"A todos os amados de Deus, que estais em Roma, chamados para serdes santos, graça a vós outros e paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo." (Romanos 1.7) A Epístola aos Romanos O escritor dessa carta foi o apóstolo Paulo (v. 1.1). Jamais uma voz chegou a ser levantada na igreja primitiva contra a sua autoria. A carta contém várias referências históricas que concordam com fatos conhecidos da vida de Paulo. O conteúdo desse livro é típico de Paulo, o que fica claro ao compará-lo com outras cartas que escreveu. O livro foi provavelmente escrito no começo da primavera de 57 d. C. É muito provável que Paulo estivesse na sua terceira viagem missionária, pronto para voltar a Jerusalém com a oferta para os crentes empobrecidos dessa cidade (v. 15.25-27). Em 15.26 dá-se a entender que Paulo recebera contribuições das igrejas da Macedônia e da Acaia, de modo que estava em Corinto ou já tinha estado ali. Como ainda não tinha estado em Corinto (na sua terceira viagem missionária) quando escreveu 1Coríntios (cf. 1Co 16.1-4) e a questão da coleta ainda não tinha sido resolvida quando escreveu 2Coríntios (2Co 8, 9), a composição de Romanos deve ser posterior à de 1 e 2Coríntios (datadas c. 55 d. C.) O lugar mais provável em que a carta foi redigida é ou Corinto, ou Cencréia (a uma distância de uns 9 km), em virtude das referências a Febe, de Cencréia (16.1), e a Gaio, seu anfitrião (16.23), provavelmente coríntio (v. 1Co 1.14). Erasto (16.23) talvez fosse também coríntio (v. 2Tm 4.20). Os destinatários da carta eram os membros da igreja de Roma (1 .7), predominantemente gentios. Os judeus, no entanto, deviam constituir minoria substancial da congregação (v. 4.1; caps. 9 — 11). Talvez Paulo tenha primeiro enviado toda a carta à igreja de Roma, e depois disto ele, ou outra pessoa, usou uma forma mais breve (caps. 1 — 14 ou 1—15) para uma distribuição mais geral (ver 2Pe 3.15). O tema fundamental de Paulo em Romanos é o evangelho básico: o plano de Deus para a salvação e justificação de todo o gênero humano que reconhece o senhorio de Cristo, judeus e gentios indiferentemente (1.16,17). Embora a justificação pela fé tenha sido apresentada como tema central por alguns, parece que um tema mais amplo corresponderia de forma mais satisfatória à mensagem do livro. A "justiça de Deus" (1.17) compreende a justificação pela fé, mas também abrange idéias correlatas como a culpa, a santificação e a segurança. Paulo tinha vários propósitos ao escrever a carta: 1. Escreveu preparando o caminho para a visita iminente a Roma e para a missão pretendida na Espanha (1.10-15; 15.22-29). 2. Escreveu para apresentar o sistema básico da salvação a uma igreja que nunca antes tivera um apóstolo como doutrinador. 3. Buscava explicar o relacionamento entre judeus e gentios dentro do plano global de redenção traçado por Deus. Os cristãos judeus estavam sendo rejeitados pelo grupo maior de gentios na igreja (14.1) pelo fato de aqueles ainda se sentirem constrangidos a observar as leis alimentares e os dias sagrados (14.2-6). Quando Paulo escreveu a carta, estava provavelmente em Corinto (At 20.2,3) na terceira viagem missionária, como anteriormente mencionado. Seu trabalho no leste do Mediterrâneo estava quase concluído (v. 15.18-23), e desejava ardentemente visitar a igreja romana (v. 1.11,12; 15.23,24). Na ocasião, no entanto, não podia ir até Roma por sentir a necessidade de entregar ele mesmo a coleta arrecadada entre as igrejas gentílicas para os cristãos empobrecidos de Jerusalém (v. 15.25-28). Assim, em vez de seguir viagem para Roma, enviou uma carta preparando os cristãos daquele lugar para sua pretendida visita ali por ocasião de uma missão à Espanha (v. 15.23,24). Por muitos anos, Paulo desejara visitar Roma para ali ministrar (v. 1.13-15), e essa carta servia de introdução teológica ao tão aguardado ministério que queria desempenhar em presença deles. Como não tinha conhecimento direto da igreja de Roma, pouco discorre sobre os problemas nela presentes (v., porém, 14.1 — 15.13; cf. tb. 13.1-7; 16.17,18). Paulo começa com um retrospecto do estado espiritual de toda a humanidade. Conclui que judeus e gentios, igualmente, são pecadores e precisam da salvação. Essa salvação foi outorgada por Deus mediante Jesus Cristo e sua obra de redenção na cruz. A condição prévia, no entanto, é que seja recebida pela fé — princípio pelo qual Deus sempre tem lidado com a raça humana, como mostra o exemplo de Abraão. Como a salvação é apenas o início da experiência cristã, Paulo passa a demonstrar de que modo o crente é liberto do pecado, da lei e da morte — condição possibilitada pela união com Cristo na morte e na ressurreição, e pela presença e poder do Espírito Santo que habita no crente. Paulo, então, mostra que Israel também, embora em atual estado de incredulidade, tem um lugar no soberano plano de redenção traçado por Deus. Agora, Israel consiste em mero remanescente, permitindo a conversão dos gentios, mas virá o tempo em que "todo o Israel será salvo" (11.26). A carta termina com um apelo aos leitores para que ponham em prática a fé cristã, tanto na igreja quanto no mundo. Nenhuma das outras cartas de Paulo declara de modo tão profundo o conteúdo do evangelho e suas implicações tanto para o presente quanto para o futuro. Características especiais: 1. A carta mais sistemática de Paulo. Seu estilo é mais de um esmerado ensaio teológico que de uma carta. 2. Realce dispensado à doutrina cristã. Impressionam a quantidade e a importância dos temas teológicos tratados: o pecado, a salvação, a graça, a fé, a retidão, a justificação, a santificação, a redenção, a morte e a ressurreição. 3. Amplo emprego de citações do AT. Embora Paulo regularmente cite o AT em suas cartas, em Romanos o argumento às vezes depende dessas citações (v. esp, caps. 9 — 11). 4. Solicitude profunda por Israel. Paulo escreve a respeito da condição presente do povo, do seu relacionamento com os gentios e da sua salvação final.