fatores que interferem no processo de cicatrização de

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FATORES QUE INTERFEREM NO PROCESSO DE CICATRIZAÇÃO DE
FERIDAS CRÔNICAS1
Cristiano, Cabral2; Elenice,S.R.Martins3
RESUMO
Algumas patologias e a falta de informações são fatores que interferem na cicatrização
de feridas, e quando não tratadas corretamente tendem a agravar-se, desencadeando
muitas vezes a cronicidade e a perda tecidual no local da lesão. Este estudo é uma
pesquisa do tipo descritiva exploratória, e faz parte de um projeto de trabalho de final de
graduação, tem como objetivos: investigar os fatores que interferem no processo de
cicatrização de feridas crônicas, avaliar as doenças pré-existentes dos entrevistados e
investigar de que maneira são tratados esses fatores, em usuários que procuram
atendimento em programas da Estratégia Saúde da Família da zona Norte de Santa
Maria. Com os resultados deste estudo pretende-se esclarecer quais os fatores que
interferem no processo de cicatrização e assim, elaborar um plano de assistência de
enfermagem, que minimize ou elimine muitos desses fatores, contribuindo para a
recuperação destas lesões e a qualidade de vida destes usuários.
Palavras chaves: feridas crônicas, pele, cicatrização, enfermagem.
INTRODUÇÃO
O possível descuido e a falta de informações levam as pessoas a desenvolver
feridas que, quando não tratadas corretamente tendem a agravar-se, desencadeando
muitas vezes a cronicidade e a perda tecidual no local da lesão. Ferida é qualquer lesão
que leve a descontinuidade da pele, e as feridas crônicas são aquelas que demoram mais
tempo do que o normal para cicatrizar, por algum motivo externo ou interno que interfira
na sua melhora. São consideradas feridas crônicas lesões como: úlceras de pressão e
úlceras de membros inferiores, tanto de origem venosa e arterial e também lesões de
extremidades em pacientes com Diabetes Mellitus(1).
A pele reveste, delimita e protege o organismo interagindo com o meio externo.
Possui como principal função a de homeostasia (termorregulação, controle hemodinâmico
e produção e excreção de metabólitos). Apresenta também a função de defesa contra
agressões físicas, químicas e biológicas mantendo uma barreira entre o corpo e o meio
ambiente e sensorial através dos nervos do sistema nervoso situados na derme (2).
Sendo a pele constituída por três camadas, a epiderme, mais externa, sem
vascularização, formada por várias camadas celulares, protege o organismo e está em
constante regeneração; a derme é a camada intermediária, constituída de tecido fibroso
denso e fibras de colágeno, reticulares e elásticos, nesta camada se situa os vasos,
nervos e anexos cutâneos como as glândulas sebáceas, sudoríparas e folículos pilosos. A
hipoderme é a camada mais profunda, também chamada de tecido celular subcutâneo,
funciona como depósito nutritivo de reserva, isolante térmico e proteção contra as
pressões e traumatismos externos(3).
Cicatrização de feridas é um processo complexo que envolve todas as camadas
celulares, sinais químicos e matriz extracelular no intuito de promover a regeneração
celular. Com este tratamento busca-se o fechamento rápido da lesão obtendo-se uma
cicatriz funcional e com estética satisfatória(4).
1
Título do Trabalho.
Acadêmico do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano – UNIFRA
3
Enfermeira, Mestre em Nanociências; Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário
Franciscano – UNIFRA –Membro do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Saúde- GIPES; Santa Maria
(RS), Brasil.
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2
A pele apresenta grande capacidade de renovação e reparação tecidual, tornando
a cicatrização de feridas em perfeita e coordenada cascata de eventos celulares e
moleculares. A lesão do tecido pode acometer completa ou incompletamente a derme ou
ainda atingir todo o órgão atingindo também o tecido subcutâneo, baseado nisso
podemos definir o tipo de ferida. Ferida com espessura parcial (derme incompleta) é
quando ocorre a reparação e ocorre a reepitelização dos anexos epiteliais e a cicatriz fica
praticamente imperceptível; já as feridas de espessura total (derme completa ou
estendida ao tecido celular subcutâneo) precisam de um novo tecido, o de granulação (5).
As etapas biológicas que fazem parte do processo de cicatrização são divididas em
três fases: inflamatória, proliferativa e de remodelação. Na fase de inflamação, logo que
ocorre o ferimento há um extravasamento sanguíneo preenchendo a área lesada com
plasma e elementos celulares como as plaquetas, a aderência plaquetária e a coagulação
sanguínea formando um tampão no local, rico em fibrina(4).
A fase proliferativa é a responsável pelo fechamento da lesão, abrange a
reepitelização, que se inicia logo após a ocorrência da lesão; fibroplasia e angiogênese
que compõe o chamado tecido de granulação que ocupa, quatro dias após a lesão, o
tecido lesionado. Os fibroblastos produzem uma nova matriz extracelular necessário para
o crescimento celular e os novos vasos sanguíneos carregam o oxigênio e nutrientes para
o metabolismo celular local. Na fase de remodelação ou de regeneração, ocorre uma
tentativa de recuperação da estrutura tecidual local, a maioria dos vasos, fibroblastos e
células inflamatórias desaparecem do local da lesão mediante processo de emigração,
apoptose e outros mecanismos de morte celular ocasionando numa cicatriz com menor
número de células. Em casos que persistir as celularidades no local ocorrerá a formação
de quelóides(4).
As formas da avaliação da cicatrização podem ser descritas como de primeira,
segunda ou terceira intenção, isso depende também de como esta o tecido lesionado, se
esta muito danificado se há ou não presença de infecção. De primeira intenção é quando
as bordas são apostas ou aproximadas, a presença mínima de edema, ausência de
infecção e perda mínima de tecido, a formação de tecido de granulação não é visível; na
segunda intenção ocorre perda excessiva de tecido com presença ou não de infecção, a
aproximação primária das bordas não é possível, as feridas são abertas e se fecharão por
meio de contração e epitelização; e na terceira intenção após o tratamento aberto inicial e
designado a aproximação das bordas da ferida (pele e subcutâneo) principalmente se há
infecção na ferida que deve ser primeiramente tratada para depois ser suturada(6).
Quanto à profundidade as feridas podem ser classificadas em estágios de
comprometimento tecidual: estágio I onde compromete apenas a derme sem perda
tecidual; estágio II que ocorre perda tecidual, lesiona a epiderme, derme ou ambas;
estágio III há comprometimento total da pele, necrose do tecido subcutâneo e não atinge
a fáscia muscular e estágio IV destruição do tecido em grande extensão podendo ocorrer
lesão muscular ou óssea(6).
Vários fatores interferem diretamente no processo de reparação tecidual que
podem ser de origem local e ou sistêmicos. Os fatores locais são aqueles que incidem
diretamente na ferida e os fatores sistêmicos são os que influenciam diretamente no
funcionamento do organismo humano. Entre os fatores sistêmicos temos a idade
avançada como um dos fatores de interferência onde a cicatrização tende a ser mais lenta
do em que pacientes jovens, pois, com a idade os idosos podem apresentar deficiência
nutricional, imunológico debilitado, respiratório e circulatório e ainda pouca hidratação(1).
Patologias crônicas, como diabetes mellitus, apresentam grande impacto sobre a
cicatrização de feridas, retardando o processo de reparação tecidual, sendo assim tornase necessário haver uma investigação com relação à doença ou à história familiar(7).
As condições nutricionais devem ser permanentemente avaliadas, pois a aparência
do paciente e da ferida não indica que ele esteja recebendo a quantidade adequada de
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nutrientes de que necessita, pois a obesidade também compromete a cicatrização pelo
motivo do tecido adiposo apresentar um suprimento sanguíneo insuficiente, desnutrição
proteicocalórica, sendo um fator que influencia na cicatrização de feridas. Em
contrapartida o paciente apresentando seu estado nutricional debilitado com certeza a
cicatrização, seja em feridas crônicas ou agudas, estará prejudicada (8).
As drogas também possuem a capacidade de afetar o estado nutricional do
paciente e retardar a cicatrização, pois acometem o sistema imunológico, entre elas os
quimioterápicos, antibioticoterapia. O fumo é uma droga que age como depressor do
apetite, pois os fumantes possuem deficiência das vitaminas B1, B6, B12 e C em função
do uso do cigarro(9).
