeiras diversas servem
para formar um quadro que pode ser utilizado para
identificar um vírus. A especialidade de um vírus por
determinadas espécies vegetais ou por variedades de
uma mesma espécie, associada ao tipo de sintomas
produzidos, podem ser úteis na caracterização
destes vírus podendo-se citar como exemplo, o viracabeça (Tospovirus) (BERGAMIN FILHO et al., 1995). Plantas da família solanácea como pimentão e tomate,
quando infectadas por esse vírus desenvolvem sintomas característicos de anéis cloróticos e necróticos
nas folhas e frutos infectados, mosaico, arroxeamento
ou bronzeamento das folhas, nanismo, deformação
foliar, necrose severa das hastes e das folhas seguida, muito freqüentemente, da morte da planta (POZZER
et al., 1996). Amostras de plantas com estes sintomas
quando levadas ao laboratório e inoculadas mecanicamente em plantas indicadoras, como diferentes
espécies e variedades de fumo, reproduzem os mesmos sintomas observados na planta original, porém,
plantas de Petunia hybrida, desenvolvem apenas
lesões de pontos necróticos nas folhas inoculadas, o
que permite concluir que o isolado pertence ao gênero
Tospovirus (COLARICCIO et al., 2000).
Muitas vezes, uma espécie de vírus pode induzir
sintomas diferenciados em uma mesma espécie ou
variedade de planta cultivada nas mesmas condições,
o que caracteriza que estes vírus apresentam-se subdivididos em tipos. Como exemplo desse caso pode-se
citar o registro, em couve manteiga, do Turnip mosaic
virus (TuMV), responsável por sintomas severos que
variavam de mosaico a necrose em plantações comerciais na região do cinturão-verde de São Paulo.
Testes sorológicos permitiram a identificação do
vírus, porém somente com a utilização de plantas
indicadoras da espécie Nicotiana glutinosa, que reage
com sintomas locais ou sistêmicos distintos, de acordo
com o tipo I e II do TuMV, foi possível determinar a
ocorrência, em couve, dos dois tipos no Brasil
(COLARICCIO et al., 2000).
Isolados do Tomato mosaic virus (Tobamovirus),
provenientes de diferentes variedades de tomateiro cultivados em regiões distintas do Estado de
São Paulo, também já foram descritos causando
sintomas que variavam desde a ausência de sintomas nas folhas, porém, com produção de frutos
deformados e manchados até a forma clássica de
sintomas descritos para esse vírus, com indução
de arqueamento, afilamento e mosaico com baixa
produção de frutos. Este fato se deve, possivelmente, à inserções de genes que conferem resistência
ao ToMV ou ao resultado das interações entre o
ambiente e o estádio de desenvolvimento das plantas ao serem infectadas. Essas variações de sintomas podem muitas vezes ser responsáveis por diagnósticos equivocados quando baseados apenas
na observação de sintomas no campo, podendo con-
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tribuir para a manutenção de fonte de inóculo e
para a disseminação do vírus (C OLARICCIO et al.,
2001).
Assim, devido às variações dos sintomas induzidos pelos vírus, os prejuízos causados são inevitáveis, podendo causar quebra de até 100% da produção. Para se obter um controle bem sucedido a prevenção ainda é o sistema mais eficiente, devendo-se
adotar para tanto a utilização de variedades resistentes e realizar periodicamente diferentes práticas culturais como o controle dos insetos vetores, erradicação
e distruição de plantas sintomáticas tanto da vegetação espontânea como cultivadas (MICHEREFF, 2001).
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