Universidade do Vale do Itajaí CEJURPS – Centro de Ciências Sociais e Jurídicas Curso de Relações Internacionais Política de Potência da República Federal da Alemanha Artigo de Conclusão do Curso de Graduação, exigido como requisito final para obtenção do Grau de Bacharel em Relações Internacionais pela Universidade do Vale do Itajaí. ACADÊMICA: ISABELLA CAMPOS WELTER Orientador: Prof. MSc. Paulo Jonas Grando Balneário Camboriú (SC), maio de 2016 2 Resumo Este artigo apresenta as principais ações que tornaram a Alemanha uma potência mundial. Apoiado no conceito da Política de Potência, é demonstrado, desde a formação da Alemanha, as diferentes maneiras utilizadas pelo país para adquirir poder. A partir de sua unificação, a Alemanha buscou construir um caminho alternativo (Sonderweg) pautado em diferentes ideologias com ações que permitiram o rápido crescimento econômico e político do país. Mas, com a expansão alemã e a entrada da mesma no jogo de poder mundial, o equilíbrio sistêmico estabelecido se desequilibra e a Alemanha é instada a entrar na I Guerra Mundial. Os eventos posteriores a guerra como o Tratado de Paz imposto pelos vitoriosos e a crise de 29, conduziram a um cenário de contestação da ordem internacional que, juntamente com a radicalização de um discurso de potência, transformaram o Estado Alemão no agente causador da II Guerra Mundial. No pós-guerra, em um ambiente de paz, foram expressados novos fatores que levariam a Alemanha a se reerguer, mais uma vez, e vir a se tornar a quarta potência global. O artigo conclui que, historicamente, as ações da Alemanha, principalmente do seu Estado, são pautadas pela busca contínua da condição e de sua manutenção como potência internacional. Palavras-chave: Alemanha, Política de Potência, desenvolvimento nacional, recuperação econômica, (re)unificação, caminho alternativo. Abstract This article presents the main actions that made Germany become a great power. Supported by the concept of Power Politics, is shown, since the formation of Germany, the different ways used by the state to gain power. From its unification, Germany built an alternative path (Sonderweg) guided by different ideologies and actions that allowed the fast economic and political growth. But, with the German expansion and entry in the global power game, the established system was unbalanced and Germany enter the I World War. Events after the war, as the peace treaty imposed by the victors and the 29 crisis, led to a different scenario order that along with the radicalization of a power discourse, turned Germany into the main causative of World War II. In the post war period, in a peaceful environment, the factors that would lead Germany to rise again and become the fourth global power, started to appear. The article concludes that, historically, Germany's actions, particularly their state policies, are guided by the pursuit and maintenance of power condition. Key-words: Germany, Power Politics, national development, economic growth, (re)unification, alternative path. 3 Política de Potência da República Federal da Alemanha Isabella Campos Welter Sumário: Introdução; 1. A Nação Alemã: política de potência, unificação e desenvolvimento; 2. O pós unificação alemã: alianças de Bismarck e a entrada da Alemanha em duas Guerras Mundiais; 3. A retomada do status de potência política e econômica no plano internacional; Considerações finais e Referências. Introdução Como um país que enfrentou tantos conflitos externos, no final do século XIX e durante a primeira metade do século XX, pôde obter status de potência pouco depois de ser derrotado em duas guerras mundiais? Unificada em 1871, já em 1914, na I Guerra Mundial, a Alemanha enfrentou as grandes potências coloniais do passado como Inglaterra, França e Rússia. E, mesmo posicionada no meio do continente e com certa carência em riquezas naturais, enfrentou a II Guerra Mundial, da qual foi causadora e que destruiria não só sua economia como também o próprio país. Esta Nação, dividida no pós-guerra entre República Federal da Alemanha (RFA) - organizada sob “valores sócio-econômicos” ocidentais e capitalistas, e a República Democrática Alemã (RDA) – estruturada sob premissas do socialismo real da ex-União Soviética (URSS), se reunificaria após a queda do muro de Berlim em 1989 sob o regime democrático e liberal. Os principais fatores que fizeram com que a Alemanha, no período da unificação e no pós II Guerra Mundial, recuperasse sua importância no cenário internacional, é o objetivo deste trabalho. Nesta ação, o maior esforço foi direcionado para entender e explicitar os processos que o país produziu para recuperar sua economia, visto que alterou o “equilíbrio de poder1” europeu e mundial quando se unificou em 1871, na formulação da II Guerra Mundial e também após o conflito. Esses aspectos justificam estudar a Alemanha para investigar como o país enfrentou os desafios de se constituir e se manter como potência em um cenário internacional bastante competitivo. O artigo pretende concentrar-se nos fatos considerados decisivos, sabendo que elementos importantes para a construção de uma potência foram deixados de fora da análise. Para examinar as ações da Alemanha foi feito, primeiramente, a conceituação de política de potência e, em seguida, um estudo da história do país. A necessidade da contextualização 1 Kenneth Waltz, teórico neorrealista, define poder como uma forma utilizada pelos Estados para manter sua segurança e sobrevivência. Proveniente do conceito de poder, o equilíbrio ou balança de poder, acontece quando um Estado se une a outro ou outros para viabilizar certos interesses nacionais, seja em termos defensivos ou até ofensivos. Nesta perspectiva, quando um Estado demonstra ter capacidade e busca ser líder, os outros tendem a segui-lo (WALTZ, 2002). 4 histórica é justificada por Moniz Bandeira o qual afirma que para entender a política externa e as relações internacionais de um país, deve-se situá-lo em sua historicidade e observar as condições essenciais de sua contínua mutação (BANDEIRA, 2004, p.32 apud GULLO, 2014). Em um primeiro momento, o processo envolveu discutir à época pós Sacro Império Romano Germânico. Ou seja, o processo da unificação política, as ações econômicas que a Alemanha produziu para alavancar seu desenvolvimento e o período com Otto von Bismarck no poder durante o II Reich. A partir disso, em um segundo momento são apresentadas as características do novo Estado alemão que levaram a I Guerra, além das principais ações de política de potência no período das guerras. Essas são abordadas de forma breve para expor como o país se recuperou da devastação bélica em um curto período de tempo. Foram incluídos, finalmente, os pontos essenciais da recuperação da Alemanha após a II Guerra. Entre essas, merecem destaque os investimentos externos, a cooperação continental e a questão da soberania perdida. Portanto, o trabalho expõe as ações mais significativas que o Estado alemão produziu para atingir o status de potência logo após a unificação, e como retomou posição de potência política e econômica após a derrota na II Guerra Mundial relacionando as políticas estatais com o conceito de política de potência. 1. A Nação alemã: política de potência, unificação e desenvolvimento “[...] até meados do século XIX o hoje orgulhoso povo alemão era um povo sem consciência nacional. Que o homem comum da Baviera, da Prússia ou de Hesse não se sentia alemão [...]” (GULLO, 2014, p. 107). Há menos de 150 anos a Alemanha era tida como uma região subdesenvolvida. Exportadora de matérias-primas e importadora de produtos industriais, ela estava subordinada à Inglaterra e dividida em 38 estados2 independentes e rivais. Sua estrutura política consistia numa Confederação Germânica que surgira do desmembrado Sacro Império RomanoGermânico, transformando-a em uma região periférica na dinâmica das relações entre os demais Estados europeus (GULLO, 2014). Em contrapartida, atualmente a Alemanha se mantém como a quarta potência econômica do planeta (THE WORLD BANK, 2014), além de ser um dos principais atores das relações internacionais. Para compreender, selecionar os fatores importantes e explicar o processo de desenvolvimento do prestígio alemão, este trabalho teve como base inicial a política de 2 Gullo (2014) aponta que seriam 38 estados, porém há uma dicotomia entre os autores que foram estudados em artigos e outras obras quanto à quantidade de estados que formariam a Confederação Germânica. Além disso, mesmo tendo soberania, “estado” aqui é com letra minúscula pois representam partes da Confederação. 5 potência. Este conceito é usado como principal fator de influência para explicar as atitudes tomadas pela Alemanha durante o processo de sua formação e consolidação no cenário internacional, de acordo com três vertentes principais. Na primeira delas, em Hans Morgenthau (2003, p. 49) apreende-se que “[...] sejam quais forem os fins da política internacional, o poder constitui sempre o objetivo imediato”. Assim, no contexto do sistema interestatal pós Westfalia, independentemente de quais princípios e caminhos forem seguidos, toda vez que estiver buscando um objetivo em âmbito internacional, o Estado estará atrás de poder. Esse autor apresenta 10 elementos para que um Estado adquira poder que possibilite a formação da potência. Dentre eles o mais estável é a geografia, que envolve a extensão territorial e a “eficácia” das fronteiras naturais. Recursos naturais são apresentados tais como solos férteis, matérias-primas e petróleo, os quais permitem ou não a autossuficiência da Nação. A capacidade industrial, produtiva e a tecnologia avançada se inserem na terceira determinante, enquanto o grau de preparo militar, que engloba a tecnologia bélica, a liderança militar e a quantidade e qualidade das forças armadas, constitui o quarto elemento do poder nacional. A população, sua distribuição e tendências demográficas3, o caráter nacional e moral de um povo, além da índole nacional, são também essenciais para a constituição do poder nacional de um Estado. O padrão da cultura e a qualidade do intelecto da Nação, que pode vir a influenciar a opinião pública no “fazer política”, é também um princípio para a formação de uma potência. Ainda, a da diplomacia é importante, pois permite reunir os demais elementos de poder na busca pelos interesses nacionais. Por último, a qualidade do governo seria o ponto de equilíbrio entre os recursos materiais e humanos na formação do poder nacional e na atuação da política externa de um Estado (MORGENTHAU, 2003). A segunda vertente se origina das reflexões sobre a noção de política de potência em Raymond Aron (2002, p. 99) que define o poder político “[...] no campo das relações internacionais, como a capacidade que tem uma unidade política de impor sua vontade às demais”. Ele estabelece fatores que conduzem a política externa dos países, observando que as relações internacionais se caracterizam pela pluralidade dos sistemas políticos e econômicos e dos objetivos das nações que compõem o plano mundial. Após analisar outros autores que definem a noção de poder, Aron afirma que a lista de elementos deve cobrir a diversidade dos fenômenos variantes de época para época. Nesta perspectiva, em sua obra estabelece três pontos que considera fundamentais para o Estado demonstrar ter poder. Esses 3 No processo de avaliar a distribuição do poder, torna-se importante presumir as tendências populacionais. Se os fatores permanecem os mesmos, um declínio na massa de trabalho de uma Nação significaria uma queda do poder nacional e vice-versa (MORGENTHAU, 2003). 