Modelo de Artigo

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Universidade do Vale do Itajaí
CEJURPS – Centro de Ciências Sociais e Jurídicas
Curso de Relações Internacionais
Política de Potência da República Federal da
Alemanha
Artigo de Conclusão do Curso de Graduação,
exigido como requisito final para obtenção do
Grau de Bacharel em Relações Internacionais
pela Universidade do Vale do Itajaí.
ACADÊMICA: ISABELLA CAMPOS
WELTER
Orientador: Prof. MSc. Paulo Jonas Grando
Balneário Camboriú (SC), maio de 2016
2
Resumo
Este artigo apresenta as principais ações que tornaram a Alemanha uma potência mundial.
Apoiado no conceito da Política de Potência, é demonstrado, desde a formação da Alemanha, as
diferentes maneiras utilizadas pelo país para adquirir poder. A partir de sua unificação, a
Alemanha buscou construir um caminho alternativo (Sonderweg) pautado em diferentes
ideologias com ações que permitiram o rápido crescimento econômico e político do país. Mas,
com a expansão alemã e a entrada da mesma no jogo de poder mundial, o equilíbrio sistêmico
estabelecido se desequilibra e a Alemanha é instada a entrar na I Guerra Mundial. Os eventos
posteriores a guerra como o Tratado de Paz imposto pelos vitoriosos e a crise de 29,
conduziram a um cenário de contestação da ordem internacional que, juntamente com a
radicalização de um discurso de potência, transformaram o Estado Alemão no agente causador
da II Guerra Mundial. No pós-guerra, em um ambiente de paz, foram expressados novos fatores
que levariam a Alemanha a se reerguer, mais uma vez, e vir a se tornar a quarta potência global.
O artigo conclui que, historicamente, as ações da Alemanha, principalmente do seu Estado, são
pautadas pela busca contínua da condição e de sua manutenção como potência internacional.
Palavras-chave: Alemanha, Política de Potência, desenvolvimento nacional, recuperação
econômica, (re)unificação, caminho alternativo.
Abstract
This article presents the main actions that made Germany become a great power. Supported
by the concept of Power Politics, is shown, since the formation of Germany, the different ways
used by the state to gain power. From its unification, Germany built an alternative path
(Sonderweg) guided by different ideologies and actions that allowed the fast economic and
political growth. But, with the German expansion and entry in the global power game, the
established system was unbalanced and Germany enter the I World War. Events after the war,
as the peace treaty imposed by the victors and the 29 crisis, led to a different scenario order
that along with the radicalization of a power discourse, turned Germany into the main
causative of World War II. In the post war period, in a peaceful environment, the factors that
would lead Germany to rise again and become the fourth global power, started to appear.
The article concludes that, historically, Germany's actions, particularly their state policies,
are guided by the pursuit and maintenance of power condition.
Key-words: Germany, Power Politics, national development, economic growth,
(re)unification, alternative path.
3
Política de Potência da República Federal da Alemanha
Isabella Campos Welter
Sumário: Introdução; 1. A Nação Alemã: política de potência, unificação e desenvolvimento;
2. O pós unificação alemã: alianças de Bismarck e a entrada da Alemanha em duas Guerras
Mundiais; 3. A retomada do status de potência política e econômica no plano internacional;
Considerações finais e Referências.
Introdução
Como um país que enfrentou tantos conflitos externos, no final do século XIX e
durante a primeira metade do século XX, pôde obter status de potência pouco depois de ser
derrotado em duas guerras mundiais? Unificada em 1871, já em 1914, na I Guerra Mundial, a
Alemanha enfrentou as grandes potências coloniais do passado como Inglaterra, França e
Rússia. E, mesmo posicionada no meio do continente e com certa carência em riquezas
naturais, enfrentou a II Guerra Mundial, da qual foi causadora e que destruiria não só sua
economia como também o próprio país. Esta Nação, dividida no pós-guerra entre República
Federal da Alemanha (RFA) - organizada sob “valores sócio-econômicos” ocidentais e
capitalistas, e a República Democrática Alemã (RDA) – estruturada sob premissas do
socialismo real da ex-União Soviética (URSS), se reunificaria após a queda do muro de
Berlim em 1989 sob o regime democrático e liberal.
Os principais fatores que fizeram com que a Alemanha, no período da unificação e no
pós II Guerra Mundial, recuperasse sua importância no cenário internacional, é o objetivo
deste trabalho. Nesta ação, o maior esforço foi direcionado para entender e explicitar os
processos que o país produziu para recuperar sua economia, visto que alterou o “equilíbrio de
poder1” europeu e mundial quando se unificou em 1871, na formulação da II Guerra Mundial
e também após o conflito. Esses aspectos justificam estudar a Alemanha para investigar como
o país enfrentou os desafios de se constituir e se manter como potência em um cenário
internacional bastante competitivo.
O artigo pretende concentrar-se nos fatos considerados decisivos, sabendo que
elementos importantes para a construção de uma potência foram deixados de fora da análise.
Para examinar as ações da Alemanha foi feito, primeiramente, a conceituação de política de
potência e, em seguida, um estudo da história do país. A necessidade da contextualização
1
Kenneth Waltz, teórico neorrealista, define poder como uma forma utilizada pelos Estados para manter sua
segurança e sobrevivência. Proveniente do conceito de poder, o equilíbrio ou balança de poder, acontece quando
um Estado se une a outro ou outros para viabilizar certos interesses nacionais, seja em termos defensivos ou até
ofensivos. Nesta perspectiva, quando um Estado demonstra ter capacidade e busca ser líder, os outros tendem a
segui-lo (WALTZ, 2002).
4
histórica é justificada por Moniz Bandeira o qual afirma que para entender a política externa e
as relações internacionais de um país, deve-se situá-lo em sua historicidade e observar as
condições essenciais de sua contínua mutação (BANDEIRA, 2004, p.32 apud GULLO,
2014).
Em um primeiro momento, o processo envolveu discutir à época pós Sacro Império
Romano Germânico. Ou seja, o processo da unificação política, as ações econômicas que a
Alemanha produziu para alavancar seu desenvolvimento e o período com Otto von Bismarck
no poder durante o II Reich. A partir disso, em um segundo momento são apresentadas as
características do novo Estado alemão que levaram a I Guerra, além das principais ações de
política de potência no período das guerras. Essas são abordadas de forma breve para expor
como o país se recuperou da devastação bélica em um curto período de tempo. Foram
incluídos, finalmente, os pontos essenciais da recuperação da Alemanha após a II Guerra.
Entre essas, merecem destaque os investimentos externos, a cooperação continental e a
questão da soberania perdida. Portanto, o trabalho expõe as ações mais significativas que o
Estado alemão produziu para atingir o status de potência logo após a unificação, e como
retomou posição de potência política e econômica após a derrota na II Guerra Mundial
relacionando as políticas estatais com o conceito de política de potência.
1. A Nação alemã: política de potência, unificação e desenvolvimento
“[...] até meados do século XIX o hoje orgulhoso povo
alemão era um povo sem consciência nacional. Que o
homem comum da Baviera, da Prússia ou de Hesse não
se sentia alemão [...]” (GULLO, 2014, p. 107).
Há menos de 150 anos a Alemanha era tida como uma região subdesenvolvida.
Exportadora de matérias-primas e importadora de produtos industriais, ela estava subordinada
à Inglaterra e dividida em 38 estados2 independentes e rivais. Sua estrutura política consistia
numa Confederação Germânica que surgira do desmembrado Sacro Império RomanoGermânico, transformando-a em uma região periférica na dinâmica das relações entre os
demais Estados europeus (GULLO, 2014). Em contrapartida, atualmente a Alemanha se
mantém como a quarta potência econômica do planeta (THE WORLD BANK, 2014), além de
ser um dos principais atores das relações internacionais.
Para compreender, selecionar os fatores importantes e explicar o processo de
desenvolvimento do prestígio alemão, este trabalho teve como base inicial a política de
2
Gullo (2014) aponta que seriam 38 estados, porém há uma dicotomia entre os autores que foram estudados em
artigos e outras obras quanto à quantidade de estados que formariam a Confederação Germânica. Além disso,
mesmo tendo soberania, “estado” aqui é com letra minúscula pois representam partes da Confederação.
5
potência. Este conceito é usado como principal fator de influência para explicar as atitudes
tomadas pela Alemanha durante o processo de sua formação e consolidação no cenário
internacional, de acordo com três vertentes principais. Na primeira delas, em Hans
Morgenthau (2003, p. 49) apreende-se que “[...] sejam quais forem os fins da política
internacional, o poder constitui sempre o objetivo imediato”. Assim, no contexto do sistema
interestatal pós Westfalia, independentemente de quais princípios e caminhos forem seguidos,
toda vez que estiver buscando um objetivo em âmbito internacional, o Estado estará atrás de
poder.
Esse autor apresenta 10 elementos para que um Estado adquira poder que possibilite a
formação da potência. Dentre eles o mais estável é a geografia, que envolve a extensão
territorial e a “eficácia” das fronteiras naturais. Recursos naturais são apresentados tais como
solos férteis, matérias-primas e petróleo, os quais permitem ou não a autossuficiência da
Nação. A capacidade industrial, produtiva e a tecnologia avançada se inserem na terceira
determinante, enquanto o grau de preparo militar, que engloba a tecnologia bélica, a liderança
militar e a quantidade e qualidade das forças armadas, constitui o quarto elemento do poder
nacional. A população, sua distribuição e tendências demográficas3, o caráter nacional e moral
de um povo, além da índole nacional, são também essenciais para a constituição do poder
nacional de um Estado. O padrão da cultura e a qualidade do intelecto da Nação, que pode vir
a influenciar a opinião pública no “fazer política”, é também um princípio para a formação de
uma potência. Ainda, a da diplomacia é importante, pois permite reunir os demais elementos
de poder na busca pelos interesses nacionais. Por último, a qualidade do governo seria o ponto
de equilíbrio entre os recursos materiais e humanos na formação do poder nacional e na
atuação da política externa de um Estado (MORGENTHAU, 2003).
A segunda vertente se origina das reflexões sobre a noção de política de potência em
Raymond Aron (2002, p. 99) que define o poder político “[...] no campo das relações
internacionais, como a capacidade que tem uma unidade política de impor sua vontade às
demais”. Ele estabelece fatores que conduzem a política externa dos países, observando que
as relações internacionais se caracterizam pela pluralidade dos sistemas políticos e
econômicos e dos objetivos das nações que compõem o plano mundial. Após analisar outros
autores que definem a noção de poder, Aron afirma que a lista de elementos deve cobrir a
diversidade dos fenômenos variantes de época para época. Nesta perspectiva, em sua obra
estabelece três pontos que considera fundamentais para o Estado demonstrar ter poder. Esses
3
No processo de avaliar a distribuição do poder, torna-se importante presumir as tendências populacionais. Se os
fatores permanecem os mesmos, um declínio na massa de trabalho de uma Nação significaria uma queda do
poder nacional e vice-versa (MORGENTHAU, 2003).
6
são: o espaço; os recursos materiais disponíveis, como a capacidade de produzir recursos
necessários para a população e o conhecimento em geral; e a capacidade de ação coletiva
(exército, disciplina, solidariedade dos cidadãos entre outros). Assim4, o autor afirma:
A potência de uma coletividade depende do cenário da sua ação e da sua
capacidade de empregar os recursos materiais e humanos de que dispõe. Meios,
recursos, ação coletiva: tais são, evidentemente - em qualquer época e quaisquer
que sejam as modalidades de competição entre as unidades políticas - os fatores
determinantes da potência (ARON, 2002, p. 107).
Da exposição de Aron se aprende que o poder é alcançado quando se consegue pôr a potência
em ato, determinada pela capacidade, pela vontade da população e pela atuação da elite
dirigente (Aron, 2002). Ainda, Aron ressalta que não basta apenas juntar os elementos para
produzir a capacidade de potência. Para agir como tal, é necessário ter a capacidade de
empregar os recursos materiais e humanos de que dispõe o Estado. No plano concreto, tal
assertiva pode ser aplicada a apenas alguns países do sistema internacional contemporâneo,
pois de acordo com Fiori (2009, p. 173), o “[...] núcleo de grandes potências [...] nunca teve
mais do que seis ou sete membros europeus, até o momento da entrada dos Estados Unidos da
América (EUA) e do Japão no “círculo governante” do mundo, no início do século XX”.
A terceira vertente toma como base um autor também realista que discorre sobre
política de potência: Martin Wight (2002). A definição mais satisfatória de grandes potências,
para ele, incorpora àqueles Estados que são capazes de manifestar interesses gerais tão amplos
quanto o próprio sistema. Sua força política exerce assim um efeito que se estende sobre o
maior campo de ação da sociedade internacional. Nessa perspectiva, um Estado pode ser
considerado grande potência se uma coalizão de outros Estados for necessária para levar a
cabo sua total destruição. Ou seja, potência é aquela que pode contemplar a guerra contra
qualquer combinação possível de outras hegemonias do sistema internacional. Assim, os
elementos que formam a potência para esse autor “[...] são o tamanho da população, posição
estratégica e extensão geográfica, recursos econômicos e produção industrial” (Ibid., p. 5).
Wight adiciona ainda elementos menos tangíveis como a eficiência administrativa e
financeira, o aprimoramento educacional e tecnológico, além da coesão moral da Nação.
Este artigo assume o conceito de política de potência desenvolvido por este grupo de
autores realistas ao perceber semelhanças entre a teoria e as ações históricas que foram feitas
pelo “futuro Estado Alemão”5 no período da unificação e reunificação do país. A Alemanha
4
Aron (2002) é contrário aos outros autores na questão militar. Esse, vê na guerra a possibilidade da incerteza e
a grande relevância da sorte, algo inexato e incapaz de ser visto como elemento da potência devido à variação
que tem de tempo em tempo.
5
A Confederação Germânica, anterior à unificação alemã de 1871, vai ser chamada neste artigo e em outras
fontes consultadas de Alemanha, pois representa a região em que agora o Estado Alemão está inserido, com
exceção de pequenas áreas que saíram de domínio alemão devido a conflitos internos e externos.
7
tendeu a assumir estratégias baseadas em uma política de potência, ou Machtpolitik6 no
alemão, a partir do momento que as elites do país passaram a ver a união política e territorial
como uma alternativa de inserção internacional e uma forma de se tornar potência no sistema.
Para analisar o desenvolvimento do prestígio alemão foi feita “[...] uma viagem rumo
às fontes das quais surgem os fenômenos que hoje vemos, para voltar ao presente trazendo
uma melhor bagagem de hipóteses [...]” (FERRÉ & METALLI, 2006, p.12 apud GULLO,
2014). Assim, a análise inicia-se no período anterior à unificação, que com o fim do Sacro
Império Romano-Germânico em 1806, criou-se a Confederação Germânica7 no Congresso de
Viena em 1815. O território que hoje constitui a Alemanha era governado por uma
Assembleia com representantes escolhidos por cada estado membro. Dentre esses, os reinos
germânicos de maior relevância, a Prússia e a Áustria, buscavam a hegemonia e a liderança
sobre os demais estados germânicos. Por um lado, a perspectiva de unificação prussiana
investia na fórmula de se criar uma Confederação de estados que pudesse desenvolver a
economia via um acelerado processo de industrialização. Por outro lado, a perspectiva
austríaca, contrária à prussiana, tentava reproduzir seu modelo de estado fortemente agrícola
(KITCHEN, 2013).
Para atingir a unificação em 1871, algumas ações foram essenciais. Entre elas, pode-se
destacar: a insubordinação ideológica8; a criação de um modelo de desenvolvimento
econômico único (GULLO, 2014); a ação do “Estado” prussiano na tentativa de unificar a
Confederação Germânica e excluir a Áustria por meio da união aduaneira e dos estímulos
estatais (KITCHEN, 2013); e a presença de Otto von Bismarck como líder do processo final
da união política, como um estímulo à atuação estatal da “via prussiana” que a Alemanha
tomaria.
Antes da unificação, com uma Alemanha enfraquecida e de certa forma desmembrada,
as influências exercidas sobre a “Nação em formação” eram muitas. No âmbito externo, após
a vitória da Grã-Bretanha sobre a França e o fim da dominação napoleônica em 1815, a
Alemanha, como uma forma de prêmio informal, passou a ser subordinada cultural e
6
Na tradução para o português, ficaria Política de Poder, que é o termo trabalhado nesse artigo. Significa a
condução das relações internacionais por meio do uso ou da ameaça da força, sem considerar o direito ou justiça
(WIGHT, 2002).
7
“A nova organização dos territórios alemães, a Confederação Germânica, correspondeu à transformação das
aproximadamente 234 unidades políticas do Império em 39 estados soberanos (e 04 cidades livres) ” (VIEIRA,
2006, p. 75). Com isso, decidiu-se solidificar a Alemanha, mas não unificar (KISSINGER, 1994).
8
“Todos os processos emancipatórios bem-sucedidos foram o resultado de uma adequada conjugação de uma
atitude de insubordinação ideológica contra o pensamento hegemônico e de um eficaz impulso estatal”
(GULLO, 2014 p. 19). Assim, a insubordinação ideológica seria uma forma de acabar com a subordinação não
só cultural, mas acadêmica, como é o caso da Alemanha com a questão do Livre Comércio implementado pelos
ingleses.
8
economicamente pelo sistema de livre comércio e do liberalismo econômico britânico9. Esse
domínio estava tão inserido na sociedade que não influenciava só as altas classes germânicas,
mas também as doutrinas universitárias que apoiavam os teóricos ingleses e defendiam um
comércio universal livre e sem restrições (GULLO, 2014; LIST, 1986). Como afirma List,
(1955 apud GULLO, 2014, p.114): “Todos os funcionários públicos, [...] todos os escritores
que tratavam de matérias econômicas, [...] viam em qualquer proteção alfandegária uma
abominação teórica”.
Devido à liberdade de entrada para produtos externos, as indústrias germânicas10 que
despontavam na época não conseguiam acumular capital e enfrentar a concorrência
estrangeira. O desenvolvimento industrial da Alemanha e o início da construção do poder
nacional, só seriam possíveis quando a Confederação se libertasse da dominação ideológicocultural inglesa. O processo de “insubordinação ideológica”, como é chamada por Marcelo
Gullo (2014), vê que para um país se desenvolver e crescer no ambiente internacional aberto e
competitivo, deve criar ideologias próprias de acordo com as particularidades nacionais.
Por meio de alguns intelectuais a favor da integração dos estados germânicos, surge
uma política anti-hegemônica e contrária aos princípios do liberalismo difundidos
principalmente por Inglaterra e França. Com tal política, via-se a possibilidade de a Alemanha
crescer apenas quando saísse da zona de domínio estrangeiro. Neste processo, as ideias do
economista alemão Friedrich List11 foram essenciais para o início da unificação econômica e
política da Alemanha, o que permitiu, posteriormente, que o país alcançasse a autonomia
almejada.
List (1986), ao acreditar que o crescimento industrial deveria ser apoiado pelo Estado,
passou a criticar o pensamento de Adam Smith e dos liberais dos países desenvolvidos. Ao
ver na teoria do Livre Comércio12 uma forma de impedir o crescimento de Estados
subdesenvolvidos, o autor passou a defender o protecionismo e o nacionalismo econômico em
uma Alemanha soberana. Com isso, a Confederação Germânica encontraria no auxílio do
9
Devido aos recursos naturais e à grande população, o mercado alemão foi muito importante para o
desenvolvimento da industrialização britânica (GULLO, 2014).
10
A indústria nacional alemã havia se desenvolvido devido ao bloqueio continental que Napoleão tinha
estabelecido. Antes, a Alemanha era uma região agrícola e pastoril, mas com as políticas alfandegárias de
Napoleão, as indústrias alemãs serviram como substituição das importações (GULLO, 2014).
11
Friedrich List considerava a Nação como uma unidade econômica central, para as análises e para a formulação
de políticas. Durante toda sua vida enfrentou o “cosmopolitismo” da escola prevalecente de Smith e do conceito
de Livre Comércio. List acreditava que o futuro da Alemanha estava na criação de uma união aduaneira que
eliminasse as tarifas internas e estabelecesse tarifas para o comércio com o resto do mundo. (LIST, 1986).
12
Sempre existiram controvérsias entre os que defendem o princípio do livre comércio e os favoráveis do
protecionismo. A defesa de ideias protecionistas para nações que iniciam o processo de industrialização é feita a
partir do alemão List. Por outro lado, o liberalismo é uma ideologia baseada em linhas individualistas com a
menor participação possível de instituições/organizações, para que a economia fique emancipada de qualquer
dogma externo à ela (HOLLANDA FILHO, 1998).
9
Estado uma forma de barrar a entrada de produtos internacionais para que a indústria nacional
pudesse progredir. A ação seria feita de acordo com o modelo prussiano de desenvolvimento13
que levaria a melhoras estruturais e de infraestrutura na região14, além de auxiliar no auto
respeito e aumento de poder nacional germânico como unidade (GULLO, 2014).
Para atingir a unificação econômica, List influenciou na formação de um dos
primeiros acordos de integração econômica que se tem notícia. Chamado de Zollverein15,
estabelecido em 1834 pela Prússia, foi inicialmente uma união aduaneira entre os Estados do
Norte16. Sua formação além de ter sido uma tentativa de diminuir a importância da Áustria
nos estados germânicos, representou um marco na formação de um futuro espaço econômico
unificado. Por meio do Zollverein, as trocas comerciais dentro da Confederação Germânica
foram impulsionadas, o que levou à diminuição na importação de produtos de outros países e,
consequentemente, possibilitou o avanço industrial (SILVA, 2012).
Ao compararmos à perspectiva de política de potência, para Aron (2002), uma Nação
sem poder industrial não consegue resistir às mudanças sistêmicas. Com isso, para se
industrializar, o Zollverein alemão estimulou a produção de artigos manufaturados via taxas
protecionistas de 20 a 60%, as quais garantiam a competição interna e a proteção contra a
“concorrência destrutiva” do exterior (LIST, 1986).17 Segundo GULLO (2014, p. 118), “O
Zollverein [...] permitia à Alemanha passar da fragmentação à unidade, de um estágio agrícola
ao estágio industrial, do subdesenvolvimento, ao desenvolvimento”. Simultaneamente ao
surgimento da união aduaneira, a Alemanha escolheu industrializar-se por um caminho
alternativo (Sonderweg) ao que fora difundido também pelos ideólogos ingleses da época. O
país escolheu seguir um modelo semelhante ao construído pelas grandes potências como EUA
e Grã-Bretanha e não o que eles diziam que deveria ser feito.
O projeto industrial alemão começou a ser traçado na década de 1840 a partir da
Prússia. O principal objetivo era diminuir o atraso em comparação às outras potências
13
Países que tiveram um desenvolvimento e unificação política tardias como foi o caso da Alemanha em 1871 e
da Itália na mesma época. A “via Prussiana de desenvolvimento” foi caracterizada pela forte presença do Estado
na economia, para acelerar o crescimento econômico e tecnológico e alcançar um nível de desenvolvimento
semelhante ao de países mais avançados do sistema internacional. (LACERDA, 2010).
14
Para integrar os estados da Confederação germânica e produtos nacionais, seria necessário a criação de um
sistema ferroviário moderno de ligação (GULLO, 2014).
15
Política de aliança com os Junkers (aristocratas e grandes proprietários de terras) que ficou conhecido como
Zollverein. União alfandegária formada em 1828 com o acordo entre Prússia e o estado de Hesse-Darmstadt. Por
meio de acordos, tais regiões seriam tratadas como território prussiano para fins fiscais e em troca, receberiam
uma parcela da arrecadação proporcional a sua população. (SILVA, 2012).
16
Prússia, Baviera, Wutenverg e os dois Hesses. Poucos anos depois, se integraram a Saxônia, os Estados de
Turíngia, Nassau, o Grande Ducado de Baden e a cidade de Frankfurt (GULLO, 2014).
17
List nesta passagem vai contra a escola popular, que afirmavam que “as taxas protecionistas aumentavam o
preço do produto nacional na mesma proporção que a porcentagem da respectiva taxa alfandegária” (LIST, 1986,
p. 262).
10
europeias. E, com a política fiscal unificada e a coordenação das políticas monetárias
favoráveis às trocas e à acumulação de capital, as dificuldades de desenvolvimento foram
rapidamente superadas (OSÓRIO, 2011). Este processo foi sintetizado por Versetti (2010):
[...] industrialização e o crescimento econômico se tornou[aram] a força motriz
da máquina alemã e, naturalmente, provocou[aram] o orgulho nacional alemão e
a unidade do país. Unidade nacional, força militar e manipulação política foram
cruciais para a criação do Império Alemão, mas as ligações culturais e
linguísticas foram a base da Unificação Alemã e a economia, o seu quadro de
referência18.
Contudo, o processo de integração e de industrialização passou por momentos
distintos. A influência ideológica britânica continuava presente em algumas camadas da
sociedade alemã19, e tornava a ação do Estado importante. Dessa forma, a Prússia buscou criar
um “novo modelo econômico” por meio de políticas de incentivo. Dentre as atividades de
apoio ao avanço econômico podem ser observadas o suporte ao comércio interno e à expansão
industrial. Nessas, destacava-se a Campanha de Comércio Ultramarino (Seehandlung) que
funcionava como uma espécie de banco de investimentos oficiais sob controle do Estado
(OLIVEIRA, 2002).
O Seehandlung auxiliou na formação de empresas por meio de aplicações em áreas
estratégicas, que possibilitou o crescimento industrial, além de, por meio de associações,
forneceu créditos para investimentos nas empresas privadas. Ainda por meio da Campanha, as
indústrias nacionais tiveram acesso a um financiamento de longo prazo e juros baixos
(OLIVEIRA, 2002). A ação do “novo modelo” foi completada pelo impulso estatal na
construção das estradas de ferro que conectariam as confederações e facilitariam as trocas
comerciais20. Assim, no processo da unificação alemã, a região já possuía um sistema
ferroviário moderno com ligações de norte a sul, de leste a oeste (VIEIRA, 2006).
Na década de 1850, a Confederação Germânica experimentou um crescimento
econômico rápido, com aumento da produção têxtil, de ferro e de carvão. O Estado prussiano,
além de incentivos econômicos às indústrias nacionais, impulsionou a área educacional com a
formação de técnicos e especialistas que a indústria nacional mais necessitava (GULLO,
2014). Com o avanço econômico e o apoio estatal, a burguesia industrial passou a aprovar a
unificação nacional e, devido à centralidade do país no continente, o comércio que já existia
foi intensificado com a unificação (TREIN, 2007).
18
No original: [...] industrialization and economic growth became the driving force of German machine and
naturally brought about German national pride and unity. National unity, military might and political
manipulation were crucial in the creation of the German Empire, but cultural links and language were the
foundation of German Unification, and economics – its framework (VERSETTI, Angel. [et al] 2010, p. 1).
19
Principalmente na burocracia prussiana, burguesia comercial e setores do pensamento universitário (GULLO,
2014).
20
A construção de estradas de ferro teve seu maior desenvolvimento entre 1839 e 1846, anterior ao período de
unificação (VIEIRA, 2006).
11
A Confederação, com um crescimento econômico rápido e condições próprias,
culminaria como um dos vértices fundadores da II Revolução Industrial. A qualidade e o
alcance de mecanismos junto com um sistema educacional estruturado, deu vantagens à
Alemanha sobre os outros países, pois essa conseguiu absorver rapidamente os fluxos
tecnológicos difundidos pelas economias líderes (OLIVEIRA, 2000).
No modelo germânico de industrialização, o setor de bens de capital cresceu mais que
o de bens de consumo. Isso ocorreu pois, de início, os investimentos do governo prussiano,
para acompanhar os países já industrializados, foram maiores nas indústrias pesadas como de
aço, química e maquinários, além dos setores de ferrovias e mineração, com parques
industriais maiores e mais modernos. A participação de bancos21 de desenvolvimento foi
também essencial para o crescimento do país e, juntamente com o empresariado privado
nacional e o Estado, formaram os três agentes econômicos desse processo (ROLIM, 2014).
As ações internas tomadas pelo país a surgir dependiam também de sua inserção
internacional. Para isso, a nomeação receosa22 de Otto von Bismarck pelo rei Guilherme I, em
1862 como ministro da Prússia, foi essencial para mudar a política externa da Alemanha.
Bismarck teve início na carreira política em um mundo com três elementos principais: o
balanço de poder europeu, um equilíbrio entre Prússia e Áustria dentro dos estados alemães, e
um sistema de alianças baseado em valores conservadores (KISSINGER, 1994). Assim, o
“Chanceler de ferro”, como era conhecido, estava convencido de que a Prússia havia se
tornado o estado de maior importância entre os germânicos e que a Realpolitik23 poderia levar
à unificação da Confederação Germânica.
A formação do Estado-nação estaria cada vez mais próxima. Mas, em uma
Confederação na qual a nobreza rural era mais poderosa do que as próprias cidades, a
revolução só poderia acontecer de cima para baixo, imposta pelo Estado (KROCKOW, 2002).
O território germânico conseguiu se unificar após três guerras sucessivas nas quais foi
vitorioso. A primeira delas, contra a Dinamarca em 1864, foi uma guerra comercial e
econômica24. Um ano depois, ocorreu a guerra contra a Áustria que durou três semanas e
produziu o fim da Confederação Germânica e a criação da Confederação da Alemanha do
Norte, com a exclusão da Áustria e a anexação de alguns estados. Além disso, foi feito um
“Estes bancos combinavam funções de fornecer créditos de curto prazo, como um banco comercial normal,
como as de fornecer créditos de longo prazo para a indústria. Estas instituições chegaram a exercer grande
influência sobre as empresas industriais” (ROLIM, 2014).
22
Guilherme I alimentava receios com relação à Bismarck devido à sua extravagancia e independência. Porém,
com a crise de 1862, ele não via outra alternativa (KITCHEN, 2013, p. 142).
23
“Os elementos da Realpolitik são: o interesse do governante e do estado, proporciona a gênese da ação; as
necessidades da política resultam da competição desregulada dos estados; o cálculo baseado nessas necessidades
pode identificar as políticas que melhor servirão os interesses de um estado; o sucesso é o teste último da política
e o sucesso é definido como preservador e fortalecedor do estado. A Realpolitik indica os métodos pelos quais a
política externa é conduzida e fornece um fundamento lógico para eles” (WALTZ, 2002, p. 163).
24
Tal guerra resultou no controle da Prússia sobre Schleswig e porto de Kiel, a anexação de Lauenburg e a
entrada de Schleswig e Holstein no Zollverein (VIEIRA, 2006).
21
12
acordo militar com os Estados do Sul25. Com a guerra Franco-Prussiana, a última na formação
do Estado alemão, a Prússia consegue suprimir a resistência dos Estados do Sul e com a
derrota francesa, o Império alemão foi proclamado (VIEIRA, 2006).
Com a unidade alemã alcançada por Bismarck, a subordinação à Inglaterra também
pôde ser superada. As vitórias no campo militar contribuíram para reafirmar a possibilidade
de ações unilaterais da Prússia (KISSINGER, 1994). Nesse processo, o Chanceler Bismarck
fez alianças com a burguesia industrial e com grandes proprietários de terra internamente e,
externamente, apostou no confronto militar (KITCHEN, 2013). Durante as guerras de
unificação, o estadista conseguiu que terceiros Estados, como Inglaterra e França, ficassem
fora do conflito de “cunho interno”. Dessa forma, suas ações na política prussiana são
reconhecidas por diversos autores, como Gullo (2014, p.123), que afirma o seguinte:
O Gênio político Otto von Bismarck selou a unificação e fez da Alemanha uma
potência industrial a partir de uma política econômica que, seguindo o
pensamento de List, se defendia da concorrência inglesa através da proteção
alfandegária, ao mesmo tempo em que, utilizando o Estado como promotor,
subsidiava a produção industrial e as exportações.
Com a unificação, a Alemanha mudaria sua forma de governo em busca de maximizar o
poder do Estado recém-criado. Logo, a formação do II Reich modificou não só a estrutura
interna como também a balança de poder europeia. Nesta, Alemanha passou a ser uma união
aduaneira e política com caráter autoritário que viria a se tornar uma potência incontestável
(WEBER, 2013) com força econômica, industrial, territorial e política.
O Império foi formalmente criado em 1871 com a conclusão de diversos tratados
posteriores às conquistas e a proclamação de Guilherme I Imperador (kaiser). Na estrutura
constitucional nacional emergiu um parlamento eleito por sufrágio universal masculino, no
qual cada estado possuía sua própria constituição e administração, sob domínio do Estado
militar prussiano (KITCHEN, 2013). Esse novo Império durou apenas 47 anos.
O rápido crescimento do poder alemão era notável e teve que ser enfrentado pelos
Estados concorrentes, criando a Questão Alemã26. A Alemanha conseguiu reunir em um prazo
muito curto os elementos de Potência, tais como território, recursos e ação coletiva. Assim,
tornou-se uma potência capaz de pressionar seus vizinhos, perspectiva discutida a seguir.
25
Os Estados do Sul, que eram opostos à Prússia na antiga Confederação, estabeleceram uma aliança militar com
esta ao temerem o expansionismo de Napoleão III (VIEIRA, 2006).
26
Logo após a unificação alemã em 1871, surge a Questão alemã. Nesta, a Alemanha conseguiu unir quase todos
os alemães étnicos em um “Estado Nacional”, passou a inovar no setor industrial e crescer econômica e
politicamente. Os países vizinhos viam tal questão com preocupação, por implicar em possíveis revisões
territoriais. Esta questão, mesmo um século depois e a participação em duas guerras, ainda perdurava, pois não
se sabia com certeza qual deveria ser a posição alemã, de um Estado forte e expansionista ou se os alemães se
contentariam apenas em ser um país dinâmico e industrial (OLIVEIRA, 2000).
13
2. O pós unificação alemã: alianças de Bismarck e a entrada da Alemanha em
duas Guerras Mundiais
“Durante todo o Processo da unificação alemã,
houve um pouco de preocupação com seu impacto no
equilíbrio de poder. Durante 200 anos, a Alemanha
tinha sido vítima, e não o instigador das guerras da
Europa. [...] Por conseguinte, era quase inevitável que
uma Alemanha unificada teria como objectivo evitar a
repetição dessas tragédias " (KISSINGER, 1994, p.
169)27.
A unificação e a expansão econômica fizeram com que Alemanha fosse vista como
potência no continente europeu. O centro da Europa, sempre dominado pelas antigas
hegemonias, passou a ter força para pressionar os vizinhos, garantindo a não intervenção de
outros Estados em seu território (KISSINGER, 1994). Com o avanço econômico, o
crescimento populacional também foi um fator importante para o progresso alemão. De 1870
a 1914, a população aumentou de quarenta milhões de habitantes para sessenta e oito milhões,
o que possibilitou ampliar a mão-de-obra (LIST, 1986).
De uma Nação agrícola e pastoril, a Alemanha se transformou em uma máquina
industrial com população crescente e economia pujante. Foi nesse período que o mecanismo
de transportes baseado no vasto sistema ferroviário entre os estados, iniciado em momento
anterior à unificação, permitiu aumentar o comércio internacional no continente europeu.
Além disso, com o crescimento da produção de carvão por parte da Alemanha e do
desenvolvimento de um mercado próspero para produtos de nações vizinhas, o sistema
econômico da Europa passou a depender, de certa forma, da prosperidade desse país
(KEYNES, 2002). Por exemplo: “A Alemanha era o melhor cliente da Rússia, Noruega,
Holanda, Bélgica, Suíça, Itália e Áustria-Hungria; o segundo melhor cliente da Grã-Bretanha,
Suécia e Dinamarca; e o terceiro melhor cliente da França” (Ibid., p. 10). Nesse sentido,
grande parte dos Estados europeus passaram a exportar para o mercado alemão e importar
aço, máquinas e outros bens manufaturados (Ibid.).
Em questões diplomáticas, ao perceber que o rápido desenvolvimento alemão poderia
causar incomodo às potências mundiais, Bismarck buscou evitar coalizões contra o poderio
que o país havia alcançado. Durante os 20 anos em que conduziu a Política Externa da
Alemanha, o Chanceler utilizou a Realpolitik como um instrumento para desenvolver e
manter a segurança no novo Império, pois sabia que era preciso limitar as ambições do Reich.
No original: “Through the process of German unification, there had been little concern about its impact in the
balance of power. For 200 years, Germany had been the victim, not the instigator of the wars of Europe. [...] It
was therefore nearly inevitable that a United Germany would aim to prevent the recurrence of these tragedies”
(KISSINGER, 1994, p. 169).
27
14
Bismarck tinha como meta não dar motivos para qualquer aliança contra a Alemanha e, para
isto, utilizou a barganha e a afirmação de que a balança de poder seria mantida no sistema
internacional existente. Seu projeto para proteger a Nação observava que dentre as potências
da época, Alemanha, França, Inglaterra, Rússia e Áustria, o lado com três aliados sempre
estaria em vantagem. Por isso, viu na possibilidade de uma aliança com as rivais Rússia e
Áustria28, uma forma de evitar coalizões contra a Alemanha (KISSINGER, 1994).
Com esses países, Bismarck criou a Liga dos Três Impérios em 1873, proclamando a
unidade das três cortes conservadoras: Alemanha, Rússia e Áustria-Hungria (KISSINGER,
1994). Tal acordo baseava-se em um protocolo desatado e com pouca associação entre os
membros. Seria assim, uma forma de evitar que um desses se alinhasse com a França em um
possível ataque contra o Reich (WEBER, 2013). Porém, a rivalidade geopolítica e as
diferenças de Rússia e Áustria impossibilitaram a continuidade da unidade entre os monarcas
conservadores. Além disso, com a entrada de Guilherme II ao trono alemão e a demissão de
Bismarck em 1890, o Tratado de Ressegurança29 previamente criado com a Rússia não foi
renovado. O novo Chanceler via na não continuação do tratado uma forma de reafirmar
aliança com a Áustria e uma alternativa para buscar parceria com Grã-Bretanha
(KISSINGER, 1994). As ações de política externa alemã então, sofreram notável mudança de
rumo.
O Império arquitetado por Bismarck desde a unificação havia se tornado o mais
poderoso no continente. Mesmo assim, os líderes germânicos posteriores a ele, ainda se
sentiam ameaçados. Em questões de segurança, mesmo o país já tendo se tornado a maior
potência do continente, a memória de ter servido como campo de batalha na Europa por tanto
tempo, criou um senso de insegurança na população e no governo alemão (Ibid.). Como
evidência disso, tem-se a obsessão com o preparo militar composto por uma retórica bélica,
no qual o exército alemão, devido a sua posição geográfica, pensava em termos de uma
batalha com todos os vizinhos simultaneamente como um pior cenário possível (worst-case
scenario). Isso fez com que o ideal de segurança se transformasse em um “agente” da própria
insegurança.
A possibilidade de a força ser usada por alguns Estados para enfraquecer ou destruir
outros, dificulta que os mesmos escapem do sistema competitivo em que estão inseridos
(WALTZ, 2002). No contexto europeu da época, os países ao redor da Alemanha passaram a
28
França era hostil e Inglaterra vivia um momento de isolamento (KISSINGER, 1994).
Em inglês: Reinsurance Treaty. Tratado assinado com a Rússia em 1887 no qual ambos prometiam
neutralidade em caso de guerra com um terceiro país, com duas exceções: se a Alemanha atacasse a França ou se
a Rússia atacasse a Áustria (KISSINGER, 1994).
29
15
buscar proteção mútua com base na teoria da balança de poder em um sistema de autoajuda30.
Contudo, nesta perspectiva, é possível observar que: “Os líderes alemães depois de Bismarck
combinaram truculências com indecisão e lançaram o país primeiro em isolamento e depois,
guerra” (KISSINGER, 1994, p. 170). Dessa forma, com base na exposição de Waltz (op. cit.),
quando um ator aumenta seu poder para atingir a hegemonia, os demais buscam fazer o
mesmo e na mesma proporção. Isso desequilibra o sistema e, no caso da Alemanha pós
Bismarck, ao se armarem para buscar segurança ou para evitar nova divisão do território, o
Estado impossibilita a convivência pacífica e cria ainda mais insegurança no sistema31.
Dessa forma, mesmo com os avanços decorrentes da participação comercial da
Alemanha no continente, inicia-se uma política de alianças e rivalidades entre os países
europeus que se preparavam para a guerra. Um dos principais pontos a ser observado era a
rivalidade entre Alemanha e França. Após a unificação, a Alemanha questionaria o domínio
francês na Europa Continental aguçando suas diferenças (WIGHT, 2002). Ao saber que não
possuía mais a força necessária para conter a Alemanha sozinha, a França, com sentimento de
revanche para retomar a região de Alsácia-Lorena32 perdida na guerra da unificação, torna-se
uma aliada potencial para qualquer inimigo da Alemanha (KISSINGER, 1994). Assim, o
Concerto da Europa33 passou a ser dividido entre a inimizade desses países, e as desavenças
entre os Impérios Austro-Húngaro e Russo34.
Além da questão francesa, outros fatores levaram à Guerra. Ao se unificar tardiamente,
a Alemanha, segundo Hobsbawm (2006, p. 102): “[...] ficou profundamente ofendida por uma
Nação tão poderosa e dinâmica como ela possuir uma parte tão notavelmente menor de
território colonial que os britânicos e franceses, [...]”. Ademais, a Alemanha havia se tornado
“[...]É um sistema no qual aqueles que não se ajudam a si mesmos, ou os que o fazem menos eficazmente do
que os outros, não conseguirão prosperar, expor-se-ão ao perigo, sofrerão” (WALTZ, 2002, p. 165).
31
Para Waltz, a insegurança e o surgimento da balança de poder é algo que ocorre sem a intenção do Estado, de
forma não intencional (Ibid.).
32
“Ao final da Guerra Franco-Prussiana em 1871, o recém-formado Império Alemão anexou quase toda a Alsácia
e a porção nordeste da Lorena[...] O ressentimento francês pela tomada alemã dos territórios governados pela
França desde o século XVI foi uma das causas que contribuiu para a Primeira Guerra Mundial” (LIBRARY OF
CONGRESS, 2015).
33
O Concerto da Europa surge com o Congresso de Viena em setembro de 1814, o qual reuniu potências
europeias com a intenção de reestabelecer a paz e ordem internacional, além de reorganizar o continente europeu
após o período das Guerras Napoleônicas (KISSINGER, 2014). Assim, Concerto europeu é usado como uma
“ordem” estabelecida e uma paz que havia sido mantida por um século.
34
O Império Austro-Húngaro e o Império Russo disputaram a hegemonia na região dos Bálcãs até que fizeram
um acordo no qual a Áustria anexou a região da Bósnia-Herzegovina e a Rússia teria o apoio da Áustria para a
saída ao Mediterrâneo. Antes do início da I Guerra, Sérvia ameaçou invadir a Bósnia para libertar os eslavos do
domínio austro-húngaro. Além disso, a crise do Império Otomano incitou a disputa territorial entre as potências
pela região (HISTORIANDO, 2011).
30
16
um concorrente para o mercado industrial inglês35, com chances de não só atingir a
hegemonia no continente, como também nos mares (WIGHT, 2002). A Grã-Bretanha então,
passou a se sentir ameaçada quando a Alemanha planejou a construção da ferrovia BerlimBagdá, que facilitaria o acesso do país a uma região rica em petróleo e colocaria o Império
Turco-Otomano em sua área de influência (BERTONHA, 2012).
As ações de política externa alemã possibilitaram um sistema diferente do imaginado.
Antes, França e Grã-Bretanha tinham problemas com a questão do Egito; Grã-Bretanha e
Rússia tinham sido inimigas por quase todo o século XIX. Por isso, não se via a possibilidade
de esses três países formarem qualquer tipo de acordo. Mas, 10 anos depois, França, GrãBretanha e Rússia queriam conter o poder alemão e, por isso, criam a Tríplice Entende que
marcaria a I Guerra Mundial (KISSINGER, 1994).
Esse conflito envolveu todas as grandes potências e quase todos os Estados europeus.
Foi, em sua essência, uma guerra entre a Tríplice Aliança contra as “Potências Centrais”:
Alemanha, Áustria-Hungria e Império Turco-Otomano. O plano alemão inicial de guerra era
liquidar rapidamente com a França e em seguida com a Rússia, porém a capacidade alemã
ficou enfraquecida ao abrir guerra em duas frentes. Com a entrada dos EUA no conflito,
novas tropas e equipamentos militares foram adicionados ao bloqueio dos portos alemães,
alterando o equilíbrio da guerra e dando mais força à Tríplice Aliança (HOBSBAWN, 2006).
