1 Avaliação do Uso de Tecnologia ZigBee no Ambiente de uma Subestação de Potência C. F. Barbosa, R. L. Leite, V. Vellano Neto, E. F. Costa, C. H. S. Nogueira, L. C. Gomes Abstract-- Este artigo apresenta um estudo experimental visando avaliar o uso de tecnologia sem fio no ambiente de uma subestação de potência. Inicialmente são apresentados resultados de medições dos campos eletromagnéticos presentes na subestação Neves 1 da CEMIG, os quais mostram que a faixa de 2,4 GHz está relativamente limpa de sinais interferentes. A análise dos campos em frequência industrial mostra que o campo elétrico requer que os equipamentos sejam blindados e que o campo magnético pode ser utilizado para alimentar transceptores de baixo consumo, como os de tecnologia ZigBee. Em seguida, são apresentados resultados obtidos com protótipos de transceptores ZigBee, os quais mostram que a qualidade da comunicação se manteve elevada e estável ao se percorrer o pátio da subestação e mesmo ao longo dos primeiros vãos da linha de transmissão do Barreiro. Estes resultados recomendam o uso de tecnologia ZigBee para a supervisão de equipamentos da subestação. Index Terms-- Telemetria, Redes de radio, Zigbee. Interferência eletromagnética, I. INTRODUÇÃO A S subestações de potência usualmente contêm diversos equipamentos de medição, os quais fornecem informações importantes para a operação do sistema elétrico, como supervisão e controle do fluxo de carga, acionamento da proteção contra faltas e coordenação de manobras no sistema. Os equipamentos de medição mais comuns são os transformadores de potencial (TP) e os transformadores de corrente (TC), cujas saídas analógicas são cabeadas para a Sala de Controle da subestação. Esta configuração tradicional do sistema de medição, embora atenda aos requisitos básicos do sistema elétrico, apresenta alguns inconvenientes que limitam a sua evolução. Por exemplo, o longo cabeamento utilizado para a conexão de TPs e TCs limita a largura de banda do sinal obtido, impedindo uma avaliação abrangente de seu conteúdo espectral. Além disso, este cabeamento também capta surtos elétricos que podem interferir ou mesmo danificar equipamentos eletrônicos utilizados no processamento digital dos sinais de medição. Uma alternativa ao uso extensivo de cabos de sinais no pátio de uma subestação é a aplicação de enlaces radioelétricos de curto alcance para esta comunicação. Este trabalho foi financiado pela CEMIG, através de contrato de P&D firmado com a Fundação CPqD, dentro dos parâmetros definidos pela ANEEL. C. F. Barbosa ([email protected]), R. L. Leite, V. Vellano Neto e E. F. Costa trabalham na Fundação CPqD - Campinas - SP. C. H. S. Nogueira e L. C. Gomes trabalham na CEMIG, Belo Horizonte - MG. Existem diversas tecnologias de radiocomunicação que podem ser utilizadas, cada uma delas com suas vantagens e desvantagens. Além disso, uma rede de comunicação sem-fio cobrindo o pátio de uma subestação permite também que uma série de sensores seja adicionada à rede, expandindo significativamente o número de grandezas medidas. Por exemplo, pode-se medir a temperatura de equipamentos e condutores, assim como a altura de condutores de linhas em vãos próximos da subestação. No entanto, a implantação de uma rede sem-fio no pátio de uma subestação deve levar em conta a existência de um ambiente eletromagnético severo no local, onde elevados campos elétricos e magnéticos ocupam a parte inferior do espectro de frequências, enquanto em frequências mais altas encontram-se as emissões radioelétricas a partir de descargas parciais na superfície dos condutores (efeito corona). Este trabalho apresenta as atividades realizadas visando avaliar o uso de tecnologia sem fio no ambiente eletromagnético de uma subestação. Para tal, foi escolhida a subestação Neves 1 da CEMIG, que opera em 345 kV e 500 kV, e situa-se na região metropolitana de Belo Horizonte. Estas atividades incluem uma campanha de medição dos campos eletromagnéticos presentes no local, a implementação de radio-transceptores para testes exploratórios e a avaliação do desempenho destes protótipos na