ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DA ATENÇÃO BÁSICA FRENTE AO CONTROLE DO CÂNCER UTERINO: revisão de literatura Camila Gomes de Paula1 Luciene Barra Ribeiro2 Maíra Cardoso Pereira3 Tatiana Bedran4 RESUMO: A incidência de câncer de útero tem aumentado no Brasil, representando assim um sério problema de saúde pública. Como o seu controle depende de ações voltadas para promoção da saúde, prevenção à doença e qualidade de vida, o papel do enfermeiro da atenção básica é de suma importância para o controle desta doença. Este estudo se baseia em uma revisão de literatura descritiva e prospectiva com abordagem qualitativa, tendo como objetivo descrever o papel do enfermeiro na prevenção do câncer do colo do útero no âmbito da atenção básica. A busca por referências foi realizada em bases eletrônicas de dados e sites especializados da área. O enfermeiro é quem irá organizar a assistência na prevenção a esta neoplasia, criando medidas eficazes na abordagem à mulher, planos específicos que superem as dificuldades existentes, além de criar vínculos através do Programa Saúde da Família (PSF). PALAVRAS – CHAVES: Enfermagem. Papanicolau. Neoplasias. Atenção básica. INTRODUÇÃO tipo de câncer mais comum, atingindo o primeiro lugar em al- A incidência de câncer tem aumentado de maneira con- guns países em desenvolvimento e o sexto lugar em países de- siderável em todo o mundo, tornando-se, atualmente, um dos senvolvidos (MARTINS; THULER; VALENTE, 2005; TROTTIER; mais importantes problemas de saúde pública nos países de- FRANCO, 2006). senvolvidos e em desenvolvimento. Ainda de acordo Trottier (2006), as baixas condições socioe- O câncer é uma doença que se caracteriza pela perda do conômicas, o início precoce da atividade sexual, a multiplicidade controle da divisão celular e pela capacidade de invadir outras de parceiros, o tabagismo, a higiene íntima inadequada e o uso estruturas orgânicas. Os fatores causais podem agir em con- prolongado de contraceptivos orais são os principais fatores de junto ou em sequência para iniciar ou promover o processo de risco para o câncer de colo de útero, sendo que o vírus do papi- carcinogênese, progredindo quando todos os mecanismos do loma humano (HPV) está presente em mais de 90% dos casos. complexo sistema imunológico de reparação ou destruição ce- A prevenção relacionada a este tipo de câncer pode ser rea- lular falham (INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER - INCA, 2008; lizada por intermédio do exame preventivo ginecológico, também SILVA et al., 2008). conhecido como Papanicolau. Este exame, se realizado correta- O crescimento populacional, bem como seu envelhecimento, afetam de forma significativa a incidência do câncer no mente e precocemente, permite reduzir em até 70% a mortalidade por esta doença (MARTINS; THULER; VALENTE, 2005). mundo, já que o impacto global desta doença mais que dobrou O controle do câncer de colo uterino depende de ações em 30 anos. Esse impacto recai principalmente sobre os paí- voltadas para a área de promoção à saúde, prevenção da do- ses de médio e baixo desenvolvimento (BRASIL, 2009). ença e qualidade de vida. O enfermeiro interfere nessas ações De acordo com a Agência Internacional para Pesquisa em realizando, dentre outras, visitas domiciliares e a consulta de Câncer (IARC), o impacto global do câncer mais que dobrou enfermagem de forma humanizada e integralizada, explicando em 30 anos. Estimou-se que, no ano de 2008, ocorreriam cer- cada procedimento ao longo do exame Papanicolau. Dessa for- ca de 12 milhões de novos casos e sete milhões de óbitos. O ma, contribui para o melhor atendimento à população feminina, câncer de próstata, seguido por pulmão, estômago, cólon e encaminhando adequadamente as mulheres que apresentam reto são considerados os mais comuns no sexo masculino. No alterações citológicas, além de divulgar informações à popu- sexo feminino, prevalece o câncer de mama, seguido do colo lação em relação aos fatores de risco, ações de prevenção e do útero, cólon e reto, estômago e pulmão (BRASIL, 2009). detecção precoce do câncer. Sendo assim, o objetivo dessas O câncer do colo do útero, também conhecido como câncer cérvico-uterino, representa cerca de 15% dos tipos de câncer que acometem as mulheres, sendo considerado o segundo