Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I Aparelho Cardiocirculatório Aparelho Cardiocirculatório – Prof. Costa Almeida Estrutura e funções - o aparelho cardiocirculatório é constituído pelo coração, artérias, arteríolas, capilares, vénulas e veias - o sistema circulatório é um sistema canalicular fechado, ligado a uma bomba motora, aspirante-premente • bomba aspirante – diástole (dilatação) • bomba premente – sístole (contracção) - quando o coração está parado, a pressão sanguínea é igual em todos os pontos do corpo Ö pressão sistémica média - quando o coração começa a funcionar, cria um diferencial de pressão, que constitui a pressão motora do movimento do líquido no sistema canalicular Ö força propulsora que faz circular o sangue pelo corpo - a circulação do sangue num só sentido deve-se às válvulas cardíacas: empurra o sangue para a frente, uma vez que, não pode voltar para trás (as válvulas já fecharam) - o coração, fígado, pâncreas e baço funcionam como reservatórios de sangue (acumulam-se nas veias destes): esse sangue circula consoante precisamos de mais ou menos sangue Funções do aparelho cardiocirculatório - transporte de nutrientes, gases, hormonas, etc. - nutrição (nutre a células e remove os produtos resultantes do seu metabolismo) - defesa (transporta anticorpos responsáveis pela defesa do organismo) - mantém o equilibrio do meio interno - permite a regulação da temperatura do corpo e sua homogeneição - a taquicardia é uma patologia em que o coração bate mais depressa que o normal; por outro lado, braquicardia é uma patologia em que o coração bate mais devagar que o normal - 42 - Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I Aparelho Cardiocirculatório - a falta de sangue no coração denomina-se isquémia; neste caso, o sangue pode não chegar a alguns órgãos ou chegar com pouca pressão Coração AURÍCULA ESQUERDA AURÍCULA DIREITA - o coração, também designado por bomba aspirante-premente está dividido em quatro cavidades cardíacas separadas duas a duas (duas no coração esquerdo e duas no coração direito): as de entrada de sangue (aurículas) e as de saída ou de ejecção (ventrículos) - no coração existem quatro válvulas: válvula aórtica, válvula tricúspide, válvula mitral e válvula pulmonar; estas válvulas permitem a circulação do sangue apenas num sentido - existem dois tipos de circulação do sangue: • pequena circulação ou circulação pulmonar – permite a oxigenação do sangue • grande circulação ou circulação sistémica – responsável pela distribuição de oxigénio e nutrientes às células circulação pulmonar coração esquerdo coração direito circulação sistémica - o coração é constituído por grandes vasos : aorta (grande artéria que nasce no ventrículo esquerdo e a partir da qual o sangue arterial é conduzido para todo o corpo), coronárias (ramificações da aorta que irrigam o músculo cardíaco), artéria pulmonar - 43 - Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I Aparelho Cardiocirculatório (artéria proveniente do ventrículo direito que transporta sangue venoso até aos pulmões), veias pulmonares ( provenientes do pulmão com sangue arterial, entram no coração pela aurícula esquerda) e veias cavas (transportam sangue venoso do organismo de todo o corpo para a aurícula direita) - a contracção do coração deve-se presença do miocárdio (músculo cardíaco), sendo este composto por: aurículas e ventrículos (com potencial de acção longo) e tecido excitatório ou de condução (cardionector) este não possui propriedades de contracção - o miocárdio contrai-se periodicamente, sendo estimulado electricamente, fisiologicamente ou artificialmente (reanimações) - o ritmo cardíaco é mantido por nódulos existentes no coração: o nódulo sinoauricular (localizado na aurícula direita), que envia impulsos eléctricos para as paredes das aurículas e para o nódulo auriculoventricular (localizado entre a aurícula direita e o ventrículo direito), que por sua vez envia-os para os ventrículos; o nódulo auriculoventricular proporciona um atraso na contracção pois tem que ser dado tempo para as aurículas contrairem e só depois ocorre a sístole ventricular - Propriedades do miocárdio: • automatismo ou autorritmicidade – podem gerar PA espontaneamente • condutibilidade – transmite estímulos (correntes eléctricas) • excitabilidade – corresponde ao estímulo • contractibilidade Ciclo cardíaco - o ciclo cardíaco é uma sequência de contracção (sístole) e relaxamento (diástole) do coração - na sístole ventricular, as válvulas são abertas para saída do sangue, que é assim ejectado para as artérias; os ventrículos mantém o seu