CATS 2012 – Congresso de Arquitetura, Turismo e Sustentabilidade MUSEU DO PÃO DE ILÓPOLIS: PASSADO E PRESENTE EM HARMONIA Anicoli Romanini Arquiteta urbanista, Faculdade Meridional IMED – Passo Fundo/RS E-mail: [email protected] Liliany Schramm Arquiteta urbanista, Faculdade Meridional IMED – Passo Fundo/RS E-mail: [email protected] 278 Abstract The architectural ensemble of the Bread Museum is located in the center of Ilópolis at Mills Road, in the mountain region of Rio Grande do Sul / Brazil. Currently, it comprises a bakery shop, a tavern (tavern) and former Mill Colognese with construction date of 1910. Through a project conducted by the Office Architecture Brazil, Sao Paulo - architects Marcelo Ferraz and Francisco Fanucci, is initiated to restore the mill together with students of Restoration and Wood Craft, promoted by the Instituto Italo Latino Americano, the construction a museum shop and a bakery. The project, built in 2006 and 2007, was sponsored by Nestle Brazil, with support of the City of Ilópolis, IPHAN and the University of Caxias do Sul The whole Bread Museum opened in 2008. The mill is shown the process of turning grain into flour, with the original equipment still, activated at the request of visitors. The old grain store was transformed into a bodega, which offers products and bakery shop across the region, also serving as a point of living for residents and visitors to the site. The dialogue between old and new, composed of the restored mill and also the immediate surroundings and the whole region is one of the most interesting aspects of the project. According to the authors: the "permanent dialectic between tradition and invention, added to our openness to assimilate and recreate critical languages and information produced in other corners of the planet is a central feature of Brazilian culture." Thus, tourism gaucho who was confined to the region of the mountain, the missions and ITAIMBEZINHO spent from February 2008 to have an interesting and new cultural and tourist route called the Way of the Mills. 279 CATS 2012 – Congresso de Arquitetura, Turismo e Sustentabilidade Histórico Fig. 1. Croqui do Conjunto Museu do Pão Fonte. Brasil Arquitetura, 2008. O conjunto arquitetônico do Museu do Pão (Fig. 1) situa-se no centro da cidade de Ilópolis, região serrana do estado do Rio Grande do Sul/Brasil (Fig. 2). Atualmente, é constituído por uma oficina de panificação, uma bodega (taverna) e pelo antigo Moinho Colognese, com data de construção de 1910. Fig. 2. Localização da cidade de Ilópolis no Estado do Rio Grande do Sul Fonte. Wikipédia, 2012. Desde seu início, com o nome de Moinho Tomasini & Baú, cuja função era a moagem de grãos para produção de farinha de trigo, o moinho passou por diversos 280 proprietários e locatários e, em 1930, é alugado para Carlos Colognese, o qual monta no local um armazém de secos e molhados. Em 1953, o prédio é vendido para os irmãos Ângelo, Savino, José, Augusto e João Ernesto Colognese e o moinho é novamente montado recebendo o nome de Colognese e Cia; contudo, em 1976, a patente do mesmo foi vendida para um outro moinho, retornando para as mãos de João Ernesto Colognese em 1982. Cria-se, no ano de 2004, a Associação dos Amigos dos Moinhos do Vale do Taquari e a mesma adquire o imóvel com recursos doados pela Nestlé Brasil. Em 2005, o Escritório Brasil Arquitetura, de São Paulo - arquitetos Francisco Fanucci e Marcelo Ferraz, dá início ao projeto de restauração do moinho. O projeto prevê, além da restauração do moinho – realizada pelos alunos de Restauração e Artesanato de Madeira, promovido pelo Instituto Ítalo Latino Americano, a construção de um museu e de uma oficina de panificação. A obra, construída em 2006 e 2007, foi patrocinada pela Nestlé Brasil, tendo apoio da Prefeitura de Ilópolis, do IPHAN e da Universidade de Caxias do Sul. O conjunto do Museu do Pão é inaugurado em 2008. Moinho Colognese No moinho, é mostrado o processo de transformar o grão em farinha, com os equipamentos ainda originais, ativados a pedido dos visitantes. O antigo depósito de grãos foi transformado em uma bodega, que oferece produtos da oficina de panificação e de toda a região, também servindo de ponto de convivência para moradores e visitantes do local (Fig. 3 e 4). 