6 são: o espaço; os recursos materiais disponíveis, como a capacidade de produzir recursos necessários para a população e o conhecimento em geral; e a capacidade de ação coletiva (exército, disciplina, solidariedade dos cidadãos entre outros). Assim4, o autor afirma: A potência de uma coletividade depende do cenário da sua ação e da sua capacidade de empregar os recursos materiais e humanos de que dispõe. Meios, recursos, ação coletiva: tais são, evidentemente - em qualquer época e quaisquer que sejam as modalidades de competição entre as unidades políticas - os fatores determinantes da potência (ARON, 2002, p. 107). Da exposição de Aron se aprende que o poder é alcançado quando se consegue pôr a potência em ato, determinada pela capacidade, pela vontade da população e pela atuação da elite dirigente (Aron, 2002). Ainda, Aron ressalta que não basta apenas juntar os elementos para produzir a capacidade de potência. Para agir como tal, é necessário ter a capacidade de empregar os recursos materiais e humanos de que dispõe o Estado. No plano concreto, tal assertiva pode ser aplicada a apenas alguns países do sistema internacional contemporâneo, pois de acordo com Fiori (2009, p. 173), o “[...] núcleo de grandes potências [...] nunca teve mais do que seis ou sete membros europeus, até o momento da entrada dos Estados Unidos da América (EUA) e do Japão no “círculo governante” do mundo, no início do século XX”. A terceira vertente toma como base um autor também realista que discorre sobre política de potência: Martin Wight (2002). A definição mais satisfatória de grandes potências, para ele, incorpora àqueles Estados que são capazes de manifestar interesses gerais tão amplos quanto o próprio sistema. Sua força política exerce assim um efeito que se estende sobre o maior campo de ação da sociedade internacional. Nessa perspectiva, um Estado pode ser considerado grande potência se uma coalizão de outros Estados for necessária para levar a cabo sua total destruição. Ou seja, potência é aquela que pode contemplar a guerra contra qualquer combinação possível de outras hegemonias do sistema internacional. Assim, os elementos que formam a potência para esse autor “[...] são o tamanho da população, posição estratégica e extensão geográfica, recursos econômicos e produção industrial” (Ibid., p. 5). Wight adiciona ainda elementos menos tangíveis como a eficiência administrativa e financeira, o aprimoramento educacional e tecnológico, além da coesão moral da Nação. Este artigo assume o conceito de política de potência desenvolvido por este grupo de autores realistas ao perceber semelhanças entre a teoria e as ações históricas que foram feitas pelo “futuro Estado Alemão”5 no período da unificação e reunificação do país. A Alemanha 4 Aron (2002) é contrário aos outros autores na questão militar. Esse, vê na guerra a possibilidade da incerteza e a grande relevância da sorte, algo inexato e incapaz de ser visto como elemento da potência devido à variação que tem de tempo em tempo. 5 A Confederação Germânica, anterior à unificação alemã de 1871, vai ser chamada neste artigo e em outras fontes consultadas de Alemanha, pois representa a região em que agora o Estado Alemão está inserido, com exceção de pequenas áreas que saíram de domínio alemão devido a conflitos internos e externos. 7 tendeu a assumir estratégias baseadas em uma política de potência, ou Machtpolitik6 no alemão, a partir do momento que as elites do país passaram a ver a união política e territorial como uma alternativa de inserção internacional e uma forma de se tornar potência no sistema. Para analisar o desenvolvimento do prestígio alemão foi feita “[...] uma viagem rumo às fontes das quais surgem os fenômenos que hoje vemos, para voltar ao presente trazendo uma melhor bagagem de hipóteses [...]” (FERRÉ & METALLI, 2006, p.12 apud GULLO, 2014). Assim, a análise inicia-se no período anterior à unificação, que com o fim do Sacro Império Romano-Germânico em 1806, criou-se a Confederação Germânica7 no Congresso de Viena em 1815. O território que hoje constitui a Alemanha era governado por uma Assembleia com representantes escolhidos por cada estado membro. Dentre esses, os reinos germânicos de maior relevância, a Prússia e a Áustria, buscavam a hegemonia e a liderança sobre os demais estados germânicos. Por um lado, a perspectiva de unificação prussiana investia na fórmula de se criar uma Confederação de estados que pudesse desenvolver a economia via um acelerado processo de industrialização. Por outro lado, a perspectiva austríaca, contrária à prussiana, tentava reproduzir seu modelo de estado fortemente agrícola (KITCHEN, 2013). Para atingir a unificação em 1871, algumas ações foram essenciais. Entre elas, pode-se destacar: a insubordinação ideológica8; a criação de um modelo de desenvolvimento econômico único (GULLO, 2014); a ação do “Estado” prussiano na tentativa de unificar a Confederação Germânica e excluir a Áustria por meio da união aduaneira e dos estímulos estatais (KITCHEN, 2013); e a presença de Otto von Bismarck como líder do processo final da união política, como um estímulo à atuação estatal da “via prussiana” que a Alemanha tomaria. Antes da unificação, com uma Alemanha enfraquecida e de certa forma desmembrada, as influências exercidas sobre a “Nação em formação” eram muitas. No âmbito externo, após a vitória da Grã-Bretanha sobre a França e o fim da dominação napoleônica em 1815, a Alemanha, como uma forma de prêmio informal, passou a ser subordinada cultural e 6 Na tradução para o português, ficaria Política de Poder, que é o termo trabalhado nesse artigo. Significa a condução das relações internacionais por meio do uso ou da ameaça da força, sem considerar o direito ou justiça (WIGHT, 2002). 7 “A nova organização dos territórios alemães, a Confederação Germânica, correspondeu à transformação das aproximadamente 234 unidades políticas do Império em 39 estados soberanos (e 04 cidades livres) ” (VIEIRA, 2006, p. 75). Com isso, decidiu-se solidificar a Alemanha, mas não unificar (KISSINGER, 1994). 8 “Todos os processos emancipatórios bem-sucedidos foram o resultado de uma adequada conjugação de uma atitude de insubordinação ideológica contra o pensamento hegemônico e de um eficaz impulso estatal” (GULLO, 2014 p. 19). Assim, a insubordinação ideológica seria uma forma de acabar com a subordinação não só cultural, mas acadêmica, como é o caso da Alemanha com a questão do Livre Comércio implementado pelos ingleses. 8 economicamente pelo sistema de livre comércio e do liberalismo econômico britânico9. Esse domínio estava tão inserido na sociedade que não influenciava só as altas classes germânicas, mas também as doutrinas universitárias que apoiavam os teóricos ingleses e defendiam um comércio universal livre e sem restrições (GULLO, 2014; LIST, 1986). Como afirma List, (1955 apud GULLO, 2014, p.114): “Todos os funcionários públicos, [...] todos os escritores que tratavam de matérias econômicas, [...] viam em qualquer proteção alfandegária uma abominação teórica”. Devido à liberdade de entrada para produtos externos, as indústrias germânicas10 que despontavam na época não conseguiam acumular capital e enfrentar a concorrência estrangeira. O desenvolvimento industrial da Alemanha e o início da construção do poder nacional, só seriam possíveis quando a Confederação se libertasse da dominação ideológicocultural inglesa. O processo de “insubordinação ideológica”, como é chamada por Marcelo Gullo (2014), vê que para um país se desenvolver e crescer no ambiente internacional aberto e competitivo, deve criar ideologias próprias de acordo com as particularidades nacionais. Por meio de alguns intelectuais a favor da integração dos estados germânicos, surge uma política anti-hegemônica e contrária aos princípios do liberalismo difundidos principalmente por Inglaterra e França. Com tal política, via-se a possibilidade de a Alemanha crescer apenas quando saísse da zona de domínio estrangeiro. Neste processo, as ideias do economista alemão Friedrich List11 foram essenciais para o início da unificação econômica e política da Alemanha, o que permitiu, posteriormente, que o país alcançasse a autonomia almejada. List (1986), ao acreditar que o crescimento industrial deveria ser apoiado pelo Estado, passou a criticar o pensamento de Adam Smith e dos liberais dos países desenvolvidos. Ao ver na teoria do Livre Comércio12 uma forma de impedir o crescimento de Estados subdesenvolvidos, o autor passou a defender o protecionismo e o nacionalismo econômico em uma Alemanha soberana. Com isso, a Confederação Germânica encontraria no auxílio do 9 Devido aos recursos naturais e à grande população, o mercado alemão foi muito importante para o desenvolvimento da industrialização britânica (GULLO, 2014). 10 A indústria nacional alemã havia se desenvolvido devido ao bloqueio continental que Napoleão tinha estabelecido. Antes, a Alemanha era uma região agrícola e pastoril, mas com as políticas alfandegárias de Napoleão, as indústrias alemãs serviram como substituição das importações (GULLO, 2014). 11 Friedrich List considerava a Nação como uma unidade econômica central, para as análises e para a formulação de políticas. Durante toda sua vida enfrentou o “cosmopolitismo” da escola prevalecente de Smith e do conceito de Livre Comércio. List acreditava que o futuro da Alemanha estava na criação de uma união aduaneira que eliminasse as tarifas internas e estabelecesse tarifas para o comércio com o resto do mundo. (LIST, 1986). 12 Sempre existiram controvérsias entre os que defendem o princípio do livre comércio e os favoráveis do protecionismo. A defesa de ideias protecionistas para nações que iniciam o processo de industrialização é feita a partir do alemão List. Por outro lado, o liberalismo é uma ideologia baseada em linhas individualistas com a menor participação possível de instituições/organizações, para que a economia fique emancipada de qualquer dogma externo à ela (HOLLANDA FILHO, 1998). 9 Estado uma forma de barrar a entrada de produtos internacionais para que a indústria nacional pudesse progredir. A ação seria feita de acordo com o modelo prussiano de desenvolvimento13 que levaria a melhoras estruturais e de infraestrutura na região14, além de auxiliar no auto respeito e aumento de poder nacional germânico como unidade (GULLO, 2014). Para atingir a unificação econômica, List influenciou na formação de um dos primeiros acordos de integração econômica que se tem notícia. Chamado de Zollverein15, estabelecido em 1834 pela Prússia, foi inicialmente uma união aduaneira entre os Estados do Norte16. Sua formação além de ter sido uma tentativa de diminuir a importância da Áustria nos estados germânicos, representou um marco na formação de um futuro espaço econômico unificado. Por meio do Zollverein, as trocas comerciais dentro da Confederação Germânica foram impulsionadas, o que levou à diminuição na importação de produtos de outros países e, consequentemente, possibilitou o avanço industrial (SILVA, 2012). Ao compararmos à perspectiva de política de potência, para Aron (2002), uma Nação sem poder industrial não consegue resistir às mudanças sistêmicas. Com isso, para se industrializar, o Zollverein alemão estimulou a produção de artigos manufaturados via taxas protecionistas de 20 a 60%, as quais garantiam a competição interna e a proteção contra a “concorrência destrutiva” do exterior (LIST, 1986).17 Segundo GULLO (2014, p. 118), “O Zollverein [...] permitia à Alemanha passar da fragmentação à unidade, de um estágio agrícola ao estágio industrial, do subdesenvolvimento, ao desenvolvimento”. Simultaneamente ao surgimento da união aduaneira, a Alemanha escolheu industrializar-se por um caminho alternativo (Sonderweg) ao que fora difundido também pelos ideólogos ingleses da época. O país escolheu seguir um modelo semelhante ao construído pelas grandes potências como EUA e Grã-Bretanha e não o que eles diziam que deveria ser feito. O projeto industrial alemão começou a ser traçado na década de 1840 a partir da Prússia. O principal objetivo era diminuir o atraso em comparação às outras potências 13 Países que tiveram um desenvolvimento e unificação política tardias como foi o caso da Alemanha em 1871 e da Itália na mesma época. A “via Prussiana de desenvolvimento” foi caracterizada pela forte presença do Estado na economia, para acelerar o crescimento econômico e tecnológico e alcançar um nível de desenvolvimento semelhante ao de países mais avançados do sistema internacional. (LACERDA, 2010). 14 Para integrar os estados da Confederação germânica e produtos nacionais, seria necessário a criação de um sistema ferroviário moderno de ligação (GULLO, 2014). 15 Política de aliança com os Junkers (aristocratas e grandes proprietários de terras) que ficou conhecido como Zollverein. União alfandegária formada em 1828 com o acordo entre Prússia e o estado de Hesse-Darmstadt. Por meio de acordos, tais regiões seriam tratadas como território prussiano para fins fiscais e em troca, receberiam uma parcela da arrecadação proporcional a sua população. (SILVA, 2012). 16 Prússia, Baviera, Wutenverg e os dois Hesses. Poucos anos depois, se integraram a Saxônia, os Estados de Turíngia, Nassau, o Grande Ducado de Baden e a cidade de Frankfurt (GULLO, 2014). 17 List nesta passagem vai contra a escola popular, que afirmavam que “as taxas protecionistas aumentavam o preço do produto nacional na mesma proporção que a porcentagem da respectiva taxa alfandegária” (LIST, 1986, p. 262). 10 europeias. E, com a política fiscal unificada e a coordenação das políticas monetárias favoráveis às trocas e à acumulação de capital, as dificuldades de desenvolvimento foram rapidamente superadas (OSÓRIO, 2011). Este processo foi sintetizado por Versetti (2010): [...] industrialização e o crescimento econômico se tornou[aram] a força motriz da máquina alemã e, naturalmente, provocou[aram] o orgulho nacional alemão e a unidade do país. Unidade nacional, força militar e manipulação política foram cruciais para a criação do Império Alemão, mas as ligações culturais e linguísticas foram a base da Unificação Alemã e a economia, o seu quadro de referência18. Contudo, o processo de integração e de industrialização passou por momentos distintos. A influência ideológica britânica continuava presente em algumas camadas da sociedade alemã19, e tornava a ação do Estado importante. Dessa forma, a Prússia buscou criar um “novo modelo econômico” por meio de políticas de incentivo. Dentre as atividades de apoio ao avanço econômico podem ser observadas o suporte ao comércio interno e à expansão industrial. Nessas, destacava-se a Campanha de Comércio Ultramarino (Seehandlung) que funcionava como uma espécie de banco de investimentos oficiais sob controle do Estado (OLIVEIRA, 2002). O Seehandlung auxiliou na formação de empresas por meio de aplicações em áreas estratégicas, que possibilitou o crescimento industrial, além de, por meio de associações, forneceu créditos para investimentos nas empresas privadas. Ainda por meio da Campanha, as indústrias nacionais tiveram acesso a um financiamento de longo prazo e juros baixos (OLIVEIRA, 2002). A ação do “novo modelo” foi completada pelo impulso estatal na construção das estradas de ferro que conectariam as confederações e facilitariam as trocas comerciais20. Assim, no processo da unificação alemã, a região já possuía um sistema ferroviário moderno com ligações de norte a sul, de leste a oeste (VIEIRA, 2006). Na década de 1850, a Confederação Germânica experimentou um crescimento econômico rápido, com aumento da produção têxtil, de ferro e de carvão. O Estado prussiano, além de incentivos econômicos às indústrias nacionais, impulsionou a área educacional com a formação de técnicos e especialistas que a indústria nacional mais necessitava (GULLO, 2014). Com o avanço econômico e o apoio estatal, a burguesia industrial passou a aprovar a unificação nacional e, devido à centralidade do país no continente, o comércio que já existia foi intensificado com a unificação (TREIN, 2007). 18 No original: [...] industrialization and economic growth became the driving force of German machine and naturally brought about German national pride and unity. National unity, military might and political manipulation were crucial in the creation of the German Empire, but cultural links and language were the foundation of German Unification, and economics – its framework (VERSETTI, Angel. [et al] 2010, p. 1). 19 Principalmente na burocracia prussiana, burguesia comercial e setores do pensamento universitário (GULLO, 2014). 20 A construção de estradas de ferro teve seu maior desenvolvimento entre 1839 e 1846, anterior ao período de unificação (VIEIRA, 2006). 11 A Confederação, com um crescimento econômico rápido e condições próprias, culminaria como um dos vértices fundadores da II Revolução Industrial. A qualidade e o alcance de mecanismos junto com um sistema educacional estruturado, deu vantagens à Alemanha sobre os outros países, pois essa conseguiu absorver rapidamente os fluxos tecnológicos difundidos pelas economias líderes (OLIVEIRA, 2000). No modelo germânico de industrialização, o setor de bens de capital cresceu mais que o de bens de consumo. Isso ocorreu pois, de início, os investimentos do governo prussiano, para acompanhar os países já industrializados, foram maiores nas indústrias pesadas como de aço, química e maquinários, além dos setores de ferrovias e mineração, com parques industriais maiores e mais modernos. A participação de bancos21 de desenvolvimento foi também essencial para o crescimento do país e, juntamente com o empresariado privado nacional e o Estado, formaram os três agentes econômicos desse processo (ROLIM, 2014). As ações internas tomadas pelo país a surgir dependiam também de sua inserção internacional. Para isso, a nomeação receosa22 de Otto von Bismarck pelo rei Guilherme I, em 1862 como ministro da Prússia, foi essencial para mudar a política externa da Alemanha. Bismarck teve início na carreira política em um mundo com três elementos principais: o balanço de poder europeu, um equilíbrio entre Prússia e Áustria dentro dos estados alemães, e um sistema de alianças baseado em valores conservadores (KISSINGER, 1994). Assim, o “Chanceler de ferro”, como era conhecido, estava convencido de que a Prússia havia se tornado o estado de maior importância entre os germânicos e que a Realpolitik23 poderia levar à unificação da Confederação Germânica. A formação do Estado-nação estaria cada vez mais próxima. Mas, em uma Confederação na qual a nobreza rural era mais poderosa do que as próprias cidades, a revolução só poderia acontecer de cima para baixo, imposta pelo Estado (KROCKOW, 2002). O território germânico conseguiu se unificar após três guerras sucessivas nas quais foi vitorioso. A primeira delas, contra a Dinamarca em 1864, foi uma guerra comercial e econômica24. Um ano depois, ocorreu a guerra contra a Áustria que durou três semanas e produziu o fim da Confederação Germânica e a criação da Confederação da Alemanha do Norte, com a exclusão da Áustria e a anexação de alguns estados. Além disso, foi feito um “Estes bancos combinavam funções de fornecer créditos de curto prazo, como um banco comercial normal, como as de fornecer créditos de longo prazo para a indústria. Estas instituições chegaram a exercer grande influência sobre as empresas industriais” (ROLIM, 2014). 22 Guilherme I alimentava receios com relação à Bismarck devido à sua extravagancia e independência. Porém, com a crise de 1862, ele não via outra alternativa (KITCHEN, 2013, p. 142). 23 “Os elementos da Realpolitik são: o interesse do governante e do estado, proporciona a gênese da ação; as necessidades da política resultam da competição desregulada dos estados; o cálculo baseado nessas necessidades pode identificar as políticas que melhor servirão os interesses de um estado; o sucesso é o teste último da política e o sucesso é definido como preservador e fortalecedor do estado. A Realpolitik indica os métodos pelos quais a política externa é conduzida e fornece um fundamento lógico para eles” (WALTZ, 2002, p. 163). 24 Tal guerra resultou no controle da Prússia sobre Schleswig e porto de Kiel, a anexação de Lauenburg e a entrada de Schleswig e Holstein no Zollverein (VIEIRA, 2006). 21 12 acordo militar com os Estados do Sul25. Com a guerra Franco-Prussiana, a última na formação do Estado alemão, a Prússia consegue suprimir a resistência dos Estados do Sul e com a derrota francesa, o Império alemão foi proclamado (VIEIRA, 2006). Com a unidade alemã alcançada por Bismarck, a subordinação à Inglaterra também pôde ser superada. As vitórias no campo militar contribuíram para reafirmar a possibilidade de ações unilaterais da Prússia (KISSINGER, 1994). Nesse processo, o Chanceler Bismarck fez alianças com a burguesia industrial e com grandes proprietários de terra internamente e, externamente, apostou no confronto militar (KITCHEN, 2013). Durante as guerras de unificação, o estadista conseguiu que terceiros Estados, como Inglaterra e França, ficassem fora do conflito de “cunho interno”. Dessa forma, suas ações na política prussiana são reconhecidas por diversos autores, como Gullo (2014, p.123), que afirma o seguinte: O Gênio político Otto von Bismarck selou a unificação e fez da Alemanha uma potência industrial a partir de uma política econômica que, seguindo o pensamento de List, se defendia da concorrência inglesa através da proteção alfandegária, ao mesmo tempo em que, utilizando o Estado como promotor, subsidiava a produção industrial e as exportações. Com a unificação, a Alemanha mudaria sua forma de governo em busca de maximizar o poder do Estado recém-criado. Logo, a formação do II Reich modificou não só a estrutura interna como também a balança de poder europeia. Nesta, Alemanha passou a ser uma união aduaneira e política com caráter autoritário que viria a se tornar uma potência incontestável (WEBER, 2013) com força econômica, industrial, territorial e política. O Império foi formalmente criado em 1871 com a conclusão de diversos tratados posteriores às conquistas e a proclamação de Guilherme I Imperador (kaiser). Na estrutura constitucional nacional emergiu um parlamento eleito por sufrágio universal masculino, no qual cada estado possuía sua própria constituição e administração, sob domínio do Estado militar prussiano (KITCHEN, 2013). Esse novo Império durou apenas 47 anos. O rápido crescimento do poder alemão era notável e teve que ser enfrentado pelos Estados concorrentes, criando a Questão Alemã26. A Alemanha conseguiu reunir em um prazo muito curto os elementos de Potência, tais como território, recursos e ação coletiva. Assim, tornou-se uma potência capaz de pressionar seus vizinhos, perspectiva discutida a seguir. 25 Os Estados do Sul, que eram opostos à Prússia na antiga Confederação, estabeleceram uma aliança militar com esta ao temerem o expansionismo de Napoleão III (VIEIRA, 2006). 26 Logo após a unificação alemã em 1871, surge a Questão alemã. Nesta, a Alemanha conseguiu unir quase todos os alemães étnicos em um “Estado Nacional”, passou a inovar no setor industrial e crescer econômica e politicamente. Os países vizinhos viam tal questão com preocupação, por implicar em possíveis revisões territoriais. Esta questão, mesmo um século depois e a participação em duas guerras, ainda perdurava, pois não se sabia com certeza qual deveria ser a posição alemã, de um Estado forte e expansionista ou se os alemães se contentariam apenas em ser um país dinâmico e industrial (OLIVEIRA, 2000). 13 2. O pós unificação alemã: alianças de Bismarck e a entrada da Alemanha em duas Guerras Mundiais “Durante todo o Processo da unificação alemã, houve um pouco de preocupação com seu impacto no equilíbrio de poder. Durante 200 anos, a Alemanha tinha sido vítima, e não o instigador das guerras da Europa. [...] Por conseguinte, era quase inevitável que uma Alemanha unificada teria como objectivo evitar a repetição dessas tragédias " (KISSINGER, 1994, p. 169)27. A unificação e a expansão econômica fizeram com que Alemanha fosse vista como potência no continente europeu. O centro da Europa, sempre dominado pelas antigas hegemonias, passou a ter força para pressionar os vizinhos, garantindo a não intervenção de outros Estados em seu território (KISSINGER, 1994). Com o avanço econômico, o crescimento populacional também foi um fator importante para o progresso alemão. De 1870 a 1914, a população aumentou de quarenta milhões de habitantes para sessenta e oito milhões, o que possibilitou ampliar a mão-de-obra (LIST, 1986). De uma Nação agrícola e pastoril, a Alemanha se transformou em uma máquina industrial com população crescente e economia pujante. Foi nesse período que o mecanismo de transportes baseado no vasto sistema ferroviário entre os estados, iniciado em momento anterior à unificação, permitiu aumentar o comércio internacional no continente europeu. Além disso, com o crescimento da produção de carvão por parte da Alemanha e do desenvolvimento de um mercado próspero para produtos de nações vizinhas, o sistema econômico da Europa passou a depender, de certa forma, da prosperidade desse país (KEYNES, 2002). Por exemplo: “A Alemanha era o melhor cliente da Rússia, Noruega, Holanda, Bélgica, Suíça, Itália e Áustria-Hungria; o segundo melhor cliente da Grã-Bretanha, Suécia e Dinamarca; e o terceiro melhor cliente da França” (Ibid., p. 10). Nesse sentido, grande parte dos Estados europeus passaram a exportar para o mercado alemão e importar aço, máquinas e outros bens manufaturados (Ibid.). Em questões diplomáticas, ao perceber que o rápido desenvolvimento alemão poderia causar incomodo às potências mundiais, Bismarck buscou evitar coalizões contra o poderio que o país havia alcançado. Durante os 20 anos em que conduziu a Política Externa da Alemanha, o Chanceler utilizou a Realpolitik como um instrumento para desenvolver e manter a segurança no novo Império, pois sabia que era preciso limitar as ambições do Reich. No original: “Through the process of German unification, there had been little concern about its impact in the balance of power. For 200 years, Germany had been the victim, not the instigator of the wars of Europe. [...] It was therefore nearly inevitable that a United Germany would aim to prevent the recurrence of these tragedies” (KISSINGER, 1994, p. 169). 