volume mas a pressão varia (contracção isovolumétrica) - na diástole ventricular, as válvulas de saída de sangue para as artérias estão fechadas e dá-se o enchimento do ventrículo com o sangue proveniente das aurículas; os ventrículos mantém o seu volume mas a pressão varia (relaxamento isovolumétrico) - 44 - Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I Aparelho Cardiocirculatório - o volume diastólico final corresponde a 20% do sangue que entra no ventrículo empurrados pelas sístole auricular; já o volume sistólico corresponde a cerca de 65 a 70% (fracção de ejecção) de sangue do ventrículo que é ejectado, durante a sístole ventricular; por sua vez, o volume residual ou volume sistólico final corresponde ao volume de sangue que após cada sístole permanece no ventrículo - cada ciclo cardíaco corresponde a um batimento; deste modo, a frequência cardíaca corresponde ao número de batimentos por minuto (em média é 60-70/minuto) débito cardíaco = volume sistólico x frequência cardíaca - o fonocardiograma consiste na auscultação (estetoscópio) dos ruídos/batimentos cardíacos, correspondentes à diástole e sístole 1º ruido : encerramento das válvulas auriculoventriculares; 2º ruido : encerramento das válvulas arteriais; silêncio : enchimento das aurículas - os sopros são insuficiências cardíacas que resultam da passagem de sangue por sítios (válvulas) demasiado apertados; sendo assim, para manter o débito, o sangue passa com mais velocidade Ö faz ruído - o trabalho sistólico é o trabalho que é levado a cabo pelo miocárdio e é igual a: ∆ P x ∆ V miocárdicos - ambos os ventrículos posssuem a mesma forma, embora o ventrículo esquerdo tenha maior área (maior trabalho sistólico), mesmo volume sistólico mas maior pressão a vencer Ö o sangue tem que ir a todo o organismo - 45 - Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I Aparelho Cardiocirculatório Regulação Cardiocirculatória • Adaptação do trabalho cardíaco às necessidades - Lei de Frank-Starling : o coração expulsa o sangue que recebe (quanto mais recebe, mais expulsa) por acção de uma força de contracção miocárdica determinada por : - distensão das fibras musculares, condicionada pelo maior ou menor volume venoso de retorno - sem distenção das fibras musculares, por acção nervosa (simpático) - sem distenção das fibras musculares, por acção hormonal (epinefrina ou adrenalina) - a Lei de Frank-Starling demonstra a adaptação do trabalho (trabalho sistólico) cardíaco às necessidades: - as condições de contracção podem ter dois efeitos: - efeito cronotrópico positivo: em que há aumento da frequência cardíaca Ö diminui a duração do ciclo cardíaco, à custa da diástole - efeito inotrópico positivo: em que há aumento da força de contracção Ö estimulação de receptores β 1-adrenérgicos - relativamente à acção hormonal, hormonas como a adrenalina e a tiroxina aumentam a frequência cardíaca, já a força de contracção é possibilitada pelas hormonas adrenalina, glucagina, adrenocorticais, s-hidroximiptamina - o volume sistólico pode ser regulado de duas maneiras: ª intrínsecamente (o retorno venoso ao coração é que determina, fundamentalmente, o débito cardíaco e, portanto, o volume sistólico) - 46 - Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I Aumento do retorno venoso Aumento do volume diastólico final Aparelho Cardiocirculatório extensão das fibras musculares caríacas Aumento da tensão próxima contracção Aumento do volume sistólico Nota: o retorno venoso aumenta com a constricção das veias, com o exercício, com o aumento do ébito caríaco do ventrículo direito, com a decida de pressão intratoráxica e com o aumento da pressão arterial sistémica; e diminui com o volume sanguíneo, dilatação das veias e com a gravidade ª extrínsecamente (pelo sistema nervoso simpático e pelas catecolaminasreceptores β 1) • adrenalina + noradrenalina Inervação cardíaca - a inervação cardíaca é controlada pelos: ªSistema nervoso parassimpático – regula os nódulos sinoauricular e auriculoventricular, provocando uma diminuição da frequência cardíaca (efeito bradicardizante) ª Sistema nervoso simpático – regula todo o miocárdio, aumenta o trabalho cardíaco – aumenta da força de contracção e da frequência cardíaca (efeitos taquicardizante e inotrópico positivo): aumento do trabalho cardíaco maior consumo metabólico maior vasodilatação coronária maior necessidade de O2 - 47 - Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I Aparelho Cardiocirculatório - maior vasodilatação coronária é possibilitada pela hiperémia metabólica (controlo local) e pela acção da epinefrina sobre receptores β 2 (estimulação simpática) • provocam vasodilatação coronária Dinâmica cardíaca - dinamicamente, o coração corresponde a duas bombas aspirantes-prementes, sendo o débito cardíaco rigorosamente igual, controlado pelo mecanismo de Frank-Starling - a tensão das paredes ventriculares, quando o ventrículo está cheio, denomina-se preload (= força que o sangue tem que fazer para sair do coração) aumento do volume de sangue aumento da preload aumento do volume sistólico - a força contra a qual o coração tem de ejectar o sangue chama-se afterload e é traduzida pela pressão na aorta - sendo assim, a preload e a afterload são importantes para determinar a performance cardíaca Actividade Eléctrica dos Tecidos - um galvanómetro é um instrumento que verifica a existência de corrente eléctrica e mede a intensidade das correntes eléctricas; num caso de repouso, o galvanómetro não mede passagem de corrente eléctrica pois não há movimento de iões - as correntes galvânicas correspondem a - nas células, dá-se uma excitação (despolarização), em que há inversão das cargas positivas e negativas Ö coração contrai (sístole) - pelo contrário, quando ocorre a repolarização Öcoração relaxa (diástole) - o coração é dos únicos órgãos que faz barulho ao trabalhar; esse barulho deve-se ao encerramento das válvulas Ö estudo do coração por fonocardiograma - outro modo de estudar o coração é detectar a actividade eléctrica deste com galvanómetros (ECG = electrocardiógrafo): usa-se coração em água (bom condutor de corrente eléctrica) ECG mostra “ondas” e cada ciclo de ondas equivale a um ciclo cardíaco - 48 - Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I Aparelho Cardiocirculatório - para estudarmos o coração temos que fazer 12 derivações do exame, ou seja, 12 maneiras diferentes de colocar os eléctrodos - no caso de : primeira frequência cardíaca muito alta insuficiência cardíaca significa significa coração não se enche de sangue é necessário pacemaker introdução de um fio eléctrico que vai ter ao ventrículo direito - o fio do pacemaker é ligado a um gerador e este aparelho funciona automaticamente; assim, podemos regular a frequência cardíaca como quisermos - também existem aparelhos para baixar a frequência cardíaca, em casos de taquicardia, mas estes são mais raros - num indivíduo com pacemaker não há contracção auricular porque o estímulo é induzido directamente no ventrículo; certos ambientes magnéticos podem interferir no normal funcionamento do pacemaker - num indivíduo saudável, o pacemaker é natural Ö nódulo sinoauricular - no estudo da actividade cardíaca, o electrocardiograma é um instrumento médico muito importante, na medida que permite uma leitura dos potenciais eléctricos em vários locais do corpo; deste modo, torna possível uma avaliação do normal/anormal funcionamento do coração - um electrocardiograma é constituído por ondas Ö essas ondas traduzem diferentes momentos da condução do impulso - 49 - Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I Aparelho Cardiocirculatório Onda P – curva de despolarização auricular Ö aurícula despolariza e contrai Onda QRS – curva de despolarização ventricular Ö ventrículo despolariza e contrai; simultaneamente, há também repolarização auricular Ö aurícula repolariza e relaxa Onda T - curva de repolarização ventricular Ö ventrículo repolariza e relaxa Intervalo PR – é o tempo desde o início da activação auricular até ao início da activação ventricular Ö tempo de contracção auricular Intervalo QT – é o tempo total de despolarização e repolarização dos ventrículos Ö tempo de contracção ventricular Aparelho Circulatório CORAÇÃO veias vénulas artérias capilares arteríolas - o sangue circula do coração para o coração continuadamente - na circulação do sangue pelo corpo temos que considerar importantes condutores: artérias, veias, arteríolas, vénulas e capilares - a aorta e as artérias maiores são, predominantemente, tubos elásticos, enquanto que, as mais pequenas são mais musculares - já as arteríolas resultam da ramificação das artérias e sãoconstituídas por músculo liso e endotélio - as arteríolas também se ramificam, dando origem a capilares, que são tubos muito fininhos - 50 - Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I Aparelho Cardiocirculatório - as veias, que trazem o sangue de volta ao coração, são tubos mais finos que as artérias correspondentes e contém menos músculo liso e tecido elástico; as suas paredes são bastante irrigadas - a maior parte do sangue da grande circulação circula nas veias; por outro lado, na pequena circulação, o sangue divide-se igualmente pelas veias, artérias