subestação. II. CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE ELETROMAGNÉTICO Embora diversas campanhas de medição de campos eletromagnéticos já tenham sido realizadas em subestações de potência [1, 2], a realização de medições na subestação onde será implantado o sistema piloto é importante por enfocar com detalhes as faixas do espectro que podem ser utilizadas pelos transceptores. Neste trabalho foram selecionadas as faixas não-licenciadas de 915 MHz e 2450 MHz, por apresentarem maior potencial de uso para a aplicação pretendida. Operam nestas faixas as principais tecnologias sem fio de curto alcance, como ZigBee [3], WiFi [4] e BlueTooth [5]. Além disso, foram também medidos os campos eletromagnéticos em 60 Hz, pois estes campos podem interferir eventualmente nos circuitos eletrônicos dos sensores e transceptores. A quantificação dos campos em frequência industrial permite também o projeto de circuitos de captação de energia destes campos para a alimentação dos transceptores (energy harvesting). Para as medições de campo foi utilizado o seguinte instrumental: 2 Analisador de espectro R&S FSL Antena RX: 3148B (S/N: 00126548) Antena HGV-2404U ELF Survey Meter Holaday HI-3604 A Figura 1 mostra o instrumental instalado no pátio da subestação, durante a realização das medições. Em todos os casos, o analisador de espectro foi ajustado para registrar o valor máximo obtido (Max Hold) em um intervalo de 0,1 s, com a antena em polarização vertical. B. Medições junto ao TC Foram realizadas diversas medições junto ao transformador de corrente (TC) da linha de transmissão (LT) Barreiro, pois neste local pretende-se instalar um transceptor para medir a corrente do secundário do TC. 72 Maxhold 70 dBuV/m 68 66 64 62 Antena Frequência (MHz) 60 2380 2400 2420 2440 2460 2480 2500 Computador Fig. 2. Medição de campo elétrico sob a LT Barreiro (faixa de 2,4 GHz). 100 90 Maxhold 70 60 50 Analisador de espectro 40 dBuV/m 80 30 20 10 A. Medições abaixo da LT Barreiro Foram realizadas medições de campo nas proximidades da LT Barreiro, pois pretende-se instalar sensores e transceptores nesta linha, visando medir a altura dos condutores. As medições de campo foram realizadas diretamente abaixo da LT, com a antena sendo elevada até 4 m de altura. Os resultados das medições podem ser representados pelo perfil de campo mostrado na Figura 2, o qual mostra o espectro na faixa de 2450 MHz, obtido após 5 minutos de monitoração com retenção dos valores máximos em cada frequência Observa-se que o valor médio do campo fica em torno de 62 dBµV/m (1,3 mV/m), com picos atingindo 70 dBµV/m (3,2 mV/m). Adicionalmente, notou-se durante a medição que o sinal não era contínuo, mas com baixa taxa de ocorrência. As medições na faixa de 915 MHz, realizadas nas mesmas condições anteriormente mencionadas, são mostradas na Figura 3, onde se observa um valor médio em torno de 65 dBµV/m (1,8 mV/m), com picos atingindo 89 dBµV/m (28 mV/m). Nota-se que os valores de pico nesta faixa são significativamente maiores do que os da faixa de 2450 MHz. As medições de campos em frequência industrial (60 Hz) foram realizadas nos três eixos ortogonais (x, y, z), com a antena posicionada a 2 m de altura. Os resultados das medições foram somados segundo E Ex2 E y2 Ez2 , (1) H H x2 H y2 H z2 , (2) onde E e H são campos elétrico e magnético, respectivamente, e os subscritos x, y e z denotam os eixos do espaço. Os valores máximos obtidos foram 7,1 kV/m para o campo elétrico e 5,8 A/m para o campo magnético. 0 860 Frequência (MHz) 870 880 890 900 910 920 930 940 Fig. 3. Medição de campo elétrico sob a LT Barreiro (faixa de 915 MHz). A Figura 4 mostra o espectro na faixa de 2450 MHz, obtido também em cinco minutos de medição com retenção dos valores máximos. Observa-se que o nível de campo na maior parte da faixa de interesse fica limitado a 70 dBµV/m (3,2 mV/m), com alguns picos na parte mais alta da faixa, onde o nível de campo atinge 85 dBµV/m (18 mV/m). As medições de campos em frequência industrial (60 Hz) também foram somadas vetorialmente segundo (1) e (2). Os valores máximos obtidos foram 14,5 kV/m para o campo elétrico e 3,98 A/m para o campo magnético. 