Da Descrição de Áreas à Teoria dos Geossistemas

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
TESE DE DOUTORADO
Da Descrição de Áreas à Teoria dos Geossistemas
Uma Abordagem Epistemológica sobre Sínteses Naturalistas
Lucas Costa De Souza Cavalcanti
Recife, 2013
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
TESE DE DOUTORADO
DA DESCRIÇÃO DE ÁREAS À TEORIA DOS GEOSSISTEMAS: UMA ABORDAGEM
EPISTEMOLÓGICA SOBRE SÍNTESES NATURALISTAS
Tese apresentada por Lucas Costa de
Souza Cavalcanti, sob orientação dos
Drs. Antonio Carlos de Barros Corrêa e
Gregory Anatolievich Isachenko, como
parte dos requisitos para obtenção do
grau de Doutor em Geografia.
Recife, 2013
3
4
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO - UFPE
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS - CFCH
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS GEOGRÁFICAS - DCG
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA - PPGEO
LUCAS COSTA DE SOUZA CAVALCANTI
“DA DESCRIÇÃO DE ÁREAS À TEORIA DOS GEOSSISTEMAS: UMA
ABORDAGEM EPISTEMOLÓGICA SOBRE SÍNTESES NATURALISTAS”.
Tese aprovada, em 29/10/2013, pela comissão examinadora:
____________________________________________________________
Prof. Dr. Antonio Carlos de Barros Corrêa
(1º examinador – orientador – DCG/UFPE)
____________________________________________________________
Prof. Dr. Archimedes Perez Filho
(2º examinador – Geografia/Unesp Rio Claro-SP)
____________________________________________________________
Profa. Dra. Danielle Gomes da Silva
(3º examinador – Geografia/UFAL)
____________________________________________________________
Prof. Dr. Ranyére Silva Nóbrega
(4º examinador – DCG/UFPE)
____________________________________________________________
Prof. Dr. Bertrand Roger Guillaume Cozic
(5º examinador – DCG/UFPE)
RECIFE – PE
2013
5
Para Nayane e a pequena Valentina.
6
AGRADECIMENTOS
Ao meu Deus, por seu infinito amor e pela graça imerecida.
À minha família, pelo apoio incondicional, sem o qual este trabalho não existiria.
Ao Dr. Antonio Carlos de Barros Corrêa, por toda ajuda e pela oportunidade única de
conversar sobre geografia.
Ao Dr. Gregory Anatolievich Isachenko, pelo apoio constante, hospitalidade e paciência.
Aos Drs. Osvaldo Girão da Silva e José Coelho de Araújo Filho, por toda ajuda com a
avaliação deste trabalho.
Aos meus amigos e colegas, pelo auxílio e paciência, em especial a Christianne Farias da
Fonseca, Adriana Cassiano, Alcindo Sá, Célia Machado, Daniel Rodrigues, Diogo Galvão,
Geislam Lima, Hewerton Silva, Larissa Rafael, Marlla Araújo, Olga Koresheva, Pieter
Vranckx, Roberto Parahyba, Ronaldo Missura.
Às Sras. Paula Melo Rêgo Barros e Rossana Sette Melo Rêgo, por cederem informações
acerca da vida e obra do Professor Hilton Sette.
À Dra. Dali Nikolaishvili pelo apoio e esclarecimentos sobre a proposta georgiana de
Geografia.
Ao Dr. Timothy F. H. Allen, pelo esclarecimento sobre a ideia de complexidade.
Ao Dr. Leonaldo Alves Andrade, pela ajuda com sua tese.
Ao Instituto Chico Mendes da Biodiversidade e à administração do Parque Nacional do
Catimbau, em especial ao Sr. Francimar Júnior, ao Sr. José Gildo Siqueira dos Santos e à Sra.
Francilda Andrade dos Santos e família, por toda ajuda e hospitalidade.
Ao Sr. Joaquim e família (Alcobaça), ao Sr. Roberto e família (Vila do Puiú), à Sra. Angelita
e seu marido (Serra do Catimbau), à Dona Francisca, sempre amiga, ao Sr. José Praxedes e
família, à Sra. Roseane, sua família e o povo Kapinawá da Ponta da Vargem por todo apoio e
hospitalidade;
Ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, por acolher e fomentar o desenvolvimento
deste trabalho.
À Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco, pela concessão da
bolsa de doutorado.
A todos que contribuíram direta e indiretamente a este trabalho.
Muito obrigado.
7
Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça
todos os mistérios e toda a ciência; ainda que tenha
tamanha fé, a ponto de transportar os montes, se eu
não tiver amor, nada serei.
1 Coríntios 13:2.
8
RESUMO
Ecossistemas, geossistemas, regiões naturais, ecorregiões, paisagens, biomas, complexos
biogeocenóticos, complexos territoriais naturais e tantos outros termos representam, nas
acepções de distintos autores, a ideia de que existe uma ordem natural promovendo a
organização da superfície terrestre a partir das relações entre seus elementos constituintes
(rochas, solos, seres vivos, água, etc.) e alguns externos (sol, movimentos orbitais, atividade
interna do planeta). O conceito genérico de áreas naturais, como categoria de estudo da
Geografia, e como produto de sínteses naturalistas é objeto deste trabalho. Fazendo uso de
uma abordagem epistemológica, investigamos a estrutura, origens, desenvolvimento e
aplicabilidade do conceito de áreas naturais, tendo como objetivo promover o entendimento
da ideia de áreas naturais como categoria chave da Geografia. Inicialmente procuramos
identificar os elementos estruturantes das sínteses naturalistas, entendidas como sistemas de
gestão da informação sobre a natureza na superfície terrestre. Para tanto, comparamos
exemplos de sínteses propostas para o Estado de Pernambuco. Em seguida, buscou-se
entender as origens e desenvolvimento do conceito de áreas naturais a partir de uma
abordagem historiográfica. Posteriormente, apresentamos aspectos fundamentais da teoria dos
geossistemas como estudo de áreas naturais e perspectivas de sua difusão no Brasil. Neste
momento, foram revelados diversos erros comuns à interpretação da referida teoria no nosso
país. Com base na teoria em questão foram aplicadas técnicas de diferenciação de
geossistemas locais inferidos por geoprocessamento e descrições físico-geográficas em
campo, suportadas adicionalmente por estudos prévios sobre os condicionantes geológicogeomorfológicos e climáticos sobre as paisagens. A área de estudo escolhida foi o Parque
Nacional do Catimbau (Nordeste do Brasil). Por fim, esta tese de doutorado apresenta muitas
informações até então desconhecidas para a geografia brasileira, além de mostrar, com o
exemplo empírico das paisagens do Catimbau, muitos enganos na interpretação do potencial
da teoria dos geossistemas para estudos detalhados das áreas naturais. Deste modo, são
fornecidos fundamentos para o desenvolvimento de uma geografia física integrada no nosso
país, sobretudo a partir da consolidação do conceito de geossistema/área natural como
categoria de estudo.
Palavras-chave: Epistemologia da Geografia; Geografia Física; Sínteses Naturalistas; Teoria
dos Geossistemas; Parque Nacional do Catimbau.
9
ABSTRACT
Ecosystems, geosystems, natural regions, ecoregions, landscapes, biomes, biogeocenotic
complexes, natural territorial complexes and other words synthetize for different authors the
idea that there is a natural order promoting the organization of the Earth surface based on the
relationship between its inner elements (rocks, soils, landforms, animals, plants, etc.) and
some external ones (solar radiation, orbital cycles, core activity). The concept of natural area
as a geographical category and the product of a naturalist synthesis is the object of this work.
Based on an epistemological approach, the structure, origins, development and applicability
of the natural areas concept were investigated, aiming at promoting the understanding of the
natural areas idea as a key category within geography. Initially, it was sought to identify the
structuring elements of naturalistic synthesis, taken as Earth surface nature management
systems. For this purpose, examples of synthesis proposed for the State of Pernambuco were
compared. Following, it was sought to understand the origins and the evolution of the concept
of natural areas based on a historiographic approach. Later, the fundamental aspects of the
geosystems theory, as a natural areas study proposal, and perspectives on its diffusion in
Brazil, were presented. At this stage, some common interpretation mistakes of this theory
usage in our country were presented. Based on the premises of this theory, local geosystems
differentiation tecniques were applied to a chosen area, by means of GIS and field physicogeographical descriptions, yet supported by geomorphological and climatic conditioning. The
chosen study area was Catimbau National Park (Northeast of Brazil). Finally, this doctorate
thesis presents several information unknown to this date to Brazilian geography, as well as
point out, based on the empirical example of Catimbau landscapes, several interpretation
mistakes regarding the potential of geosystems theory for the detailed study of natural areas.
Thus, the fundaments for the development of an integrated physical geography of our country
are put forward, mainly following the consolidation of the geosystem/natural area concept as
a study category.
Keywords: Epistemology of Geography; Physical Geography; Naturalist Synthesis;
Geosystems Theory; Catimbau National Park.
10
Lista de Ilustrações
Figura 1. Diferentes limites traçados para o Planalto da Borborema. ...................................... 26
Figura 2. Vegetação do Estado de Pernambuco. ...................................................................... 31
Figura 3. Associação entre solos, declividade e água no Nordeste do Brasil........................... 34
Figura 4. Domínios de Natureza do Brasil................................................................................
Figura 5. Grupos de Paisagens do Nordeste do Brasil. ............................................................ 39
Figura 6. Unidades da Regionalização Geoecológica (à esq.) e Tipos Geoecológicos. ........... 39
Figura 7. Unidades de Paisagem do Zoneamento Agroecológico do Nordeste. ...................... 42
Figura 8. Unidades de Paisagem do Zoneamento Agroecológico de Pernambuco. ................. 43
Figura 9. Unidades Geológico-Ambientais do Estado de Pernambuco, com detalhe para a
região do Parque nacional do Catimbau. .................................................................................. 44
Figura 10. Compartimentos de Relevo do Estado de Pernambuco. ......................................... 46
Figura 11. Domínios e Unidades Geológico Ambientais e Formas de Relevo Associadas na
região do Parque Nacional do Catimbau. ................................................................................. 47
Figura 12. Ecorregiões do Estado de Pernambuco. .................................................................. 49
Figura 13. Regiões Ecológicas do Nordeste. ............................................................................ 49
Figura 14. Sistema Bisserial para Determinação de Áreas Naturais pelo Método das Forças
Motrizes. ................................................................................................................................... 52
Figura 15. Propriedades da Geografia Particular de uma região. ............................................. 63
Figura 16. 1 a 10 (fácies ao longo de uma seção), A-Г (diferenças no substrato). .................. 83
Figura 17. Estrutura dos Tratos. I, II e III indicam Tratos; IIa, IIb, IIIa e IIIb indicam
Subtratos.Os valores entre 1 e 9 indicam Fácies. ..................................................................... 84
Figura 18. Esquema de diferenciação de uma Localidade como uma unidade morfológica de
uma paisagem. I – Localidade com Tratos em vales úmidos; II – Localidade com Tratos em
vales secos. ............................................................................................................................... 85
Figura 19. Mapa da Paisagem de Drokovski a SW de Moscou (margem direita do rio Iput)..87
Figura 20. Características e Critérios para Identificação de Unidades Zonais e Azonais. ....... 87
Figura 21. Sistema Taxonômico de Unidades Físico-Geográficas Regionais.......................... 88
Figura 22. Geofácies, geohorizontes e distribuição da geomassa. ........................................... 97
Figura 23. Correspondência de termos em Bertrand e Sochava. .............................................. 98
Figura 24. Subdivisão Taxonômica dos Geossistemas. .......................................................... 100
Figura 25. Exemplos de Geômeros Planetários e Regionais. ................................................. 101
Figura 26. Fragmento de Carta de Geossistemas do Sul da Sibéria. ...................................... 101
11
Figura 27. Exemplos de Geócoros Planetários e Regionais. .................................................. 103
Figura 28. Localização do Parque Nacional do Catimbau, Estado de Pernambuco (Nordeste
do Brasil). ............................................................................................................................... 114
Figura 29. A – Formas de relevo residuais emergindo dos mantos arenosos na borda da Bacia
Sedimentar do Jatobá. ............................................................................................................. 115
Figura 30. Imagens de alta resolução utilizadas para correlação visual. ................................ 118
Figura 31. Localização do Parque Nacional do Catimbau na Bacia do Jatobá. ..................... 119
Figura 32. Esquema da Evolução da Borda da Bacia Sedimentar do Jatobá. ........................ 119
Figura 33 . Endurecimento de óxidos de ferro (A), Rachaduras poligonais (B) e, Formas de
dissolução (C) no Arenito Tacaratú. ....................................................................................... 120
Figura 34. Principais Estruturas na Região do Parque Nacional do Catimbau. Linhas indicam
falhas e zonas de cisalhamento. Linhas tracejadas indicam falhas inferidas.......................... 122
Figura 35. Serra do Quiridalho e Lagoa do Puiú (Estação Seca). .......................................... 123
Figura 36. Localização dos Perfis Geomorfológicos na Borda da Bacia do Jatobá. .............. 124
Figura 37. Perfil A-B (Sentido NW-SE), apresentando o Horst Buíque. ............................... 125
Figura 38. Perfil C-D (Sentido SW-NE). ............................................................................... 125
Figura 39. Perfil E-F (Sentido WNW-ESE). Representa a configuração geral das
morfoestruturas e do modelado na área do Parque e seu entorno próximo. ........................... 126
Figura 40. Unidades Morfoestruturais e Geomorfológicas do Parque Nacional do Catimbau.
................................................................................................................................................ 126
Figura 41. Paisagens da Borda Leste da Bacia Sedimentar do Jatobá. .................................. 127
Figura 42. Blocos Partidos (A, C) e Caídos na Base do Escarpamento Leste........................ 128
Figura 43. Classes e Subclasses de Paisagens do Parque Nacional do Catimbau. ................. 132
Figura 44. Estimativa Espacial de Superfícies. ...................................................................... 134
Figura 45. Isoietas do Parque Nacional do Catimbau e Arredores. ........................................ 141
Figura 46. Pluviosidade Mensal de Postos em Isoietas abaixo de 600mm. ........................... 142
Figura 47. Pluviosidade Mensal dos Postos em Isoietas acima de 600mm. ........................... 142
Figura 48. Contraste da Pluviosidade entre os Postos de Buíque (798m) e do Amaro (475m).
................................................................................................................................................ 143
Figura 49. Relação entre Altitude e Pluviosidade entre os Postos do Amaro e de Buíque. ... 144
Figura 50. Área Ocupada por Classes de Mudança Sazonal na Pigmentação Foliar no Parque
Nacional do Catimbau (%). .................................................................................................... 144
Figura 51. Mapa de Mudança Sazonal da Pigmentação Foliar. ............................................. 145
12
Figura 52. Perfil 1: Dispersão da Pigmentação Foliar ao Longo do Gradiente Pluviométrico.
................................................................................................................................................ 146
Figura 53. Perfil 2: Dispersão da Pigmentação Foliar ao Longo do Gradiente Pluviométrico.
................................................................................................................................................ 147
Figura 54. Valores de Ganho do Perfil 2 Isolados. ................................................................. 147
Figura 55. Influência do Uso da Terra nos Valores de mPF. ................................................. 148
Figura 56. Perfil1: Altitude (Z) x Mudança na Pigmentação Foliar (mPF). .......................... 149
Figura 57. Correlação entre Fenologia (à esq.), Pluviosidade e Geomorfologia (à dir.) na
Porção SE do Parque. ............................................................................................................. 149
Figura 58. Perfil2: Altitude (Z) x Mudança na Pigmentação Foliar (mPF). .......................... 150
Figura 59. Influência do Uso da Terra nos Valores de mPF. ................................................. 151
Figura 60. Paisagens do Parque Nacional do Catimbau. ........................................................ 152
Figura 61. Definição dos Geossistemas pelo cruzamento dos Limites dos Sítios e dos Estados.
................................................................................................................................................ 155
Figura 62. Nomenclatura de Sítios Paisagísticos. .................................................................. 156
Figura 63. Fluxograma para Definição de Sítios. ................................................................... 156
Figura 64. Segmentos de Encosta. .......................................................................................... 158
Figura 65. Fluxograma para Determinação da Gênese do Substrato. .................................... 159
Figura 66. Modos de Migração Geoquímica. ......................................................................... 160
Figura 67. Proposta de Nomenclatura para Grupos Estados. ................................................. 163
Figura 68. Fluxograma para Determinação dos Estados. ....................................................... 163
Figura 69. Etapas da Cartografia de Geossistemas................................................................. 164
Figura 70. Critérios para Descrição Físico-Geográfica. ......................................................... 165
Figura 71. Características das Descrições Físico-Geográficas Realizadas............................. 166
Figura 72. Distribuição das Descrições Físico-Geográficas Realizadas. ............................... 167
Figura 73. Matriz Hipotética de Dados Ambientais Observados no Campo.......................... 168
Figura 74. Quadro de Correlação dos Dados Ambientais para determinação dos Geossistemas.
................................................................................................................................................ 168
Figura 75. Seção Esquemática da Paisagem no Perfil Xilili. ................................................. 170
Figura 76. Paisagem no Xilili. ................................................................................................ 171
Figura 77. Diferentes Espécies de Cnidoscolus que Ocorrem em Substratos Distintos. ....... 172
Figura 78. Paisagem do Brejo de São José. ............................................................................ 173
Figura 79. Transição Abrupta entre Conjuntos Paisagísticos. ................................................ 174
Figura 80. Transição Suave de Conjuntos Paisagísticos. ....................................................... 175
13
Figura 81. Espécies Dominantes para o Sítio Alcobaça e o Brejo de São José...................... 176
Figura 82. Mapa de Geossistemas do Sítio Arqueológico Alcobaça......................................175
Figura 83. Paisagem da Serra do Catimbau. ........................................................................... 178
Figura 84. Faixa Paisagística Altitudinal da Porção SE do Parque Nacional do Catimbau. .. 179
Figura 85. Sítios Paisagísticos do Parque Nacional do Catimbau. ......................................... 181
Figura 86.Estados do Parque Nacional do Catimbau..............................................................180
Figura 87. Grupos de Geocomplexos do Parque Nacional do Catimbau. .............................. 181
Figura 88. Unidades Geoambientais (acima) e Grupos de Geocomplexos (abaixo). ............. 182
14
Lista de Tabelas
Tabela 1. Dados Climáticos da Região do Parque Nacional do Catimbau............................. 135
Tabela 2. Características Pluviométricas da Data de Passagem do Satélite. .......................... 137
Tabela 3. Classificação para Mudanças Intra-anuais nos Valores de NDVI, intervalo de 1.. 139
Tabela 4. Anos Excluídos em Pela Ausência de Dados. ........................................................ 139
15
SUMÁRIO
Introdução ............................................................................................................................... 18
Capítulo 1. Elementos para uma Compreensão Geral das Sínteses Naturalistas ............ 23
1 Introdução .......................................................................................................................... 23
1.1 Problematizando ............................................................................................................. 25
2 Metodologia ....................................................................................................................... 28
3 As Regiões Naturais de Vasconcelos Sobrinho e Hilton Sette .......................................... 29
4 As Paisagens do Brasil aos olhos de Aziz Nacib Ab’Saber............................................... 35
5 As Paisagens do Brasil conforme os Soviéticos ................................................................ 37
6 As Unidades Geoambientais: Detalhamento e Uso de Geotecnologias............................. 39
7 A Preocupação Conservacionista e as Ecorregiões ........................................................... 47
8 Estrutura Geral das Sínteses Naturalistas .......................................................................... 50
9 Conclusões ......................................................................................................................... 54
Capítulo 2. Origens e Desenvolvimento do Conceito de Áreas Naturais ........................... 56
1 Introdução .......................................................................................................................... 56
2 Aspectos metodológicos .................................................................................................... 57
3 Origem Intuitiva e as Contribuições Greco-Latinas .......................................................... 59
4 Bernard Varen e o Renascimento da Geografia Europeia ................................................. 61
5 Iluminismo, Enciclopedismo e História Natural ................................................................ 64
6 Humboldt, Dokuchaev e as Zonas Naturais ....................................................................... 69
7 Áreas Naturais: Entidades Reais ou Produto da Mente Humana? ..................................... 73
8 Conclusões ......................................................................................................................... 78
Capítulo 3. A Teoria dos Geossistemas: Aspectos Gerais e Perspectivas para sua Difusão
na Geografia Brasileira .......................................................................................................... 79
1 Introdução .......................................................................................................................... 79
2 Aspectos Metodológicos .................................................................................................... 80
3 Geossistemas em Bertrand e em Sochava .......................................................................... 81
3.1 Unidades Físico-Geográficas .......................................................................................... 82
3.1.1 Taxonomia dos Geossistemas Regionais ..................................................................... 91
3.2 Dimensão Espacial dos Geossistemas ............................................................................ 94
3.2.1 Geofácies, Geótopos e Tantos Outros Termos ............................................................ 95
3.3 Geossistemas no Tempo: Dinâmica e Evolução das Paisagens .................................... 104
4 O Estudo de Geossistemas pertence a qual área da Geografia? ...................................... 107
5 Conclusões ....................................................................................................................... 109
16
Capítulo 4. Parque Nacional do Catimbau: Elementos Geológico-Geomorfológicos .... 112
1 Introdução ........................................................................................................................ 112
2 Metodologia ..................................................................................................................... 113
2.1 O Parque Nacional do Catimbau .................................................................................. 113
Fonte: o autor. ..................................................................................................................... 115
2.2 Análise Geológico-Geomorfológica ............................................................................. 116
2.3 Taxonomia das Paisagens ............................................................................................. 118
3 Resultados e Discussão .................................................................................................... 118
3.1 Contribuição à Taxonomia dos Geossistemas .............................................................. 130
4 Conclusões ....................................................................................................................... 131
Capítulo 5. Climatologia do Parque Nacional do Catimbau: Seus Condicionantes e seus
Efeitos sobre a Paisagem ...................................................................................................... 133
1 Introdução ........................................................................................................................ 133
2 Metodologia ..................................................................................................................... 133
2.3 Condicionantes sobre a Precipitação ............................................................................ 136
2.4 Efeito da Precipitação sobre a Fenologia ...................................................................... 136
2.4.1 Ano Climaticamente Regular para a Estação de Arcoverde (Pernambuco) .............. 139
2.4.2 Avaliando a Relação entre Pluviosidade e Fenologia ................................................ 140
2.5 Taxonomia dos Geossistemas ....................................................................................... 140
3 Resultados e Discussão .................................................................................................... 140
3.1 Pluviosidade Média Anual e Seus Condicionantes....................................................... 140
3.2 Fenologia e Seus Condicionantes ................................................................................. 144
3.2.1 Relação Altitude (Z) x Mudança na Pigmentação Foliar (mPF) ............................... 148
3.4 Contribuição à Taxonomia dos Geossistemas .............................................................. 152
4 Conclusões ....................................................................................................................... 152
Capítulo 6. Modelagem Cartográfica e Tipologia dos Geossistemas do Parque Nacional
do Catimbau .......................................................................................................................... 154
1 Introdução ........................................................................................................................ 154
2 Metodologia ..................................................................................................................... 154
2.1 Inferência por Geoprocessamento ................................................................................ 154
2.1.1 Definição dos Sítios ................................................................................................... 155
2.1.2 Definição dos Estados ................................................................................................ 161
2.2 Cartografia de Geossistemas e Descrições Físico-Geográficas .................................... 164
2.2.1 Processamento dos dados........................................................................................... 166
17
3 Resultados e Discussão .................................................................................................... 169
3.1 Perfil Puiú-Cumbe ........................................................................................................ 169
3.2 Perfil Xilili .................................................................................................................... 169
3.3 Brejo de São José e Sítio Arqueológico Alcobaça ....................................................... 172
3.4 Serra do Catimbau ........................................................................................................ 178
3.6 Carta de Geossistemas .................................................................................................. 180
4 Conclusões ....................................................................................................................... 185
Considerações Finais ............................................................................................................ 186
Referências ............................................................................................................................ 189
Apêndice A – Descrições de Campo ........................................................................................ 1
Apêndice B – Mapas Analíticos ............................................................................................... 7
18
Introdução
De modo similar a tantas outras teses de doutorado, esta resulta de reflexões que
surgiram a partir de leituras iniciais, ainda no período da graduação, que no meu caso foi no
curso de Geografia. O desenvolvimento de tais leituras me despertou, inicialmente, o interesse
pela teoria dos sistemas e sua relação com a geografia, o que, invariavelmente me conduziu ao
conceito de geossistema.
O termo geossistema aparece originalmente num artigo intitulado “algumas noções e
termos da geografia física”, publicado no ano de 1963, pelo cientista russo Viktor Borisovich
Sochava. O significado atribuído ao termo o designa como uma área da superfície terrestre (de
qualquer dimensão) em que se possa distinguir um tipo de relações entre os componentes da
natureza, ou seja, é um conjunto de relevo, solo, biota, águas e ar, que possui uma integridade
em relação ao seu entorno, podendo assim, distingui-lo das áreas (geossistemas) adjacentes.
Aparentemente, este conceito é similar a muitos outros, a exemplo das noções de
muitos autores que assumem outros termos como: paisagem, ecossistema, bioma, ecorregião e
tantos outros, como nós já destacamos em outra oportunidade (Cf. Cavalcanti, 2010, p.35-36).
É claro que o grau de similaridade, entre o conceito de geossistema e os demais
mencionados (e outros mais), varia conforme as diversas designações dos autores e a
abrangência de suas conceituações. Por exemplo, em sua geografia de ecossistemas, Bailey
(2009) tem como unidade básica de análise o ecossistema, mas cita como trabalho similar
Isachenko (1973), que tem uma visão distinta em relação aos conceitos de ecossistema e
geossistema (Cf. Isachenko, 1991, p.20).
Entretanto, o signo de igualdade nas perspectivas de Bailey e Isachenko está no
produto de seus respectivos trabalhos e que configura o que chamaremos aqui de síntese
naturalista. Definimos síntese naturalista como qualquer trabalho que busque a
diferenciação de áreas com base nas relações entre os componentes da natureza, sejam eles
modificados/modulados pelas atividades da sociedade ou não.
Foi durante o meu trabalho de mestrado que tomei consciência das sínteses naturalistas
(CAVALCANTI, 2010). A curiosidade em relação a este tipo de atividade me levou a
enveredar pelos aspectos teóricos subjacentes a este tipo de trabalho, foi quando resolvi me
debruçar sobre sua estrutura, origem, seus métodos e a aplicabilidade das sínteses.
Considerando essa perspectiva, esta tese de doutoramento constitui um trabalho de
cunho essencialmente filosófico e geográfico. Tratando da epistemologia da Geografia, para
ser mais exato. Ou seja, o nosso interesse jaz nas concepções envolvidas com a prática das
19
sínteses naturalistas, como estas concepções tem se transformado ao longo do tempo, qual a
sua validade e os modos como elas interferem e são interferidas pela prática.
Portanto, aqui trazemos um estudo da epistemologia das sínteses naturalistas. Trata-se
de um tema bem especializado e também interdisciplinar, pois não é um assunto que diz
respeito exclusivamente à geografia. A literatura ecológica, das ciências agrárias e florestais e
até da geologia apresentam inúmeros exemplos de sínteses naturalistas.
Neste sentido, este é um trabalho que não se restringe ao conceito de geossistema da
concepção de Sochava, que foi quem nos trouxe até aqui, mas abrange várias concepções
associadas aos termos bioma, ecorregião, ecossistema, paisagem, geoecossistema, unidades de
paisagem, unidades geoambientais e tantos outros similares. O termo e conceito de
geossistema foi o meio pelo qual chegamos à constatação das sínteses naturalistas e que,
agora, nos propusemos a estudar.
Em se tratando de um estudo epistemológico, duas preocupações estão subjacentes.
Uma delas envolve os processos pelos quais são concebidas as sínteses naturalistas e sobre o
quê elas se fundamentam. A outra concepção refere-se à extensão, ou os limites do
conhecimento referente às ditas sínteses (ou seja, o que elas nos permitem conhecer e o que
não).
No primeiro caso, a epistemologia guarda um profundo antagonismo entre duas
perspectivas distintas sobre os objetos estudados: uma empirista (conhecimento provém dos
sentidos) e outra racionalista (conhecimento provém da razão)1. Quanto aos limites do
conhecimento, também duas doutrinas genéricas são reconhecidas, o realismo (a crença de
que determinados objetos realmente existem, independentes de qualquer cognição sobre eles)
e o antirrealismo (que nega as teses realistas sobre determinados objetos ou proposições)1.
Neste trabalho, estudamos as sínteses naturalistas de um ponto de vista pouco
pretensioso em relação às perspectivas que envolvem seu estudo ou mesmo ao julgamento da
realidade ou não de seu objeto e proposições. Em vez disso, nos propomos a analisar as
práticas que têm sido desenvolvidas no âmbito daquilo que classificamos como sínteses
naturalistas, tendo como objetivo ampliar o conhecimento sobre elas.
Deste modo, desenvolvemos uma análise a partir do estudo de casos, ou seja, de um
universo amostral específico, relacionado a algumas propostas de síntese naturalista
elaboradas sobre o Estado de Pernambuco (Nordeste do Brasil), escolhido em função de
apresentar material mais acessível à consulta.
1
CHIBENI, S.S. Epistemologia: Noções introdutórias. Sem data.
Disponível em: <http://www.unicamp.br/~chibeni/textosdidaticos/epistemologia.htm> acesso em 30/04/2013.
20
Inicialmente (capítulo 1), foram avaliadas características gerais de algumas das
sínteses naturalistas já elaboradas para o Estado de Pernambuco. Em se tratando de trabalhos
distintos e de épocas distintas, escolheu-se o critério da gestão da informação para avaliar as
propostas. Este critério foi estabelecido como um filtro para determinar as relações entre as
diversas propostas, partindo do pressuposto de que tais sínteses se constituem, em última
análise, como sistemas de gestão da informação sobre dados da natureza.
Um sistema de gestão da informação apresenta características particulares quanto à
obtenção, processamento, classificação e uso da informação (DAVENPORT, 1998).
Considerando as sínteses naturalistas como tais sistemas, pudemos compará-las entre si com
base nas características acima elencadas, o que nos auxiliou na determinação de elementos
estruturais genéricos das referidas sínteses.
Em seguida (capítulo 2), buscaram-se as origens dos elementos gerais descritos no
capítulo anterior, através de consulta a literatura especializada e de outras fontes que
auxiliassem num quadro geral do desenvolvimento da estrutura das sínteses naturalistas.
Neste sentido, foi realizada uma historiografia, que se baseou na compreensão dos contextos
em que surgiram os elementos estruturantes, enfatizando a variação das concepções (empírica,
racionalista, realista, antirrealista) relativas ao objeto e proposições das sínteses naturalistas.
Ainda no campo historiográfico (capítulo 3), um parêntese foi aberto para discutir a
ideia de geossistema no Brasil, como ela tem sido compreendida e interpretada e como a
nossa estrutura acadêmica tem se relacionado com ela, no sentido do valor que tem sido dado
às sínteses naturalistas e aos desdobramentos da teoria geossistêmica de Sochava. Assim
destacam-se as diferenças entre o contexto da geografia brasileira e o da geografia russosoviética, como elemento norteador para o entendimento de nossas diferenças acadêmicas e
até epistemológicas. Cabe salientar que, pela sua própria natureza, este capítulo deve ser lido
com cuidado, em função da grande quantidade de termos e acepções que são apresentados e
discutidos.
Entrando no campo de uma discussão metodológica (capítulos 4 e 5), a partir da
realização de uma síntese naturalista na área do Parque Nacional do Catimbau (no Estado de
Pernambuco), foram debatidos aspectos relevantes para a interpretação e representação das
áreas naturais (geossistemas). Com base nisso, é retomada a discussão dos limites e da
aplicabilidade das sínteses que nos propusemos a estudar.
Inicialmente (capítulos 4 e 5), foi discutida a determinação de contrastes paisagísticos
de dimensões regionais, a partir da relação entre fatores morfoestruturais e bioclimáticos. Em
21
seguida (capítulo 6), são avaliadas perspectivas de cartografia de paisagens (geossistemas) em
nível de semidetalhe e detalhe.
Por fim, esperamos que este trabalho contribua não apenas com o aprofundamento na
compreensão sobre a epistemologia das sínteses naturalistas, mas que também sirva de base
para sua prática, visto que se trata de (e sempre esteve relacionado a) um conhecimento de
ordem prática para o planejamento territorial em suas múltiplas competências.
22
Lucas Cavalcanti, 2012.
1
“(...), há um contingente de timoneiros que vagueiam por mares mais revoltos. Estes reverenciam
profundamente as dinâmicas que enxergam manifestas na fenomenologia natural (os ares, os solos, as águas) e
terminam por dedicar-se ao que se convenciona chamar de métier da Geografia Física.” (REIS JÚNIOR;
PEREZ FILHO, 2009, p.62).
Sobre a Estrutura e Origem das Sínteses Naturalistas e Perspectivas da
Difusão da Teoria dos Geossistemas no Brasil
23
Capítulo 1
Elementos para uma Compreensão Geral das Sínteses Naturalistas
1 Introdução
No final do século 19, um conjunto de artigos publicados pelo historiador natural
Vasiliy Vasilievich Dokuchaev formaliza uma perspectiva teórica antiga, relacionada à
compreensão do espaço terrestre a partir da configuração geográfica derivada das interações
entre a natureza viva e não viva.
O conjunto destes artigos recebeu o nome de teoria das zonas naturais e refletia a
preocupação em explicar padrões geográficos resultantes do controle latitudinal (zonas
horizontais) e altitudinal (zonas verticais) sobre os climas, formas de relevo, drenagem, solos,
seres vivos, determinando assim, potenciais de uso da terra.
Posteriormente, a prática de reconhecimento e explicação destes padrões passa a ser
tratada como objeto de disciplinas que receberam nomes diversos, a saber: Ciência da
Paisagem (PASSARGE, 1913; BERG, 1915), Geoecologia (TROLL, 1968), Ecologia da
Paisagem (LESER, 1976), Classificação Ecológica de Terras (THIE; IRONSIDE, 1977),
Estudo de Geossistemas (SOCHAVA, 1978), Geografia Física Complexa (ZUCHKOVA;
RAKOVSKAIA, 2004), Geografia de Ecossistemas (BAILEY, 2009), Biogeografia (LIMA,
2012) e tantos outros nomes.
Este fato denota que a referida prática se diversificou sem uma afiliação terminológica
homogênea, recebendo denominações diversas em distintas regiões e mesmo por distintos
centros de pesquisa num mesmo país, na Rússia, por exemplo, encontramos denominações
como geossistemas, geocomplexos, paisagens e complexos territoriais naturais.
Independente disto, a aplicabilidade deste tipo de reflexão tem se demonstrado
bastante ampla, apoiando-se na demanda pelo conhecimento da diversidade e distribuição das
relações entre os componentes ambientais (formas de relevo, drenagem, solos, cobertura da
terra, etc.) e fundamentando atividades de planejamento agropecuário (ARAÚJO FILHO et
al., 2010), planejamento urbano (BEDÊ et al., 1997), de zoneamento geotécnico para fins de
obras civis (ZUQUETTE; GANDOLFFI, 2004), serviços florestais e de solos, modelagem de
habitat e conservação da biodiversidade (BAILEY, 2009; FIELD MANUAL FOR
DESCRIBING TERRESTRIAL ECOSYSTEMS, 2010).
No conjunto, estas práticas buscam uma visão integrada da natureza na superfície
terrestre, derivada das relações entre os componentes naturais e sendo esta visão, no geral,
representada por um mapa de síntese, sendo este um dos motivos pelos quais vamos adotar,
24
aqui, o nome de Sínteses Naturalistas (SN), para nos referir ao conjunto das variações
terminológicas e metodológicas existentes para tal fim.
É neste sentido que, apresentando uma classificação dos diversos ramos da Geografia,
A. G. Isachenko (2004) destaca a Geografia Física Integrada que, assim como a
Geomorfologia e a Climatologia e outras áreas, corresponde a uma perspectiva em Geografia,
que tem sua singularidade marcada pelo estudo da natureza da superfície terrestre, que o
mesmo denomina ‘epigeosfera’, revelando uma preocupação em sistematizar o estudo das
interações complexas entre os diversos componentes da natureza e realizar sua classificação.
Contudo, este tipo de abordagem classificatória integrativa da natureza não é exclusivo
da Geografia, podendo ser encontrada no trabalho de referência dos agrônomos Clifford
Stuart Christian e George Alan Stewart na região de Katherine-Darwin, na Austrália do final
da década de 1940 e início da década de 1950. O objetivo do trabalho era dar indicativos para
um aproveitamento agropecuário-industrial da região. Para tanto, a região foi subdividida em
18 áreas com padrões recorrentes de topografia, solos e vegetação, sendo cada uma destas
áreas denominada land system, reconhecidas por fotointerpretação e amostragem em campo.
O trabalho de Christian e Stewart (1953) se tornaria popular nos países de língua
inglesa, sendo posteriormente adotado pelas Nações Unidas como unidade para a
classificação de terras para fins de agricultura e irrigação (FAO, 1983; 2007). Além disso, a
estratégia de reconhecimento de Land Systems com base na interpretação por fotografias
aéreas e amostragem em campo, inspirada no trabalho do inglês Ray Bourne (1931), se
mostraria útil para popularizar o uso deste modelo classificatório também para fins de
Zoneamento Geotécnico e subsídio ao desenvolvimento de obras de engenharia, como nos
indica Zuquette e Gandolfi (2004).
Comentando um artigo posterior de C. S. Christian, o geógrafo alemão Carl Theodor
Troll (que cunhou o termo ‘Ecologia de Paisagens’) associou o modelo desenvolvido na
Austrália à sua própria classificação, salientando que já realizava estudos semelhantes na
Europa e destacando o caráter ecológico deste tipo de aproximação classificatória, utilizando
os termos paisagem e ecótopo, com aplicações para fins de planejamento urbano e ambiental
(CHRISTIAN, 1958; TROLL, 2006).
A relevância ecológica desta perspectiva também foi posta em evidência pelo geógrafo
francês Jean Tricart. Em sua obra Ecodinâmica (TRICART, 1977), o mesmo propõe uma
classificação dinâmica do meio ambiente, derivada da relação sistêmica entre o equilíbrio
ecológico promovido pelas comunidades biológicas e a instabilidade ambiental causada pelos
processos erosivos. O autor salienta que o desenvolvimento rápido dos processos erosivos
25
dificulta a ocupação das terras pelos seres vivos, em contraponto, uma área ocupada pelos
seres vivos tende a se tornar cada vez mais estável, dando margem à dinâmica florestal e à
formação dos solos.
A ecodinâmica teve grande relevância entre geógrafos, geólogos, engenheiros e
cientistas ambientais no Brasil, subsidiando uma série de esquemas para caracterização da
vulnerabilidade ambiental por sensoriamento remoto e geoprocessamento com base nas
relações entre os diversos componentes da natureza num dado local (CREPANI et al., 2001;
ROSS et al., 2005).
Ainda numa perspectiva que relaciona estabilidade biológica e processos
geomorfológicos, mas com vistas ao planejamento dos recursos hídricos, a abordagem dos
estilos fluviais (River Styles®), desenvolvida pelos geógrafos Gary Brierley e Kirstie Fryirs
(2000), busca elaborar uma classificação tipológica de trechos de rios, incluindo canais e
planícies de inundação, com vistas a compreender suas características e sua dinâmica ao
longo das bacias de drenagem. Para estes autores, a gestão dos recursos hídricos precisa ser
realizada numa perspectiva ecológica, valorizando a dinâmica natural da rede de drenagem,
que encontra nos estilos fluviais a base para o seu entendimento enquanto ecossistema
(BRIERLEY; FRYIRS, 2005).
É propondo uma Geografia dos Ecossistemas que o geógrafo do Serviço Florestal dos
Estados Unidos, Robert G. Bailey (2009) divulga a ideia de ecorregiões como sendo áreas de
grandes dimensões abrangendo um conjunto de relações entre os componentes da natureza.
Esta perspectiva tem sido aplicada ao Brasil e a todo mundo com objetivos de Conservação da
biodiversidade. Isto deixa ainda em mais estreita evidência as relações entre Geografia e
Ecologia no tocante à classificação de áreas com base nas relações entre os componentes
naturais.
Considerando esses poucos exemplos, percebe-se que estas distintas classificações
apresentadas partilham um raciocínio de síntese geográfica das relações entre os componentes
da natureza, podendo ser chamadas de Sínteses Naturalistas.
1.1 Problematizando
Em se tratando de classificações, estas sínteses naturalistas carecem de uma estrutura
lógica para o tratamento da informação, a fim de que os dados sejam relacionados de modo a
refletir a realidade, o que pode gerar erros, caso sejam desconsiderados alguns critérios, e
podendo levar a uma confusão na hora de definir políticas de planejamento relacionadas às
unidades naturais estabelecidas.
26
Um exemplo concreto é a diferença entre os limites do Planalto da Borborema (no
nordeste oriental do Brasil), que para Corrêa et al. (2010), baseando-se em informações
morfoestruturais, caracterizaram um contorno distinto daqueles indicados por SILVA et al.
(1993), que basearam-se no agrupamento dos tipos de solos (Figura 1).
Figura 1. Diferentes limites traçados para o Planalto da Borborema.
À Esq.: A localização do Planalto da Borborema no Nordeste Brasileiro. À dir.: A mancha cinza foi
proposta por Silva et al.(1993) a partir da agregação de unidades de solos, enquanto a linha preta
vazada corresponde à proposta de Corrêa et al.(2010) com base em análise morfoestrutural.
Organizado pelo autor.
Este exemplo demonstra como distintas formas de organização da informação, por
meio do estabelecimento de diferentes regras para o desenvolvimento de sínteses naturalistas,
produzem ideias distintas sobre um dado ambiental.
Talvez isto ocorra porque nem todos os autores buscam resolver os erros de
classificações anteriores, mas simplesmente adequá-las aos objetivos de suas sínteses
(recursos hídricos, florestais, conservação dos solos e da biodiversidade, etc.). Isto significa
que, grande parte destas propostas surgiu mais com o objetivo de suportar considerações de
27
cunho aplicado ou estudos de outra natureza (focados em determinados processos naturais),
do que para construir uma síntese naturalista livre de problemas classificatórios menores em
relação aos objetivos últimos do pesquisador.
Quanto a isso, destaca-se o trabalho de Anatoliy G. Isachenko2 (1973, 1991) que
examina critérios para a síntese naturalista e avalia os trabalhos anteriores a fim de propor seu
sistema para classificação de unidades físico-geográficas com dimensões regionais. Isachenko
(1973) diferencia duas formas gerais para identificação deste tipo de unidades, sendo uma
delas a utilização de uma única série de unidades subordinadas em que os níveis alternam
temas ambientais escolhidos para representar as dimensões dos processos naturais (GeologiaClima-Geomorfologia, etc.), mas que as unidades subsequentes não necessariamente derivam
delas. A outra corresponde a um modelo classificatório em que unidades são previamente
definidas com base num critério climato-edafo-botânicas (unidades zonais) e outras com base
num critério geológico-geomorfológico (unidades azonais), e a classificação final é derivada
do cruzamento das unidades zonais e azonais. Estes sistemas são chamados respectivamente
uniseriais e biseriais.
É sem dúvida nos países formadores e influenciados pela antiga União Soviética em
que o tema das sínteses naturalistas é levado adiante com maior ênfase, fato que foi notado
por especialistas de outras regiões (ZONNEVELD, 1995; TRICART; KIEWIETDEJONG,
1992).
Longe da influência da antiga União Soviética, a maioria dos autores traz uma
proposta particular, baseada na sua própria experiência, muitas vezes citando trabalhos
anteriores, mas poucas vezes discutindo os critérios de classificação dos outros autores (cf.
CHRISTIAN; STEWART, 1953; BERTRAND, 1968; TRICART, 1977; WALTER, 1986;
AB’SÁBER, 2003; BRIERLEY; FRYIRS, 2005; BAILEY, 2009, entre outros).
Neste sentido, os procedimentos de síntese tornam-se demasiadamente subjetivos, uma
vez que a estrutura de classificação tende a ser bastante simples e os critérios de identificação
das unidades são mais flexíveis que o necessário. Este é um dos motivos da crítica de Tricart e
Kiewietdejong (1992) ao modelo dos Land Systems de Christian e Stewart.
No sentido de buscar critérios de identificação mais coerentes, diversos autores que
propuseram sínteses naturalistas realizaram revisões das propostas de outros autores, como
2
Anatoliy Gregorievich Isachenko (1922) é professor emérito da Universidade Estatal de São Petersburgo que,
dentre outros prêmios, foi agraciado como Trabalhador Honrado da Ciência da Federação Russa (1999), prêmio
nacional concedido a cientistas de mérito extraordinário. A. G. Isachenko produziu livros considerados
fundamentais sobre a cartografia e estudo de paisagens e regiões físico-geográficas.
28
Bailey (2009), algumas vezes chegando a discutir elementos gerais das classificações (Cf.
Isachenko, 1973; 1991 e Sochava, 1978). Contudo, a maioria das propostas apresenta a
metodologia de descrição do meio natural e sua finalidade prática, poucas vezes estando
presente alguma discussão mais geral sobre a natureza do trabalho (Cf. Vasconcelos
Sobrinho, 1970; Bertrand, 1968; Walter, 1986; Riché e Tonneau, 1989; NCST, 2009).
A ideia (e objetivo) deste capítulo é justamente realizar uma comparação entre
distintas classificações, não com o objetivo de julgá-las, mas de evidenciar elementos gerais e
comuns a elas. Para tanto, foram analisadas algumas das sínteses naturalistas que foram
propostas para o Estado de Pernambuco ou mesmo outras que trabalharam uma área maior,
mas que abrangessem o Estado em questão.
2 Metodologia
A comparação entre as propostas selecionadas foi realizada assumindo como premissa
o fato de que qualquer síntese naturalista pode ser tratada com um sistema de gestão da
informação e, uma vez que todas estão colocadas sob este signo de igualdade prática,
podemos compará-las.
A Gestão da Informação consiste na administração do processo de coleta,
arquivamento, recuperação, classificação, organização e utilização dos dados, transformandoos em informação valiosa para um determinado fim (DAVENPORT, 1998). Neste sentido,
não se pode falar em informação sem falar em dados. Ainda segundo Davenport (1998, p.19),
‘dados’ são ‘observações sobre o estado do mundo’, ‘fatos brutos’ ou ainda ‘entidades
quantificáveis’, que podem ser observados pelas pessoas ou por alguma tecnologia. De acordo
com Drucker (1988), Informação é qualquer dado imbuído de relevância e propósito. Além
destes termos, é preciso considerar o conhecimento, que seria a informação dotada de um
contexto, um significado, enfim, uma interpretação (DAVENPORT, 1998).
A ideia de tratar as diferentes sínteses naturalistas, enquanto sistemas de gestão da
informação, veio da necessidade de estabelecer critérios para compará-las e foi inspirada na
concepção de enfrentamento da complexidade desenvolvida por Zellmer, Allen e
Kesseboehmer (2006). Para estes autores, a complexidade não é propriedade do objeto
investigado, mas sim das questões que se fazem sobre o objeto. Uma questão é considerada
complexa quando não se tem um ponto de referência (paradigma) para abordá-la. No nosso
caso, o problema da comparação entre as sínteses naturalistas foi sanado (simplificado)
quando passamos a tratá-las enquanto sistemas de gestão da informação, o que nos forneceu
29
critérios de avaliação, a saber: formas de coleta, processamento, classificação e uso da
informação.
Para tanto, foram
avaliados
e
comparados
os
procedimentos
de coleta,
armazenamento, recuperação, classificação, organização e utilização dos dados sobre o meio
natural conforme algumas das abordagens sintéticas já realizadas para o Estado de
Pernambuco. As seguintes propostas foram selecionadas:

Regiões naturais de Vasconcelos Sobrinho (1941, 1949, 1970) e Hilton Sette (1946);

Paisagens de Isachenko e Shliapnikov (1989), Ab’Saber (2000) e Rodriguez, Silva e
Cavalcanti (2004);

Unidades geoambientais de Silva et al. (2001) e CPRM (2010);

Ecorregiões/Regiões Ecológicas de Andrade (1998) e Velloso, Sampaio e Pareyn
(2002).
Inicialmente foi realizada uma leitura e análise de cada proposta, tomando-se o
cuidado de procurar conhecer, ao mínimo, os propósitos e a natureza das instituições e/ou
formação dos pesquisadores envolvidos. Ao final, tentou-se aprofundar a discussão acerca de
uma estrutura geral das sínteses naturalistas, não se limitando às propostas analisadas e
recorrendo, portanto aos trabalhos de outros autores.
3 As Regiões Naturais de Vasconcelos Sobrinho e Hilton Sette
O primeiro esforço científico de regionalização para o Estado de Pernambuco3 veio de
um dos pioneiros da ecologia brasileira e latino-americana: o agrônomo João Vasconcelos
Sobrinho4.
Sua proposta consistiu na diferenciação de regiões naturais do Estado de Pernambuco
que foi, posteriormente, expandida para o Nordeste do Brasil (VASCONCELOS
SOBRINHO, 1941, 1949, 1970).
3
Em 1921, o bacharel em Direito Agamenon Magalhães (que viria a ser Interventor do Estado de Pernambuco
em 1937) defendeu tese para a cátedra de Geografia do Colégio Pernambucano, destacando dois tipos de habitat
para o Estado: o litoral “região das matas exuberantes” e o sertão “região imensa dos taboleiros e Caatinga
adustas” (MAGALHÃES, 1921).
4
Nascido no município de Moreno (Pernambuco), João Vasconcelos Sobrinho (1908-1989) graduou-se
engenheiro agrônomo. Pelo menos desde o início da década de 1940 era membro da Sociedade Botância da
América e do Museu de História Natural de Nova Iorque, como está registrado no seu artigo de 1941. Fundou o
primeiro curso de Ecologia do Brasil e foi pioneiro no estudo da Desertificação, sendo inclusive, o representante
da América Latina na Conferência de Nairóbi (em 1977). Também foi fundador da Associação Pernambucana de
Proteção da Natureza e foi o primeiro diretor Jardim Zoobotânico de Dois Irmãos (em 1939) e da Reserva
Florestal de Tapacurá (em 1975).
30
As bases conceituais são claramente definidas, apesar de sua filiação teórica, em
relação ao termo “regiões naturais”, permanecer indistinta. É possível que Vasconcelos
Sobrinho estivesse acompanhando a série de debates acerca da temática da regionalização que
vinham sendo travados na época, sobretudo a partir das publicações da Revista Brasileira de
Geografia, do então Conselho Nacional de Geografia (GUIMARÃES, 1941; 1945).
Contudo, o eminente engenheiro pernambucano se esquiva de explicitar seus
pressupostos metodológicos em função de buscar uma linguagem mais acessível, o que lhe
rendeu a crítica de Gilberto Freyre, no prefácio do livro de 1949, intitulado Regiões naturais
do Estado de Pernambuco: o meio e a civilização.5
Posteriormente, o autor retoma seu projeto de regionalização natural, desta vez
propondo uma Geografia Ecológica, como “a ciência que estuda as áreas da superfície
terrestre relativamente ao meio natural, tal como ele se oferece para uso do homem com suas
potencialidades e limitações [...]” (VASCONCELOS SOBRINHO, 1970, p.3), destacando o
conceito de região natural, definida como complexo clímato-edafo-biótico que se integra à
ideia de região socioeconômica para compor o que o autor denomina de sistema integrado de
áreas, cerne de um processo classificatório da superfície terrestre com vistas ao seu
aproveitamento pela sociedade.
Para Vasconcelos Sobrinho (1970), uma área se diferencia fisionomicamente a partir
de três conjuntos de fatores, que deixam transparecer uma lógica evolutiva referente à gênese
dos diferentes componentes da paisagem, a saber:
5

Primários: de ordem geológica (tectônica, litológica, estrutural);

Secundários: que se dividem em climáticos, edáficos e bióticos e;

Recentes: aqueles relacionados à intervenção humana.
Baseando-se em Vasconcelos Sobrinho, o geógrafo Walter Alberto Egler (1951) publica um mapa da vegetação
do Estado de Pernambuco (Fig. 2), cuja descrição de algumas unidades vegetacionais associa elementos de
caráter geomorfológico, caso do “Chapadão do Moxotó”. Esta unidade é a de maior interesse para esta tese, pois
se trata do background físico-geográfico do Parque Nacional do Catimbau. Segundo o referido autor, esta região
tinha a fama de ser a “mais inóspita do Sertão Pernambucano”, sobretudo em função de suas areias soltas e de
grande profundidade, com grande população de cactáceas.
Fonte: Egler, 1951.
Figura 2. Vegetação do Estado de Pernambuco.
31
32
Para a definição de suas regiões naturais o mesmo ainda sugere que sua diferenciação
seja realizada a partir de uma divisão lógica do território em partes sucessivamente menores
considerando Temperatura e Fotoperiodismo, seguido da Pluviosidade e por último dos
Solos, segundo o qual as formações vegetais se diversificam, tendo como referência suas
observações empíricas sobre o Nordeste do Brasil, em particular o Estado de Pernambuco
(VASCONCELOS SOBRINHO, 1970). Vale salientar que o conceito de solo utilizado pelo
referido autor inclui o relevo (principalmente a hipsometria), o que fica evidente quando o
mesmo afirma que “são as elevações do solo que marcam sempre com muita nitidez, os
limites das diversas zonas florísticas” (VASCONCELOS SOBRINHO, 1949, p.25), é com
base nisso, que o autor diferencia caatinga hipoxerófila (de áreas altas, acima de 600m) da
caatinga hiperxerófila (de áreas baixas).
Contemporâneo a Vasconcelos Sobrinho, o geógrafo Hilton Sette6 elaborou, em 1946,
a tese “Contribuição ao estudo das Regiões Naturais de Pernambuco”, para concorrer à
cátedra de Geografia do Colégio Pernambucano, concurso que nunca chegou a se realizar.
Sette baseou-se na obra do geógrafo italiano Giuseppe Ricchiere (1920)7, que versa
sobre a diferenciação de regiões, propondo três conceitos: a região elementar (baseada em um
só critério: geologia, clima, botânica, etc.), a região geográfica complexa (onde se identificam
o cruzamento de diferentes regiões elementares) e a região integral (formadas por conjuntos
de regiões geográficas complexas).
6
Hilton Sette (1911-1997) era bacharel em Direito, mas dedicou sua vida à literatura e à Geografia. Aos 35 anos
se lançou numa viagem de carona na boleia de um caminhão que ia de Recife à Petrolina, na ida pernoitou em
Caruaru e Serra Talha e na volta em Parnamirim e Arcoverde. A partir de suas observações aplicou a proposta de
Ricchieri para diferenciar regiões naturais do Estado de Pernambuco. Sette também foi professor de Geografia e
membro da Academia Pernambucana de Letras.
7
A perspectiva regional de Ricchieri viria a influenciar inclusive os esforços de regionalização empreendidos
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nas décadas de 1940 e 1950, principalmente em
relação à consideração dos limites físicos como base para diferenciação das regiões. Naquele momento, o
conceito de região natural tomava contornos paradigmáticos não apenas na geografia brasileira, mas na geografia
mundial também. Sobre isso, Delgado de Carvalho (1944) cita os avanços de La Blache (França), Herbertson
(Inglaterra), Cerceda (Espanha), Ricchiere (Itália), Passarge (Alemanha), Davis (Estados Unidos), Perez (Chile),
entre outros, dando destaque, porém, à proposta italiana. Seguindo a tendência em fazer uso dos paradigmas
contemporâneos para uso prático, o IBGE defendeu o conceito de região natural como base para regionalização
do Brasil (GUIMARÃES, 1941; 1945), promovendo uma divisão do país em 228 zonas fisiográficas
(MAGNAGO, 1995). Posteriormente, os limites das unidades definidas pelo IBGE passaram a levar em
consideração o peso dos fatores socioeconômicos sobre a necessidade do planejamento territorial. No caso da
Agência Estadual de Planejamento e Pesquisa de Pernambuco, as mesorregiões do IBGE foram reagrupadas
conforme à demanda local, resultando na proposta de 12 ‘Regiões de Desenvolvimento’, que já estavam mais
voltadas para as questões político-econômicas do que para o funcionamento ecológico do território, neste
contexto, os contornos das regiões, mesorregiões e microrregiões passaram a ser traçados com base nos limites
municipais (CONDEPE/FIDEM, 2009).
33
Revendo seu trabalho 40 anos depois, Hilton Sette reescreve suas regiões naturais para
uma publicação do Diário de Pernambuco em 4 de novembro de 1985. Apresenta, pois, uma
descrição sucinta de quatro regiões: Litoral, Mata, Agreste e Sertão.
Do ponto de vista da coleta e armazenamento dos dados, fica claro que ambos (Sette e
Vasconcelos Sobrinho) baseavam-se na observação e registro em cadernetas de campo,
também fazendo uso de registro fotográfico. As informações abrangem unidades de grandes
dimensões (da ordem de centenas a milhares de quilômetros quadrados, ou maiores),
caracterizando trabalhos de caráter exploratório. Além disso, a concepção de uma organização
hierárquica das áreas naturais está presente em ambos.
Nas propostas dos dois pernambucanos, as unidades de menor dimensão da hierarquia
são obtidas pela compartimentação das maiores, através de uma divisão lógica do território
como forma de regionalização e classificação. Entretanto, a diferença entre as abordagens de
Vasconcelos Sobrinho e Hilton Sette se explicitam à medida que as unidades e sua
organização hierárquica são definidas pela determinação de informações no primeiro
(temperatura, fotoperiodismo, pluviosidade, solo) e pelo cruzamento de informações de temas
distintos, no caso do segundo (regiões integrais). Também fica claro que o objetivo de ambos
os trabalhos é apresentar um quadro natural como potencial de utilização pelo homem,
contribuindo de forma ampla para as atividades de planejamento territorial.
Discutindo a relação entre a pobreza e a geografia física do Nordeste brasileiro, o
geógrafo estadunidense Preston E. James8 (1952) apresenta uma caracterização de zonas
naturais e seus subtipos, declarando que o problema da região decorre muito mais da gestão
territorial inadequada do que da seca.
Queixando-se da ausência de informações básicas sobre o território, Preston James
conduz sua investigação a partir de observações de campo, registro fotográfico e do pouco
material disponível. O geógrafo estadunidense adota a nomenclatura de Vasconcelos Sobrinho
(1949), definindo a Zona da Mata e a Zona das Caatingas, promovendo, contudo, uma
subdivisão baseada nas relações entre os solos, o relevo e a água (Fig. 3).
8
Preston Everett James (1899-1986) nasceu em Massachusetts e foi professor de Geografia nas Universidades da
Califórnia e do Michigan. Um de seus grandes interesses de pesquisa foi a América Latina, em especial, o Brasil.
Para ele, a geografia era a ciência da descrição e interpretação de áreas, estando preocupada com os fenômenos
que produzem o aspecto da face da Terra, que ele denomina paisagem (JAMES, 1929).
34
Figura 3. Associação entre solos, declividade e água no Nordeste do Brasil.
Zona da Mata: 1. Costa, 2. Taboleiros, 3. Terras colinosas, 4. Planícies de inundação; Zona das
Caatingas: 5. Costa, 6. Taboleiros, 7. Planícies grosseiras com remanescentes erosivos, 8. Maciços, 9.
Cobertura em arenito, 10. Serra da Jacobina, 11. Bacia sedimentar da Bahia, 12. Planície de Inundação
do São Francisco, 13. Caminho de drenagem do Itapicurú. Fonte: James, 1952.
35
4 As Paisagens do Brasil aos olhos de Aziz Nacib Ab’Saber
Dentre as propostas de síntese naturalista do Brasil pode-se incluir aquela do geógrafo
Aziz N. Ab’Saber9 (1965, 2000, 2003a, 2006) que, com base em observações de campo e no
cruzamento de informações climáticas, geológicas, geomorfológicas e fitogeográficas define
domínios de natureza (ou domínios paisagísticos) para o território brasileiro.
Figura 4. Domínios de Natureza no Brasil.
Fonte: Ab’Saber, 1965.
Manejando de forma característica os diferentes modelos conceituais de Arthur
Tansley, Georges Bertrand e Heinrich Walter, o geógrafo de São Luís do Paraitinga analisa os
9
Aziz Nacib Ab’Saber (1924-2012) nasceu em São Luís do Paraitinga (São Paulo) e tornou-se um dos mais
respeitados geógrafos do Brasil, sendo reconhecido e premiado internacionalmente, sobretudo por seus trabalhos
nas áreas de geografia física e geomorfologia e seu envolvimento com a questão ambiental e o planejamento do
território (AB’SÁBER; MENEZES, 2009). Foi professor titular da Universidade de São Paulo e esteve ligado ao
Instituto de Estudos Avançados da mesma instituição.
36
diferentes compartimentos naturais do território brasileiro propondo uma discussão acerca da
diversidade paisagística e ecológica do país (AB’SABER, 2003).
Diferentemente de todos os outros autores, Ab’Saber não assume um único modelo
teórico em sua análise da natureza, dialogando com pelo menos três modelos conceituais
distintos: o ecossistema de Tansley, o bioma de Walter e a paisagem de Bertrand. Demonstra,
portanto, a peculiaridade de dialogar com diferentes formalismos conceituais de sínteses
naturalistas, ao mesmo tempo, trazendo uma discussão dos espaços e subespaços de natureza
no Brasil.
Para ele, cada domínio de natureza (litoral, caatingas, cerrados, etc.) apresenta uma
família de ecossistemas que lhe é peculiar, guardando “um tipo de ecossistema absolutamente
predominante, a par com enclaves ou redutos de outros sistemas ecológicos (helobiomas,
psamobiomas, rupestrebiomas e geótopos10).” (AB’SABER, 2003. p.139).
Nesta proposta, de caráter integrativo, elaborada a partir das observações e da
experiência do autor, o Estado de Pernambuco é abrangido pelos domínios das caatingas, dos
mares de morros e do litoral. O primeiro se caracterizando como: um ambiente seco marcado
pela vegetação xerófila e a originalidade de possuir uma hidrografia completamente exorréica,
diferente de outros ambientes secos no mundo, evitando a salinização excessiva (AB’SABER,
2003). Já os mares de morros compreendem um contínuo de colinas policonvexas com solos
argilosos em que se distribui a vegetação tropical atlântica. Ao leste ainda destaca-se o
domínio da zona costeira atlântica, apresentando helobiomas salinos (manguezais),
intercalados com planícies de restinga e outras feições litorâneas e sublitorâneas
(AB’SABER, 2003).
Em termos de coleta e armazenamento da informação, o trabalho do geógrafo paulista
não dá sinais de diferir muito das propostas de Vasconcelos Sobrinho, Hilton Sette e Preston
James. Contudo, utilizando três modelos conceituais para classificação e organização da
informação, Ab’Saber inova em relação ao que foi visto até agora: mesmo demonstrando crer
na existência dos sistemas ecológicos, ele não se atém a qualquer sistema de representação,
utilizando de cada um aquilo que é útil para explicar a realidade natural do território
brasileiro.
10
As denominações helobioma, psamobioma provêm da classificação de biomas de Heinrich Walter. Para este
autor, a Biosfera seria dividida em grandes porções (biomas), que por sua vez poderiam ser subdivididos em
categorias e subcategorias de acordo o elemento condicionante: por exemplo, quando o solo exercesse influência
para distribuição da vegetação, teríamos o pedobioma, que poderia ser subdividido em subcategorias como
psamobioma (solo arenoso) e litobioma (solo rochoso), este último é denominado por Ab’Saber de
rupestrebioma. A denominação geótopo, foi introduzida na geografia brasileira a partir do texto “Paisagem e
geografia física global: um esboço metodológico” (BERTRAND, 1972), significando um elemento paisagístico
local, da escala do metro quadrado, constituindo uma relação biótopo-biocenose.
37
Em termos de utilização dos dados, Ab’Saber tanto imprime um fim didático aos
resultados de seu estudo, quanto utiliza suas concepções sobre os espaços e subespaços
naturais para a realização de zoneamento ambiental (AB’SABER, 1989).
5 As Paisagens do Brasil conforme os Soviéticos
Compondo uma obra de caráter mais didático do que planificador, pode-se citar o
trabalho de Isachenko e Shliapnikov (1989) sobre as paisagens do mundo. Seguindo a
tradição da geografia soviética (Cf. capítulo seguinte), a metodologia para diferenciação de
tipos, subtipos e grupos de paisagens, desenvolvida pelo próprio A. G. Isachenko 11, baseia-se
não apenas em dados temáticos de gabinete (climáticos, geológicos, geomorfológicos, etc.),
mas também em observações de campo e registro fotográfico (Fig. 5).
Assim como nas propostas descritas acima, os dados abrangem áreas bastante grandes
(uma vez que o trabalho trata das paisagens do mundo), sendo também trabalhados a partir de
uma divisão lógica do território para encontrar as unidades menores a partir das maiores.
Contudo, em termos de classificação, Isachenko e Shliapnikov (1989) se distanciam de
Vasconcelos Sobrinho e se aproximam de Hilton Sette no sentido em que suas unidades são
obtidas pelo cruzamento de informações temáticas distintas, que no caso de Isachenko inclui
megaunidades geomorfológicas e sua ocorrência dentro de zonas climáticas diferenciando,
para o Estado de Pernambuco, dois tipos, dois subtipos e sete grupos de paisagens.
Posteriormente, outra regionalização de paisagens foi proposta para o Brasil utilizando
declaradamente a metodologia de Isachenko (1991), desta vez os autores foram dois
pesquisadores brasileiros e um cubano (que fez doutorado na Rússia) (RODRIGUEZ; SILVA;
CAVALCANTI, 2004).
Nesta proposta, inicialmente são definidas unidades geoecológicas regionais e em
seguida elas são reorganizadas em tipos (Fig. 6). No caso do Nordeste Brasileiro
(considerando sua parte oriental), são diferenciadas, também por divisão lógica, as unidades
taxonômicas.
Percebe-se que esta proposta, mesmo utilizando a metodologia de Isachenko (1991), é
ligeiramente diferente daquela apresentada por Isachenko e Shliapnikov (1989). Os autores
latino-americanos desenvolvem sua cartografia das paisagens exclusivamente a partir da
11
As bases teóricas da proposta classificatória de Isachenko seguem a tradição russo-soviética de estudo das
paisagens, e que tem como precursor o naturalista Vasiliy V. Dokuchaev, sendo o próprio Anatoliy G.
Isachenko, membro da escola de Geografia de São Peterburgo, tendo sido aluno de Lev S. Berg, um dos
discípulos notáveis de Dokuchaev.
38
consulta e interpretação de dados temáticos já existentes e também com base no cruzamento
de informações.
Figura 5. Grupos de Paisagens do Nordeste do Brasil.
(à esq.) Grupos de Paisagens da América do Sul. (à dir.) Grupos de Paisagem do Nordeste do Brasil.
Toponínima: Recife (Ресифи), Salvador (Салвадор), Ilhéus (Ильеус), Remanso (Ремансу),
Barbacena (Барбасена), Rio São Francisco (Сан-Франсиску). (abaixo) legenda dos grupos
paisagísticos. Fonte: Isachenko e Shliapnikov, 1989, p.402-403. Tradução nossa.
39
Figura 6. Unidades da Regionalização Geoecológica (à esq.) e Tipos Geoecológicos.
Regiões geoecológicas (à esq.): Planalto Maranhão-Piauí (15), Planalto da Borborema-Araripe
(16), Depressão Sertaneja (17). A legenda dos Tipos geoecológicos (à dir.) não consta no livro.
Fonte: Rodriguez, Silva e Cavalcanti, 2004.
6 As Unidades Geoambientais: Detalhamento e Uso de Geotecnologias
O termo unidades geoambientais tem se popularizado no Brasil principalmente a partir
dos trabalhos do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (EMBRAPA). Contudo, são propostas metodologicamente distintas, mas que
possuem traços comuns em relação à sua filiação teórica.
A proposta da EMBRAPA foi utilizada na elaboração do Zoneamento Agroecológico
do Nordeste – ZANE (SILVA et al., 1993), também aproveitada para o Zoneamento
Agroecológico de Pernambuco – ZAPE (SILVA et al., 2001).
Diferentemente de todas as propostas anteriores, esta se baseou em extensos trabalhos
de campo, principalmente no caso do ZAPE, que apresenta um nível de detalhamento
compatível com a escala de 1:100.000, vindo a ser publicado logo após o levantamento de
solos do Estado de Pernambuco (ARAÚJO FILHO et al., 2000), que contou com toda a
sistemática de coleta e análise de dados que vinham sendo desenvolvidas no Nordeste do
Brasil para o levantamento de solos desde a década de 1960.
Para o ZAPE, os pesquisadores da EMBRAPA também fizeram uso de
geoprocessamento, através do georreferenciamento das cartas básicas da Superintendência de
Desenvolvimento do Nordeste (na escala 1:100.000), além disso, a EMBRAPA inova pelo
40
uso das geotecnologias, ao elaborar ZANE e ZAPE em formato de Sistema de Informação
Geográfica (SIG), criando uma base de dados mais facilmente manuseáveis e com maior
poder de armazenamento e recuperação.
Quanto à classificação das unidades, o esquema hierárquico contém dois níveis de
organização: um antecedente (Unidades de Paisagem) e um consequente (Unidades
Geoambientais), tendo como preocupação central propósitos práticos, voltados para a
aplicabilidade da informação obtida, que segundo Araújo Filho et al. (2001) contém
informações que subsidiam: Diagnósticos agrários e socioeconômicos; Planejamento
agropecuário; Planejamento agroecoturístico; Planejamento de política de recursos hídricos
objetivando a sustentabilidade de atividades agropecuárias; Projetos de irrigação;
Desenvolvimento de ações visando a preservação e a educação ambiental; Ações de reforma
agrária; Facilitar o acesso ao crédito agrícola; e Elaboração de zoneamento agroecológicos.
A ideia de Unidades Geoambientais (UG) usada no ZAPE/ZANE foi proposta por
Riché e Tonneau (1989), que seriam unidades identificadas a partir de topossequencias
(enfatizando a descrição dos solos), sendo uma UG é definida como:
Uma unidade geoambiental pode ser definida como uma entidade ou o
substrato, a vegetação, o modelado, a natureza e distribuição dos solos em
função da topografia e da ocupação dos solos, formando uma assembleia de
problemáticas homogêneas onde a variabilidade é mínima de acordo com a
escala adotada12
Ainda segundo os pesquisadores franceses, sua fundamentação teórica encontraria
lugar junto à perspectiva geossistêmica de Georges Bertrand (1972), que por sua vez fez uso
do conhecimento desenvolvido por Tricart, Troll, Sochava entre outros. Além disso, soma-se
o pragmatismo da ideia de land systems australiana, também mencionada por Riché e
Tonneau, o que deve ter influenciado, sobretudo, o enfoque nos levantamentos de solos, tal
como na proposta de Christian e Stewart (1953), caracterizada por intensa carga operacional
na identificação e preocupação com a relação solos e paisagem.
Indo além das necessidades do planejamento agropecuário, as unidades de Paisagem e
geoambientais definidas pela EMBRAPA passaram a subsidiar propostas de conservação da
biodiversidade, como o esforço para traçar a relação entre as comunidades vegetacionais do
semiárido brasileiro com as unidades de paisagem e unidades geoambientais do ZANE
(RODAL; SAMPAIO, 2002; GIULIETTI et al., 2003).
12
Une unité géoambientale peut être définie comme une entité où le substrat, la végétation naturelle, le modelé,
la nature et la distribution des sols en fonction de la topographie, l’occupation des sols, forment un ensemble de
problèmatiques homogènes dont la variabilité est minimale selon l’échelle retenue (RICHÉ & TONNEAU,
1989, p.58).
41
Cabe aqui salientar que as unidades apresentadas no ZANE (Fig. 7) são diferentes
daquelas do ZAPE (Fig. 8), variando não apenas em termos de limites, mas também em
termos de conteúdo, principalmente por causa do nível de detalhamento adotado (ZANE
1:2.000.000 e ZAPE 1:100.000). Uma diferença marcante está nos limites do Planalto da
Borborema e da Depressão Sertaneja, que mudam bastante.
No ZANE, o Planalto da Borborema aparece como Unidade de Paisagem, estando
dividido ao meio pela Depressão Sertaneja (que curiosamente se estende até próximo do
litoral). Já no ZAPE, o Planalto da Borborema não existe enquanto Unidade de Paisagem,
estando dividido em duas componentes principais: Encostas (onde no ZANE havia parte da
Depressão Sertaneja) e Pediplano Central, deixando margem para um agrupamento numa
unidade de nível hierárquico superior às UP (o próprio Planalto da Borborema).
Observando em mais detalhe, na região do Parque Nacional do Catimbau, percebe-se
que o nível de detalhamento proporciona uma visualização bastante diferente das unidades
geoambientais, sobretudo em relação aos contornos.
Seguindo a proposta de trabalho da União Internacional das Ciências Geológicas, a
utilização do termo unidades geoambientais ganhou difusão no meio técnico e acadêmico
brasileiro através das iniciativas da CPRM, sendo associada à noção de geodiversidade, que é
definida como:
“a natureza abiótica (meio físico) constituída por uma variedade de
ambientes, composição, fenômenos e processos geológicos que dão origem
às paisagens, rochas, minerais, águas, fósseis, solos, clima e outros depósitos
superficiais que propiciam o desenvolvimento da vida na Terra, tendo como
valores intrínsecos a cultura, o estético, o econômico, o científico, o
educativo e o turístico” (CPRM, 2006).
Para Pfaltzgraff (2010), o estudo da geodiversidade busca a compreensão dos
elementos abióticos do geossistema, sobretudo a variação da geologia (rochas, minerais,
fósseis e estruturas), geomorfologia (formas e processos) e solos.
Esta proposta tem sido aplicada a todos os Estados brasileiros, tomando como base as
informações dos mapas geológicos, dados temáticos diversos, modelos digitais do terreno e
imagens de satélite, todos tratados em Sistema de Informação Geográfica (SIG). Os
procedimentos adotados visaram classificar Domínios Geoambientais para o território
brasileiro, representados principalmente com base nos conjuntos estratigráficos semelhantes
frente ao uso da terra (obras de engenharia, atividades agrícolas, potencial turístico, etc.), que
foram subdivididos em Unidades Geoambientais e Formas de Relevo (CPRM, 2006).
Fonte: Silva et al. 1993. Organizado pelo autor.
Figura 7. Unidades de Paisagem do Zoneamento Agroecológico do Nordeste.
42
Fonte: Silva et al. 2001. Organizado pelo autor.
Figura 8. Unidades de Paisagem do Zoneamento Agroecológico de Pernambuco.
43
44
Trata-se de uma abordagem prática, com preocupação evolutiva voltada para os
grandes registros litológicos, sem trazer evidências mais detalhadas de eventos do
Quaternário, por exemplo. A indicação das formas de relevo de acordo com a litologia dá uma
ideia da evolução dos compartimentos, mas pouco esforço é feito no sentido de elucidá-la,
uma vez que o objetivo reside na geração de produtos para o planejamento.
O enfoque sobre o detalhamento da litologia fica evidente, sobretudo pela natureza do
órgão executor do projeto. Ao fim, as unidades geoambientais figuram cartograficamente
como Unidades Geológico-Ambientais.
Em relação à proposta da EMBRAPA, as unidades geoambientais da CPRM
apresentam uma variedade e detalhamento muito maior das formas de relevo e sua relação
com a litologia, sobretudo através da geração de produtos como um mapa de amplitude
altimétrica, que serviu para diferenciar diferentes domínios de relevo pluviconvexo.
Um problema da proposta da CPRM é o uso do termo planalto de forma discordante
do uso comum na literatura geomorfológica nacional. Enquanto a CPRM utiliza o termo para
áreas de pequenas dimensões (inferior a dezena de km²), na literatura geomorfológica ele é
aplicável somente a áreas de dimensões (superior à centena de km²) (Cf. GUERRA;
GUERRA, 1997; FLORENZANO, 2008).
As figuras 9, 10 e 11 que detalham a região do Parque Nacional do Catimbau,
expressam o contorno das unidades geoambientais, que se basearam no mapa geológico do
Estado de Pernambuco (1:500.000) e em dados Shuttle Radar Topography Mission (resolução
espacial de 90m). Em todas as figuras fica claro o uso do termo planalto discordante da
literatura geomorfológica brasileira.
De outro modo, tanto os produtos da EMBRAPA quanto os da CPRM demonstram
que as geotecnologias consolidaram um ganho considerável em termos volume de informação
processada, capacidade de armazenamento, facilidade de comunicação dos resultados e, além
de tudo, aprimoramento da estética cartográfica.
Contudo é preciso considerar que toda esta melhoria técnica precisa vir aliada ao rigor
conceitual na identificação, classificação, nomenclatura e cartografia das áreas naturais. Isto e
necessário, sobretudo porque o caráter básico e geral dos mapas de unidades de paisagem (e
correlatos) resulta numa aplicabilidade nas mais diversas áreas e, o erro em um mapa pode ser
reproduzido pelos demais (veja o tópico seguinte).
45
Figura 9. Unidades Geológico-Ambientais do Estado de Pernambuco, com detalhe para a região do
Parque nacional do Catimbau.
Legenda: 4. Coberturas arenoconglomeráticas e/ou síltico-argilosas associadas a superfícies de
aplainamento; 10. Predomínio de sedimentos arenosos de deposição continental, lacustre, fluvial ou
eólica – arenitos; 12. Predomínio de sedimentos quartzoarenosos e conglomeráticos; 30. Predomínio
de metapelitos com intercalações de rochas metabásicas e/ou metaultramáficas; 36. Suítes graníticas
peralcalinas; 52. Predomínio de gnaisses ortoderivados. Podem conter porções migmatíticas; i.
Planaltos; j. Chapadas e Platôs; l. Superfícies Aplainadas Degradadas; m. Inselbergues; p. Morros e
Serras Baixas; r. Escarpas Serranas; t. Vales Encaixados. Linhas em vermelho: estradas e rodovias;
Linhas em azul: drenagem; Linhas em preto: Falhas e Zonas de Cisalhamento. Fonte: CPRM, 2010.
Organizado pelo autor.
Fonte: CPRM, 2010. Organizado pelo autor.
Figura 10. Compartimentos de Relevo do Estado de Pernambuco.
46
47
Figura 11. Domínios e Unidades Geológico Ambientais e Formas de Relevo Associadas na região do
Parque Nacional do Catimbau.
Domínios geoambientais
DCSR – Domínio dos
Sedimentos indiferenciados
Cenozoicos relacionados a
retrabalhamento de outras
rochas, geralmente associados
a superfícies de aplainamento
DSM – Domínio dos
Sedimentos Cenozóicos e/ou
Mesozoicos poucoa
moderadamente consolidados,
associados a profundas e
extensas bacias continentais.
DCM – Domínio das
Sequencias Sedimentares
Mesozóicas
Clastocarbonáticas
consolidadas em Bacias de
Margens Continentais (Rift)
Unidades geoambientais
Coberturas
arenoconglomeráticas e/ou
síltico-argilosas associadas a
superfícies de aplainamento
Formas de relevo
Planaltos,
Chapadas e Platôs
Predomínio de sedimentos
arenosos de deposição
continental, lacustre, fluvial
ou eólica – arenitos
Vales encaixados,
Inselbergues
Predomínio de sedimentos
quartzoarenosos e
conglomeráticos
Superfícies aplainadas
degradadas,
Inselbergues,
Escarpas serranas,
Vales encaixados
DSVP2 – Domínio das
Sequencias
Vulcanossedimentares
Proterozóicas dobradas
metamorfizadas de baixo a
alto grau
DCGR1 – Domínio dos
Complexos Granitóides não
deformados
Predomínio de metapelitos
com intercalações de rochas
metabásicas e/ou
metaultramáficas
Superfícies aplainadas
degradadas,
Inselbergues
Suítes graníticas peralcalinas
Domínio de morros e serras
baixas
Predomínio de gnaisses
ortoderivados. Podem conter
porções migmatíticas
Escarpas serranas
DCGMGL – Domínio dos
Complexos GnaisseMigmatíticos e Granulitos
Fonte: http://www.cprm.gov.br/publique/media/geodiversidade_pernambuco.pdf. acesso em 26 de
junho de 2012. Organizado pelo autor.
7 A Preocupação Conservacionista e as Ecorregiões
A crescente preocupação conservacionista no Brasil também gerou demanda por
informações ecológicas do território. Neste sentido, destaca-se a iniciativa do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA) do Ministério do Meio
Ambiente (MMA).
A partir dos Estudos de Representatividade Ecológica nos Biomas Brasileiros,
iniciados a partir do ano de 1998, o MMA conduziu uma série de estudos no sentido de
mapear regiões ecológicas para o Brasil, contando com a participação de Organizações Não
Governamentais como a The Nature Conservancy (TNC) e a World Wildlife Fund (WWF),
48
além de diversas entidades como a EMBRAPA Cerrados e a Associação de Plantas do
Nordeste (PNE).
O projeto tomou como base o conceito de Ecorregião proposto inicialmente por Orie
Loucks e desenvolvido por Dinnerstein e colaboradores, sendo definido como:
“um conjunto de comunidades naturais, geograficamente distintas, que
compartilham a maioria das suas espécies, dinâmicas e processos ecológicos,
e condições ambientais similares, que são fatores críticos para a manutenção
de sua viabilidade a longo prazo.” (IBAMA/WWF, 2000, p.2).
No caso do bioma Caatinga, o projeto foi levado adiante pela TNC e a PNE através de
um seminário regional, reunindo alguns dos especialistas mais respeitados no estudo da biota
xerófila do Nordeste brasileiro. Nesta ocasião, a solução espacial encontrada para a
representação das ecorregiões baseou-se no conceito do geógrafo Robert G. Bailey13 e nos
dados do ZANE, alterando-se os limites de algumas das Unidades de Paisagem (UP) de modo
que fosse conveniente para representar as variações ecológicas (Fig. 12).
Figura 12. Ecorregiões do Estado de Pernambuco.
Fonte: Velloso, Sampaio e Pareyn, 2002. Organizado pelo autor.
Este modelo ecorregional apresenta dois níveis hierárquicos, sendo o primeiro deles
determinado pelos limites do Bioma Caatinga (caracterizado pelo contorno da região
13
A proposta de Bailey desenvolve-se a partir de uma ampla revisão da literatura geográfica e ecológica,
sobretudo àquela disponível em língua inglesa, mas considerando também modelos russos, alemães e de outros
países e tratando a ecorregião como um dos níveis de organização de sua hierarquia ambiental, definida como:
“uma unidade relativamente grande de terra e água delineada pelos fatores bióticos e abióticos que regulam a
estrutura e função das comunidades naturais que lá se encontram” (VELLOSO; SAMPAIO; PAREYN, 2002,
p.3).
49
semiárida do Brasil) e o segundo determinado pelas ecorregiões, que acumulam a mesma
escala de representação do ZANE (1:2.000.000).
Seguindo a perspectiva da regionalização ecológica, mas com uma abordagem
bastante diferente, Andrade (1998) inova ao realizar uma classificação ecológica do território
brasileiro no setor acima do meridiano 44ºW e ao norte do paralelo 16ºS, que abrange parte da
região Nordeste e do Estado de Minas Gerais incluindo, portanto, todo o Estado de
Pernambuco.
Afiliado às ideias de origem canadense sobre a classificação ecológica de terras,
Andrade (1998) promoveu uma regionalização ecológica a partir de um tratamento estatístico
sofisticado, envolvendo 34 variáveis climáticas de 813 unidades de observação. Estas
variáveis foram interpoladas e então submetidas à análise fatorial que apontou para três
fatores principais cujos autovalores apresentaram explicação acumulada superior a 80% da
variância dos dados originais. Em seguida, estes fatores foram transformados em índices que
resumem as características do conjunto de dados, a saber: índice térmico e de
evapotranspiração; índice do balanço hídrico e índice de umidade relativa e distribuição da
precipitação. Os valores de cada índice foram organizados numa matriz de escores,
distribuídos entre as células da grade de interpolação. Posteriormente o autor efetuou uma
análise de agrupamento não hierárquico pelo método convergente, resultando em 9 regiões
ecológicas (Fig. 13) cuja validade foi testada por análise discriminante, resultando num
percentual de 93,86% de acerto.
Figura 13. Regiões Ecológicas do Nordeste.
Detalhe para o Estado de Pernambuco (à dir.). Fonte: Andrade (1998). Organizado pelo autor.
50
Os resultados obtidos por Andrade (1998) dividem o Estado de Pernambuco em seis
Regiões Ecológicas com características climáticas parecidas e que muito se assemelham, no
caso pernambucano, aos modelos apresentados por outros autores, principalmente nos
contornos do Planalto da Borborema e da Depressão Sertaneja.
8 Estrutura Geral das Sínteses Naturalistas
Com base nas propostas analisadas até aqui, podemos prosseguir com mais segurança
numa discussão sobre a estrutura geral das sínteses naturalistas que, a nosso ver, tem duas
componentes gerais, uma conceitual e outra operacional.
A componente conceitual das sínteses naturalistas relaciona-se à concepção de um
modelo hierárquico, enquanto a componente operacional tem a ver com o modo de investigar
tal modelo. Por modelo hierárquico, nos referimos ao conjunto de níveis de organização
aceito por uma determinada proposta, a exemplo das unidades de paisagem e geoambientais
do ZAPE ou as regiões naturais e sub-regiões de Vasconcelos Sobrinho.
A diferença mais perceptível entre as propostas é de ordem léxica, ou seja, das
variações nos termos utilizados pelos pesquisadores para se referir a cada nível de
organização (unidades de paisagem, unidades geoambientais, etc.) e ao conjunto dos níveis
(ex.: ecorregiões, geoambiente, paisagens, regiões naturais, etc.). Muita discussão já foi
realizada sobre a aplicabilidade/adequação deste ou daquele termo (BERTRAND, 1972;
SOCHAVA, 1977; ISACHENKO, 1991; BAILEY, 2009, entre tantos outros). Contudo, aqui
consideramos que esta é uma questão particular a cada pesquisador e/ou centro de pesquisa,
ligada principalmente à história de cada um. Nestes termos, qualquer tentativa de impor um
sistema léxico ou conceitual ao outro fere a ética da discussão até o momento em que haja um
consenso entre os pesquisadores, o que não há.
Outra diferença é a abrangência do modelo hierárquico, isto é, a quantidade de níveis
que cada proposta abrange. Algumas SN fazem uma declaração explícita da quantidade de
níveis que possuem, como no caso do ZAPE, que determina dois níveis. Entretanto, outras
propostas não fazem tal declaração, apresentando um caráter implícito, é o caso da de
Ab’Saber.
Ainda quanto à abrangência, alguns autores diferenciam três conjuntos de níveis de
organização: globais (ou planetários), regionais e locais (ou topológicos), que se relacionam à
dimensão das áreas naturais (SOCHAVA, 1977; ISACHENKO, 1991; BAILEY, 2009).
Nestes termos, podem-se identificar alguns modelos que são eminentemente locais ou
regionais-locais, como as propostas do ZAPE e de Hilton Sette. Enquanto outros sistemas
51
possuem uma abrangência dos três conjuntos (global-regional-local), seja de forma efetiva,
como em Isachenko e Shliapnikov ou apenas potencial como nas propostas de Ab’Saber e de
Velloso, Sampaio e Pareyn.
Outra diferença está no método de identificação dos níveis de organização, já
constituindo a componente de operacional das SN. Sobre isso, a discussão envereda pelos
trabalhos de Sochava (1977; 1978), Brierley e Fryirs (2005), Bailey (2009) e principalmente
A.G. Isachenko (1973; 1991). Estes autores defendem a importância de considerar os fatores
que determinariam o aparecimento de determinadas categorias de níveis de organização. Esta
ideia emana a partir do trabalho de Dokuchaev, sendo chamada de método das forças motrizes
(driving force method) (ISACHENKO, 1973).
A vantagem deste método é que, evitando a simples sobreposição de informações
(método da sobreposição – overlay method), é possível superar diversas questões que
dificultariam o reconhecimento das paisagens (ISACHENKO, 1973), dentre as quais se
destacam:

Muitos ecossistemas podem conviver num mesmo local, variando apenas com base na
escala do observador, o que impossibilitaria sua representação espacial. Todavia, estes
diferentes ecossistemas estariam sujeitos às mesmas forças motrizes que encadeiam as
relações ecológicas numa determinada área (BRIERLEY; FRYIRS, 2005; BAILEY,
2009);

As fronteiras entre as diferentes unidades estão em constante mudança. Contudo, as
modificações destas fronteiras estariam dentro dos limites impostos pelas forças
motrizes, como por exemplo, a fenologia (ISACHENKO, 1998; 2007; BAILEY,
2009);

A interação entre os organismos pode gerar diferentes padrões espaciais
independentemente das variações abióticas. Estas variações, porém, estariam dentro
do limite das forças motrizes com dimensões superiores (SOCHAVA, 1977; 1978;
BAILEY, 2009).
A adoção do método das forças motrizes conduz a uma importante questão: como
determinar e ordenar as forças motrizes?
Se propondo a solucionar esta problemática, Isachenko (1973), analisando diversas
metodologias soviéticas de cartografia de paisagens, identifica duas categorias de sistemas de
ordenamento das forças motrizes, que o mesmo denominou unisseriais e bisseriais.
52
Os sistemas unisseriais são compostos por uma única série de unidades subordinadas,
em que os níveis de organização passam a ser definidos, geralmente, pela alternância de
critérios bioclimáticos (ou zonais) e critérios geológico-geomorfológicos (ou azonais).
Para Isachenko (1973), o problema com esta categoria de sistema é que nem sempre
há relação genética entre as unidades de níveis de organização adjacentes, sendo cada nível
representativo de um tema ambiental (geologia, solos, clima, etc.), ou seja, a hierarquia não
representa a organização espacial dos fenômenos, mas um mero agrupamento de informações
de naturezas diferentes.
Já os sistemas bisseriais, definem cada nível de organização pelo cruzamento de forças
motrizes de origem bioclimática (zonais) e geológico-geomorfológicas (azonais). Assim, é
necessário definir unidades zonais, unidades azonais e depois cruzá-las, derivando unidades
de síntese. A Figura 14 traz o exemplo apresentado por Isachenko (1991).
Figura 14. Sistema Bisserial para Determinação de Áreas Naturais pelo Método das Forças Motrizes.
Fonte: Isachenko, 1991. p.301. Modificado por Cavalcanti, 2010.
O problema do sistema bisserial é que ele conduz invariavelmente à divisão lógica,
como abordagem de investigação dos níveis de organização. Esta abordagem (também
chamada top-down, downscaling ou ainda topo-base) caracteriza-se pela determinação dos
níveis inferiores a partir dos superiores, o que pode gerar problemas com o traçado dos limites
53
das unidades inferiores, que perdem seu detalhamento, pois têm seus limites na dependência
dos níveis superiores (CAVALCANTI, 2010).
Em contraponto, temos a abordagem de agrupamento (ou bottom-up, upscaling ou
ainda base-topo) que consiste na determinação dos níveis superiores pelo agrupamento das
unidades de níveis inferiores, é o caso da proposta do ZANE. O problema desta abordagem é
que as unidades superiores podem ter seus limites subestimados pela desconsideração de
algum fator importante para o nível superior e que não foram utilizados no nível inferior, é o
caso dos limites do Planalto da Borborema no ZANE (e na proposta das Ecorregiões) que
diferem bastante do modelo derivado de considerações morfoestruturais de Corrêa et
al.(2010) e mesmo do ZAPE.
Definidas as unidades, seja por agrupamento ou divisão lógica, as mesmas podem ser
representadas cartograficamente como indivíduos (regiões ou geócoros) ou categorias (tipos,
táxons ou geômeros). No primeiro caso, cada unidade é representada individualmente (ex.:
Planalto da Borborema, Raso da Catarina, etc.). No segundo caso, unidades similares são
representadas como parte de uma mesma categoria (ex.: Planaltos, Bacias Sedimentares, etc.).
Assim, os mapas de paisagens podem ser regionais (ou corológicos), quando representam as
unidades individualmente, e também podem ser tipológicos (taxonômicos ou ainda
categóricos), quando as unidades são representadas por tipos (ISACHENKO, 1973).
No caso dos mapas de regiões, o termo aqui não pode ser confundido com a ideia de
abrangência regional, discutida anteriormente. Logo, a palavra região passa a ter dois
significados, podendo ser aplicada tanto para indicar uma determinada dimensão espacial na
superfície terrestre quanto para designar geócoros (indivíduos geográficos) de qualquer
dimensão.
Em 1978, Sochava propõe a elaboração de mapas taxo-corológicos, ou seja, aqueles
em que as unidades são representadas ao mesmo tempo como indivíduos e como tipos, que na
terminologia
proposta
pelo
referido
pesquisador
seriam
geócoros
e
geômeros,
respectivamente. Os geócoros seriam organizados em diferentes ordens, referindo-se à sua
posição na hierarquia das paisagens. Enquanto os geômeros seriam organizados em diferentes
categorias, representando o compartilhamento de atributos constituintes (tipo de solo,
drenagem, biocenose, etc.).
Seguindo a proposta taxo-corológica, Semenov e Purdikh (1986), publicaram um
mapa de geossistemas do sul da Sibéria e utilizando de artifícios da cartografia temática,
indicaram ao mesmo tempo indivíduos e tipos de paisagens. Os limites individuais eram
54
determinados por linhas com diferentes espessuras, enquanto os tipos de geossistemas eram
marcados por diferentes texturas.
Geralmente, nos mapas de pequenas áreas, a hierarquia das áreas naturais tende a ser
construída pela abordagem do agrupamento, indicando que talvez esta seja uma abordagem
mais indicada para estudos locais. Em todo caso, Isachenko (1973) sugere que o ideal é
observar as paisagens ‘de cima’ e ‘de baixo’, ou seja, não se limitar a trabalhos de gabinete ou
de campo, fazendo uso tanto da divisão lógica quanto do agrupamento, a fim de conseguir o
melhor resultado sobre a hierarquia das paisagens.
9 Considerações Finais
Neste capítulo foram apresentadas algumas propostas de síntese naturalista para o
Estado de Pernambuco, as mesmas tendo sido analisadas com base no seu sistema de gestão
da informação, isto é, quanto às suas características de coleta, armazenamento, classificação e
utilização dos dados.
A compreensão das sínteses naturalistas enquanto sistemas de gestão da informação
facilitou a comparação entre as diversas propostas e sua estrutura geral, uma vez que forneceu
elementos básicos para a analogia.
Do ponto de vista da coleta e armazenamento da informação, podem-se diferenciar
dois grupos principais: aqueles que fazem uso de produtos de sensoriamento remoto e
geoprocessamento (as classificações mais recentes, a partir da década de 1990) e aqueles que
não fazem (anteriores a 1990).
Quanto ao emprego de dados auxiliares (planialtimétricos e temáticos: geologia, clima,
etc.), também é possível diferenciar os mais antigos, daqueles mais recentes (após 1990),
sobretudo pelo volume de informação que passou a ser obtido a partir dos trabalhos da
Superintendência
de
Desenvolvimento
do
Nordeste
(SUDENE)
e
do
Projeto
14
RADAMBRASIL .
Em relação às classificações, percebeu-se que, na maioria dos casos, os autores
optaram por representar a hierarquia de suas unidades com dois níveis de organização (às
vezes três). Uma explicação plausível seria a facilidade de apresentação da informação em
poucos níveis. Além disso, adotar níveis mais detalhados seria difícil, sobretudo considerando
as informações disponíveis e que os trabalhos visam representar contrastes numa área de
aproximadamente 100.000 km² (Estado de Pernambuco).
14
O Projeto RADAMBRASIL operou entre 1970 e 1985 e teve entre seus objetivos o mapeamento dos recursos
naturais no Brasil, produzindo mapas temáticos diversos (geologia, geomorfologia, vegetação, etc.).
55
Sobre o nível de detalhamento adotado, com exceção da proposta semidetalhada do
ZAPE (1:100.000), todas as demais classificações se enquadram apenas em nível de
reconhecimento, o que abre portas para mais estudos de semidetalhe e detalhe no território
pernambucano.
Em termos de fundamentação teórica, percebe-se que as propostas surgem em meios
bastante diversos (geografia, geologia, agronomia, ecologia) e provenientes de diversos países
(França, Alemanha, Ucrânia, Rússia, Itália e Estados Unidos da América), mas, no caso
brasileiro, cita-se o peso da geografia física global do francês Georges Bertrand, que está
presente nos esquemas de Ab’Saber, do ZANE/ZAPE e da CPRM.
Ficou claro que o desenvolvimento das propostas tem certa dependência instrumental,
uma vez que a quantidade, qualidade e detalhamento dos dados têm aumentado junto com a
diversificação de centros de pesquisa (principalmente instituições governamentais –
EMBRAPA, CPRM) e da adoção de geotecnologias. Contudo, vale ressaltar que, em todos os
casos, as bases de dados utilizadas não foram resultantes apenas de dados orbitais, mas
principalmente das observações de campo.
Analisando a estrutura geral das sínteses naturalistas percebemos que elas facilitam, e
na maioria das vezes se fundamentam em, uma compreensão da realidade ecológica do
território a partir de um modelo hierárquico. Todas as propostas fazem uso de um sistema
léxico e possuem uma abrangência (global, regional, local) cuja variabilidade muito tem a ver
com as instituições e pesquisadores de diferentes locais, tanto quanto dos propósitos
envolvidos na sua elaboração.
Os modelos hierárquicos são operacionalizados por um método (overlay, driving
forces) que, no caso das forças motrizes, são regidos por sistemas ordenadores (unisseriais ou
bisseriais) e investigados por abordagens de organização da informação (divisão lógica ou
agrupamento), sendo representados individualmente ou categoricamente.
56
Capítulo 2
Origens e Desenvolvimento do Conceito de Áreas Naturais
1 Introdução
Ecossistemas, geossistemas, regiões naturais, ecorregiões, paisagens, biomas,
complexos biogeocenóticos, complexos territoriais naturais e tantos outros termos tentam
representar, nas acepções de distintos autores, a ideia de que existe uma ordem natural
promovendo a organização da superfície terrestre a partir das relações entre seus elementos
constituintes internos (rochas, solos, seres vivos, água, etc.) e alguns externos (sol,
movimentos orbitais, atividade interna do planeta). Estas relações produziriam um mosaico de
padrões espaciais observáveis que seriam autônomos, mas não independentes, apresentando
uma organização hierárquica natural.
Neste contexto, fica claro que, apesar de tantas variações terminológicas entre
diferentes propostas de síntese naturalista, duas ideias estão claramente subjacentes à maioria
delas (ou todas): a primeira refere-se à noção de áreas naturais homogêneas, elemento sem a
qual a própria síntese não existiria; a segunda diz respeito à organização hierárquica destas
áreas.
Um olhar mais atento sobre a essência da ideia de área natural, em distintas propostas,
nos indica pelo menos três concepções distintas quanto às sínteses naturalistas. Uma delas é
essencialmente biocêntrica, no sentido de que tem seu foco na busca da representação de áreas
homogêneas do ponto de vista das biocenoses, mas cujo fundamento explicativo seria as
relações ecológicas entre os seres vivos e destes com o seu ambiente. Nestes termos, teríamos
a geografia ecológica de Vasconcelos Sobrinho (1941; 1949; 1970) e sua concepção de
regiões naturais. Outros exemplos seriam a biogeografia ecológica de Lima (2012), o modelo
ecorregional de Bailey (2009), a concepção de biomas, biogeocenoses e complexos
biogeocenóticos de Walter (1986) e mesmo a noção de níveis de organização em ecologia de
Odum e Barrett (2005).
Numa concepção mais pragmática e voltada para o planejamento de uso da terra,
teríamos a proposta de land systems de Christian e Stewart (1952). Este tipo de proposta dá
aos solos e à relação solo-paisagem o aspecto essencial da síntese naturalista, assumindo as
necessidades prementes da Sociedade no tocante à resolução de problemas agropecuários,
industriais e até da engenharia civil (Cf. ZUQUETE; GANDOLFI, 2004). Um exemplo é a
proposta de unidades de paisagem e geoambientais da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (EMBRAPA) (SILVA et al., 2001).
57
Uma terceira concepção, talvez intermediária entre as propostas biocêntricas e aquelas
mais pragmáticas, se caracteriza pelas busca das relações entre os componentes da natureza,
sem privilegiar qualquer de seus atributos, sendo policêntrica. Esta perspectiva é associada às
práticas que se desenvolveram na geografia física da Rússia e países centro-europeus, como a
Alemanha, recebendo denominações como ciência da paisagem (BERG, 1913), ecologia de
paisagens (TROLL, 2006), estudo de geossistemas (SOCHAVA, 1978) entre outras.
Nos três casos, podemos ver uma clara associação das perspectivas biocêntricas,
pragmáticas e policêntricas a determinados campos do saber como ecologia-biologia,
agronomia-engenharia e geografia, respectivamente. Com base nisso, o objetivo deste capítulo
é investigar as raízes do conceito de área natural, sua diversificação terminológica e também
o desenvolvimento dos processos metodológicos associados a seu estudo.
Para tanto, recorreu-se a ferramentas historiográficas como forma de subsidiar uma
representação acerca do conceito em questão, de suas origens e seu desenvolvimento. Na
Geografia, o uso das referidas ferramentas tem sido realizado com o propósito de, entre outras
coisas, construir uma narrativa da história desta disciplina e dos fatos ligados a ela
(Historiografia da Geografia).
2 Aspectos metodológicos
O ramo historiográfico da ciência geográfica tem passado, nas últimas décadas, por
discussões de cunho teleológico, sumarizadas por Barros (2007) em duas perspectivas gerais,
uma de cunho contextual, que tem como uma de suas preocupações centrais o estudo do poder
dentro da configuração disciplinar. E outra perspectiva, de cunho propositivo, que busca dar à
historiografia da disciplina uma finalidade prática, no sentido de ser aplicada no auxílio à
mudança nos rumos da ciência em questão.
Independentemente de perspectivas, é certo que a historiografia recente da disciplina
tem, em muito auxiliado na compreensão de como se tem pensado e praticado a geografia
(BARROS, 2012). Neste sentido, Reis Júnior (2008) destaca quatro linhas temáticas gerais de
desenvolvimento do componente historiográfico, a saber:

Releitura de obras clássicas com o objetivo de obter revelações sobre conteúdos que
apresentam o conhecimento geográfico;

Análise de textos de um geógrafo específico (Cf. KASAI, 1975; REIS JÚNIOR, 2007;
BARROS, 2008; VITTE; SILVEIRA, 2009);
58

Preparação de documentos tratando da difusão de determinados princípios geográficos
e/ou crescimento de escolas geográficas, no sentido da partilha de princípios teóricos e
metodológicos similares e;

Estudo detalhado de fontes documentais que evidenciem o modo como as instituições
têm promovido a recepção, adaptação de comunicação do conhecimento geográfico.
Neste sentido, estas instituições agiriam em consórcio com o ambiente político,
econômico e cultural de um local, funcionando como sítios culturais (BARROS,
2006).
Não necessariamente essas temáticas seriam levadas a cabo isoladamente umas das
outras, podendo ser combinadas na obtenção de resultados mais significativos. Sendo assim, o
tratamento dos objetos analíticos, componentes das supracitadas classes temáticas, é que
revelarão os contornos assumidos pela narrativa então construída.
Além dos sítios culturais, destacam-se outros objetos analíticos, tais como a análise de
papéis-chave na difusão ou restrição do conhecimento, seja por instituições ou pessoas em
particular; afinidades, confluências e divergências teórico-conceituais e metodológicas, entre
outras (REIS JÚNIOR, 2008).
Neste trabalho (e tendo consciência de que as sínteses naturalistas podem ser tratadas
como sistemas de gestão da informação sobre áreas naturais) temos como principal objeto de
análise o conceito de área natural entendido com produto das relações entre os componentes
da natureza de modo a formar um todo autônomo do ponto de vista funcional. Este conceito,
como defendemos, recebe nomenclaturas diversas ao longo da história, revelando nuances em
termos de orientação metodológica (paisagem, ecossistema, geossistema, região natural, estilo
fluvial).
Para destrinchar e discutir o conceito de áreas naturais foi montada uma estratégia de
investigação a partir de fontes e análise do contexto das fontes. Para tanto, partimos de uma
leitura inicial de trabalhos de cunho mais propositivo sobre os termos e técnicas associadas ao
estudo de áreas naturais e sua história.
Para cada proposta analisada, sua compreensão foi ampliada a partir do estudo do
contexto (sítios culturais) do(s) autor(es), através de busca em documentos históricos de
universidades e instituições de pesquisa, bem como de outras fontes que se fizeram relevantes.
Esta ampliação do contexto foi complementada pela seleção das fontes mais fundamentais
apontadas, pelo autor analisado, para compreensão do conceito de áreas naturais.
Assim, as fontes foram então verificadas e repetiu-se a leitura sobre os sítios culturais
dos autores e a busca por suas fontes. De forma sucessiva, tentou-se rastrear as origens do
conceito, suas nuances, seus desdobramentos e filiações.
59
Muitas vezes recorreu-se à leitura de documentos históricos e análise de textos
específicos sobre a vida de alguns autores-chave. Deste modo, a busca sucessiva pelas fontes
aliada à análise dos contextos viabilizou a compreensão que tentamos organizar e apresentar a
seguir.
3 Origem Intuitiva e as Contribuições Greco-Latinas
Decerto que o reconhecimento de aspectos da natureza e de áreas naturais é intuitivo,
no sentido de que se relaciona ao próprio processo de adaptação do homem ao seu meio. A
busca por abrigo e fontes de abastecimento, melhores locais para habitação e até o
conhecimento do terreno para manobras de combate, estão entre aspectos primais que
fundamentam uma concepção etnogeográfica das áreas naturais.
Na Bíblia, por exemplo, se encontra uma passagem em que Moisés (que viveu há
cerca de 3500 anos) enviava homens para avaliar o terreno que mais tarde seria ocupado pelos
israelitas15 (BÍBLIA, 2010). Outra obra antiga que faz referência ao conhecimento do terreno
é a Arte da Guerra, de Sun Tzu, escrita por volta de 2500 anos atrás (SAWYER, 2007).
Decerto que o reconhecimento de áreas naturais está em parte associado a uma
diferenciação de áreas gerais, envolvendo não só aspectos naturais, mas também culturais.
Neste sentido e, indo além do ponto de vista etnogeográfico, é no pensamento greco-latino
que se encontram os registros mais antigos de um tratamento sistemático (científico) do
conceito de diferenciação de áreas.
Sobre isso, Besse (2006) lembra-nos que a ideia de diferenciar áreas, por comparação
dos aspectos dominantes paisagísticos (vegetação, relevo, águas, cidades, etc.) em locais
distintos, foi apontada como objeto da Geografia já em Ptolomeu (90-168 d.C.). O geógrafo
de Alexandria materializou duas características intrínsecas aos lugares, nos conceitos de
natura (características particulares de uma dada área) e positio (relação de vizinhança, ou
seja, diferença entre áreas). Assim, duas áreas poderiam ser diferenciadas uma da outra se
forem comparados (positio) os conjuntos de suas características particulares (natura).
A Geografia de Ptolomeu traz referências não somente à ideia de diferenciação de
áreas e suas componentes (positio e natura), mas também ao conceito de escala no sentido da
representação cartográfica. Para este geógrafo egípcio, existiam três perspectivas para
15
“Enviou-os, pois, Moisés a espiar a terra de Canaã; e disse-lhes: Subi ao Neguebe e penetrai nas montanhas.
Vede a terra, que tal é, e o povo que nela habita, se é forte ou fraco, se poucos ou muitos. E qual é a terra em que
habita, se boa ou má; e que tais são as cidades em que habita, se em arraiais, se em fortalezas. Também qual é a
terra, se fértil ou estéril, se nela há matas ou não. Tende ânimo e trazei do fruto da terra. Eram aqueles dias os
dias das primícias das uvas.” (Bíblia, Números 13:17-20.)
60
diferenciação de áreas, que estavam diretamente relacionadas com a escala de observação
fosse ela global (geografia), regional (corografia) ou local (topografia).
Esta concepção sobre os termos geografia, corografia e topografia ainda estavam em
voga no auge das discussões regionalistas no início do século 20, como pode ser notado em
Preston E. James (1929). Contudo, além da discussão sobre escala de representação, temos
uma nuance mais naturalista do conceito de diferenciação de áreas e que mais se aproxima da
ideia de áreas naturais, que é a ideia de zonas naturais.
Retomando o pensamento de Estrabão (64/63 a.C. – 24 d.C.), em sua Geografia, o
mesmo considera Homero (século 8 a.C.) como fundador da ciência geográfica, sobretudo
pelas descrições das regiões de terra e mar presentes na Ilíada (HAMILTON; FALCONER,
1854), e vai além de Homero, conferindo à geografia um status elevado, quando afirma que:
“Além de sua grande importância para a vida social e a arte de governar, a
geografia nos revela os fenômenos celestes e nos familiariza com os
ocupantes da terra e do oceano, e a vegetação, frutos e peculiaridades dos
vários quadrantes da Terra, um conhecimento que marca aquele que o
cultiva como um homem diligente no grande problema da vida e da
felicidade” (Estrabão 1.1.1, HAMILTON; FALCONER, 1854, p.1-2.
tradução nossa).
Ainda no contexto da cultura homérica, é na Escola Eleata, Pré-Socrática, representada
por Parmênides de Eleia16 (530-460 a.C.), que a diferenciação de áreas naturais possui seu
registro material mais antigo, este registro guarda uma contribuição baseada na concepção de
zonas naturais17.
16
A Escola Eleata desenvolveu-se na cidade de Elea (atual Itália), fundada por gregos jônios refugiados de sua
cidade natal, Phocaea (atual Turquia), que havia sido sitiada pelo exército persa de Ciro, o grande, num dos
conflitos iniciais das Guerras Greco-Pérsicas. De acordo com Heródoto, os jônios de Phocaea foram os primeiros
gregos a realizarem grandes viagens pelos mares Adriático, Tirreno, Mediterrâneo e Negro, alcançando o Egito,
a França, a costa atlântica da atual Espanha e o Norte da Turquia, chegando a desenvolver colônias em alguns
desses lugares (GODLEY, 1920; JONES, 1924).
Neste contexto de uma organização social que mantinha contato com povos diversos, e de localidades
distantes, os jônios de Phocaea construíram a cidade de Elea, em que Parmênides, ao que se sabe, cumpria a
função de legislador e provavelmente médico, sendo considerado por Aristóteles um physikói, isto é, àquele que
se dedica à observação da natureza (SANTORO, 2011).
17
O que resta do pensamento de Parmênides são fragmentos de seu poema épico “Sobre a Natureza” que,
estruturado de forma a provavelmente guardar um potencial de transmissão oral, à moda do que era feito à
época, é apresentado duas partes, a saber: “A via da verdade” e “A via das opiniões dos mortais”, a primeira
tratando daquilo que é (do ‘ser’), enquanto o segundo lida com questões cosmológicas (SANTORO, 2011).
Na interpretação da cosmologia parmenidiana de Coxon (2009), a esfera terrestre estaria dividida em
anéis centrais de fogo, anéis de ‘noite’ nas calotas da esfera e intermediando estes, anéis mistos. Esta proposta
entra em acordo com o testemunho de Posidônio, citado em Estrabão, que afirma ter sido Parmênides o primeiro
a dividir a Terra em cinco zonas (uma tórrida, duas temperadas e duas frígidas), em referência às variações da
natureza do equador aos polos (HAMILTON; FALCONER, 1854, p.143).
61
Cerca de 600 anos depois de Parmênides, sua formulação teórica sobre as zonas da
Terra aparecem na Geografia de Ptolomeu, que utiliza o conceito zonal para deduzir que
localidades que, por partilhar o mesmo clima deveriam estar a uma distância similar em
relação ao equador (BERGGREN; JONES, 2001). Esta dedução se baseia no conceito de que
áreas com latitudes similares possuiriam uma mesma inclinação do eixo da esfera celeste em
relação ao plano do horizonte, resultando num mesmo comprimento máximo do dia. Estas
faixas com mesma inclinação eram chamadas de Klimata (ou Klima, no singular)
(BERGGREN; JONES, 2001; CLAVAL, 2010).
Como se pode perceber, o conceito de áreas naturais guarda elementos tanto da
diferenciação de áreas quanto das zonas naturais. Entretanto, muito ainda havia de acontecer
antes que o conceito de áreas naturais, como o definimos, fosse formulado e adaptado às
necessidades da academia e da sociedade.
O manto de incertezas que caiu sobre a Europa com a divisão e queda do Império
Romano, com o período das migrações e o início da alta idade média provocaram uma
retração da divulgação do conhecimento geográfico, que ganhou vazão apenas no mundo
islâmico medieval. Contudo, o fim da idade média trouxe uma retomada europeia da
geografia ptolomaica, que ganhou vulto na obra de Bernard Varen (ou Bernardus Varenius,
como ficou conhecido) (BAUAB, 2011; 2012).
4 Bernard Varen e o Renascimento da Geografia Europeia
Para o filósofo Jean-Marc Besse (2006), as ideias de positio e natura, são
redescobertas no século 16 tanto pelos corógrafos quanto pelos pintores do renascimento
europeu. Para ambos, a representação do mundo era obtida pela contemplação da paisagem e
seus detalhes, sendo representada numa carta ou num quadro. O mesmo autor chega a afirmar
que a noção de paisagem utilizada pelos pintores era a mesma que balizava o empirismo dos
geógrafos e corógrafos daquela época.
Assim, a compreensão dos diferentes lugares era atingida pela observação
pormenorizada dos aspectos visíveis do mundo (natura) e sua comparação com a variação
destes aspectos em outros lugares (positio) forneceria uma ideia da geografia/corografia.
Estrabão cita Posidônio que faz referência a Parmênides como o primeiro a propor uma teoria das zonas
geográficas. Contudo, Hamilton & Falconer (1854) afirmam que, de acordo com Plutarco, uma divisão da Terra
em cinco zonas já havia sido realizada tanto por Thales (624 - 556 a.C.) quanto por Pitágoras (580 - 490 a.C.)
antes mesmo de Parmênides.
62
É esta concepção que parece ter norteado o trabalho de Bernard Varen 18 (Bernardus
Varenius, no Latim) em sua obra Geografia Geral (1650). Nesta obra, o autor discute as bases
da Geografia, seu objeto, objetivos e métodos, assimilando, ainda que de forma implícita as
noções de positio e natura.
Para Varen, o objeto da Geografia seria a Terra e principalmente suas partes externas,
não devendo resumir-se a uma simples enumeração e descrição das regiões, devendo ser
estudada a partir de duas perspectivas: uma Universal e outra Particular.
A Geografia Universal de Varen era voltada para caracterização topográfica e
geodésica e de tipos ambientais, como tipos de rios, de lagos, de desertos, zonas e climas,
além de explicações sobre o funcionamento dos sistemas ambientais, como a variação da
salinidade dos corpos hídricos em terras tropicais, que diminuía em períodos chuvosos e se
acentuava em períodos de estiagem (VARENIUS, 1712; 1734).
Já a Geografia Particular, deveria se focar no uso das leis e tipologias para
diferenciação e descrição das regiões do Planeta (regionum Telluris19, no original em latim),
possuindo duas subdivisões: a Corografia20 voltada para a descrição de regiões com uma
extensão razoável e a Topografia21, que busca dar uma visão de algum lugar ou pequeno trato
da Terra (VARENIUS, 1712; 1734).
É evidente que a diferença entre corografia e topografia reside principalmente na
abrangência da região estudada, sendo aquela da topografia a descrição de um lugar em que se
permitisse ter uma visão de algum trato de terra, a primeira carecendo de observações em
pontos distintos de uma mesma região.
18
Bernard Varen (1622-1650) nasceu na região de confluência entre os Rios Elba e Jeetzel à época em que a
cidade de Hitzacker, passava por um contexto de caça às bruxas e promoção do conhecimento formal, baseado
no latim. Anos antes do nascimento de Varen, a cidade de Hitzacker tornou-se residência (desde 1604) de
Augusto, o jovem (duque dos Guelfos – ligados ao Papa), tendo este duque condenado à morte (em 1610) 70
mulheres da região, acusadas de bruxaria. Anos mais tarde, o mesmo duque construiu um castelo (1614), uma
escola de latim (1617) e uma biblioteca (transferida para Wolfenbüttel em 1636), criando um ambiente de estudo
que pode ter sido utilizado por Varen (SCHUCHARD, 2007).
Filho do pregador da corte e irmão de um teólogo luterano e reitor da Universidade de Rostock (180 km
ao norte de Hitzakcer), Bernard estudou medicina em Hamburgo (a 100 km de Hitzacker) entre 1640 e 1642, e
em Königsberg (hoje Kaliningrado, a 834 km de Hitzacker) em 1645.
Em função dos conflitos entre protestantes na região do Sacro Império Romano-Germânico (Guerra dos
Trinta Anos – 1618 a 1648), Varen muda-se para Amsterdam, que na época apresentava ampla divulgação de
conhecimentos e práticas de cartografia, sobretudo àquelas conduzidas pelos estudiosos da Universidade de
Leiden (cidade em que viria a falecer em 1650). Em 1649, defende sua tese em Medicina e também publica a
descrição do reino do Japão (Descriptio Regni Japoniae Cum quibusdam affinis materiae) (SCHUCHARD,
2007).
19
Regionum na edição em latim de 1712 e Country na tradução inglesa de 1734.
20
Corographia regionis alicujus, magnitudem saltem mediocrem habentis, descriptionem proponit. (VAREN,
1712, p.2).
21
Topographia parvum aliquem telluris tractum seu locum describit (Ibid., p.2).
63
Para constituir as observações da Geografia Particular de cada região, Varen
considerava importante reconhecer um determinado conjunto de características. Neste sentido,
sumarizamos na Figura 15 aquilo que o autor chama de ‘propriedades de uma região’, que
trata-se de uma proposta de caracterização baseada na descrição de tópicos relacionados a três
grupos de informação distintos, a saber: celestiais, terrestres e humanos.
Com base nesta figura, pode-se compreender que a ideia de Geografia em Varen é bem
ampla, abrangendo a elaboração de teorias que tinham por objetivo determinar não apenas o
posicionamento e a forma de cada lugar, mas também o funcionamento de suas características
abióticas (clima, rios, lagos, etc.), bióticas (fertilidade, frutos, florestas) e a composição étnica
e cultural.
Figura 15. Propriedades da Geografia Particular de uma região.
Celestiais
Distância de um lugar até o Equador
Terrestres
Limites e fronteiras de cada
região
Obliquidade do movimento diurno das
estrelas sobre o horizonte de um lugar
Duração do dia mais longo e mais
curto
O clima e a zona
Figura (relacionada à forma
geodésica)
Magnitude (ex: área ocupada
por um país)
Montanhas
Temperatura e estações do ano (chuva,
neve, vento e outros meteoros)
Surgimento, aparência e continuidade
das estrelas no horizonte
Estrelas que passam através do Zênite
de um lugar
Aceleração com que cada lugar
revolve
-
Águas (nascentes, rios e
baías)
Bosques e desertos
Fertilidade e esterilidade e os
tipos de frutos
Minerais e fósseis
Humanas
Estatura dos habitantes, vida,
alimento e bebida, origem,
etc.
Trabalhos e técnicas,
mercadorias e preços
Virtudes e vícios,
inteligência, conhecimentos
Costumes infantis, o
matrimônio, a morte
Forma de expressão e língua
Regime Político
Religião e situação da Igreja
Cidades
Criaturas viventes
Longitude
Feitos famosos
Homens ou mulheres
ilustres, artistas, inventos
Fonte: Varen (1734, p.3-5). Organização e tradução nossa.
Analisando a referida obra, Bauab (2011) afirma que o trabalho de Varen assimila e
explicita os valores da modernidade como não havia sido feito até então em trabalhos de
Geografia, destacando o caráter complementar da busca por leis gerais como condição
apriorística para o desenvolvimento de estudos regionais. É neste sentido que o trabalho de
Varen constitui forte influência sobre o pensamento das SN’s, uma vez que inaugura e
sintetiza a necessidade pelo estabelecimento de tipologias como basilares para a observação,
descrição e compreensão de áreas.
64
A diferenciação entre universal e particular na obra de Varen é uma tentativa de
promover uma geografia abrangendo dois estilos de ciência, que foram reconhecidos por
Dyson (1988). Para este, a ciência apresentaria dois estilos ou tradições principais: uma
unificadora e outra diversificadora, que parecem bem marcadas na proposta de geografia
particular e universal de Varen, respectivamente.
A importância atribuída, na época, à obra de Varen pode ser atestada pelas oito
edições em latim, sete em inglês, uma em holandês, em francês e em russo, tendo sido
editadas de 1650 a 1765, com algumas versões recebendo comentários e ilustrações de vários
outros autores, dentre os quais Isaac Newton.
Traduzida para o russo (em 1719), a obra teve grande influência sobre o
desenvolvimento da Geografia dos países com acesso a este idioma, que passaram a adotar
uma perspectiva de ciência da terra e de sua superfície, valorizando este tipo de estudos
baseados na descrição com base em tipologias (MAZURKIEVICZ, 1992), influência que
ainda ecoa na própria estrutura contemporânea das faculdades de Geografia da Rússia (ver
CAVALCANTI, 2010).
A preocupação de Varen com as origens dos diferentes atributos da superfície terrestre
ajudou a dar vazão a uma perspectiva na busca pelo conhecimento do planeta, que viria a se
desenvolver com maior ênfase nos séculos seguintes. A partir do século 18, as perspectivas
inauguradas pelo trabalho de Varen passam a ser reproduzidas e ganham ênfase, sobretudo no
ambiente acadêmico influenciado pelo Iluminismo Francês, conjugando um desdobramento
seminal para o surgimento do conceito de áreas naturais e das Sínteses Naturalistas.
5 Iluminismo, Enciclopedismo e História Natural
No século 18, no âmbito dos processos naturais, a Pequena Idade do Gelo 22 contribuía
para a queda na produtividade agrícola na França (como em outros países da Europa). A isso
se conjugam o crescimento populacional que superava a oferta de alimentos, além de diversos
outros problemas como a crise fiscal, tributação excessiva e participação em guerras tanto na
Europa quanto na América e na Ásia. Neste contexto de frio, fome e disputas políticas,
despontaram na França as ideias iluministas de Voltaire, Diderot, Montesquieu e outros
contemporâneos como Locke e Kant, é onde a sobrevalorização da razão passa a dinamizar a
busca pelo conhecimento humano de uma forma especializada e especializante.
22
Consiste num período glacial que causou uma diminuição da temperatura, particularmente documentada na
Europa, entre os séculos XIII e XIX, com mínimos de temperatura em 1650, 1770 e 1850 (LADURIE, 1971).
65
Um dos principais produtos intelectuais deste tempo foi a Encyclopédie ou Dicionário
Racional das Ciências, das Artes e das Profissões, uma enciclopédia organizada pelos
iluministas Denis Diderot e Jean d’Alembert entre 1757 e 1772, com 33 volumes, tendo
contribuições de Voltaire, Rousseau e Montesquieu, dentre outros. Tão famosa quanto a
História Natural de Buffon, esta obra trazia no frontispício uma ilustração simbolizando a
verdade como uma mulher cercada de luz, e cuja natureza era revelada pela razão e a
filosofia, que retiravam seu manto. Marcando um período de desenvolvimento vertical das
ciências, esta famosa enciclopédia traz uma classificação do conhecimento que colocava a
Geografia na seguinte posição hierárquica: Entendimento> Razão> Filosofia> Ciências da
Natureza> Matemática> Matemática Mista> Astronomia> Cosmografia> Geografia.
É nesta França, onde a necessidade de caracterização dos recursos se fazia premente,
que é publicada a carta mineralógica (1746) concebida por Jean-Etienne Guettard23 e
confeccionada por Philippe Buache24. Esta carta inaugura, com a representação de temas
específicos, uma nova perspectiva para a cartografia e as ciências naturais, ampliando
verticalmente a perspectiva sobre a observação e representação das regiões ao retratar a
continuidade na distribuição dos minerais entre a França e a Inglaterra.
A partir do trabalho de Guettard e Buache, os estudos da natureza ganham uma nova
concepção, referente à possibilidade de caracterização temática e não mais enciclopédica
como na proposta de Varen. É o momento em que passa a se firmar uma divisão do território
não apenas em limites político-administrativos, mas associada a temas diversos. Ao próprio
Buache é atribuída a criação do conceito de bacias de drenagem, que o levou a mapear o
mundo conhecido (inclusive o Brasil), com base nos divisores de águas das principais bacias
hidrográficas.
23
Jean-Etienne Guettard (1715-1786) era neto de um boticário e passou a observar as relações entre as plantas e
o substrato sobre a qual estas se desenvolviam, o que despertou seu interesse sobre os minerais e as rochas.
Formado em Medicina em Paris e tornou-se curador das coleções de história natural do duque de Orleans, tendo
registrado as relações entre as plantas e os solos em seus trabalhos (GINESTE, 2003).
24
Philippe Buache de la Neuville (1700-1773), cartógrafo do rei da França, propôs o conceito de bacias de
drenagem em seu Essai de géographie physique (sendo talvez essa, a primeira utilização do termo ‘geografia
física’), como forma de diferenciação de regiões, proposta que exerceu grande influência entre geógrafos
franceses e alemães até meados do século seguinte (GUIMARÃES, 1963; LAGARDE, 1987). Buache ainda
publicou mapas de vários continentes representados pela divisão de bacias hidrográficas. Por basear-se em
inferência e dar pouca importância aos estudos empíricos para validação dos dados, o modelo classificatório de
Buache, baseado nas bacias hidrográficas, pôs em voga o que Debarbieux (2009) chamou de ‘o triunfo da ordem
cartográfica e o desdém da experiência’, rendendo críticas que atravessaram séculos, sobretudo porque os mapas
elaborados pela teoria de Buache muitas vezes colocavam montanhas em lugares que elas sequer existiam
(GUIMARÃES, 1963).
66
Apesar de ser uma importante manifestação da cartografia temática, a proposta de uma
Carta do Solo25 ou Mineralógica já havia sido pensada pelo inglês Martin Lister, no final do
século anterior (mais precisamente em 1683), demonstrando que era uma questão de tempo o
despontar de uma nova perspectiva cartográfica.
Acentuando essa perspectiva temática e de especialidades promovidas pelo
pensamento racional, destaca-se a publicação da L’Histoire Naturelle, générale et
particulière, avec la description du Cabinet du Roi, uma enciclopédia de história natural
organizada por Georges-Louis Leclerc (1707-1788)26, que receberia o título de Conde de
Buffon. Nenhuma outra obra teria tanta influência sobre as ciências naturais no século 18
como esta. Trata-se de uma coleção enciclopédica de livros abrangendo 36 volumes
publicados entre 1749 e 1789 e que teve como objetivo o estudo da história natural, incluindo
teorias voltadas para a explicação da formação de tudo o que existe no universo: planetas,
insetos, plantas, animais, minerais (LECLERC, 1749).
As ideias e iniciativas do Conde de Buffon fortaleceram e impulsionaram estudos
naturalistas de todo tipo. Um exemplo advém do trabalho de Nicolas Desmarest27, que
influenciado pelas ideias evolutivas de Buffon, tornou-se reconhecido por ser o primeiro a
desenvolver um estudo aprofundado em vulcanologia, descobrindo a gênese dos basaltos na
Europa e sua associação aos vulcões, também sendo responsável por apresentar uma definição
e método para a geografia física, como consta na Encyclopédie, no ano de 1757, que o mesmo
apresenta como uma:
Descrição racional dos grandes fenômenos da terra e a consideração dos
resultados gerais deduzidos das observações locais e particulares,
combinadas e reunidas metodicamente em diferentes classes e em um plano
25
À época de Lister, o conceito de ‘solo’ associava-se à ideia de relevo, no sentido de uma unidade entre o
substrato (rocha) e sua forma na superfície. Este acepção ainda pode ser encontrada em Vasconcelos Sobrinho
(1941), quando afirma que as ‘elevações do solo’, acima dos 600m de altitude, diferenciam entre caatinga
hiperxerófila e hipoxerófila.
26
O Conde de Buffon nasceu em Montbard no centro norte francês e acumulou grande fortuna e prestígio ao
longo da vida. Administrando o Jardim Botânico do Rei, transforma-o num centro de pesquisa e museu,
cercando-se de naturalistas de todo tipo que o ajudariam a escrever sua Histoire Naturelle (ROGER, 1989;
JOSEPH, 2011).
27
Nicolas Desmarest (1725-1815) era filho de um professor da pequena Soulaines-Dhuys, no Centro-Norte
francês, após a morte de seu pai, foi enviado por seu tutor para estudar no Colégio de Troyes em 1741 (58 km a
Leste de Soulaines-Dhuys) e depois foi estudar em Paris entre 1746 e 1747. Apesar de trabalhar como inspetor
geral de manufaturas durante toda a vida, Desmarest torna-se membro da Academia de Ciências em 1771
defendendo um trabalho sobre a origem dos basaltos (LESAGE, 2002).
67
capaz de fazer ver a economia natural do globo, considerada como uma
massa que não é nem habitada nem fecunda.28
Nesta definição, a Geografia Física que Desmarest propunha estava preocupada com a
economia da natureza, como defendida por Buffon e consoante com o contexto da França à
época. Além disso, baseava-se eminentemente num processo classificatório decorrente da
observação29. Esta necessidade de basear as explicações sobre os lugares na interpretação
daquilo que é observado justifica-se na valorização da estética paisagística que ganhava
espaço, sobretudo a partir das contribuições dos pintores renascentistas e sua estreita relação
com a ideia de Geografia Particular, como descrita por Bernard Varen.
Baseado em suas observações na região do Vivarais no sul da França, o abade francês
Jean Louis Soulavie30 propõe a noção de região natural, ao estudar o controle da altitude sobre
as variações do clima e da vegetação nos Alpes franceses, tema que seria explorado por
Humboldt para as Américas (GODLEWSKA, 1999).
Em sua ‘Geographie de la Nature’ e na sua ‘Histoire naturelle de la France
méridionale’, o abade Soulavie compreende e propõe sua ‘geografia da natureza’ como
distribuição dos elementos minerais, animais e vegetais, tratando-os não apenas do ponto de
vista descritivo e cartográfico, não obstante sumarizando o tipo de método que Humboldt
viria a denominar ‘empirismo racional’, legando um princípio explicativo para distribuição de
regiões naturais, quando estabelece um paralelo entre a distribuição latitudinal e altitudinal do
calor e sua relação com o clima e a vegetação31:
“3. A distribuição do calor atmosférico, do mais ao menos, da base das
montanhas ao seu topo e da zona tórrida para os polos é tal que, da França
28
“description raisonnée des grands phénomènes de la terre, & la considération des résultats généraux déduits
des observations locales et particulières, combinées et réunies méthodiquement sous différentes classes & dans
un plan capable de faire voir l’économie naturelle du globe, en tant qu’on l’envisage seulement comme une
masse qui n’est ni habitée, ni féconde.” (DESMAREST, 1757, p.613).
29
Esta preocupação de conduzir uma Geografia Física baseada na observação fomentou uma troca de farpas
acadêmicas entre geógrafos dos séculos 18 e 19, entre aqueles que defendiam esta postura e aqueles que faziam
uma geografia de gabinete (géographie de cabinet) ao estilo de Buache, dentre os quais Desmarest e Humboldt
foram críticos (DEBARBIEUX, 2009).
30
Jean Louis Soulavie (1752-1813) era membro de uma família rural burguesa da região de Antraigues (nos
Alpes franceses), tendo estudado no Colégio Saint-Nicolas em Avignon (a 133 km de Antraigues) e
posteriormente em no Seminário do Espírito Santo. Formado engenheiro geógrafo, foi chefe do depósito das
cartas do ministério da guerra. Publica a “Géographie de la nature” em 1780 como um prelúdio para sua
“l’Histoirie naturelle de la France méridionalle”, composta por 8 volumes escritos entre 1780 e 1784 e que lhe
rende o convite para tornar-se membro correspondente da Academia Real da França e da Academia de Ciências
de São Petersburgo, provavelmente mantendo contato com seu contemporâneo Ivan Lephekin.
31
Em 1495, o cardeal italiano Pietro Bembo foi provavelmente o primeiro a descrever as relações de variação da
vegetação com a altitude em seu De Ætna, promovendo a estratificação zonal do Monte Etna, na Itália.
68
meridional, o gelo situado nas montanhas acima dos mil e quinhentos metros
sobre o nível do Mediterrâneo para os polos, há muitas centenas de
quilômetros ao ponto onde o gelo é eterno, como nos planaltos superiores
das montanhas da França meridional acima dos mil e quinhentos metros,
onde o gelo nunca derrete.
4. A comparação de plantas que observei, a partir da base da montanha até o
cume, me convenceu que não há nenhuma planta que não tenha seu clima;
Ela habita exclusivamente porque nesse clima existe o calor necessário para
floração e maturação de seus frutos, além da história fisiológica das plantas
que eu acredito com base nesses fatos”.32
É a partir dos trabalhos do abade francês (e de seu contemporâneo russo, Cf. nota
sobre Ivan Lepekhin33), que a ciência passa a diferenciar o terreno com base em sua ‘unidade
natural’. Entretanto, é preciso atentar que este tipo de proposição não ocorreu de forma
isolada, dando-se num contexto de profundas mudanças no pensamento ocidental, decorrentes
da promoção do movimento iluminista, o que causava grandes problemas com a Igreja. O
próprio Soulavie sofreu com isso, quando o abade Barruel, seu contemporâneo, afirmava que
seu trabalho era contrário aos textos da Bíblia. Contudo, após a revolução de 1789, Soulavie
abandona a vida religiosa, chegando a contrair matrimônio em 1792 (MAZON, 2002).
À época de Soulavie e Lepekhin, a Rússia mantinha boas relações com a França. Era a
época da czarina Catarina II, a grande, que ficou conhecida como mecenas das artes, literatura
e educação. Quando soube que o governo francês planejava interromper a publicação da
Encyclopédie, em 1762, chegou a propor a Diderot que completasse o trabalho na Rússia.
32
“3. La distribuition de la chaleur atmosphérique, du plus au moins, de la base dês montagnes vers leur
sommet & de la zone Torride vers lês poles, est telle, que dans la France méridionale, les glaces situées sur lês
montagnes elevées de quinze cens toises sur Le niveau de la mediterranée vers lês pôles, on compte plusieurs
centaines de lieues de distance pour arriver na point ou la glace est éternelle, comme sur le plateaux supérieurs
dês montagnes de la France méridionalle éllevées de quinze cens toises où la glace ne fond jamais.
4. Or, la comparaison des plantes que j'ai observées depuis la base de nos montagnes jusque vers leur sommet,
m'a convaincu qu'il n'est aucune plante qui n'ait son climat; elle l'habite exclusivement parce que dans ce climat
se trouve le degré de chaleur nécessaire à la floraison & à la maturité de les fruits; delà, l'histoire physiologique
des plantes que je crois fondée sur ces faits.” (SOULAVIE, 1780 (11-12)).
33
Ivan Ivanovich Lepekhin (1740-1802) foi um naturalista e botânico russo que fez o doutorado em medicina em
Estrasburgo (França), tendo se formado em 1767. Realizou uma comparação entre a distribuição das plantas de
acordo com diferentes climas nos Urais, à mesma época que Soulavie, lançando as bases para a ideia de regiões
naturais, reforçada posteriormente por Humboldt e Dokuchaev. Lephekin era membro da Academia de Ciências
de São Petersburgo. Este fato, somado à proximidade temática de seu trabalho com o de Jean Louis Soulavie e a
época de publicação de seus trabalhos (entre 1770 e 1784) nos permite aventar a hipótese de que os dois possam
ter mantido contato. O abade Soulavie submeteu um trabalho para um concurso para classificação de massas
rochosas à Academia de Ciências de São Petersburgo, ficando em terceiro lugar.
69
6 Humboldt, Dokuchaev e as Zonas Naturais
Compartilhando da ideia de ciência pela observação, tanto quanto das críticas de
Desmarest à geografia de gabinete, Alexander Von Humboldt34 fundamenta sua descrição
física do mundo (Geografia Física) no que ele chama de ‘empirismo racional’, que
“corresponde aos fatos registrados pela ciência e testados pelas operações do intelecto”
(HUMBOLDT, 1858, p.49, tradução nossa). De acordo com Pedras (2000), esta união entre
descrição e especulação constitui a essência do método de Humboldt.
A estreita relação entre o método humboldtiano e àquele proposto por Desmarest não
se deve ao acaso, uma vez que no primeiro trabalho científico de Humboldt, intitulado
Observações Mineralógicas em Vários Basaltos no Rio Rhine (de 1789), existem duas
referências a seu contemporâneo francês35.
Contudo, apesar de conhecer e citar o trabalho sobre os basaltos, escrito por
Desmarest, Humboldt parecia não ter consciência ou não partilhar das ideias expostas no
artigo sobre Geografia Física da Encyclopédie, pois no seu Cosmos propõe o seguinte:
A até então indefinida ideia de geografia física tem, deste modo, por uma
extensão e talvez também um plano ousadamente imaginado, sido
compreendida sob a ideia de uma descrição física do universo, abrangendo
todas as coisas criadas nas regiões do espaço e na terra.36
Humboldt possuía uma proposta abrangente para aquilo que ele denominava como
‘descrição física do universo’, afirmando que a: “Geografia física não é limitada a elementar
vida inorgânica elementar terrestre, mas, elevada ao ponto de vista mais alto, ela abrange a
esfera da vida orgânica e as numerosas gradações de seu típico desenvolvimento”. 37
No contexto daquilo que estamos chamando aqui de Sínteses Naturalistas, o
empirismo racionalista da Geografia Física de Desmarest e Humboldt passa a sustentar e
34
Friedrich Wilhelm Heinrich Alexander von Humboldt (1769-1859), nasceu em Berlim e apesar de ter estudado
finanças em Frankfurt, manifestava interesse por plantas e animais, que já lhe atraíam desde a infância. Suas
viagens pela América do Sul lhe renderam fama, sobretudo por ter escalado o vulcão Chimborazo, considerado a
mais alta montanha do mundo na época e pela coleta de 6300 espécies de plantas até então desconhecidas. Suas
teorias influenciaram a biologia, a ecologia, a geografia, a geologia e diversas outras ciências. De influência
marcadamente romântica, típica do seu tempo, mantinha contato com líderes deste movimento na Alemanha
como Goethe e Schiller.
35
Ver Mineralogische Beobachtungen über einige Basalte am Rhein de Humboldt (1790, p. 125 e 126.).
“The hitherto undefined idea of a physical geography has thus, by an extended and perhaps too boldly
imagined a plan, been comprehended under the idea of a physical description of the universe, embracing all
created things in the regions of space and in the earth.” (HUMBOLDT, 1858, p.8)
37
“Physical geography is not limited to elementary inorganic terrestrial life, but, elevated to a higher point of
view, it embraces the sphere of organic life, and the numerous gradations of its typical development.”
(HUMBOLDT, 1858, p.22).
36
70
desenvolver a ideia de unidade natural das áreas. Mas desta vez, não é aquela unidade
vislumbrada na descrição dos sítios pelos gregos e romanos, nem as regiões da topografia e
corografia de Varen. Alimentada pela razão Iluminista, sobretudo em conformidade com as
diferenciações temáticas, a Geografia Física de Humboldt não é simplesmente o estudo da
natureza das diferentes regiões, mas o discernimento de sua constância, isto é de seus tipos,
afirmando que:
O objetivo final da Geografia Física é, contudo, como nós já temos dito,
reconhecer unidade na vasta diversidade de fenômenos, e pelo exercício do
pensamento e a combinação de observações, discernir a constância dos
fenômenos no meio das mudanças aparentes. 38
Esta ideia de unidade fundamenta a proposta que Humboldt desenvolve em seguida,
tratando da distribuição de plantas e animais em sua relação com o clima, com vistas ao
estabelecimento de leis para a variação deste conjunto em função de dois elementos gerais
controladores: a latitude e da altitude. O naturalista alemão populariza as ideias sobre o que
viria a se denominar de tipos zonais e azonais de paisagens, a partir da comparação entre a
similaridade da distribuição de elementos naturais (sobretudo o clima, a vegetação e a fauna)
ao longo das latitudes e das altitudes.
Não obstante a noção de zonalidade que já estava presente no trabalho dos gregos,
como Eudoxo de Cnido e Aristóteles (MILKOV, 1990), é a partir dos esforços de naturalistas
com visão integrada do mundo, como Humboldt, que as variações da latitude e da altitude,
passam a ser tratadas como determinantes gerais de padrões regionais e globais de ambientes
naturais, passando a ser possível falar de uma teoria das zonas naturais, que viria a sustentar
propostas posteriores como a ideia de biomas de Karl H. Walter e a noção de geossistemas de
Viktor B. Sochava.
Na continuidade das perspectivas sobre a representação de regiões naturais, o
naturalista russo Vasiliy Vasilievich Dokuchaev39 publica sua teoria das zonas naturais, que
38
The ultimate aim of Physical Geography is, however, as we have already said, to recognize unity in the vast
diversity of phenomena, and by the exercise of thought and the combination of observations, to discern the
constancy of phenomena in the midst of apparent changes (HUMBOLDT, 1858, p.43).
39
Vasiliy V. Dokuchaev (1846-1903) nasceu na pequena vila de Milyukova (230 km a oeste de Moscou e 630
km ao sul de São Petersbugo), estudou história natural na faculdade de física e matemática da Universidade de
São Petersburgo. Defendeu sua tese em geomorfologia intitulada “A origem dos vales dos rios da Rússia
europeia”, mas foram seus trabalhos sobre solos que o fizeram famoso em todo o mundo. Dokuchaev
estabeleceu um modelo explicativo para a formação e classificação dos solos e determinou a relação dos solos
com a biota, o material parental e o clima através do tempo, nos moldes das ideias de zonalidade por altitude e
latitude de Soulavie, Lepekhin e Humboldt. É só a partir de Dokuchaev que o termo ‘solo’ passa a ser utilizado,
com maior ênfase, no sentido pedológico e edáfico moderno.
71
já havia sido imaginada por Lepekhin e Soulavie no final do século anterior (TEPLYAKOV
et al. 1998). Neste trabalho, Dokuchaev propõe zonas naturais para o hemisfério norte,
diferenciadas entre si conforme o clima, o relevo, os solos, a fauna e a vegetação, inaugurando
formalmente a teoria que sustenta a ideia de unidade natural do terreno.
Além disso, o naturalista russo formula o conceito de zonas naturais, como área de
interação homogênea entre os componentes da natureza, objeto de estudo do que viria a ser
chamado posteriormente de ciência da paisagem, biogeocenologia, estudo de geossistemas,
ecologia de paisagens, geografia de ecossistemas e tantos outros termos.
À época de Dokuchaev, a Rússia vivia um período conturbado, marcado pela
insatisfação popular com o Império. O czar Alexandre II, mesmo tendo abolido a servidão, foi
assassinado, em 1881, num atentado a bomba por membro da organização revolucionária
Народная воля (Vontade do Povo). Seu filho e sucessor, Alexandre III, que implantou uma
série de políticas anti-semitas, chegou a sofrer vários atentados, morrendo, porém de causas
naturais (em 1894), deixando o Império para seu filho, o último czar Romanov: Nicolau II.
No âmbito natural, parte Rússia foi afetada por uma série de secas, registradas em
1868 e 1875 e uma bastante severa em 1891-1892, esta última que chega a registrar meio
milhão de mortos (ROBBINS, 1975). É o momento em que os movimentos populares,
inspirados pelo marxismo começam a ganhar força. Neste cenário de mudanças políticas e
graves problemas agrícolas Dokuchaev liderou expedições científicas que resultaram numa
série de publicações, desde 1877, envolvendo o estudo dos solos da Rússia, principalmente as
terras negras (чернозёме ou chernozens), além de procedimentos para o mapeamento de solos
e avaliação agrícola das terras, que foram divulgadas rapidamente pelo mundo, visto que já
em 1894 era criado o United States Bureau of Soils, como uma entidade separada do
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, chefiada por Milton Withney40.
Para Dokuchaev, o solo seria o resultado da interação entre o clima, a topografia, o
material parental (rochas ou sedimentos) e os seres vivos ao longo do tempo. Para Saushkin
(1948) a compreensão destas relações é a principal contribuição de Dokuchaev para a
Geografia. A própria concepção edáfica e pedológica do conceito de solo, amplamente
desenvolvida pelo sábio de Milyukova aprofunda a apreensão sobre a ideia de zonas naturais,
40
Outro nome que merece destaque na Pedologia dos Estados Unidos da América (EUA) é o do químico
agrícola alemão Eugene Woldemar Hilgard (1833-1916), que estudou em Heidelberg, mas trabalhou nos EUA
como geólogo assistente e depois como professor em Berkeley. Ele conduziu inventários de solos (considerando
características físicas e químicas) no lado do Pacífico norte-americano à mesma época que Dokuchaev. Contudo,
Hilgard divergia da posição oficial de US Bureau of Soils, que baseava sua classificação de solos
predominantemente nas diferenças texturais. Este fato ‘atrasou’ a incorporação das ideias de Hilgard pelo US
Bureau of Soils (SMITH, 1998).
72
que o mesmo distingue em dois tipos, as zonas horizontais (de latitude) e as verticais (de
altitude).
No entendimento do naturalista em questão, pesquisas como as de Lavoisier, Darwin,
Helmholtz e outros, apresentavam falhas no sentido em que:
Objetos separados têm sido primariamente estudados – minerais, rochas,
plantas e animais – bem como fenômenos, elementos separados – fogo
(vulcanismo), água, terra, ar, em que mais uma vez a ciência obteve
resultados notáveis, mas não suas correlações, nem a genética, eterna e
sempre regular conexão que existe entre forças, objetos e fenômenos, entre a
natureza morta e viva... de um lado – e o homem, seu mundo material e
espiritual, do outro.41
Este pensamento era similar ao de Humboldt, que afirmara em seu ‘Cosmos’ que, tão
importante quanto os estudos especializados era a busca pela compreensão das relações entre
os fenômenos terrestres e siderais do cosmos, fato que era encorajado por suas viagens.
Isto demonstra que o século 18 foi marcado por uma sensação de fragmentação e
especialização do conhecimento, como atestado pela elaboração da Encyclopédie e da
Histoire Naturelle.
Tanto a proposta de Humboldt quanto a de Dokuchaev apelam para a necessidade de
um retorno a uma visão inteira do mundo, compreensiva das relações entre os elementos que a
compõem. Corroborando com esta ideia encontra-se o ‘On the scope and methods of
Geography’ de Halford John Macnkinder, publicado em 1877, onde o autor discorre sobre a
necessidade de uma abordagem integrada na geografia, unindo seus aspectos físicos e
políticos sob a égide do conceito de região, voltando à perspectiva de Bernard Varen.
Assim, se o século 18 marcou uma especialização das ciências, e a consequente
fragmentação da Geografia, o século 19 evidenciou o aparecimento de discussões teleológicas
sobre o conhecimento geográfico, seja pela reformulação da disciplina (Mackinder) ou na
busca de uma nova disciplina (Dokuchaev).
41
“Изучались, главным образом, отдельные, тела — минералы, горные породы, растения и животные
— и явления, отдельные стихии — огонь (вулканизм), вода, земля, воздух, в чем, повторяем, наука и
достигла удивительных результатов, но не их соотношение, не та генетическая, вековечная и всегда
закономерная связь, какая существует между силами, телами и явлениями, между мертвой и живой
природой, между растительными, животными и минеральными царствами, с одной стороны,
человеком, его бытом, и даже духовным миром — с другой. А между тем именно эти соотношения, эти
закономерные взаимодействия и составляют сущность познания естества, ядро истинной
натурфилософии — лучшую и высшую прелесть естествознания. Они же, как будет ясно ниже,
должны лежать в основе и всего склада человеческой жизни, со включением даже мира нравственного и
религиозного...” (DOKUCHAEV, 1898)
73
Diferentemente da geografia de Mackinder, da geografia da natureza de Soulavie ou
da geografia física de Humboldt, Dokuchaev pensava que a ciência que deveria estudar as
relações entre os componentes da natureza não era a geografia, que estava se desenvolvendo
em todas as direções de uma vez. Caminhando no sentido de uma definição sobre isso, o
cientista russo publica uma série de artigos entre 1898 e 1900 abordando a questão das zonas
naturais e tratando a ideia de zonalidade como uma lei científica, legando ainda uma
perspectiva em mapeamento dos recursos e avaliação de terras para fins de aproveitamento
econômico e planejamento (ISACHENKO, 1973).
Estas ideias deram vazão ao surgimento de muitas novas áreas de estudo, como a
Geoquímica da Paisagem de Boris B. Polinov, a Biogeoquímica e a Teoria da Biosfera de
Vladimir I. Vernadsky, a Bigeocenologia de Vladimir N. Sukachev e a Ciência da Paisagem
de Lev S. Berg, todos estes ex-alunos de Dokuchaev.
7 Áreas Naturais: Entidades Reais ou Produto da Mente Humana?
Decerto que a compreensão da unidade natural do terreno já havia se firmado após os
trabalhos de Soulavie, Lepekhin, Humboldt e Dokuchaev. Todavia, o detalhamento das
teorias explicativas sobre o conceito em questão cresceria juntamente com as necessidades de
planejamento agropecuário, de manejo florestal, da conservação dos recursos naturais e
preservação da natureza, fato que aproximou ainda mais a teoria de zonas naturais da
Ecologia e das Ciências Agrárias.
Do final do século 18 até as primeiras décadas do século 20, o rápido desenvolvimento
industrial e o aparecimento de diversas invenções como o telefone, o fonógrafo, a iluminação
elétrica e o cinema, firmaram a ciência e a racionalidade como pilares da ideologia do
progresso. Nas cidades os trabalhadores, submetidos a jornadas de trabalho extensas, se
organizavam em sindicatos fundamentados em diversas teorias políticas, como o marxismo.
No meio artístico, o movimento romântico (que muito influenciou Humboldt)
contrapunha a ideia de industrialização e a vida urbana insalubre à ideia de uma natureza
bucólica e virgem, exemplo perfeito da Criação.
Concomitantemente, o avanço no processo de degradação da natureza, e as ideias que
vinham surgindo sobre a posição do homem entre os seres vivos e mesmo da Ecologia, deram
subsídios ao crescimento de pensamentos preservacionistas e conservacionistas42. Dentre
42
Discutindo o surgimento deste tipo de pensamento, Diegues (2001) evidencia o modo como ele esteve
associado à ideologia do progresso e a preocupação com o manejo dos recursos florestais de um lado, e à busca
pela manutenção de ilhas de natureza intocada, que deveriam ser mantidas protegidas do desenvolvimento
74
estas ideias, a teoria da evolução de Darwin-Wallace deu fôlego especial aos estudos sobre as
relações entre as espécies e à influência do meio sobre as comunidades.
É neste contexto que o termo biótopo é elaborado pelo biogeógrafo e aracnologista
Karl F. T. Dahl em 1908, surgindo como um complemento à noção de biocenose,
desenvolvida por seu professor Karl A. Möbius, em 1877. A denominação de biocenose veio
a partir do estudo de Möbius sobre mexilhões e seu cultivo. Dahl foi curador da seção de
aracnologia no Museu de História de Berlim, cuja coleção de zoologia era dirigida por
Möbius.
Neste momento, podemos perceber uma mudança na concepção de três reinos
(mineral, animal e vegetal) desenvolvida na L’Histoire Naturelle do Conde de Buffon (século
18), e utilizada por Soulavie, que passa a ser substituída pela noção de relação entre os seres
vivos e não vivos de Humboldt e Dokuchaev, sendo cristalizada nos conceitos de biocenose e
biótopo de Möbius-Dahl.
Além disso, os termos significando um conceito unificador das relações entre seres
vivos e não vivos passam a despontar no meio acadêmico, como as zonas naturais de
Dokuchaev (1898), as regiões naturais de Herbertson (1905), a paisagem de Berg (1913) e
Passarge (1913) ecossistema, por Arthur G. Tansley (1935); ecótopo, proposto por Thorvald
J. Sørensen (1936) e desenvolvido posteriormente por Tansley (1939) e Carl T. Troll (2006);
bioma por Clements e Shelford (1939), entre outros.
Estes termos fundamentaram o desenvolvimento de serviços de estudo e/ou avaliação
do terreno, seja com finalidades ecológicas ou agropecuárias. Sendo ainda possível traçar uma
linha de similaridade entre as diversas propostas que vieram a se estabelecer no século 20,
com base na proximidade do idioma falado e das relações políticas entre as diversas regiões
do globo.
Nos países anglófonos, por exemplo, já em 1905, A. J. Herbertson se questionava
sobre quais critérios deveriam ser utilizados para subdivisão das terras, utilizando o termo
‘regiões naturais’. Alguns anos mais tarde, começam a surgir, nos Estados Unidos da América
(EUA), uma série de trabalhos, utilizando técnicas diversas desde a descrição de campo
(JAMES, 1929; HUDSON, 1936), com destaque para o Michigan Land Economic Survey –
MLES (de 1922), dentre os quais faziam parte os geógrafos Wade de Vries e Jethro Otto
Veatch e o florestal P.S. Lovejoy.
industrial, baseadas numa ideia romântica de natureza selvagem. O mesmo autor ainda demonstra como a
criação de parques e reservas baseada numa ideia prístina tem sido nociva às comunidades tradicionais que
viviam antigamente em locais considerados ‘virgens’ pelos citadinos, que depois se torna prejudicial à própria
gestão das unidades de conservação.
75
Em sua divisão geográfica natural das terras J. O. Veatch (1930) apresenta um mapa
do Estado de Michigan, contendo ‘land divisions’ formadas por um mesmo tipo de solo,
topografia e vegetação.
O uso de fotografias aéreas da proposta de Ray Bourne (1931), bem como o trabalho
do MLES influenciaram as pesquisas sobre a unidade do terreno na Nova Zelândia
(CUMBERLAND, 1944) e Austrália, como o relatório de serviço na região entre Katherine e
Darwin, no norte Australiano, realizado na década de 1940, mas publicado apenas no início da
década seguinte (CHRISTIAN; STEWART, 1953).
Neste trabalho foi formulado o conceito de Sistemas de Terras (Land Systems) que se
tornou basilar para a proposta ulterior de avaliação de terras (Land Evaluation) adotada pela
Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, 1976), e para o
desenvolvimento de aproximações classificatórias de origens chinesa (LONG, 1986, 1994),
neerlandesa (ZONNEVELD, 1989; 1995), italiana (HOWARD; MITCHELL, 1980),
nigeriana (AMEYAN, 1986), iraniana (MAKDHOUM, 2008), entre outras, sendo utilizada
também, como base para avaliações geotécnicas e para obras de engenharia (ZUQUETTE;
GANDOLFI, 2004).
No Canadá, os sistemas de classificação de terras apareceram na década de 1960, a
partir do Canadian Land Inventory (CLI), que promoveu uma avaliação das terras,
principalmente da parte sul do país, inserindo os Sistemas de Informação Geográfica no
processo de compilação dos mapas. A partir dos resultados do CLI, criou-se na década
seguinte um comitê para classificação ecológica das terras (Canada Committee on Ecological
Land Classification – CCELC), contribuindo para o desenvolvimento da perspectiva de
mapeamento de unidades naturais do terreno, utilizando o conceito de Ecorregiões, que mais
tarde seria adotado por organizações não governamentais para conservação da natureza como
a World Wildlife Fund (WWF) e a The Nature Conservancy (TNC).
Na França, destacam-se os trabalhos de Jean Tricart e Georges Bertrand, considerados
principais expoentes da renovação da geografia física francesa na segunda metade do século
20 (VEYRET; VIGNEAU, 2002). O trabalho desses autores incorporou a teoria dos sistemas,
buscando a compreensão do ambiente enquanto entidade dinâmica e hierarquicamente
organizada (BERTRAND, 1968; TRICART, 1977), tendo influenciado diretamente a
geografia física brasileira e indiretamente os zoneamentos agroecológicos no Nordeste do
Brasil, através do trabalho de Riché e Tonneau (1989).
No contexto da língua alemã, as principais ideias para a diferenciação de regiões
naturais já estavam presentes nos trabalhos dos geógrafos Friedrich Von Richtoffen e
76
Siegfried Passarge, culminando com os trabalhos de Carl Troll (que cunhou o termo Ecologia
de Paisagens), Gerhard F. Josef Schmithüsen e principalmente, Ernst Neef, que legou uma
escola alemã em Ecologia de Paisagens, cujos moldes conceituais em muito se assemelham
àqueles da Geografia dos países de línguas eslavas (KLINK et al., 2002). Outro nome de
destaque é Hartmut Leser, que escreveu o primeiro livro-texto de Ecologia de Paisagens em
alemão. Todavia, a produção alemã parece ter tido pouca influência além dos limites de seu
território, sendo citados em trabalhos de geógrafos russos, principalmente. No Brasil, Helmut
Troppmair (1984) divulgou inicialmente a perspectiva da classificação de biótopos, mais tarde
retomada por Bedê et al. (1997). Outra contribuição importante da geografia alemã ao estudo
das áreas naturais é a introdução do conceito de regiões morfogenéticas por Julius Büdel
(PELTIER, 1950), que incorpora a noção de zonas naturais à atuação do processo de
formação de mantos de intemperismo e formas de relevo.
O canal de comunicação em línguas eslavas, sob a égide geopolítica da União
Soviética, divulgou, principalmente, os trabalhos dos geógrafos de seus países formadores
(Rússia, Geórgia, Letônia, etc.) destacando quatro principais centros produtores de
conhecimento: Moscou, São Petersburgo, Irkustsk e Tblisi. Todavia, os trabalhos de
geógrafos da Polônia, da então Tchecoeslováquia, Letônia, Estônia, Hungria, Bulgária,
Romênia, Mongólia, Ucrânia e outros países da Europa Central e do Leste também legaram o
desenvolvimento de perspectivas regionais bastante particulares, ainda que mais semelhantes
ao trabalho dos geógrafos soviéticos do que aqueles de países anglófonos (ROUGERIE;
BEROUTCHACHVILI, 1992).
A partir de 1966, com a publicação do livro Princípios de Ciência da Paisagem e
Regionalização Físico-Geográfica43 de Anatolyi G. Isachenko, a modalidade ‘eslava’ da
regionalização em bases naturais passa a contar com uma visão teórica mais abrangente do
que a simples identificação de unidades de terras para o planejamento, que só encontraria
versão similar em língua alemã 10 anos depois (LESER, 1976), 30 anos depois em língua
inglesa44 (BAILEY, 1996) e apenas 38 anos depois em língua portuguesa (RODRIGUEZ;
SILVA; CAVALCANTI, 2004).
No mesmo trabalho, Isachenko (1973) afirma que a perspectiva soviética
fundamentou-se num tratamento das zonas naturais enquanto entidades reais (materiais),
pautada na lógica do materialismo histórico, que se tornava necessária como legitimadora das
43
O livro de Isachenko possui uma tradução para o inglês de 1973: Principles of Landscape Science and
Physical-Geographic Regionalization. Traz uma extensa revisão dos trabalhos anteriores, tanto em língua Russa
quanto de países estrangeiros.
44
Aqui desconsideramos o fato do livro de Isachenko ter sido traduzido para o inglês em 1973.
77
posturas acadêmicas na então URSS. Esta postura viabilizou a promoção de reflexões
acadêmicas no sentido de formular princípios gerais, leis e axiomas para classificar e explicar
as áreas naturais.
Em contraponto, na geografia dos países capitalistas, houve a predominância no
tratamento das regiões como entidades não reais, produto do raciocínio humano sobre
determinado problema (Cf. Hartshorne, 1939), sendo tarefa da geografia a busca por leis
gerais para a regionalização de qualquer tema específico ou problema. Decorreu disto que, o
desenvolvimento de abordagens sobre áreas naturais ocorreu principalmente em institutos de
pesquisa e com propósitos práticos (manejo florestal, aproveitamento agrícola, etc.)
(ISACHENKO, 1973).
Assim, o que está subjacente a este debate é o modo como são compreendidas as
áreas naturais/zonas naturais e que reflete um debate mais amplo no âmbito da Filosofia da
Ciência. Este debate envolve as perspectivas do realismo e do solipsismo, o primeiro
afirmando a existência de uma realidade externa independente do pensamento humano, ideia
que é negada pelo solipsismo (NUNES-NETO; EL-HANI, 2012)45.
Esta dualidade na visão das áreas naturais enquanto entidades reais ou não, parece
mesmo ter sido o grande motor de diferenciação entre as perspectivas soviéticas e dos países
capitalistas. Todavia, o desenvolvimento da ideia de áreas naturais como entidades reais a
partir da biologia e da ecologia foram posteriormente absorvidas pelos geógrafos ‘não
soviéticos’, a exemplo do desenvolvimento da ideia de ecorregião e a geografia de
ecossistemas, de Bailey (2009). Assim, se a ideia de unidades naturais não foi desenvolvida a
fundo pela geografia dos países capitalistas do início do século, isto ocorreu por meio da
biologia e da ecologia, sobretudo na interface com as ferramentas de sensoriamento remoto e
geoprocessamento.
O canal de comunicação eslavo ainda influenciou os geógrafos chineses, sobretudo
após a implantação do regime maoísta, conforme nos indicam Lee (1966) e Fu et al. (2006).
Contudo, mais recentemente, o material de origem anglofônica tem tido maior difusão no
meio acadêmico chinês, sobretudo a partir das contribuições de Cai Yun Long (1986, 1994)
que agrega o conceito de Land Systems de Christian e Stewart (1953) com a ideia russo-
45
Numa perspectiva intermediária entre as abordagens realista e solipsista, Nunes-Neto e El-Hani (2012)
destacam a teoria das hierarquias, como formulada por Ahl e Allen (1996), que afirmam acreditar na existência
de uma realidade externa à mente humana, mas que esta só pode ser apreendida pelos filtros de nosso sistema
cognitivo, sendo a função da ciência propor modelos sobre essa realidade. Deste modo, afirmaríamos a
existência de áreas naturais (geossistemas), mas a fidelidade de sua representação estaria associada aos limites de
nosso universo cognitivo.
78
soviética de regionalização físico-geográfica. Outros autores têm seguido a perspectiva de
Long (HUA; QUIAO; GUANG, 1992; FEN; HAN; GUO, 2005).
Ainda no tocante aos países formadores da antiga União Soviética, cabe salientar que a
influência de Dokuchaev foi fundamental no sentido de se pensar uma teoria para a
diferenciação de áreas, visto que, seguindo seu exemplo, seus alunos buscaram elaborar
princípios gerais para explicação das zonas naturais e seus subtipos, dando origem à Ciência
da Paisagem (ISACHENKO, 1973; SHAW; OLDFIELD, 2007).
8 Conclusões
Este capítulo apresentou elementos para o entendimento das sínteses naturalistas a
partir do conceito de área natural. Sob um ponto de vista historiográfico, percebemos que o
referido conceito foi construído historicamente a partir de ideias relacionadas à descrição de
áreas, a exemplo das noções greco-latinas de positio e natura. Mas também partilhando de
uma compreensão do vínculo funcional dos lugares a partir do conceito de zonalidade.
Foi a partir da necessidade de classificação das informações provenientes das
navegações, principalmente através do pensamento de iluministas, como Soulavie, que o
conceito em questão se estrutura sob uma noção especializada, divergindo da visão regional
abrangente das descrições de áreas, que se enriqueceu até a época de Varen, que às colocou
sob a diligência de um quadro teórico-explicativo, organizando a Geografia como universal e
particular.
É a partir do iluminismo que ganha fôlego a compreensão das relações entre o clima, a
altitude e a biota (e posteriormente os mantos de intemperismo, solo e as formas de relevo)
como produtos da influência de fatores geográficos como a latitude e a altitude. Retrabalhada
por dois pensadores de renome (Humboldt e Dokuchaev), o estudo das áreas naturais, pautado
na observação, assume seu caráter de ciência de síntese, como conhecemos hoje.
Contudo, as diferenças no modo de encarar as áreas naturais, como entidades reais ou
não, bem como a diversidade de contextos institucionais e políticos, contribuíram para que a
síntese naturalista caminhasse por vieses distintos para o tratamento da questão integrativa. É
neste cenário de meio termo entre a geografia, a agronomia e a ecologia que crescem a ciência
da paisagem russa, a ecologia da paisagem dos geógrafos alemães, as propostas de
classificação de terras (em termos ecológicos ou não) e tantas outras.
79
Capítulo 3
A Teoria dos Geossistemas: Aspectos Gerais e Perspectivas para sua
Difusão na Geografia Brasileira
1 Introdução
Assim como em outros países, o Brasil também assistiu, e tem assistido o
desenvolvimento da ideia de áreas naturais como produto das relações entre os componentes
da natureza na superfície terrestre. Esta ideia pós-iluminista foi incorporada às agendas das
instituições de ensino e pesquisa, assumindo conotações e objetivos distintos e,
materializando-se na forma de termos também diferentes como regiões naturais, ecorregiões,
unidades geoambientais, geossistemas, entre tantos outros.
Entre os geógrafos brasileiros, o termo geossistema passou a figurar constantemente
como aplicação da teoria dos sistemas ao estudo de áreas naturais. Pesquisadores renomados
da ciência geográfica de nosso país não se eximiram de tecer suas considerações sobre os
geossistemas e/ou a teoria geossistêmica e sua aplicabilidade à compartimentação e estudo da
dinâmica e evolução das paisagens do Brasil, destacando-se os nomes de Antonio
Christofoletti, Aziz Nacib Ab’Sáber, Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro e Helmut
Troppmair.
Muitos dos artigos publicados por estes autores encontram na epígrafe ‘geossistema’,
uma base teórica e metodológica inspirada em trabalhos de geógrafos estrangeiros, sobretudo
franceses e soviéticos. Esta filiação deriva do fato de que o termo geossistema foi introduzido
no
Brasil
a
partir
do
artigo
“Paysage et géographie
physique
globale: esquisse
méthodologique” escrito pelo francês Georges Bertrand46 em 1968 e publicado no Brasil em
1972, sob tradução de Olga Cruz. Contudo, poucos anos depois, em 1975, por ocasião do 24º
Congresso Geográfico Internacional (realizado pela União Geográfica Internacional, em
Moscou), Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro teve oportunidade de conhecer as práticas
físico-geográficas que se desenvolviam na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
(URSS), chegando inclusive a receber livros de presente do letão Adolph A. Krauklis, com
quem fez amizade (MONTEIRO, 2009, comunicação pessoal).
46
Georges Bertrand (1932-) professor da Universidade de Toulouse – Le Mirail (França). Foi diretor do Centro
Interdisciplinar para o Estudo do Ambiente Natural e da Organização Rural (CIMA) do Conselho Nacional de
Pesquisa da França (CNRS). Na década de 1970 foi um dos grandes expoentes da renovação da geografia física
francesa, juntamente com Jean Tricart (VEYRET; VIGNEAU, 2002).
80
Recebendo também uma versão em inglês de um texto preparado pelo geógrafo Viktor
B. Sochava47, denominado “The Study of Geosystems”, Carlos A.F. Monteiro introduziu no
nosso país a concepção siberiana da Ciência da Paisagem soviética, que difere grandemente
daquela de Georges Bertrand. Contudo, as interpretações posteriores dos geógrafos brasileiros
passaram, muitas vezes a tomar a posição de Sochava como sinônima da de Bertrand, além de
tecer considerações sobre as dimensões espaciais e temporais dos geossistemas como sendo
entidades de grande abrangência areal, que é coerente com a concepção desenvolvida pelo
francês, mas não com a do russo.
Considerando tudo isto, o objetivo deste capítulo é esclarecer aspectos conceituais e
terminológicos da teoria dos geossistemas, na acepção de Sochava e no contexto da geografia
russo-soviética, contribuindo assim, para desfazer e evitar confusões de nomenclaturas e
metodologia que possam surgir (ou que já surgiram) quando se faz a apreciação do termo
geossistema.
2 Aspectos Metodológicos
A difusão de qualquer conhecimento se depara com os limites dos horizontes
cognitivos dos sujeitos e só compreendemos aquilo que nos está disponível para conhecer
(HACKING, 2008). Numa apreciação hermenêutica, toda ideia exposta (seja em texto ou
outro meio de informação) possui um sentido impresso pelo autor, mas está sujeita a uma
variação de significados em função dos métodos de interpretação utilizados, tanto quanto das
ferramentas e referências disponíveis para sua compreensão (LOPES, 2004).
Buscando o esclarecimento de aspectos fundamentais da teoria dos geossistemas e sua
difusão no Brasil, foram analisadas diversas interpretações sobre a concepção de geossistemas
em Bertrand e em Sochava. Neste sentido, diversos textos produzidos no Brasil sobre a
referida epígrafe, tiveram suas interpretações avaliadas tendo por critério a biografia dos
autores, as suas referências e ferramentas interpretativas disponíveis, bem como seus
pressupostos.
De forma a esclarecer e justificar nossa empresa, na medida em que fomos avaliando
os textos, foi realizada uma análise comparativa mais ampla destes em relação às propostas de
Bertrand e Sochava. Deste modo, contribuímos para dirimir a criação de significados que se
afastem do sentido proposto originalmente pelos autores.
47
Viktor Borisovich Sochava (1905-1978) nasceu em São Petersburgo (Rússia) e foi diretor do Instituto de
Geografia da Sibéria e do Extremo Oriente (hoje Instituto Viktor Sochava de Geografia). Formado em ciências
agrárias e com doutorado em biologia, foi um dos maiores contribuintes da história da geografia russo-soviética.
Propôs a Teoria dos geossistemas como uma renovação e revisão da noção de paisagem como entidade real,
integrando e ampliando o espectro epistemológico e metodológico da geografia física.
81
Assim, nossos resultados se iniciam com uma exposição simples sobre as relações
entre as propostas de Bertrand e Sochava e desenvolve-se tratando das dimensões espaciais e
temporais dos geossistemas, destacando divergências na compreensão do sentido original
proposto pelo geógrafo francês e pelo russo também. Por fim, Apresenta-se uma breve
proposição acerca das raízes das divergências enlevadas, expondo, deste modo, limites e
perspectivas para o desenvolvimento e difusão da teoria dos geossistemas no Brasil.
3 Geossistemas em Bertrand e em Sochava
Existe uma diferença fundamental na concepção de geossistemas entre Bertrand e
Sochava, ou seja, mesmo ambos utilizando a mesma epígrafe, apresentam concepções
distintas da palavra. Mesma palavra, ideias diferentes.
No artigo de 1968, Bertrand utiliza a palavra geossistema para se referir a uma das
escalas espaço-temporais da paisagem, abrangendo a 4ª e 5ª ordem de grandeza na
classificação de Cailleux e Tricart, abrangendo escalas espaciais da ordem de 10 a 10² km² e
temporais da ordem de 106 a 107 anos. Neste momento, a concepção de geossistema em
Bertrand tem dimensões espaciais e temporais bem definidas.
Isto seria modificado posteriormente, quando Bertrand passa a escrever artigos com o
georgiano Nikolai L. Beruchashvili e assume que seu conceito de geossistema como uma
dimens ão de ordem de grandeza definida é menos coerente que aquela da proposta de
Sochava, afirmando que:
Em 1964-1965, nós havíamos definido o geossistema como uma unidade
taxoxorológica entre outras (geótopo – geofácies – geossistema – região
natural – domínio geográfico – zona). O geossistema representava um
espaço natural homogêneo dividido em geofácies. (...) Num esforço de
uniformização conceitual e de simplificação da linguagem, nós, entretanto,
estamos de acordo, com a definição mais lógica de V.B. Sochava, que faz do
geossistema, como do ecossistema, uma abstração e um conceito
(BEROUTCHACHVILI; BERTRAND, 1978, p.168, tradução nossa) 48
Refletindo sobre isso, Georges Bertrand muda sua concepção do termo geossistema,
passando a compreendê-lo como uma entidade natural formada pelas relações entre os
48
Em 1964-1965, nous avions defini Le géosystème comme une unité taxochorologique parmi d’autres (géotope
– géofaciès – géosystème – région naturelle – domaine géographique – zone). Le géosystème représentait um
espace naturel homogéne divisé en géofaciès. Cette définition taxonomique a été utilsée par d’autres auteurs
aussi bien dans la recherche fondamentale que dans dês travaux d’application. Les études que sont contenues
dans ce numéro de la Revue Géographique des Pyrénées et du Sud-Ouest et lês légends des cartes se conforment
à CET usage.
Dans un souci d’uniformisation conceptuelle et de simplification du language, nous nous rallions
cependant, avec le CIMA, à la définition plus lógique de V.B. Sochava, qui fait Du géosystème, comme de
l’écosystème, une abstraction et un concept.” (BEROUTCHACHVILI & BERTRAND, 1978, p.168).
82
componentes da natureza e impactada pela ação da sociedade. Esta nova concepção, inclusive
é
utilizada
para
formular
seu
modelo
Geossistema-Território-Paisagem
(GTP),
respectivamente associados às noções de source, resource e resourcement (BERTRAND;
BERTRAND, 2002).
Em outro contexto, Viktor B. Sochava formula o termo geossistema em 1963, no
artigo intitulado “Definição de alguns conceitos e termos da geografia física”, definindo-o
como: “unidade natural de todas as categorias possíveis, do geossistema planetário (envelope
geográfico ou ambiente geográfico em geral) ao geossistema elementar (fácies físicogeográfica)” (SOCHAVA, 1963, p.53). Assim, diferentemente de uma escala espacial bem
definida, como é o caso da proposta de Bertrand, a conceituação de Sochava é genérica, na
qual o geossistema pode possuir uma ampla gama de dimensões espaciais na superfície
terrestre, indo desde a fácies físico-geográfica até o envelope geográfico (toda a superfície
planetária).
Em sua definição, o geógrafo russo faz referência a estes dois conceitos (envelope
geográfico e fácies físico-geográfica), que vamos apresentar em detalhes a seguir. Ambos os
termos já estavam plenamente desenvolvidos na geografia soviética pelo menos desde a
década de 1940, sobretudo com a publicação dos trabalhos de N. A. Solntcev (KALESNIK,
1964; ISACHENKO, 1973).
3.1 Unidades Físico-Geográficas
Uma definição detalhada de envelope geográfico é apresentada por Isachenko (1973) e
corresponde à parte externa da crosta terrestre que inclui a litosfera (com 4 a 5 km de
espessura), a hidrosfera, a troposfera (altitude entre 8 e 16 km) e a biosfera. Nesta região do
planeta, funciona como um sistema complexo em que elementos bióticos, abióticos e
humanos interagem, produzindo como estrutura emergente as paisagens (RODRIGUEZ;
SILVA; CAVALCANTI, 2004).
No outro extremo, a fácies físico-geográfica ou simplesmente fácies - фация (Fig. 16)
constitui a menor unidade numa divisão natural do terreno. Ela já aparecia em trabalhos do
final do século 19 e início do século 20, como a noção de epimorfo, em Abolin (1904)
(ISACHENKO, 1973).
Em geral, uma fácies é definida como um segmento de relevo (Ex.: o topo do morro,
ou sopé da encosta, etc.), sendo caracterizada pela uniformidade da rocha-mãe, microclima,
regime de drenagem e umedecimento, migração geoquímica, pédon e localização dentro de
uma comunidade ecológica (ISACHENKO, 1991).
83
Entre a fácies e o envelope geográfico são descritas uma série de subunidades naturais
que, em sínteses naturalistas recebem nomes diversos, como já foi visto. Exemplos são os
complexos biogeocenóticos de Walter (1986) ou as famílias de ecossistemas de Ab’Sáber
(2003). Na Geografia russo-soviética, um modelo destas subunidades físico-naturais
intermediárias se tornou consagrado, sendo inclusive incorporado na proposta de Sochava.
Este modelo inclui agrupamentos hierárquicos de fácies para distinção do ambiente
geográfico de dimensões locais a mesorregionais, tendo sido proposto por N. A. Solntcev.
Figura 16. 1 a 10 (fácies ao longo de uma seção), A-Г (diferenças no substrato).
Fonte: Isachenko, 1991.
No referido modelo, uma fácies é considerada como parte de outra unidade geográfica
maior, denominada Trato (Urochische - урочище, em russo). Por definição, um Trato
corresponde a uma associação funcional de fácies, associação esta definida pela conectividade
e interação no que se refere à circulação de substâncias (água, sedimentos, nutrientes, etc.) e
tem como exemplo clássico o vale (ISACHENKO, 1973; ZUCHKOVA; RAKOVSKAIA,
2004). Um vale conecta diferentes segmentos de encosta e possui um mesmo sentido em
relação à migração de substâncias (Fig. 17). Além disso, caso haja variação nos segmentos de
encosta em função das formações superficiais (rochas e/ou regolito), um vale (trato) pode ser
subdividido em Subtratos ou Podurochische - подурочище (casos II e III da Fig. 17).
Neste contexto, o conceito de Estilos Fluviais (River Styles®) em Brierley e Fryirs
(2000) pode ser encarado como um Subtrato, em que cada geomorphic unit corresponderia a
uma fácies distinta. Para os referidos autores, um estilo fluvial abrange uma seção da planície
de inundação com mesmo tipo de confinamento das margens e que apresenta mesmo conjunto
de unidades geomórficas com gênese comum.
84
Seguindo a mesma lógica, Solntcev ainda destacou as áreas naturais formadas pela
interação funcional de Tratos, que ele denominou de Paisagem (landschaft49 - ландшафт). As
paisagens, geralmente apresentando uma dimensão mesorregional (10 a 10² km²), estão mais
próximas do conceito de geossistema de Bertrand, sendo denominadas por Sochava de
Macrogeócoros (ver a seguir).
Figura 4. Estrutura dos Tratos. I, II e III indicam Tratos; IIa, IIb, IIIa e IIIb indicam Subtratos.Os
valores entre 1 e 9 indicam Fácies.
Modificado de Zuchkova & Rakovskaia, 2004.
Uma Paisagem geralmente reflete um mesoclima atuando sobre uma determinada
morfoestrutura, ou seja, consiste numa associação entre processos geológico-geomorfológicos
e bioclimáticos mesorregionais. Para Solntcev (1948), uma paisagem geográfica é uma área
geneticamente homogênea, com uma repetição regular de combinações inter-relacionadas da
estrutura geológica, formas de relevo, águas superficiais e subterrâneas, microclimas, solos,
fito e zoocenoses. Internamente, a Paisagem apresenta um mesmo conjunto funcional de
Tratos e Fácies, a que denominam estrutura morfológica da paisagem (ISACHENKO, 1991;
SOLNTCEV, 2006).
Como se pode notar, a definição de fácies, subtratos e tratos esta associada a uma
classificação por agrupamento, enquanto a paisagem é definida por uma divisão lógica
comparada ao resultado de um agrupamento. No modelo russo-soviético, unidades superiores
a paisagem na hierarquia natural (macro e megarregionais) são classificadas sempre a partir
de divisão lógica (veja a seguir). Neste sentido, a Paisagem é considerada como a menor
unidade de dimensão regional e a maior de nível local (ISACHENKO, 1991).
49
A língua russa não possui uma palavra para paisagem, desta forma eles emprestam o termo alemão landschaft.
85
Uma Paisagem ainda pode apresentar, em sua estrutura morfológica, uma unidade
intermediária formada pelo agrupamento de Tratos, que é denominada Localidade (Mestnost местност). As Localidades se caracterizam por oferecer, dentro de uma mesma Paisagem,
condições distintas para a formação de Tratos. Geralmente isso se dá em função de variações
no litótipo bem como a presença de condicionantes sobre os padrões de drenagem (Fig. 18).
Figura 5. Esquema de diferenciação de uma Localidade como uma unidade morfológica de uma
paisagem. I – Localidade com Tratos em vales úmidos; II – Localidade com Tratos em vales secos.
Fonte: Zuchkova & Rakovskaia, 2004. Modificado pelo autor.
Na proposta de Solntcev, a estrutura morfológica da Paisagem é composta de
Localidades, Tratos, Subtratos e Fácies agrupadas hierarquicamente (Fig. 19). Contudo, as
paisagens ainda estão contidas em diversas subunidades do Envelope Geográfico da Terra,
que foram sistematicamente organizadas por A.G. Isachenko (1973, 1991), sendo
denominadas de unidades regionais.
Diferentemente do agrupamento utilizado para identificar as unidades da estrutura
morfológica da paisagem (fácies, tratos, etc.), as unidades de dimensões meso, macro e
megarregionais são diferenciadas a partir de uma divisão lógica do Envelope Geográfico da
Terra, divisão esta que se baseia em fatores bioclimáticos (denominados zonais) e geológicogeomorfológicos (denominados azonais) (ISACHENKO, 1991).
86
Figura 19. Mapa da Paisagem de Drokovski a SW de Moscou (margem direita do rio Iput).
Fonte: Modificado de Zuchkova e Rakovskaia (2004, p.38).
Em princípio, na proposta taxonômica de A.G. Isachenko, diferenciam-se unidades e
subunidades geradas por condicionantes cósmicos e atmosféricos (zonais), tal como faixas
com mesmo clima regional; em seguida, diferenciam-se unidades e subunidades naturais
formadas por processos geológico-geomorfológicos (azonais), tal como morfoestruturas com
diferentes dimensões; Por fim, ambos os conjuntos são correlacionados de modo a se obter
unidades e subunidades derivadas, correspondendo aos geossistemas regionais.
No desenvolvimento de sua sistemática, Isachenko (1991) as unidades e subunidades
geradas por processos cósmicos e/ou atmosféricos (Zonais) compreendem as seguintes
categorias: Cinturão (пояс), Zona (зона), Subzona (подзона). As unidades e subunidades
decorrentes de processos geológico-geomorfológicos (Azonais) são: Continente (континент),
Subcontinente (субконтинент), País
(страна), Domínio
(область) e
Subdomínio
(подобласть). Além destas, inclui-se uma categoria de unidades azonais definidas pelo efeito
87
da continentalidade que, às vezes substituem as unidades Zonais, denominadas Setor (сектор)
e Subsetor (подсектор). A Figura 20 sumariza as características de cada categoria de
unidades bem como os elementos necessários e/ou auxiliares à sua identificação.
Zonal
Figura 20. Características e Critérios para Identificação de Unidades Zonais e Azonais.
Unidade
Cinturão
Zona
Subzona
Continente
Subcontinente
Azonal
País
Domínio
Subdomínio
Setor
Subsetor
Características e Critérios de Identificação
Mesmo regime de radiação solar
Similaridades termohidrológicas e dos biomas num Cinturão
Similaridades termohidrológicas e diferenças internas dos biomas numa
Zona
Superfície continental numa mesma placa tectônica
Maior regime deformacional na superfície do continente (Plataformas e
Faixas Móveis)
Maiores atributos morfotectônicos do subcontinente
Combinação entre padrões espaciais de manchas de solos, biomas e clima
regional
Maiores atributos morfotectônicos do País, história e condições
morfosedimentares semelhantes num País
Grandes conjuntos geológicos, rupturas de declive regionais, conjuntos de
manchas de solos, história e condições morfosedimentares semelhantes
num Domínio
Grau de continentalidade e distribuição dos biomas
Grau de continentalidade e distribuição dos biomas num Setor
Fonte: Isachenko, 1991. Adaptado pelo autor.
O cruzamento das unidades zonais e azonais permite classificar geossistemas
regionais, que apresentam as seguintes categorias: Província (провинция), Subprovíncia
(подпровинция), Distrito (округ), Subdistrito (подокруг). Detalhes da classificação regional
de Isachenko (1991) já foram apresentados por Cavalcanti (2010) e Cavalcanti, Corrêa e
Araújo Filho (2011). Entretanto, cabe representar as relações para classificação sistemática de
unidades físico-geográficas (Fig. 21).
Cada uma destas áreas naturais identificada foi chamada de indivíduo geográfico.
Todavia, foi percebido pelo geógrafo Nikolai A. Solntcev que, numa mesma região é possível
que existam indivíduos com características muito similares, sobretudo nos níveis hierárquicos
de menor ordem (fácies, tratos, localidades, etc.) a partir disso ele propôs, para poupar
esforço, que os mapas apresentassem não os indivíduos, mas sim seus tipos (ISACHENKO,
1973), estes tipos seriam chamados por Sochava de geômeros (cf. tópico 3.2.1).
Foi baseada nesta noção de unidades físico-geográficas regionais que a análise
genético-estrutural da paisagem já havia se consolidado na Rússia na metade do século
passado. Contudo, muito pouco havia sido feito no sentido de uma abordagem integrada sobre
a dinâmica e evolução das paisagens, sendo esta a grande contribuição de Viktor B. Sochava.
88
Figura 21. Sistema Taxonômico de Unidades Físico-Geográficas Regionais.
Fonte: Cavalcanti, 2010.
A adoção da linguagem sistêmica aplicada à ideia de paisagens permitiu a Sochava
resolver alguns entraves da geografia física soviética através da formulação da Teoria dos
geossistemas. Um exemplo foi a diferenciação disciplinar que existia entre a ciência da
paisagem e a regionalização físico geográfica, que após Sochava passaram a fazer parte do
Estudo de Geossistemas, diferenciando-se apenas a escala dos fenômenos considerados.
Além disso, só a partir da fusão da teoria dos sistemas com a compreensão realista de
áreas naturais (paisagens) da geografia russo-soviética, realizada por Sochava, é que a ciência
da paisagem pôde crescer não apenas sobre a análise espacial, mas também sobre uma
compreensão temporal dos geossistemas (Cf. tópicos a seguir sobre as dimensões espaciais e
temporais dos geossistemas).
Nos países influenciados pela geografia da antiga URSS, é consenso que a proposta de
Sochava trouxe um avanço na compreensão integrativa dos fenômenos espaciais e temporais
que formam as paisagens, bem como num esclarecimento das dimensões epistemológicas da
própria geografia física em sua versão integrada. Foi, pois, a introdução da palavra
geossistema, na literatura geográfica soviética, que representou uma revolução conceitual e
metodológica para a geografia física, alcançando patamares de esclarecimento que ainda hoje
89
são escassos nas práticas geográficas de outros canais de comunicação, como aqueles de
origem anglófona. Um exemplo disso é que estudos intra-anuais só passaram a ser
desenvolvidos por geógrafos, fora da influencia da antiga URSS, a partir do advento do
sensoriamento remoto orbital e do realce de imagens por índices de vegetação. Ou exemplo é
que a união entre estudos dinâmicos e evolutivos ainda parece novidade entre geógrafos de
países anglófonos (BRACKEN; WAINWRIGHT, 2008).
Dito isto, vale asseverar que o geossistema em Sochava é compreendido como uma
unidade natural dinâmica de qualquer dimensão, da maior dimensão espaço-temporal (toda a
superfície terrestre), à menor (ex.: um pequeno setor morfodinâmico de encosta com mesmo
sistema de transformação pedológica e estágio de sucessão florestal). Nestes termos, a
definição do russo é completamente diferente daquela que Bertrand propõe em 1968, para o
seu modelo de Geografia Física Global, uma vez que para Sochava os geossistemas podem
possuir qualquer dimensão (de alguns metros até toda superfície terrestre), enquanto para o
francês, os geossistemas são da ordem das dezenas às centenas de quilômetros quadrados.
Em seu livro Introdução à Teoria dos geossistemas, Sochava (1978, Cf. p.101-102)
chega a comentar a diferença entre sua proposta e a de Bertrand, expondo que a existe uma
divergência escalar na acepção do termo. Assim, eles divergem em termos da abrangência
espacial dos geossistemas, sendo a conceituação do geógrafo francês um pouco mais restrita
(como vimos acima) e a do russo mais geral e abrangente, como veremos a seguir. Segundo o
geógrafo russo, o geossistema de Bertrand seria o seu macrogeócoro.
Contudo, como foi visto, Bertrand abre mão de sua definição anterior e abraça a
concepção soviética, na qual se baseia para formular seu modelo de análise integrada das
relações entre Sociedade e Natureza, a partir das relações entre os geossistemas, o território e
a paisagem (o modelo GTP).
Com base na compreensão destas diferenças, se torna mais fácil apreender uma série
de desentendimentos conceituais que ocorrem na literatura geográfica brasileira em função,
sobretudo, do não conhecimento do artigo de Beroutchachvili e Bertrand, de 1978, onde o
geógrafo francês explicitamente abre mão de sua definição inicial para propor algo mais
abrangente. A seguir vamos avaliar e tentar esclarecer algumas dessas confusões conceituais,
começando pela compreensão das dimensões espaço-temporais dos geossistemas.
3.1.1 Problemas com a Hierarquia das Unidades Físico-Geográficas
No cerne da questão que envolve a identificação das unidades físico-geográficas, está
a compreensão da estrutura hierárquica dos sistemas de classificação. Uma vez que estes
90
sistemas são compostos por unidades maiores que contém unidades menores, o critério para
escolha de uma quantidade de níveis hierárquicos tem variado bastante, fazendo com que as
sínteses diferenciem grandemente entre si no que diz respeito ao número de níveis
considerados. Algumas possuem apenas dois níveis hierárquicos (as unidades de paisagem e
unidades geoambientais de Silva et al., 2001, por exemplo), enquanto outras possuem 6 (zona,
domínio, região, geossistema, geofácies e geótopo de Bertrand, 1968) ou até 19 níveis:
epigeosfera, cinturão, zona, subzona, setor, subsetor, continente, subcontinente, domínio,
subdomínio, província, subprovíncia, distrito, subdistrito, paisagem, terreno, trato, subtrato e
fácies de Isachenko (1991).
Nesta falta de consenso em relação à quantidade de níveis hierárquicos existentes,
alguns autores chegam a propor que se abandone uma escala apriorística de níveis
hierárquicos (KHOROSHEV; MEREKALOVA; ALESCHENKO, 2007). Para estes autores,
esquemas hierárquicos ‘rígidos’ funcionam para alguns tipos de ambientes, mas não para
outros. Por exemplo, usando o modelo de Solntsev50, os geógrafos Chernykh e Zolotov (2007)
calcularam a diversidade de localidades51 para diversas regiões da Ásia, e perceberam que
diversas destas localidades abrigavam outras localidades dependendo do ambiente em que
ocorressem, como no caso das planícies de inundação.
O mesmo problema é descrito por Mamay (2007, p.23, tradução nossa) que, num
balanço sobre as classificações de unidades homogêneas, utilizando o modelo de Solntsev e
outros similares, destaca o fato de que:
Durante pesquisas de campo, frequentemente faces adicionais (facultativas)
de complexos territoriais naturais ocorrem nas transições entre as
tradicionais categorias de unidades de paisagem: fácies e subtratos, subtratos
e tratos, tratos e localidades, localidades e paisagens. Essas categorias
adicionais não têm um nome específico e usualmente são chamadas “grupos
de fácies”, “grupos de subtratos”, etc.. Sua gênese está relacionada com
diferentes estágios evolutivos da base litógena. Espera-se que os cientistas da
paisagem definam atributos diagnósticos para estas categorias adicionais e
estabeleçam termos apropriados.
Em sua classificação hierárquica da geobiosfera, Walter (1986) estabelece a unidade
de maior dimensão (bioma), a de menor dimensão (biogeocenose) e afirma que entre elas
existe uma gama de complexos biogeocenóticos, cuja quantidade níveis lhe era incógnita em
função da ausência de exemplos concretos.
50
Este modelo é tão comum nos países formadores da antiga União Soviética quanto o modelo de Christian e
Stewart é para os países de língua inglesa.
51
No modelo de Solntsev, localidade corresponde a um nível hierárquico de classificação, definido com base
num padrão de drenagem comum a um determinado substrato geológico.
91
As variações e ausência de consenso entre as diferentes sínteses sugerem que essa
distinção entre a quantidade de níveis hierárquicos e os modos de identificá-los possa estar
relacionada a uma adaptação de tais esquemas classificatórios à realidade das paisagens
locais, como nos indica Monteiro (2000).
Neste contexto, a hierarquia de uma síntese pode ser classificada como rígida (quando
possui níveis pré-determinados) ou flexível (quando não possui níveis pré-determinados).
Sínteses com hierarquias rígidas são mais comuns entre as abordagens tradicionais, enquanto
aquelas que usam abordagens probabilísticas tendem a fazer uso de hierarquias flexíveis
(HAY; MARCEAU, 2004). Todavia, algumas Sínteses tradicionais podem ser bastante
flexíveis, como é o caso dos domínios de natureza e famílias de ecossistemas propostos por
Aziz Ab’Sáber (2003), que adota em parte a lógica dos complexos biogeocenóticos de Walter
(1986), e dos domínios morfoclimáticos de Tricart e Cailleux (1956).
A questão da hierarquia nas sínteses naturalistas ainda está, portanto, em aberto e
precisa de estudos voltados não apenas para a classificação de novas áreas, mas também de
estudos preocupados com os fundamentos destas classificações. Assim, é importante
compreender as etapas de coleta, processamento e interpretação dos dados, avaliando as
estratégias de diferentes pesquisadores, considerando também como, quando e em que
contexto elas surgiram e foram retrabalhadas.
3.1.1 Taxonomia dos Geossistemas Regionais
De forma a complementar e auxiliar a diferenciação (regionalização) das unidades
físico-geográficas, também se propõe a classificação destas unidades, ou seja, o agrupamento
de unidades semelhantes em tipos, caracterizando uma tipologia, também chamada
taxonomia. Aqui vamos destacar algumas das propostas taxonômicas comuns à geografia
russo-soviética.
Na proposta taxonômica de Isachenko (1991) e também no seu mapa de paisagens do
mundo (ISACHENKO; SHLIAPNIKOV, 1989), é apresentada uma sistemática que enquadra
as diferenças paisagísticas numa série de categorias, a saber:

Tipo: definidos pelo caráter geral do funcionamento hidrotérmico, com base em
índices derivados de elementos climáticos (temperatura, precipitação, etc.), como o
índice de umidade, o índice de continentalidade e a soma das temperaturas ativas;

Subtipo: definidos com base em pequenos contrastes no interior dos tipos;

Classe: inclui duas classes: montanhas e planícies;
92

Subclasse: inclui partes de planícies e montanhas. Para as planícies existem duas
subclasses: terras baixas e terras altas. Para as montanhas existem três subclasses: submontana, montana e alto montana.

Espécie: inclui áreas com máxima similaridade em termos de gênese, componentes
característicos (relevo, solos, vegetação, etc.) e estrutura morfológica.
No livro ‘Mundo Natural: Paisagens’ Isachenko e Shliapnikov (1989) determinam
tipos, subtipos, classes e subclasses das paisagens do mundo, mas apresentam as espécies
congregadas em pouco mais de 600 grupos. No capítulo 1 (veja a p.39) apresentamos o mapa
dos grupos de paisagem da América do Sul, destacando as paisagens do nordeste brasileiro e a
legenda dos grupos que ocorrem em Pernambuco.
Na proposta de Vladimir A. Nikolaev (1979), da Universidade Estatal de Moscou, são
apresentadas sete categorias, saber:

Divisão: tipo de contato e interação entre as esferas geográficas com a esfera da
paisagem (divisão de paisagens terrestres, paisagens aquáticas, etc.);

Sistema: base energética das paisagens – distinções zonais dos balanços de água e
calor (sistemas de paisagens subárticas, paisagens boreais, etc.). Pode ser dividido em
subsistemas de acordo com o grau de continentalidade;

Família: Localização regional no país físico-geográfico (Boreal temperado continental
– Europa Setentrional);

Classe: morfoestruturas de alta ordem (elementos do megarrelevo), tipo de zonalidade
natural – vertical ou horizontal (classes de paisagens planas e montanhosas). Pode ser
dividido em subclasses de acordo com diferenças internas do megarrelevo;

Tipo: características dos solos e vegetação no nível de tipos de solos e classes de
formação de plantas (tipos zonais de paisagens; tundras, tundras florestais, etc.). Pode
ser dividido em subtipos;

Gênero: tipos genéticos de relevo (denudacional, lacustre, fluvial, etc.). Pode ser
dividido em subgêneros de acordo com a litologia superficial (argila, areia, cascalho,
etc.);

Espécie: similaridade dos Tratos predominantes nas Paisagens. Pode ser dividido em
subespécies.
Estudando a região do Cáucaso, o georgiano Nikolai L. Beruchashvili (1983) também
propôs um sistema para taxonomia da paisagem, preferindo o termo ‘Complexos Territoriais
93
Naturais’, de Dokuchaev. Atualmente, esta proposta serve de referência para a determinação
do funcionamento das paisagens da Geórgia, baseada na determinação dos Stexe (ver mais
adiante) para a categoria dos gêneros (ver abaixo).

Classe: envolve duas classes: Montanhas e Planícies;

Subclasses: Sub-Montana, Montana, Alto Montana, Terras Altas e Terras Baixas;

Tipo: usualmente é baseada principalmente em atributos hidrometeorológicos,
considerando também atributos gerais da estrutura, migração de elementos químicos,
parâmetros biológicos e etc.;

Subtipo: é determinado de acordo com diferenças identificadas dentro de um mesmo
tipo;

Gênero: determinado de acordo os seguintes atributos:
o Tipo de relevo dominante (erosivo, acumulativo, etc.);
o Litotipo (carbonático, vulcânico, siliciclástico);
o Grau de continentalidade;
o Formações vegetais;
o Atributos da hidrologia (planície de inundação, delta, etc.);
o Complexidade e diversidade da estrutura morfológica.
Diferentemente dos anteriores, Viktor B. Sochava (1978), em seu livro Introdução à
Teoria dos Geossistemas, sugere que a tipologia dos geossistemas não deva se basear nas
características similares de tratos ou paisagens, mas na estrutura e dinâmica das fácies. Assim,
para Sochava, a tipologia dos geossistemas (geômeros) deve ser realizada pelo agrupamento
sucessivo de fácies (SUVOROV; SEMENOV; ANTIPOV, 2007), apresentando onze
categorias de geômeros, a saber:

Conjuntos de Tipos de Meios Naturais: inclui as grandes faixas geográficas da Terra
(Ex.: Cinturão de Paisagens Boreais);

Tipos de Meios Naturais: grandes conjuntos naturais de uma faixa geográfica (Ex.:
Taiga);

Classes de Geomas: Divisões dos meios naturais com base no megarrelevo (Ex.:
Montanhas Euroasiáticas);

Subclasses de Geomas: divisões do megarrelevo com base em sua posição e outras
características (Ex.: Montanhas de Baikal-Dzhugdzhursky);
94

Grupos de Geomas: conjuntos naturais de uma subclasse de geoma (Ex.: Taiga
Decidual de Baikal-Dzhugdzhursky);

Subgrupos de Geomas: divisão de um grupo de geomas (Ex.: Taiga Decidual
Montana);

Geomas: agrupamento de classes de fácies com características estruturais e dinâmicas
semelhantes. Ex.: Taiga Decidual de Bacia Intra-Montana

Classes de Fácies: conjunto de grupos de fácies com características estruturais e
dinâmicas semelhantes. Ex.: Estepe

Grupos de Fácies: agrupamento de fácies com características estruturais e dinâmicas
semelhantes. Ex.: Estepes Secas de Piemonte.

Fácies: segmento de relevo com mesmo substrato, tipo de solo e espécies vegetais
dominantes. Ex.: Encosta côncava transeluvial com Stipa-Aneurolepidium em solo
castanho comumente siltoso e carbonático salino.