281 CATS 2012 – Congresso de Arquitetura, Turismo e Sustentabilidade Fig. 3. Moinho Colognese Fonte. Prefeitura Municipal de Ilópolis, 2012. Fig. 4. Imagens internas do Moinho Fonte. Autoras, 2011. Oficina de Panificação Coração vivo do museu, segundo os arquitetos, o tema insere-se no resgate da culinária tradicional e na formação e capacitação por meio de cursos de panificação e confeitaria para crianças, jovens universitários e moradores da região, ministrados por pessoas especializadas na área de farináceos (Fig. 5). 282 Fig. 5. Oficina de panificação Fonte. Autoras, 2011. Em nova edificação, também foi criado um espaço para abrigar uma pequena coleção de objetos utilizados pelos imigrantes italianos do Vale do Taquari (Fig. 6). Além disso, refaz a trajetória da produção do pão “do grão ao prato” por meio de uma linha do tempo que resume 14.000 anos da presença deste alimento na história da humanidade. Fig. 6. Vista interna do espaço do museu Fonte: Prefeitura Municipal de Ilópolis, 2012. 283 CATS 2012 – Congresso de Arquitetura, Turismo e Sustentabilidade Em um pequeno auditório, cuja funcionalidade é obtida mediante o emprego de cortinas, são rodados documentários e filmes, e realizadas palestras sobre temas relacionados ao pão e à imigração italiana (Fig.7). Fig. 7. Vista externa do volume do auditório do museu Fonte: Brasil Arquitetura, 2008. Projeto Integrador Os dois novos volumes – oficina de panificação e museu, perpendiculares entre si, possuem materialidades diversas: o museu, localizado mais à frente, é em sua maior parte, transparente; e a oficina de panificação, localizada aos fundos, é protegida por empenas de concreto aparente (Fig. 8). 284 Fig. 8. Imagem do conjunto do Museu do Pão Fonte. Falando de arquitetura, 2012. Contudo, o aspecto mais interessante é o diálogo entre o novo e o antigo, composto pelo moinho restaurado e, também, pelo entorno imediato e toda a região. Segundo os autores: a “dialética permanente entre tradição e invenção, somada à nossa abertura crítica para assimilar e recriar linguagens e informações produzidas em outros cantos do planeta é um traço central da cultura brasileira”. Como exemplo, pode-se citar os pilares de concreto empregados na estrutura do museu, os quais possuem capitéis de madeira inspirados na estrutura do moinho. Outro aspecto neste sentido revela-se na cota interna do piso dos novos volumes, que elevamse do solo para alinharem-se ao piso do moinho podendo, os arquitetos, criarem uma passarela que liga todo o conjunto. Também não pode-se deixar de mencionar os painéis móveis de araucária que protegem as paredes envidraçadas do museu: segundo os arquitetos, com o passar do tempo, esta madeira vai ostentar o mesmo tom das paredes do antigo moinho (Fig. 9). 285 CATS 2012 – Congresso de Arquitetura, Turismo e Sustentabilidade Fig. 9. Vista do Museu do Pão – passarela que interliga os volumes elevados, painéis móveis de fechamento e pilar com capitel em madeira Fonte. Autoras, 2011. De acordo com o arquiteto e crítico de arquitetura Edson Mahfuz, em seu blog: o Museu do Pão “é fruto de um projeto respeitoso, correto e integrador, sem deixar de ter caráter próprio e identidade formal. Não há nessa obra qualquer sentimentalismo barato, nenhuma tentativa de criar um filhote do moinho ou parecer colonial”. Como uma complementação, pode-se observar que o edifício de formas puras, empregando concreto e vidro, não se omite nem tampouco se sobrepõe à edificação pré-existente. O projeto do Museu do Pão deu aos arquitetos o prêmio Rino Levi, conferido pelo IAB/SP, e o prêmio Rodrigo Mello Franco de Andrade, promovido pelo IPHAN, na categoria de bens móveis e imóveis. 286 Caminho dos Moinhos A partir da idéia desenvolvida no Moinho Colognese, surgiu à proposta de recuperar uma série de moinhos coloniais ainda existentes na região e integrá-los como parte de um circuito turístico e cultural (Fig. 10). Fig. 10. Mapa do roteiro Fonte. Caminho dos Moinhos, 2012. 