100 Maxhold 90 80 70 60 50 dBuV/m Fig. 1. Medição de campos eletromagnéticos junto ao TC. 40 30 Frequência (MHz) 20 2400 2420 2440 2460 2480 2500 Fig. 4. Medição de campo elétrico próximo ao TC da LT Barreiro. C. Medições dentro da Sala de Controle Foram também realizadas medições de campo dentro da Sala de Controle, em local onde pretende-se instalar o rack com o controlador do sistema de supervisão sem fio. Os resultados das medições podem ser representados pelo perfil de campo mostrado na Figura 5, o qual mostra uma varredura da faixa de 2,4 GHz. Observa-se que os valores de campo chegam próximo de 90 dBµV/m (32 mV/m) em boa parte da faixa analisada. Cabe 3 observar que, além da presença no local de fontes de sinais nesta faixa, os campos medidos dentro da Sala de Controle sofrem alguma amplificação devido às múltiplas reflexões que ocorrem dentro da sala (paredes / piso / teto). Portanto não chega a ser surpresa que os valores medidos sejam um pouco superiores aos observados no pátio de subestação. Fig. 5. Medição de campo elétrico dentro da Sala de Controle. III. PROJETO DO SISTEMA DE COMUNICAÇÃO SEM FIO A partir das características do ambiente eletromagnético da subestação, pode-se definir diversos aspectos do sistema de comunicação sem fio. Esta seção apresenta uma análise das medições realizadas e suas implicações no projeto do sistema de comunicação a ser utilizado na subestação. A. Campos interferentes nas faixas de radiofrequência As intensidades dos campos eletromagnéticos medidos na faixas de 915 MHz e 2450 MHz foram relativamente baixas, tanto dentro da Sala de Controle quanto no pátio da subestação. Em geral, a faixa de 2450 MHz se mostrou mais limpa do que a faixa de 950 MHz, o que recomenda a escolha da faixa de 2450 MHz para a rede sem fio de supervisão dos equipamentos. Dentre as tecnologias que operam neste faixa, entende-se que a ZigBee [3] é a que melhor se credencia para a aplicação pretendida, pois os transceptores ZigBee podem ser configurados em rede, o que confere alta confiabilidade ao sistema devido à redundância de rotas de comunicação. As medições realizadas na Sala de Controle mostraram níveis de campo significativamente mais intensos do que os observados no pátio da subestação, provavelmente devido à reverberação provocada pelas reflexões nas paredes da sala. Desta forma, é recomendável que o transceptor que faz interface com a Unidade de Supervisão (gateway do sistema) seja instalado do lado de fora da Sala de Controle. Com isto, fica aumentada a relação sinal / ruído deste transceptor, garantindo maior confiabilidade ao sistema. Uma avaliação do local mostra que não há dificuldade na instalação do transceptor na parede externa da Sala de Controle, pois esta sala é dotada de piso suspenso e há um leito de cabos que vai até o lado externo da sala. B. Campo elétrico de frequência industrial As medições de campos de frequência industrial (60 Hz) mostram níveis de campo elétrico bem elevados nos diversos locais medidos ao longo do pátio da subestação. Caso os circuitos dos transceptores sejam expostos a estes campos, podem ser induzidas tensões perigosas para os componentes eletrônicos. Por exemplo, caso uma trilha de circuito de 5 cm fique exposta no sentido do campo elétrico medido nas imediações do TC (14,5 kV/m), será induzida uma tensão de 725 V nesta trilha. Caso a trilha esteja conectada em um componente eletrônico de alta impedância, esta tensão induzida provavelmente danificará o componente. Felizmente, um campo elétrico de baixa frequência pode ser efetivamente blindado através da utilização de uma caixa metálica. Portanto, é muito importante que os transceptores e sensores do sistema sejam instalados em caixas metálicas. Para efeito de blindagem, o potencial absoluto da caixa é irrelevante, i.e., a mesma pode ou não estar aterrada. Naturalmente, se a caixa for instalada em local acessível ao ser humano, é recomendável que a mesma seja aterrada para garantir a segurança do operador. Um aspecto muito importante a ser