27 14 Bismarck tinha como meta não dar motivos para qualquer aliança contra a Alemanha e, para isto, utilizou a barganha e a afirmação de que a balança de poder seria mantida no sistema internacional existente. Seu projeto para proteger a Nação observava que dentre as potências da época, Alemanha, França, Inglaterra, Rússia e Áustria, o lado com três aliados sempre estaria em vantagem. Por isso, viu na possibilidade de uma aliança com as rivais Rússia e Áustria28, uma forma de evitar coalizões contra a Alemanha (KISSINGER, 1994). Com esses países, Bismarck criou a Liga dos Três Impérios em 1873, proclamando a unidade das três cortes conservadoras: Alemanha, Rússia e Áustria-Hungria (KISSINGER, 1994). Tal acordo baseava-se em um protocolo desatado e com pouca associação entre os membros. Seria assim, uma forma de evitar que um desses se alinhasse com a França em um possível ataque contra o Reich (WEBER, 2013). Porém, a rivalidade geopolítica e as diferenças de Rússia e Áustria impossibilitaram a continuidade da unidade entre os monarcas conservadores. Além disso, com a entrada de Guilherme II ao trono alemão e a demissão de Bismarck em 1890, o Tratado de Ressegurança29 previamente criado com a Rússia não foi renovado. O novo Chanceler via na não continuação do tratado uma forma de reafirmar aliança com a Áustria e uma alternativa para buscar parceria com Grã-Bretanha (KISSINGER, 1994). As ações de política externa alemã então, sofreram notável mudança de rumo. O Império arquitetado por Bismarck desde a unificação havia se tornado o mais poderoso no continente. Mesmo assim, os líderes germânicos posteriores a ele, ainda se sentiam ameaçados. Em questões de segurança, mesmo o país já tendo se tornado a maior potência do continente, a memória de ter servido como campo de batalha na Europa por tanto tempo, criou um senso de insegurança na população e no governo alemão (Ibid.). Como evidência disso, tem-se a obsessão com o preparo militar composto por uma retórica bélica, no qual o exército alemão, devido a sua posição geográfica, pensava em termos de uma batalha com todos os vizinhos simultaneamente como um pior cenário possível (worst-case scenario). Isso fez com que o ideal de segurança se transformasse em um “agente” da própria insegurança. A possibilidade de a força ser usada por alguns Estados para enfraquecer ou destruir outros, dificulta que os mesmos escapem do sistema competitivo em que estão inseridos (WALTZ, 2002). No contexto europeu da época, os países ao redor da Alemanha passaram a 28 França era hostil e Inglaterra vivia um momento de isolamento (KISSINGER, 1994). Em inglês: Reinsurance Treaty. Tratado assinado com a Rússia em 1887 no qual ambos prometiam neutralidade em caso de guerra com um terceiro país, com duas exceções: se a Alemanha atacasse a França ou se a Rússia atacasse a Áustria (KISSINGER, 1994). 29 15 buscar proteção mútua com base na teoria da balança de poder em um sistema de autoajuda30. Contudo, nesta perspectiva, é possível observar que: “Os líderes alemães depois de Bismarck combinaram truculências com indecisão e lançaram o país primeiro em isolamento e depois, guerra” (KISSINGER, 1994, p. 170). Dessa forma, com base na exposição de Waltz (op. cit.), quando um ator aumenta seu poder para atingir a hegemonia, os demais buscam fazer o mesmo e na mesma proporção. Isso desequilibra o sistema e, no caso da Alemanha pós Bismarck, ao se armarem para buscar segurança ou para evitar nova divisão do território, o Estado impossibilita a convivência pacífica e cria ainda mais insegurança no sistema31. Dessa forma, mesmo com os avanços decorrentes da participação comercial da Alemanha no continente, inicia-se uma política de alianças e rivalidades entre os países europeus que se preparavam para a guerra. Um dos principais pontos a ser observado era a rivalidade entre Alemanha e França. Após a unificação, a Alemanha questionaria o domínio francês na Europa Continental aguçando suas diferenças (WIGHT, 2002). Ao saber que não possuía mais a força necessária para conter a Alemanha sozinha, a França, com sentimento de revanche para retomar a região de Alsácia-Lorena32 perdida na guerra da unificação, torna-se uma aliada potencial para qualquer inimigo da Alemanha (KISSINGER, 1994). Assim, o Concerto da Europa33 passou a ser dividido entre a inimizade desses países, e as desavenças entre os Impérios Austro-Húngaro e Russo34. Além da questão francesa, outros fatores levaram à Guerra. Ao se unificar tardiamente, a Alemanha, segundo Hobsbawm (2006, p. 102): “[...] ficou profundamente ofendida por uma Nação tão poderosa e dinâmica como ela possuir uma parte tão notavelmente menor de território colonial que os britânicos e franceses, [...]”. Ademais, a Alemanha havia se tornado “[...]É um sistema no qual aqueles que não se ajudam a si mesmos, ou os que o fazem menos eficazmente do que os outros, não conseguirão prosperar, expor-se-ão ao perigo, sofrerão” (WALTZ, 2002, p. 165). 31 Para Waltz, a insegurança e o surgimento da balança de poder é algo que ocorre sem a intenção do Estado, de forma não intencional (Ibid.). 32 “Ao final da Guerra Franco-Prussiana em 1871, o recém-formado Império Alemão anexou quase toda a Alsácia e a porção nordeste da Lorena[...] O ressentimento francês pela tomada alemã dos territórios governados pela França desde o século XVI foi uma das causas que contribuiu para a Primeira Guerra Mundial” (LIBRARY OF CONGRESS, 2015). 33 O Concerto da Europa surge com o Congresso de Viena em setembro de 1814, o qual reuniu potências europeias com a intenção de reestabelecer a paz e ordem internacional, além de reorganizar o continente europeu após o período das Guerras Napoleônicas (KISSINGER, 2014). Assim, Concerto europeu é usado como uma “ordem” estabelecida e uma paz que havia sido mantida por um século. 34 O Império Austro-Húngaro e o Império Russo disputaram a hegemonia na região dos Bálcãs até que fizeram um acordo no qual a Áustria anexou a região da Bósnia-Herzegovina e a Rússia teria o apoio da Áustria para a saída ao Mediterrâneo. Antes do início da I Guerra, Sérvia ameaçou invadir a Bósnia para libertar os eslavos do domínio austro-húngaro. Além disso, a crise do Império Otomano incitou a disputa territorial entre as potências pela região (HISTORIANDO, 2011). 30 16 um concorrente para o mercado industrial inglês35, com chances de não só atingir a hegemonia no continente, como também nos mares (WIGHT, 2002). A Grã-Bretanha então, passou a se sentir ameaçada quando a Alemanha planejou a construção da ferrovia BerlimBagdá, que facilitaria o acesso do país a uma região rica em petróleo e colocaria o Império Turco-Otomano em sua área de influência (BERTONHA, 2012). As ações de política externa alemã possibilitaram um sistema diferente do imaginado. Antes, França e Grã-Bretanha tinham problemas com a questão do Egito; Grã-Bretanha e Rússia tinham sido inimigas por quase todo o século XIX. Por isso, não se via a possibilidade de esses três países formarem qualquer tipo de acordo. Mas, 10 anos depois, França, GrãBretanha e Rússia queriam conter o poder alemão e, por isso, criam a Tríplice Entende que marcaria a I Guerra Mundial (KISSINGER, 1994). Esse conflito envolveu todas as grandes potências e quase todos os Estados europeus. Foi, em sua essência, uma guerra entre a Tríplice Aliança contra as “Potências Centrais”: Alemanha, Áustria-Hungria e Império Turco-Otomano. O plano alemão inicial de guerra era liquidar rapidamente com a França e em seguida com a Rússia, porém a capacidade alemã ficou enfraquecida ao abrir guerra em duas frentes. Com a entrada dos EUA no conflito, novas tropas e equipamentos militares foram adicionados ao bloqueio dos portos alemães, alterando o equilíbrio da guerra e dando mais força à Tríplice Aliança (HOBSBAWN, 2006). A Guerra teve seu fim em 1918 quando a paz foi negociada em Versalhes36 na qual os Aliados tinham a “esperança” de que a Alemanha pagasse pela guerra (WIGHT, 2002). A Alemanha como Nação derrotada foi forçada a assinar o tratado no qual assumia a culpa pela guerra, cedia territórios, reduzia seu poder bélico e pagaria pesadas indenizações para enfraquecer seu “anseio expansionista”. O país estaria então enfraquecido no âmbito militar, territorial e econômico (NOGUEIRA, 2010), com produção industrial em queda, crises econômicas e sociais, alto índice de desemprego e inflação elevada. Dessa forma, com apoio popular, mudanças políticas no país transformaram a monarquia de Guilherme II na República de Weimar37 (SBROCCO, 2011). 35 Ao adquirir a região de Alsácia e Lorena, a Alemanha se tornou um país rico em ferro, carvão e manganês (KITCHEN, 2013). 36 A I Guerra Mundial terminou com a derrota da Alemanha e a tentativa de reorganizar as relações internacionais. Tentou-se enquadrar os países as formas legais por meio de tratados de paz conhecidos como Acordo de Versalhes dentro dos quais o Tratado de Versalhes com a Alemanha foi o mais importante. Este marca o retrocesso das liberdades nacionais, foi um expressão direta dos desejos dos povos, mas foi rapidamente criticado visto que o desejo de justiça foi longe demais e tornou-se subversivo (WIGHT, 2002) 37 A República de Weimar (Deutches Reich) é o Estado alemão que surge no final da I Guerra Mundial, e que dura toda a década de 1920, tendo seu fim a instalação da Alemanha Nazista. Devido a erros políticos e crises financeiras e com o apoio de capitalistas industriais, que se opunham aos comunistas, os nazistas se aproveitaram da crise política no Reichstag e fizeram de Hitler o Chanceler da Alemanha (FERRAZ, 2009). 17 A República acarretou em um Estado federal mais centralizado que o Império, no qual os estados perderam as individualidades e o poder unilateral que possuíam. A Prússia não era mais um poder hegemônico e foram propostas eleições de um presidente por sufrágio universal para que este pudesse contrapesar o poder do parlamento. Porém, o país afundou em dívidas de reparação com os Aliados e a inflação explodiu (NOGUEIRA, 2010). Naquele cenário, o pós-guerra da primeira República alemã pode ser dividida em 3 fases: a primeira (1918-23) foi marcada pela desordem econômica e inflação elevada; a segunda (1923-29) representa uma época em que a economia alemã parecia ter se reorganizado e estava estabilizada; e na terceira (1929-32) explodiu a crise industrial, agrícola e bancária (FERRAZ, 2009). Com a manutenção da coerência na política externa, a Alemanha buscou recuperar-se via inserção no mercado internacional. Sua política quis diminuir as dívidas com o ocidente devido à crise vivida internamente na primeira fase da República e, sem observar alternativas com o lado ocidental, a Alemanha celebra o Tratado de Repallo38 com a URSS em 1922. Com esse tratado, Estados Unidos percebem a necessidade de reintegrar a Alemanha ao sistema internacional para evitar o desequilíbrio que uma aproximação com a URSS causaria. EUA e Grã-Bretanha criaram o Plano Dawes39 e Young40 para auxiliar o pagamento das dívidas de guerra alemãs, que deu início a segunda fase da República de Weimar. Tal iniciativa tinha como principal objetivo fortalecer a economia de mercado alemã pela entrada de capital e criação de planos econômicos. (MATOZO, 2015; LERNER, 2009). Porém, com a queda da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e a crise mundial que se instaurou a partir de então, os empréstimos feitos à Alemanha foram reduzidos. Sem recursos, o país não conseguia pagar as indenizações de guerra, além de não encontrar mais mercado para seus produtos, iniciando a terceira fase da República de Weimar. Com a instabilidade, surgem agitações internas que estimulam a ascensão de líderes políticos considerados radicais, visto que quando o país está em um momento de divisão de classes insuperáveis, o moral nacional41 encontra-se em estado precário (MORGENTHAU, 2003). O extremismo político aflora com o aumento de votos e assentos destes no Parlamento (LERNER, 2009). 38 Foi uma forma de aproximação econômica e política entre os países. Ambos se comprometeram em renunciar as dívidas mútuas, e iniciar relações diplomáticas para maior aproximação (HAGEDORN, 2014). 39 O Plano Dawes de 1924, tinha como pontos principais: reforma monetária para estabilizar o marco alemão; a criação de novos impostos; revisão dos valores de reparação; empréstimos feitos pelos Estados Unidos; o retiro de tropas francesas em território alemão e a reestruturação do Reichbank (COUTO; HACKL, 2007). 40 “O Plano Young reduziu as reparações em média a 1,5 bilhões de marcos-ouro por ano. Também, os controladores estrangeiros saíram da Alemanha, os bens sob administração externa foram liberados e ficou aprovada a criação de um banco de compensações de pagamentos” (COUTO; HACKL, 2007, p. 328). 41 O moral nacional é um ponto dentro do elemento: Índole Nacional discutido na obra de Morgethau (2003). 