A Invenção da Realidade – A Física como Linguagem Capítulo 02 “O Inestimável Conceito de Força” Odd as it seem, most people’s views about motion are part of a system of physics that was proposed more than 2000 years ago and was experimentally shown to be inadequate at least 1400 years ago. I. BERNARD COHEN A Invenção da Realidade – A Física como Linguagem Capítulo 02 A bola lançada • Quando a bola deixa sua mão, existe alguma força atuando sobre ela? Se há, em que direção ela age? Quando ela alcança a altura máxima e está prestes a começar a cair, há uma força? Existe força imediatamente antes de você pegá-la novamente? 2 A Invenção da Realidade – A Física como Linguagem Capítulo 02 Isaac Newton (Inglaterra 1643-1727) • Kepler e Galileu: descrições que levavam a predições • Principia (1687) • Definiu um conjunto de princípios fundamentais ou leis, e a partir deles calculou o movimento dos corpos em uma variedade de situações • Eficácia e precisão que continua sendo uma forma de descrição da mecânica utilizada até hoje • “Modo de falar do movimento” equivalente ao “modo de falar da geometria” de Euclides. • Axiomas (leis) que geram teoremas (cuja interpretação leva a descrição do movimento) • No caminho, desenvolveu uma “linguagem” apropriada: a matemática dos fluxions ou cálculo diferencial 3 A Invenção da Realidade – A Física como Linguagem Capítulo 02 Principia (1687) • Há movimentos que precisam e outros que não precisam de explicação • Contra Aristóteles: todo movimento precisa ter uma causa. • Pró Galileu: o MRU (superfícies sem atrito) não precisa de uma explicação (exemplos do mundo físico) • Com alguma generalização... • “O repouso e todos os movimentos uniformes...” O Princípio da Inércia • Como Kepler e diferentemente de Galileu, Newton pensava que os movimentos celestes (circulares) precisavam de um mecanismo. 4 A Invenção da Realidade – A Física como Linguagem Capítulo 02 Inércia “Every body perseveres in its state of being at rest or of moving uniformly straight foward, except insofar as it is compelled to change its state by forces impressed upon it” • Existem muitos exemplos cotidianos de que Newton está errado, mas a minimização da fricção em diversos sistemas mostra que a natureza “tende” ao mundo abstrato proposto por ele • O princípio da inércia leva a definição de algo capaz de retirar um objeto do seu estado de repouso ou movimento retilínio e uniforme: uma força. 5 A Invenção da Realidade – A Física como Linguagem Capítulo 02 A Força “A change in motion is proportional to the force impressed and take place in the direction of the straight line along which the force is impressed” • Newton não explicita o que é uma força, ao invés disso descreve sua ação sobre o movimento dos corpos e dá um exemplo: gravidade! • A gravidade é uma força que atua sobre dois corpos massivos quaisquer no espaço e depende da massa dos corpos e diminui com o quadrado da distância entre eles. 6 A Invenção da Realidade – A Física como Linguagem Capítulo 02 A Força • Uma demonstração do poder da descrição de Newton é feita ao descrever o movimento da Lua entorno da Terra como uma queda • Mostra ainda “dramaticamente” que a distância percorrida em cada segundo pela Lua em sua “queda celestial” é a mesma que uma maçã que cai em um pomar • A Lua “cai em volta” da Terra! 7 A Invenção da Realidade – A Física como Linguagem Capítulo 02 Voltando a bola lançada • Aristotélicamente: há uma força que empurra a bola para cima, se extingue quando a bola para e outra força que a puxa para baixo na queda, se extinguindo ao retornar a sua mão. 8 A Invenção da Realidade – A Física como Linguagem Capítulo 02 Voltando a bola lançada • Newtonianamente: há uma única força, que puxa a bola para baixo, diminuindo a velocidade inicial imposta por sua mão, até uma eventual parada, quando ela passa a aumentar a velocidade da bola para baixo. Esta força é anulada por sua mão, que é a única coisa que a impede de continuar caindo. 9 A Invenção da Realidade – A Física como Linguagem Capítulo 02 Certo ou Errado? • Não se trata simplesmente de dizer que Newton está certo e Aristóteles está errado • Em um mundo em que existe fricção, os corpos precisam das “forças aristotélicas” para permanecer em movimento • A maioria das pessoas pensam como Aristóteles, porque é o que se vê no cotidiano • Mas a superioridade da abordagem de Newton está na análise quantitativa do movimento! • Newton derivou as Leis de Kepler das suas leis e sua descrição da gravidade considerando que todos os elementos do sistema solar estavam sob ação da gravidade do Sol... 10 A Invenção da Realidade – A Física como Linguagem Capítulo 02 Um breve lampejo da tempestade que chega... • Newton era religioso como a maioria dos cientistas de sua época • Seus trabalhos no campo da teologia (apesar de pouco conhecidos) são tão extensos quanto no campo da ciência • Newton acreditava estar desvendando o projeto de Deus, as leis a partir das quais Deus moldou o universo • Apesar dessa posição o poder da sua descrição provocou outras reações, radicais tanto para um lado, quanto para o outro Quando Pierre Laplace, ao entregar uma cópia do Mécanique céleste a Napoleão, foi perguntado sobre a ausência de menção a Deus na obra, teria respondido: “Eu não tenho necessidade dessa hipótese”. 11 A Invenção da Realidade – A Física como Linguagem Capítulo 02 O incômodo “Por que” • O mecanismo de ação a distância proposto por Newton provocou reações: é mais uma condescendência matemática que uma constatação experimental • Diante de questionamento como “por que a gravidade se comportava dessa forma”, Newton teria respondido: “Eu não elaboro hipóteses” • Aqui, como Kepler, Newton ocupa-se em descrever como a natureza funciona e seus efeitos e não porque ela funciona dessa forma • As leis de Newton não são conclusões, mas suposições. Não podem (e nem mesmo precisam) ser provadas isoladamente, mas combinadas na descrição de sistemas mecânicos 12 A Invenção da Realidade – A Física como Linguagem Capítulo 02 O Conceito de Energia • O mecanicismo e o cálculo diferencial de Newton foi seguido e complementado por uma infinidade de físicos e matemáticos criativos • Desenvolveu-se um “modo de falar” de movimento de forma independente da linguagem de “força” • O exemplo da montanha-russa: Energia Total Energia Cinética Energia Potencial 13 A Invenção da Realidade – A Física como Linguagem • • • • Capítulo 02 Conservação Dissipação: energia térmica Montanhas-russas “proibidas” Sistemas permitidos e não-permitidos: uma realidade da física do século XX Joseph Louis Lagrange (matemático, Itália, 1571) • Definição de potenciais • Desenvolvimento de Lagrangeana • Obtenção das equações de movimento newtonianas ´ 14 A Invenção da Realidade – A Física como Linguagem William Rowan Hamilton (físico, Irlanda, Capítulo 02 1805) • Princípio da Mínima Ação (1824) dS=0 “The path taken by the system between times t1 and t2 is the one for which the action is stationary (no change) to first order.” • A natureza “escolhe” o melhor caminho • Isso tem algum sentido? Carece de explicação assim como a “ação a distância” Newtoniana? • Um bom exemplo da cultura científica do “é como se...” • Hamilton desenvolve uma nova linguagem (baseada no conceito de energia e não de força) e uma mecânica não baseada nas Leis ´ de Newton 15 A Invenção da Realidade – A Física como Linguagem Capítulo 02 Qual dessas abordagens é a mais fundamental? • O que realmente importa para a física é: Em que as previsões dessas abordagens diferem em cada situação? • Apesar das duas teorias apresentam diferentes explicações para o movimento, mas ambas levam as mesmas predições • Se não existe um experimento capaz de diferenciá-las, elas são equivalentes O Princípio de Hamilton pode ser escrito em termos das Leis de Newton (e vice-versa!) 16 A Invenção da Realidade – A Física como Linguagem Capítulo 02 • A mecânica descreve a vastidão do universo em algumas leis • Na linguagem de Newton essas leis estão expressas em termos das forças e efeitos dessas forças • Tomando a gravidade como lei universal Newton foi capaz de descrever um “Universo previsível”... • “O sonho dos astrólogos foi satisfeito: o movimento dos planetas apontou para uma forma de prever o futuro” • ... Mas o futuro não estava escrito na linguagem das estrelas, o futuro estava escrito na linguagem de Newton. 17 A Invenção da Realidade – A Física como Linguagem Capítulo 02 No próximo capítulo... O princípio da “ação a distância” e a linguagem de forças utilizada por Newton dá origem (séculos depois) às Equações de Maxwell ! Leitura Complementar: H. Moysés Nussenzveig, Curso de Física Básica, vol. 1, cap. 4 R. Halliday; R. Resnick, Fundamentos de Física, vol. 1, cap. 5 18