observado é o comportamento da entrada de radiofrequência do transceptor frente ao campo elétrico de baixa frequência, pois obviamente a antena não pode ficar dentro da caixa metálica do transceptor. Embora a grande diferença entre as frequências industrial e de operação do transceptor garanta que não haverá interferência, o elevado nível de campo em 60 Hz pode levar à saturação ou dano de componentes do circuito de radiofrequência. Por outro lado, a entrada de radiofrequência dos transceptores ZigBee apresenta baixíssima impedância em 60 Hz, o que faz com que o campo elétrico de 60 Hz veja praticamente um curto-circuito a partir da antena e não cause nenhum dano ou interferência no equipamento. C. Campo magnético de frequência industrial As medições de campo magnético de frequência industrial (60 Hz) mostram níveis relativamente elevados nos diversos locais medidos ao longo do pátio da subestação. Como estes campos são de baixa frequência, o efeito de blindagem proporcionado pela caixa metálica do transceptor é desprezível, de forma que o campo magnético penetra na caixa praticamente sem atenuação. Por outro lado, como as tensões induzidas pelo campo magnético são proporcionais à frequência, o efeito indutor deste campo sobre os circuitos do transceptor e do sensor não é significativo. Por exemplo, considerando-se que as trilhas da placa de circuito impresso do transceptor formem uma espira quadrada de lado a = 5 cm e que esta espira está posicionada ortogonalmente às linhas de força do campo magnético indutor H = 5,8 A/m (valor medido debaixo da LT), a tensão induzida nesta espira é dada por: U 0 H a 2 , (3) onde µ0 é a permeabilidade magnética do espaço livre (µ0 = 4π 10-7 H/m) e ω é a frequência angular (ω = 377 rad/s). Inserindo estes valores em (3) fornece U = 6,9 µV. Portanto, verifica-se que a tensão induzida pelo campo magnético de frequência industrial é desprezível frente aos níveis de sinal dos circuitos eletrônicos. Embora os níveis de campo magnético em 60 Hz sejam desprezíveis para efeito de causarem interferência nos 4 I nU U , 2 nR jn X R jnX (4) onde U é a tensão induzida dada por (3), R é a resistência e X é a reatância de uma espira. Pode-se demonstrar que a máxima potência que esta bobina pode fornecer (Pmax) se dá quando a mesma está conectada a uma carga com uma impedância igual à sua, o que leva a: Pmax nU 2 . 4 R j n X (5) Para avaliar de forma quantitativa esta potência, pode-se expressar a resistência da espira por: R 4a , r2 (6) onde a é a aresta da espira, ρ é a resistividade do fio e r é o raio do fio. A indutância da espira pode ser calculada considerando-se que o raio do fio é muito menor do que a aresta da espira, o que leva a: . 2a X 8 10 7 a 2 2 ln r (1 2 ) (7) Para uma espira de 60 cm de aresta e feita com fio de cobre (ρ = 1,7 × 10-8 Ωm) de 0,1 mm de raio, obtém-se R = 1,30 Ω e X = 1,43 mΩ. A Figura 6 mostra a potência máxima em função do número de espiras, calculada para a bobina deste exemplo e para um campo magnético de 5 A/m. Observa-se que inicialmente a potência aumenta linearmente com o número de espiras, pois a resistência da bobina é preponderante sobre a reatância. Na medida em que aumenta o número de espiras, a reatância passa a se manifestar e a potência máxima fica independente do número de espiras, atingindo o valor máximo de 127 μW. O efeito da utilização de um fio mais grosso (r = 0,2 mm) também é mostrado na Figura 6, onde se observa que o valor limite é alcançado para um menor número de espiras e situa-se entorno de 140 μW. Esta potência é suficiente para alimentar os transceptores utilizados no projeto, pois um transceptor ZigBee da Digi [6] consome cerca de 33 µW no estado de repouso. Por exemplo, uma fonte que forneça 140 μW pode contar com cerca de 107 μW durante o ciclo de repouso para carregar a bateria que será utilizada durante o ciclo ativo. No entanto, há que se considerar também o consumo dos sensores, a energia dos ciclos ativos e as perdas na conversão e armazenamento da energia, o que faz com que o projeto de um sistema de alimentação que capte energia do campo magnético ambiente seja extremamente complexo. Como o transceptor utilizado consome 500 mW durante a transmissão, teria de se observar um intervalo de tempo significativo entre transmissões, de forma a possibilitar a recarga da bateria. 160 140 120 Potência (uW) circuitos eletrônicos, cabe uma avaliação do potencial destes campos em fornecer energia para alimentar transceptores de baixo consumo. Caso uma bobina composta de n espiras quadradas e concêntricas seja curto-circuitada e exposta ao campo magnético, a corrente que flui pela bobina é dada por: 100 80 r = 0,1 mm r = 0,2 mm 60 40 20 0 0 500 1000 1500 2000 2500 Número de espiras 3000 3500 4000 Fig. 6. Máxima potência que pode ser captada do campo magnético em função do número de espiras; H = 5 A/m, a = 60 cm, r = 0,1 mm e 0,2 mm. Dessa forma, para o projeto em questão foi feita a opção de utilizar fontes de energia mais robustas, como alimentação pelo secundário do TP e por painel solar. Para alimentação por painel solar, foi utilizado o sistema fornecido por Tyson Power, modelo RPDC 12-9-05, que fornece uma potência contínua de 1,25 W e uma potência de curta duração de até 60 W, esta última fornecida por bateria de 12 V - 9 Ah acoplada ao sistema. A obtenção de energia a partir do campo elétrico ambiente se encontra em estudo. Cabe observar que um transceptor ZigBee passa do estado de repouso para o estado ativo em apenas 30 ms, o que é cerca de 100 vezes mais rápido que um transceptor Bluetooth. Esta característica permite que o transceptor ZigBee fique boa parte do tempo em repouso e seja extremamente econômico em termos de consumo de energia. IV. AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DOS TRANSCEPTORES ZIGBEE NO AMBIENTE DA SUBESTAÇÃO A. Montagem dos protótipos de transceptores Conforme descrito na seção anterior, a tecnologia ZigBee apresenta bom potencial de uso na supervisão de equipamentos da subestação. Desta forma, foram montados alguns protótipos de transceptores ZigBee para a realização de testes de comunicação no ambiente da subestação. Estes protótipos foram montados a partir de módulos da Digi [6], designados por XBee-Pro. Estes transceptores operam na faixa de 2,4 GHz, que é uma faixa livre (i.e., não requer licença) e vai de 2405 MHz a 2480 MHz, com uma taxa útil de transmissão de 250 kbps. Embora a taxa de transmissão não seja muito elevada (em comparação, por exemplo, com a tecnologia WiFi), ela é plenamente suficiente para os requisitos de telesupervisão. Este módulo foi montado em uma placa de circuito impresso dotada de um circuito auxiliar que possibilita a comunicação através de sua interface serial. A placa foi acondicionada em uma caixa metálica para a realização dos testes de campo, conforme mostrado na Figura 7, onde podem ser vistos também a antena externa omnidirecional utilizada nos testes (Hyperlink Tech., modelo HGV 2404U) e o módulo ZigBee (Digi, modelo XBee Pro) utilizado no transceptor. 5 Fig. 8. Qualidade da transmissão registrada em diferentes pontos da SE (esquerda: TC; centro: TP; direita: linha de transmissão). Fig. 7. Esquerda: Transceptor ZigBee utilizado nos testes de campo e sua antena; Direita: Módulo ZigBee utilizado no transceptor. Fig. 9. Transceptor instalado na cerca da SE, debaixo da LT Barreiro. Taxa de transmissão com sucesso (%) B. Resultados dos testes de comunicação na subestação Nos testes realizados na Subestação Neves 1, um dos transceptores foi conectado a um computador (unidade de supervisão) e o outro (transponder) teve sua porta de recepção conectada diretamente com a porta de transmissão, de forma a retransmitir as mensagens recebidas. Foram realizadas três sequências de testes, as quais são descritas a seguir. Na primeira sequência de testes, a unidade de supervisão foi instalada do lado de fora da Sala de Controle e a unidade móvel foi deslocada ao longo do pátio da subestação, enquanto a qualidade da comunicação e a intensidade do sinal recebidos eram monitorados a partir do computador. Este monitoramento foi feito através do software X-CTU fornecido pela Digi Int [6]. A Figura 8 mostra as telas