ações visa diminuir os fatores de risco, diagnosticar e tratar precocemente a doença (SILVA et al., 2008). Estas ações abrangem todos os níveis de atenção à saú- PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 213 de, mas é na atenção básica que se torna possível o maior al- Além das bases de dados eletrônicos utilizadas, foram re- cance das mesmas, devido ao maior contato dos profissionais alizadas novas buscas por mais fontes em livros, periódicos, da saúde com a comunidade. Dentro deste âmbito, o Programa manuais e protocolos sobre o tema em questão no acervo Saúde da Família (PSF) é um Programa do Sistema de Saúde bibliotecário do Centro Universitário Newton Paiva e em sites Brasileiro que tem como objetivo reorientar o modelo assisten- específicos, como do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e cial, incluindo em sua prática a articulação entre a prevenção e Ministério da Saúde. a promoção da saúde, por meio da expansão e qualificação da Para a seleção dos artigos, foram utilizados como critério atenção primária, gerando assim, um cenário favorável à reorga- de inclusão: artigos publicados entre os anos de 2004 a 2011; nização do modo de rastreamento do câncer de colo do útero escritos em língua portuguesa e inglesa, por serem as línguas de (VALE et al., 2010; INCA, 2010; OLIVEIRA; SPIRI, 2006). domínio das autoras, além dos artigos disponíveis para consulta Dentro deste contexto, Parada et al., (2008) explicam que o na íntegra. enfermeiro exerce papel essencial dentro das equipes de PSF e Foram excluídos artigos com datas inferiores a 2004, aque- a sua conduta ao longo do atendimento pode ser um fator deter- les escritos em outros idiomas que não fossem os citados acima minante na assistência prestada. e que não estivessem disponíveis na integra. Considerando que o câncer de colo uterino está listado como Nos bancos de dados pesquisados foram encontradas um dos principais tipos de câncer que acomete as mulheres e 35 referências em português e cinco em inglês. Após seleção que representa um sério problema de saúde pública no Brasil, é dos textos disponíveis em formato completo, e que atendes- merecida uma atenção especial por parte dos enfermeiros que sem aos critérios de inclusão, obteve-se um total de 25 arti- atuam na atenção básica. Esses profissionais estão engajados gos em português e dois em inglês, sendo utilizados para a em todas as ações relacionadas a essa neoplasia, e, por inter- construção deste trabalho 14 artigos em português e um ar- médio de ações educativas com a participação da comunidade, tigo em inglês pela pertinência com o tema proposto. Destes o conhecimento sobre a doença é transmitido, dúvidas sobre a artigos, oito foram encontrados na base de dados SCIELO, realização do exame são esclarecidas e a comunidade descobre quatro na base de dados LILACS, um na Revista Brasileira de o quão significativo é a realização desta prevenção. Cancerologia e um na Revista de Saúde Coletiva. Além dos Desta maneira este trabalho tem como objetivo descrever, por meio de uma revisão de literatura, o papel do enfermeiro na prevenção do câncer do colo do útero no âmbito da atenção básica. artigos selecionados, foram utilizadas referências publicadas no site do INCA e Ministério da Saúde. Dessa forma, para a análise e síntese do material selecionado, seguiram-se os seguintes passos: escolha do tema; determinação dos objetivos; elaboração do plano de trabalho; 2 Percurso Metodológico identificação e localização das fontes; obtenção e leitura crítica Trata-se de uma pesquisa bibliográfica descritiva e prospec- ou reflexiva do material; levantamento e análise da ideia principal tiva com abordagem qualitativa, já que esta envolve conceitos e dos dados significativos (GIL, 2010). subjetivos e seus dados são agrupados a partir das descrições detalhadas de experiências (GIL, 2010). 3 Resultados e Discurssões Este estudo se baseia em uma revisão de literatura que, de acordo com Gil (2010), é aquela pesquisa que é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído por livros e artigos científicos. 