e capilares - todo o sangue venoso das vísceras abdominais, antes de regressar ao coração (circulação de retorno) pelas veia cava inferior, passa pela veia porta do fígado () - na circulação sanguínea, o fígado é um órgão muito importante, na medida que funciona como um reservatório, “usado”, por exemplo, quando perdemos sangue Ö órgão esplâncnico (tal como baço, pâncreas, etc) assim, se necessário, o organismo põe mais sangue em circulação - o fígado recebe sangue da veia porta e/ou da artéria hepática Dinâmica de um Líquido Circulante num Sistema Canalicular - o sistema circulatório segue exactamente as mesmas regras da dinâmica de fluidos percorrendo sistemas canaliculares; deste modo, as leis físicas também são aplicadas ao Corpo Humano: velocidade de circulação, Lei de Poiseuille, Lei de Ohm - a circulação do sangue através o sistema vascular, tal como qualquer outro fluido num tubo, depende, em parte, da diferença de pressão entre dois pontos do tubo Ö se a pressão em ambas as extremidades do tubo for a mesma, não há circulação - no caso do sistema circulatório, a variação de pressão ( ∆ P) considerada é a diferença de pressão entre a aorta (início) e a junção da veia cava com a aurícula direita (final) - 51 - Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I Aparelho Cardiocirculatório ⋅ - pela Lei de Ohm, o débito cardíaco ( Q ) é directamente proporcional à pressão entre as duas extremidades ( ∆ P) mas inversamente proporcional à resistência friccional entre o sangue e as paredes dos vasos (R): . Q= ∆P R - por sua vez, a resistência friccional entre o sangue e as paredes dos vasos (R) é directamente proporcional à viscosidade do sangue (η ) e ao comprimento do tubo (l) e inversamente proporcional ao raio do vaso (r) elevado à quarta: R= 8ηl πr 4 - usando as constantes físicas, pela Lei de Poiseuille, o débito cardíaco será dado por: . Q πr 4 = ∆P 8ηl - já a velocidade de circulação (v) é proporcional ao débito e inversamente proporcional ao quadrado do raio do vaso: . Q v= 4 πr - assim sendo, vasos mais estreitos, implicam que a velocidade so sangue seja maior (considerando o débito constante) - por norma, a viscosidade do sangue e o comprimento dos vasos não varia significativamente - o fluxo laminar de um líquido dentro de um tubo pode tornar-se turbulento a partir de um certo número de Reynolds número de Reynolds = - 52 - vdD η v = velocidade do líquido D = diâmetro do tubo η = viscosidade do fluido Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I Aparelho Cardiocirculatório - a pressão transmural (PTM) é a diferença entre a pressão no interior do vaso e a pressão no seu exterior - um vaso pode ser muito ou pouco distensíveis (capacidade de voltar à sua forma inicial); associada a esta capacidade de se distender temos a complacência, compliance, capacitância (C) Ö esta dá-nos a variação de volume por unidade de variação de pressão transmural : C= V − V0 ∆V = ∆P P−0 V0(volume em repouso) é o volume interior da estrutura quando a sua PTM for 0 - a distensibilidade de um vaso não significa a sua elasticidade: um material muito distensível tem um módulo de Young baixo, ao contrário de um muito elástico Ö elasticidade ≠ distensibilidade - as artérias são consideradas vasos elásticos porque são constituídas por mais tecido elástico, o que implica maior condutância - as veias são vasos complacentes, pois são constituídas por mais tecido muscular (são deformáveis) - enquanto que as artérias e as arteríolas são vasos mais resistentes, as vénulas e veias acumulam mais sangue (capacitância) - as veias funcionam como “reservatório” Ö permitem a acumulação de grande quantidade de sangue, o que é possível por um pequeno aumento de pressão, isto é, um muito pequeno aumento de pressão produz um grande aumento de volume Fase Arterial do Ciclo Sanguíneo no Aparelho Circulatório - a pressão arterial, pressão com que o sangue é bombeado na aorta, é dada por: pressão arterial = Débito cardíaco x Resistência periférica - o débito cardíaco é condicionado fundamentalmente pelo retorno venoso – Mecanismo de Frank-Starling - 53 - Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I Aparelho Cardiocirculatório Factores que influenciam a pressão arterial sanguínea: Factores Físicos – relacionadas com as características mecânicas do fluido (volume do fluido e complacência) Factores Fisiológicos – relacionados com determinadas características do sistema cardiovascular (débito cardíaco e resistência periférica) Cálculo da pressão arterial média: Pressão média ≈ PD + PS − PD 3 PS= pressão sistólica ou máxima PD= pressão