18 Segundo Lerner (op. cit., p. 16) “Os nazistas passaram a prometer o fim do desemprego, a supressão da usura, contenção de preços no comércio, luta contra o socialismo e contra o grande capital. E, para todo o povo alemão, prometiam a destruição das imposições de Versalhes”. Hitler é então nomeado Chanceler em 1933 e acumula o poder de presidente em 1934. Desde o início, almejava uma guerra que assegurasse o domínio alemão sobre a Europa. Internamente, o líder do partido nazista tinha como objetivo inicial, antes das ações externas, a destruição do Estado e o estabelecimento de uma ditadura. Para isso, possuía o apoio de parte da população e, caso contrário, a SA42 tinha força suficiente para recorrer à violência quando via necessário. O Führer prometeu um governo autoritário e rígido para livrar a Nação do “problema” da democracia. Contrário ao Tratado de Versalhes, rearmou e preparou militarmente o Estado para uma guerra que supriria as desigualdades e “germanizar[ia]” o leste em busca do “espaço vital” (Lebensraum) (KITCHEN, 2013; ARON, 2002). Hitler tinha como propósito alcançar um maior status de potência para a Alemanha. Assim, planejou adquirir regiões ricas em recursos naturais43 para alcançar poderio transcontinental e, com a aquisição de espaço, fazer com que a população crescesse. A busca por conquistas territoriais pode, segundo Aron (2002), ter sido baseada nas preposições de Mackinder que afirmam que “Quem domina a Europa oriental domina a “terra central”; quem domina a “terra central” domina a “ilha mundo”; quem domina a “ilha mundo” domina o mundo” (ARON, 2002, p. 266). Para Hitler, ou a Alemanha se tornaria uma potência mundial, ou ela deixaria de existir (HITLER, 1934 apud WIGHT, 2002). E, com essa ânsia de poder manifestado por Hitler iniciou a II Guerra Mundial que viria a “destruir” a Alemanha. A II Guerra Mundial inicia em 1939 com a Alemanha vitoriosa em diversas batalhas e ocupando praticamente toda a Europa. As ações alemãs eram pautadas em uma série de campanhas e apostas de Hitler: “[...]: vencer a Polônia antes que a França pudesse intervir; França, antes que a Grã-Bretanha se mobilizasse e a União Soviética entrasse na guerra; a União Soviética, antes que a Grã-Bretanha pudesse desembarcar no continente europeu” (ARON, 2002, p.122). Porém, a última aposta não se concretizou. A Grã-Bretanha não foi paralisada e a URSS resistiu em Moscou. Em dezembro de 1941, a entrada dos EUA na 42 SA é a abreviação de Sturmabteilungen, que foram as tropas de choque nazistas ou como eram chamados, “policiais auxiliares”. Tiveram papel importante no movimento nazista e promovia uma força privada paramilitar para proteger os líderes do partido de ataques de partidos rivais. Mas, na realidade, era usado para lutar com oponentes políticos nas ruas. (GLOBAL SECURITY). 43 Com a aquisição dessas regiões, Hitler queria tornar a Alemanha, um país com a mesma quantidade de recursos que os Estados Unidos possuíam (WIGHT, 2002). 19 guerra, o início do bombardeio em cidades alemãs por parte da Grã-Bretanha e a abertura da guerra em duas frentes, mudaram os rumos do conflito (ROMER, 1979; ARON, 2002). Com a rendição do Terceiro Reich e dos aliados, o conflito termina em 1945. A devastação alemã era total, cidades em ruinas, governo fraco e população devastada (COGGIOLA, 1995). Logo após a guerra, a Alemanha estava não só impedida de exercer seus direitos militares e de soberania política, mas também fora dividida entre quatro zonas de ocupação: soviética, norte-americana, francesa e inglesa (KITCHEN, 2013). O sistema internacional vigente, o qual tinha a Europa central como principal palco das relações internacionais, havia se tornado um vácuo de poder, dividida entre a aliança anglo-americana e os soviéticos (ALBUQUERQUE, 2005). A Guerra eliminou as grandes potências que estavam localizadas na Europa e deixou no sistema apenas potências mundiais (WIGHT, 2002). A Alemanha, como principal derrotada na Guerra, acabou com os elementos de poder que vinham traçando os rumos de sua política desde a unificação do país. No fim da guerra, o Estado havia perdido território/ espaço; sua população estava fortemente afetada e diminuída; sua capacidade industrial havia sido minimizada pelos Aliados; a força militar estava enfraquecida e talhada; e o governo dissolvido. Assim, tornava-se necessária a busca por novos caminhos para atingir o desenvolvimento. No que tange a infraestrutura, com o final da guerra à Alemanha não começou do zero. Houve elementos de continuidade em direção a um futuro fora do controle estabelecido. As forças democráticas estavam determinadas a não repetir os erros da República de Weimar, sem deixar espaço para pequenos partidos e ideologias (ALBUQUERQUE, 2005). E, ao se encontrar dividida entre os dois lados da Guerra Fria, passou a utilizar diferentes formas de exercer poder para atingir os objetivos estatais. Tais atitudes foram essenciais para a formação da potência alemã atual e serão discutidos na seção 3. 3. A retomada do status de potência política e econômica no plano internacional “Logo após o momento da vitória, [...] O objetivo final da Rússia era provavelmente o de transformar a Alemanha unificada num satélite comunista [...] O objetivo final do Ocidente era o de reeducar a Alemanha no sentido de torná-la uma sociedade democrática, cumpridora da lei e membro da sociedade internacional [...]” (WIGHT, 2002) Com o fim da II Guerra, a Questão Alemã volta à pauta na reconstrução do país. Mesmo com a derrota, a Alemanha atingia um grau de destruição física menor do que outros participantes do conflito (RAIMUNDO, 2009, apud MARINHO, 2014). O país conseguiu 20 manter 80% da estrutura industrial, com reservas de carvão e uma população qualificada e apta para trabalhar (MARINHO, 2014). Porém, com o território dividido entre as zonas de ocupação, as ações para a reconstrução do país ficaram dificultadas. As duas superpotências que surgiram com o final da Guerra passaram a disputar a polaridade do sistema44. Dentro da coalizão dos vencedores, existiam rivalidades entre as potências e os então “aliados ocasionais” poderiam vir a se tornar “inimigos permanentes” (ARON, 2002). De um lado, os EUA com poder marítimo dominante, chefiavam a criação de um sistema internacional com base em princípios universais, fadado a manter a ordem internacional fundamentada pelo Direito. Por outro lado, a URSS com poder terrestre dominante, ao mesmo tempo em que participava desse sistema com retórica igualmente universalista, era baseada nos princípios da revolução mundial socialista (ALBUQUERQUE, 2005). Ambas tinham visões diferentes sobre o que fazer com a Alemanha após a guerra. Estados Unidos e União Soviética não queriam suprimir a existência da Alemanha como Estado, pois sua suspensão poderia ser tanto positiva como negativa para as potências do sistema (ARON, 2002). “Os americanos mudavam, paulatinamente, sua visão sobre o que fazer com a Alemanha derrotada. [...] Truman e seus assessores sabiam que a Alemanha industrializada era importante para o mundo ocidental [...]” (MAGNOLI, 2006, p. 386). Momentos após a derrotada do nazismo, os EUA tinham a intenção de desmantelar industrialmente a Alemanha para convertê-la em um Estado agrícola e pastoril, por meio do Plano Morgenthau45 que havia sido discutido em Bretton Woods (1944). Em 1946, o plano norte-americano não era mais a desindustrialização total, mas sim a diminuição das indústrias, desmilitarização e descentralização do poder alemão. Seria mantido apenas um nível mínimo de produção para evitar problemas sociais na população do país. As indústrias foram reduzidas e o nível produtivo caiu para 55% do existente nos anos anteriores. Porém, ao enfraquecer a Alemanha, a reconstrução da Europa ficaria impossibilitada, visto que o país era responsável por conduzir as maiores trocas comerciais no continente. Sem importações e exportações alemãs, o comércio e a venda de excedentes dos EUA para o continente europeu seriam afetados46 (MELO NETO, 2014). 44 A Guerra Fria surge após a II Guerra Mundial como um constante confronto de ideias e ameaças das duas superpotências que emergiram com o fim do conflito. Foram 45 anos desde o lançamento das bombas atômicas que marcaram o fim da guerra até a queda da União Soviética (HOBSBAWN, 2009). 45 O secretário Henry Morgenthau apresentou uma tese à Churchill afirmando que não haveria paz na Europa enquanto houvesse uma Alemanha forte e industrializada. Assim, toda indústria pesada do país deveria ser extinta. As fábricas seriam desmontadas e suas peças enviadas aos vitoriosos da guerra. Só assim a Alemanha pararia de guerrear com os vizinhos (MELO NETO, 2014). 46 A indústria americana havia atingido um alto nível de produção com a II Guerra Mundial. Sua expansão dependia de mercados consumidores, pois a demanda interna não seria capaz de absorver toda a capacidade de produção e a Europa, principal mercado consumidor do mundo, estava com problemas devido a guerra. Com esse cenário, os EUA buscavam a reconstrução e a reestruturação da economia no pós-guerra (SIMON, 2011). 21 Um ano depois, a ameaça soviética “impôs” a reconstrução da Alemanha. Com a unificação das zonas de influência britânicas e norte-americanas, as diretrizes das políticas para a Alemanha buscavam produzir maior estabilidade à região. A Europa economicamente insustentável, tornava-se uma “presa fácil” para movimentos esquerdistas, enquanto que, inversamente, uma Europa reconstruída econômica e politicamente, com desenvolvimento industrial e governo democrático, era um fator de isolamento para a URSS (ALBUQUERQUE, 2005). Por isso, substitui-se o Plano de desindustrialização anterior pelo Plano Marshall, que significou um novo impulso para reconstruir e (re)industrializar a Alemanha (GULLO, 2014). Internamente, após a Grande Guerra, a política de potência na Alemanha teria que ser pensada de outra forma. Anteriormente, como foi feito no Reich de Bismarck e em seguida no de Hitler, a Nação buscou incorporar elementos da política de potência como extensão territorial e poder bélico para atingir maior importância na conjuntura mundial. Posterior a II Guerra, as ações da República Federal da Alemanha começam a almejar tal status por outros meios. As alianças estratégias principalmente com EUA e França, passam a ser vistas como uma forma de se encaixar em um cenário que se tornara bipolar. Em vista da disputa no sistema internacional, a criação do Plano Marshall surgiu como um projeto de recuperação para a Europa e auxiliou a Alemanha a se recuperar rapidamente após a guerra (SIMON, 2011). Seus objetivos eram a expansão do comércio internacional, a garantia de estabilidade financeira e o desenvolvimento da cooperação europeia 47. O Plano previa a concessão de empréstimos com juros baixos aos governos dos países que o aceitavam e, em troca, abriam suas economias para investimentos norte-americanos. Além das questões econômicas, agindo com um viés político, o Plano Marshall era uma forma de espalhar a ideologia dos EUA e impulsionar a materialização de diversos acordos que auxiliaram à Alemanha a se reconstruir apoiada no líder capitalista (MARINHO, 2014; OSÓRIO, 2010). Se as principais iniciativas norte-americanas buscavam a reestruturação alemã, também para os vencedores URSS e França, uma Alemanha econômica, militar, industrialmente forte e reunificada em um Estado soberano, representava uma ameaça. Assim, as principais ações da URSS no pós-guerra tinham como objetivo impedir o fortalecimento de um Estado alemão pró-EUA. Entre elas: a pressão pelas compensações econômicas devido à guerra, à oposição a reunificação e à normalização da Alemanha, a rejeição do Plano 47 Essa era feito por meio da criação da União Europeia de Pagamentos na qual as moedas eram conversíveis em moedas locais e os deficitários eram beneficiados pelos superavitários (SIMON, 2011). 22 Marshall, a criação do Comecon48, do Pacto de Varsóvia e o Bloqueio de Berlim49 (ALBUQUERQUE, 2005). Nesse contexto, o Estado alemão antes símbolo de poder encontrava-se dividido. De um lado a República Federal da Alemanha capitalista surge da unidade das três zonas de ocupação dos aliados ocidentais em 194950. Do outro lado, a República Democrática da Alemanha, era modelo comunista fundada no mesmo ano apoiada pela URSS (MARINHO, 2010). Anterior à reunificação das duas Repúblicas, um conjunto de ações da política externa alemã possibilitaram garantir uma série de avanços no lado capitalista. Em 1952, com um tratado entre as potências aliadas, deu-se novamente soberania para a RFA e as tropas de ocupação viraram tropas de defesa. Entre 1949 e 1955, o primeiro Chanceler da República Federal da Alemanha, Konrad Adenauer51, negociou uma aliança com o ocidente para ganhar maior espaço de ação. Esta preocupação em inserir-se no sistema internacional ao lado dos Aliados foi expressada em seu primeiro discurso como chanceler da RFA, quando disse: -Para o povo alemão não há outro caminho, se quisermos atingir a liberdade e a igualdade de direito, que não seja... o da coordenação com os Aliados. Só há uma rota para a liberdade. Tentaremos ampliar nossas liberdades e prerrogativas passo a passo, em harmonia com a Alta Comissão Aliada (JOSEF, 1989, p. 76 apud. OLIVEIRA, 2000, p. 17). O Chanceler Adenauer se esforçou para superar a imagem de que a Alemanha seria um país extremista e buscou alcançar uma reputação de confiabilidade (KISSINGER, 1994). Ao estar ciente das diferenças entre Alemanha e França, Adenauer pronunciou suas intenções em aproximar-se do até então “rival”. Buscou provar suas intenções por meio da criação de três Comunidades Europeias como a CECA52, a CEE53 e a EURATOM até que foi “Organismo de cooperação econômica entre países da órbita soviética destinado a impedir o isolamento comercial e financeiro da URSS que poderia resultar de uma atração desses países pela economia americana” (ALBUQUERQUE, 2005, p. 49). 