3.1 O CÂNCER CÉRVICO-UTERINO O câncer é uma doença genética crônico-degenerativa, cujo processo tem início com um dano a um gen ou a um grupo de O estudo foi realizado a partir de buscas de publicações genes de uma célula e progride quando todos os mecanismos pertinentes ao tema na Biblioteca Virtual da Saúde (BVS) em do complexo sistema imunológico de reparação ou destruição base eletrônica de dados, entre os anos de 2004 a 2011. celular falham (INCA, 2008; SILVA et al., 2008). As bases utilizadas foram: Literatura Latino-Americana e do Cari- O câncer do colo do útero é caracterizado pela replicação be em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Eletronic Library desordenada do epitélio de revestimento, comprometendo o te- Online (SCIELO). Para a realização das buscas, foram utilizados cido subjacente (estroma) e podendo invadir estruturas e órgãos os descritores: Enfermagem, Papanicolau, Neoplasias e Aten- contíguos ou à distância (Brasil, 2009). Há duas principais cate- ção básica. A busca pelos artigos ocorreu no período de feve- gorias de carcinomas invasores do colo do útero, na dependên- reiro a junho de 2011. cia da origem do epitélio comprometido: o carcinoma epider- 214 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 móide, tipo mais incidente e que acomete o epitélio escamoso, e o adenocarcinoma, tipo mais raro e que acomete o epitélio condição sócio-econômica mais baixa. Além deles, o Ministério da Saúde (2011), também afir- glandular. O câncer de colo de útero é uma doença crônica que ma que o aumento no número de casos da doença tem sido pode ocorrer a partir de mudanças intraepiteliais e, em um perí- sentido a partir de 1960, coincidente com o aumento do uso de odo médio de cinco a seis anos, se transformar num processo contraceptivos orais, diminuição do uso de outros métodos de invasor, que se não for detectado a tempo pode causar inúme- barreira e avanço tecnológico dos métodos diagnósticos. ros danos ao organismo (FERREIRA; OLIVEIRA, 2006). Com aproximadamente 500 mil novos casos por ano no mundo, o câncer do colo do útero está classificado como o se- 3.2 O EXAME PREVENTIVO O exame preventivo é atualmente um dos mais efica- gundo tipo de câncer mais comum entre as mulheres, perdendo zes métodos de detecção precoce do câncer cérvico-uterino, apenas para o câncer de mama. Este tipo de câncer é responsá- por isso, sua realização de maneira sistemática é de suma im- vel pela morte de 230 mil mulheres por ano no mundo, além de portância para o controle desta neoplasia (BELO HORIZONTE, apresentar uma média de 18.500 novos casos anuais no Brasil 2008). (INCA, 2011). Segundo Silva et al. (2010): Como as principais alterações nas células do colo do útero O exame preventivo foi descoberto por meio de estudos são causadas pela infecção do vírus papiloma humano (HPV), iniciados pelo Dr. George Nicolau em 1917, após anali- vale destacar que sua prevalência na população em geral é alta: sar alterações celulares das regiões da cérvix e vagina, de cinco a 20% das mulheres sexualmente ativas mostram posi- além de alterações apresentadas nas diferentes fases tividade em testes moleculares (BRASIL, 2009). do ciclo menstrual. Depois de vários estudos, o exame O HPV é um vírus de transmissão frequentemente sexual, preventivo passou a ser utilizado na década de 40, re- capaz de provocar lesões de pele ou mucosas. Seu agente etio- cebendo a denominação de exame de Papanicolau, lógico é um vírus de DNA não cultivável do grupo papiloma vírus. devido ao sistema de coloração utilizado, que consiste Atualmente, são conhecidos, mais de 100 tipos diferentes des- na coleta de material celular por meio de raspagem nas ses vírus e cerca de 20 destes possuem tropismo pelo epitélio regiões do fundo do saco vaginal, cervical e endocervi- escamoso do trato genital inferior (colo, vulva, corpo do períneo, região perianal e anal) (PARADA et al., 2008). cal (SILVA et al., 2010, p. 555). A Secretaria Municipal de Saúde (BELO HORIZONTE, 2008), No Brasil, existem cerca de seis milhões de mulheres entre afirma que o HPV estabelece relações amplamente inofensivas 35 a 49 anos de idade, e que nunca realizaram o exame citopa- com o organismo e a maioria das infecções passam desper- tológico do colo do útero (Papanicolau), faixa etária onde mais cebidas, pois são combatidas espontaneamente pelo sistema ocorrem casos positivos de câncer do colo do útero. Como con- imune, porém nem sempre os anticorpos são suficientemente sequência surgem milhares de novas vítimas a cada ano. Isso competentes para eliminar os vírus. Dessa maneira, o HPV pos- ocorre na maioria das vezes em função da falta de informação sui diversas formas de interagir com o organismo humano: na da população acerca da importância da realização do exame forma latente, a mulher não apresenta lesões clínicas. Assim, a preventivo e por medo ou vergonha visto a exposição corporal. única forma de diagnóstico é a molecular. Quando a infecção A detecção precoce desta neoplasia ou das lesões precursoras é subclínica, a mulher não apresenta lesões diagnosticáveis a são muito importantes já que a cura pode chegar a 100% e na olho nu, e o diagnóstico pode ser sugerido a partir da citopa- maioria dos casos a detecção ocorre ainda em nível ambulato- tologia, colposcopia ou histologia. Na forma clínica, existe uma rial (BELO HORIZONTE, 2008). lesão visível macroscopicamente, representada pelo condiloma O exame é realizado no próprio Centro de Saúde pelo mé- acuminado, com quase nenhuma potencialidade de progressão dico ou enfermeiro treinado e apto para tal realização. Porém, é para o câncer. considerado, por muitas mulheres, um procedimento invasivo, Trottier e Franco (2006) e Loureiro e Cruz (2008), afirmam que gera medo, vergonha, ansiedade, desconforto e repulsa da que entre os vários fatores de riscos para o aparecimento do própria genitália, gerando prolongados adiamentos na procura câncer do colo do útero, além da infecção pelo vírus papiloma do serviço de saúde. Pensando nisso, é importante que o profis- humano (HPV) como citado anteriormente, estão: o uso de con- sional que realiza este exame, tenha uma postura técnica e ética traceptivos orais, a precocidade referente ao início da vida se- no sentindo de preservar a privacidade da cliente, posicioná-la xual, a multidisciplidade de parceiros sexuais, o tabagismo e a em uma posição confortável, além de ser capaz de explicar os PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 215 procedimentos realizados, observando sempre se a paciente compreendeu essas explicações (EDUARDO et al., 2007; LOUREIRO; CRUZ, 2008). al. 2010; INCA, 2010; OLIVEIRA; SPIRI, 2006). O trabalho desenvolvido é multiprofissional: os profissionais inseridos neste programa articulam suas práticas e saberes no Estima-se uma redução de até 80% na mortalidade por este enfrentamento de cada situação identificada para propor solu- câncer a partir do rastreamento de mulheres na faixa etária de 25 ções conjuntamente e intervir de maneira adequada, já que to- a 65 anos para a realização do Papanicolau e para o tratamento dos conhecem a problemática. O enfermeiro é um membro fun- das lesões precursoras com alto potencial de malignidade ou damental nesta equipe, planejando, gerenciando, coordenando carcinoma in situ. Para tanto, é necessário garantir a organiza- e avaliando as ações e os programas desenvolvidos nessas ção, a integralidade, a qualidade do programa de rastreamento, unidades. Juntamente com a equipe, decide as intervenções bem como o tratamento das pacientes (BRASIL, 2009). necessárias (OLIVEIRA; SPIRI, 2006; ROCHA; ARAÚJO, 2007). 3.3 A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA ATENÇÃO BÁSICA afirmam que o enfermeiro é quem irá organizar a assistência Loureiro e Cruz (2008), Beghini et al., (2008) e INCA (2010), A Atenção Básica à Saúde possui um papel estratégico no desenvolvendo métodos estratégicos e criativos para a realiza- controle do câncer no país, pois atua em várias dimensões da ção do rastreamento das usuárias do Centro de Saúde, incen- linha de cuidados para esta doença. Conforme a portaria que tivando-as a realizarem o exame periódico, pois este é o fator instituiu a Política Nacional de Atenção Oncológica (PNAO) a primordial para o sucesso do programa relacionado ao câncer Atenção Básica envolve “ações de caráter individual e coletivo, cérvico-uterino. voltadas para a promoção da saúde e prevenção do câncer, Ainda de acordo com os autores, o enfermeiro também, bem como ao diagnóstico precoce e apoio à terapêutica de tu- deve expor cartazes que demonstrem as técnicas utilizadas mores, aos cuidados paliativos e às ações clínicas para o segui- nos exames; fornecer informações para o momento da coleta; mento de doentes tratados” (BRASIL, 2009, p. 24). criar espaços de privacidade