diastólica ou mínima Cálculo da pressão de pulso arterial ou pressão diferencial: Ppulso=PS - PD Factores que influenciam a pressão de pulso: Factores Físicos – complacência arterial Factores Fisiológicos – volume sistólico influencia o volume sanguíneo arterial (Va) durante a sístole ventricular - por exemplo: - 54 - Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I Aparelho Cardiocirculatório Força Propulsora Circulatória - a força propulsora circulatória é a força que faz circular o coração Ö empurra-o - essa força tem duas componentes (respeitantes à bomba propulsora do aparelho circulatório): premente (possibilitado pela bomba cardíaca e arterial) Æ vis a tergo (empurra atrás) aspirante (possibilitado pela bomba cardíaca e respiratória) Æ vis a fronte (puxa o sangue, já perto do coração) - Vis a tergo: durante a sístole, o sangue é empurrado pela aorta (por causa da sua elasticidade) Ö coração arterial onda de pulso - velocidade de propagação é inversamente proporcional à distensibilidade e à espessura da parede arterial e ao diâmetro do vaso arteríolas aorta velocidade aumenta vai vencendo a resistência onda de volume – velocidade vai diminuindo até aos capilares e aumentando no retorno até ao coração velocidade aumenta aorta velocidade diminui capilares - 55 - veias cavas Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I Aparelho Cardiocirculatório 1 3 4 2 1 – sístole : aumento de pressão 2 – diástole : diminuição de pressão 3 – entalhe dícroto : aumento ligeiro de pressão (momentâneo) e depois diminui (as válvulas fecharam, o que implica o retrocesso do sangue da aorta até às válvulas) 4 – onda dícrota - Vis a fronte: aspiração respiratória – inspiração (diminuição da pressão intratoráxica e aumento da pressão intra-abdominal) aspiração cardíaca – 1ª onda de fluxo (corresponde à diástole auricular + sístole ventricular); 2ª onda de fluxo (corresponde à diástole ventricular + diástole auricular) Fase Venosa do Ciclo Sanguíneo no Aparelho Circulatório = Retorno Venoso - a pressão venosa central traduz a pressão de preenchimento da aurícula direita e pode ser medida ou na aurícula direita ou nas veias centrais (ou veias cavas intratoráxicas) - a pressão venosa periférica é a pressão medida nas veias periféricas e é um pouco mais elevada que nas veias centrais Factores dos quais depende a pressão venosa central: retorno venoso (nomeadamente, de uma volémia eficaz, o reservatório venoso, capacidade do coração) função miocárdica (capacidade bombeadora cardíaca e resistência vascular) - 56 - Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I Aparelho Cardiocirculatório Influência do Ortostatismo e do Bipedalismo na Circulação de Retorno nos humanos (que andam sobre os dois pés – bipedalismo) para que o sangue regresse ao coração é necessário vencer o peso do sangue e a maior parte do aparelho circulatório encontra-se abaixo do nível do coração o balanço entre a pressão relativa à gravidade (pressão hidrostática) e a pressão que puxa o sangue de volta ao coração (pressão hemodinâmica) denomina-se pressão propulsora e é dada por: pressão propulsora = pressão hemodinâmica - pressão hidrostática Mecanismos de Adaptação à Posição Hidrostática bomba músculo-venosa : situada nos gémeos, funciona como coração periférico e empurra o sangue para cima (aspirante) válvulas venosas (profundas, superficiais e perfurantes) – os músculos contraem (as válvulas de baixo fecham e abrem as de cima) apertando as veias e o sangue é empurrado Ö como não pode ir para baixo, vai para cima falência dos mecanismos dilatação venosa (varizes), edemas, etc - as veias profundas (1) são as que, efectivamente, levam o sangue para o coração - as veias superficiais (2) drenam o sangue para o (3) coração - as veias perfurantes (3), perfurando os músculos, estabelecem a relação entre as veias (2) (1) profundas e as veias superficiais - para activar a circulação dos membros inferiores é preciso mexer o tornozelo; quando a bomba dos gémeos entra em funcionamento, reduz a pressão das veias do pé - em caso de estase na área circulatória venosa dos membros inferiores (diminuição da actividade circulatória), por falência dos mecanismos referidos anteriormente), há um aumento da pressão, o que vai implicar uma dilatação das veias Ö varizes Ö o sangue circula mais devagar e tem mais tendência a acumular-se (calor e peso nas pernas) - 57 - Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I Aparelho Cardiocirculatório Circulação Capilar espaço intersticial - os sistema arterial ramifica-se bastante dando origem aos capilares, tubos bastante finos do aparelho circulatório e que transporta sangue vindo das arteríolas, passando depois esse sangue para as vénulas - os capilares têm uma parede unicelular composta por células endoteliais, membrana basal, possuindo também poros intercelulares; existem, aproximadamente, 10 biliões de capilares - o sangue que vem do coração pelas artérias, segue para as arteíolas e depois para as metarteríolas (arteríolas terminais); de seguida, o sangue vai para os capilares, que, posteriormente, se condensam, dando origem às vénulas, que, por sua vez também se condensam originando veias; estas últimas levam o sangue de volta ao coração - os capilares podem ser denominados como: capilares verdadeiros (ramificam-se de capilares outros capilares e não vão directamente das arteríolas para as vénulas- formam uma espécie de rede) ou capilares preferenciais (vão logo das arteríolas para as vénulas) - na origem dos capilares existem bandas circulares de músculo que regulam o fluxo de sangue Ö esfíncteres pré-capilares - na grande circulação, é nos capilares que se dão as trocas gasosas, ou seja, o sangue arterial (oxigenado) passa a venoso (desoxigenado) - o interstício (ocupa o espaço intersticial) é uma estrutura sólida, constituída por feixes de colagénio, filamentos de proteoglicano e líquido intersticial (gel tecidular com 1% de líquido livre e composição semelhante à do plasma, apenas com menos proteínas) - 58 - Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I Aparelho Cardiocirculatório - o interstício efectua trocas de substâncias com: recebe do plasma (capilares arteriais) e das células dos tecidos irrigados e dá ao plasma (capilares venosos), aos linfáticos e às células dos tecidos irrigados - esta difusão (troca) é directamente proporcional à diferença de pressão de um lado e do outro da parede Ö é factor-chave que promove as trocas de gases, substractos e produtos de metabolismo entre os capilares e os tecidos celulares - para além da difusão, existem outros processos que permitem as trocas entre os capilares e as células: pressão de filtração – relativa à força para fora do capilar e que, portanto, corresponde à saída de substâncias dos capilares para o espaço intersticial (e, depois, para as células) pressão de absorção – relativa à força para dentro do capilar e que, portanto, corresponde à entrada de susbstâncias do espaço intersticial para os capilares - a fitração/absorção resulta da existência das chamadas Forças de Starling que determinam o movimento de fluido através da parede do capilar : forças hidroestáticas (a pressão hidroestática é a principal força responsável pela filtração capilar) – da qual se destacam dois tipos de forças: ª pressão capilar (Pc) – pressão no interior dos capilares e que constitui a força propulsora para a filtração ª pressão intersticial (Pi) – pressão fora dos capilares que opõe-se à filtração capilar forças osmóticas ª pressão colóide osmótica plasmática (Pcop) – relativa à concentração de proteínas no plasma; impede a perda de fluido dos capilares Ö favorece a absorção ª pressão colóide osmótica intersticial (Pcoi) – relativa à concentração de proteínas no líquido intersticial; favorece a saída de fluido dos capilares Ö favorece a filtração - em suma: Pc e Pcoi favorecem a filtração Pi e Pcop favorecem a reabsorção - 59 - Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I Aparelho Cardiocirculatório - em condições normais a quantidade de fluido que é filtrada para fora de alguns capilares iguala quase exactamente a quantidade de fluido que regressa à circulação para absorção através da parede de outros capilares Ö Equílibrio de Starling - no entanto, verifica-se que o balanço dá uma ligeira predominância para a força para fora do capilar Ö força no sentido da filtração Sistema Linfático - o sistema linfático é constituído por vasos linfáticos e órgãos linfóides - vasos linfáticos: capilares linfáticos – os vasos linfáticos mais pequenos; devido à composição da sua parede, as gorduras absorvidas podem entrar facilmente; quando o fluido entra nestes capilares passa a denominar-se linfa vasos linfáticos – originam-se a partir dos capilares linfáticos - a linfa tem uma composição muito semelhante à do líquido intersticial - o sistema linfático tem, basicamente, três funções: transporta as gorduras absorvidas do intestino delgado para o sangue drena o excesso de líquido do espaço intersticial (assim, é importante para remover o líquido que não é drenado pelos capilares, as moléculas e as partículas que não cabem nos poros endoteliais capilares) mantém a pressão osmótica coloidal intersticial baixa (condição para a reabsorção venosa), bem como a pressão intersticial (promove a filtração) Funcionamento do Sistema Linfático (drenagem linfática) : o sistema linfático transporta fluido do espaço intersticial para o sangue através de um sistema de vasos linfáticos; a linfa retorna ao sistema cardiovascular pelas veias subclavianas - 60 - Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I Aparelho Cardiocirculatório - factores que influenciam o funcionamento do sistema linfático (débito linfático): pressão intersticial (pressão com que a linfa circula pelo sistema linfático) bomba linfática - o débito linfático (Q1) é dado por: Q1= Pintersticial x Actividade da Bomba Linfática Regulação da Circulação - a circulação sanguínea tem necessidade de que ser regulada por razões metabólicas (fornecimento de O2 e nutrientes, remoção de CO2, remoção de hidrogeniões dos tecidos) e por razões circulatórias (manutenção da função circulatória) - a regulação circulatória pode ser, quanto ao tipo: Regulação Local – necessidade local Regulação Sistémica ou Geral – necessidade global - a regulação circulatória pode ser, quanto aos mecanismos: I - Local ( Regulação Aguda ou Regulação a Curto Prazo) II- Humoral III- Nervosa (Simpático e Parassimpático) I - Local A- Regulação Aguda - é uma regulação de emergência que ocorre face à falta de O2 ou de outros nutrientes, provocando vasodilatação local, da microcirculação - essa vasodilatação pode ser explicada de duas formas: por libertação de uma substância vasodilatadora (adenosina, CO2, ácido láctico) - 61 - Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I Aparelho Cardiocirculatório pela falta de O2 ou de nutrientes, uma vez que o tónus das metarteríolas e dos esfíncteres pré-capilares depende do seu fornecimento; assim, na sua falta, relaxam - Regulação da circulação arterial regional como resposta ao aumento do débito microvascular: vasodilatação microcirculatória diminui pressão intracapilar aumenta gradiente de pressão existente gerando débito aumenta aumenta força propulsora suplementar pressão de corte: de arrastamento na parede Assim sendo: aumento da velocidade nas arteríolas velocidade circulatória nos vasos locais aumenta shear-stress deformação por estiramento do respectivo endotélio óxido nítrico (NO) libertação do EDRF (poderoso vasodilatador) Posteriormente, há medida que as arteríolas se dilatam, a velocidade circulatória dentro delas diminui, para o débito requerido. Ao atingir-se um valor suficientemente baixo de modo a não deformar mais o endotélio, este deixa de produzir NO e o vaso não dilata mais, mantendo-se o débito para aquela velocidade naquele diâmetro vascular - Manutenção do débito arterial face a um aumento da pressão: autorregulação essa manutenção pode ser explicada de duas formas: por razões metabólicas ou por razões miogénicas - 62 - Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I Aparelho Cardiocirculatório B- Regulação a longo prazo - esta regulação é baseada no grau de vascularização dos tecidos - um mecanismo de regulação é a angiogénese, que consiste na formação de novos vasos a partir de outros (vénulas, capilares) - para que a angiogénese ocorra é necessário a libertação de factores angiogénicos, libertados por tecidos isquémicos, tecidos em rápido crescimento e tecidos com grande actividade metabólica II – Regulação Humoral - esta regulação é feita por substâncias que não actuam localmente e sim por ligação a receptores que desencadeiam uma resposta; essas substâncias são inibidoras, estimuladoras, inibidoras de estimuladoras, estimuladoras de inibidoras, etc Ö a acção de cada uma depende do receptor à qual ela se ligar - podemos dizer que essas substâncias (produzidas por glândulas, tecidos, nervos) ou são vasoactivas ou são vasoconstritoras Ö substâncias opostas mantém o equílibrio III – Regulação Nervosa ( feita por SNA – Sistema Nervoso Autónomo ou Sistema Neurovegetativo) - as fibras simpáticas (constituintes do simpático) produzem efeitos: estimulando os vasos, havendo mais quantidade de sangue a circular, com mais pressão: ª vasoconstrição arteriolar – aumento da resistência vascular e da pressão arterial ª vasoconstrição venovenular - diminui o volume de reservatório venoso e aumenta o retorno venoso estimulando o coração, havendo mais débito: ª taquicardia – mais batimentos por minuto ª aumento da força contráctil do coração - 63 - Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I Aparelho Cardiocirculatório - as fibras parassimpáticas (constituintes do parassimpático) produzem efeitos (excepto nas arteríolas e