287 CATS 2012 – Congresso de Arquitetura, Turismo e Sustentabilidade O Caminho dos Moinhos justifica-se por serem registros da imigração italiana do começo do século XX, sendo testemunhos de seu trabalho, pois, para as famílias recém chegadas, estes moinhos significavam a conquista de uma vida autosustentável, sendo o pão e a massa bases desta sustentabilidade. Ao lado imagem que representa o Caminho dos Moinhos, encontrada em uma bodega que se localizava na Rota dos Fig. 11. Imagem Caminho dos Moinhos Fonte. Autoras, 2012. Moinhos (Fig. 11). Assim como ocorreu na criação do Museu do Pão, de Ilópolis, a idéia é não apenas restaurar os moinhos, mas prever a construção de atividades complementares junto a cada um deles. Portanto, além do Moinho Colognese (hoje conhecido como Museu do Pão), fazem parte deste roteiro os seguintes: Moinho Castaman – situado na cidade de Arvorezinha, com data de construção de 1947 (a ser restaurado) (Fig. 12 e 13); 288 Fig. 12. Maquete Moinho Castaman Fonte. Autoras, 2012. Fig. 13. Moinho Castaman Fonte. Caminho dos Moinhos, 2012. Moinho Dallé – situado na cidade de Anta Gorda, com data de construção de 1919 (funcionando) (Fig. 14 e 15); Fig. 14. Maquete Moinho Dallé Fonte. Autoras, 2012. Fig. 15. Moinho Dallé Fonte. Caminho dos Moinhos, 2012. 289 CATS 2012 – Congresso de Arquitetura, Turismo e Sustentabilidade Moinho Fachinetto – situado na cidade de Arvorezinha, com data de construção de 1947 (restaurado e funcionando) (Fig. 16 e 17); Fig. 16. Maquete Moinho Fachinetto Fonte. Autoras, 2012. Fig. 17. Moinho Fachinetto Fonte. Caminho dos Moinhos, 2012. Moinho Marca – situado da cidade de Putinga, com data de construção de 1950 (a ser restaurado) (Fig. 18 e 19); Fig. 18. Maquete Moinho Marca Fonte. Autoras, 2012. 290 Fig. 19. Moinho Marca Fonte. Caminho dos Moinhos, 2012. Moinho Vicenzi – situado na cidade de Anta Gorda, com data de construção de 1930 (funcionando) (Fig. 20 e 21); Fig. 20. Maquete Moinho Vicenzi Fonte: Autoras, 2012. Fig. 21. Moinho Vicenzi Fonte: Caminho dos Moinhos, 2012. Conclusões Promover a história da valorização dos moinhos italianos da serra gaúcha representa uma relevante forma de se preservar e divulgar a origem cultural e a identidade daqueles imigrantes italianos do Alto do Vale do Taquari, que chegaram ao país a partir de 1900, e decidiram permancer ali, produzindo a farinha de trigo, base da culinária italiana. Os moinhos assim representam a memória do povo italiano, a sua história econômica e social, a sua história tecnológica e, o repositório de crenças, ditos e pequenas histórias que constituem parte do imaginário popular. Com o passar dos anos, e deparados com a proibição da produção de farinha de trigo em moinhos artesanais, os prédios foram abandonados. No entanto, com a recuperação do moinho de Ilópolis, a Associação dos Amigos dos Moinhos do Alto do Vale do Taquari sonha com que “O Caminho dos Moinhos, partindo da restauração e revitalização do antigo Colognese e da constituição do Museu do Pão, converter-se-á em 291 CATS 2012 – Congresso de Arquitetura, Turismo e Sustentabilidade uma importante alavanca para o desenvolvimento sustentável da região”. Assim, o turismo gaúcho que se restringia à região da serra, às missões e ao Itaimbézinho, passou a partir de fevereiro de 2008 a ter uma interessante e nova rota turística e cultural chamada de Caminho dos Moinhos. Referências Bibliográficas Brasil Arquitetura. Museu e escola, Ilópolis, RS. 2008. Acesso em: 10 mar. 2012. Disponível em: http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/brasil-arquitetura-10-04- 2008.html _________. Museu do Pão. 2008. Acesso em: 10 mar. 2012. Disponível em: http://brasilarquitetura.com/projetos.php?mn=25&img=001&bg=img&mn2=92%lg=pt_B R Caminho dos Moinhos. Acesso em 05 mar. 2012. Disponível em: em 12 mar. 2012. Disponível em: http://www.caminhodosmoinhos.com.br Falando de arquitetura. Acesso http://usuarq.blogspot.com.br/2008/04/museu-do-po-ilpolis-rs.html#!/2008/04/museudo-po-ilpolis-rs.html Prefeitura Municipal de Ilópolis. Acesso em: 05 mar. 2012. Disponível em: http://www.ilopolis-rs.com.br Wikipédia. 2012. Acesso em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Il%C3%B3polis 292 18 mar. 2012. Disponível em: