UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE D EPARTAMENTO DE F ÍSICA T EÓRICA E E XPERIMENTAL E DUARDO M OREIRA DAMASCENO D EPOSIÇÃO DE AlN POR S PUTTERING NÃO R EATIVO . D ISSERTAÇÃO DE M ESTRADO NATAL ,RN D EZEMBRO DE 2010 E DUARDO M OREIRA DAMASCENO D EPOSIÇÃO DE AlN POR S PUTTERING NÃO R EATIVO . Trabalho apresentado ao Programa de Pósgraduação em Física do Departamento de Física Teórica e Experimental da UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Física. Orientador: Prof. Dr. Carlos Chesman de Araujo Feitosa NATAL ,RN D EZEMBRO DE 2010 E DUARDO M OREIRA DAMASCENO D EPOSIÇÃO DE AlN POR S PUTTERING NÃO R EATIVO . Trabalho apresentado ao Programa de Pósgraduação em Física do Departamento de Física Teórica e Experimental da UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Física. Data de aprovação: __ /__ /____ BANCA E XAMINADORA Prof. Dr. Carlos Chesman de Araujo Feitosa DEPARTAMENTO DE FÍSICA TEÓRICA E EXPERIMENTAL - UFRN Prof. Dr. Marcio Assolin Corrêa DEPARTAMENTO DE FÍSICA TEÓRICA E EXPERIMENTAL - UFRN Prof. Dr. Sergio André F. Azevedo DEPARTAMENTO DE FÍSICA - UFPB “ À querida e amada Luiza por ser minha única certeza nesse Universo tão estranho.” ii Agradecimentos Agradeço primeiramente ao Prof. Dr. Carlos Chesman de Araujo Feitosa pela orientação durante a realização desse trabalho. Por toda motivação, dedicação, compreensão e principalmente por me abrir as portas do laboratório ensinando-me a ser um pesquisador experimental. Aos meus pais Carlos e Eloisa pelo apoio e confiança desde quando comecei o curso de física e por todo carinho e amor que me deram, sempre. Aos meus irmãos Danilo, Daniel e Daniela por toda união e diversão quando estamos juntos. A minha filha Luiza, a estrelinha que me guia. A Rebeca por todo carinho e compreensão. Aos meus famíliares e em especial aos meus primos Paulo e Renato por todo incentivo e por acreditarem em mim. Ao grande amigo e incentivador o Prof. Dr. Sergio Andre F. Azevedo um referencial em minha vida acadêmica desde os tempos de graduação, sempre lhe serei grato por toda confiança depositada. Ao Prof. Dr. Marcio Assolin por todas dicas e ensinamentos fundamentais durante a realização desse trabalho. Ao Prof. Ilde Guedes, aos colegas José Américo e Manilo, por toda ajuda, tornando possível a realização desse trabalho. Aos Prfs. Drs. Fernando Moraes e Claudio Furtado (UFPB) pelo incentivo em momentos difíceis. A todos os professores e funcionários do departamento de física da UFRN. A todos os colegas e amigos da pós-graduação por todo companheirismo, não só nos momentos divertidos mas, principalmente nos momentos árduos durante toda essa longa trajetória. Agradecimentos especiais aos amigos Macedo, Gabriel, Thompson, Danilo, Bruno e Caio, pela ótima convivência. Aos amigos distantes geograficamente, mas sempre presentes, Alan, Edson, Lula, Matheus e Vamberto. A todos que de alguma forma tornaram essa realização possível. À UFRN, ao CNPq e a CAPES. “ If, in some cataclysm, all scientific knowledge were to be destroyed, and only one sentence passed on to the next generation of creatures, what statement would contain the most information in the fewest words? I believe it is the atomic hypothesis (or atomic fact, or whatever you wish to call it) that all things are made of atoms - little particles that move around in perpetual motion, attracting each other when they are a little distance apart, but repelling upon being squeezed into one another. In that one sentence you will see an enormous amount of information about the world, if just a little imagination and thinking are applied. ” —RICHARD P. FEYNMAN (1918-1988) Figura 1 The scientist iv Resumo Neste trabalho depositamos via magnetron sputtering de rádio-frequência não reativo nanofilmes de nitreto de alumínio (AlN). Os nanofilmes de nitreto de alumínio são materiais semicondutores com alta condutividade térmica, elevado ponto de fusão, piezoeletricidade e largo "bandgap"(6, 2 eV) com estrutura cristalina wurtzítica hexagonal, pertencentes ao grupo de novos materiais denominados nitretos III-V que em conjunto com o nitreto de gálio e o nitreto de índio têm despertado muito interesse por possuírem propriedades físico-químicas relevantes para novas aplicações tecnológicas, principalmente em microeletrônica e dispositivos optoeletrônicos. Foram depositados três grupos de nanofilmes com as espessuras dependêntes do tempo, sobre dois tipos de substratos (vidro e silício) a uma temperatura de 25°C. Os nanofilmes de AlN foram caracterizados usando três técnicas, a difração de raios-X, espectroscopia Raman e microscopia de força atômica (AFM), analisado-se a morfologia desses. Através da análise dos raios-X obtemos a espessura de cada amostra com sua respectiva taxa de deposição. A análise dos raios-X também revelou que os nanofilmes não são cristalinos, evidenciando o caráter amorfo das amostras. Os resultados obtidos através da técnica, microscopia de força atômica (AFM) concordam com os obtidos usando a técnica de raios-X. A caracterização por espectroscopia Raman evidenciou a existência de modos ativos característicos do AlN nas amostras analisadas. Palavras-chave: Sputtering, nanofilmes, nitreto de alumínio. v Abstract In this work we deposit via non-reactive magnetron sputtering of radio-frequency nanofilmes of nitreto of aluminum(AlN). The nanofilms aluminum nitride are semiconductors materials with high thermal conductivity, high melting point, piezoelectricity and wide band gap (6, 2 eV) with hexagonal wurtzite crystal structure, belonging to the group of new materials called III-V nitrides in which together with the gallium nitride and indium nitride have attracted much interest because they have physical and chemical properties relevant to new technological applications, mainly in microelectronic and optoelectronic devices. Three groups were deposited with thicknesses nanofilms time dependent on two substrates (glass and silicon) at a temperature of 25 ° C. The nanofilms AlN were characterized using three techniques, X-ray diffraction, Raman spectroscopy and atomic force microscopy (AFM), examined the morphology of these. Through the analysis of X-rays get the thickness of each sample with its corresponding deposition rate. The analysis of X-rays also revealed that nanofilms are not crystalline, showing the amorphous character of the samples. The results obtained by the technique, atomic force microscopy (AFM) agree with those obtained using the technique of X-rays. Characterization by Raman spectroscopy revealed the existence of active modes characteristic of AlN in the samples. Keywords: Sputtering, nanofilms, aluminum nitride. vi Sumário Resumo iv Abstract v Lista de Figuras viii Lista de Tabelas xi 1 Abordagem Teórica do Sputtering 1 1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1.2 Técnicas de Deposição de Filmes Nanométricos . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 1.2.1 Deposição Química de Vapor (CVD) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 1.2.2 Deposição Física de Vapor (PVD) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 1.2.3 Sputtering . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 Introdução a Física do Sputtering e Plasma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 1.3.1 A Física do Sputtering . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 1.3.2 Rendimento em Função da Energia do Íon Incidente . . . . . . . . . . 8 1.3.3 Rendimento em Função da Dependência Angular . . . . . . . . . . . . 9 1.3.4 Plasma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 Comportamento da Voltagem em Função da Corrente . . . . . . . . . . . . . . 11 1.4.1 Descarga Townsend . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 1.4.2 Descarga Normal e Abnormal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 1.4.3 Região da Descarga Abnormal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 1.5 Magnetron Sputtering . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 1.6 Sputtering de Rádio-frequência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 1.7 Deposição e Nucleação de Filmes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 1.3 1.4 2 Materiais e Métodos 20 2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 2.2 O Alumínio (Al) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 2.3 O Nitrogênio (N) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 2.4 O Nitreto de Alumínio (AlN) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 2.5 Mecanismo de Deposição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 SUMÁRIO 2.5.1 2.6 3 O Sistema Rapier/Orion AJA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 Preparação dos Nanofilmes de AlN . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 Técnicas de Caracterização dos Filmes 33 3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 3.2 Difração de Raios-X . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 3.2.1 Contextualização Histórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 3.2.2 Geração e emissão de Raios-X . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 3.2.3 Equação de Bragg para Difração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 3.2.4 Difração de Raios-X . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 Espectroscopia Raman . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 3.3.1 Contextualização Histórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 3.3.2 Espectroscopia Ótica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 3.3.3 As Regiões do Espectro Eletromagnético . . . . . . . . . . . . . . . . 45 3.3.4 O Efeito Ramam . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 3.3.5 A Espectroscopia Raman . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 3.3.6 Vibrações em Sólidos Cristalinos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 Microscopia de Força atômica (AFM) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 3.3 3.4 4 vii Resultados 56 4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 4.2 Difração por Raios-X . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 4.2.1 Difratogramas da Alvo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 4.2.2 Parâmetros de deposição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 4.2.3 Difratogramas dos Nanofilmes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 4.2.4 Difratogramas dos Nanofilmes a Baixos Ângulos . . . . . . . . . . . . 61 4.3 Microscopia de Força Atômica (AFM) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 4.4 Espectroscopia Raman . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65 4.4.1 Espectro Raman do Alvo e Modos de Vibração . . . . . . . . . . . . . 65 4.4.2 Espectro Raman das Amostras AlN . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 Considerações Finais e Perspectivas 69 A Tabela Periódica 70 Referências Bibliográficas 72 viii Lista de Figuras 1 The scientist . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.1 Esquema do aparato utilizado por Grove em 1852. Identificamos na ilustração iii a bateria A, um transformador B e a câmara evacuada onde ocorria a deposição C [4]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2 2 Fenômenos que ocorrem durante a interação entre os íons incidentes e a superfície do alvo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 1.3 Esquema de sputtering DC [10]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 1.4 Rendimento sputtering para o cobre em função das energias dos íons de gases nobres [4]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.5 Dependência do rendimento do sputtering em função do ângulo de incidência do íon em relação a normal à superfície do alvo [5]. . . . . . . . . . . . . . . . 1.6 9 9 Lâmpada de plasma, essencialmente constituída por uma esfera de vidro com gás a baixa pressão e um eletrodo central a alta voltagem. As cores são resultado do decaimento dos elétrons excitados para níveis mais baixos de energia, depois de terem se recombinado com os íons. Nesse processo, há emissão de luz no espectro característico do gás que está sendo excitado [14]. . . . . . . . . . . . 1.7 10 Plasma de argônio no interior da máquina de plasma quiescente do LAP. Ímãs permanentes são colocados em volta da parede interna da câmara de vácuo, produzindo um campo magnético de confinamento por cúspides multipolares. Pode-se ver claramente que os elétrons de alta energia seguem as linhas de campo magnético. O objeto fino e escuro no meio do plasma é uma sonda eletrostática [15]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.8 Plasma obtido durante a deposição dos nanofilmes de AlN apresentados nesse trabalho. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.9 10 12 Curva voltagem-corrente para uma descarga elétrica em um gás a baixa pressão [16]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 1.10 Comportamento luminoso de uma descarga elétrica em gases [1]. . . . . . . . . 13 1.11 Regiões luminescentes do plasma, características de tensão e cargas para uma descarga DC abnormal [16]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 1.12 Esquema de magnetron sputtering. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 LISTA DE FIGURAS ix 1.13 Nucleação e crescimento dos filmes durante a condensação heterogênea [21]. . 18 1.14 Esquema do processo de crescimento de um filme [23]. . . . . . . . . . . . . . 19 2.1 Localização do Alumínio na tabela períodica [26]. . . . . . . . . . . . . . . . . 21 2.2 Localização do nitrogênio na tabela períodica [30]. . . . . . . . . . . . . . . . 23 2.3 Em a) um átomo de Al cercado por quatro átomos de N, formando um tetraedro distorcido. Em b) a célula unitária do AlN, formando uma estrutura wurtzítica hexagonal [30]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 2.4 Visão interna da câmara de deposição. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 2.5 Equipamento de sputtering Rapier/Orion sputtering system da AJA. . . . . . . 28 2.6 À esquerda, bomba mecânica de baixo vácuo Alcatel Vacuum Technology, série 2005 SD de dois estágios. À direita, bomba turbomolecular de alto vácuo Pfeiffer Vacuum TMU 071P . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.1 29 Equipamentos utilizados por Röntgen. Em (a), o primeiro equipamento de raiox produzido no laboratório de Röntgen, e em (b) os equipamentos originais do seu laboratório [38]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 3.2 Padrão de difração de raios-X como obtido por Laue e colaboradores [41]. . . . 35 3.3 Espectro de emissão de raios-X produzido quando se utiliza o metal Molibdênio como alvo numa ampola de raios-X, funcionando a 35kV [43]. . . . . . . . . . 36 3.4 Processo de geração de raios-X no interior de um átomo [42]. . . . . . . . . . . 37 3.5 Localização dos raios-X no espectro eletromagnético [44]. . . . . . . . . . . . 38 3.6 Ilustração do efeito Bremsstrahlung [42]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 3.7 Esquema de difração dos raios-X [42]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 3.8 Padrão de difração (difratograma) de pó do NaCl [40]. . . . . . . . . . . . . . 41 3.9 Ilustração esquemática de um difratômetro de raios-X, T(fonte), S(amostra), C(detector) e O(eixo ao redor do qual giram a amostra e o detector) [45]. . . . . 43 3.10 Aparato utilizado por Raman [48]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 3.11 Espectro eletromagnético [52]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 3.12 Diagramas de níveis de eneregia para os efeitos Stokes e anti-Sotkes. . . . . . . 48 3.13 Os efeitos Stokes e anti-Sotkes em um espectro Raman. . . . . . . . . . . . . . 49 3.14 Polarização induzida em uma molécula por campo elétrico. A radiação espalhada pode estar em vários sentidos, na figura são mostrados em 90° e 180º [57]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 3.15 CCD (charge-coupled device) ou Dispositivo de Carga Acoplada, especialmente desenvolvido para uso na obtenção de imagens no ultravioleta [58]. . . . . . . . 51 3.16 Diagrama típico de um equipamento necessário para a obtenção de um espectro Raman [60]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52 LISTA DE FIGURAS x 3.17 Espectro Raman ressonante do vapor de iodo, excitação 514 nm, mostrando a banda fundamental (215 cm−1 ) e algumas das harmônicas [62]. . . . . . . . . . 53 3.18 Representação esquemática do conjunto haste-sonda-amostra. No detalhe, a sonda e suas dimensões nanométricas. [68]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 3.19 O potencial de Lennard-Jones. Na área abaixo da linha de força nula, as forças são atrativas. Acima desta linha, as forças são repulsivas [68]. . . . . . . . . . 4.1 Difratograma do alvo de nitreto de aluminio usado em nossas deposições, onde os gráficos (a) e (b) indicam os dois lados do nosso alvo. . . . . . . . . . . . . 4.2 55 57 Difratogramas, em (a) pó de nitreto de alumínio comercial [69], em (b) um dos lados do alvo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 4.3 Difratogramas das amostras depositadas em vidro e silício. . . . . . . . . . . . . . . 