durante a consulta; identificar e A atuação do enfermeiro neste setor é focada na prevenção treinar profissionais sensibilizados para convencer as mulheres primária, pois este é o ponto primordial para o controle da neo- que estão na sala de espera a realizarem o exame; incentivar plasia em questão. Sendo assim, a Secretaria Municipal de Saú- adoção de hábitos saudáveis como alimentações adequadas de (BELO HORIZONTE, 2008), define prevenção primária, como e exercícios físicos regulares. Além disso, deve contribuir para sendo o ato de se evitar o aparecimento da doença por meio da a educação da população a respeito do uso de preservativo e intervenção no meio ambiente e em seus fatores de risco, como identificá-lo como um dos principais instrumentos preventivo, já o estímulo ao sexo seguro, correção das deficiências profissio- que a infecção do HPV tem papel relevante no desenvolvimento nais, diminuição à exposição ao tabaco e incentivos a realização desta neoplasia, uma vez que o vírus está presente em 90% dos do exame preventivo. cânceres cervicais. Esse tipo de prevenção tornou-se mais eficaz a partir do Nesse contexto, percebe-se como a presença do profissio- Programa Saúde da Família (PSF), que tem como objetivo reo- nal enfermeiro inserido no PSF vem sendo resolutiva para a pre- rientar o modelo assistencial mediante a implantação de equi- venção e controle desta neoplasia e, quanto mais abrangente pes multiprofissionais em unidades básicas de saúde. Diante for o programa e mais atuante for o enfermeiro, melhor será o disso, incluiu em sua prática métodos de prevenção e promoção resultado dessas ações (LOUREIRO; CRUZ, 2008). à saúde baseados na atenção primária, gerando assim um ce- Neste sentido, torna-se imprescindível o adequado preparo nário favorável à reorganização do controle a esta doença (VALE da equipe de enfermagem para as demandas do cuidar des- et al. 2010; INCA, 2010; OLIVEIRA; SPIRI, 2006). ta clientela. O enfermeiro é um dos profissionais responsáveis Além disso, este programa visa estabelecer vínculos entre pelo processo educativo da comunidade, sendo de sua com- as equipes de referências e as famílias por meio das visitas do- petência divulgar informações a respeito dos fatores de riscos, miciliares, objetivando uma maior resolubilidade da atenção, um desenvolver ações de prevenção e detecção precoce, orientar maior acompanhamento da saúde das mulheres, além de per- modelos de comportamentos e hábitos saudáveis para a saúde mitir uma maior sensibilização e compreensão quanto à realiza- da mulher. Além disso, este também deve estar apto a detectar ção periódica da citologia oncótica preventiva. No contexto do situações de risco durante o acolhimento ou durante a consulta rastreamento, isso possibilitaria a identificação e busca ativa das ginecológica (BEGHINI et al., 2006; BELO HORIZONTE, 2008). pacientes sob risco e sem controles, sendo o enfermeiro um dos 3.4 AÇÕES DO ENFERMEIRO RELACIONADAS membros mais importantes na realização desta busca (VALE et AO CÂNCER CÉRVICO-UTERINO 216 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 Eduardo et al., (2007) afirma que durante a consulta o enfermeiro deve realizar uma completa anamnese, preparar o cliente qualidade de vida da mulher (PARADA et al., 2008; BEGHINI et al., 2006; BELO HORIZONTE, 2008). para o exame, realizar a técnica da coleta propriamente dita, ser capaz de perceber intercorrências, observar a necessidades de 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS se realizar encaminhamentos e ao final da consulta enfatizar a Pela caracterização das publicações analisadas percebe-se importância do retorno em tempo adequado. Durante a realiza- que o câncer do colo do útero é um problema de saúde pública ção do exame é necessário criar um vínculo com o paciente para e que mesmo existindo no Brasil um programa de rastreamento que a consulta se torne mais humanizada e para que a cliente se para realização do exame preventivo, este ainda não é totalmen- sinta mais a vontade. te eficaz. Dessa forma, destaca-se a permanente qualificação, Dessa maneira, deve ser capaz de desenvolver ações volta- responsabilidade e compromisso ético dos profissionais de en- das para os indivíduos assintomáticos, buscando assim prevenir fermagem, já que eles possuem um papel