Geômero elementar (ou Biogeocenose): estágio de transformação pedológica e
sucessão vegetal num segmento geomórfico. Ex.: Stipa-Aneurolepidium em solo
castanho comumente siltoso e carbonático salino.
Detalhando ainda mais a classificação de Sochava (1978), Semenov e Purdik propõem
uma divisão dos Grupos de Fácies em Tipos (caracterizados pela migração geoquímica. Ex.:
Trasenluvial) e Subtipos (definidos pelo segmento do relevo. Ex.: Encosta côncava), tornando
assim, o termo fácies sinônimo de geômero elementar, conforme sugerido em Krauklis (1979,
p.70-80).
3.2 Dimensão Espacial dos Geossistemas
Um primeiro problema que encontramos na interpretação da ideia de geossistemas no
Brasil é quando se estende a definição de Bertrand em 1968, ao trabalho de Sochava e tenta-se
compreender o trabalho do geógrafo russo em função de partilhar o mesmo termo que o do
francês. Isso definitivamente não funciona, porque, como vimos, apesar de usarem o mesmo
termo (geossistema), Bertrand e Sochava referem-se a coisas distintas.
Além disso, o não esclarecimento, por parte de Sochava, nos únicos dois textos seus
que foram traduzidos para o português, de termos como geômeros e geócoros, somado ao já
referido desconhecimento do artigo de Beroutchachvili e Bertrand (1978), em francês,
conduziu a erros interpretativos sobre a dimensão dos geossistemas em Sochava. Assim,
95
alguns autores brasileiros tenderam a interpretar a proposta de Sochava pela de Bertrand, a
exemplo de Troppmair e Galina (2006, p.81) que, baseado na ideia de que a antiga URSS
seria um país de dimensões continentais, afirmam ter concluído que o geógrafo russo se
referia a áreas de dimensões subcontinentais (tundra, estepes, etc.), quando utilizava o termo
geossistema, o que, definitivamente, não corresponde aos mapas de geossistemas em
ultradetalhe, na escala 1:1.000, elaborados com amostragens de 5m em 5m (Cf. KRAUKLIS,
1979, p.100) ou mesmo ao método da ordenação complexa, proposto para estudar o
funcionamento dos geossistemas locais e suas trocas de matéria e energia com os
geossistemas adjacentes em transectos com 1,5km (SOCHAVA, 1978; KRAUKLIS, 1979).
É neste sentido que, sempre se tratou a ideia de geossistema, na geografia brasileira,
na perspectiva das definições dadas por Bertrand em seu artigo de 1968, mais do que pela
perspectiva de outros autores como Sochava, por exemplo, o que gera uma compreensão
bastante distinta sobre a teoria em questão (Cf. Monteiro, 1976; 2000; AB’SÁBER, 2003;
VICENTE; PEREZ FILHO, 2003, NASCIMENTO; SAMPAIO, 2005).
De outro modo, Sales (2004, p.128-129) afirma que a perspectiva geossistêmica
desconsidera a dimensão temporal dos processos naturais, no sentido de que ignora escalas e
processos evolutivos de ordem morfoestrutural. Além disso, a autora resume muitas das
abordagens que se dizem “geossistêmicas” à simples agrupamentos de informações temáticas
sobre o meio ambiente (cf. Sales, op. cit., p.131). Deste modo, a autora emite uma opinião
crítica sobre aquilo que, na maioria das vezes, foi feito da abordagem geossistêmica no Brasil,
ou seja, simples complicação terminológica. Todavia, uma compreensão mais aprofundada da
ideia de geossistema, fornece uma compreensão distinta daquela da autora sobre a dimensão
temporal dos geossistemas (cf. tópico 3.3, mais adiante).
Além da confusão sobre a dimensão espacial dos geossistemas, o espectro
terminológico relacionado às propostas de Bertrand e Sochava também podem levar a
interpretações errôneas. Um exemplo é a concepção associada aos termos geofácies,
geótopos, geócoros, geômeros, entre outros, como veremos a seguir.
3.2.1 Geofácies, Geótopos e Tantos Outros Termos
De forma similar à diferença conceitual entre o termo geossistema em Bertrand e em
Sochava, os termos geofácies e geótopo também possuem conotações ambíguas na literatura
geográfica, enquanto os termos geócoro e geômero são bastante peculiares aos trabalhos
desenvolvidos pelo antigo Instituto de Geografia da Sibéria (hoje Instituto Viktor Sochava de
Geografia).
96
O termo geofácies é referido inicialmente por Bertrand (em 1968) como uma
subdivisão espacial do geossistema. Assim, os geossistemas seriam unidades da 4ª ou 5ª
ordem de grandeza, enquanto os geofácies seriam da 6ª ordem. Igualmente, os geótopos
seriam subdivisões dos geofácies manifestando-se na 7ª ordem de grandeza de Cailleux e
Tricart.
Em Beroutchachvili e Bertrand (1978), quando o geógrafo francês adota uma nova
concepção, o termo geofácies aparece em outra acepção, sinônima ao conceito de fácies de
Sochava, sendo definido como uma associação de geohorizontes. Assim, o geofácies da
proposta de Bertrand em 1968, antes da 6ª ordem de grandeza, dez anos depois se torna
sinônimo do que antes era chamado de geótopo. Esta mudança de concepção do geógrafo
francês foi acompanhada também por uma mudança terminológica que, em alguns casos,
inverteu o significado atribuído à uma determinada palavra, no caso, geofácies.
Já o termo geohorizonte foi introduzido por Nikolai Beruchashvili para descrever os
diferentes componentes da estrutura vertical de uma fácies. Assim, o geohorizonte é descrito
em termos das associações das diferentes substancias, que implica o uso do termo geomassa,
que é aplicado para definir a ideia de matéria geográfica, ou seja, aquela que pode ser
agrupada conforme sua posição entre as esferas geográficas, a saber: litosfera (litomassa),
atmosfera (aeromassa), hidrosfera (hidromassa), biosfera (biomassa) (BERUCHASHVILI,
1986).
Além disso, a geomassa pode ser subdividida em pedomassa, fitomassa, zoomassa,
necromassa, etc. (ISACHENKO, 1998; EGOROV, 2008). Assim, um geohorizonte seria um
estrato da paisagem onde houvesse a mesma combinação de geomassa, isto é, a diferenciação
não estaria relacionada apenas à sequencia de estratos vegetais e dos horizontes do solo, pois
também deveria incluir as condições da hidrosfera e atmosfera.
Como exemplo de geofácies na concepção de Beroutchachvili e Bertrand (1978)
podemos apresentar o caso observado no semiárido brasileiro (CAVALCANTI, 2010;
CAVALCANTI et al., 2010), no município de Poço das Trincheiras (Alagoas) (Fig. 22).
Observando um segmento de encosta com aproximadamente 20m², foi elaborado um perfil de
geofácies contendo os seguintes geohorizontes (descritos de cima para baixo):

I - Atmosfera sem interferência da vegetação com limite em 3 metros. II – Folhas
anuais de árvores e arbustos em queda, lianas e limite inferior em 1,7 metros. III –
Rocha aflorante, Folhas anuais de árvores e arbustos em queda, transporte de
biosubstâncias, líquens nos troncos das árvores e em algumas rochas, lianas e limite
em 0,3 metros. IV - Rocha aflorante, Transporte de biosubstâncias, presença de lianas,
97
folhas e caules de herbáceas com limite de 0,1 metro. V - Rocha aflorante, Transporte
de biosubstâncias, presença de lianas, folhas e caules de herbáceas, Serrapilheira não
destruída, limite na linha de superfície. VI - Rocha e cascalho, raízes e umidade
insuficiente com limite de profundidade em 30 cm. VII - Rocha com limite de
profundidade desconhecido.
Figura 22. Geofácies, geohorizontes e distribuição da geomassa.
A – Aeromassa, P – Fitomassa, L – Litomassa, H – Hidromassa, M – Necromassa. As letras
minúsculas representam variações da geomassa. Os números indicam a altura/profundidade do
geohorizonte. Fonte: Cavalcanti (2010); Cavalcanti et al. (2010).
Considerando toda esta variabilidade de terminologias e acepções intercambiantes e
ainda, para evitar maiores confusões, elaborou-se um quadro de correlação entre os termos
utilizados por Bertrand, Sochava e Bertrand e Beroutchachvili (Figura 23). Espera-se
colaborar para solucionar dúvidas e auxiliar o entendimento sobre a natureza distinta das
propostas apresentadas.
É importante destacar que o geógrafo russo não utiliza o termo geofácies, preferindo o
uso das palavras fácies físico-geográfica ou simplesmente fácies (SOCHAVA, 1963; 1977;
1978). Em termos comparativos, a fácies de Sochava é o geótopo de Bertrand em 1968/1972 e
o geofácies de Beroutchachvili e Bertrand em 1978, abrangendo uma unidade físicogeográfica da 7ª ordem de grandeza.
98
Figura 23. Correspondência de termos em Bertrand e Sochava.
Termo
Conceito em Bertrand
(1968)
Geofácies
Subdivisão dos
Geossistemas da 6ª
ordem de grandeza
Geótopo
Subdivisão dos
Geofácies da 7ª ordem
de grandeza
Conceito em
Beroutchachvili e
Bertrand (1978)
Utilizado como sinônimo
de fácies. Unidade com
mesma associação de
geohorizontes. 7ª ordem
de grandeza
Não utilizado
Não utilizado
Termo genérico que
se refere a qualquer
ordem de
geossistemas locais
(4ª, 5ª, 6ª e 7ª ordens
de grandeza)
Não utilizado
Qualquer tipo de matéria
componente da paisagem
Não utilizado
Estrato de um geofácies
Não utilizado
Geohorizonte
Fonte: Bertrand (1968); Beroutchachvili e Bertrand (1978); Sochava (1978). Organizado pelo autor.
Geomassa
Não utilizado
Conceito em
Sochava (1978)
Quanto ao termo geótopo, em Sochava, este é associado a qualquer dos geossistemas
locais (localidades, tratos, subtratos, fácies) e seu estudo é denominado geotopologia, em
contraponto à regionalização físico-geográfica, que se preocupa com os geossistemas
regionais e globais. Deste modo, o geótopo para o geógrafo russo não representa uma unidade
natural com dimensão determinada, mas um termo genérico para designar geossistemas de
pequenas dimensões.
Para complicar ainda mais a situação, Sochava propõe mais termos como geômeros,
geócoros, epigeômeros e outros. Contudo, os termos geócoro e geômero, possuem uma
definição bastante simples, mas cuja tradução não foi realizada em idioma português,
dificultando sua compreensão, por exemplo, Nascimento e Sampaio (2005, p.174) acreditam
que é um problema aplicar a ideia de geossistema em função de os geômeros estarem
relacionados às escalas das zonas climáticas, enquanto os geócoros possuírem escala regional,
quando na verdade os conceitos relacionam-se a duas formas de organização da informação,
de tipologia e de regionalização, respectivamente (SOCHAVA, 1978; ISACHENKO, 1991).
Neste contexto, o termo regionalização é utilizado para diferenciar unidades naturais,
independentemente de sua dimensão espacial (local, regional, planetária), enquanto o termo
tipologia é associado à tipos de unidades. Assim, os geócoros são unidades naturais de
qualquer dimensão (ex.: Depressão Sertaneja), enquanto os geômeros são tipos de unidades
naturais (ex.: Depressões em Rochas Cristalinas sob Climas Secos).
99
O conceito de ‘tipo’ pode aplicar-se apenas para a diferenciação e comparação entre
paisagens e unidades locais. Todavia, para unidades regionais e planetárias, a tipologia não é
tão importante, uma vez que o número de unidades similares não é tão grande quanto nas
unidades de pequena dimensão (ISACHENKO, 1973). Isachenko (1973) enfatiza que na
natureza existem objetivamente apenas os indivíduos (geócoros de Sochava) e que qualquer
tipologia é produto de generalização teórica.
Apesar de toda inovação terminológica trazida por Sochava, muitos dos conceitos já
apresentavam definição bem claras na geografia russo-soviética. De acordo com Mamay
(2007), as aproximações regionais e tipológicas já haviam sido desenvolvidas por Lev S. Berg
antes do final da década de 1940.
Neste sentido, deve-se ressaltar que a geografia soviética, à época em que Sochava
promove o desenvolvimento da epígrafe ‘geossistema’ (décadas de 1960 e 1970) já
apresentava aspectos bastante consolidados na discussão sobre uma teoria de áreas naturais,
compreendendo a fácies, o envelope geográfico e toda a gama de unidades intermediárias
como entidades reais.
Em 1965, A.G. Isachenko lança o primeiro livro dedicado inteiramente ao tema,
intitulado “Princípios de Ciência da Paisagem e Regionalização Físico-Geográfica”, com
versão em inglês de 1973. Neste livro o autor divide a Geografia Física Integrada em duas
disciplinas: Ciência da Paisagem que busca o estudo das unidades de dimensões locais (<10²
km²), que é sinônima à Geotopologia de Sochava e; a Regionalização Físico-Geográfica
tratando do estudo de unidades superiores a 10² km² (grosseiramente falando).
Em 1991, A.G. Isachenko publica uma segunda edição de seu livro (sem tradução para
inglês) e revisa as denominações aplicadas aos geossistemas de diferentes dimensões pelos
autores soviéticos e verifica a recorrência de algumas terminologias, a partir dos quais é
possível diferenciar um conjunto de unidades taxonômicas largamente aceitas, entre os
geógrafos russo-soviéticos, a saber: epigeosfera (эпигеосфера), cinturão (пояс), zona (зона),
subzona (подзона), setor (сектор), subsetor (подсектор), continente (континент),
subcontinente (субконтинент), domínio (область), subdomínio (подобласть), província
(провинция), subprovíncia (подпровинция), distrito (округ), subdistrito (подокруг),
paisagem (ландшафт), terreno (местност), trato (урочище), subtrato (подурочище) e fácies
(фация).
A proposta taxonômica de Sochava (1978) apresenta uma nomenclatura bem particular
para as unidades naturais (geossistemas), mas que não se afastam grandemente daquelas
100
citadas acima. Na sua proposta, o referido geógrafo apresenta categorias e ordens de
geossistemas, correspondendo aos geômeros e geócoros, respectivamente (Fig. 24).
Figura 24. Subdivisão Taxonômica dos Geossistemas.
Geômeros
Dimensão
Geócoros
Geossistema Planetário
Planetária
Cinturão físico-geográfico e Grupos de
Domínios físico-geográficos
Subcontinentes e conjuntos de suas
megaposições
Regional
Domínios físico-geográficos
Conjuntos de Tipos de
Meios Naturais
Tipos de Meios Naturais
Classes de Geomas
Subclasses de Geomas
Grupos de Geomas
Com Zonalidade
Latitudinal
Com Diferenciação
Vertical
Zonas Naturais
Grupos de Províncias
Subgrupos de Geomas
Geomas
Classes de Fácies
Grupos de Fácies
Fácies
Geômero elementar
Subzonas/Províncias
Províncias
Macrogeócoro (Distritos, Paisagens)
Topogeócoro (Raion)
Mesogeócoro (Localidades e grupos de Tratos)
Microgeócoros (Tratos)
Geócoro elementar
Fonte: Sochava, 1978, p.92. Modificado pelo autor.
----------------------Local
Foi levando em conta a inserção real dos geócoros de níveis mais baixos naqueles de
níveis mais elevados que Sochava (1978) se refere a eles como possuindo diferentes ordens,
classificando-os em microgeócoros (sinônimo de Tratos), mesogeócoros (sinônimo de
Localidades), macrogeócoros (sinônimo de Paisagens) e etc.. Igualmente, sendo os geômeros
correspondentes a diferentes tipos de unidades, eles são referidos como possuindo diferentes
categorias definidas pela generalização tipológica das fácies, assim tem-se: grupos de fácies,
classes de fácies, geomas (agrupamento de classes de fácies), subgrupos de geomas, grupos
de geomas e assim por diante.
As diferentes categorias de geômeros seriam determinadas com base em algum
atributo que reflita sua natureza similar de um conjunto de geócoros. Dando exemplos de
geômeros de dimensões planetária e regional, Sochava (1978, p.94) propõe um Cinturão de
Paisagens Extratropicais Setentrionais que contém a Taiga. Esta, por sua vez, distribui-se
sobre as Planícies e Montanhas Euroasiáticas, que constituem Classes de Geomas (Figura
25).
101
Figura 25. Exemplos de Geômeros Planetários e Regionais.
Categorias de Geômeros
Conjuntos de Tipos de
Meios Naturais
Tipos de Meios Naturais
Classes de Geomas
Subclasses de Geomas
Grupos de Geomas
Exemplos
Cinturão de Paisagens Boreais Intertropicais
Taiga
Planícies Euroasiáticas
Ob-Irtysh
Taiga Escura de Ob-Irtysh
Montanhas Euroasiáticas
Baikal-Dzhugdzhursky
Taiga Decidual de BaikalDzhugdzhursky
Subgrupos de Geomas
Geomas da Taiga Escura Meridional
Geomas da Taiga
de Ob-Irtysh
Decidual Montana
Otimamente
Desenvolvida
Geomas
Taiga de Picea abies das Planícies
1. Taiga Decidual de
Bacia Intra-Montana
2. Taiga Decidual de
Encosta
Fonte: Sochava, 1978, p.94. Organizado pelo autor.
O conceito de geoma, em Sochava, consiste numa representação tipológica
mesorregional, constituída por um agrupamento de classes de fácies com atributos estruturais
e dinâmicos similares, que pode ser representado pelo tipo de vegetação regional e sua
posição morfoestrutural, por exemplo. Em seu livro, Sochava não traz exemplos da tipologia
dos geossistemas locais (classes, grupos, tipos e subtipos de fácies). Contudo, o
desenvolvimento das atividades do Instituto de Geografia da Sibéria e do Extremo Oriente,
subsidiou a formulação de tais exemplos (Fig. 26).
Neste sentido, Semenov e Purdik (1986), apresentam o mapeamento e classificação de
geossistemas locais no Sul da Sibéria, determinando grupos e classes de fácies com base no
modo de migração geoquímica de substâncias na paisagem, bem como em feições de relevo e
condições de drenagem. Na carta, as fácies são definidas de acordo com as comunidades
vegetais e tipos de solos predominantes.
É interessante notar que os referidos autores recorrem a técnicas de cartografia
temática para representar, de uma só vez, geômeros e geócoros na carta, compondo o que
Sochava denominou de mapa regional-tipológico. Este produto constitui, pois, um modelo
conceitual das relações entre os componentes da natureza, servindo como subsídio a reflexões
sobre processos regionais e locais geradores de paisagens, sobretudo porque fornecem uma
representação detalhada da distribuição dos indivíduos geográficos (geócoros) e também dos
tipos de geossistemas (geômeros).
102
Figura 26. Fragmento de Carta de Geossistemas do Sul da Sibéria.
Geoma das Estepes da Ásia Central
Grupos
Tipos
Subtipos
Autônomos
Transeluviais
Em encosta
convexa
Transeluviais
Acumulativas
Pradarias-Estepes
secas
Pradaria-Estepe
Em encosta
suave
Em encosta
côncava
Transeluviais
Acumulativas
Estepes secas de piemonte
Estepes
Eluviais
Classes
Fácies
1 – Festuca em solo castanho não-cálcico subdesenvolvido
2 – Chamaerhodos-Festuca em solo castanho não-cálcico
subdesenvolvido ou comumente siltoso e carbonático
3 – Chamaerhodos em solo castanho não-cálcico
subdesenvolvido
5 – Stipa-Artemisia em solo castanho comumente siltoso e
carbonático
6 – Stipa em solo castanho comumente siltoso e
carbonático profundo
7 – Herbáceas(forbs)-Stipa em solo castanho comumente
siltoso e carbonático
8 – Aneurolepidium-Stipa em solo castanho comumente
siltoso e carbonático profundo
9 – Stipa-Aneurolepidium em solo castanho comumente
siltoso e carbonático salino
Automorfo
10 – Aneurolepidium-Stipa em solo castanho comumente
siltoso e carbonático
11 – Aneurolepidium em solo castanho comumente siltoso
e carbonático de pradarias
Semi
hidromórfico
13 – Stipa-Aneurolepidium em solo castanho de pradarias
comumente siltoso e carbonático com sais elevados
15 – Herbáceas(forbs)-Gramas altas em solo de castanho
de pradarias com sais elevados
Fonte: Semenov e Purdik, 1986, p.93-96. Organizado pelo autor.
A partir da carta de geossistemas, torna-se possível definir, e precisar, o
posicionamento de áreas naturais mesorregionais e locais que podem ter conduzido ao
aparecimento de determinadas categorias de geômeros (ex.: tipos de fácies), como a
103
subsidência lenta de algum bloco rochoso e consequente alagamento progressivo de uma
região.
Os geócoros de diferentes ordens são nomeados a partir de elementos físicogeográficos de destaque para a área estudada. No caso da Ásia Setentrional, Sochava (1978,
p.99) diferencia dois critérios para regionalização de domínios físico-geográficos, aqueles
condicionados pela distribuição latitudinal da radiação e gradientes termo-hídricos e os que se
definem pelo gradiente hipsométrico. No primeiro caso, o autor destaca o domínio das
planícies drenadas pelos rios Ob e Irtysh e; no segundo caso, os domínios montanhosos de
Baikal a Dzhugdzhursky (Figura 27).
Figura 27. Exemplos de Geócoros Planetários e Regionais.
Dimensão
Planetária
Regional
Ordens de Geócoros
Cinturão físico-geográfico
Grupos de Domínios físico-geográficos
Subcontinentes
Domínio físico-geográfico
Com Zonalidade
Com Diferenciação
Latitudinal
Vertical
Zonas Naturais
Grupos de
Províncias
Subzonas/Províncias
Local
Províncias
Exemplos
Cinturão Extratropical Setentrional
Ártico Boreal
Ásia Setentrional
Ob-Irtysh
Baikal-Dzhugdzhursky
Taiga
Vitimo-Aldansk
Taiga
Central/Yenisey
Taiga ao Oeste de
Transbaikal em Áreas
Rochosas de Cimeira
Cimeira Rochosa de
Preangara
Macrogeócoro (Distrito)
Taiga Escura das
Planícies sinuosas
de Chulym
Fonte: Sochava, 1978, p.99. Organizado pelo autor.
Nota-se que a proposta de Sochava destoa ligeiramente daquela de Isachenko,
sobretudo no tocante à identificação das unidades de dimensões regionais. O primeiro autor,
por exemplo, não faz referência a unidades derivadas do cruzamento de elementos zonais e
azonais. Assim, percebe-se que, apesar de haver certo consenso acerca das unidades físicogeográficas existentes, o modo de agrupar a informação difere largamente.
Neste ponto, o leitor pode achar que a teoria dos geossistemas ocupa-se única e
exclusivamente da cartografia de área naturais. Contudo, a grande inovação trazida pela teoria
foi a integração dos estudos sobre a estrutura, dinâmica e evolução das paisagens, indo muito
além dos mapas e cartas. De acordo com Mamay (2007) Sochava foi pioneiro no estudo
integrado das variações periódicas da paisagem, pelo estabelecimento de estações de
monitoramento da dinâmica dos geossistemas. Dito isto, é importante que se compreenda o
modo como a referida teoria passou a tratar a dimensão temporal das paisagens.
104
3.3 Geossistemas no Tempo: Dinâmica e Evolução das Paisagens
Retomando a crítica de Sales (2004), sobre o fato de a dimensão temporal dos
geossistemas não considerar as qualidades morfoestruturais das paisagens, limitando-se às
variações de curto prazo, é preciso destacar pelo menos dois pontos, a saber:

Os procedimentos de diferenciação de geossistemas regionais (cf. Sochava, 1978) e,
daquilo que é chamado de regionalização físico-geográfica (cf. Isachenko, 1991),
determinam área naturais de grandes dimensões pela correlação entre morfoestruturas
e unidades bioclimáticas (cf. tópico 3.1, acima);

Com isso, destaca-se o fato de que, a teoria dos geossistemas não se baseia puramente
em um critério para análise da natureza (ex.: morfoestruturas), mas busca compreender
as relações entre os diversos elementos e processos naturais, e isso traz uma série de
implicações epistemológicas para o estudo e ensino da referida teoria (cf. tópico 4, a
seguir).
A grande contribuição da teoria do geossistema foi a incorporação dos conceitos de
invariantes e variáveis de estado, emprestados da física de sistemas dinâmicos. Aplicados à
geografia, estes conceitos permitiram clarear e expandir os horizontes epistemológicos do
estudo integrado da natureza, sem deixar de lado sua relação com as intervenções da
sociedade.
Tratada como um sistema dinâmico, a paisagem passou a ser observada como um
conjunto de componentes com temporalidades distintas, ou polissistemas, no dizer de
Cherkashin (2008). Com base nisso, é possível distinguir duas categorias de geossistemas
componentes (ou geocomponentes): aqueles que possuem uma taxa de mudança muito lenta
(invariantes) e aqueles que possuem uma taxa de mudança mais rápida (variáveis de estado).
É possível então medir a idade da paisagem como a época em que a invariante se
formou. Uma mudança na invariante significa uma evolução da paisagem, enquanto que as
alterações nas variáveis de estado representam a dinâmica dos geossistemas. Traduzindo,
grosso modo, para a geografia física, uma unidade geomorfológica (forma+estrutura
superficial) corresponde à invariante do geossistema, enquanto os processos e elementos
pedoedáficos, ecológicos, hídricos e atmosféricos representam as variáveis de estado.
Pensando sobre isso, Isachenko & Reznikov (1996) propõem o termo sítio como
unidade formada pela relação entre um tipo de substrato, sua forma de relevo e seu regime de
drenagem. Em complemento, eles propõem que cada etapa de transformação pedológica e
sucessão vegetal sobre um mesmo sítio seja denominada de estado.
105
Deste modo, os estados compreendem as mudanças ocorridas na paisagem a partir do
estabelecimento do sítio, mas que não impliquem na mudança completa de suas características
(ISACHENKO, 2007). A partir do momento em que um sítio se estabelece, toma lugar uma
série de transformações pedogenéticas, ecossistêmicas e atmosféricas sobre ele. Cada uma
destas transformações compreende um estado.
É similar ao conceito de balanço entre morfogênese e pedogênese de Tricart (1977).
Quando os processos formadores do relevo estão em ação intensa, não há possibilidade de
formação de solos nem de exploração biológica do substrato, é a invariante em transformação
(evolução da paisagem). De outro modo, quando cessa a atividade geomorfológica intensiva,
toma lugar a transformação pedológica e a dinâmica dos seres vivos (sucessão vegetal).
É claro que isso se dá em escalas concomitantes à magnitude dos processos
envolvidos. Um deslizamento pode ser suficiente para fazer evoluir uma fácies ou mesmo um
geócoro elementar (subtrato - podurochische), mas não uma paisagem (landschaft Macrogeócoro). Neste sentido, diferentes métodos permitem abordar escalas distintas, não
apenas em termos de resolução espacial, mas também temporal. Por exemplo, algumas
técnicas de análise e datação de perfis estratigráficos (a exemplo da Luminescência
Opticamente
Estimulada
–
LOE,
associada
a
análises
sedimentológicas
e
morfoestratigráficas), permitem determinar não apenas a idade e natureza da invariante atual,
mas também o conhecimento de quadros sucessivos de paleopaisagens.
Deste ponto de vista, é só a partir da visão geossistêmica que se torna possível tratar
dados de fontes diversas (geomorfológicas, sedimentológicas, palinológicas, etc.) dentro de
um mesmo horizonte epistemológico, transportando a geografia física ao status de ciência
histórica (CORRÊA, 2006). Contudo, apesar de os estudos evolutivos auxiliarem na
compreensão de paleopaisagens, eles não são suficientes para explicar o funcionamento da
paisagem atual, emergindo assim, a necessidade de estudos dinâmicos.
É neste sentido, que a consideração da dinâmica das paisagens permitiu (e permite) à
geografia integrar estudos evolutivos às perspectivas de monitoramento ambiental, na busca
de conhecer estágios funcionais e acompanhar com precisão as mudanças em patamares
formativos de novos geossistemas, sobretudo através do desenvolvimento do conceito de
estados da paisagem.
Os estados da paisagem (ou Estados do Complexo Territorial) abrangem as variações
que um geossistema apresenta em seu funcionamento (dinâmica). De forma mais abrangente,
os estados da paisagem atual incluem três categorias de fenômenos, a saber: de curto prazo
106
(duração inferior a 24h), médio prazo (>24h a 1 ano) e de longo prazo (>1 ano)
(BERUCHASHVILI, 1983).
Para o estudo da dinâmica da paisagem, Sochava propôs o monitoramento estacional e
semiestacional, sendo o primeiro de caráter fixo e com objetivo de controle das observações e,
o segundo, de caráter variável e com observações em intervalos de tempo mais largos, com o
objetivo de melhor espacialização das informações (SOCHAVA, 1978). Na época da URSS,
foram estabelecidas 20 estações fixas no território soviético, entretanto, algumas destas não
puderam ser mantidas com o fim do regime comunista (MAMAY, 2007).
Seguindo o modelo de estudos estacionais desenvolvido por Viktor Sochava, foi
construída na Geórgia (região de Martkopi) uma estação físico-geográfica que chega a
mensurar entre 6 e 7 mil medidas diárias em 100 diferentes atributos das paisagens e funciona
há mais de 40 anos. A partir dos resultados obtidos pelo monitoramento na estação de
Martkopi (Geórgia), seu proponente, o geógrafo Nikolai Levanovich Beruchashvili propôs o
conceito de Estado do Complexo Territorial (Stexe).52
Um stexe é definido por um regime homogêneo de trocas de matéria e energia num
determinado geossistema. Os estudos estacionais têm demonstrado que um stexe geralmente
dura um dia, mas pode prolongar-se por vários dias, podendo atingir um mês ou mais
(ISACHENKO, 1998).
Como foi dito, os estudos estacionais (dinâmicos) permitem auxiliar na compreensão
dos processos evolutivos, mas ambos também bebem da fonte primária, representada pelos
estudos estruturais, que têm, na cartografia e classificação dos geossistemas, seu principal
objetivo. Assim, a cartografia e classificação sistemática das paisagens, além de fornecerem
informações preciosas ao planejamento territorial, servem de estratificação da amostragem
para determinação de pontos de coleta para estudos evolutivos, tanto quanto para seleção de
áreas para observações fixas (estacionais) e variáveis (semiestacionais).
Esta integração e interdependências de perspectivas estruturais, dinâmicas e
evolutivas, permitida pelo horizonte epistemológico da teoria dos geossistemas, nos leva à
necessidade de uma reflexão sobre o lugar do estudo de geossistemas no âmbito formal da
geografia científica.
52
Stexe é uma sigla para sostoiania territorialniykh komplexov ou Ctekc (Cостояния Территориальных
Комплексов), em russo. Em português significa Estado do Complexo Territorial.
107
4 O Estudo de Geossistemas pertence a qual área da Geografia?
Acima, havíamos dito que o Estudo de Geossistemas é similar53 ao que se chama na
Rússia de Ciência da Paisagem e Regionalização Físico-Geográfica. Contudo, cabe uma
pergunta quanto à natureza epistemológica deste direcionamento de estudo: a qual área da
geografia pertence?
Analisando o contexto de aplicação do termo geossistema, poderíamos traçar várias
hipóteses, incluindo-o na geomorfologia dinâmica, na biogeografia ecológica ou mesmo numa
climatologia geográfica ou ecologia/geoecologia da paisagem. Entretanto, vamos preferir
analisar o contexto da geografia russa, onde esta epígrafe se desenvolveu.
Observando os trabalhos da 11ª Conferência Internacional da Paisagem (realizada em
2006, em Moscou), que foram reunidos em um livro contendo 31 artigos, podemos observar
que o primeiro deles se dedica a explanar daquilo que se trata a Ciência da Paisagem russa. O
autor, Kiril N. Dyakonov (2007) aponta quatro direcionamentos gerais desta disciplina:
genético-estrutural, dinâmico-funcional, evolucionário/paleopaisagístico, antropogênico e
cultural-histórico.
A linha genético-estrutural estuda a gênese e estrutura das paisagens (geossistemas),
sua diversidade nos níveis locais, regionais e planetários. É uma abordagem característica das
sínteses naturalistas, tais como os domínios de natureza de Aziz N. Ab’Saber, das unidades
geoambientais de Silva et al. (2001) e outros similares;
A direção dinâmico-funcional tem interesse no funcionamento atual das paisagens,
sobretudo a partir de ferramentas geoquímicas e geofísicas. Encontra poucos similares na
geografia brasileira, a exemplo dos estudos geoquímicos de Nascimento et al. (2008), e do
ponto de vista geofísico, no contexto da Climatologia Geográfica de Carlos Augusto de
Figueiredo Monteiro;
O direcionamento evolucionário ou paleopaisagístico está preocupado com o
desenvolvimento das paisagens, principalmente no Holoceno e Pleistoceno. Envolve questões
paleoambientais (Geomorfologia do Quaternário, Paleoclimatologia, Paleobotânica, etc.), tais
como aquelas discutidas por Corrêa (2006) e Silva (2013);
A linha antropogênica foca no desenvolvimento das paisagens provocado pela
atividade humana, avaliação de impactos das atividades econômicas e riscos para a saúde
humana. Em termos da geografia brasileira, corresponderia à ideia de geografia física
aplicada, a exemplo do modelo de vulnerabilidade ambiental de Crepani et al. (2001);
53
A Ciência da Paisagem ainda é mais ampla que o estudo de geossistemas, na medida em que abarca a
dimensão imaterial da paisagem e não apenas seu sentido físico-natural (Cf. o viés cultural-histórico, a seguir).
108
O viés cultural-histórico é preocupado com as paisagens criadas materialmente e
espiritualmente pela sociedade, focando em aspectos estéticos, patrimoniais, fenomenológicos
e etnográficos (KALUTSKOV, 2007). Este interesse acadêmico é muito próximo ao que se
convencionou chamar no Brasil de Geografia Cultural.
Não obstante toda esta gama de direcionamentos, a Ciência da Paisagem não esgota as
atividades da geografia russa, pelo contrário, ela é apenas um entre diversos de seus
componentes, ou seja, ela é tratada como uma disciplina à parte da geomorfologia,
climatologia, biogeografia, pedologia, da hidrologia, geografia econômica e assim por diante.
Todavia, não se compreende isto sem que antes seja buscado um entendimento da
estrutura acadêmica da geografia como é praticada na Rússia. Deste modo gostaríamos de
sumarizar alguns aspectos, tais como:
Na antiga URSS, o curso de Geografia recebeu o prestígio de possuir uma faculdade
voltada unicamente para seu estudo, organizada em departamentos exclusivos para cada uma
de suas disciplinas especializadas (Geomorfologia, Climatologia, Biogeografia, Geografia
Econômica, Cartografia, Ciência da Paisagem, entre outros). Existe um departamento inteiro
exclusivo para a prática da Ciência da Paisagem, onde os alunos fazem um curso de cinco
anos e estudam detalhadamente cada um de seus direcionamentos.
No Brasil, esta disciplina nem mesmo existe e seu conteúdo, como vimos acima, é
fragmentado em diversas outras disciplinas (climatologia, geografia cultural, etc.) o que
dificulta ainda mais o seu entendimento. Isto ocorre por pelo menos três motivos:

No Brasil, o ensino superior da Geografia foi sempre organizado em um único
departamento, geralmente nas faculdades de Ciências da Terra ou Ciências Humanas;

No século XX os geógrafos soviéticos conduziram a organização de sua ciência numa
preocupação de explicá-la com base no materialismo histórico e da sua utilidade para
o então Estado socialista. No Brasil, sobretudo no último quartel do mesmo século,
ganhou força uma proposta de revisão da geografia que então servia ao Estado
(capitalista), muitas vezes esquecendo-se das desigualdades sociais;

Em resultante disso, na URSS pôde crescer com mais facilidade uma perspectiva
geográfica como ciência da natureza e da sociedade, valorizando tanto a promoção de
abordagens integrativas quanto especialistas ignorando, contudo, questões relativas às
desigualdades sociais e que poderiam ameaçar a imagem do Estado.