60 4.4 Difração de raio-X baixo ângulo para calibração da taxa de deposição. Gráfico (a) picos a baixo ângulo obtidos para a amostra AlN no vidro a 5 horas, gráfico (b) vetor de espalhamento q versus o índice dos picos de Bragg, ajustado linearmente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.5 61 Difratogramas a baixos ângulos e ajustes lineares. Onde temos em (a) AlN sobre silício depositado durante 3 horas e em (b) AlN sobre vidro depositado durante 5 horas. 4.6 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 Difratogramas a baixos ângulos obtidos em Santa Maria, onde temos em (a) AlN sobre silício depositado durante 3 horas e em (b) AlN sobre vidro depositado durante 5 horas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.7 Difratograma a baixo ângulo para o nitreto de alumínio sobre o vidro depositado durante 10 horas, difratogrma (UFSM-LMMM). . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.8 63 63 Espectrômetro T64000 da Jobin Yvon-SPEX, Division d’Instruments S.A. com seu sistema de micro-análise. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65 Espectro Raman para o nitreto de alumínio puro. . . . . . . . . . . . . . . . . 66 4.10 Espectro Raman para as amostras do nitreto de alumínio. . . . . . . . . . . . . 67 A.1 Tabela Periódica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 A.2 Dados Referentes ao Nitreto de Alumínio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 4.9 xi Lista de Tabelas 1.1 Rendimento de sputtering para alguns elementos a 500 eV [4]. . . . . . . . . . 1.2 Relação entre pressão e livre caminho médio usando-se magnetron sputtering [4]. 8 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 2.1 Propriedades alumínio [28]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 2.2 Propriedades nitrogênio [31]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 2.3 Ambientes de vácuo e suas respectivas pressões [1]. 29 3.1 Valores aproximados de comprimentos de onda, frequência e energia para algu- . . . . . . . . . . . . . . mas regiões do espectro eletromagnético [51]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 4.1 Parâmetros envolvidos na deposição dos nanofilmes. . . . . . . . . . . . . . . 59 4.2 Espessuras e taxas de deposições, obtidos por raios-x a baixos ângulos. 64 4.3 Espessuras e taxas de deposições, obtidos por microscopia de força atômica. 4.4 . 64 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 Valores experimentais e [71]. . . . . teóricos∗ obtidos para os modos ativos Raman em AlN 1 C APÍTULO 1 Abordagem Teórica do Sputtering “Toda a nossa ciência, comparada com a realidade, é primitiva e infantil- e no entanto, é a coisa mais preciosa que temos.” —ALBERT EINSTEIN(1879 − 1955) 1.1 Introdução Muitos materiais empregados em dispositivos eletrônicos são fabricados em forma de filmes finos (nanofilmes). Os nanofilmes são depositados em um substrato por evaporação térmica, decomposição química, ou evaporação de matérias-primas pela irradiação de espécies energéticas ou fótons. Os filmes são feitos com metais, isolantes, semicondutores ou supercondutores, dependendo da aplicação desejada. Dentre os vários métodos de obtenção de nanofilmes, os que usam a técnica de sputtering1 , despertam grande interesse devido às características adquiridas pelos filmes depositados [1]. O efeito sputtering foi reportado à primeira vez há quase dois séculos atrás. Em 1852, Sir William Robert Grove (1811 − 1896) apresentou um trabalho que previa a primeira observação registrada de "sputtering", na "Philosophical Transactions" da Royal Society em Londres [2]. Embora outros pesquisadores tivessem observado o efeito, foi Grove o primeiro a estudar o que ficou conhecido como “sputtering” enquanto pesquisava descargas luminescentes [3]. Grove observou que havia deposição de um material, quando ligava seu aparato que consistia, aproximadamente, em um circuito formado por uma ponta de fio mantido próximo a uma superfície altamente polida de prata, que eram seus eletrodos, na presença de gases reagentes sob uma pressão de 0,5 Torr. Ele observou também o desaparecimento da deposição quando a 1 Como ainda não há consenso entre os pesquisadores quanto à tradução de algumas palavras de ori- gem inglesa, elas aparecerão no texto em inglês com caracteres em modo itálico seguidas da sua tradução, entre parênteses, mais aceita para o português. A palavra supttering, no entanto, será utilizada como tal no texto em português, pois as traduções “pulverização” e “desbaste”, não guardam o sentido original da expressão além dessa ser a maneira como ela é utilizada corretamente no meio científico. 1.2 TÉCNICAS DE DEPOSIÇÃO DE FILMES NANOMÉTRICOS 2 polaridade dos eletrodos era invertida [3]. O esquema do aparato utilizado por Grove em 1852 está representado na Figura 1.1. Figura 1.1 Esquema do aparato utilizado por Grove em 1852. Identificamos na ilustração a bateria A, um transformador B e a câmara evacuada onde ocorria a deposição C [4]. Neste capítulo discutiremos algumas técnicas de deposição de nanofilmes, os processos de sputtering, plasma e nucleação. 1.2 Técnicas de Deposição de Filmes Nanométricos Atualmente há uma enorme variedade de processos para deposição de filmes nanométricos (espessuras < 100 nm). Essa grande variedade dar-se, não só pelo avanço tecnológico, como também pela grande aplicabilidade desses compostos, tais como em microeletrônica, óptica e nanotecnologia. As tecnologias de deposição dessas nanoestruturas são basicamente agrupadas em puramente físicos tais como os métodos de evaporação, puramente químicos ou métodos físicoquímicos como o sputtering reativo [5]. As técnicas (PVD) Physical Vapour Deposition (deposição física de vapor), e (CVD) Chemical Vapour Deposition (deposição química de vapor), são os métodos mais comuns para a transferência de materiais, átomo por átomo, de uma ou mais fontes de crescimento de filmes a serem depositados na superfície de um substrato [6]. Se o material depositado é produto de uma reação química, o processo é classificado como CDV, se o transporte dos vapores a partir da fonte geradora até o substrato é feito por meios físicos, sob um ambiente de vácuo, o processo é do tipo PDV. É importante ressaltar que essas técnicas não competem entre si, mas complementam-se na tentativa de equilibrar as vantagens e desvantagens de cada uma. Na próxima seção será descrito de forma resumida as principais características desses métodos. 1.2 TÉCNICAS DE DEPOSIÇÃO DE FILMES NANOMÉTRICOS 1.2.1 3 Deposição Química de Vapor (CVD) CVD ou deposição química a vapor é uma importante técnica para síntese de nanofilmes. Com a técnica de CVD é possível fazer deposição de metais, elementos não metálicos e ainda grande quantidade de compostos como carbonetos, nitretos, óxidos, compostos intermetálicos, entre outros. Essa tecnologia é fator essencial, por exemplo, para a indústria de semicondutores, componentes eletrônicos, optoeletrônicos, foto-senssíveis e de revestimentos [7]. De modo geral, a formação de filmes por esse processo pode ser definida pela deposição atômica ou molecular (ou combinação desses) do filme em uma superfície aquecida, sendo que o filme depositado é oriundo de uma reação química, onde os precursores (átomos ou moleculas que formão o filme) estão na fase de vapor [5]. A morfologia do filme depositado é fortemente influenciada pela natureza da reação química e pelo mecanismo de ativação. Os principais mecanismos de ativação das reações químicas são: aplicação de luz, calor, campos de radio-frequência, raios-X, arcos voltaicos dentre outros. Entre as principais vantagens da técnica estão: • Proporcionam altas taxas de deposição de filme; • Os equipamentos utilizados para CVD não requerem ultra-vácuo e são bastante versáteis; • Há possibilidade na mudança de composição durante a deposição e a co-deposição de elementos ou compostos. Entretanto, as principais desvantagens são: • Altas temperaturas são requeridas para manter o processo de forma eficiente; • Os gases reativos, e os produtos voláteis presentes nos processos são, na maioria dos casos, altamente tóxicos, explosivos ou corrosivos; • O controle da uniformidade dos filmes depositados é na maioria das vezes difícil. 1.2 TÉCNICAS DE DEPOSIÇÃO DE FILMES NANOMÉTRICOS 1.2.2 4 Deposição Física de Vapor (PVD) Nessa técnica, os filmes são depositados num substrato, em unidades atômicas ou moleculares, simplesmente pelo processo da condensação. Por meio de processos físicos, tais como a evaporação, sublimação ou choque iônico em um alvo, átomos ou moléculas são transferidos da fonte para o substrato onde se depositam. Sputtering e evaporação são os dois métodos mais utilizados por essa técnica para depositar filmes. Dentro das técnicas de evaporação podemos citar a evaporação a vácuo, a electron beam, a molecular beam epitaxy (MBE) [8]. 1.2.3 Sputtering Sputtering é um método de deposição a vácuo, classificado como um método de deposição via fase de vapor (PVD). Nesse processo, os átomos do material são arrancados da superfície de um alvo por íons de alta energia gerados por um plasma contido numa câmara a vácuo. O processo de ejeção do material é conhecido como sputtering, e ocorre como resultado da transferência de momentum entre os íons incidentes e os átomos do material bombardeado, ver Figura 1.2. As características mais importantes do processo são: Figura 1.2 Fenômenos que ocorrem durante a interação entre os íons incidentes e a superfície do alvo. • O sputtering yield (redimento do sputtring) e as correspondentes taxas de deposição não são muito diferentes para metais, isolantes e compostos. Isto torna o processo interessante para deposição de compostos em multicamadas; 1.2 TÉCNICAS DE DEPOSIÇÃO DE FILMES NANOMÉTRICOS 5 • A espessura dos filmes é de modo geral, facilmente controlada. As taxas de deposição são extremamentes repetitivas, apenas é preciso ajustar o tempo de deposição, mantendo os demais parâmetros constantes; • Em deposições tipo sputtering não existe ejeção de grandes aglomerados como acontece, por exemplo, na evaporção térmica, responsáveis pela falta de uniformidade na espessura dos filmes; • Os substratos podem ser limpos antes da deposição por sputtring reverso ou, até mesmo, sofrerem tratamentos de passivação por plasma. Obturadores podem cobrir os alvos para processos de limpeza pré-sputtering que visam remover impurezas da superficie do alvo e também conseguir condições de equílibrio entre o plasma e a temperatura; • O plasma pode ser manipulado por campos magnéticos para aumentar a taxa de deposição, melhorar a uniformidade e manter elétrons muito energéticos longe do substrato evitando maiores aquecimentos; • Os alvos mesmo com espessuras da ordem de milímetros, são usados para um grande número de deposições; • A técnica propicia a deposição de filmes com aderência excepcional. Existem também desvantagens, uma das principais desvantagens do processo é o desprendimento de muita energia durante sua realização que, de certa forma, é um fator limitante nas taxas de variação do processo, as taxas de deposição são relativamente baixas, de 5 a 300 nm/mim. Há também, durante o processo um aquecimento considerável do porta-substrato devido ao choque continuo de elétrons energéticos. A fim de se evitar o aumento excessivo da temperatura, costuma-se refrigerar, com água, os eletrodos [1]. Como mencionado no texto acima, existem vários tipos de equipamentos de sputtering que diferem um do outro, basicamente na forma como se obtêm o plasma. Entre esses equipamentos que usam o plasma podemos citar, como os mais comuns, o de sputtering convencional ou do tipo DC (corrente contínua), RF (rádio-frequência), magnetron ou reativo, dependendo da geometria do sistema alvo-substrato e do modo de transporte dos íons. 6 1.3 INTRODUÇÃO A FÍSICA DO SPUTTERING E PLASMA 1.3 1.3.1 Introdução a Física do Sputtering e Plasma A Física do Sputtering Como mencionado na seção precedente, o fenômeno do sputtering encontra-se nas interações entre os íons positivos, gerados por uma descarga elétrica, no gás inerte contido em uma câmera a baixa pressão. O processo de ejeção do material é o que consiste essencialmente no fenômeno de sputtering, e ocorre como resultado da transferência de momentum entre os íons incidentes e os átomos do material atingido. Os átomos ou moléculas ejetados em direções aleatórias percorrem, inclusive, o espaço existente entre o alvo e o substrato, onde se depositam, formando o filme [9]. Devido aos choques dos íons positivos incidentes no alvo, vários fenômenos podem ocorrer, dependendo da energia do íon até o momento da colisão, tais como: • Ao se chocar com o alvo, os íons podem sofrer reflexões, provavelmente sendo neutralizados no processo; • O impacto pode gerar a ejeção de elétrons secundários que auxiliam na manutenção da descarga gasosa (plasma); • Alguns íons incidentes podem implantar-se no alvo; • Alguns íons incidentes podem chocar-se com átomos do alvo e através da transferência de momentum, desencadear uma série de colisões entre os átomos do alvo, levando a ejeção de alguns desses. O rendimento do sputtering, ou seja, a eficiência da extração de átomos por íons incidentes é caracterizada por um parâmetro denominado yield sputtering (Y) (rendimento do sputtering), sendo denotado pela razão: Número de átomos ejetados Número de íons incidentes Esse processo está relacionado basicamente com: Y= • A energia, a natureza e o ângulo de incidência dos íons; • A massa dos íons incidentes; • A natureza cristalina e a composição química do material que é constituído o alvo. (1.1) 1.3 INTRODUÇÃO A FÍSICA DO SPUTTERING E PLASMA 7 Figura 1.3 Esquema de sputtering DC [10]. O rendimento do processo, pode ser expresso em função da energia do íon incidente (E), da massa atômica dos íons e da massa atômica dos átomos que compõe o alvo [11], como expresso nas equações 1.2 e 1.3. Estes resultados não possuem um desenvolvimento trivial. I PARA ÍONS COM ENERGIA E ≤ 1 keV, TEMOS PARA O RENDIMENTO : Y (E) = 3α mi ma E 2 2 π (mi + ma ) Uo (1.2) Onde: * Y(E) é o rendimento do sputtering; * mi é a massa do íon incidente; * ma é a massa dos átomos do alvo; * E é a energia cinética dos íons incidentes; * Uo é a energia das ligações dos átomos do alvo; * α está relacionada com a razão ma / mi . I PARA ÍONS COM ENERGIA E > 1 keV, TEMOS PARA O RENDIMENTO : Y (E) = 3.56α Zi + Za 2 3 2 3 Zi + Za mi Sn (E) (mi + ma ) Uo Onde: * Zi é o número atómico dos íons; * Za é o número atómico dos átomos que compõem o alvo; (1.3) 1.3 INTRODUÇÃO A FÍSICA DO SPUTTERING E PLASMA Elemento He Ne Ar Kr Alumínio 0.16 0.73 1.05 0.96 0.82 Silício 0.13 0.48 0.50 0.50 0.42 Titânio 0.07 0.43 0.51 0.48 0.43 Cobre 0.24 1.80 2.35 2.35 2.35 Zircônio 0.02 0.38 0.65 0.51 0.58 8 Xe Tabela 1.1 Rendimento de sputtering para alguns elementos a 500 eV [4]. * Sn (E) conhecido como stopping power é o valor médio da perda de energia por unidade de comprimento. O rendimento é influenciado por vários fatores dependentes tanto do íon quanto do material bombardeado. A retirada de material do alvo depende da massa do íon incidente, do tipo de ligação e estrutura do material. Alguns valores de sputtering para íons com energia de 500 eV para alvos diferentes sobre diferentes atmosferas encontra-se na Tabela 4.1. Uma rápida análise na Tabela 4.1 fundamenta uma das razões do argônio ser o gás nobre mais utilizado em atmosferas de sputtering, pois o argônio apresenta rendimento bem maior que os outros gases, além de possuir um custo menor que o neônio, o cripitônio e o xenônio. 1.3.2 Rendimento em Função da Energia do Íon Incidente Quanto a variação do rendimento em função da energia do íon incidente, temos que, para baixos valores de energias do íon incidente, o sputtering terá rendimento nulo, pois essa energia não será suficiente para romper a energia de ligação dos átomos que constituem o alvo. A energia de limiar (Et ), específica para cada material, pode ser entendida como a energia cinética mínima, fornecida aos átomos que formam a rede cristalina do alvo, para que estes possam se deslocar e, possivelmente, serem ejetados do alvo. A partir desse valor o rendimento sofre um aumento praticamente exponencial até atingir um máximo. A partir desse limite máximo o rendimento começa novamente a decrescer como o aumento da energia, pois devido a colisão ser muito energética os íons se implantam no alvo. O rendimento depende diretamente da massa dos íons incidentes, como podemos observar na Figura 1.4 para uma mesma energia, o rendimento do processo cresce com a massa do íon [12]. 1.3 INTRODUÇÃO A FÍSICA DO SPUTTERING E PLASMA 9 Figura 1.4 Rendimento sputtering para o cobre em função das energias dos íons de gases nobres [4]. 1.3.3 Rendimento em Função da Dependência Angular Em relação a dependência angular (ângulo de incidência do íon), podemos observar de acordo com a Figura 1.5, que o rendimento aumenta proporcional ao aumento do ângulo de incidência dos íons em relação a normal à superfície do alvo . Isso pode ser explicado pelo fato de que, quanto menor a mudança direcional requerida no momento, mais eficiente será o choque, resultando na ejeção dos átomos do alvo. Observando a Figura 1.5, temos uma faixa de máxima eficiência do rendimento entre os ângulos de 45° a 60°, para ângulos maiores, esse rendimento decresce, favorecendo o fenômeno de reflexão. Figura 1.5 Dependência do rendimento do sputtering em função do ângulo de incidência do íon em relação a normal à superfície do alvo [5]. 