A responsabilidade no tratamento e prevenção de feridas vem sendo atribuída ao
enfermeiro, devendo ele avaliar e implementar o tratamento, bem como orientar e
supervisionar a equipe na realização do curativo. Vale lembrar que no tratamento não se
deve levar em conta apenas a ferida, mas o paciente holisticamente, pois o enfermeiro
trabalha com profissionais das mais diversas áreas e organizações voltadas a um bem
comum, a promoção à saúde. Para o enfermeiro prestar assistência efetiva e com
responsabilidade, é preciso aperfeiçoar e padronizar os procedimentos de prevenção e
tratamento de feridas, criando protocolos técnicos que garantam respaldo legal, técnico e
científico ao profissional com a meta de melhorar a assistência ao portador de feridas (10).
Diante do contexto, tal projeto se justifica ressaltando que a cicatrização das feridas
crônicas pode ser retardada se alguns dos fatores que prejudicam no processo de
reparação tecidual estiverem presentes. Sendo assim, se estes fatores forem investigados
e minimizados com orientações e cuidados de enfermagem, certamente estas lesões
cicatrizarão em menor tempo.
Tendo em vista a demanda de usuários que procuram as unidades básicas de
saúde da Zona Oeste de Santa Maria na busca da realização de curativos em feridas
crônicas, sentiu-se a necessidade de realizar esta pesquisa, que visa coletar dados que
esclareçam quais os fatores que interferem no processo de cicatrização e/ou na
cronificação das feridas, pois se acredita que muitos desses fatores, poderão ser
minimizados, acelerando a recuperação destas lesões.
Sendo assim, este estudo tem como objetivo geral investigar os fatores que
interferem no processo de cicatrização de feridas crônicas e específicos consistem em
avaliar as doenças pré-existentes dos entrevistados e investigar de que maneira são
tratados esses fatores.
METODOLOGIA
O presente estudo faz parte de um projeto de trabalho de final de graduação e
trata-se de uma pesquisa do tipo descritiva exploratória, busca informações do que esta
sendo trabalhado tendo como objetivo observar, descrever, analisar, classificar e registrar
os dados coletados(11), de caráter qualitativo, a pesquisa qualitativa tem o poder de
descrever a complexidade determinada por um problema e suas hipóteses, sempre
analisando, compreendendo e classificando processos vividos por grupos sociais(12).
Será realizada nas unidades de Estratégia Saúde da Família (ESF): Roberto
Binatto, Floriano Rocha e Alto da Boa Vista, todos situados na zona oeste de Santa
Maria-RS com usuários portadores de feridas crônicas que realizam curativos tanto na
Unidade Básica quanto domiciliar, durante o mês de setembro de 2010. Aos participantes
da pesquisa será aplicado uma entrevista com perguntas abertas e fechadas, além da
observação participativa do pesquisador, através de um diário de campo que contemplem
os objetivos do estudo, complementados pelos prontuários destes usuários, visando uma
melhor coleta de informações. A coleta dos dados será realizada diariamente, no período
da manhã, durante as trocas de curativos na unidade.
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A abordagem será de caráter qualitativo, a pesquisa qualitativa é considerada
como uma referência, ela pretende obter generalidades e idéias predominantes,
percebemos também tendências que se definem mais em indivíduos que participaram da
pesquisa(13), e para a discussão dos dados será realizado pelo método de analise
temático, considerando a relação econômica, política e social da realidade, sendo
imprescindível considerar a ideologia e a classe social além das influencias mundiais na
organização e formações de estratégias na promoção da saúde e doença(14).
As questões éticas são relevantes para desenvolver este estudo, visando não
correr o risco de invalidar a pesquisa, com o consentimento do indivíduo de estar ciente
de que se trata de uma pesquisa cientifica, com o sigilo assegurado ao sujeito, o
anonimato, tomado cuidados para a não manipulação da pesquisa(15). A documentação
desta pesquisa ficará em meu poder por um período de 5 anos e após serão incinerados.