A Guerra teve seu fim em 1918 quando a paz foi negociada em Versalhes36 na qual os
Aliados tinham a “esperança” de que a Alemanha pagasse pela guerra (WIGHT, 2002). A
Alemanha como Nação derrotada foi forçada a assinar o tratado no qual assumia a culpa pela
guerra, cedia territórios, reduzia seu poder bélico e pagaria pesadas indenizações para
enfraquecer seu “anseio expansionista”. O país estaria então enfraquecido no âmbito militar,
territorial e econômico (NOGUEIRA, 2010), com produção industrial em queda, crises
econômicas e sociais, alto índice de desemprego e inflação elevada. Dessa forma, com apoio
popular, mudanças políticas no país transformaram a monarquia de Guilherme II na República
de Weimar37 (SBROCCO, 2011).
35
Ao adquirir a região de Alsácia e Lorena, a Alemanha se tornou um país rico em ferro, carvão e manganês
(KITCHEN, 2013).
36
A I Guerra Mundial terminou com a derrota da Alemanha e a tentativa de reorganizar as relações
internacionais. Tentou-se enquadrar os países as formas legais por meio de tratados de paz conhecidos como
Acordo de Versalhes dentro dos quais o Tratado de Versalhes com a Alemanha foi o mais importante. Este
marca o retrocesso das liberdades nacionais, foi um expressão direta dos desejos dos povos, mas foi rapidamente
criticado visto que o desejo de justiça foi longe demais e tornou-se subversivo (WIGHT, 2002)
37
A República de Weimar (Deutches Reich) é o Estado alemão que surge no final da I Guerra Mundial, e que
dura toda a década de 1920, tendo seu fim a instalação da Alemanha Nazista. Devido a erros políticos e crises
financeiras e com o apoio de capitalistas industriais, que se opunham aos comunistas, os nazistas se aproveitaram
da crise política no Reichstag e fizeram de Hitler o Chanceler da Alemanha (FERRAZ, 2009).
17
A República acarretou em um Estado federal mais centralizado que o Império, no qual
os estados perderam as individualidades e o poder unilateral que possuíam. A Prússia não era
mais um poder hegemônico e foram propostas eleições de um presidente por sufrágio
universal para que este pudesse contrapesar o poder do parlamento. Porém, o país afundou em
dívidas de reparação com os Aliados e a inflação explodiu (NOGUEIRA, 2010). Naquele
cenário, o pós-guerra da primeira República alemã pode ser dividida em 3 fases: a primeira
(1918-23) foi marcada pela desordem econômica e inflação elevada; a segunda (1923-29)
representa uma época em que a economia alemã parecia ter se reorganizado e estava
estabilizada; e na terceira (1929-32) explodiu a crise industrial, agrícola e bancária (FERRAZ,
2009).
Com a manutenção da coerência na política externa, a Alemanha buscou recuperar-se
via inserção no mercado internacional. Sua política quis diminuir as dívidas com o ocidente
devido à crise vivida internamente na primeira fase da República e, sem observar alternativas
com o lado ocidental, a Alemanha celebra o Tratado de Repallo38 com a URSS em 1922. Com
esse tratado, Estados Unidos percebem a necessidade de reintegrar a Alemanha ao sistema
internacional para evitar o desequilíbrio que uma aproximação com a URSS causaria. EUA e
Grã-Bretanha criaram o Plano Dawes39 e Young40 para auxiliar o pagamento das dívidas de
guerra alemãs, que deu início a segunda fase da República de Weimar. Tal iniciativa tinha
como principal objetivo fortalecer a economia de mercado alemã pela entrada de capital e
criação de planos econômicos. (MATOZO, 2015; LERNER, 2009).
Porém, com a queda da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e a crise mundial que se
instaurou a partir de então, os empréstimos feitos à Alemanha foram reduzidos. Sem recursos,
o país não conseguia pagar as indenizações de guerra, além de não encontrar mais mercado
para seus produtos, iniciando a terceira fase da República de Weimar. Com a instabilidade,
surgem agitações internas que estimulam a ascensão de líderes políticos considerados
radicais, visto que quando o país está em um momento de divisão de classes insuperáveis, o
moral nacional41 encontra-se em estado precário (MORGENTHAU, 2003). O extremismo
político aflora com o aumento de votos e assentos destes no Parlamento (LERNER, 2009).
38
Foi uma forma de aproximação econômica e política entre os países. Ambos se comprometeram em renunciar
as dívidas mútuas, e iniciar relações diplomáticas para maior aproximação (HAGEDORN, 2014).
39
O Plano Dawes de 1924, tinha como pontos principais: reforma monetária para estabilizar o marco alemão; a
criação de novos impostos; revisão dos valores de reparação; empréstimos feitos pelos Estados Unidos; o retiro
de tropas francesas em território alemão e a reestruturação do Reichbank (COUTO; HACKL, 2007).
40
“O Plano Young reduziu as reparações em média a 1,5 bilhões de marcos-ouro por ano. Também, os
controladores estrangeiros saíram da Alemanha, os bens sob administração externa foram liberados e ficou
aprovada a criação de um banco de compensações de pagamentos” (COUTO; HACKL, 2007, p. 328).
41
O moral nacional é um ponto dentro do elemento: Índole Nacional discutido na obra de Morgethau (2003).
18
Segundo Lerner (op. cit., p. 16) “Os nazistas passaram a prometer o fim do desemprego, a
supressão da usura, contenção de preços no comércio, luta contra o socialismo e contra o
grande capital. E, para todo o povo alemão, prometiam a destruição das imposições de
Versalhes”.
Hitler é então nomeado Chanceler em 1933 e acumula o poder de presidente em 1934.
Desde o início, almejava uma guerra que assegurasse o domínio alemão sobre a Europa.
Internamente, o líder do partido nazista tinha como objetivo inicial, antes das ações externas,
a destruição do Estado e o estabelecimento de uma ditadura. Para isso, possuía o apoio de
parte da população e, caso contrário, a SA42 tinha força suficiente para recorrer à violência
quando via necessário. O Führer prometeu um governo autoritário e rígido para livrar a
Nação do “problema” da democracia. Contrário ao Tratado de Versalhes, rearmou e preparou
militarmente o Estado para uma guerra que supriria as desigualdades e “germanizar[ia]” o
leste em busca do “espaço vital” (Lebensraum) (KITCHEN, 2013; ARON, 2002).
Hitler tinha como propósito alcançar um maior status de potência para a Alemanha.
Assim, planejou adquirir regiões ricas em recursos naturais43 para alcançar poderio
transcontinental e, com a aquisição de espaço, fazer com que a população crescesse. A busca
por conquistas territoriais pode, segundo Aron (2002), ter sido baseada nas preposições de
Mackinder que afirmam que “Quem domina a Europa oriental domina a “terra central”; quem
domina a “terra central” domina a “ilha mundo”; quem domina a “ilha mundo” domina o
mundo” (ARON, 2002, p. 266). Para Hitler, ou a Alemanha se tornaria uma potência mundial,
ou ela deixaria de existir (HITLER, 1934 apud WIGHT, 2002). E, com essa ânsia de poder
manifestado por Hitler iniciou a II Guerra Mundial que viria a “destruir” a Alemanha.
A II Guerra Mundial inicia em 1939 com a Alemanha vitoriosa em diversas batalhas e
ocupando praticamente toda a Europa. As ações alemãs eram pautadas em uma série de
campanhas e apostas de Hitler: “[...]: vencer a Polônia antes que a França pudesse intervir;
França, antes que a Grã-Bretanha se mobilizasse e a União Soviética entrasse na guerra; a
União Soviética, antes que a Grã-Bretanha pudesse desembarcar no continente europeu”
(ARON, 2002, p.122). Porém, a última aposta não se concretizou. A Grã-Bretanha não foi
paralisada e a URSS resistiu em Moscou. Em dezembro de 1941, a entrada dos EUA na
42
SA é a abreviação de Sturmabteilungen, que foram as tropas de choque nazistas ou como eram chamados,
“policiais auxiliares”. Tiveram papel importante no movimento nazista e promovia uma força privada paramilitar
para proteger os líderes do partido de ataques de partidos rivais. Mas, na realidade, era usado para lutar com
oponentes políticos nas ruas. (GLOBAL SECURITY).
43
Com a aquisição dessas regiões, Hitler queria tornar a Alemanha, um país com a mesma quantidade de
recursos que os Estados Unidos possuíam (WIGHT, 2002).
19
guerra, o início do bombardeio em cidades alemãs por parte da Grã-Bretanha e a abertura da
guerra em duas frentes, mudaram os rumos do conflito (ROMER, 1979; ARON, 2002).
Com a rendição do Terceiro Reich e dos aliados, o conflito termina em 1945. A
devastação alemã era total, cidades em ruinas, governo fraco e população devastada
(COGGIOLA, 1995). Logo após a guerra, a Alemanha estava não só impedida de exercer seus
direitos militares e de soberania política, mas também fora dividida entre quatro zonas de
ocupação: soviética, norte-americana, francesa e inglesa (KITCHEN, 2013). O sistema
internacional vigente, o qual tinha a Europa central como principal palco das relações
internacionais, havia se tornado um vácuo de poder, dividida entre a aliança anglo-americana
e os soviéticos (ALBUQUERQUE, 2005).
A Guerra eliminou as grandes potências que estavam localizadas na Europa e deixou
no sistema apenas potências mundiais (WIGHT, 2002). A Alemanha, como principal
derrotada na Guerra, acabou com os elementos de poder que vinham traçando os rumos de sua
política desde a unificação do país. No fim da guerra, o Estado havia perdido território/
espaço; sua população estava fortemente afetada e diminuída; sua capacidade industrial havia
sido minimizada pelos Aliados; a força militar estava enfraquecida e talhada; e o governo
dissolvido. Assim, tornava-se necessária a busca por novos caminhos para atingir o
desenvolvimento.
No que tange a infraestrutura, com o final da guerra à Alemanha não começou do zero.
Houve elementos de continuidade em direção a um futuro fora do controle estabelecido. As
forças democráticas estavam determinadas a não repetir os erros da República de Weimar,
sem deixar espaço para pequenos partidos e ideologias (ALBUQUERQUE, 2005). E, ao se
encontrar dividida entre os dois lados da Guerra Fria, passou a utilizar diferentes formas de
exercer poder para atingir os objetivos estatais. Tais atitudes foram essenciais para a formação
da potência alemã atual e serão discutidos na seção 3.
3. A retomada do status de potência política e econômica no plano
internacional
“Logo após o momento da vitória, [...] O objetivo final
da Rússia era provavelmente o de transformar a
Alemanha unificada num satélite comunista [...] O
objetivo final do Ocidente era o de reeducar a
Alemanha no sentido de torná-la uma sociedade
democrática, cumpridora da lei e membro da sociedade
internacional [...]” (WIGHT, 2002)
Com o fim da II Guerra, a Questão Alemã volta à pauta na reconstrução do país. Mesmo
com a derrota, a Alemanha atingia um grau de destruição física menor do que outros
participantes do conflito (RAIMUNDO, 2009, apud MARINHO, 2014). O país conseguiu
20
manter 80% da estrutura industrial, com reservas de carvão e uma população qualificada e
apta para trabalhar (MARINHO, 2014). Porém, com o território dividido entre as zonas de
ocupação, as ações para a reconstrução do país ficaram dificultadas.