significativo dentro o câncer conforme prevenção primária, ou seja, controlando a das equipes de PSF. Somente o enfermeiro preparado pode ga- exposição aos fatores de risco e realizar o rastreamento adequa- rantir a prática e o compromisso desse programa, por meio da do para detecção das lesões precursoras em fase inicial como elaboração de planos específicos que superem as dificuldades citado anteriormente. Mas, a mais importante de todas as ações, existentes e criem novas estratégias para a captura do número é a realização do diagnóstico precoce, que engloba medidas de máximo de mulheres. identificação de indivíduos sintomáticos com câncer em estágio Destaca-se a importância da prevenção a esta neoplasia e inicial. Dessa forma, o conjunto dessas ações é denominado percebe-se que ela engloba todos os níveis de assistência, po- detecção precoce e resulta na positividade do tratamento (PA- rém é na assistência básica e especificamente no Programa de RADA et al., 2008). Saúde da Família que se executam as maiores ações de preven- Ainda de acordo com Parada et al., (2008), o enfermeiro ção ao câncer de colo do útero. Estas ações englobam deste o também tem um papel relevante no acompanhamento de indi- recrutamento das mulheres, passando pelas ações educativas, víduos sob tratamento. As ações de cuidados paliativos devem consultas de acordo com o protocolo até a realização do exame ser inseridas também na atenção primária e envolvem um apoio e seus devidos encaminhamentos em caso de complicações. multidimensional (físico, espiritual, psicológico, social e afetivo) Ao que se relaciona à prevenção do câncer cérvico-uterino, aos indivíduos portadores desta neoplasia e seus familiares. cabe aos enfermeiros mobilização, envolvimento e prática tan- Dessa maneira, cabe a este profissional dar o suporte adequa- to ao atendimento da clientela quanto na efetuação regular do do e encaminhar a paciente e seus familiares para o núcleo de exame preventivo conforme preconizado, lembrando-se sem- psicologia quando necessário. pre das ações educativas ao longo das consultas. Além disso, Dessa forma, resumem-se as principais funções dos en- o enfermeiro deve ser capaz de trabalhar em equipe e estar à fermeiros da atenção básica relacionados ao câncer de colo frente das discussões sobre as intervenções a serem realizadas. uterino: conhecimento das ações de controle desta neoplasia; Suas ideias devem ser expostas sempre em busca da melhora planejamento e programação de ações de controle com prio- da qualidade de vida da mulher e também da valorização e re- rização dos critérios de risco; vulnerabilidade e desigualdade; conhecimento de seu trabalho. tomar condutas éticas de acordo com os protocolos existentes Com essas ações o enfermeiro contribui de forma funda- no que diz respeito à promoção, prevenção, rastreamento, diag- mental para a melhoria dos indicadores de saúde e com o su- nóstico, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos; conhecer cesso do programa de prevenção a esta neoplasia. os hábitos de vida, valores culturais e religiosos da comunidade, para tornar o acolhimento mais humanizado; valorizar os dife- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS rentes saberes e práticas na perspectiva de uma abordagem in- BEGHINI, A. 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Programa Saúde da Família: a experiência de equipe multiprofissional. Rev. Saúde Pública, v. 40, n. 4, p. 727 – 733, 2006. PARADA, R. et al. A política nacional de atenção oncológica e o papel da atenção básica na prevenção e controle do câncer. Rev. APS, v.11, n. 2, p.199 - 206, abr./jun. 2008. ROCHA, P. M.; ARAUJO, M. B. S. Trabalho em equipe: um desafio para a consolidação da estratégia de saúde da família. Ciênc. Saúde Coletiva, v. 12, n. 2, p. 455 – 464, 2007. SILVA, S. E. D. et al. Representações sociais de mulheres amazônidas sobre o exame papanicolau: implicações para a saúde da mulher. Esc. Anna Nery. Rev. Enferm., v. 12, n. 4, p. 685 – 692, dez. 2008. SILVA, S. E. D. et al. Esse tal Nicolau: representações sociais de mulheres sobre o exame preventivo do câncer cérvico-uterino. Rev. Esc. Enferm. USP, v. 44, n. 3, p. 554 – 560, 2010. Disponível em: <www. ee.usp.br/reeusp/>. TROTTIER, H; FRANCO, E. L. 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