artérias) : estimulando o coração, com diminuição da frequência cardíaca e diminuição (ligeira) da força contráctil - assim sendo, podemos dizer que: acção do simpático: vasoconstrição + taquicardia acção do parassimpático: vasodilatação (por inibição da vasoconstrição) + bradicardia - o centro vasomotor ou centro simpático controla a acção e o efeito das fibras simpáticas; por sua vez, o centro vasomotor é controlado pelo Sistema Nervoso Central (córtex cerebral e núcleos reticulares “mais altos”) Ö esse controlo é feito através de estímulos excitatórios ou inibitórios - a medula suprarrenal contribui, hormonalmente, para a regulação nervosa da circulação: liberta hormonas (p.e. catecolaminas) que produzem diversos efeitos, consoante os receptores aos quais se liguem Regulação Nervosa da Circulação e Controlo da Pressão Arterial: Exemplos 1. Exercício Muscular induz regulação circulatória local induz provoca a actividade nervosa central motora vai activar a formação reticular central, com impulsos excitatórios para o centro vasomotor vasodilatação local aumenta débito para o músculo exercitado provocando + vasoconstrição cardioaceleração aumenta gradiente de pressão aumenta aumenta pressão arterial débito circulatório - 64 - Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I Aparelho Cardiocirculatório 2. Lipotímia provocando braquicardia vasodilatação estimulação do parassimpático provoca STRESS provoca provoca estimulação hipotalâmica provoca pressão arterial inibição do centro vasomotor excitação do centro vasomotor aumenta vasoconstrição cardioaceleração Nota: o stress é uma agressão ao organismo, que reage (adaptação) a essa acção Ö reacção de alarme Controlo da Pressão Arterial – sistema complexo, multifacetado e integrado - a pressão arterial, pressão com que o sangue é bombeado pela aorta, é dada por: pressão arterial = débito cardíaco x resistência periférica total = = volume sistólico x frequência cardíca - a pressão arterial é controlado por: I. Controlo Rápido (regulação nervosa) II. Controlo a Longo Prazo (efectuada pelo rim) I- Controlo Rápido Æ Regulação Nervosa - este tipo de controlo (com intervenção rápida), efectuado pelo sistema nervoso, tem como objectivos a manutenção da pressão arterial normal (em caso de variações bruscas) e “produção” da pressão arterial necessária em situações agudas Ö para isso, são necessários receptores para pressão especializados: os barorreceptores - os barorreceptores são receptores localizados na circulação periférica (na crossa da aorta e à entrada da cabeça), arterial e venosa Ö actuam através de reflexos nervosos de acção retrógada (feed back) - 65 - Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I Aparelho Cardiocirculatório Exemplos de Retroacção: 1. aumento de pressão distensão dos receptores sinal para o SNC inibição do tónus motor vascular vasodilatação 2. informações colhidas pelos baroreceptores diminuição de pressão sinal para o SNC estimulação simpática vascular vasoconstrição Nota: (1) e (2) constituem um importante sistema tampão de pressão – mecanismos para manutenção da pressão I- Controlo a Longo Prazo Æ Regulação Circulatória pelo Rim - o rim possui ao seu dispôr mecanismos para controlar, a longo prazo, a pressão arterial A- Sistema Rim-Líquido Corporal (volume circulatório) B- Sistema Renina-Angiotensina volémia A- Sistema Rim-Líquido Corporal eliminação renal de água e sódio = aumento da volémia aumenta pressão arterial aumenta diurese diminui volémia reduz pressão arterial - 66 - Fundamentos Fisiológicos da Engenharia Biomédica I Aparelho Cardiocirculatório B- Sistema Renina-Angiotensina - a renina é uma enzima produzida pelas células justaglomerulares, na parede das arteríolas aferentes - o angiotensinogénio é substracto protéico de cuja clivagem a renina produz a angiotensina I - a angiotensina I resulta da clivagem do angiotensinogénio, tendo pouca ou nenhuma atividade biológica e é convertida em angiotensina II, que provoca vasoconstrição - este sistema funciona do seguinte modo: diminuição da pressão arterial provoca isquémia das arteríolas renais libertação de renina cliva angiotensina II vasoconstrição (arteriolar e venular) angiotensina I aumenta resistência arteriolar + retorno venoso angiotensinogénio aumenta pressão arterial Consequências da perda de controlo da pressão arterial : ª hipertensão artificial – insuficiência cardíaca por rotura de vasos; pode causar acidentes vasculares cerebrais hemorrágicos, rotura de aneurismas e lesões hipertensivas em vários órgãos (sobretudo no rim) ª hipertensão arterial vasculorrenal - 67 -