As duas superpotências que surgiram com o final da Guerra passaram a disputar a
polaridade do sistema44. Dentro da coalizão dos vencedores, existiam rivalidades entre as
potências e os então “aliados ocasionais” poderiam vir a se tornar “inimigos permanentes”
(ARON, 2002). De um lado, os EUA com poder marítimo dominante, chefiavam a criação de
um sistema internacional com base em princípios universais, fadado a manter a ordem
internacional fundamentada pelo Direito. Por outro lado, a URSS com poder terrestre
dominante, ao mesmo tempo em que participava desse sistema com retórica igualmente
universalista, era baseada nos princípios da revolução mundial socialista (ALBUQUERQUE,
2005). Ambas tinham visões diferentes sobre o que fazer com a Alemanha após a guerra.
Estados Unidos e União Soviética não queriam suprimir a existência da Alemanha
como Estado, pois sua suspensão poderia ser tanto positiva como negativa para as potências
do sistema (ARON, 2002). “Os americanos mudavam, paulatinamente, sua visão sobre o que
fazer com a Alemanha derrotada. [...] Truman e seus assessores sabiam que a Alemanha
industrializada era importante para o mundo ocidental [...]” (MAGNOLI, 2006, p. 386).
Momentos após a derrotada do nazismo, os EUA tinham a intenção de desmantelar
industrialmente a Alemanha para convertê-la em um Estado agrícola e pastoril, por meio do
Plano Morgenthau45 que havia sido discutido em Bretton Woods (1944).
Em 1946, o plano norte-americano não era mais a desindustrialização total, mas sim a
diminuição das indústrias, desmilitarização e descentralização do poder alemão. Seria
mantido apenas um nível mínimo de produção para evitar problemas sociais na população do
país. As indústrias foram reduzidas e o nível produtivo caiu para 55% do existente nos anos
anteriores. Porém, ao enfraquecer a Alemanha, a reconstrução da Europa ficaria
impossibilitada, visto que o país era responsável por conduzir as maiores trocas comerciais no
continente. Sem importações e exportações alemãs, o comércio e a venda de excedentes dos
EUA para o continente europeu seriam afetados46 (MELO NETO, 2014).
44
A Guerra Fria surge após a II Guerra Mundial como um constante confronto de ideias e ameaças das duas
superpotências que emergiram com o fim do conflito. Foram 45 anos desde o lançamento das bombas atômicas
que marcaram o fim da guerra até a queda da União Soviética (HOBSBAWN, 2009).
45
O secretário Henry Morgenthau apresentou uma tese à Churchill afirmando que não haveria paz na Europa
enquanto houvesse uma Alemanha forte e industrializada. Assim, toda indústria pesada do país deveria ser
extinta. As fábricas seriam desmontadas e suas peças enviadas aos vitoriosos da guerra. Só assim a Alemanha
pararia de guerrear com os vizinhos (MELO NETO, 2014).
46
A indústria americana havia atingido um alto nível de produção com a II Guerra Mundial. Sua expansão
dependia de mercados consumidores, pois a demanda interna não seria capaz de absorver toda a capacidade de
produção e a Europa, principal mercado consumidor do mundo, estava com problemas devido a guerra. Com
esse cenário, os EUA buscavam a reconstrução e a reestruturação da economia no pós-guerra (SIMON, 2011).
21
Um ano depois, a ameaça soviética “impôs” a reconstrução da Alemanha. Com a
unificação das zonas de influência britânicas e norte-americanas, as diretrizes das políticas
para a Alemanha buscavam produzir maior estabilidade à região. A Europa economicamente
insustentável, tornava-se uma “presa fácil” para movimentos esquerdistas, enquanto que,
inversamente, uma Europa reconstruída econômica e politicamente, com desenvolvimento
industrial e governo democrático, era um fator de isolamento para a URSS
(ALBUQUERQUE, 2005). Por isso, substitui-se o Plano de desindustrialização anterior pelo
Plano Marshall, que significou um novo impulso para reconstruir e (re)industrializar a
Alemanha (GULLO, 2014).
Internamente, após a Grande Guerra, a política de potência na Alemanha teria que ser
pensada de outra forma. Anteriormente, como foi feito no Reich de Bismarck e em seguida no
de Hitler, a Nação buscou incorporar elementos da política de potência como extensão
territorial e poder bélico para atingir maior importância na conjuntura mundial. Posterior a II
Guerra, as ações da República Federal da Alemanha começam a almejar tal status por outros
meios. As alianças estratégias principalmente com EUA e França, passam a ser vistas como
uma forma de se encaixar em um cenário que se tornara bipolar.
Em vista da disputa no sistema internacional, a criação do Plano Marshall surgiu como
um projeto de recuperação para a Europa e auxiliou a Alemanha a se recuperar rapidamente
após a guerra (SIMON, 2011). Seus objetivos eram a expansão do comércio internacional, a
garantia de estabilidade financeira e o desenvolvimento da cooperação europeia 47. O Plano
previa a concessão de empréstimos com juros baixos aos governos dos países que o aceitavam
e, em troca, abriam suas economias para investimentos norte-americanos. Além das questões
econômicas, agindo com um viés político, o Plano Marshall era uma forma de espalhar a
ideologia dos EUA e impulsionar a materialização de diversos acordos que auxiliaram à
Alemanha a se reconstruir apoiada no líder capitalista (MARINHO, 2014; OSÓRIO, 2010).
Se as principais iniciativas norte-americanas buscavam a reestruturação alemã,
também para os vencedores URSS e França, uma Alemanha econômica, militar,
industrialmente forte e reunificada em um Estado soberano, representava uma ameaça. Assim,
as principais ações da URSS no pós-guerra tinham como objetivo impedir o fortalecimento de
um Estado alemão pró-EUA. Entre elas: a pressão pelas compensações econômicas devido à
guerra, à oposição a reunificação e à normalização da Alemanha, a rejeição do Plano
47
Essa era feito por meio da criação da União Europeia de Pagamentos na qual as moedas eram conversíveis em
moedas locais e os deficitários eram beneficiados pelos superavitários (SIMON, 2011).
22
Marshall, a criação do Comecon48, do Pacto de Varsóvia e o Bloqueio de Berlim49
(ALBUQUERQUE, 2005).
Nesse contexto, o Estado alemão antes símbolo de poder encontrava-se dividido. De
um lado a República Federal da Alemanha capitalista surge da unidade das três zonas de
ocupação dos aliados ocidentais em 194950. Do outro lado, a República Democrática da
Alemanha, era modelo comunista fundada no mesmo ano apoiada pela URSS (MARINHO,
2010).
Anterior à reunificação das duas Repúblicas, um conjunto de ações da política externa
alemã possibilitaram garantir uma série de avanços no lado capitalista. Em 1952, com um
tratado entre as potências aliadas, deu-se novamente soberania para a RFA e as tropas de
ocupação viraram tropas de defesa. Entre 1949 e 1955, o primeiro Chanceler da República
Federal da Alemanha, Konrad Adenauer51, negociou uma aliança com o ocidente para ganhar
maior espaço de ação. Esta preocupação em inserir-se no sistema internacional ao lado dos
Aliados foi expressada em seu primeiro discurso como chanceler da RFA, quando disse:
-Para o povo alemão não há outro caminho, se quisermos atingir a liberdade e a
igualdade de direito, que não seja... o da coordenação com os Aliados. Só há
uma rota para a liberdade. Tentaremos ampliar nossas liberdades e prerrogativas
passo a passo, em harmonia com a Alta Comissão Aliada (JOSEF, 1989, p. 76
apud. OLIVEIRA, 2000, p. 17).
O Chanceler Adenauer se esforçou para superar a imagem de que a Alemanha seria um país
extremista e buscou alcançar uma reputação de confiabilidade (KISSINGER, 1994).
Ao estar ciente das diferenças entre Alemanha e França, Adenauer pronunciou suas
intenções em aproximar-se do até então “rival”. Buscou provar suas intenções por meio da
criação de três Comunidades Europeias como a CECA52, a CEE53 e a EURATOM até que foi
“Organismo de cooperação econômica entre países da órbita soviética destinado a impedir o isolamento
comercial e financeiro da URSS que poderia resultar de uma atração desses países pela economia americana”
(ALBUQUERQUE, 2005, p. 49).
49
Com a divisão decorrente do fim da guerra, a capital alemã ficava em área de domínio soviético e, fora
dividida em quatro zonas de ocupação. Em resposta a tentativa de reunificação do Estado alemão por meio dos
Estados Unidos para a criação da República Federal Alemã, os soviéticos bloquearam o acesso terrestre a Berlim
(ALBUQUERQUE, 2005, p. 49).
50
Em Conselho Parlamentar com 65 representantes da Alemanha Ocidental mais cinco observadores enviados
pelos Aliados, presidiados por Adenauer, foi redigida a Lei Fundamental que formalizou a RFA. Essa Lei
possuía poderes de Constituição sem caráter definitivo para não ameaçar a futura unificação do país. (DEUTCHE
WELLE).
51
Adenauer fez uma política que ficou caracterizada de Westpolitik. Esta, tinha como objetivos: o atlanticismo,
com os mesmos valores democráticos liberais que desejava para a RFA; a defesa da RFA e de Berlim ocidental
das ideologias vindas do Leste que ameaçavam as instituições políticas e a harmonização com os vizinhos,
principalmente a França, inimiga tradicional da Alemanha. Sua determinação era a de restaurar a Alemanha em
um conceito maior de Europa sendo ele, juntamente com De Gaulle, o responsável pela reconciliação francoalemã alcançando até em 1963, o Tratado Franco-Alemão de Amizade e Cooperação (OLIVEIRA, 2000).
52
O Tratado da CECA foi assinado em 1951. Congregava a França, a Alemanha, a Itália e os países do Benelux
a livre circulação do carvão e do aço, bem como o livre acesso às fontes de produção. Buscavam impulsionar o
emprego com setores básicos da indústria e a abolir tarifas no carvão e no aço (CÂMARA, 2013).
48
23
assinado, por fim, o Tratado de Elysée54 em 1963 (TREIN, 2007). O Chanceler, contrário à
opinião de membros de seu governo, apoiou a criação de tais acordos pois defendia a visão de
uma Alemanha pautada em um formato europeu consolidado (OLIVEIRA, 2000). Além disso,
via que um projeto alemão nacional se mostrava incapaz de acontecer, fazendo da cooperação
uma forma de atender interesses nacionais (OSÓRIO, 2010). Essas ações políticas, além da
entrada da Alemanha na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em 1955,
formularam a ruptura com o passado histórico “extremista” do país (TREIN, 2007) e
possibilitaram o avanço do Estado alemão no continente europeu.
Outro ponto que fez a Alemanha dos Aliados crescer rapidamente após a guerra foi a
reforma monetária. Implementada em 1948, com a coordenação de Ludwig Erhard55, reduziuse a oferta monetária em 90% e implementou-se o novo marco alemão (Deutsche-mark) para
manter a estabilidade do sistema (SENNHOLZ, 2015). Com essas ações, tem-se início o
“milagre alemão” (Wirtschaftswunder). Erhard, quando Diretor de Economia do Conselho
Econômico Bizonal, observou as rápidas mudanças que a reforma exerceu da seguinte forma:
-Antes da reforma monetária, nossa economia era um campo de prisioneiros de
guerra; os reclusos eram mantidos vivos em parte pelos Aliados...
imediatamente após a reforma, as cercas, barreiras e muralhas desabaram com
estonteante velocidade tão logo o campo de prisioneiros ganhou uma nova e
confiável moeda (SENNHOLZ, 2015).