1.3 INTRODUÇÃO A FÍSICA DO SPUTTERING E PLASMA 1.3.4 10 Plasma Aplicando-se uma diferença de potencial entre dois eletrodos, na presença de um gás a baixa pressão, obtém-se uma descarga luminosa de corrente contínua. Elétrons originários de uma emissão termiônica do catodo ou mesmo raios cósmicos, ao atravessarem o campo elétrico entre os eletrodos darão início ao processo de ionização do gás, gerando o plasma. Além do fenômeno de ionização, ocorrem outros fenômenos como excitação, relaxação e recombinação simultaneamente durante o processo de descarga, ver Figuras 1.6 e 1.7. Assim, no caso da deposição via sputtering, os íons positivos do plasma acelerados pelo campo elétrico, incidem sobre a superfície do catodo com energia suficiente para a ocorrência de diversos fenômenos, tais como: aquecimento da superfície do catodo, ejeção de átomos, fótons e elétrons, entre outros [13]. Esses fenômenos são aproveitados em diversas aplicações da engenharia. O plasma utilizado na maioria das técnicas de engenharia apresenta apenas uma pequena fração de átomos ionizados, sendo que a grande maioria dos átomos permanecem em estado neutro. Cerca de um íon para cada 10.000 átomos de gás [4]. Na física, este plasma é denominado plasma frio ou descarga luminescente. Figura 1.6 Lâmpada de plasma, essencial- Figura 1.7 Plasma de argônio no interior da mente constituída por uma esfera de vidro máquina de plasma quiescente do LAP. Ímãs com gás a baixa pressão e um eletrodo cen- permanentes são colocados em volta da parede tral a alta voltagem. As cores são resultado do interna da câmara de vácuo, produzindo um decaimento dos elétrons excitados para níveis campo magnético de confinamento por cúspi- mais baixos de energia, depois de terem se re- des multipolares. Pode-se ver claramente que combinado com os íons. Nesse processo, há os elétrons de alta energia seguem as linhas de emissão de luz no espectro característico do campo magnético. O objeto fino e escuro no gás que está sendo excitado [14]. meio do plasma é uma sonda eletrostática [15]. 1.4 COMPORTAMENTO DA VOLTAGEM EM FUNÇÃO DA CORRENTE 11 Em seu volume total, o plasma é eletricamente neutro. Nele coexistem, íons, elétrons e átomos neutros. Devido a essa composição, o plasma tem um comportamento peculiar quanto a sua composição de cargas, polaridade e temperatura. Como os íons apresentam massa muito superior aos elétrons, esses mais leves, respondem melhor a mudanças no campo elétrico, sendo ditos como portadores efetivos de carga. Desse modo, o plasma tem a capacidade de responder a mudanças locais de potencial muito rapidamente, sendo quase neutro externamente, mesmo tendo a capacidade de conduzir energia elétrica. As cargas presentes tendem a rearranjar o potencial existente no plasma. Deste modo, a região positiva próximo ao catodo fica concentrada em cargas negativas. Os elétrons se acumulam nesta região para anular o campo elétrico. No restante do espaço, o plasma apresenta uma diferença de potencial próximo de zero [1]. A voltagem de ruptura é definida como a voltagem mínima necessária para o estabelecimento de uma descarga elétrica, onde tanto a pressão quanto a distância entre os eletrodos afetam essa voltagem. Para distâncias muito pequenas, ou pressões muito altas, elétrons e íons não são acelerados o suficiente para provocar ionizações. O processo de ionização começa logo depois de aplicada a diferença de potencial entre os eletrodos, geralmente utiliza-se algum tipo de gás nobre para a ionização, sendo o argônio o gás mais utilizado. Ao colidir com um átomo do gás, o elétron gera um íon e um novo elétron devido ao campo elétrico. Esse íon é acelerado em direção ao catodo e os dois elétrons em direção ao anodo. Se o elétron percorrer uma distância suficiente para adquirir energia cinética, por meio da aceleração do campo, ele poderá mais uma vez ionizar o gás. As reações para formações de ions (Ar+ ) e espécies excitadas (Ar∗ ) de um átomo de argônio são: e− + Ar→ Ar+ + 2e− (1.4) e− + Ar→ Ar∗ + e− (1.5) Assim, devido à aceleração gerada pelo campo elétrico, os íons atingem o catodo e, dependendo de sua energia cinética no choque contra o alvo, podem, nessa colisão, emitir elétrons secundários entre muitos outros processos. Esses elétrons secundários podem, ser acelerados na direção do anodo e gerarem novas reações, provocando um efeito em cadeia, estabelecendo uma descarga estável e mantendo o plasma. 1.4 Comportamento da Voltagem em Função da Corrente Uma vez estabelecida, a descarga continua a apresentar diferentes estados em função da tensão, como pode ser observado na Figura 1.9. 1.4 COMPORTAMENTO DA VOLTAGEM EM FUNÇÃO DA CORRENTE 12 Figura 1.8 Plasma obtido durante a deposição dos nanofilmes de AlN apresentados nesse trabalho. Figura 1.9 Curva voltagem-corrente para uma descarga elétrica em um gás a baixa pressão [16]. 1.4.1 Descarga Townsend Como relatado na seção anterior, quando uma voltagem é aplicada nos terminais da câmara, flui pelo sistema uma corrente muito pequena devido à presença dos poucos íons e elétrons gerados por uma variedade de processos. Aumentando-se a voltagem uma energia suficiente é fornecida aos íons e elétrons constituintes do gás, nesse ponto, principalmente os íons positivos, iniciam o processo de produção de elétrons secundários devido as colisões com os átomos que compõe o alvo. Esses elétrons também ionizam o gás através de choques com os átomos neutros presentes na câmara, produzindo mais elétrons que, por sua vez, produzem mais íons, resultando numa avalanche de íons e elétrons. Este processo de criação de carga se torna tão efetivo, que o fluxo de partículas e a corrente aumenta abruptamente, essa região de descarga é denominada "descarga Townsend". 1.4 COMPORTAMENTO DA VOLTAGEM EM FUNÇÃO DA CORRENTE 1.4.2 13 Descarga Normal e Abnormal Quando o número de elétrons é suficiente para gerar íons que regenerem o mesmo número de elétrons, a descarga se auto-sustenta. Nesta fase, ocorre uma queda na voltagem com um aumento brusco da corrente e da luminescência da descarga gasosa. Assim, a voltagem diminui até um limiar mínimo, é esta pequena região de voltagem constante e de aumento da intensidade da corrente, que é denominada região de "descarga normal". Quando o catodo torna-se totalmente coberto pela luminescência, um aumento na voltagem aplicada ou aumento na pressão do gás gera um aumento proporcional na corrente. O comportamento do plasma nessa região é ôhmico. Esse regime de descarga é denominado de descarga "abnormal ou anormal". É essa região que, normalmente, é utilizada no processo de sputtering. Como também na maioria dos processos que utilizam descarga gasosa, principalmente porque, nela as correntes e voltagens são relativamente altas e toda área do catodo recebe corrente o que proporciona deposições mais uniformes, ver Figura 1.10. Figura 1.10 Comportamento luminoso de uma descarga elétrica em gases [1]. Com o aumento da corrente a região abnormal é ultrapassada, esse aumento da corrente provoca o aparecimento de arcos voltaícos, com uma queda abrupta na voltagem. Esse regime é caracterizado por uma corrente mais elevada e uma diferença de potencial muito mais baixa que a descarga na região luminosa. Devido à elevada corrente e o alto fluxo de calor, esse regime requer cuidados especiais para os eletrodos, esse efeito de aquecimento provocado pela corrente é amplamente utilizado na engenharia em processos como soldagem. 1.4.3 Região da Descarga Abnormal A descarga luminescente de corrente contínua também é caracterizada por regiões luminosas e escuras. A Figura 1.11, mostra a arquitetura clássica de uma região de luminosidade DC 1.4 COMPORTAMENTO DA VOLTAGEM EM FUNÇÃO DA CORRENTE 14 constituída de bainha do catodo, espaço escuro do catodo, descarga luminescente negativa, espaço escuro de Faraday e coluna positiva. A bainha catódica é uma faixa luminosa que envolve toda região próxima ao catodo, nela a radiação é emitida devido aos processos de excitação e neutralização dos íons juntos a superfície do catodo. Essa região tem densidade de carga predominantemente negativa, devido a mobilidade dos elétrons e pelo surgimento de elétrons secundários, oriundos dos choques entre os íons acelerados e o catodo. A próxima região em frente do catodo é escura, nela está praticamente toda a diferença de potencial da descarga. Essa região é responsável pela grande aceleração dos íons em direção ao catodo. Devido a aceleração do campo elétrico os elétrons secundários ganham energia cinética nessa região, percorrendo uma distância correspondente ao seu livre caminho médio, adquirindo energia para ionizar os íons dos átomos do gás. Essa região também é conhecida como "espaço escuro de Crookes". Figura 1.11 Regiões luminescentes do plasma, características de tensão e cargas para uma descarga DC abnormal [16]. 1.5 MAGNETRON SPUTTERING 15 Logo após o espaço escuro de Crookes, está a região de luminosidade intensa também conhecida como região de luminosidade negativa. Essa região é a mais brilhante de toda descarga. Nessa região, de brilho intenso, os elétrons perdem praticamente toda sua energia através de colisões e são acelerados novamente em direção ao anodo. Como consequência, no espaço subseqüente, a descarga luminosa dar lugar a uma nova região escura mais extensa que a anterior, denominada "espaço escuro de Faraday". Ao percorrerem esse espaço, os elétrons ganham energia cinética suficiente para novamente gerar colisões ionizantes, dando origem a denominada "coluna positiva". Essa região constituinte do plasma, é uma região passiva e costuma ser uniforme e longa. Sua função é manter, por meio dos elétrons, a condução da corrente que se estabelece na região catódica. O tamanho dessa coluna depende do afastamento do catodo ao anodo. Assim, depois de desacelerados na coluna positiva os elétrons adquirem energia dando origem a "luminosidade do anodo". No espaço entre a luminosidade do anodo e o próprio anodo existe uma região conhecida como "espaço escuro do anodo". Vale ressaltar que os plasmas nem sempre apresentam todas essas regiões tão claramente definidas. 1.5 Magnetron Sputtering Com o intuito de melhorar a eficiência do plasma foi desenvolvida uma técnica que consiste em criar um confinamento do elétron na região próxima ao alvo. Em corrente contínua na região de descarga abnormal, o plasma se distribui através de toda a câmara e muita energia é desperdiçada. Os elétrons ejetados do alvo muitas vezes seguem trajetórias aleatórias que os levam às paredes da câmara, assim são poucas as oportunidades de colisão entre um elétron e um átomo. Essa baixa taxa de ionização implica em uma baixa eficiência energética do plasma [17]. O magnetron Sputtering é uma técnica que emprega ímãs junto à superfície de um alvo gerando um fluxo incidente de íons sobre sua superfície. Estes íons permitem que uma quantidade muito maior de átomos ou grupo de átomos seja ejetados da superfície do alvo por transferência de momentum, ver Figura 1.12. Figura 1.12 Esquema de magnetron sputtering. 1.5 MAGNETRON SPUTTERING 16 Através da aplicação de campos magnéticos adequados pode-se aumentar, de forma considerável, a eficiência de ionização numa descarga elétrica. Aplicando-se um campo magnético → − → − B , numa descarga elétrica, a força F que age sobre um elétron é dada pela resultante devido as forças elétrica e magnética, como descrito pela equação 1.6. → − → − → − − F = q E + (q→ v X B ), (1.6) → − → − onde E e B são os campos elétrico e magnético, respectivamente, q é a carga do elétron → − − − e→ v é a sua velocidade. O efeito do termo da componente magnética (q→ v X B ) é tornar a trajetória do elétron espiralada, se comparado a trajetória da partícula sem o campo magnético. Devido ao aumento do comprimento da trajetória do elétron, aumenta-se a probabilidade de colisão com as moleculas do gás, elevando o grau de ionização da descarga. Como o módulo da componente magnética é o mesmo tanto para os elétrons como para átomos monoionizados, a tragetória dos átomos, comparada com a dos elétrons é pouco influenciada pelo campo magnético. No magnetron sputtering, o livre caminho médio do gás é grande chegando até 50 cm para alguns volores de pressão, ver Tabela 1.2. Os elétrons confinados percorrem uma trajetória maior e, com isso, aumentam a probabilidade de choques com os átomos do gás. A eficiência do processo de sputtering melhora drasticamente, permitindo, simultaneamente, que a descarga se realize a pressão mais baixa (10 − 3 Torr ou 0, 13 Pa) e corrente mais alta. O resultado é a formação de filmes mais densos, puros e com alta qualidade [18]. Pressão (Torr) Livre Caminho Médio (mm) 10−2 5 10−3 50 10−4 500 10−5 5000 Tabela 1.2 Relação entre pressão e livre caminho médio usando-se magnetron sputtering [4]. 1.6 SPUTTERING DE RÁDIO-FREQUÊNCIA 1.6 17 Sputtering de Rádio-frequência Quando o alvo a ser bombardeado é isolante, a chegada dos íons ao alvo gera um potencial de blindagem que interrompe a aceleração dos mesmos. Com isso não se tem mais emissão de elétrons secundários, sendo impossível a auto-sustentação do plasma. Para sustentar o plasma, quando o alvo é um isolante, a fonte de alimentação de tensão continua é substituída por uma fonte de tensão alternada. Este sistema é chamado de sputtering RF ( radio-frequência). No sputtering RF, utiliza-se uma fonte de corrente alternada e altas freqüências de 13 a 50 MHz. A descarga gasosa presente na câmara quando se usa esta técnica é semelhante à descarga de corrente contínua, porém com espaços escuros alternando-se nos eletrodos com a freqüência da descarga. O processo de deposição dos nanofilmes torna-se mais eficiente, pois os elétrons adquirem mais energia quando oscilam no campo da radio-freqüência. Isto também possibilita a operação do sistema a pressões mais baixas se comparado com outras modalidades de sputtering. No sputtering RF, há quase inexistência de arcos unipolares comuns em sputtering convencional devido ao fato de, no processo, a alternância proporcionada pela fonte inverter a direção do campo elétrico duas vezes por ciclo dificultando a sustentação do arco. O alvo do sistema é bombardeado alternadamente tanto por elétrons como por íons evitando-se acumulo de cargas, uma vez que as cargas positivas acumuladas durante um meio ciclo são neutralizadas por elétrons no meio ciclo seguinte. Num ciclo de radio-frequência a transferência total de cargas é nula. Outra grande vantagem dessa técnica, é que ela permite a deposição de filmes conservandose a estequiometria a partir de alvos isolantes e/ou refratários o que é muito difícil de obter por outros métodos [19]. 1.7 Deposição e Nucleação de Filmes Os nanofilmes são formados por condensação dos átomos ou moléculas de um vapor sobre o substrato. A estrutura do substrato influência fortemente as propriedades do filme depositado durante a nucleação, na fase de crescimento do filme. O mecanismo de fixação é denominado adsorção física, e ocorre quando não há transferências de elétrons entre o material que compõe o substrato e as partículas ou moléculas depositadas nele. A energia de ligação associada à adsorção física é de aproximadamente 0, 25 eV. 1.7 DEPOSIÇÃO E NUCLEAÇÃO DE FILMES 18 Na deposição, os filmes são formados átomo a átomo, sendo que as forças responsáveis pela fixação dos átomos na superfície do substrato têm origem eletrostática. Ao atingir a superfície do alvo, os íons energéticos, causam além da ejeção de átomos da superfície do alvo, fenômenos tais como, retro-espalhamento de elétrons, emissão de raios-X, geração de fótons, emissão de elétrons secundários dentre outros. Os átomos de vapor do material ejetado do alvo são adsorvidos no substrato, mas ainda não estão combinados com outros átomos adsorvidos [20]. O processo de condensação se inicia nos primeiros momentos de formação do filme, pela formação de pequenos clustres (aglomerados), resultantes da combinação de vários átomos adsorvidos. Esses aglomerados são denominados nucleídeos e seu processo de formação é denominado nucleação. Crescimento é o processo de expansão dos núcleos, originando de forma coerente o filme, frequentemente, nucleação e crescimento ocorrem simultaneamente durante a formação do filme. A Figura 1.13, mostra um nanofilme que cresce a partir da aglutinação dos átomos que chegam à superfície do substrato (B, C), formando os nucleídeos (D). Estes estão se formando quando átomos do alvo ou do gás bombardeiam a superfície do alvo. Figura 1.13 Nucleação e crescimento dos filmes durante a condensação heterogênea [21]. Os átomos incidentes têm capacidade de partir ou desintegrar os nucleídeos (E). No entanto, os nucleídeos ou suas regiões mais estáveis permanecem no substrato. Com a chegada de novas partículas na superfície, os nucleídeos coalescem e se unem a outros nucleídeos. De acordo com a Figura 1.14, podemos entender de modo simplificado a formação do filme, começando pela nucleação, seguida pelo fenômeno de coalescência, que é a fusão das pequenas ilhas em entidades maiores, até o ponto que finalmente todos os buracos do material são preenchidos, formando o filme contínuo [22]. As características finais do filme, assim como sua reprodutibilidade, dependem do conhecimento e do controle de vários parâmetros e fatores durante todo o processo de seu crescimento. 1.7 DEPOSIÇÃO E NUCLEAÇÃO DE FILMES 19 Figura 1.14 Esquema do processo de crescimento de um filme [23]. E muito difícil e complexo controlar a influência de todos esses fatores, uma vez que eles agem de modo simultâneo. 20 C APÍTULO 2 Materiais e Métodos “A vida sem ciência é uma espécie de morte.” —SÓCRATES (470 a.C. - 399 a.C.) 2.1 Introdução No presente capítulo, iremos descrever os materiais e métodos usados na produção dos nossos nanofilmes de nitreto de alumínio. Começaremos a nossa discussão com os elementos químicos alumínio e nitrogênio, suas propriedades fundamentais, síntese e algumas curiosidades pertinentes. Em seguida, falaremos sobre o nitreto de alumínio (AlN) e dos nanofilmes de nitreto de alumínio, algumas características e sua grande importância em aplicações tecnológicas atuais. Dando seguimento, descreveremos o equipamento usado no crescimento dos nanofilmes e seus constituintes básicos, tais como, bomba de vácuo, sistemas de refrigeração e de aquecimento, tudo de forma rápida e sucinta. Por fim, descreveremos o processo de crescimento dos nanofilmes de nitreto de alumínio através do método magnetron sputtering RF e todos os procedimentos adotados na deposição. 2.2 O Alumínio (Al) Geralmente é creditado ao químico alemão Friedrich Wöhler (1800 − 1882), o reconhe- cimento do isolamento do alumínio através da mistura de cloreto de alumínio com potássio em 1827, embora este metal tenha sido obtido impuro alguns anos antes pelo físico e químico dinamarquês Hans Christian Oersted (1777 − 1851) [24]. O alumínio, símbolo (Al) é um metal representado no grupo (família) 13 (antigo III-A) e no terceiro período (série) da tabela periódica1 com número atômico 13, eletronegatividade 1, 61 na escala de Pauling e 3 elétrons no nível mais externo (camada de valência), ver Figura 2.1. O alumínio é um metal leve, macio e resistente. Possui um aspecto cinza prateado-fosco e é 1 ver tabela períodica completa no apêndice A. 21 2.2 O ALUMÍNIO (AL) resistente à corrosão, porque sua superfície é apassivada no ar pela formação de um filme de óxido estável, a alumina (Al2 O3 ). A espessura da camada de alumina pode ser aumentada, fazendo o alumínio servir de anodo em uma célula eletrolítica [25]. Figura 2.1 Localização do Alumínio na tabela períodica [26]. Sua leveza, condutividade elétrica, resistência à corrosão e baixo ponto de fusão lhe conferem uma multiplicidade de aplicações, especialmente em soluções de engenharia aeronáutica. O alumínio em sua forma metálica é não tóxico, não magnético, e não cria faíscas quando exposto ao atrito. Na temperatura ambiente é sólido, sendo um dos elementos mais abundantes da crosta terrestre, cerca de 8, 1%, porém raramente é encontrado puro na natureza. Alguns minerais que o contêm são bauxita (hidróxidos de alumínio com argilas), criolita (fluoreto de alumínio e sódio) e granitos [27]. A Tabela 2.1 lista algumas propriedades do alumínio. Grandeza Valor Unidade Massa específica do sólido 2700 kg/m3 Ponto de fusão 660.3 °C Calor de fusão 10.7 kJ/mol Ponto de ebulição 2519 °C Calor de vaporização 294 kJ/mol Eletronegatividade 1.61 Pauling Estados de oxidação +3 - Resistividade elétrica 2.65 10−8 Ω Condutividade térmica 237 W/(m °C) Calor específico 904 J/(mol ºC) Coeficiente de expansão térmica 2.31 10−5 (1/ºC) Tabela 2.1 Propriedades alumínio [28]. m 2.2 O ALUMÍNIO (AL) 22 A obtenção do metal alumínio foi um desafio para os primeiros cientistas e engenheiros. Ao ser isolado, o alumínio era um metal raro e caro. Durante o século XIX, simbolizava a tecnologia moderna, era usado como metal precioso em joalheria e até o monumento de Washington recebeu uma caríssima ponta de alumínio. Toda essa raridade e o alto preço foram transformados pela eletroquímica. O metal alumínio agora é obtido em larga escala pelo processo Hall [25]. No século XIX, Charles Martin Hall (1863-1914) era estudante de graduação em Oberlin College, quando um dos seus professores de química o incentivou a tentar encontrar um método para produção de alumínio que fosse prático para o emprego em escala industrial. Hall teve o pressentimento que a eletrólise deveria servir e, embora nada soubesse de potenciais de eletrodo padrão ou mesmo da existência de íons (ainda não se sabia da existência dos mesmos), ele conhecia o trabalho de Faraday sobre a eletrólise. Após algumas tentativas, Hall descobriu que a alumina (Al2 O3 ) dissolvida em criolita (Na3 AlF6 ), um minério encontrado na Groelândia que parece gelo, mas se funde a 950°C, servia a seus propósitos [25] [27]. Em 1886, menos de um ano depois de formado, em uma espécie de laboratório num barracão nos fundo de sua casa, Hall finalmente conseguiu alguns glóbulos brilhantes de alumínio2 . Mesmo com o baixo custo para a sua reciclagem, o que aumenta sua vida útil e a estabilidade do seu valor, as elevadas quantidades de energia necessária para a obtenção do alumínio, reduzem sobremaneira o seu campo de aplicação, além das implicações negativas no rejeito dos subprodutos do processo de reciclagem, a produção de uma tonelada de alumínio é acompanhada pela liberação de mais de uma tonelada de dióxido de carbono na atmosfera [27]. 2 Por coincidência, o mesmo processo foi descoberto uma semana depois por Paul Héroult(1863-1914) na França. Na Europa é o processo usualmente conhecido como processo Héroult. 2.3 O NITROGÊNIO (N) 2.3 23 O Nitrogênio (N) Sua descoberta e isolamento são atribuídos ao químico e físico escocês Daniel Rutherford (1749 − 1819) em 1772. Ele removeu o oxigênio e o dióxido de carbono do ar e verificou que, no gás residual, não havia combustão. O nome desse elemento provém do grego e significa "formador de nitron", onde "nitron"se refere ao nitrato de potássio, KNO3 . Em francês, o nome para nitrogênio é "azoto", que significa "sem vida". O primeiro químico francês A. L. Lavoisier observou que um rato morreu quando mantido numa atmosfera de nitrogênio [27]. O nitrogênio, símbolo (N) é um ametal representado no grupo (família)15 (antigo V-A) e no segundo período (série) da tabela periódica, com número atômico 7. Tem uma elevada eletronegatividade, 3 na escala de Pauling, e 5 elétrons no nível mais externo (camada de valência) comportando-se na maioria dos compostos que forma como um íon trivalente, [29] ver Figura 2.2. É o elemento mais abundante da atmosfera terrestre e está presente em todos os seres vivos. Nas condições ambientes (25°C e 1 atm) é encontrado no estado gasoso, obrigatoriamente em sua forma molecular biatômica (N2 ) como um gás inerte, incolor, inodoro e insípido, constituindo 78, 084% da atmosfera terrestre em volume e 75, 5% em peso, não participando da combustão e nem da respiração [25]. Figura 2.2 Localização do nitrogênio na tabela períodica [30]. A Tabela 2.2 lista as principais propriedades do nitrogênio. O gás nitrogênio puro é obtido pela destilação fracionada do ar líquido. O ar é resfriado à −196°C pela repetida expansão e compressão em um refrigerador, através do efeito Joule-Thomson que é o processo no qual a temperatura de um sistema diminui ou aumenta quando o sistema se expande livremente mantendo a entalpía constante. O efeito Joule-Thomson é usado em alguns tipos de refrigeradores comerciais para liquefazer gases. O gás a ser liquefeito é comprimido e depois sofre expansão ao passar por um orifício pequeno, chamado de regulador. O gás esfria quando se expande e o gás esfriado circula pelo gás comprimido que entra no refrigerador. Esse contato esfria o gás 24 2.3 O NITROGÊNIO (N) que entra antes que ele se expanda. Como o gás é comprimido continuamente, sua temperatura cai progressivamente até que finalmente ele se condensa. Se o gás é uma mistura, como o ar, então o líquido que se forma pode ser destilado posteriormente para a separação de seus componentes. Essa técnica é usada para obter nitrogênio, oxigênio, argônio, criptônio e xenônio da atmosfera. Grandeza Valor Unidade 28.0134 g/mol Massa específica do gás (15ºC e 1 atm) 1.185 kg/m3 Ponto de fusão -210 °C Calor de fusão 0.72 kJ/mol -195.8 °C 5.58 kJ/mol Temperatura crítica -146.9 °C Pressão crítica 3399.9 kPa Massa específica crítica 314.03 kg/m3 Temperatura do ponto tríplice -210.1 °C Pressão do ponto tríplice 12.53 kPa Cp (a 1 atm e 25ºC) 0.029 kJ/(mol ºC) Cv (a 1 atm e 25ºC) 0.02 kJ/(mol ºC) Condutividade térmica (a 0ºC e 1 atm) 0.024 W/(m °C) Solubilidade em água (a 0ºC e 1 atm) 0.0234 vol/vol 3.04 pauling +5,+4,+3,+2,-3 - Massa molecular Ponto de ebulição Calor de vaporização Eletronegatividade Estados de oxidação Tabela 2.2 Propriedades nitrogênio [31]. Por ser elemento natural da atmosfera, o nitrogênio gasoso não é, a princípio, nocivo, mas a concentração acidental em ambientes fechados reduz o teor de oxigênio, podendo provocar asfixia e morte. O ciclo do nitrogênio é um dos processos mais importantes para os seres vivos. Embora o gás seja relativamente inerte, bactérias no solo são capazes de fixar o nitrogênio na forma de fertilizantes para as plantas. Animais que as comem, incorporam o nitrogênio como componente de proteínas. O ciclo se completa quando outras bactérias convertem os compostos de nitrogênio usados em gás [27]. 2.4 O NITRETO DE ALUMÍNIO (ALN) 2.4 25 O Nitreto de Alumínio (AlN) Os nitretos do grupo III-V têm atraído muita atenção recemtemente devido as suas propriedades físicas que os tornam viáveis em aplicações tecnológicas. Estes nitretos, o GaN (nitreto de gálio), AlN (nitreto de alumínio) e o InN (nitreto de índio) possuem largura de banda proibida (band gap) desde 1, 9 eV para o InN, 3, 4 eV para o GaN, até 6, 2 eV para o AlN [32]. O nitreto de alumínio foi sintetizado pela primeira vez em 1907, porém esse composto ficou quase que esquecido por algum tempo. Atualmente o nitreto de alumínio é exaustivamente estudado devido suas propriedades e várias aplicações principalmente na indústria da microeletrônica. Os elementos químicos nitrogênio e alumínio unem-se através de ligações covalentes originando o composto nitreto de alumínio. O nitreto de alumínio é um composto químico cerâmico, que tem geralmente simetria wurtzítica hexagonal [33], porém como os outros nitretos semicondutores (III-N), pode também ser encontrado em mais duas formas cristalinas, a Zincblende e a cúbica (Rocksalt). Em temperatura ambiente o AlN é encontrado na fase estrutural wurtzítica. Na forma zincblende e na forma cúbica é observado apenas em altas pressões. Estas duas últimas fases são metaestáveis. A estrutura cristalina do AlN é constituída de um átomo de alumínio cercado por quatro átomos de nitrogênio, formando um tetraedro distorcido, ver Figura 2.3. A alta estabilidade química, vem em parte, dos altos valores das duas principais ligações deste composto, Al-N e Al-Al, cujo os valores são respectivamente, 300 kJmol−1 e 186 kJmol−1 . Figura 2.3 Em a) um átomo de Al cercado por quatro átomos de N, formando um tetraedro distorcido. Em b) a célula unitária do AlN, formando uma estrutura wurtzítica hexagonal [30]. 2.4 O NITRETO DE ALUMÍNIO (ALN) 26 O nitreto de alumínio é um material cerâmico que não ocorre na natureza, mas pode ser sintetizado por reações em altas temperaturas, onde se destacam principalmente as técnicas de deposição química em fase gasosa assistida por plasma reativo, redução carbotérmica e nitretação direta [34]. Devido a sua elevada condutividade térmica (uma das mais altas entre os materiais semicondutores), o nitreto de alumínio tem se mostrado um material promissor para uso como substrato de dispositivos eletrônicos de alta potência. Outra característica importante do AlN é seu alto ponto de fusão, T= 3.487K, calor específico C p = 0, 728 J/gK e temperatura de Debye θD = 988 K, em sua fase wurtzítica. A produção de nanofilmes de nitreto de alumínio é recente, os primeiros trabalhos começaram por volta da década de cinqüenta e despertaram grande interesse científico devido as suas propriedades físico-químicas, cujo resultados apontam os nanofilmes de AlN como um material altamente promissor em várias aplicações elétricas, ópticas e mecânicas. Os filmes finos (nanofilmes) de AlN, podem ser obtidos por uma grande variedade de técnicas, tanto por epitaxia como por deposição. O método sputtering é o mais comumente usado para a obtenção de nanofilmes, tanto por sua simplicidade e baixo custo, quanto por sua capacidade de obtenção de filmes de boa qualidade e com propriedades desejadas. Na literatura sobre esse material, encontram-se trabalhos onde as técnicas de deposição variam um pouco em cada trabalho, alguns conseguem melhor grau de cristalinidade, por exemplo, aquecendo o substrato, enquanto outros usam ambientes de N2 em baixas pressões [35]. Como o nitreto de alumínio pertence ao grupo III-V da tabela periódica, é um semicondutor com uma grande largura de banda óptico "bandgap", o que o torna um candidato promissor para aplicações em dispositivos de alta freqüência, filtros de onda acústica de superfície (SAW), dispositivos ópticos e camadas isolantes. Os valores característicos dessas propriedades dependem do método e das condições de deposição do filme, sendo que os nanofilmes de AlN podem ser obtidos tanto por sputtering DC (corrente contínua) como por sputtering RF (rádio frequência) [37]. Dentre as principais propriedades características dos nanofilmes de nitreto de alumínio, podemos ressaltar, seu elevado valor de dureza e condutividade térmica, e a alta resistência à temperatura mesmo em ambientes hostis [36]. Abaixo algumas propriedades do AlN e suas possíveis aplicações: I Devido a alta condutividade térmica (150 W/mK) e seu baixo coeficiente de expansão térmica, é possível seu emprego em dispositivos que exigem alta dissipação térmica. I Em dispositivos acústicos de altas freqüências, devido a sua excelente piezoeletricidade quando combinada com substratos de alta velocidade, como por exemplo o diamante. 2.5 MECANISMO DE DEPOSIÇÃO 27 I Devido a alta dureza, estabilidade química, elevado ponto de fusão, alta velocidade acústica, é possível o seu uso em dispositivos que operam sob condições extremas como sensores para altas temperaturas e pressões. I Como dispositivos óptico-eletrônicos, quando adequadamente dopado e como janela transmissora de luz na região espectral na faixa do ultravioleta devido ao seu "bandgap" direto de 6, 2 eV [35][36][37]. 2.5 Mecanismo de Deposição 2.5.1 O Sistema Rapier/Orion AJA Os nanofilmes de nitreto de alumínio analisados nesse trabalho, foram crescidos pelo método sputtering RF (rádio-frequência), usando o equipamento comercial "Rapier/Orion sputtering system da AJA"do grupo de magnetismo do departamento de física teórica e experimental da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN-DFTE). O equipamento mede 1.75m de altura, ver Figura 2.5, e possui uma câmara para deposição que consiste basicamente numa câmara de aço inox de formato cúbico com 30 cm aresta. Na parte superior da câmara, encontram-se dois canhões de duas polegadas cada, e na parte inferior um porta-substrato fixo a uma distancia de 10 cm do alvo, ver Figura2.4. O porta-substrato é composto por um aquecedor resistivo, SHQ 15A PID (Proportional Integral Diferential da AJA), que permite o aquecimento do substrato a uma temperatura de até 900° C. O equipamento para fabricação dos nanofilmes, Rapier/Orion sputtering system é alimentado por uma fonte RF (rádio-frequência), AJA 100/300 MM3X, durante todo o processo de deposição. Figura 2.4 Visão interna da câmara de deposição. 2.5 MECANISMO DE DEPOSIÇÃO Figura 2.5 Equipamento de sputtering Rapier/Orion sputtering system da AJA. 28 2.5 MECANISMO DE DEPOSIÇÃO 29 I B OMBAS DE VÁCUO A câmara de deposição está conectada a duas bombas de vácuo. Antes do início do processo de deposição, a câmara tem que ser evacuada durante algumas horas até que o regime de alto vácuo seja atingido. Em geral, para atingir alto vácuo, usam-se duas bombas ligadas em série, uma de pré-vácuo para a evacuação da câmara até a região de médio vácuo, ligada a outra bomba onde se alcança alto vácuo. Na tabela 2.3, podemos observar alguns ambientes de vácuo e suas respectivas pressões. A faixa de pressão do nosso sistema a vácuo é da ordem de 10−6 Torr. Vácuo Primário 0.1 à 760 Torr ou 10 à 105 Pa Vácuo Secundário 10−4 à 10−1 Torr ou 102 à 10 Pa Alto Vácuo 10−8 à 10−4 Torr ou 102 à 10 Pa Ultra Alto Vácuo < 10−8 Torr ou < 107 Pa Tabela 2.3 Ambientes de vácuo e suas respectivas pressões [1]. Em nosso caso, temos uma bomba mecânica de baixo vácuo Alcatel Vacuum Technology, série 2005 SD de dois estágios, ligada em série a bomba turbomolecular de alto vácuo Pfeiffer Vacuum TMU 071P, ver Figura 2.6. Figura 2.6 À esquerda, bomba mecânica de baixo vácuo Alcatel Vacuum Technology, série 2005 SD de dois estágios. À direita, bomba turbomolecular de alto vácuo Pfeiffer Vacuum TMU 071P 2.5 MECANISMO DE DEPOSIÇÃO 30 I S ISTEMA DE R EFRIGERAÇÃO Durante todo o processo de deposição dos filmes há aquecimento do equipamento por vários motivos. Os componentes que apresentam maior tendência ao aquecimento são a bomba de vácuo termomolecular, o porta-alvo e o porta substrato que se aquecem devido aos choques dos átomos e partículas carregadas no interior da câmara de deposição. A fim de evitar o superaquecimento é preciso resfriar o sistema para evitar possíveis danos ao equipamento. O equipamento está ligado a um sistema de refrigeração simples composto basicamente por um refrigerador fabricado pela empresa Tamisa com capacidade para 160 litros, uma bomba d’água de alta pressão, necessária para que ocorra circulação da água entre as partes frias e quentes do sistema, termômetro para monitoramento da temperatura da água em circulação, manômetro e um filtro de água fabricado pela empresa aqua-pure modelo AP055. O resfriamento do nosso equipamento é feito através da troca de calor entre alguns componentes do equipamento e o refrigerador, usando-se como meio para equilíbrio térmico a água que circula entre essas partes do sistema. A água utilizada no processo é água destilada produzida no departamento de química da UFRN. Todo o sistema de resfriamento do equipamento é automático, basta apenas selecionar a temperatura de operação do equipamento (-3°C) através de um termostato. I S ISTEMA DE AQUECIMENTO DO S UBSTRATO Acoplado ao porta substrato temos um aquecedor resistivo SHQ 15A PID (Proportional Integral Diferential heat controller) da AJA, responsável pelo aquecimento do substrato a uma temperatura desejada. A temperatura máxima atingida em nosso sistema é de 900°C. O controlador PID é a ferramenta responsável pelo controle da temperatura de operação do equipamento, conferindo precisão e estabilidade durante o processo. O controlador PID pode ajustar os processos de medidas baseando-se na historia e na taxa de mudança do sinal de erro, para dar um controle mais apurador e estável da temperatura. O controlador pode ser entendido como um dispositivo que realiza determinadas operações matemáticas sobre o sinal de erro, a fim de produzir um sinal a ser aplicado com o intuito de satisfazer um determinado objetivo. Estas operações matemáticas constituem o que chamamos de ações de controle. Neste sentido podemos identificar três ações básicas de controle, as ações proporcional, integral e derivativa. As combinações dessas ações geram um só sinal de controle, dando origem ao controlador proporcional-integral-derivativo ou simplesmente PID. O objetivo é aproveitar as características particulares de cada uma destas ações obtendo-se uma melhora significativa do comportamento transitório e em regime permanente do sistema controlado. Temos que: 2.5 MECANISMO DE DEPOSIÇÃO 31 • P ( proporcional): Correção proporcional ao erro. Correção aplicada ao processo que deve crescer na mesma proporção que cresce o erro entre o valor real e o desejado. • I (integral): Correção proporcional ao erro x tempo. Erros pequenos, mas que existem há muito tempo, requerem correção mais intensa. • D (derivativa): Correção proporcional à taxa de variação do erro. Se o erro está variando muito rápido, esta taxa de variação deve ser reduzida para evitar oscilações. De forma simplificada, temos que esse tipo de controlador trabalha para manter a saída a um menor nível possível de diferença (erro) entre a variável de processo (pv) e a variável se seleção [1]. Onde temos: • A variável de seleção (sv): é o valor aplicado no controlador, o qual define o valor desejavél pelo usuário para a variável de processo. • A variável de processo (pv): vem do processo e é enviada ao controlador para comparação com o valor desejado (sv). • A variável de controle (cv): sai do controlador e é aplicada no processo para ajustar o parâmetro que se deseja controlar, cujo o resultado será dado pela variável do processo. O princípio básico do controlador é: vp − vs = erro Se o erro for nulo ou constante ele permanece como resultado. Caso contrário, significa uma alteração no processo, de modo que o controlador deverá fornecer valores para a variável de controle de forma a tornar o erro nulo. Assim, o controlador PID ajusta as medidas baseado na história e na taxa de variação do sinal do erro, conferindo maior controle e estabilidade à temperatura. 2.6 PREPARAÇÃO DOS NANOFILMES DE ALN 2.6 32 Preparação dos Nanofilmes de AlN Os nanofilmes de nitreto de alumínio, nesse trabalho, foram crescidos usando o método magnetron sputtering RF não reativo obedecendo os seguintes procedimentos para o crescimento. Através do sputtering não reativo, crescemos o filme sobre quatro laminas de vidro que são nossos substratos. Antes de começar a deposição, ligamos o sistema de refrigeração um ou dois dias antes para que aja acumulo de gelo, pois, como citado nas seções precedentes, uma temperatura elevada pode acarretará danos ao equipamento. O próximo passo consiste na limpeza do substrato, de modo que, pegamos as laminas de vidro e silício, colocamos num béquer contendo acetona e levamos ao ultrason durante 10 minutos. Em seguida, repetimos o procedimento citado só que substituindo a acetona por álcool metílico (metanol). Após a limpeza, depositarmos os substratos na câmara e iniciamos o seu processo de evacuação. Para fazer vácuo ligamos primeiro a bomba mecânica até alcançarmos a região de médio vácuo, algo em torno de 10−4 Torr. Atingido essa pressão, ligamos a bomba turbomolecular de alto vácuo alcançando a pressão de base. A pressão de base utilizada no crescimento dos nanofilmes de AlN foi de 9.7 x 10−6 Torr, e a pressão de trabalho foi 7.5 x 10−3 Torr. A temperatura de operação no processo de crescimento foi 25° C. Após a ejeção do gás argônio na câmara, o próximo passo é fazer o pré-sputerring que também é uma forma de limpeza do alvo. Essa é uma das grandes vantagens desse método de crescimento, pois permite remover impurezas da superfície do alvo e também conseguir condições de equilíbrio entre o plasma e a temperatura. O tempo de pré-sputtering para todas as nossas amostras foi de 5 minutos. Crescemos três séries de nanofilmes de AlN, os tempos de deposição foram 10 horas, 5 horas e 3 horas. A leitura da fonte RF foi de 49 W de potência direta (PD) e 1 W de potência refletida (PR). C APÍTULO 3 33 Técnicas de Caracterização dos Filmes “Já que o homem é o instrumento do seu próprio conhecimento, é necessário estudá-lo como um instrumento antes que possamos avaliar o valor do que os seus sentidos nos dizem com respeito ao mundo.” —BERTRAND RUSSELL (1872-1970) 3.1 Introdução A difração de raios- X é uma técnica bastante usada para se obter características impor- tantes sobre a estrutura de um composto qualquer. Os Raios-X podem ser produzidos fazendo com que um feixe de elétrons de alta energia incida sobre um alvo metálico. Para obter a distância dos átomos no cristal e, consequentemente, a estrutura cristalina, um feixe de raios-X é emitido sobre o cristal desconhecido. Devido sua natureza ondulatória, esse feixe é difratado dando as medidas dos ângulos de difração dos raios emergentes. Por fim, os ângulos dos feixes resultantes da difração são lidos e processados por um computador que calcula e mostra as configurações dos átomos no cristal. A espectroscopia Ramam é uma técnica que permite a identificação de materiais, fornecendo tanto suas características químicas quanto estruturais. Nesta técnica, não é necessário fazer nenhuma preparação da amostra, como também, não há riscos de alterar as características do material, pois sua análise é baseada na incidência de luz monocromática. De modo que, quando a luz incidente é espalhada pelo material analisado, apenas uma pequena parte dessa luz, é espalhada inelasticamente devido à interação da luz com a matéria. Essa é uma característica intrínseca do material analisado e independe da frequência da luz incidente, e que permite a sua identificação. No presente capítulo, abordaremos de forma rápida e simplificada as técnicas de caracterização usadas em nossos nanofilmes, difração de raios-X e espectroscopia Ramam em suas principais características. 3.2 DIFRAÇÃO DE RAIOS-X 3.2 3.2.1 34 Difração de Raios-X Contextualização Histórica Os raios-X foram descobertos no século XIX, em 1895, pelo físico alemão Wilhelm Conrad Röntgen (1845 − 1923), primeiro prêmio Nobel de física em 1901, devido a seus experimentos com raios catódicos (elétrons rápidos emitidos por metais). O experimento de Röntgen consistia basicamente de um tubo de vidro, denominado tubo de raios catódicos, conectado a uma bomba de vácuo, onde nos terminais opostos do tubo era aplicada uma voltagem de milhares de Volts (∼ 1000 V), gerando uma corrente em seu interior. Figura 3.1 Equipamentos utilizados por Röntgen. Em (a), o primeiro equipamento de raio-x produzido no laboratório de Röntgen, e em (b) os equipamentos originais do seu laboratório [38]. Logo após a observação dos raios-X,1 Röntgen notou que um papel pintado com platinocianeto de bário, posto na mesma mesa de trabalho próximo ao tubo de raios catódicos, emitia fluorescência, mesmo que o tubo de raios catódicos estivesse envolto por uma caixa de papelão. Röntgen concluiu que os raios-X, apesar de apresentar propriedades semelhantes às da luz, não podia ser luz comum, pois seus experimentos eram feitos sempre com o tubo de raios catódicos completamente blindado por uma caixa de papelão. Na Figura 3.1, vemos os equipamentos utilizados por Röntgen. Röntgen passou a observar outras propriedades dessa estranha radiação, tais como, a propagação em linha reta - daí a formação de sombras bem definidas e delimitadas, a alta capacidade de penetração em materiais, a insensibilidade a campos magnéticos e alta capacidade de impressionar chapas fotográficas. Por outro lado, sucessivas tentativas feitas por Röntgen para verificar efeitos relacionados com reflexão, refração e difração resultaram infrutíferas, levando 1 Assim denominados devido ao desconhecimento, por parte da comunidade científica da época, a respeito da natureza dessa radiação. 3.2 DIFRAÇÃO DE RAIOS-X 35 o cientista a concluir que realmente se tratava de algo diferente de tudo o que se conhecia até então por luz ou ondas eletromagnéticas. Mesmo assim, Röntgen publicou um artigo sobre seu trabalho, onde juntava também radiografias obtidas, por exemplo, da mão de sua esposa. Em 1912, o físico alemão Max von Laue (1879 − 1960) descobriu que o comprimento de onda dos raios-X de Röntgen era da ordem de 10−10 metros (1 Agnstrom (Å)), daí ele suspeitou que um cristal, cujo parâmetro de rede é desta ordem de magnitude, seria uma grade ideal para um experimento de difração com raios-X [39]. Laue apresentou suas idéias para o professor e físico alemão Arnold Johannes Wilhelm Sommerfeld (1868 − 1951) e este levantou uma série de objeções, desencorajando-o em relaçãao ao experimento. Laue então convenceu dois pesquisadores, seu técnico W.Friedrich e um estudante P. Knipping a fazerem o experimento, o qual se tornou um enorme sucesso. Na primavera de 1912, eles obtiveram o primeiro diagrama de difração de raios-X em cristais, utilizando um cristal cúbico de sulfato de cobre. Por este trabalho, Laue ganhou o prêmio Nobel de física de 1914 [40]. Figura 3.2 Padrão de difração de raios-X como obtido por Laue e colaboradores [41]. O trabalho de Laue sobre difração de raios-X, foi analisado detalhadamente pelo físico, químico e matemático britânico William Henry Bragg (1862 − 1942) e seu filho William Lawrence Bragg (1890 − 1971) na estrutura denominada esfarelita, (zincblend) ZnS. Eles tentaram explicar o padrão de difração deste material com a idéia de que os pontos do padrão seriam produzidos da interação dos raios-X com a rede cristalina. Então, o físico escocês Charles Thomson Rees Wilson sugeriu que W. L. Bragg refletisse raios-X por uma face de clivagem do cristal de esfarelita. O sucesso da reflexão fez com que W.H. Bragg construísse um espectrômetro de raios-X, o qual permite uma medida quantitativa das intensidades de raios-X. O experimento com o ZnS foi um sucesso, espectros de difração de raios-X foram obtidos, confirmando a hipótese de Laue de que estes raios eram na verdade ondas eletromagnéticas, possuindo todas as características dessas ondas, tais como reflexão, refração, difração, dentre outros. Tal desco- 3.2 DIFRAÇÃO DE RAIOS-X 36 berta teve grande impacto no mundo científico, tanto que, além de Laue, laureado com o prémio Nobel de física de 1914, a dupla Bragg conquistaram o Nobel de 1915 [42]. 3.2.2 Geração e emissão de Raios-X Raios-X podem ser produzidos fazendo com que um feixe de elétrons de alta energia incida sobre um alvo metálico. O espectro de raios-X produzido desta maneira, têm duas componentes, uma contínua e outra discreta. A componente contínua, também conhecida por bremsstrahlung ou radiação de freamento é proveniente da desaceleração dos elétrons ao interagirem com o material do alvo (toda partícula carregada emite radiação eletromagnética ao ser acelerada). A componente discreta, conhecida como radiação característica, é proveniente do decaimento dos átomos que tiveram elétrons excitados ou ejetados ao interagirem com os elétrons do feixe de alta energia. A produção dos raios-X, pode ser explicada do seguinte modo: os elétrons que são emitidos pelo catodo são fortemente atraídos pelo anodo e chegam a este com grande energia cinética, devido a alta voltagem aplicada (da ordem de milhares de Volts). Chocando-se com o anodo, os elétrons perdem a energia cinética e cedem energia aos elétrons que estão ligados aos átomos no anodo. Assim, estes elétrons são então acelerados, emitindo ondas eletromagnéticas que são os raios-X. Os dois tipos distintos de emissão de raios-X dependem do tipo de interação entre os elétrons acelerados e o alvo (anodo). A Figura 3.3, apresenta o espectro de raios-X emitido pelo alvo de molibdênio, a 35 kV. O espectro mostra a radiação contínua de raios-X e dois picos de radiação característicos que são designados por linhas Kβ e Kα [43]. Figura 3.3 Espectro de emissão de raios-X produzido quando se utiliza o metal Molibdênio como alvo numa ampola de raios-X, funcionando a 35kV [43]. 3.2 DIFRAÇÃO DE RAIOS-X 37 Assim, temos: . A radiação de linha, que é a radiação característica do anodo e corresponde à emissão de um fóton durante a transição de um elétron de uma camada de mais alta energia para outra de mais baixa energia. . Radiação de freamento ou bremsstrahlung, que é a radiação eletromagnética emitida pelos elétrons rápidos durante seu brusco processo de desaceleração quando se chocam e são freados pela matéria. Quando um elétron sofre uma trasição atômica de uma camada de energia mais alta para outra camada de menor energia, no interior de um átomo, uma linha característica de emissão atômica é observada, conforme foi dito acima, essa emissão é chamada emissão de linha [33]. As camadas atômicas encontram-se relacionadas aos níveis discretos de energia dos elétrons ligados ao átomo e correspondem ao número quântico principal, n=1,2,3,..., onde as primeiras camadas são K,L,M,... Assim, por exemplo, as linhas de emissão associadas com transições eletrônicas para o estado 1s (camada K), são chamadas linhas da série-K. Similarmente, linhas associadas a transições eletrônicas para o estado 2s (camada L) são denominadas linhas da série-L, e assim por diante. Se desejarmos produzir linhas de emissão de raios-X da série-K, o átomo radiante deve ser, obviamente, ionizado inicialmente a partir de uma camada-K. Uma linha de emissão da série-L exige que o átomo seja ionizado a partir de uma camada-L, e assim sucessivamente. Quando o metal alvo é bombardeado por elétrons rápidos, os elétrons ligados do metal, pertencentes a uma dessas camadas, delas são arrancados, deixando em seus lugares vacâncias. Estes níveis vacantes, podem então receber elétrons das camadas superiores com consequente emissão de fótons com energias correspondentes a diferença entre os dois níveis, como ilustrado na Figura 3.4. Figura 3.4 Processo de geração de raios-X no interior de um átomo [42]. Quando um elétron da camada L, por exemplo, é transferido para a camada K, passando a ocupar uma vacância do nível, ocorre um efeito de produção de fótons com energia da por: 3.2 DIFRAÇÃO DE RAIOS-X φK − φL 38 (3.1) tais fótons são denominados fótons de raios-X. A energia desta radiação é: hc , (3.2) λ onde h é a constante de Planck, e c a velocidade da luz. A região do espectro eletromagE = hν = nético de raios-X está no intervalo 0.1 − 100 Å, ou seja, entre a região dos raios-γ e a de raios ultravioleta, ver Figura 3.5. Em energia, tal intervalo corresponde 0.1 − 100 keV. Figura 3.5 Localização dos raios-X no espectro eletromagnético [44]. Na desaceleração, ou efeito de "Bremsstrahlung", o elétron em movimento tem sua trajetória desviada pela positividade do núcleo. Este desvio de trajetória é acompanhado por uma desaceleração que faz com que parte da energia cinética do elétron seja emitida como fóton de raios-X, que terá maior energia (maior freqüência) tanto quanto maior for o ângulo de desvio da trajetória e quanto mais próximo estiver este elétron do núcleo, ver Figura 3.6. A desaceleração tem pouca chance de ocorrer em regiões próximas ao núcleo, devido a densidade nuclear. Na verdade, o átomo é bem diáfano, para se ter uma idéia, comparando o tamanho do núcleo atômico a uma laranja, o limite do átomo de um determinado elemento estaria, por exemplo, a 3 km de distância. Assim, a maioria dos elétrons sofre interações distantes do núcleo e produzem fótons de baixa energia, agora não mais numa faixa de energia característica, mas em uma variação constante, dependendo do cosseno do ângulo do desvio[34]. A probabilidade do fenômeno ocorrer também é pequena, porém tende a ser a maior fonte de fótons de raios-X se comparado a outros fenômenos. 3.2 DIFRAÇÃO DE RAIOS-X 39 Figura 3.6 Ilustração do efeito Bremsstrahlung [42]. 3.2.3 Equação de Bragg para Difração A explicação completa para o fenômeno de difração de raios-X, quando o alvo é um cristal, foi dada por W. L. Bragg em 1912, resultando na famosa lei denominada "Lei da difração de Bragg", expressa na forma: nλ = 2dhkl sin(θ), (3.3) onde λ é o comprimento de onda de raios-X, dhkl é a distância interplanar, ou seja, entre dois planos cristalográficos consecutivos, indexados por (hkl), e θ é o ângulo entre o feixe de raios-X incidentes e o plano cristalográfico de incidência, conforme ilustra a Figura 3.7. Vamos agora examinar as condições necessárias para a difração de raios-X por um arranjo periódico de átomos. Considere os dois planos de átomos paralelos A-A’ e F-F’ como na Figura 3.7, os quais possuem os mesmos índices de Miller h, k e l, que estão separados por uma distancia d. Suponha que um feixe de raios-X paralelo, monocromático e coerente (em fase), como comprimento de onda λ, esteja incidindo sobre os dois planos segundo um ângulo θ [45]. Dois raios nesse feixe, identificados como O e O’, são dispersos pelos átomos E e C. Se a diferença entre o comprimento das trajetórias O-E-P’ e O’-C-P” (ou seja, BC + CD) for igual a um numero inteiro, n, de comprimentos de onda, uma interferência construtivas dos raios dispersos P’ e P” irá ocorrer segundo um ângulo θ em relação aos planos. Assim, a condição para difração é: nλ = BC +CD, (3.4) 3.2 DIFRAÇÃO DE RAIOS-X 40 Figura 3.7 Esquema de difração dos raios-X [42]. ou, como pode ser visto pela geometria da figura: nλ = dhkl sin(θ) + dhkl sin(θ) = 2dhkl sin(θ). (3.5) Dessa forma, temos uma expressão simples que relaciona o comprimento de onda dos raiosX e o espaçamento interatômico ao ângulo do feixe difratado. Se a lei de Bragg não for satisfeita, então a interferência será de natureza não-construtiva e será produzido um feixe de difração de intensidade muito baixa [45]. 3.2.4 Difração de Raios-X Ao atingirem um material qualquer os raios-X podem ser espalhados elasticamente, sem perda de energia pelos elétrons de um átomo do material, é o que chamamos de dispersão ou espalhamento coerente. Após a colisão com o elétron, o fóton do raio-X muda sua trajetória, porém mantendo a mesma fase e energia do fóton incidente. Do ponto de vista da física ondulatória, pode-se dizer que essa onda eletromagnética é instantaneamente absorvida pelo elétron e reemitida. Assim, cada elétron atua como um centro de emissão de raios-X [43]. Se os átomos que geram este espalhamento estiverem arranjados em uma estrutura cristalina, apresentando entre si distâncias próximas ao do comprimento de onda da radiação incidente, pode se verificar que as relações entre esses espalhamentos tornam-se periódicas e que os efeitos da difração dos raios-X podem ser observados em vários ângulos. Como dito na seção anterior, as condições para que ocorra a difração de raios-X (interferência construtiva) dependerão das condições expressas pela lei de Bragg, Equação 3.7. A intensidade da radiação difratada depende, dentre outros fatores, do número de elétrons 3.2 DIFRAÇÃO DE RAIOS-X 41 no átomo e de como esses átomos estão distribuídos no espaço, de modo que os vários planos de uma estrutura cristalina, possuem diferentes densidades de átomos e elétrons, fazendo com que, as intensidades difratadas sejam distintas para os diversos planos cristalinos. Os planos de difração e suas respectivas distâncias interplanares, bem como as densidades de átomos (elétrons) ao longo de cada plano cristalino, são características específicas e únicas de cada material cristalino, da mesma forma que o padrão difratométrico por ele gerado [46]. Se incidirmos um feixe de raios-X em ângulos variáveis em uma amostra com certa distribuição de pequenos cristalitos (amostra na forma de pó) e colocarmos essas intensidades em função do ângulo de espalhamento 2θ (ângulo entre a onda incidente e a onda espalhada), iremos obter um gráfico chamado difratograma, como mostrado na Figura 3.8. O padrão de difração é único para cada tipo de cristal. Dessa forma, é possível descobrir a composição de materiais através da difração de raios. Esse processo é chamado caracterização. Figura 3.8 Padrão de difração (difratograma) de pó do NaCl [40]. A Figura 3.8, mostra um difratograma ou padrão de difração para uma amostra pulverizada de sal de conzinha (NaCl). Os picos de alta intensidade resultam quando a condição de difração de Bragg dada pela Equação 3.7, é satisfeita por algum conjunto de planos cristalográficos. Nesta figura, esses picos estão identificados por seus índices de planos. Para calcular a distância interplanar, quando α = β = γ = 90° (caso do NaCl), utilizamos a expressão: dhkl = q 1 h2 a2 2 2 + bk2 + cl 2 , (3.6) 42 3.2 DIFRAÇÃO DE RAIOS-X onde a, b e c são os parâmetros de rede do cristal considerado. Como exemplo, para o plano 220 (hkl=220) do cristal de NaCl (simetria cúbica, com parâmetros de rede a = b = c = 5.640 Å), temos : dhkl = q 1 22 2 2 2 0 + (5.640) 2 + (5.640)2 (5.640)2 = 1.994. Substituindo o valor na lei de Bragg Equação 3.7, podemos encontrar o ângulo de Bragg (ângulo onde há um pico de intensidade devido à interferência construtiva das ondas espalhadas) relativo a esse plano: 1.54 = 2(1.994) sin(θ) sin(θ) = 1.54 = 0.386 3.988 θ = 22.7 Note que usamos 1.54 Å para o valor de λ. Trata-se do comprimento de onda Kα1 do Cobre, um dos materiais mais utilizados como alvo em tubos de raio-X [40]. O significado desses cálculos é que, incidindo um feixe de raios-X a um ângulo de incidência de 22.7º, haverá um pico de intensidade, devido ao plano 220. Se incidirmos o feixe em ângulos variáveis em uma amostra com uma certa distribuição de pequenos cristalitos (amostra na forma de pó) e colocarmos essas intensidades em função do ângulo de espalhamento 2θ (ângulo entre a onda incidente e a onda espalhada), iremos obter um gráfico chamado difratograma, como visto na Figura 3.8. O difratômetro é um aparelho usado para determinar os ângulos nos quais ocorre a difração em amostras pulverizadas. Cada partícula pulverizada é um cristal e a existência de um grande número destas orientações aleatórias assegura que algumas partículas estão orientadas de maneira correta, tal que todos os conjuntos de planos cristalográficos possíveis estarão disponíveis para a difração. A Figura 3.9, mostra esquematicamente as principais características de um difratômetro. Uma amostra S no formato de uma chapa plana é posicionada de forma que são possíveis rotações ao redor do eixo identificado por O, sendo esse eixo perpendicular ao plano da página. No ponto T é gerado um feixe monocromático de raios-X e as intensidades dos feixes difratados são detectadas através de um contador, identificado por C. A amostra, a fonte de raios-X e o contador estão no mesmo plano [45]. O contador é montado sobre uma plataforma móvel que também pode girar ao redor do eixo O e sua posição angular em termos de 2θ é marcada sobre uma escala graduada. A plataforma e 3.3 ESPECTROSCOPIA RAMAN 43 Figura 3.9 Ilustração esquemática de um difratômetro de raios-X, T(fonte), S(amostra), C(detector) e O(eixo ao redor do qual giram a amostra e o detector) [45]. a amostra estão acopladas mecanicamente, de modo que uma rotação da amostra de um ângulo θ é acompanhada de uma rotação de 2θ do contador, assegurando assim que os ângulos incidentes e de reflexão sejam mantidos iguais um ao outro. À medida que o contador se move a uma velocidade angular constante, um registrador escreve automaticamente a intensidade do feixe difratado (monitorada pelo contador) em função do valor de 2θ; 2θ é chamado de ângulo de difração e é medido experimentalmente. Colimadores são incorporados dentro da trajetória do feixe para produzir um feixe bem focado e definido. A utilização de um filtro proporciona um feixe praticamente monocromático. 3.3 Espectroscopia Raman 3.3.1 Contextualização Histórica O espalhamento inelástico de uma luz monocromática foi predito teoricamente pelo físico austríaco Gustav Adolph Stephan Smekal (1895-1959) em 1923 e foi demonstrado e explicado corretamente pelo Sir Chandrasekhara Venkata Raman (1888-1970), cientista indiano nascido na cidade de Trichi, no Sul da Índia. Em 1902, com apenas 14 anos, Raman graduou-se em primeiro lugar no curso de física. Concluiu seu mestrado em 1907 e quinze anos depois, publicou o trabalho "Difração molecular da luz", o primeiro de uma série que o levou, em 1928, a descobrir um interessante efeito de difusão da luz ao atravessar materiais transparentes que tomou seu nome, "Efeito Raman", lhe valendo o prêmio Nobel de física em 1930 [47]. 3.3 ESPECTROSCOPIA RAMAN 44 Figura 3.10 Aparato utilizado por Raman [48]. 3.3.2 Espectroscopia Ótica Todos os picos de um espectro são devido às transições entre estados de energia. A espectroscopia molecular fornece o valor da variação da energia interna quando uma molécula absorve, emite ou espalha a radiação eletromagnética em quantidades discretas ou quantizadas. Espectroscopia é o ramo da ciência que trata da obtenção e da análise qualitativa e quantitativa dos espectros de emissão, absorção e espalhamento das amostras. Muito do nosso conhecimento atual acerca da estrutura da matéria é baseado em investigações espectroscópicas. Quando a radiação interage com a matéria, espectros de emissão, absorção e espalhamento são gerados. Assim, informações sobre a estrutura molecular e sobre as interações das moléculas com sua vizinhança, podem ser obtidas [49]. A espectroscopia ótica não altera as características do material analisado, como acontece com algumas técnicas que utilizam a incidência de elétrons ou íons nas amostras. Em meados da década de 60, com a introdução do uso de lasers na excitação do espectro Raman, a espectroscopia Raman tornou-se um método amplamente utilizado em matérias líquidos, sólidos e gasosos. A natureza do efeito Raman pode ser explicada tanto pela teoria clássica como pela quântica. Entretanto, a teoria clássica tem algumas limitações, não podendo ser aplicada para rotações moleculares, pois a teoria clássica não descreve frequências, rotações discreta, dentre alguns outros inconvenientes. Embora o modelo clássico forneça um bom resultado para as frequências do espectro Raman, para se obter uma relação para a intensidade do espectro devemos descrever o espalhamento Raman por um modelo quântico [50]. O quantum de energia, ∆E, é função do comprimento de onda da radiação, λ, de acordo com a equação: ∆E = hc , λ (3.7) 3.3 ESPECTROSCOPIA RAMAN 45 onde h é a constante de Planck e c é velocidade da radiação eletromagnética. No meio em que o comprimento de onda foi medido. A velocidade, c, e o comprimento de onda, λ, estão relacionados à freqüência da radiação, ν, pela fórmula: λν = c. (3.8) Os valores de c e λ dependem do meio em que a medição é feita, contudo a frequência correspondente não, sendo dada pela relação: c c ( )ar = ( )vacuo = ν. (3.9) λ λ Em geral, é mais informativo empregar a freqüência ν, em Hz do que o comprimento de onda, λ em metros, porque a variação entre dois níveis de energia molecular ∆E/h é numericamente igual à freqüência da radiação, expressa pela fórmula abaixo: ∆E = ν(Hz) h ou ∆E = E (1) − E (2) = hν( joule). (3.10) Se uma molécula em um estado de menor energia E (2) pode ser excitada para outro de maior energia E(1) pela absorção de uma radiação eletromagnética de freqüência ∆E/h, sendo as energias E(1) e E(2) valores precisos, a radiação absorvida será essencialmente monocromática e todas as demais freqüências terão intensidades desprezíveis. A situação descrita anteriormente corresponde a um processo de absorção de radiação, contudo ela é válida para casos em que se observa emissão ou espalhamento de radiação como no caso da espectroscopia Raman. 3.3.3 As Regiões do Espectro Eletromagnético O espectro eletromagnético é um contínuo de energia, que para efeito de simplificação é dividido em várias regiões as quais são associadas aos diferentes tipos de energia. A Tabela 3.1 e a Figura 3.11 resumem estas informações, é preciso ter em mente que as fronteiras apresentadas não são precisas. Em energias acima de 3 x 1020 Hz, região de raios γ, a troca de energia envolve o rearranjamento de partículas nucleares. No intervalo de energia de 3 x1018 a 3 x 1016 Hz, região de raios-X, as trocas de energia envolvem elétrons internos da molécula. No intervalo de energia de 3 x 1014 a 3 x 1016 Hz, regiões visível e ultravioleta, as trocas de energia envolvem transferência de elétrons de valência de um orbital para outro. 46 3.3 ESPECTROSCOPIA RAMAN Região C. de Onda(Å) C. de Onda(cm) Frequência (Hz) Energia (eV) > 10−5 > 109 > 10 Micro-ondas 109 à 106 10 à 0.01 3 x 109 à 3 x 1012 > 10−5 à 0.01 Infra-vermelho 106 à 7000 0.01 à 7 x 10−5 3 x 1012 à 4 x 1014 0.01 à 2 Rádio Visível Ultravioleta Raios-X Raios Gama 7000 à 4000 4000 à 10 7x 10−5 4x >3x à4x 10−6 à 106 10−7 4x 1014 7x 1014 109 à7x 1014 2à3 à3x 1017 3 à 103 10 à 0.1 10−7 à 10−8 3 x 1017 à 3 x 1019 103 à 105 < 0.1 < 0.1 > 3 x 19 > 105 Tabela 3.1 Valores aproximados de comprimentos de onda, frequência e energia para algumas regiões do espectro eletromagnético [51]. Devido ao fato das energias notadas em Hertz conduzirem a números muito grandes, é comum expressar a frequência em número de onda (cm−1 ) ou como comprimento de onda em nanômetro (nm). No intervalo de energia de 3 x 1012 a 3 x1014 Hz ou de 100 a 10000 cm−1 ou de 100 a 1 microns, fica a região do infravermelho. Estas energias estão associadas às vibrações moleculares. O estudo do assunto é denominado espectroscopia vibracional [44]. No intervalo de energia de 3 x 1011 a 109 Hz ou 30 a 10 cm−1 , região de microondas, as trocas de energia envolvem transições entre níveis rotacionais das moléculas. No intervalo de energia de 3 x 106 a 109 Hz (10m a 30cm), situa-se a região de rádio frequência, onde as trocas de energia correspondem às inversões de spin de um núcleo ou elétron. Estas técnicas são chamadas de espectroscopia de ressonância magnética nuclear e de espectroscopia de ressonância de spin eletrônico. A espectroscopia Raman estuda o efeito do espalhamento da radiação, com o qual se obtém informação a respeito das energias dos níveis vibracionais e rotacionais das moléculas. A informação obtida é muitas vezes complementar àquelas obtidas nas regiões do infravermelho e de microondas, mas o espalhamento Raman da luz ocorre nas regiões visível e ultravioleta do espectro eletromagnético [51]. 3.3 ESPECTROSCOPIA RAMAN 47 Figura 3.11 Espectro eletromagnético [52]. 3.3.4 O Efeito Ramam A espectroscopia Raman é a principal técnica usada atualmente na obtenção de informações sobre as estruturas químicas e as formas físicas, identificando e determinando quantitativamente ou semi-quantitativamente as quantidades de uma substância em uma amostra, através dos seus padrões espectrais característicos. As amostras analisadas podem ser examinadas em toda uma gama de estados físicos, por exemplo, como sólidos, líquidos ou vapores, no estado frio ou quente, a granel, como partículas microscópicas, ou como camadas superficiais. O efeito Raman fornece muitas informações sobre os estados quânticos moleculares, trata-se do espalhamento da luz por moléculas com uma mudança de freqüência. Existem outros processos de espalhamento da luz, no espalhamento Rayleihg (John William Strutt,1842 − 1919, também conhecido como o 3º Barão de Rayleigh) a frequência da luz espalhada é igual ao da luz incidente. Já no processo de fluorescência, a frequência da luz incidente coincide com a frequência de absorção das moléculas espalhadoras do gás. Este é um fenômeno de ressonância onde a molécula é levada a um estado excitado e, após um breve tempo de vida, reemite luz numa frequência diferente. No efeito Raman, a frequência da luz espalhada também é diferente da frequência da luz incidente, mas esta frequência incidente da luz não está relacionada com alguma frequência característica das moléculas espalhadoras [53]. A diferença entre as frequências das radiações incidente e espalhada está relacionada à criação ou aniquilação de fônons no material. 3.3 ESPECTROSCOPIA RAMAN 48 Quando uma radiação monocromática de frequência ν0 incide em uma célula contendo uma substância transparente, sem material em suspensão, a maior parte da radiação a atravessa sem alterações. Entretanto, uma pequena fração da radiação (≈ 0, 1%) é espalhada pelas moléculas da amostra em todas as direções. A intensidade total da radiação espalhada é da ordem de 10−3 a 10−5 vezes o da intensidade total da radiação incidente e a maior parte desta radiação espalhada tem a mesma freqüência ν0 da radiação incidente, denominado espalhamento Rayleigh. O espalhamento Raman corresponde à fração de cerca de 10−7 da intensidade incidente. Assim, o efeito Raman é muito fraco, o que exige o uso de monocromadores com excelentes características em manter a luz dissipada em níveis muito baixos. Caso contrário, o efeito Raman será mascarado. Também é necessário o uso de detectores sensíveis e sistemas óticos eficientes [54]. A radiação espalhada contém fótons com a mesma frequência ν0 da radiação incidente em virtude do espalhamento elástico, mas também contém fótons de outras frequências devido ao espalhamento inelástico tais como (ν0 + ν1 ) e (ν0 − ν1 ). As linhas de menores freqüências do que a incidente (ν0 − ν1 ), são conhecidas como linhas de Stokes e as linhas de maiores frequência (ν0 + ν1 ), são denominadas de linhas anti-Stokes, ver Figura 3.14 . Figura 3.12 Diagramas de níveis de eneregia para os efeitos Stokes e anti-Sotkes. No processo Stokes (ν0 − ν1 ), o fóton espalhado tem energia menor do que o fóton incidente uma vez que parte da energia deste foi fornecida ao material na criação de um fônon. No processo anti-Stokes (ν0 + ν1 ), o fóton espalhado tem energia maior do que o fóton incidente e a diferença está relacionada à energia do fônon que foi aniquilado da rede [55]. 3.3 ESPECTROSCOPIA RAMAN 49 Figura 3.13 Os efeitos Stokes e anti-Sotkes em um espectro Raman. A conservação da energia no processo de espalhamento Raman é dada pela relação: h̄νi = h̄νe ± h̄ν f , (3.11) onde νi , νe e ν f são, respectivamente, a frequência do fóton incidente, a frequência do fóton espalhado e a frequência do fônon. O que faz as moléculas vibrarem, mesmo antes de receberem luz, é a agitação térmica. O ambiente, onde está a amostra, troca calor (energia) com as moléculas, excitando algumas delas em seus modos normais de vibração. Essas produzem o espalhamento Raman anti-Stokes. Normalmente, em uma amostra a temperatura ambiente, o número de moléculas que estão no estado fundamental é muito maior que o número de moléculas já excitadas termicamente. Portanto, o número de processos do tipo Stokes é maior que o número de processos anti-Stokes. A magnitude da variação de frequência (variação Stokes) depende das freqüências dos modos do fônon óptico suportadas pelo material. É importante destacar que nem todo modo de vibração de uma molécula pode produzir espalhamento Raman. Os que podem são chamados de modos ativos para esse tipo de espalhamento. Alguns modos não podem ser excitados por esse tipo de espalhamento e são ditos inativos. Entretanto, não basta que a frequência da radiação coincida com a frequência de vibração normal do material para que o fóton seja absorvido. Para haver absorção, além dessa coincidência de frequências (ou energias), é necessário que a radição gere um momento de dipolo elétrico na molécula ou, se a molécula já tem um momento de dipolo, a vibração precisa fazer esse momento de dipolo variar. Assim, para um modo ser Raman ativo existe a necessidade da variação da polarizabilidade da molécula durante a vibração, isto é, o momento do dipolo a ser considerado é induzido pela radiação eletromagnética. O campo elétrico produzido pelo feixe de radiação monocromática 3.3 ESPECTROSCOPIA RAMAN 50 polariza os elétrons da molécula em ressonância, promovendo a deformação da nuvem eletrônica molecular. Nesta distorção, a carga positiva do núcleo é atraída em direção oposta ao pólo negativo do campo elétrico, com o elétron sendo atraído em direção oposta ao pólo positivo. Esta separação de cargas causa uma indução no momentum de dipolo, e diz-se que a molécula está polarizada [56]. Assim, para haver absorção da radição incidente, a vibração deve variar o momento de dipolo da molécula. Note que a frequência de vibração do dipolo coincide com a frequência da luz incidente. Na Figura 3.14, é mostrado a descrição clássica do espalhamento Raman. Uma molécula sofre uma polarização induzida pelo campo elétrico oscilante devido a radiação incidente. Este dipolo induzido, em seguida, irradia luz difusa, com ou sem troca de energia com os possíveis modos vibracionais da molécula. Figura 3.14 Polarização induzida em uma molécula por campo elétrico. A radiação espalhada pode estar em vários sentidos, na figura são mostrados em 90° e 180º [57]. Quanto maior o campo, maior o momento de dipolo, segundo a expressão: P = αE. (3.12) Esse α é chamado de polarizabilidade e mede a disposição da molécula a ter momento de dipolo e para haver efeito Raman a polarizabilidade deve variar. 3.3.5 A Espectroscopia Raman Até aproximadamente 1986, os estudos sobre o efeito Raman tinham somente caráter acadêmico, com relativamente poucos relatórios de espectroscopia Raman realmente aplicada à análise química. Os impedimentos para aplicações gerais de espectroscopia Raman para as análises químicas eram essencialmente tecnológicos e não fundamentais. A instrumentação necessária para observar o efeito Raman (em razão da sua fraca intensidade) era demasiadamente 3.3 ESPECTROSCOPIA RAMAN 51 custosa para que se realizassem procedimentos de análise química usuais. Devido às inovação tecnológica e científica, nos últimos anos, ampliou-se significativamente a aplicabilidade da espectroscopia Raman, especialmente em análise química [57]. Dentre alguns fatores que contribuíram para essa revolução, podemos citar os dispositivos CCD (charge-coupled device)2 Figura 3.15 CCD (charge-coupled device) ou Dispositivo de Carga Acoplada, especialmente desenvolvido para uso na obtenção de imagens no ultravioleta [58]. Para analisar uma determinada amostra por espectroscopia Raman, deve ser feito uma série de opções, no intuito de decidir qual a melhor forma de caracterizar essa amostra. Assim, as escolhas feitas são em última instância, determinadas pela disponibilidade de equipamentos e pelo tipo de resposta requerido. Existe uma gama de variáveis na caracterização por espectroscopia Raman, que vão desde a escolha da fonte de excitação, dispositivos, detectores e acessórios adequados que permitirão que a amostra seja estudada de uma forma eficiente. A espectroscopia Raman pode ser classificada baseada na fonte de emissão de radiação utilizada, como por exemplo: ultravioleta (UV), visível, infra-vermelho (IR) entre outras. Os lasers mais comuns utilizados na espectroscopia Raman no infra-vermelho são, neodímio ítrioalumínio-granada (Nd:YAG), e titânio-safira (Ti: safira) [50]. A espectroscopia Raman também é classificada de acordo com a tecnologia empregada, por exemplo, Transformada de Fourier (FT-Raman) ou de sistemas dispersivos. O sistema FTRaman tem inúmeras vantagens sobre o sistema dispersivo, incluindo a vantagem multiplex 2 CCD (charge-coupled device) ou Dispositivo de Carga Acoplada é um sensor para captação de imagens for- mado por um circuito integrado contendo uma matriz de capacitores ligados, sob o controle de um circuito externo. Cada capacitor pode transferir sua carga elétrica para um outro capacitor vizinho. Os CCDs são usados em fotografia digital, imagens de satélites, equipamentos médico-hospitalares, na astronomia ( fotometria), óptica e espectroscopia UV . A capacidade de resolução ou detalhe da imagem depende do número de células fotoelétricas do CCD. Expressa-se este número em pixels. Quanto maior o número de pixels, maior a resolução da imagem. Atualmente, as câmeras fotográficas digitais incorporam CCDs com capacidades de até 160 milhões de pixels[45], melhores detectores, espectrógrafos compactos, filtros mais eficientes, laser infravermelho, melhorias computacionais, entre vários outros fatores, contribuíram sobre maneira, para essa grande revolução na instrumentação Raman e suas aplicações analíticas [58]. 3.3 ESPECTROSCOPIA RAMAN 52 o qual lidera a capacidade de coletar vários comprimentos de onda em um curto período de tempo. Entretanto, a espectroscopia Raman dispersiva tem se tornado muito mais popular desde o advento do CCD (charge-couple device detector) devido ao seu grau de eficiência quântica [59]. Na Figura 3.16, mostramos um diagrama típico de um equipamento necessário para a obtenção de um espectro Raman. O sistema é constituído de uma fonte de radiação monocromática (de energia maior que a energia de vibração molecular da amostra, porém, menor que a energia de excitação eletrônica), um dispositivo para suporte da amostra, um espectógrafo para dispersão da radiação espalhada, polarizadores, espelhos, grades, um dispositivo de detecção da luz que pode ser de natureza fotográfica, de natureza fotoelétrica ou de natureza de cargas acopladas (CCD), e um computador [60]. Figura 3.16 Diagrama típico de um equipamento necessário para a obtenção de um espectro Raman [60]. O espectrômetro Raman, ilustrado na Figura 3.16, consiste em um triplo monocromador, um microscópio óptico (usado para focalizar o feixe do laser na amostra e para coletar a luz retroespalhada) e um detector CCD. A luz proveniente do laser incide na amostra, focalizada pelo microscópio óptico, que permite analisar uma região da amostra na ordem de até 1µm2 . A luz retro-espalhada pela amostra é coletada pela objetiva do microscópio e levada ao espectrômetro. No espectrômetro, a luz passa primeiramente por um duplo monocromador que é formado por dois estágios, cada um consistindo de dois espelhos esféricos e uma rede de difração (M1, M2, G1, M5, M6 e G2). O duplo monocromador é mais usado numa configuração que elimina a luz espalhada que possui a mesma frequência do laser (espalhamento elástico). No segundo estágio, a luz espalhada converge de maneira que seu foco esteja sobre a pequena fenda na saída do duplo-monocromador (fenda S3). Ao sair do duplo monocromador, a luz é enviada a um 3.3 ESPECTROSCOPIA RAMAN 53 espectrógrafo (conjunto de espelhos esféricos M9 e M10 e grade G3), onde a luz sofre uma nova dispersão e é enviada para o detector CCD. O sinal é então amplificado, digitalizado e enviado ao computador. O sistema pode ser usado também no modo simples, onde a luz coletada pela objetiva do microscópio é enviada diretamente para o espectrógrafo, sem passar pelo duplomonocromador. Porém, neste caso, são necessários filtros para impedir a passagem da luz proveniente do espalhamento elástico, o que torna inviável usar este sistema em experimentos onde são usados vários comprimentos de onda de excitação [61]. Um espectro Raman mede a relação entre comprimento de onda da radiação espalhada em comparação ao da radiação de excitação (laser), ver Figura 3.17. E é "plotado"em cm−1 (inverso de centímetro), sendo essa a unidade de energia preferida dos espectroscopistas. O espectro, mostrado na Figura 3.17, foi obtido de uma ampola de vidro contendo pequena quantidade de iodo e selada após ser feito vácuo, ficando a pressão na ampola igual à pressão de vapor do iodo na temperatura ambiente. O espectro da Figura 3.17, excitado com 514, 5 nm, foi registrado no espectrômetro Jobin-Yvon U-1000 [62]. Figura 3.17 Espectro Raman ressonante do vapor de iodo, excitação 514 nm, mostrando a banda fundamental (215 cm−1 ) e algumas das harmônicas [62]. O espectro Raman de uma determinada molécula consiste em uma série de picos ou faixas devido à interação da radiação incidente (laser) com os modos vibracionais característicos das moléculas (amostra). Os picos correspondem aos deslocamentos Raman em relação à energia da radiação incidente hν0 . Os números acima dos picos são os respectivos valores das frequências medidos em cm−1 . 3.3.6 Vibrações em Sólidos Cristalinos O comportamento coletivo das vibrações que ocorrem em um sólido cristalino pode ser considerado como uma superposição de ondas planas que se propagam para o infinito [63], essas ondas ou modos normais de vibração, são comumente modelados pelos fônons. Qualquer 3.4 MICROSCOPIA DE FORÇA ATÔMICA (AFM) 54 onda é formada por pacotes de energia h̄ω, chamados quanta de energia. Assim, a energia de uma onda é discreta e tem valor igual a um mutiplo de h̄ω, um quantum de uma onda tem comportamento tanto de onda como de partícula, tendo energia e momentum dados por: E = h̄ω e p = h̄k (3.13) As excitações em um sólido têm caráter de onda, sendo portanto quantizadas. Um quantum de vibração da rede é um pacote de onda elástica, e recebe o nome de fônon [64]. Um fóton incidindo em um cristal pode criar ou destruir um fônon, que é o quantum de energia que separa os níveis de energia vibracional da rede cristalina. Como vibração de rede entende-se tantos os modos internos, característicos de um agrupamento molecular, como os modos externos, movimentos tipo translação ou rotação de íons ou agrupamentos moleculares. Para um sólido tridimensional contendo N células unitárias com p átomos cada, (3pN − 6) diferentes fônons podem se propagar e seus vetores de onda Kn pertencem a um volume no espaço recíproco conhecido como Zona de Brillouin (ZB). Os modos normais de vibração dos planos cristalinos que oscilam em fase com os planos vizinhos são os modos acústicos. Da mesma forma, os modos normais de vibração que oscilam fora de fase em relação aos planos em relação aos planos vizinhos são os modos ópticos. Alem disso, fônons ainda podem ser classificados como longitudinais ou transversais dependendo de como os átomos movem-se paralelos ou perpendiculares em relação á direção de propagação dada pelo vetor Kn . 3.4 Microscopia de Força atômica (AFM) A microscopia de força atômica (AFM - Atomic Force Microscopy) é uma técnica recente no estudo microscópico de superfícies. Em 1986, Binnig, Quate e Gerber [65] desenvolveram um aparato experimental para medir forças em escala atômica. O princípio básico desta técnica consiste em medir a deflexão de uma haste (de 100 a 200 µm de comprimento) que possui uma extremidade onde está montada uma sonda. A sonda consiste de uma ponta de silício, ver Figura 3.19, que ao passar por uma superfície rugosa, mede as forças de interação entre a ponta da sonda e os átomos da superfície da amostra, gerado deflexões na haste. Estas oscilações são então medidas e representarão a rugosidade da superfície. A técnica é uma poderosa ferramenta topográfica gerando imagens em 3 dimensões das superfícies com resolução atômica [66] [67]. 3.4 MICROSCOPIA DE FORÇA ATÔMICA (AFM) 55 Figura 3.18 Representação esquemática do conjunto haste-sonda-amostra. No detalhe, a sonda e suas dimensões nanométricas. [68]. Quando a sonda se aproxima da amostra, ela é afetada por uma força de atração originada pela interação de Van der Waals. Esta atração aumenta até os átomos das duas superfícies começarem a repelir seus orbitais eletrônicos. A repulsão eletrostática enfraquece a força atrativa à medida que a distância diminui. A força anula-se quando a distância entre os átomos é da ordem de alguns angstroms (distância características das ligações atômicas). Quando as forças se tornam positivas, podemos dizer que os átomos da sonda e da amostra estão em contato. Neste regime de interação as forças repulsivas são dominantes [68]. Para entender o funcionamento de um AFM deve-se ter o conhecimento das forças que agem entre os sistemas nanoscópicos a distâncias muito pequenas. Na Figura 3.3, estão representadas as forças que agem entre a sonda e a amostra em função da distância que as separa. Este tipo de força é proveniente do potencial de Lennard-Jones entre dois ou mais átomos, ou qualquer outro potencial de interação com uma dependência deste tipo na variável r. Figura 3.19 O potencial de Lennard-Jones. Na área abaixo da linha de força nula, as forças são atrativas. Acima desta linha, as forças são repulsivas [68]. C APÍTULO 4 56 Resultados Uma vez que não podemos ser universais e saber tudo quanto se pode saber acerca de tudo, é preciso saber-se um pouco de tudo, pois é muito melhor saber-se alguma coisa de tudo do que saber-se tudo apenas de uma coisa. —BLAISE PASCAL (1623-1662) 4.1 Introdução Neste capítulo será apresentado os resultados da caracterização dos nanofilmes usando três técnicas, a difração de raios-X, microscopia de força atômica (AFM) e a espectroscopia Raman. A análise por raios-X para altos e baixos ângulos foi realizada em dois equipamentos distintos. No difratômetro de raios-X Shimadzu XD-7A pertencente ao Laborátorio de Magnetismo e Materiais Magnéticos, na (UFSM-LMMM). Em seguida no difratômetro de raios-X MineFlex II, do fabricante Rigaku Corporation, do grupo de Nanoestruturas Magnéticas da (UFRN-DFTE). A análise por espectroscopia Ramam foi realizada na Universidade Federal do Ceará (UFC), por fim a microscopia de força atômica (AFM) foi executada na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE-CCEN)-Departamento de Física. 4.2 Difração por Raios-X 4.2.1 Difratogramas da Alvo Na caracterização por difração de raios-X, foi analisado inicialmente o alvo de nitreto de alumínio usado em nossas deposições via sputtering. A Figura 4.1 mostra os resultados encontrados. A análise da figura mostra que o alvo usado em nossas deposições é realmente constituído de nitreto de alumínio, os gráficos (a) e (b) dessa figura indicam os dois lados do nosso alvo, que tem formato cilíndrico com diâmetro 5.1 cm e altura 0.6 cm, com 99, 8% de 57 4.2 DIFRAÇÃO POR RAIOS-X pureza, fabricado pela Williams Advanced Research. Analisando os difratogramas vemos que os picos característicos do AlN obtidos em nossas medidas estão totalmente de acordo com os dados encontrados na literatura sobre esse material. Os índices nos picos correspondem aos "índices de Miller"dos planos onde ocorre a difração, e foram por nós indexados com base na ficha de dados sobre o nitreto de alumínio Natl. Bur. Stand. (U.S.) Monogr. 