49 Com a divisão decorrente do fim da guerra, a capital alemã ficava em área de domínio soviético e, fora dividida em quatro zonas de ocupação. Em resposta a tentativa de reunificação do Estado alemão por meio dos Estados Unidos para a criação da República Federal Alemã, os soviéticos bloquearam o acesso terrestre a Berlim (ALBUQUERQUE, 2005, p. 49). 50 Em Conselho Parlamentar com 65 representantes da Alemanha Ocidental mais cinco observadores enviados pelos Aliados, presidiados por Adenauer, foi redigida a Lei Fundamental que formalizou a RFA. Essa Lei possuía poderes de Constituição sem caráter definitivo para não ameaçar a futura unificação do país. (DEUTCHE WELLE). 51 Adenauer fez uma política que ficou caracterizada de Westpolitik. Esta, tinha como objetivos: o atlanticismo, com os mesmos valores democráticos liberais que desejava para a RFA; a defesa da RFA e de Berlim ocidental das ideologias vindas do Leste que ameaçavam as instituições políticas e a harmonização com os vizinhos, principalmente a França, inimiga tradicional da Alemanha. Sua determinação era a de restaurar a Alemanha em um conceito maior de Europa sendo ele, juntamente com De Gaulle, o responsável pela reconciliação francoalemã alcançando até em 1963, o Tratado Franco-Alemão de Amizade e Cooperação (OLIVEIRA, 2000). 52 O Tratado da CECA foi assinado em 1951. Congregava a França, a Alemanha, a Itália e os países do Benelux a livre circulação do carvão e do aço, bem como o livre acesso às fontes de produção. Buscavam impulsionar o emprego com setores básicos da indústria e a abolir tarifas no carvão e no aço (CÂMARA, 2013). 48 23 assinado, por fim, o Tratado de Elysée54 em 1963 (TREIN, 2007). O Chanceler, contrário à opinião de membros de seu governo, apoiou a criação de tais acordos pois defendia a visão de uma Alemanha pautada em um formato europeu consolidado (OLIVEIRA, 2000). Além disso, via que um projeto alemão nacional se mostrava incapaz de acontecer, fazendo da cooperação uma forma de atender interesses nacionais (OSÓRIO, 2010). Essas ações políticas, além da entrada da Alemanha na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em 1955, formularam a ruptura com o passado histórico “extremista” do país (TREIN, 2007) e possibilitaram o avanço do Estado alemão no continente europeu. Outro ponto que fez a Alemanha dos Aliados crescer rapidamente após a guerra foi a reforma monetária. Implementada em 1948, com a coordenação de Ludwig Erhard55, reduziuse a oferta monetária em 90% e implementou-se o novo marco alemão (Deutsche-mark) para manter a estabilidade do sistema (SENNHOLZ, 2015). Com essas ações, tem-se início o “milagre alemão” (Wirtschaftswunder). Erhard, quando Diretor de Economia do Conselho Econômico Bizonal, observou as rápidas mudanças que a reforma exerceu da seguinte forma: -Antes da reforma monetária, nossa economia era um campo de prisioneiros de guerra; os reclusos eram mantidos vivos em parte pelos Aliados... imediatamente após a reforma, as cercas, barreiras e muralhas desabaram com estonteante velocidade tão logo o campo de prisioneiros ganhou uma nova e confiável moeda (SENNHOLZ, 2015). Com a nova moeda e anos depois com a formação do Banco Central56 (Bundesbank), foram criadas bases para a estabilidade e para o desenvolvimento econômico da Alemanha, fatores essenciais no combate à crescente inflação. (MARINHO, 2014). As finanças foram então subordinadas aos interesses industriais e os investimentos públicos foram direcionados à infraestrutura e à indústria pesada. Junto a isso, a proteção social foi expandida: o Estado agia na busca pelo pleno emprego. O resultado da junção do conceito de mercado e de Estado de bem-estar social produziram um crescimento salarial e no PIB do país bastante significativos, e que tornaram a Alemanha a maior economia da Europa (OSÓRIO, 2010). CEE - “Comunidade Econômica Europeia” foi assinado no Tratado de Roma, de 25/03/1957 (CÂMARA, 2013) 54 O tratado tem três objetivos: firmar a reconciliação franco-alemã; criar amizade entre os países; e incentivar a criação da Europa unida (ALIANÇA FRANCESA). 55 “Após o fim da guerra Erhard tornou-se consultor econômico para a administração norte-americana na Baviera [...] Depois que as administrações americana e britânica criaram a bizona, Erhard tornou-se diretor do Sonderstelle Geld und Kredit, uma comissão de especialistas que preparava a reforma monetária, em 1947. [Quando Diretor da Economia pelo Conselho Econômico Bizonal em 1948, introduziu o marco alemão]. Erhard aboliu as políticas de fixação de preços e de controle da produção [...] Em 1949 ele disputou eleição em um distrito eleitoral em Baden-Württemberg para o primeiro parlamento da Alemanha Ocidental após a guerra, e ganhou um mandato eletivo. [...] Em setembro, ele foi indicado ministro da Economia no primeiro gabinete de Konrad Adenauer[...]”. (JORNAL LIVRE). 56 Banco central alemão e instituição importante para a estabilidade da economia Alemã. Pois tem um banco central com função de combater a inflação (MARINHO, 2014). 53 24 Erhard, Chanceler posterior a Adenauer em 1963, reformulou o sistema alemão com base na doutrina do ordoliberalismo. Essa ideologia, que surge na escola de Freiburg com Walter Eucken, se opunha ao nacional-socialismo. Seus criadores a chamavam de um liberalismo diferente no qual o Estado não era excessivamente intervencionista, mas que também não se colocava apenas como um observador do livre mercado (MARINHO, 2010). O modelo de Eucken era contrário aos ideais dissipados pelas potências subordinadoras da época. Assim, tal atitude pode ser vista como uma ação de insubordinação ideológica semelhante a proposta por List no período da unificação alemã em 1971. Para viabilizar o desenvolvimento nacional, com a opção pelo ordoliberalismo, uma ideologia própria e autônoma, diferente do que era pregado pelos EUA, a Alemanha buscava atingir resultados em uma economia de mercado com auxílio da intervenção do Estado em questões sociais (KLEIN, 2014). Ou seja, o Estado teria papel importante ao agir como um meio de produzir regulação em favor da competitividade e do empreendedorismo. Atuaria então como agente corretor das assimetrias para garantir a eficácia do liberalismo, evitando a emergência de monopólios em áreas de interesse comerciais e controlando as taxas de juros (HENDERSON, 2008). Juntamente com o ordoliberalismo, o governo cortou impostos para reviver o ideal da Nação alemã com incentivos às indústrias nacionais ao mesmo tempo em que avançava nas ações de cooperação com outros países da Europa. Dessa forma, segundo Gullo (2014, p. 123): A reconstrução industrial da Alemanha, graças ao impulso estatal, tornou possível que, em 1952, a República Federal da Alemanha se poupasse, junto com a França - apenas 7 anos depois da finalizada a Segunda Guerra Mundial-, o objetivo estratégico de construir a unidade europeia para alcançar, em longo prazo, o novo limiar de poder, marcado, então, pelos Estados Unidos da América. Já em 1958, as indústrias estavam produzindo quatro vezes mais que o do ano anterior. Surge então o “milagre econômico” alemão devido aos ganhos decorrentes do fim da inflação que permitiram a remoção de controles e o corte de impostos. Tais ações fizeram com que o país se tornasse a segunda maior economia mundial já nos anos 1950, tendo como foco o mercado internacional (HENDERSON, 2008; TREIN, 2007). Decorrente dessas ações, pode-se perceber que a Alemanha desde o final da II Guerra adotou um capitalismo próprio e diferente do utilizado antes do conflito. Neste, associações empresariais e sindicatos representavam funções significativas para o crescimento econômico. Com viés social, dentro das “empresas, [...] trabalhadores, bancos e outros stakeholders tinham canais de participação e influência nas decisões” (STREECK, 1997, p. 37 apud. GUIMARÃES, 2006). As associações empresariais incentivavam a troca de informações, 25 know-how, tecnologias e investimentos educacionais57 que fizeram e, por meio da cooperação, passaram a desenvolver novos produtos e melhorar os setores em que atuavam. Esse modelo capitalista diferente não significa que o Estado intervinha no mercado. Sem influências políticas, o Banco Central e os Cartéis detinham autonomia. As funções do governo eram de auxiliar em estruturas educacionais, na transferência de tecnologias, de recursos e de pesquisas, com a geração de políticas industriais e estímulos regionais para o crescimento das pequenas e médias empresas (Mittelstand58) em todo o país. Outro fator relevante na época era a presença dos bancos no sistema econômico. Os bancos alemães detinham ações empresariais e participavam dos conselhos nos quais observavam as maiores necessidades e aonde deveriam investir com o fornecimento de recursos financeiros. Tal ação permitia ainda maior planejamento para as empresas com políticas estratégicas de longo prazo (GUIMARÃES, 2006). A partir de 1969, Willy Brandt assumiu a chancelaria alemã e iniciou um processo de abertura para reconhecer as fronteiras ao Leste, a Ostpolitik59. Brandt acreditava na mudança estrutural por meio da aproximação com o engajamento da questão alemã ao conflito LesteOeste (CÂMARA, 2013). Além disso, assinou a Ata Final de Helsinque, que selou o fim do processo da Conferência sobre a Segurança e Cooperação na Europa (CSCE), em defesa dos direitos humanos e de um processo de cooperação política e econômica na Europa. O Chanceler Helmutt Schmidt, no poder desde 1974, continuou esta política e apoiou o controle de arsenais nucleares na Europa, incitou a busca de equilíbrio entre os dois blocos ao conduzir uma política de cooperação mais a fundo com a RDA (CÂMARA, 2013). Dessa forma, a Alemanha passa a aceitar seu novo modelo de inserção internacional e a observar suas possibilidades de ação. Um país que em anos anteriores buscava atingir seus objetivos nacionais e almejava a hegemonia sistêmica, estava agora voltado para uma maior integração regional com o processo de cooperação europeia e de equilíbrio com o lado socialista. Foi aceito que o país, naquele momento, deveria buscar a projeção de sua economia 57 Por meio de um sistema de treinamento, o modelo capitalista alemão pode ser destacado pelas parcerias entre empresas e escolas nas quais empresas preparavam seus futuros trabalhadores com as utilidades e capacidades necessárias. Além disso, o investimento nos trabalhadores já empregados para que esses se qualificassem e conseguissem melhores empregos e salários, levando a uma melhora nas questões sociais (GUIMARÃES, 2006). 58 O modelo de pequenas e médias empresas está presente no território alemão desde a unificação em 1871. As Mittelstand formam, segundo especialistas, 95% da economia alemã, com estruturas familiares, planos de longo prazo e investimentos em capacitação pessoal com responsabilidade social (JUSTO, 2016). 59 Foi uma ação de política externa iniciada nos anos 1960 por Willy Brandt que contrariava a Weltpolitik de Adenauer. Por meio desta, o chanceler passa a reconhecer a Alemanha oriental e seu governo para estabelecer acordos comerciais. Essa ação, fez a RFA criar relações com a URSS. Tal política foi continuada por Helmut Schmidt (CÂMARA, 2013). 