Com a nova moeda e anos depois com a formação do Banco Central56 (Bundesbank),
foram criadas bases para a estabilidade e para o desenvolvimento econômico da Alemanha,
fatores essenciais no combate à crescente inflação. (MARINHO, 2014). As finanças foram
então subordinadas aos interesses industriais e os investimentos públicos foram direcionados à
infraestrutura e à indústria pesada. Junto a isso, a proteção social foi expandida: o Estado agia
na busca pelo pleno emprego. O resultado da junção do conceito de mercado e de Estado de
bem-estar social produziram um crescimento salarial e no PIB do país bastante significativos,
e que tornaram a Alemanha a maior economia da Europa (OSÓRIO, 2010).
CEE - “Comunidade Econômica Europeia” foi assinado no Tratado de Roma, de 25/03/1957 (CÂMARA,
2013)
54
O tratado tem três objetivos: firmar a reconciliação franco-alemã; criar amizade entre os países; e incentivar a
criação da Europa unida (ALIANÇA FRANCESA).
55
“Após o fim da guerra Erhard tornou-se consultor econômico para a administração norte-americana na Baviera
[...] Depois que as administrações americana e britânica criaram a bizona, Erhard tornou-se diretor do
Sonderstelle Geld und Kredit, uma comissão de especialistas que preparava a reforma monetária, em 1947.
[Quando Diretor da Economia pelo Conselho Econômico Bizonal em 1948, introduziu o marco alemão]. Erhard
aboliu as políticas de fixação de preços e de controle da produção [...] Em 1949 ele disputou eleição em um
distrito eleitoral em Baden-Württemberg para o primeiro parlamento da Alemanha Ocidental após a guerra, e
ganhou um mandato eletivo. [...] Em setembro, ele foi indicado ministro da Economia no primeiro gabinete de
Konrad Adenauer[...]”. (JORNAL LIVRE).
56
Banco central alemão e instituição importante para a estabilidade da economia Alemã. Pois tem um banco
central com função de combater a inflação (MARINHO, 2014).
53
24
Erhard, Chanceler posterior a Adenauer em 1963, reformulou o sistema alemão com
base na doutrina do ordoliberalismo. Essa ideologia, que surge na escola de Freiburg com
Walter Eucken, se opunha ao nacional-socialismo. Seus criadores a chamavam de um
liberalismo diferente no qual o Estado não era excessivamente intervencionista, mas que
também não se colocava apenas como um observador do livre mercado (MARINHO, 2010).
O modelo de Eucken era contrário aos ideais dissipados pelas potências
subordinadoras da época. Assim, tal atitude pode ser vista como uma ação de insubordinação
ideológica semelhante a proposta por List no período da unificação alemã em 1971. Para
viabilizar o desenvolvimento nacional, com a opção pelo ordoliberalismo, uma ideologia
própria e autônoma, diferente do que era pregado pelos EUA, a Alemanha buscava atingir
resultados em uma economia de mercado com auxílio da intervenção do Estado em questões
sociais (KLEIN, 2014). Ou seja, o Estado teria papel importante ao agir como um meio de
produzir regulação em favor da competitividade e do empreendedorismo. Atuaria então como
agente corretor das assimetrias para garantir a eficácia do liberalismo, evitando a emergência
de monopólios em áreas de interesse comerciais e controlando as taxas de juros
(HENDERSON, 2008).
Juntamente com o ordoliberalismo, o governo cortou impostos para reviver o ideal da
Nação alemã com incentivos às indústrias nacionais ao mesmo tempo em que avançava nas
ações de cooperação com outros países da Europa. Dessa forma, segundo Gullo (2014, p.
123):
A reconstrução industrial da Alemanha, graças ao impulso estatal, tornou
possível que, em 1952, a República Federal da Alemanha se poupasse, junto
com a França - apenas 7 anos depois da finalizada a Segunda Guerra Mundial-,
o objetivo estratégico de construir a unidade europeia para alcançar, em longo
prazo, o novo limiar de poder, marcado, então, pelos Estados Unidos da
América.
Já em 1958, as indústrias estavam produzindo quatro vezes mais que o do ano anterior. Surge
então o “milagre econômico” alemão devido aos ganhos decorrentes do fim da inflação que
permitiram a remoção de controles e o corte de impostos. Tais ações fizeram com que o país
se tornasse a segunda maior economia mundial já nos anos 1950, tendo como foco o mercado
internacional (HENDERSON, 2008; TREIN, 2007).
Decorrente dessas ações, pode-se perceber que a Alemanha desde o final da II Guerra
adotou um capitalismo próprio e diferente do utilizado antes do conflito. Neste, associações
empresariais e sindicatos representavam funções significativas para o crescimento econômico.
Com viés social, dentro das “empresas, [...] trabalhadores, bancos e outros stakeholders
tinham canais de participação e influência nas decisões” (STREECK, 1997, p. 37 apud.
GUIMARÃES, 2006). As associações empresariais incentivavam a troca de informações,
25
know-how, tecnologias e investimentos educacionais57 que fizeram e, por meio da cooperação,
passaram a desenvolver novos produtos e melhorar os setores em que atuavam.
Esse modelo capitalista diferente não significa que o Estado intervinha no mercado.
Sem influências políticas, o Banco Central e os Cartéis detinham autonomia. As funções do
governo eram de auxiliar em estruturas educacionais, na transferência de tecnologias, de
recursos e de pesquisas, com a geração de políticas industriais e estímulos regionais para o
crescimento das pequenas e médias empresas (Mittelstand58) em todo o país.
Outro fator relevante na época era a presença dos bancos no sistema econômico. Os
bancos alemães detinham ações empresariais e participavam dos conselhos nos quais
observavam as maiores necessidades e aonde deveriam investir com o fornecimento de
recursos financeiros. Tal ação permitia ainda maior planejamento para as empresas com
políticas estratégicas de longo prazo (GUIMARÃES, 2006).
A partir de 1969, Willy Brandt assumiu a chancelaria alemã e iniciou um processo de
abertura para reconhecer as fronteiras ao Leste, a Ostpolitik59. Brandt acreditava na mudança
estrutural por meio da aproximação com o engajamento da questão alemã ao conflito LesteOeste (CÂMARA, 2013). Além disso, assinou a Ata Final de Helsinque, que selou o fim do
processo da Conferência sobre a Segurança e Cooperação na Europa (CSCE), em defesa
dos direitos humanos e de um processo de cooperação política e econômica na Europa. O
Chanceler Helmutt Schmidt, no poder desde 1974, continuou esta política e apoiou o controle
de arsenais nucleares na Europa, incitou a busca de equilíbrio entre os dois blocos ao conduzir
uma política de cooperação mais a fundo com a RDA (CÂMARA, 2013).
Dessa forma, a Alemanha passa a aceitar seu novo modelo de inserção internacional e
a observar suas possibilidades de ação. Um país que em anos anteriores buscava atingir seus
objetivos nacionais e almejava a hegemonia sistêmica, estava agora voltado para uma maior
integração regional com o processo de cooperação europeia e de equilíbrio com o lado
socialista. Foi aceito que o país, naquele momento, deveria buscar a projeção de sua economia
57
Por meio de um sistema de treinamento, o modelo capitalista alemão pode ser destacado pelas parcerias entre
empresas e escolas nas quais empresas preparavam seus futuros trabalhadores com as utilidades e capacidades
necessárias. Além disso, o investimento nos trabalhadores já empregados para que esses se qualificassem e
conseguissem melhores empregos e salários, levando a uma melhora nas questões sociais (GUIMARÃES, 2006).
58
O modelo de pequenas e médias empresas está presente no território alemão desde a unificação em 1871. As
Mittelstand formam, segundo especialistas, 95% da economia alemã, com estruturas familiares, planos de longo
prazo e investimentos em capacitação pessoal com responsabilidade social (JUSTO, 2016).
59
Foi uma ação de política externa iniciada nos anos 1960 por Willy Brandt que contrariava a Weltpolitik de
Adenauer. Por meio desta, o chanceler passa a reconhecer a Alemanha oriental e seu governo para estabelecer
acordos comerciais. Essa ação, fez a RFA criar relações com a URSS. Tal política foi continuada por Helmut
Schmidt (CÂMARA, 2013).
26
para inserir-se no mercado internacional, dando continuidade ao modelo de política externa,
mesmo que limitada às imposições externas do período pós II Guerra (OSÓRIO, 2010).
O que faltava para a reconstrução do país era a reunificação do território. Em 1982 o
Chanceler Helmut Kohl assume o poder e se diz sucessor de Adenauer. Esse optou pela
continuidade dos compromissos, das alianças e da diplomacia multilateral, com vistas a
aperfeiçoar a formação europeia e consolidar a ordem liberal constitucional. Em seu mandato
como Chanceler, buscou aprofundar as relações no núcleo europeu e investir em um maior
relacionamento franco-alemão, além de incentivar a relação bilateral com os EUA. O primeiro
ministro, que foi o grande arquiteto do processo de reunificação (BADIA, 1997), seguiu o
modelo bismarckiano de fazer diplomacia para garantir a unificação: manter os eixos da
política externa do país inalterados para evitar desequilíbrios.
Foi em seu mandato que em 1989, com a Queda do muro de Berlim, o processo de
unificação entre os dois Estados alemães se tornou inevitável. Pela primeira vez desde 1871,
sem ir contra a vontade dos vizinhos ou em conflito com algum Estado, surge uma Alemanha
unida que passa a buscar nova estratégia de se integrar econômica e politicamente, tanto no
novo espaço nacional como no europeu (BANDEIRA, 2000).
Com a unificação tiveram início discussões sobre os novos passos da Alemanha.
Novamente a Questão Alemã, que se agigantava no território e na economia, era colocada em
pauta: “Chegou o momento que já se aguardava, desde 1990, com grande especulação: O que
aconteceria ao gigante econômico quando assumisse a sua maioridade política? [...] ” (DIAS,
2014). Mas, ao ver tais dúvidas surgindo, Helmut Kohl afirmou que:
- Nós, Alemães, [...] não queremos simplesmente apagar este peso da História.
Mas [...] os Alemães aprenderam com o passado. [...], estamos conscientes da
nossa co-responsabilidade pela manutenção da paz e segurança na Europa. [...]
A República Federal da Alemanha assume sem «se» nem «mas» a sua
responsabilidade europeia [...]: a Europa é o nosso destino. (MOURO, 2012).
Naquele contexto, a Alemanha voltava a ser um Estado nacional reunificado e com
soberania jurídica reconhecida internacionalmente (CÂMARA, 2013). E que, mesmo perante
anseios de que a reunificação mudaria a postura alemã, seguiu sendo membro das
organizações internacionais e apoiando a integração regional europeia (OLIVEIRA, 2000).
Mas, o país “ era grande demais para despertar amor e pequeno demais para inspirar medo”
(STREECK, 2011, não paginado).
O impacto de uma Alemanha unificada novamente foi maior no continente europeu.