do X-CTU para três posições de interesse, a saber: junto ao TC, junto ao TP e debaixo da linha de transmissão. Observa-se que em todos os casos as taxas das transmissões realizadas com sucesso ficaram acima de 99%, o que indica um bom desempenho dos transceptores. Observa-se também que o sinal se mostrou mais intenso próximo ao TC (faixa laranja), provavelmente devido à menor distância entre os transceptores. Na segunda sequência de testes, a unidade de supervisão foi trazida para dentro da Sala de Controle e a unidade móvel foi deslocada ao longo do pátio da subestação, enquanto a qualidade da comunicação e a intensidade do sinal recebidos eram monitorados a partir do computador. Os resultados obtidos foram similares aos da sequência anterior, indicando que a parede da Sala de Controle (tijolos aparentes) não afetou significativamente o sinal dos transceptores. Na terceira sequência de testes, o transponder foi fixado na cerca da subestação, debaixo da LT Barreiro, conforme mostrado na Figura 9. A unidade de supervisão foi então transportada para fora da subestação em um veículo e seguiu pela estrada paralela à LT. Foram realizadas avaliações da comunicação em diferentes pontos ao longo do percurso, as quais são mostradas na Figura 10. Nesta figura, a distância indicada corresponde à distância entre os transceptores. Observa-se que, mesmo a 800 m, a taxa de sucesso da transmissão se mantém em um bom nível (87%), sendo de se esperar que este desempenho melhore ao se instalar os transceptores na linha, em função da melhoria da visada direta entre eles. A Digi fornece um alcance máximo de 1600 m para a operação dos transceptores, no caso de visada direta. 100 80 60 40 20 0 0 200 400 600 800 1000 Distância (m) Fig. 10. Qualidade da transmissão em função da distância percorrida ao longo da LT Barreiro. Ressalta-se que o sistema de comunicação pode apresentar uma altíssima confiabilidade mesmo com taxas de transmissão com sucesso da ordem de 80%. Por exemplo, uma repetição de 4 vezes no envio de uma mensagem faz com que a probabilidade da transmissão ser recebida com sucesso suba de 80% para 99,8%. V. CONCLUSÕES Os resultados experimentais apresentados neste artigo mostram que transceptores ZigBee são adequados para compor uma rede sem fio de supervisão de equipamentos de uma subestação de potência. Esta conclusão é suportada pelos seguintes resultados: - Transceptores ZigBee operando na faixa de 2,45 GHz funcionaram adequadamente no ambiente eletromagnético de uma subestação de potência. 6 - O baixo consumo do transceptor torna possível alimentálo com energia coletada do campo magnético presente no ambiente da subestação, muito embora existam soluções mais robustas para esta aplicação. - A qualidade da comunicação se manteve elevada e estável ao longo do pátio da subestação, demonstrando que as estruturas metálicas existentes no pátio não atenuam significativamente o sinal dos transceptores. - A área de cobertura dos transceptores da subestação permite expandir os limites do sistema de supervisão para as torres adjacentes. Cabe acrescentar que a capacidade dos transceptores ZigBee formarem redes em malha aumenta consideravelmente a confiabilidade do sistema de comunicação através da formação de rotas alternativas. Na sequência deste trabalho será implantada uma rede de supervisão sem fio na SE Neves 1, incluindo sensores para monitorar diversas grandezas da LT Barreiro, como as correntes e tensões das fases, assim como a temperatura e altura do condutor da linha. Rogério Lara Leite nasceu em Baependi, M. G. em 7 de junho de 1957, graduou em engenharia elétrica ênfase em eletrônica pelo Instituto Nacional de Telecomunicações - INATEL, em 1982. Especializou em automação pela Universidade Estadual de Campinas - Unicamp, em 1989, concluiu o mestrado em engenharia eletrônica e comunicações na Unicamp, em 1994. Concluiu o doutoramento em Engenharia Elétrica na área de Eletrônica, Microeletrônica e Optoeletrônica pela Unicamp em 2006. Trabalha na Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento- FCPqD, como Pesquisador atuando em