Os entrevistados serão identificados por números ordinais, para a preservação da
identidade. Este projeto foi encaminhado para avaliação no comitê de ética e pesquisa da
UNIFRA e da Secretaria Municipal de Saúde, local onde será realizada a pesquisa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com os resultados deste estudo pretende-se esclarecer quais os fatores que
interferem no processo de cicatrização e/ou na cronificação das feridas, e assim, elaborar
um plano de assistência de enfermagem, que minimize ou elimine muitos desses fatores,
contribuindo para a recuperação destas lesões e a qualidade de vida destes usuários.
REFERÊNCIAS
1. Hess CT. Tratamento de feridas e úlceras / Cathy Thomas Hess; tradução [ da 4. ed.
original] de Maria Angélica Borges dos Santos; revisão técnica de Sônia Regina de Souza
– Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso Ed., 2002.
2. Azulay RD; Azulay DR. Dermatologia 4 ed.. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.
3. Brasil. Manual de Condutas para úlceras neurotróficas e traumáticas. Ministério da
Saúde, Secretaria de políticas de Saúde, Departamento de Atenção básica. Brasília:
Ministério da Saúde, 2002.
4. Mendonça RJ; Coutinho-Netto J. Aspectos celulares da cicatrização. An. Bras.
Dermatol., Rio de Janeiro, v. 84, n. 3, Julho 2009 .
Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S036505962009000300007&lng=en&nrm=iso>. acessos em 11 abr. 2010. doi: 10.1590/S036505962009000300007.
5. Mandelbaum SH; Di Santis ÉP; Mandelbaum MHS. Cicatrização: conceitos atuais e
recursos auxiliares - Parte I. An. Bras. Dermatol., Rio de Janeiro, v. 78, n. 4, ago. 2003 .
Disponível
em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S036505962003000400002&lng=pt&nrm=iso>.
acessos
em
09
abr.
2010.
doi:
10.1590/S0365-05962003000400002.
6. Tazima MFGS; Vicente Y; Moriya T. Biologia da ferida e cicatrização. Medicina
(Ribeirão Preto) 2008; 41 (3): 259-64.
7. Glenn I. Feridas: novas abordagens, manejo clínico e atlas em cores/ Glenn L. Irion;
tradução João Clemente Dantas do Rego Barros; revisão técnica Sônia Regina de Souza
– Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
5
8. Brito S. O Nutricionista na Avaliação e no Tratamento de Pacientes Portadores de
Feridas. In: Jorge, SA; Dantas SRPE Abordagem multiprofissional do tratamento de
feridas / Silvia Angélica Jorge, Sônia Regina Pérez Evangelista Dantas. – São Paulo:
Editora Atheneu, 2005.
9. Dealey C. Cuidando de feridas: um guia para as enfermeiras / Carol Dealey;
coordenação e revisão técnica Rúbia Aparecida Lacerda; tradução Merle Scoss. 2. ed. –
São Paulo: Atheneu Editora, 2001.
10. Ferreira AF; Bogamil DDD. Tormena PC. O enfermeiro e o tratamento de feridas: em
busca da autonomia do cuidado. Nurses and wound treatment: searching for care
autonomy. Arquivos de ciências da saúde. 2008; (3): 105-9
11. Furasté PA. Normas Técnicas para o Trabalho Científico. Explicitação das Normas da
ABNT. - 13 ed.- Porto Alegre: s.n., 2005.
12. Oliveira SL. de. Tratado de metodologia cientifica: projetos de pesquisas, TGI, TCC,
monografias, dissertações e teses. 2.ed. São Paulo: Pioneira Thonson Learning, 2002.
13. Triviños ANS. Bases Teórico-Metodológico da Pesquisa Qualitativa em Ciências
Sociais / Cadernos de Pesquisa Ritter dos Reis. V 4 - São Paulo: Atlas, 2001.
14. Minayo MCS. O Desafio do Conhecimento — Pesquisa Qualitativa em Saúde, São
Paulo: Hucitec/Rio de Janeiro: Abrasco, 1992. 269 p., bibliografia. (Brochura)
15. Brasil. Resolução nº 196/96. Pesquisa em seres humanos. Revista Bioética. p. 36-8,
Abr.-Jun. 1996.
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