Devido aos 30% de acréscimos no território e 20% na população, junto com o poderio que
havia adquirido e a queda da União Soviética, a Alemanha se colocou como líder da Europa e
alterou o equilíbrio de poder europeu (OLIVEIRA, 2000). Ao se tornar o Estado mais
populoso da mesma, aumentou consequentemente seus representantes no Parlamento e passou
27
a possuir mais membros que Grã-Bretanha, França e Itália60 (MOURO, 2012). Reunificada,
na década de 1990 a Alemanha tinha atingido o terceiro maior PIB do mundo e emergiu como
potência política com tecnologia atômica61 e tradição militar no centro do “Estado europeu”
(BANDEIRA, 2000).
Gerhard Schröder que assume em 1998, mudou a política internacional do país. Ele
alterou a postura discreta que a Alemanha vinha seguindo desde o fim da guerra e deu maior
visibilidade ao Estado já unificado. Suas intenções eram participar do “velho jogo de poder no
palco mundial” (DIAS, 2014, p. 70) no qual a Alemanha iria possuir uma posição
emancipada, autônoma e sem culpa. Mas, para evitar conflitos e desconfianças, o Chanceler
afirma também que a política externa alemã vai permanecer sendo pautada pela busca da paz,
e que os acordos pré-estabelecidos como a Aliança Atlântica permaneceriam (BANDEIRA,
2000).
Com a unificação, o lado de Berlim oriental obteve melhorias. A região experimentou
um alto crescimento pautado no investimento de 1.6 trilhões de euros que o governo federal e
firmas alemãs fizeram, que fez diminuir a taxa de desemprego pela metade62 (MAUK, 2014).
E, com as reformas das últimas décadas, a Alemanha passou a representar a quarta maior
economia mundial e alcançou baixo nível de desemprego em todo seu território, um dos mais
baixos comparado às economias avançadas (THE JAPAN TIMES).
Na evolução da reconstrução alemã, a opção de fortalecer a futura União Europeia foi
mantida por todos seus líderes desde Adenauer. Mesmo com a desconfiança que surgira com a
Questão Alemã, o país continuou a exercer sua função na Europa. Na origem desse processo,
o dinamismo alemão foi fundamental. Com a recuperação econômica, a Alemanha pôde
liderar e financiar os países com menor desenvolvimento relativo na Europa - Portugal,
Grécia, Irlanda, Espanha (DEUTSCHE WELLE, 2015), além dos países da Europa Oriental
que estavam sob a órbita de Moscou até os anos 1990.
Atualmente, Alemanha de Merkel é o impulsor da economia europeia, atuando como
principal credor e maior colaborador para o orçamento comunitário (DIÁRIO DE NOTÍCIAS,
2012). É ainda um ator político de peso na União Europeia, por ter não só a maior economia,
60
Ao representar os cidadãos europeus, o Parlamento é eleito dentro dos países pelos cidadãos nacionais. Além
disso, o número de representantes que cada país vai ter nesta instituição é relativo ao número de cidadãos que o
país possui. Quando a Alemanha se tornou o país com maior população na Europa, consequentemente passou a
ter maior representatividade no Parlamento europeu (MOURO, 2012).
61
Embora detenha tecnologia nuclear, o país optou por não construir artefatos nucleares para fins militares, com
foco de pesquisa a eliminação de resíduos radioativos e o funcionamento seguro de reatores (SCHMIDT, 2013).
62
Mesmo com elevadas taxas de crescimento econômico, o lado leste da Alemanha (ex RFA), ainda enfrenta
desemprego e diferenças salariais, sendo considerado por alguns jornais “a workbench of the west”, tendo como
significado que a região é responsável pelos trabalhos braçais das indústrias enquanto os chefes e posições mais
bem pagas ficam com funcionários do lado ocidental (THE JAPAN TIMES).
28
mas também por representar 15,9% (UNIÃO EUROPEIA) da população dentre os membros
do Bloco (DN, 2012). A Alemanha busca ser um dos polos motores tecno-produtivos
globalizantes apoiado por sua economia, alto grau de exportação, potência produtiva e
capacidade tecnológica (COSTIN, 2000). E, com os vínculos com Ocidente e a abertura para
o Oriente com a Ostpolitik, a Alemanha combinou a unidade nacional com as liberdades
democráticas (KITCHEN, 2013).
Porém, a estratégia alemã de se tornar mais produtiva e competitiva no comércio
internacional, algo presente no projeto alemão desde sua formação, pode ter prejudicado seus
parceiros da zona do euro. Acusa-se que a forte economia alemã desequilibra as balanças
comerciais dentro da União Europeia e produz fortes ruídos em seus parceiros do grupo. A
Alemanha é mais competitiva economicamente e, possibilita auferir vultosos superávits
comerciais que são reciclados na própria Europa através de empréstimos bancários. Tal
processo expande a pujança alemã, que agora, amealha lucros e juros dos outros países do
velho continente. A situação passa a ser questionada por aliados como Grécia e Espanha, e
tem o potencial de enfraquecer a solidariedade europeia. Nesse sentido, a Alemanha moderna
unificada e novamente potência vê serem questionados os seus atributos de eficiência e de
modelo para o resto dos países.
Por tudo que foi visto, é imperioso não esquecer que, segundo Fiori (2009), todos os
países se propõem em aumentar seu poder e sua riqueza. Os momentos de mudanças
internacionais são oportunidades para que os países busquem maior integração e crescimento
hierárquico primeiramente por meios econômicos, antes de militares e políticos. A Alemanha,
por sua vez, após a construção de uma insubordinação sistêmica eficiente que permitiu
superar o atraso e atingir o status de potência almejado, passou a se portar efetivamente como
uma potência. E, ao atingir tal posição, passa a ser um desestabilizador do sistema, visto esse
será sempre o “núcleo central” das grandes potências porque essas não podem parar de se
expandir para manter sua posição relativa na luta permanente pelo poder (FIORI, 2009).
Em momentos de guerra ou de paz o Estado alemão nunca deixou de buscar sua
ascensão pautado pelo status de potência. Um dos aspectos presentes nas ações de política
externa da Alemanha principalmente até a II Guerra Mundial, mas que permaneceram
presentes com a criação da República Federal em 1949, é o de que o país nunca se satisfez
com a condição de ser uma potência de segunda ordem. “Um traço marcante da cultura
germânica, reforçado por muitos dos seus pensadores mais expressivos, foi sua pretensão de
situar-se entre os países de maior importância na comunidade internacional” (TREIN, 2007, p.
3). Devido à sua posição geográfica central e seu rápido avanço econômico na unificação, e
depois novamente na reunificação, a força alemã no continente se tornou incontestável.
29
Considerações finais
Desde a formação alemã em 1871 até o período atual, foi possível, observar uma
semelhança nas ações dos governantes: todos buscaram, mesmo que por diferentes meios,
transformar seu país em uma potência de primeira ordem. A Alemanha, por estar posicionada
no centro do continente, sentindo-se pressionada pelas potências ao seu redor, via no
crescimento do seu Estado uma forma de sobreviver. Buscou então agir de acordo com a
necessidade de acumular poder e força, ou seja, ter potência para adquirir terras, aumentar e
preparar sua população, fazer crescer as indústrias nacionais, fortalecer seu exército e
constituir governos que pudessem viabilizar tal “utopia”.
Neste trabalho, o conceito realista de política de potência foi tomado como um
referencial teórico para se pensar o objeto da pesquisa. Contudo, ao concluir, “a política de
potência” deixa de ser apenas um conceito abstrato para se transformar em um conjunto de
ações produzidas por um país para alcançar, de fato, os primeiros lugares na hierarquia de
poder nas relações entre as nações. Com isso, observou-se que em um período muito curto,
tanto na unificação como na reunificação, a Alemanha surgiu como uma potência que reuniu
recursos, espaço geográfico e produziu ação coletiva para acumular poder para vir a se
transformar na quarta maior potência do planeta.
Dessa forma, um país que em menos de 150 anos era considerado uma região
subdesenvolvida, com base na Machtpolitik, desenvolveu o prestígio alemão pelo Sonderweg
a partir do qual se diferenciou dos países subdesenvolvidos e aproximou-se da ação feita pelas
principais potências do sistema. No período da unificação, foram essenciais a insubordinação
ideológica e a influência econômica de List com a criação de um modelo econômico único, a
ação prussiana da união aduaneira para unificar o território alemão e, entre outros, a presença
de Bismarck como articulador da política externa.
Com a saída de Bismarck, as linhas estabelecidas para a Alemanha tiveram mudanças
de percurso. Seus governantes, após atingirem posição de potência econômica, ao investirem
em armamento e segurança, incitaram a inimizade com os vizinhos continentais e levaram a I
Guerra Mundial. A II Guerra mundial, como consequência das imposições da Primeira
juntamente com os extremismos que haviam surgido na política e população alemã, levaram o
país à destruição e dissolução em 1945.
Mais uma vez dividida, o momento pós-guerra se assemelha ao vivido em 1871. O
país que estava agora comandado pelos Aliados viu uma possibilidade de crescer por meio do
desenvolvimento econômico, pela expansão da sua inserção nas redes do comércio
internacional e pela cooperação continental. Mesmo perante as desconfianças sistêmicas, a
Alemanha continuou a se desenvolver e produziu o “milagre alemão” quando ainda era a
30
RFA. A participação na Comunidade Europeia foi encarada como uma forma de associar os
objetivos alemães aos europeus e com isso alcançar maior visibilidade. Mesmo participando
destes processos, os alemães criaram uma ideologia própria para viabilizar seus interesses
nacionais - trata-se do ordoliberalismo - um conjunto de ações que compatibilizava reformas
macroeconômicas de mercado com um viés social que protegia e gerava capacitação às suas
empresas e aos trabalhadores alemães.
Pode-se ainda observar que, da mesma forma que anteriormente, ao escolher traçar um
caminho alternativo mas semelhante ao já trilhado pelas potências da época, a Alemanha
atingiu alto nível de desenvolvimento e ascendeu mais uma vez como potência. Por meio de
um capitalismo diferente, e pela criação de uma nova ideologia, o Estado alemão tornou-se
em “gigante” no plano econômico e solidificou a unificação do “povo alemão”.
Um dos argumentos desenvolvidos ao longo do artigo e apresentados nas obras
consultadas, foi que desde a formação do Estado alemão, com as atitudes da elite prussiana,
do líder Bismarck, da ascensão de Hitler e da reconstrução estatal, a Alemanha buscou agir de
forma a modificar o sistema em que estava inserida. O país almejou maior participação nas
relações internacionais no passado pelo uso da força, mas após a guerra, por meios pacíficos
como a diplomacia, mudanças econômicas, cooperação e auxílios estatais, atingiu novamente
a posição de maior potência europeia.
Após a reunificação, o país passou a atuar para perseguir seus interesses nacionais.
Unida, a Alemanha fortaleceu sua posição de maior potência demográfica e econômica da
Europa. Mesmo sem buscar mais territórios, liderar exige manter um viés expansionista. Tal
afirmação surge da constatação de que uma nação e seu Estado, ao atingir a liderança
continental, para manter o poder e/ou a hegemonia, necessita se manter à frente de seus
competidores. Por isto, produzir políticas de potência para manter o status quo não é
suficiente: uma potência precisa expandir constantemente o seu poder para evitar que seus
competidores lhe superem. Este é o desafio alemão: ser potência e líder em tempos de paz
sem criar animosidades no cenário internacional do século XXI.
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31
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