projetos de pesquisa e desenvolvimento desde 1986 até hoje. Victor Vellano Neto nasceu em São Paulo, em 9 de março 1956, Graduado pela UNICAMP em Engenharia Elétrica em 1979. Fez Especialização em Serviços de Telecomunicações 2002 pela UFF. Pesquisador do CPqD desde 1980 tem atuado em EMC no CPqD desde 1985, sendo atualmente responsável técnico pelo laboratório de compatibilidade eletromagnética do CPqD. Atualmente tem também coordenado comissões do COBEI/ABNT para elaboração de Normas Brasileiras em EMC e tem atuado em diversos projetos P&D ANEEL tratando de aspectos de compatibilidade eletromagnética e qualidade de energia. VI. REFERÊNCIAS [1] [2] [3] [4] [5] [6] W. K. Daily and F. Dawalibi, "Measurements and computations of electromagnetic fields in electric power substations," IEEE Trans. Power Delivery, vol. 9, n.1, pp. 324-333, Jan. 1994. A. S. Safigianni and C. G. Tsompanidis, "Electric and magnetic field measurements in an outdoor electric power substation," IEEE Trans. Power Delivery, vol. 24, n.1, pp. 38-42, Jan. 2009. IEEE Standard for Information Technology - Local and Metropolitan Area Networks - Part 15.4: Low-Rate Wireless Personal Area Networks (LR-WPANs), IEEE Standard 802.15.4-2011. IEEE Standard for Information Technology - Local and Metropolitan Area Networks - Part 11: Wireless LAN Medium Access Control (MAC) and Physical Layer (PHY) Specifications, IEEE Standard 802.11v-2011. IEEE Standard for Information Technology - Local and Metropolitan Area Networks - Part 15.1:Wireless Medium Access Control 9MAC) and Physical Layer (PHY) Specifications for Wireless Personal Area Networks (WPAN), IEEE Standard 802.15.1-2005. XBee / XBee-Pro RF Modules, Product Manual v1.xEx-802.15.4 Protocol, Digi International, 2009 - available at www.digi.com. VII. BIOGRAFIAS Célio Fonseca Barbosa nasceu em Nova Lima MG em 1961. Graduou-se em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais (1983) e obteve os títulos de Mestre (1988) e Doutor (2009) em Engenharia Elétrica pela mesma universidade. Trabalhou na Fundação Christiano Ottoni (1984-1985) e na Telebrás (1986-1998). Trabalha desde 1998 na Fundação CPqD (Campinas - SP), onde realizou diversos trabalhos de consultoria, pesquisa e desenvolvimento. Seus interesses atuais abrangem a proteção de sistemas de telecomunicações contra sobretensões e a supervisão de sistemas elétricos de potência (Smart Grid). Célio Barbosa é também Relator para proteção contra descargas atmosféricas da International Telecommunication Union (ITU) e revisor de periódicos do Institute of Electrical and Electronic Engineers (IEEE). Eduardo Ferreira da Costa nasceu em Campinas, em 22 de janeiro de 1982, possui mestrado em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (2009) e graduação em Engenharia Elétrica pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo (2005). Atualmente é engenheiro da Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações. Tem experiência na área de Engenharia Elétrica, com ênfase em Circuitos Eletrônicos. Luís Carlos Gomes nascido em Ribeirão das Neves, Minas Gerais, Brasil, em 29 de Abril de 1963. Estudou na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, graduou-se em Engenharia Elétrica e concluiu curso de pós-graduação especialização em Análise de Sistemas no Centro de Extensão da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de BH. Trabalha na CEMIG há 25 anos tendo atuado nas áreas de projetos elétricos de geração, distribuição e transmissão de energia elétrica e atualmente na gerência de engenharia de expansão da transmissão da CEMIG GT. Seu campo de interesse inclui especificação de equipamentos para sistemas de supervisão, controle e proteção. Carlos Henrique de Sousa Nogueira nascido em Contagem, MG em 5 de novembro de 1976. Estudou na Universidade Federal de Minas Gerais e graduou-se em engenharia mecânica. Sua experiência profissional inclui a Cemig. Desde 2002 trabalha na gerência de engenharia da expansão da transmissão. Seu campo de interesse inclui comportamento mecânico de estruturas e cabos de linhas de transmissão de energia elétrica.