26 para inserir-se no mercado internacional, dando continuidade ao modelo de política externa, mesmo que limitada às imposições externas do período pós II Guerra (OSÓRIO, 2010). O que faltava para a reconstrução do país era a reunificação do território. Em 1982 o Chanceler Helmut Kohl assume o poder e se diz sucessor de Adenauer. Esse optou pela continuidade dos compromissos, das alianças e da diplomacia multilateral, com vistas a aperfeiçoar a formação europeia e consolidar a ordem liberal constitucional. Em seu mandato como Chanceler, buscou aprofundar as relações no núcleo europeu e investir em um maior relacionamento franco-alemão, além de incentivar a relação bilateral com os EUA. O primeiro ministro, que foi o grande arquiteto do processo de reunificação (BADIA, 1997), seguiu o modelo bismarckiano de fazer diplomacia para garantir a unificação: manter os eixos da política externa do país inalterados para evitar desequilíbrios. Foi em seu mandato que em 1989, com a Queda do muro de Berlim, o processo de unificação entre os dois Estados alemães se tornou inevitável. Pela primeira vez desde 1871, sem ir contra a vontade dos vizinhos ou em conflito com algum Estado, surge uma Alemanha unida que passa a buscar nova estratégia de se integrar econômica e politicamente, tanto no novo espaço nacional como no europeu (BANDEIRA, 2000). Com a unificação tiveram início discussões sobre os novos passos da Alemanha. Novamente a Questão Alemã, que se agigantava no território e na economia, era colocada em pauta: “Chegou o momento que já se aguardava, desde 1990, com grande especulação: O que aconteceria ao gigante econômico quando assumisse a sua maioridade política? [...] ” (DIAS, 2014). Mas, ao ver tais dúvidas surgindo, Helmut Kohl afirmou que: - Nós, Alemães, [...] não queremos simplesmente apagar este peso da História. Mas [...] os Alemães aprenderam com o passado. [...], estamos conscientes da nossa co-responsabilidade pela manutenção da paz e segurança na Europa. [...] A República Federal da Alemanha assume sem «se» nem «mas» a sua responsabilidade europeia [...]: a Europa é o nosso destino. (MOURO, 2012). Naquele contexto, a Alemanha voltava a ser um Estado nacional reunificado e com soberania jurídica reconhecida internacionalmente (CÂMARA, 2013). E que, mesmo perante anseios de que a reunificação mudaria a postura alemã, seguiu sendo membro das organizações internacionais e apoiando a integração regional europeia (OLIVEIRA, 2000). Mas, o país “ era grande demais para despertar amor e pequeno demais para inspirar medo” (STREECK, 2011, não paginado). O impacto de uma Alemanha unificada novamente foi maior no continente europeu. Devido aos 30% de acréscimos no território e 20% na população, junto com o poderio que havia adquirido e a queda da União Soviética, a Alemanha se colocou como líder da Europa e alterou o equilíbrio de poder europeu (OLIVEIRA, 2000). Ao se tornar o Estado mais populoso da mesma, aumentou consequentemente seus representantes no Parlamento e passou 27 a possuir mais membros que Grã-Bretanha, França e Itália60 (MOURO, 2012). Reunificada, na década de 1990 a Alemanha tinha atingido o terceiro maior PIB do mundo e emergiu como potência política com tecnologia atômica61 e tradição militar no centro do “Estado europeu” (BANDEIRA, 2000). Gerhard Schröder que assume em 1998, mudou a política internacional do país. Ele alterou a postura discreta que a Alemanha vinha seguindo desde o fim da guerra e deu maior visibilidade ao Estado já unificado. Suas intenções eram participar do “velho jogo de poder no palco mundial” (DIAS, 2014, p. 70) no qual a Alemanha iria possuir uma posição emancipada, autônoma e sem culpa. Mas, para evitar conflitos e desconfianças, o Chanceler afirma também que a política externa alemã vai permanecer sendo pautada pela busca da paz, e que os acordos pré-estabelecidos como a Aliança Atlântica permaneceriam (BANDEIRA, 2000). Com a unificação, o lado de Berlim oriental obteve melhorias. A região experimentou um alto crescimento pautado no investimento de 1.6 trilhões de euros que o governo federal e firmas alemãs fizeram, que fez diminuir a taxa de desemprego pela metade62 (MAUK, 2014). E, com as reformas das últimas décadas, a Alemanha passou a representar a quarta maior economia mundial e alcançou baixo nível de desemprego em todo seu território, um dos mais baixos comparado às economias avançadas (THE JAPAN TIMES). Na evolução da reconstrução alemã, a opção de fortalecer a futura União Europeia foi mantida por todos seus líderes desde Adenauer. Mesmo com a desconfiança que surgira com a Questão Alemã, o país continuou a exercer sua função na Europa. Na origem desse processo, o dinamismo alemão foi fundamental. Com a recuperação econômica, a Alemanha pôde liderar e financiar os países com menor desenvolvimento relativo na Europa - Portugal, Grécia, Irlanda, Espanha (DEUTSCHE WELLE, 2015), além dos países da Europa Oriental que estavam sob a órbita de Moscou até os anos 1990. Atualmente, Alemanha de Merkel é o impulsor da economia europeia, atuando como principal credor e maior colaborador para o orçamento comunitário (DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 2012). É ainda um ator político de peso na União Europeia, por ter não só a maior economia, 60 Ao representar os cidadãos europeus, o Parlamento é eleito dentro dos países pelos cidadãos nacionais. Além disso, o número de representantes que cada país vai ter nesta instituição é relativo ao número de cidadãos que o país possui. Quando a Alemanha se tornou o país com maior população na Europa, consequentemente passou a ter maior representatividade no Parlamento europeu (MOURO, 2012). 61 Embora detenha tecnologia nuclear, o país optou por não construir artefatos nucleares para fins militares, com foco de pesquisa a eliminação de resíduos radioativos e o funcionamento seguro de reatores (SCHMIDT, 2013). 62 Mesmo com elevadas taxas de crescimento econômico, o lado leste da Alemanha (ex RFA), ainda enfrenta desemprego e diferenças salariais, sendo considerado por alguns jornais “a workbench of the west”, tendo como significado que a região é responsável pelos trabalhos braçais das indústrias enquanto os chefes e posições mais bem pagas ficam com funcionários do lado ocidental (THE JAPAN TIMES). 28 mas também por representar 15,9% (UNIÃO EUROPEIA) da população dentre os membros do Bloco (DN, 2012). A Alemanha busca ser um dos polos motores tecno-produtivos globalizantes apoiado por sua economia, alto grau de exportação, potência produtiva e capacidade tecnológica (COSTIN, 2000). E, com os vínculos com Ocidente e a abertura para o Oriente com a Ostpolitik, a Alemanha combinou a unidade nacional com as liberdades democráticas (KITCHEN, 2013). Porém, a estratégia alemã de se tornar mais produtiva e competitiva no comércio internacional, algo presente no projeto alemão desde sua formação, pode ter prejudicado seus parceiros da zona do euro. Acusa-se que a forte economia alemã desequilibra as balanças comerciais dentro da União Europeia e produz fortes ruídos em seus parceiros do grupo. A Alemanha é mais competitiva economicamente e, possibilita auferir vultosos superávits comerciais que são reciclados na própria Europa através de empréstimos bancários. Tal processo expande a pujança alemã, que agora, amealha lucros e juros dos outros países do velho continente. A situação passa a ser questionada por aliados como Grécia e Espanha, e tem o potencial de enfraquecer a solidariedade europeia. Nesse sentido, a Alemanha moderna unificada e novamente potência vê serem questionados os seus atributos de eficiência e de modelo para o resto dos países. Por tudo que foi visto, é imperioso não esquecer que, segundo Fiori (2009), todos os países se propõem em aumentar seu poder e sua riqueza. Os momentos de mudanças internacionais são oportunidades para que os países busquem maior integração e crescimento hierárquico primeiramente por meios econômicos, antes de militares e políticos. A Alemanha, por sua vez, após a construção de uma insubordinação sistêmica eficiente que permitiu superar o atraso e atingir o status de potência almejado, passou a se portar efetivamente como uma potência. E, ao atingir tal posição, passa a ser um desestabilizador do sistema, visto esse será sempre o “núcleo central” das grandes potências porque essas não podem parar de se expandir para manter sua posição relativa na luta permanente pelo poder (FIORI, 2009). Em momentos de guerra ou de paz o Estado alemão nunca deixou de buscar sua ascensão pautado pelo status de potência. Um dos aspectos presentes nas ações de política externa da Alemanha principalmente até a II Guerra Mundial, mas que permaneceram presentes com a criação da República Federal em 1949, é o de que o país nunca se satisfez com a condição de ser uma potência de segunda ordem. “Um traço marcante da cultura germânica, reforçado por muitos dos seus pensadores mais expressivos, foi sua pretensão de situar-se entre os países de maior importância na comunidade internacional” (TREIN, 2007, p. 3). Devido à sua posição geográfica central e seu rápido avanço econômico na unificação, e depois novamente na reunificação, a força alemã no continente se tornou incontestável. 29 Considerações finais Desde a formação alemã em 1871 até o período atual, foi possível, observar uma semelhança nas ações dos governantes: todos buscaram, mesmo que por diferentes meios, transformar seu país em uma potência de primeira ordem. A Alemanha, por estar posicionada no centro do continente, sentindo-se pressionada pelas potências ao seu redor, via no crescimento do seu Estado uma forma de sobreviver. Buscou então agir de acordo com a necessidade de acumular poder e força, ou seja, ter potência para adquirir terras, aumentar e preparar sua população, fazer crescer as indústrias nacionais, fortalecer seu exército e constituir governos que pudessem viabilizar tal “utopia”. Neste trabalho, o conceito realista de política de potência foi tomado como um referencial teórico para se pensar o objeto da pesquisa. Contudo, ao concluir, “a política de potência” deixa de ser apenas um conceito abstrato para se transformar em um conjunto de ações produzidas por um país para alcançar, de fato, os primeiros lugares na hierarquia de poder nas relações entre as nações. Com isso, observou-se que em um período muito curto, tanto na unificação como na reunificação, a Alemanha surgiu como uma potência que reuniu recursos, espaço geográfico e produziu ação coletiva para acumular poder para vir a se transformar na quarta maior potência do planeta. Dessa forma, um país que em menos de 150 anos era considerado uma região subdesenvolvida, com base na Machtpolitik, desenvolveu o prestígio alemão pelo Sonderweg a partir do qual se diferenciou dos países subdesenvolvidos e aproximou-se da ação feita pelas principais potências do sistema. No período da unificação, foram essenciais a insubordinação ideológica e a influência econômica de List com a criação de um modelo econômico único, a ação prussiana da união aduaneira para unificar o território alemão e, entre outros, a presença de Bismarck como articulador da política externa. Com a saída de Bismarck, as linhas estabelecidas para a Alemanha tiveram mudanças de percurso. Seus governantes, após atingirem posição de potência econômica, ao investirem em armamento e segurança, incitaram a inimizade com os vizinhos continentais e levaram a I Guerra Mundial. A II Guerra mundial, como consequência das imposições da Primeira juntamente com os extremismos que haviam surgido na política e população alemã, levaram o país à destruição e dissolução em 1945. Mais uma vez dividida, o momento pós-guerra se assemelha ao vivido em 1871. O país que estava agora comandado pelos Aliados viu uma possibilidade de crescer por meio do desenvolvimento econômico, pela expansão da sua inserção nas redes do comércio internacional e pela cooperação continental. Mesmo perante as desconfianças sistêmicas, a Alemanha continuou a se desenvolver e produziu o “milagre alemão” quando ainda era a 30 RFA. A participação na Comunidade Europeia foi encarada como uma forma de associar os objetivos alemães aos europeus e com isso alcançar maior visibilidade. Mesmo participando destes processos, os alemães criaram uma ideologia própria para viabilizar seus interesses nacionais - trata-se do ordoliberalismo - um conjunto de ações que compatibilizava reformas macroeconômicas de mercado com um viés social que protegia e gerava capacitação às suas empresas e aos trabalhadores alemães. Pode-se ainda observar que, da mesma forma que anteriormente, ao escolher traçar um caminho alternativo mas semelhante ao já trilhado pelas potências da época, a Alemanha atingiu alto nível de desenvolvimento e ascendeu mais uma vez como potência. Por meio de um capitalismo diferente, e pela criação de uma nova ideologia, o Estado alemão tornou-se em “gigante” no plano econômico e solidificou a unificação do “povo alemão”. Um dos argumentos desenvolvidos ao longo do artigo e apresentados nas obras consultadas, foi que desde a formação do Estado alemão, com as atitudes da elite prussiana, do líder Bismarck, da ascensão de Hitler e da reconstrução estatal, a Alemanha buscou agir de forma a modificar o sistema em que estava inserida. O país almejou maior participação nas relações internacionais no passado pelo uso da força, mas após a guerra, por meios pacíficos como a diplomacia, mudanças econômicas, cooperação e auxílios estatais, atingiu novamente a posição de maior potência europeia. Após a reunificação, o país passou a atuar para perseguir seus interesses nacionais. Unida, a Alemanha fortaleceu sua posição de maior potência demográfica e econômica da Europa. Mesmo sem buscar mais territórios, liderar exige manter um viés expansionista. Tal afirmação surge da constatação de que uma nação e seu Estado, ao atingir a liderança continental, para manter o poder e/ou a hegemonia, necessita se manter à frente de seus competidores. Por isto, produzir políticas de potência para manter o status quo não é suficiente: uma potência precisa expandir constantemente o seu poder para evitar que seus competidores lhe superem. Este é o desafio alemão: ser potência e líder em tempos de paz sem criar animosidades no cenário internacional do século XXI. Referências 1949: Promulgada a Lei Fundamental Alemã. Deutsche Welle. <http://www.dw.com/pt/1949-promulgada-a-lei-fundamental-alem%C3%A3/a-525432>. Acesso em: 12 mai. 2016. In: A Primeira Guerra Mundial. Historiando, jul. 2011. In: <https://historiandonanet07.wordpress.com/2011/07/22/a-primeira-guerra-mundial/>. Acesso em: 03 mai. 2016. ALBUQUERQUE, José Augusto Guilhon. Relações Internacionais Contemporâneas: a ordem mundial depois da Guerra Fria. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. 31 ALEMANHA, o motor da EU e o resto da disciplina orçamental. Diário de Notícias, 2002. In: <http://www.dn.pt/politica/interior.aspx?content_id=2878128>Acesso em: 07 out. 2015. ALEMANHA. União Europeia. In: <http://europa.eu/about-eu/countries/membercountries/germany/index_pt.htm> Acesso em: 28 out. 2015. ALSÁCIA-Lorena. 2015. Library of Congress. In: <https://www.wdl.org/pt/item/9148/>. Acesso em: 16 mai. 2016. ANDERSON, Richard. German Economic Strength: The secret of success. BBC, ago. 2012. ARON, Raymond. Paz e Guerra Entre as Nações. Prefácio de Antônio Paim; Trad. Sérgio Bath.1. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2002 936 p. 23 cm (Clássicos IPRI, 4). BADIA, Gilbert. Alemanha oriental: sete anos de unificação. Instituto de filosofia e ciências humanas, São Paulo, Xamã, v.1, n.5, 1997. In: < http://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista/arquivos_biblioteca/artigo32Artigo1.2.pdf p.2739>. Acesso em: 06 out. 2015. BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. A Política Exterior da Alemanha- 1949-1999. In: GUIMARÃES, Samuel Pinheiro (org.). Alemanha: visões brasileiras. Brasília: Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, Fundação Alexandre de Gusmão, 2000. BERTONHA, João Fábio. O império otomano e a Primeira Guerra Mundial. Tempo [online]. 2012, vol.18, n.33, p.269-273. ISSN 1413-7704. In: <http://dx.doi.org/10.1590/S141377042012000200011>. Acesso em: 20 abr. 2016. CÂMARA, Marcelo P. S. A política externa alemã na República de Berlim: de Gerhard Schröder a Angela Merkel. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2013. COGGIOLA, Osvaldo. A Segunda Guerra Mundial: Causas, estrutura, consequências. 1995. In: <https://raquelcardeiravarela.files.wordpress.com/2014/11/oc-segunda-guerramundial-2.pdf>. Acesso em: 29 abr. 2016. COMO Portugal, Espanha e Irlanda enfrentaram a crise. Deutsche Welle. In: <http://www.dw.com/pt/como-portugal-espanha-e-irlanda-enfrentaram-a-crise/a-18557889> Acesso em: 07 out. 2015. COSTIN, Maurice. Alemanha sua Economia e Política Externa. In: GUIMARÃES, Samuel Pinheiro (org.). Alemanha: visões brasileiras. Brasília: Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, Fundação Alexandre de Gusmão, 2000. COUTO, Joaquim Miguel; HACKL, Gilberto. Hjalmar Schacht e a economia alemã (19201950). Economia e sociedade, Campinas, v.16, n.3, p.311-341, dez. 2007. In: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010406182007000300002&lng=en &nrm=iso>. Acesso em: 29 abr. 2016. DIAS, Mónica. O momento da Alemanha que rumo para a política externa alemã num mundo em transformação? Relações Internacionais, Lisboa, n.43, set. 2014. In: <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S164591992014000300006&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 30 set. 2015. FERRAZ, João Grinspum. Ordem e revolução na República de Weimar. Biblioteca Digital USP, São Paulo, 2009. In: <www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/.../JOAO_GRINSPUM_FERRAZ.pdf>. Acesso em: 03 mai. 2016. 32 FIORI, José Luíz. O poder global e a nova política das nações. Crítica y Emancipación: 157183, primer semestre 2009. GDP ranking. THE WORLD BANK. In: <http://data.worldbank.org/data-catalog/GDPranking-table>. Acesso em: 23 set. 2015. GUIMARÃES, Alexandre Queiroz. O Capitalismo Coordenado Alemão: do boom do pósguerra à Agenda 2010. Lua Nova, São Paulo, 66: 23-56, 2006. In: <http://www.scielo.br/pdf/ln/n66/29083.pdf>. Acesso em: 12 mai. 2016. GULLO, Marcelo. A insubordinação fundadora: Breve história da construção do poder pelas nações. Florianópolis: Insular, 2014. HAGEDORN, Anke. 1922: Assinado Tratado de Repallo. Deutsche Welle, 2014. In: <http://www.dw.com/pt/1922-assinado-tratado-de-rapallo/a-306963>. Acesso em: 02 mai. 2016. HENDERSON, David R. The Concise encyclopedia of Economics German Economic Miracle. Library of economics and liberty. 2008. In: <http://www.econlib.org/library/Enc/GermanEconomicMiracle.html>. Acesso em: 10 mai. 2016. HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: O breve século XX: 1914-1991. Tradução Marcos Santarrita; revisão técnica Maria Célia Paoli. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. HOLLANDA FILHO, Sergio Buarque de. Livre comércio versus protecionismo: uma antiga controvérsia e suas novas feições. Est. Econ., São Paulo, V. 28, n. 1, p. 33-75, Janeiro-Março 1998. HOW did Japan and Germany become global powerhouses after WWII? THE JAPAN TIMES. In: <http://www.japantimes.co.jp/news/2015/08/13/national/history/japan-germanybecome-global-powerhouses-wwii/#.VzJJrvkrLIU>. Acesso em: 11 mai. 2016. JUSTO, Marcelo. O segredo que faz da Alemanha a economia mais sólida do mundo. BBC Mundo. In: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/01/160131_segredo_alemanha_economia_ab >. Acesso em: 14 mai. 2016. KEYNES, John Maynard. As consequências econômicas da paz / John Maynard Keynes; tradução de Sérgio Bath; prefácio Marcelo de Paiva A breu. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2002. (Clássicos IPRI; v. 3). KISSINGER, Henry. Diplomacy. New York: Simon & Schuster, 1994. KITCHEN, Martin. História da Alemanha moderna de 1800 aos dias de hoje. São Paulo: Cultrix, 2013. KLEIN, Caroline Rippe de Mello. Origens do pensamento Ordoliberal: Uma pequena leitura da liberdade. Revista Convergência Crítica, n. 4, 2014. In: <http://www.uff.br/periodicoshumanas/index.php/convergenciacritica/article/view/934>. Acesso em: 07 mai. 2016. KROCKOW, Christian Graf von. Prússia: um balanço; tradução Rósula Kelly Medeiro Almeida Passos. São Paulo: Mackenzie, 2002. LACERDA, Antônio Corrêa... [et al]. Economia brasileira. Org. José Márcio Rego, Rosa Maria Matos; 4.ed. São Paulo: Saraiva, 2010. LERNER, Silvia Rosa Nossek. Ascensão do Nazismo: Considerações Gerais. Associação Cultural B’nai B’rith. Rio de Janeiro: 2009. In: <http://docplayer.com.br/15483677-Jornada- 33 interdisciplinar-2-intolerancia-e-holocausto-na-sala-de-aula-como-estudar-e-ensinar-aoseducadores-7.html>. Acesso em: 03 mai. 2016. LIST, Georg Friederich. Sistema nacional de economia política. 2 ed. São Paulo: Nova Cultura, 1986. MARINHO, Amanda Zacarias. Alemanha reunificada: seu desenvolvimento econômico. Belo Horizonte: UNI-BH, 2010. MATOZO, Horácio Cezar Figueiredo. Alemanha nazista: ascensão e queda de Hitler. IX EPCC – Encontro Internacional de Produção Científica UniCesumar nov. 2015, n. 9, p. 4-8. Maringá, 2015. MAUK, Ben. Did eastern Germany experience na ecconomic miracle? The New Yorkers. In: <http://www.newyorker.com/business/currency/eastern-germany-experience-economicmiracle>. Acesso em 20 mal. 2016. MELO NETO, Gustavo Augusto Schmidt de. Recuperação da Alemanha no pós-guerra. Araraquara: Unesp, 2014. In:<http://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/124324/000830047.pdf?sequence=1&i sAllowed=y>. Acesso em: 03 mai. 2016. MORGENTHAU, H. A política entre as nações. Brasília: Editora da UNB/São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo/IPRI, 2003. MOURO, Ana Luísa Santos Freire. A Alemanha unificada: trave-mestre da Nova Europa ou gigante über alles? O debate na imprensa periódica portuguesa. Revista da Universidade de Aveiro, n. 1 (II. série), 2012, p. 97-129. In: <http://revistas.ua.pt/index.php/rual2/article/view/3060/2839>. Acesso em: 14 mai. 2016. NOGUEIRA, Flávio Schluchebier. O papel dos EUA e da URSS na reconstrução do Estado alemão na República de Weimar. UNIRIO, Rio de Janeiro: 2010. In: <http://www.encontro2010.rj.anpuh.org/resources/anais/8/1273152662_ARQUIVO_Flavio_ NogueiraTrabalhoSimposio.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2016. O engajamento alemão na OSCE. DEUTSCHLAND.de. <https://www.deutschland.de/pt/topic/politica/paz-seguranca/o-engajamento-alemao-naosce>. Acesso em: 14 mai. 2016. In: OLIVEIRA, Amaury Banhos Porto de. A Questão Alemã Desgasta A Pax Americana. In: GUIMARÃES, Samuel Pinheiro (org.). Alemanha: visões brasileiras. Brasília: Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, Fundação Alexandre de Gusmão, 2000. OLIVEIRA, Carlos Alonso Barbosa de. Processo de industrialização do capitalismo originário ao atrasado. São Paulo: UNESP; Campinas, SP: UNICAMP, 2002. OSÓRIO, Luiz Felipe Brandão. A Economia Política do Império Alemão: condição histórica, bancos e cartéis. Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 6. n. 10. Jan-Jun 2011 __________ Alemanha: a fênix da política internacional? Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 5 Nº 8 Jan-Jun 2010. POLÍTICA Ludwig Erhard. Jornal <http://www.jornallivre.com.br/239525/politico-ludwigerhard.html#sthash.5Ij5MwDo.dpuf>. Acesso em: 07 mai.2016. Livre. In: ROLIM, Zionan Euvecio Lins. As três ondas da revolução industrial: agentes econômicos, estrutura de mercado e padrão tecnológico. 2014. In 34 <https://chezeri.files.wordpress.com/2013/05/as-tres-ondas-da-revolucao-industrial.pdf>. Acesso em 28 abr. 2016. ROMER, Karl. A Alemanha de hoje. 3. ed. Lexikothek Verlag, 1981. SBROCCO, Fernando Moreira. A Alemanha no período entre – guerras: um estudo sobre a hiperinflação e a ascensão do Nazismo. Araraquara: Unesp/Araraquara, 2011 SENNHOLZ, Hans F. Como se deu o milagre econômico alemão pós-guerra. Instituto Ludwig von Mises Brasil. In: <http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1419>. Acesso em: 12 mai. 2016. SCHMIDT, Fabian. Mesmo abandonando pesquisa nuclear, Alemanha segue na ativa. Deutsche Welle, mai. 2013. In: <http://www.dw.com/pt/mesmo-abandonando-energianuclear-alemanha-segue-ativa-na-pesquisa/a-16810194>. Acesso em: 20 mai. 2016. SILVA, André Honório Mendes Pheeney. Liderança prussiana na formação do Zollverein. [2012]. 35 f., il. Monografia (Especialização em Relações Internacionais) —Universidade de Brasília, Brasília, 2012. SIMON, Silvana Aline Soares Simon. De Bretton Woods ao Plano Marshall: a Política Externa Norte-americana em relação à Europa (1944-1952). Relações Internacionais no Mundo Atual. V. 2, n. 14, 2011. In: <http://revista.unicuritiba.edu.br/index.php/RIMA/article/view/196/171>. Acesso em: 07 mai. 2016. STREECK, Wolfang. Uma hegemonia fortuita. New Left Review, n 71, Londres, set-out, 2011. In: <http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1872>. Acesso em: 22 mai. 2016. STURMABTEILUNG (AS or Storm Troops). Global Security. In: <http://www.globalsecurity.org/military/world/europe/de-sturmabteilung.htm>. Acesso em: 29 abr. 2016. TREIN, Franklin. A política externa da República Federal da Alemanha e seus atores. Rio de Janeiro, 2007. In: <http://www.cedep.ifch.ufrgs.br/A%20Politica.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2016. VERSETTI, Angel. [et al]. What role did economics play in the Unification of Germany? 2010, p.1. In: <https://www.academia.edu/1951504/Zollverein_the_Economic_Processes_in_the_ Formation_of_the_German_Empire_German_Unification_?auto=download>. Acesso em: 15 abr. 2016. VIEIRA, Clarice Menezes. A formação do Estado e do mercado nacionais alemães: uma perspectiva histórica. Rio de Janeiro: UFRJ/IE, 2006. WALTZ, Kenneth. Teoria das Relações Internacionais. Lisboa: Gradiva Publicações, 2002. WEBER, Friedrich Renê. A Formação do Estado Alemão e a Construção do Sistema Bismarckiano de Alianças: Do Congresso de Viena ao Surgimento de uma Potência Contestadora. Porto Alegre: UFRGS, 2013. In: < https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/96560/000917266.pdf?sequence=1> Acesso em: 10 mar. 2016. WIGHT, Martin A Política do Poder. Prefácio de Henrique Altemani de Oliveira; Trad. C. Sérgio Duarte. 2. Ed. Brasília: Universidade de Brasília, Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2002.