25, volume 12, página 5 (1975). CAS Número: 24304-00-5.1 (a) (b) Figura 4.1 Difratograma do alvo de nitreto de aluminio usado em nossas deposições, onde os gráficos (a) e (b) indicam os dois lados do nosso alvo. Para efeito de comparação os gráficos da Figura 4.2 mostram o difratograma de um dos lados do nosso alvo e o difratograma do pó de nitreto de alumínio comercial facilmente encontrado na literatura sobre esse material. Nos gráficos da Figura 4.2 o eixo das abscissas que nesse caso representa a variação do ângulo 2θ cresce da direita para esquerda. Na Figura 4.2, o gráfico (a) é o difratograma do pó de nitreto de alumínio comercial [69], o gráfico (b) é de um dos lados do alvo. A análise desses gráficos revela, como esperado, que os picos obtidos em nossas amostras são característicos desse material (nitreto de alumínio) e encontram-se na mesma posição dos obtidos no pó de nitreto de alumínio comercial, garantindo assim a confiabilidade do alvo usado em nossas deposições. 1 encontra-se no apêndice A dessa dissertação. 4.2 DIFRAÇÃO POR RAIOS-X 58 Figura 4.2 Difratogramas, em (a) pó de nitreto de alumínio comercial [69], em (b) um dos lados do alvo. 59 4.2 DIFRAÇÃO POR RAIOS-X 4.2.2 Parâmetros de deposição Os nanofilmes de nitreto de alumínio nesse trabalho foram crescidos usando o método magnetron sputtering RF não reativo, e foram depositados em três grupos distintos, variando-se seus tempos de deposição entre 10, 5 e 3 horas. A limpeza dos substratos foi realizada da seguinte forma: no ultrasom durante 10 minutos usando-se acetona, seguida de mais uma limpeza no ultrasom de 10 minutos usando-se álcool metílico (metanol). Para limpar o alvo foi realizado pré-sputtering durante 5 minutos antes do inicio das deposições. Assim crescemos primeiro os nanofilmes com duração de 10 horas, em três substratos de vidro, após crescemos em três substratos, dois de vidro e um de silício três amostras com um tempo de 5 horas, também em vidro e silício como substratos, crescemos mais três amostras com 3 horas, duas em vidro e uma em silício. A Tabela 4.1 abaixo sintetiza os principais parâmetros envolvidos na deposição desses nanofilmes. Parâmetros Substrato Nanofilmes 10 horas Nanofilmes 5 horas Nanofilmes 3 horas Vidro Vidro e Silício Vidro e Silício Pressão de base 1.2 x 10−5 mbar 1.2 x 10−5 mbar 1.2 x 10−5 mbar Pressão de trabalho 1.0 x 10−2 mbar 1.0 x 10−2 mbar 1.0 x 10−2 mbar Potência direta 49 watts 49 watts 49 watts Potencia refletida 1 watts 1 watts 1 watts 25°C 25°C 25°C Temperatura Tabela 4.1 Parâmetros envolvidos na deposição dos nanofilmes. 4.2 DIFRAÇÃO POR RAIOS-X 4.2.3 60 Difratogramas dos Nanofilmes A seguir na Figura 4.3, são apresentados os difratogramas obtidos no raios-X MineFlex II, grupo de Nanoestruturas Magnéticas da (UFRN-DFTE). (a) AlN sobre vidro durante 10 horas (b) AlN sobre vidro durante 10, 5 e 3 horas (c) AlN sobre silício durante 3 horas (d) AlN sobre silício durante 5 horas Figura 4.3 Difratogramas das amostras depositadas em vidro e silício. Da análise da Figura 4.3, gráficos (a) e (b) para as amostras depositadas em vidro com tempos 3, 5 e 10 horas nenhum pico característico do nitreto de alumínio é observado, nos gráficos (c) e (d) da mesma figura, para as amostras depositadas sobre o substrato de silício com os tempos de 3 e 5 horas, temos um total de três picos mas que, depois de analisados verificou-se sendo característicos do silício, ou seja, do substrato. Assim de forma geral nos difratogramas de nossas amostras não há picos característico do nitreto de alumínio. Os difratogramas feitos no Laborátorio de Magnetismo e Materias Magnéticos (UFSM-LMMM), concordam com os difratogramas por nós obtidos, neles também não há picos que caracterizem o nitreto de alumínio. Concluímos que os nanofilmes são amorfos, não apresentando cristalinidade. 61 4.2 DIFRAÇÃO POR RAIOS-X 4.2.4 Difratogramas dos Nanofilmes a Baixos Ângulos Com a técnica de difração de raios-X a baixos ângulos, é feita a calibração da taxa de deposição (espessura de nanofilmes até 1000 Å), obtendo-se espessuras da amostras e consequentemente as taxas de deposições durante o processo de crescimento dos filmes nanométricos. As Figuras 4.4 e 4.5, mostram os gráficos das medidas dos difratogramas a baixos ângulos obtidos na (UFRN-DFTE). (b) Ajuste linear para o vetor q. (a) Picos a baixo ângulo, amostra AlN no vidro a 5 horas. Figura 4.4 Difração de raio-X baixo ângulo para calibração da taxa de deposição. Gráfico (a) picos a baixo ângulo obtidos para a amostra AlN no vidro a 5 horas, gráfico (b) vetor de espalhamento q versus o índice dos picos de Bragg, ajustado linearmente. Para determinarmos a espessura do filme, primeiro indexamos os picos de Bragg, relativos as interferências construtivas das ondas refletidas nas interfaces ar/nanofilme e nanofilme/vidro aos seus respectivos ângulos, como mostra a Figura 4.4 gráfico (a). Com a localização dos picos de Bragg, pode-se construir um gráfico do vetor de espalhamento q versus o índice dos picos de Bragg. Ver Figura 4.4 gráfico (b). Temos que: q= 4π sin(θ) , λ (4.1) onde λ = 1, 54056 Å é o comprimento de onda do raio-X. A inclinação da reta resultante "P.A.", ajustada linearmente, está relacionado com a espessura do filme "d", da seguinte forma: 2π (4.2) P.A. Usando o procedimento acima descrito, obtemos as espessuras dos nanofilmes com suas d= respectivas taxas de deposição. 4.2 DIFRAÇÃO POR RAIOS-X (a) Amostra AlN sobre silício a 3 horas. 62 (b) Amostra AlN sobre vidro a 5 horas. Figura 4.5 Difratogramas a baixos ângulos e ajustes lineares. Onde temos em (a) AlN sobre silício depositado durante 3 horas e em (b) AlN sobre vidro depositado durante 5 horas. Vemos que a curva do gráfico (a) correspondente a amostra de nitreto de alumínio depositado sobre silício com tempo de 3 horas, não exibe picos tão definidos e proeminentes quanto os picos da curva do gráfico (b), que foram obtidos da amostra de nitreto de alumínio depositado sobre o vidro com tempo de 5 horas. No gráfico (a), a espessura do nanofilme calculado usando as equações 4.1 e 4.2, e ajustado pelo método descrito, é de d = 12.833 nanômetros. O primeiro pico desse gráfico, Figura 4.5 (a), correspondente a 2θ = 1.58 é de difícil visualização em escala linear, ou mesmo quando os pontos dessa curva são postos em escala logarítmica para a intensidade. Esse pico torna-se mais proeminente e definido somente quando o ampliamos localmente, mesmo assim optamos pela escala linear, pois na ampliação perdemse as informações sobre os outros picos encontrados na curva. No gráfico (b) a curva bem definida, sem ruídos e com picos proeminentes, a espessura para esse nanofilme é de d = 33.690 nanômetros. 4.2 DIFRAÇÃO POR RAIOS-X (a) Amostra AlN sobre silício a 3 horas. 63 (b) Amostra AlN sobre vidro a 5 horas. Figura 4.6 Difratogramas a baixos ângulos obtidos em Santa Maria, onde temos em (a) AlN sobre silício depositado durante 3 horas e em (b) AlN sobre vidro depositado durante 5 horas. Os gráficos da Figura 4.6 foram obtidos na (UFSM-LMMM), para as mesmas amostras exibidas na Figura 4.5. Temos para a amostra deposita em 3 horas sobre silício, gráfico (a), a espessura de d = 10.925 nanômetros, e para a amostra depositada em 5 horas sobre vidro, gráfico (b), uma espessura de d = 35.458 nanômetros, essas espessuras foram obtidas usando-se o mesmo método adotado na Figura 4.5. Para as amostras depositadas em vidro com tempo de 10 horas não foram encontrados picos nos difratogrmas a baixos ângulos, tanto na (UFSM-LMMM) quanto em (UFRN-DFTE), como mostrado na Figura 4.7. Figura 4.7 Difratograma a baixo ângulo para o nitreto de alumínio sobre o vidro depositado durante 10 horas, difratogrma (UFSM-LMMM). 64 4.3 MICROSCOPIA DE FORÇA ATÔMICA (AFM) A taxa de deposição é calculada dividindo-se a espessura do nanofilme "d"pelo tempo de deposição. A Tabela 4.2 abaixo mostra os resultados encontrados para as espessuras e as respectivas taxas de deposições. Difratogramas Nanofilmes (UFRN) Espessuras Taxas de deposições Nitreto de Alumínio sobre silício - 3h de deposição 12,833 nm 1,188x10−3 nm/s Nitreto de Alumínio sobre vidro - 5h de deposição 33,690 nm 1.871x10−3 nm/s Difratogramas Nanofilmes (UFSM) Espessuras Taxas de deposições Nitreto de Alumínio sobre silício - 3h de deposição 10,925 nm 1,011x10−3 nm/s Nitreto de Alumínio sobre vidro - 5h de deposição 35,458 nm 1.969x10−3 nm/s Tabela 4.2 Espessuras e taxas de deposições, obtidos por raios-x a baixos ângulos. 4.3 Microscopia de Força Atômica (AFM) A análise dos nanofilmes por microscopia de força atômica foi realizada no departamento de Física da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE-CCEN). As espessuras e consequentemente as taxas de deposição foram obtidas utilizando os seguintes equipamentos: microscópio de força atômica modelo Pico Scan 2500 do fabricante Molecular Imaging o modelo 5500 da Agilent Technologies, as imagens foram obtidas por modo Tapping utilizando cantilevers de 225 um de comprimento, freqüência de ressonância de 190 khz e constante de mola de 48N/m ( Modelo NCLR da Nanoworld). Foram obtidas imagens de 512x512 pixels com uma velocidade de 0, 5 linhas/segundo. A Tabela 4.3 abaixo sintetiza os resultados encontrados. Nanofilme Espessura Média Taxa de deposição Nitreto de Alumínio sobre vidro - 3h de deposição 16,600 nm 1,537x10−3 nm/s Nitreto de Alumínio sobre vidro - 5h de deposição 33,290 nm 1.849x10−3 nm/s Tabela 4.3 Espessuras e taxas de deposições, obtidos por microscopia de força atômica. 4.4 ESPECTROSCOPIA RAMAN 4.4 65 Espectroscopia Raman As medidas de espalhamento Raman apresentadas nessa dissertação foram realizadas no Laboratório de Espectroscopia Raman da UFC, usando o retroespalhamento de um feixe laser com λ = 532 nm emitido de um laser de estado sólido modelo Verdi, da Coherent Inc., cuja potência de saída foi fixada em 150 mW. Entretanto, a potência incidente sobre as amostras é estimada entre 15 e 20 mW. A luz espalhada é coletada pelo sistema T64000 da Jobin Yvon-SPEX, Division d’Instruments S.A., ver Figura 4.8, que consiste de um espectrômetro triplo, ao qual foi acoplado um sistema de microanálise, um micro-computador e um sistema de detecção tipo CCD (Coupled Charge Device). A este conjunto de equipamentos chamamos de micro-Raman. O sistema de micro-análise é constituído por uma câmera de vídeo ligada a um monitor e adaptada a um microscópio Olympus BX40 com objetivas plano cromáticas e de foco ajustável. Este sistema permite focalizar o feixe do laser sobre a superfície da amostra com bastante precisão. Figura 4.8 Espectrômetro T64000 da Jobin Yvon-SPEX, Division d’Instruments S.A. com seu sistema de micro-análise. 4.4.1 Espectro Raman do Alvo e Modos de Vibração O espectro Raman da Figura 4.10, é do alvo nitreto de alumínio (AlN), utilizado na deposição dos nanofilmes deste trabalho. Os índices em cima dos picos que caracterizam esse material são devidos aos modos de vibração, onde temos: A1 (TO) polarizção óptica transversal na direção z, A1 (LO) polarizção óptica longituninal na direção z, E1 (TO) polarizção óptica transversal no plano (x, y) e E1 (LO) polarizção óptica 66 4.4 ESPECTROSCOPIA RAMAN longituninal no plano (x, y) são modos Raman e infravermelho ativos. Por fim o modo E22 também é Raman ativo [70]. Figura 4.9 Espectro Raman para o nitreto de alumínio puro. O espectro vibracional Raman do AlN tem sido objeto de intenso estudo nos últimos anos, tanto por métodos experimentais quanto métodos teóricos. Entretanto um completo conhecimento das linhas Raman e seus modos ativos ainda não foi totalmente alcançado. Na Tabela 4.4, temos alguns valores experimentais e teóricos atribuídos aos modos ativos para o AlN. – A1 (LO) A1 (TO) Carlone 663 Collins 916 668 Bra f man 910 Davydov Davydov* E1 (LO) E1 (TO) E22 303 426 821 614 667 910 667 890 611 912 670 248 657 881 615 922 673 252 667 607 924 241 660 252 660 241 660 301 704 Perlin McNeil 893 614 916 673 San jur jo 888 659 895 671 607 924 668 989 Perlin Ruiz∗ E21 899 734 665 Tabela 4.4 Valores experimentais e teóricos∗ obtidos para os modos ativos Raman em AlN [71]. A Tabela4.4 mostra a diferença entre os valores atribuidos aos modos ativos do AlN. Em Ruiz∗ , os valores são teóricos, e foram obtidos usando o método Ab initio, aproximação HartreeFock-Roothan, através do programa CRYSTAL-92 [71]. 4.4 ESPECTROSCOPIA RAMAN 4.4.2 67 Espectro Raman das Amostras AlN Na Figura 4.10, temos os espectros Raman das amostras medidas. Figura 4.10 Espectro Raman para as amostras do nitreto de alumínio. Os modos de excitação Raman encontrados nos gráficos são: Para as amostras depositadas em vidro com tempo de 3 horas, temos λ = 651 cm−1 . Esse valor pode ser atribuido ao modo E22 deslocado, segundo a notação usada no espectro do nosso alvo, ver Figura 4.10, ou ao modo deslocado A1 (TO), segundo Sanjurjo, ver Tabela 4.4. Para as amostras depositadas em silício com tempo de 5 horas, temos, λ = 910 cm−1 . Esse valor pode ser atribuido ao modo E1 (LO) deslocado, segundo a notação usada no espectro do nosso alvo, ver Figura 4.10, ou exatamente aos modos A1 (LO) e E1 (LO), segundo Brafman, ver Tabela 4.4. Para as amostras depositadas em vidro com tempo de 5 horas, temos, λ = 916 cm−1 . Esse valor pode ser atribuido ao modo E1 (LO) deslocado, segundo a notação usada no espectro do nosso alvo, ver Figura 4.10, ou exatamente aos modos A1 (LO), segundo Collins, ou E1 (LO), 4.4 ESPECTROSCOPIA RAMAN 68 segundo McNeil, ver Tabela 4.4. Para as amostras depositadas em vidro com tempo de 10 horas, temos λ = 651 cm−1 . Esse valor pode ser atribuido ao modo E22 deslocado, segundo a notação usada no espectro do nosso alvo, ver Figura 4.10, ou ao modo deslocado A1 (TO), segundo Sanjurjo, ver Tabela 4.4. Os modos de excitação ativos dos gráficos Raman das amostras, têm baixa intensidade, possivelmente devido as pequenas espessura dos nanofilmes, tornando difícil a detecção por espectroscopia Raman. 69 CONSIDERAÇÕES FINAIS “Se o conhecimento pode criar problemas, não é através da ignorância que podemos solucioná-los.” —ISAAC ASIMOV (1920-1992) Esta dissertação descreve o procedimento de crescimento e de caracterização dos nanofilmes semicondutores de nitreto de alumínio, utilizando a técnica Magnetron Sputtering de Rádio-frequência não reativo. Na caracterização utilizando raios-X, foi analisado os difratogramas do alvo, concluindo através dos picos de difração que caracteriza o nitreto de alumínio, que o alvo é apropriado para deposição dos nanofilmes. Porém os difratogramas das amostras revelou que os filmes não são cristalinos, evidenciando o caráter amorfo das amostras. Através da análise dos raios-X a baixos ângulos obtemos a espessura de cada amostra com sua respectiva taxa de deposição. As taxas obtidas são pequenas e variáveis. Atribuímos esse comportamento principalmente ao fator baixa potência da fonte RF ( 50W ), e a elevada estabilidade das ligações Al-N (300kJ/mol) e Al-Al (186kJ/mol). Os resultados obtidos através da técnica, microscopia de força atômica (AFM) concordam com os obtidos usando a técnica de raios-X a baixos ângulos, tanto para as pequenas taxas de deposição quanto em seu comportamento variável. A caracterização por espectroscopia Raman evidenciou a existência de modos ativos nas amostras analisadas, contudo, alguns picos têm baixa intensidade e/ou são deslocados/alargados quando comparados com os dados teóricos e experimentais referentes ao AlN. Nas próximas deposições iremos variar os tipos de substratos, pois como sabemos, a estrutura do substrato influência fortemente as propriedades do filme depositado durante a nucleação, na fase de crescimento do filme. Outro fator que iremos dedicar maior atenção será a temperatura do substrato, através de tratamento térmico dos nanofilmes depositados, utilizando a própria câmara de deposição. Pois o processo de condensação se inicia nos primeiros momentos de formação do filme, pela formação de pequenos clustres (aglomerados), resultantes da combinação de vários átomos adsorvidos, é influenciado pela temperatura do substrato. Calcularemos via primeiros princípios os modos ativos Raman para o AlN, e com a chegada de uma nova fonte RF de potência mais elevada poderemos obter nanofimes mais espersos, consequentemente mais cristalinos. A PÊNDICE A Tabela Periódica Figura A.1 Tabela Periódica. 70 APÊNDICE A TABELA PERIÓDICA Figura A.2 Dados Referentes ao Nitreto de Alumínio. 71 72 Referências Bibliográficas [1] FREIRE, Thatyara de Souza.; Crescimento de Filmes Nanométricos Monocristalinos de Fe/MgO (100) por Sputtering DC. Dissertação de mestrado. Departamento de Física Experimental e Téorica. UFRN-DFTE. Natal-RN, Março de 2007. [2] SPUTTERING.; Disponível em: <http://www-staff.lboro.ac.uk/ masdk/sputtering.html>. Acesso em 7 de dezembro de 2010. [3] THE OPTICAL THIN FILM DEPOSITION TECHNOLOGY. Thermal evaporation. Disponível em: <http://www.etafilm.com.tw/Thinfilm-filter-Deposition-History.html>. Acesso em 2 de dezembro de 2010. [4] PASCOALI, Suzy. 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