No Brasil, sobretudo a partir da década de 1970, o crescimento de uma perspectiva
marxista, no contexto de profundas desigualdades sociais do país, fomentou intensos
109
debates que resultaram na supervalorização do papel político da disciplina. Este fato
foi acompanhado de uma consequente desvalorização das temáticas da natureza,
principalmente aquelas tais como a Geomorfologia Estrutural, Paleoclimatologia e
Morfotectônica. Numa abordagem reducionista, muitos chegaram a afirmar que estas
temáticas não pertenciam à Geografia, no que Sales (2004) denominou de uma
tentativa de eliminar a Geografia Física do Brasil.
Considerando estas informações sobre os diferentes contextos, fica mais fácil
compreender as diferenças nos horizontes cognitivos de geógrafos brasileiros e russosoviéticos. Distinguem-se em termos de contexto político, estrutura acadêmica e história de
desenvolvimento do conhecimento geográfico.
5 Conclusões
Este capítulo tentou apresentar uma sucinta descrição da teoria dos geossistemas nos
termos da geografia russo-soviética, a fim de, desvinculá-la daquela perspectiva francesa,
Bertrandiana de 1968, que tanto tem dominado as interpretações realizadas pelos geógrafos
brasileiros e que, desconsideram as próprias mudanças de concepção do pesquisador de
Toulouse.
Na geografia inicial de Georges Bertrand, o geossistema tratava-se de uma unidade
mesorregional da paisagem, da 4ª ou 5ª ordem de grandeza na escala de Cailleux e Tricart.
Contudo, é na geografia soviética, que o termo geossistema passa a ser associado a uma teoria
explicativa das relações entre os diversos campos da geografia física. Neste sentido, a teoria
dos geossistemas de Sochava consiste numa proposição realista acerca da estrutura, dinâmica
e evolução de áreas naturais derivadas das relações entre os componentes da natureza.
Nesta visão realista, a referida teoria se baseia na aceitação da existência real de
determinadas unidades físico-geográficas, bem como nas relações de trocas de matéria e
energia no âmbito dos diferentes sistemas ambientais que compõem a superfície terrestre.
Assim, destacam-se os conceitos de invariantes e variáveis de estado para da compreensão
das relações entre os componentes da natureza.
O horizonte epistemológico alcançado pela teoria dos geossistemas permitiu integrar,
de modo mais homogêneo, perspectivas estruturais, dinâmicas e evolutivas para o estudo de
áreas naturais. Apesar disso, a teoria em questão apresenta certa dificuldade de interpretação e
aceitação no Brasil por vários motivos. Isto ocorre dos seguintes obstáculos:
110

Larga divulgação do texto de Bertrand de 1972, sem conhecimento de sua publicação
posterior com Beroutchachvili em 1978 ou mesmo de seu modelo GTP;

Falta de compreensão da diferença entre o conceito de geossistema em Sochava e em
Bertrand, que partilham apenas a mesma epígrafe;

Pouco material disponível em português, sobre as ideias de Sochava e de outros
geógrafos russo-soviéticos e;

Organização diferenciada da estrutura acadêmica e história do pensamento geográfico
no Brasil e nos países formadores da antiga URSS.
Por fim, podemos considerar que muitas interpretações e até críticas pouco assertivas à
teoria dos geossistemas de Sochava, feitas por geógrafos brasileiros, foram realizadas sem o
devido conhecimento da proposta do geógrafo russo. Nestes termos, estas críticas e
interpretações, en passant, realizadas sumariamente, com base apenas em textos disponíveis
em português e línguas mais acessíveis (principalmente o francês), mais prejudicam do que
colaboram construtivamente com o debate sobre áreas naturais, sua classificação e estudo.
Debate este que traz a promessa de tornar a geografia brasileira ainda mais rica do que já é,
mormente pela incorporação de geografias tão distintas quanto àquelas das terras da Rússia e
arredores.
Por fim, cabe destacar que a grande vantagem da teoria dos geossistemas é que ela
permite investigar diferentes aspectos da natureza (estrutura, dinâmica e evolução) sob uma
base unificada em termos de perspectiva e tratamento dos problemas. Entretanto, Vale a
ressalva de que é preciso um direcionamento distinto, do ponto de vista epistemológico (e
consequentemente curricular) para seu estudo.
111
2
Lucas Cavalcanti, 2010.
“A experimentação seria a essência do “método científico” ahistórico. A experimentação em laboratório, no
entanto, possui um papel limitado nos trabalhos de geografia física. Não se pode replicar todos os processos de
formação das planícies aluviais nem das rampas de colúvio, (...) O acúmulo de conhecimento em ciências
históricas se dá pela observação, comparação, e pela realização de ‘experimentos naturais’” (CORRÊA, 2006,
p.36).
Reflexões Metodológicas sobre o Estudo da Estrutura da Paisagem a
partir da Análise do Parque Nacional do Catimbau (Nordeste do Brasil)
112
Capítulo 4
Parque Nacional do Catimbau: Elementos GeológicoGeomorfológicos
1 Introdução
A construção das sínteses naturalistas se estrutura na investigação dos contrastes
paisagísticos, baseando-se também na observação e registro sobre os componentes da
natureza (relevo, solos, vegetação, etc.) que partilham de uma mesma localização geográfica,
bem como na análise pormenorizada das relações entre tais componentes.
Compreendendo isto, podemos afirmar que as sínteses naturalistas são obtidas com
base em três categorias analíticas e integrativas, relacionadas ao modo de obtenção e
tratamento da informação, a saber: macroscópica, mesoscópica e microscópica.
A escala macroscópica é a escala do reconhecimento, da visão sobre padrões de
grandes dimensões, geralmente condicionados pelas morfoestruturas e pelo macroclima. Uma
análise deste tipo busca, portanto, evidenciar como os referidos condicionantes exercem sua
influência na área estudada considerando os grandes contrastes do relevo, dos litótipos e dos
climas, focando nas combinações que produzem padrões repetitivos de formas de relevo,
solos e biota. Os principais métodos de análise macroscópica lidam com a evidenciação de
contrastes paisagísticos gerais: áreas mais altas e mais baixas, mais secas e mais úmidas,
geomorfologicamente estáveis e instáveis e assim por diante, podendo ser realizados por meio
de ferramentas e técnicas de sensoriamento remoto e geoprocessamento.
A escala mesoscópica abrange o detalhamento das observações gerais, macroscópicas,
incluindo a descrição das características das paisagens como elas são vistas no campo,
destacando tópicos das formas de relevo, substrato, drenagem, solos, biota e uso da terra.
Neste grau de aproximação é possível determinar, com maior qualidade, as características
locais e elaborar seções-tipo, que compreendem representações das variações ambientais ao
longo de um gradiente topográfico.
A escala microscópica inclui aquilo que os olhos não podem ver, abrangendo as
observações laboratoriais, sobretudo aquelas permitidas pelo uso de instrumentos diversos de
magnificação visual e análise das propriedades intrínsecas dos materiais, envolvendo um
aprofundamento nas características dinâmicas e evolutivas dos depósitos sedimentares, dos
solos e das comunidades vegetais. Na escala microscópica é possível obter uma visão fina da
paisagem, detalhando sua gênese, desenvolvimento e funcionamento.
Observando algumas sínteses naturalistas que abrangeram a área do Estado de
Pernambuco, percebemos que seu foco jaz no delineamento dos grandes contrastes naturais
113
(grupos de paisagens, zonoecótonos, domínios de natureza, regiões naturais, etc.)
(ISACHENKO; SHLIAPNIKOV, 1989; WALTER, 1986; AB’SABER, 2003; SETTE, 1946;
VASCONCELOS SOBRINHO, 1941). Neste contexto, os estudos de áreas menor dimensão
geralmente abrangem o detalhamento de um aspecto natural em detrimento aos demais, a
exemplo do solo em Silva et al. (2001), não permitindo assim, uma caracterização das
diferenças naturais locais a um nível de compreensão espacial-evolutivo mais detalhado.
Refletindo sobre a estrutura do processo classificatório de cunho sintético-naturalista,
percebemos que é preciso ter cuidado no manejo da informação obtida nas diversas escalas de
observação (macroscópica, mesoscópica e microscópica), mormente pelo risco de
determinação errada da estrutura hierárquica, que pode ressaltar níveis em detrimento de
outros também importantes ou aplicar critérios inadequados para identificação de unidades de
um nível determinado, como a diferença nos limites entre o Planalto da Borborema em Silva
et al. (1993) e em Corrêa et al. (2010) (Cf. Introdução Geral).
Sendo assim, este capítulo e o próximo visam contribuir para a sistematização de
procedimentos classificatórios e de representação dos contrastes paisagísticos em diversos
graus de detalhamento, focando sobre a região do Parque Nacional do Catimbau.
2 Metodologia
2.1 O Parque Nacional do Catimbau
O Parque Nacional do Catimbau (Fig. 28) foi criado por decreto de lei em 13 de
dezembro de 2002, por motivo de sua grande importância biológica, arqueológica e potencial
turístico. O Parque localiza-se na região semiárida do Nordeste do Brasil, no Estado de
Pernambuco, mais precisamente entre os paralelos 8°23’S e 8°36’S e os meridianos 37°33’W
e 37°10’W. Abrangendo uma área de 607 km². A área fica a aproximadamente 250 km da
cidade do Recife, capital do estado. O principal acesso ao Parque é pela BR-232.
A região apresenta importantes pinturas rupestres representativas da Tradição Agreste,
um estilo marcado por grafismos puros e representação de antropomorfos, fitomorfos e
zoomorfos, destacando-se o painel do Sítio Arqueológico Alcobaça, o segundo maior do
Brasil (Fig. 27A). Além disso, a área é considerada piloto para estudos de desertificação e
apresentando em algumas localidades, áreas bastante degradadas (Fig. 27C), fato que também
colaborou para a criação da Unidade de Conservação (SNE, 2002; MMA, 2007).
Figura 6. Localização do Parque Nacional do Catimbau, Estado de Pernambuco (Nordeste do Brasil).
114
A – Painel de Arte Rupestre (Sítio Arqueológico Alcobaça); B – Formas de dissolução no arenito; C –
Área degradada por desflorestamento; D – Espécies incomuns (Ex.: Paralychnophora
reflexoauriculata (GM Barroso) MacLeish, comum somente na Chapada Diamantina, distante mais de
800km). Fonte: o autor.
Estudos palinológicos e datações por carbono radioativo têm demonstrado que a
distribuição e composição das espécies variaram ao longo dos últimos 8.410± 40 anos AP de
acordo com as variações da umidade (NASCIMENTO, 2008). O mesmo estudo sugere a
presença humana na região por volta de 4500 anos AP em função da ocorrência de Orbignya54
(babaçú), uma espécie exótica na região, e provavelmente relacionada à migração de grupos
humanos vindos do oeste em direção à costa.
54
Sin. Attalea
115
A fauna e flora do Parque apresentam espécies únicas em todo o mundo, como a
árvore Jacaranda rugosa A.H.Gentry e o lagarto Scriptosaura catimbau Rodrigues & Santos,
além de guardar espécies incomuns para a região, como a Paralychnophora reflexoauriculata
(GM Barroso) MacLeish (Fig. 27D), comum apenas nos campos rupestres da Chapada
Diamantina (a 800km de distância). Estas diferenças são produto tanto da natureza sedimentar
(predominantemente arenosa) do local, quanto do clima mais úmido e menos quente dos
setores mais elevados do relevo. Assim, a precipitação em torno de 600mm/ano e temperatura
média anual de 25°C dos locais mais baixos (média de 700m) contrasta com a pluviosidade
superior a 1000mm/ano e temperaturas médias de 20°C nas cotas superiores aos 900m.
A região contrasta com o entorno, não apenas pela composição biodiversa incomum,
ou pelos registros arqueológicos de extremo valor cultural, mas principalmente pelas suas
paisagens, com feições bastante peculiares, a exemplo do pseudocarse arenítico (Fig. 27B).
A histórica geomorfológica do Parque Nacional do Catimbau se revela aos olhos do
espectador na forma de uma paisagem deslumbrante. A destruição progressiva das rochas da
Bacia Sedimentar do Jatobá adquire uma beleza cênica ímpar na forma de um relevo
ruiniforme com impressionantes feições tabulares marcadas por platôs e mesetas, por vezes
bastante degradados, assumindo a forma de pináculos (Fig. 29). E nos rebordos dos platôs, os
desníveis, muitas vezes superiores a 200m, erguem na paisagem imponentes paredões de
arenito que chegam a alcançar cotas superiores a 1000m, contrastando com pontos mais
baixos, com cerca de 450m.
Figura 7. A – Formas de relevo residuais emergindo dos mantos arenosos na borda da Bacia
Sedimentar do Jatobá.
Fonte: o autor.
116
A principal drenagem desta região é a do rio Moxotó, afluente da margem esquerda do
rio São Francisco. A maioria dos afluentes do Moxotó nessa região apresenta caráter
intermitente em função do regime climático semiárido.
Não obstante a ocupação pré-histórica, a formação territorial na região apresenta uma
miscigenação entre elementos culturais indígenas e não indígenas, tendo como principais
atividades econômicas a agricultura (mandioca, batata doce, feijão, milho, tomate, caju,
goiaba, laranja, algodão) e a pecuária extensiva, principalmente ovina, caprina, e bovina, esta
associada com a inserção de forrageiras exóticas (ex.: Prosopis juliflora - Algaroba), além de
aves.
A história local é permeada por conflitos territoriais como para a demarcação das
terras indígenas do povo Kapinawá, que só foi efetivada pela então Fundação Nacional do
Índio (FUNAI) em 1993 (NEPE, 2008). Outro conflito recente decorre da própria delimitação
do Parque Nacional, que gerou o descontentamento da população que residia no local e que
não foi devidamente consultada sobre a criação da unidade de conservação (VRANCKX,
2010), dentre os quais se destacam 45 famílias indígenas (NEPE, 2008) e a população da
localidade Porto Seguro, que migrou para a região por questões espirituais, seguindo os
ensinamentos do líder espiritual, já falecido, denominado Meu Rei, que inclusive veio a
instituir uma moeda local (SEVERINO, 2008).
2.2 Análise Geológico-Geomorfológica
Em Geografia Física e Geomorfologia, o termo morfoestrutura possui pelo menos
duas conotações distintas, a primeira delas, definida por Inocêncio Petrovich Guerassimov em
1946, compreende o relevo derivado da atuação de processos neotectônicos e daqueles de
ordem climática, controlados pela estrutura geológica. A segunda, mais restritiva e recente,
sugere que o termo morfoestrutura seja aplicado apenas às formas de relevo geradas pelo
controle das estruturas geológicas, enquanto àquelas derivadas da ação tectônica deveriam ser
chamadas unidades morfotectônicas (SAADI et al. 2004). Em suma, a proposta mais recente
destaca a necessidade de diferenciar as formas de relevo geradas a partir dos processos
neotectônicos daquelas derivadas do controle estrutural sobre o clima. Neste trabalho
preferiu-se fazer uso do termo morfoestrutura na acepção original de Guerassimov, mais
abrangente.
Para identificar as morfoestruturas, inicialmente foi realizada a reunião de informações
(bibliográficas
e
cartográficas)
de
ordem
geológica,
geofísica,
geomorfológica,
morfotectônica, hidrogeológica e de outros temas que pudessem revelar a distribuição das
117
principais estruturas geológicas e seu comportamento deformacional recente, como a
ocorrência de campos de tensão, por exemplo.
Em seguida estas informações foram organizadas de modo a descrever a história da
Bacia Sedimentar do Jatobá e a formação de suas principais estruturas e morfoestruturas. Para
auxiliar a interpretação das morfoestruturas, as principais litologias e estruturas foram
plotadas sobre imagens de satélite do programa de código aberto Google Earth (versão 6).
Ainda para a compreensão das unidades morfoestruturais, escolheu-se utilizar perfis
topográficos. O perfil topográfico é uma ferramenta que projeta as formas do relevo num
gráfico bidimensional, onde os valores de altitude são alocados no eixo Y e os valores de
comprimento são distribuídos ao longo do eixo X. Esta ferramenta auxilia na interpretação da
configuração geomorfológica de uma região. Neste trabalho, os dados de elevação foram
obtidos a partir de dados Shuttle Radar Topography Mission (SRTM), refinados para uma
resolução espacial de 30m por Valeriano (2008), que realizou interpolação por Krigagem.
Para elaboração dos perfis utilizou-se as ferramentas Interpolate Line e Create Profile Graph
do menu 3D Analyst do programa ArcMap. A visualização da distribuição dos perfis foi feita
sobre um mapa hipsométrico, que apresenta a distribuição dos valores altimétricos em faixas
de altitude com valores similares.
Complementarmente, fez-se necessária a consulta à estratigrafia dos poços disponíveis
no Sistema de Informações de Águas Subterrâneas (SIAGAS), acessado pelo endereço:
<http://siagasweb.cprm.gov.br/layout/visualizar_mapa.php> em 26 de abril de 2012. O
objetivo foi o conhecimento tanto da profundidade do embasamento cristalino quanto da
camada sedimentar.
Em complemento ao conhecimento das morfoestruturas, faz-se necessária a
compreensão dos processos modeladores do relevo e suas formas resultantes na paisagem.
Estes processos podem ser denudacionais, quando contribuem para a desagregação e
transporte do substrato rochoso ou sedimentos, e também podem ser deposicionais, quando
resultantes da sedimentação do material transportado. No caso do ambiente tropical, estes
processos são praticamente desencadeados pela ação da água, da gravidade e dos seres vivos,
que auxiliam na degradação do substrato, no transporte e deposição dos materiais, dando
origem a formas de relevo distintas, geradas pela denudação ou pela sedimentação.
Neste trabalho investigaram-se os tipos de agentes denudacionais e deposicionais e as
formas de relevo resultantes com base nas informações morfoestruturais e na observação dos
processos de encosta e canal.
118
Ainda com base nos perfis topográficos, foi realizada a determinação do modelado
desenvolvido sobre as morfoestruturas, sendo os limites de ambas inferidos e representados
num croqui, tomando como referência os dados geológicos e imagens da câmera de alta
resolução (High Resolution Camera – HRC) do China-Brazil Earth Resources Satellite 2B
(CBERS 2B) e imagens orbitais do Satellite Pour l’Observation de la Terre (SPOT 5)
disponíveis no programa Google Earth 6 (devidamente georreferenciadas), conforme
especificações da Figura 30, a seguir.
Figura 30. Imagens de alta resolução utilizadas para correlação visual.
Satélite/Câmera
Data
Imagem
CBERS 2B/HRC
11/11/2007
148_C/110_1
CBERS 2B/HRC
09/11/2008
148_B/109_5
CBERS 2B/HRC
09/11/2008
148_B/110_1
CBERS 2B/HRC
31/12/2008
148_D/109_5
SPOT5
02/08/2011
Centro -8.5155/-37.4822
Fonte: INPE/Google, organizado pelo autor.
2.3 Taxonomia das Paisagens
A partir dos dados obtidos, iniciou-se o processo de taxonomia dos geossistemas.
Seguindo a proposta metodológica de Isachenko (1991), definiram-se classes e subclasses de
paisagens, correspondendo às unidades e subunidades geológico-geomorfológicas. Neste
momento ainda foram discutidas questões relativas ao detalhamento e aprimoramento do
traçado dos limites paisagísticos.
3 Resultados e Discussão
Do ponto de vista geológico, a área de estudo insere-se na borda NE da Bacia
Sedimentar do Jatobá, que compõe juntamente com as bacias do Tucano e do Recôncavo, um
sistema de estratos sedimentares aprisionados num aulacógeno (rifte abortado) Mesozoico. A
Bacia do Jatobá apresenta três compartimentos distintos, o Bloco SE, o Graben de Ibimirim
na sua porção central e o Bloco NE (Fig. 31).
As fases evolutivas da borda da Bacia Sedimentar do Jatobá podem ser, assim,
sumarizadas em 3 grandes momentos (Fig. 32): a fase sinéclise (Fig. 32A), marcada pela
deposição das formações no Siluriano e Devoniano; a abertura do Atlântico e formação do
aulacógeno (fase rifte), resultando na subsidência do embasamento e apresamento dos
sedimentos (Fig. 32B1 e 32B2) e; a fase pós-rifte, marcada principalmente pela denudação e
formação das feições ruiniformes da borda da bacia, juntamente com os mantos arenosos
neogênicos (Fig. 32C).
119
Figura 31. Localização do Parque Nacional do Catimbau na Bacia do Jatobá.
A. Localização das Bacias Sedimentares do Sistema Recôncavo-Tucano-Jatobá (em vermelho), no
Nordeste do Brasil; B. Localização do Parque Nacional (contorno vazado) na Bacia do Jatobá (em
amarelo); b1. Bloco SE; b2. Graben de Ibimirim; b3. Bloco NE. Fonte: CPRM. Organizado pelo
autor.
Figura 38. Esquema da Evolução da Borda da Bacia Sedimentar do Jatobá.
Fase sinéclise (A); Fase Rifte: subsidência das rochas sedimentares (B1) em função da subsidência do
embasamento (B2); Fase denudacional (C). Fonte: o autor.
120
Na fase sinéclise foram depositados sedimentos arenosos de origem fluvial
entrelaçada, associados a leques aluviais, provenientes do sul, certamente dos orógenos
brasilianos da Faixa Sergipana e/ou do orógeno mesoproterozóico Cariris Velhos. Esta
formação é denominada Tacaratú.
A diagênese inicial do arenito Tacaratú deu origem à formação de um cimento
ferruginoso provavelmente pelo contato do depósito com a superfície, seguido de uma
compactação mecânica, soterramento e compactação química e posterior intemperismo dos
minerais instáveis (CARVALHO, 2010).
Esta Formação ocorre em cerca de 23,6% da área do PNC, apresentando arenitos de
granulometria média a grossa com níveis conglomeráticos, datando do Siluro-Devoniano,
classificados como Quartzo Arenito (50%), Arenito sublítico (40%) e Subarcósio (10%),
destacando-se também a presença de cimentos de óxido de ferro e silicosos, assimilados
durante a diagênese do arenito (CARVALHO, 2010). Seu intemperismo resultou em
diferentes categorias de formas, como rachaduras poligonais, endurecimento de óxidos de
ferro e feições de dissolução (Fig. 33).
Figura 33 . Endurecimento de óxidos de ferro (A), Rachaduras poligonais (B) e, Formas de dissolução
(C) no Arenito Tacaratú.
Fotografias: o autor.
Ainda na fase de sinéclise, deu-se uma deposição em ambiente marinho raso associado
a um sistema fluvial entrelaçado, sendo composta de arenitos finos a grossos, por vezes
ferruginosos, de cor rósea a avermelhada e com ocorrência de leitos de folhelhos e siltitos
121
laminados (CARVALHO, 2010), constituindo a denominada Formação Inajá, datada do
Devoniano. Esta formação ocupa cerca de 5% da área do PNC.
Na fase pré-rifte, datando do Tithoniano (Neojurássico), ocorreu uma deposição
característica de ambiente lacustrino com influência fluvial. Esta constitui-se de folhelhos e
siltitos amarronzados e esverdeados, ocorrendo intercalações de arenitos finos, ora grosseiros,
além de outras litologias como calcarenitos e calcissiltitos esbranquiçados a marrom claro,
lenticularizados e evaporitos, apresentando conteúdo fossilífero, compondo a Formação
Aliança. Recentemente, a análise da paleoictiofauna trouxe evidências de que o ambiente
lacustrino não era raso, como definido anteriormente, em função do tamanho da paleofauna
encontrada (SILVA et al., 2011). Esta unidade ocupa cerca de 1% da área do PNC.
Também datando do Tithoniano, a Formação Sergí se caracteriza pela presença de
arenitos de ambiente fluvial entrelaçado com retrabalhamento eólico com coloração creme
avermelhada com granulometria fina a grossa, ora conglomerática, ocorrendo também
intercalações de siltitos esverdeados, com bolsões de argila (SOUZA et al., 2011). Esta
formação não aparece no mapa geológico da CPRM, mas figura no trabalho de Lima Filho,
Souza e Silva Júnior (2011), ocupando cerca de 5% da área do PNC.
As fases rifte e posterior à abertura do Atlântico Sul condicionaram a denudação da
área sedimentar que originalmente ocupara uma área muito maior do que a atual. A
dissecação do arenito Tacaratú e das coberturas arenosas nas bordas da Bacia Sedimentar
deixa aflorar litologias mais antigas. Estas compreendem rochas cristalinas do Pré-Cambriano
cujos componentes mineralógicos essenciais são o quartzo e o feldspato metamórficos,
apresentando estrutura foliada maciça. Os grãos apresentam-se achatados ou em bandas
félsicas alternadas por bandas máficas. Parte das rochas é produto do metamorfismo de rochas
ígneas (ortognaisses), apesar de, na maioria dos casos não se saber a natureza da rocha
metamorfizada (ex.: biotita ou anfibólio gnaisse – Complexo Riacho do Tigre (SANTOS;
ACCIOLY, 2010). Nas proximidades da borda leste do Parque ocorre o Plúton Buíque
descrito como “granito e granodiorito, grossos a porfiríticos, com ou sem epidoto
magmático, associados a diorito e fases intermediárias de mistura, calcialcalinos de alto K,
metaluminosos” (CPRM, 2003). Estas unidades cristalinas do pré-cambriano abrangem 16%
da área do PNC.
Dentre as coberturas recentes, aparecem formações elúvio-coluviais, derivadas do
intemperismo e transporte a curta distância das unidades descritas acima. No interior dos
canais de drenagem ocorrem depósitos aluvionares e de terraços, ambos do Neógeno. Estas
122
formações, majoritariamente resultantes da decomposição do arenito da Formação Tacaratú,
ocorrem em mais de 50% da área do Parque.
A distribuição espacial das litologias descritas acima não pode ser completamente
explicada pelo conhecimento dos sistemas deposicionais, devendo-se considerar também as
principais estruturas geológicas e processos deformacionais, que atuando sobre essas,
controlaram os eventos denudacionais e acumulativos (Fig. 34).
Com exceção das Zonas de Cisalhamento (de origem Pré-Cambriana) e talvez da
Falha do Catimbau, as estruturas que controlam o relevo da área de estudo relacionam-se à
fase rifte. Nesta fase, a reativação de falhas e zonas de cisalhamento Pré-Cambrianas, resultou
na deformação tanto da superfície do embasamento subjacente à bacia quanto do pacote
sedimentar propriamente dito (BARBOSA, 2006). Segundo o mesmo autor, a reativação
sinistral da Zona de Cisalhamento Pernambuco (ZCPE), resultou em falhamentos normais de
direção NE-SW no interior da Bacia.
Figura 34. Principais Estruturas na Região do Parque Nacional do Catimbau. Linhas indicam falhas e
zonas de cisalhamento. Linhas tracejadas indicam falhas inferidas.
Fonte: Santos (1999), Costa Filho et al. (2001), Santos e Accioly (2010). Lima Filho, Souza e Silva
Júnior (2011). Organizado pelo autor.
123
Para Lima Filho, Souza e Silva Júnior (2011) este é o momento de surgimento da
Falha de Ibimirim, a estrutura normal que marca o limite norte da Bacia do Jatobá e está
associada à ZCPE. Ainda segundo os mesmos autores, esta seria a idade de formação da Falha
do Moxotó, uma falha normal cujo movimento dextral seria responsável pelo deslocamento da
Falha do Macaco e abertura da morfoestrutura do Gráben do Puiú. Ainda segundo Costa
Filho et al. (2010), as falhas da borda do graben teriam sido responsáveis pela preservação
das litologias (Inajá, Aliança e Sergí) no interior do mesmo. Em Santos (2012), esta
morfoestrutura é chamada Gráben do Brejo do Pioré (Fig. 35).
A Falha do Quiridálho serve também de limite para outra morfoestrutura de direção
NE-SW, o Horst do Quiridálho, que assume uma forma de mesa anticlinal e bordeja uma
estrutura em graben, com a mesma direção, limitada pela Falha do Angico e pela Falha de
Ibimirim: o Gráben do Frutuoso (SANTOS, 2012).
Figura 35. Serra do Quiridalho e Lagoa do Puiú (Estação Seca).
Fotografia: Ronaldo Missura.
Um sistema de hemigrábens de direção aproximada NE-SW, associado a pequenos
rejeitos se desenvolve entre a Falha do Catimbau e a Falha do Macaco, tendo sido proposto a
partir da análise de perfis de eletrorresistividade e dados de poços (COSTA FILHO et al.,
2010). Neste trabalho, com base na distribuição das morfoestruturas homoclinais, sugerimos
dois rejeitos principais, denominados Falha da Ponta da Várzea e Falha do Caldeirão, que
diferenciam três hemigrábens: do Cumbe, da Ponta da Várzea e do Catimbau.
No caso da Falha do Catimbau, observada no cristalino na folha geológica Sertânia
(1:100.000) (CPRM, 2010), cuja continuidade na área sedimentar foi inferida por
eletrorresistividade (COSTA FILHO et al., 2010), sua orientação, no sentido NE-SE sugere
124
que a borda leste elevada na Bacia do Jatobá tenha sido alçada juntamente com a subida do
embasamento cristalino em função dos eventos deformacionais cenozoicos.
A estratigrafia dos dados de poços também corrobora a hipótese de que as áreas mais
elevadas da borda do Planalto do Jatobá tenham sofrido alçamento juntamente com o
embasamento cristalino, e o próprio Planalto da Borborema a leste – principal morfoestrutura
regional. Desta forma, o cruzamento entre a compartimentação morfológica, os dados de
poços, o reconhecimento do sistema de falhas da região e o mapa litológico, permite traçar um
esquema geral das morfoestruturas e unidades de relevo na região do Parque e seu entorno em
perfis geomorfológicos (Fig. 36).
O Perfil A-B (Sentido NW-SE, Fig. 37), apresenta um horst entre as falhas de
Ibimirim e Itaíba, que trataremos aqui por Horst Buíque. Esta unidade morfoestrutural está
recoberta pelos sedimentos da Bacia do Jatobá, cuja denudação progressiva garante o
surgimento de pedimentos e glacis, bem como a presença residual de chapadas e patamares
em rochas sedimentares.
Figura 9. Localização dos Perfis Geomorfológicos na Borda da Bacia do Jatobá.
Fonte: SRTM/TOPODATA. Organizado pelo autor.
125
Figura 37. Perfil A-B (Sentido NW-SE), apresentando o Horst Buíque.
Fonte: SRTM. Organizado pelo autor.
O perfil C-D (Fig. 38) apresenta o claro desnível das rochas do cristalino que marca
uma sequencia de hemigrabens que descem à medida que se aproxima do Graben de
Ibimirim. Isto fica bastante claro, quando se comparam as profundidades do embasamento
cristalino entre o poço Paraíso Selvagem (8m) e o poço 4BU-01-PE (105m), que distam entre
si menos de 500m. Além disso, a profundidade do embasamento de apenas 2m do poço do Sr.
Nadival Ferreira (cerca de 7 km a SE do poço Paraíso Selvagem), confirma a superfície do
Horst Buíque, que é capeada por um pacote da Fm. Tacaratú com cerca de 250m de espessura.
Figura 10. Perfil C-D (Sentido SW-NE).
Fonte: SIAGAS. Organizado pelo autor.
É no perfil E-F (Fig. 39), que traçamos uma configuração morfoestrutural e do
modelado para a região do Parque Nacional do Catimbau e seu entorno próximo.
Considerando as informações dos perfis anteriores, juntamente com dados topográficos, da
126
geologia e geofísica, determinamos 8 unidades morfoestruturais e 9 tipos de modelados
associados, cuja distribuição espacial é representada no croqui da Fig 40.
Figura 11. Perfil E-F (Sentido WNW-ESE). Representa a configuração geral das morfoestruturas e do
modelado na área do Parque e seu entorno próximo.
1 – Graben do Frutuoso e 2 – Horst do Quiridalho (SANTOS, 2012); 3 – Graben do Puiú, 4 –
Hemigraben do Cumbe, 5 – Hemigraben Ponta da Várzea e 6 – Hemigraben do Catimbau (COSTA
FILHO et al., 2010); 7 Horst Buíque (o autor) e 8 Graben do Alto Ipanema (o autor, com base em
CORRÊA et al., 2010). A – Colinas suaves sobre manto psamo-pelítico Aliança; B – Colinas suaves
sobre manto psamo-pelítico Inajá; C - A – Colinas suaves sobre manto psamítico Tacaratú; D –
Patamares Estruturais; E – Vale Controlado por Falha com manto psamo-pelítico Inajá (Planície do
Riacho do Pioré); F – Colinas acentuadas sobre manto psamítico Tacaratú; G – Glacis; H – Pedimento;
I – Colinas em Escarpa de Falha sobre o Cristalino Intemperizado. As unidades H, I e H integram o
Planalto cristalino da Borborema (CORRÊA et al., 2010).
Figura 40. Unidades Morfoestruturais e Geomorfológicas do Parque Nacional do Catimbau.
As linhas tracejadas representam os limites das morfoestruturas. A figura pequena, acima e à esquerda,
indica os limites das morfoestruturas, onde HV é o provável Horst Vila Moderna e HM, o suposto
hemigraben do Muquem. 1 – Graben do Frutuoso e 2 – Horst do Quiridalho; 3 – Graben do Puiú, 4 –
Hemigraben do Cumbe, 5 – Hemigraben Ponta da Várzea e 6 – Hemigraben do Catimbau; 7 Horst
Buíque. Fonte: o autor.
127
No perfil acima, na região do Graben do Frutuoso (1), o relevo apresenta-se
suavemente inclinado para leste, em direção ao Riacho dos Campos, e o modelado
desenvolve-se numa sequencia de colinas bastante suaves, mudando gradativamente de
substrato, indo do manto psamítico da Fm. Tacaratú (1C) (a leste) para os mantos psamopelíticos das Fm. Inajá (1B) e Aliança (1A) (a oeste), e suas coberturas de alteração,
respectivamente. A região é entrecortada por poucos canais de drenagem, e apresenta
dissecação muito baixa.
A região do Horst do Quiridalho (2D), que é tipologicamente similar à região elevada
da Serra do Catimbau-Fazenda Porto Seguro (região 7D), constitui um complexo de
patamares estruturais escalonados sobre os quais se intercalam cobertura eluvial (topo) e
sequencias de rocha desnuda (Fm. Tacaratú) nas quebras de gradiente da encosta. Esta
morfoestrutura é controlada pelas Falhas do Quiridálho e Angicos, que, recebendo as
drenagens condicionadas pelo sistema de hemigrábens do Catimbau-Ponta da Várzea (F4, 5 e
6), fornece condições para o desenvolvimento da Lagoa do Puiú, que se instala sobre o gráben
de mesmo nome.
No caso dos Patamares da borda da Bacia (7D) (um a NW e outro a SE), estas feições
são muito mais frequentes e de magnitude mais elevada, sobretudo em função da sua
amplitude altimétrica e da extensão areal ocupada (Fig. 41).
Figura 12. Paisagens da Borda Leste da Bacia Sedimentar do Jatobá.
Fotografia: o autor.
A gênese destes patamares da borda pode estar relacionada aos eventos
deformacionais encontrados na região por Barbosa (2006). Um destes eventos é caracterizado
por uma compressão máxima NW-SE, verificado apenas nas rochas sedimentares da bacia.
128
Uma hipótese para este movimento seria a subida do embasamento resultante do magmatismo
Cenozóico associado ao soerguimento do Planalto da Borborema. Curiosamente, Moraes Neto
e Alkmim (2001) detectaram uma tensão compressional com a mesma direção sobre a
Formação Serra dos Martins (entre os Estados da Paraíba e Rio Grande do Norte), delgado
pacote de sedimentos paleógenos que recobre indistintamente níveis de cimeira cristalinos do
setor nordeste do Planalto da Borborema. Em suas encostas é comum o recobrimento por
mantos coluviais arenosos e até, colúvios grossos (tálus), apresentando muitas vezes
matacões, sobretudo na base das encostas (Fig. 42). Na transição entre patamares, é comum a
ocorrência de escarpas, ora apresentando faces livres, ora alcovas decorrentes de erosão por
infiltração.
Figura 42. Blocos Partidos (A, C) e Caídos na Base do Escarpamento Leste.
Fotografias: Daniel Rodrigues de Lira.
Estes Patamares da borda da Bacia encontram-se estruturados sobre o Horst Buíque
(7), delimitado pela Falha do Catimbau a W e pela Falha de Itaíba a E (cerca de 10 km a E do
Parque) e que pode correlacionar-se ao que Corrêa et al. (2010), denominaram de Maciços
129
Remobilizados Pernambuco-Alagoas, subunidade morfoestrutural do Planalto da Borborema.
A cobertura sedimentar que capeava esta morfoestrutura sofreu bastante denudação,
resultando em uma área pedimentar (7G e 7H) bastante extensa em relação à porção ocupada
pelos patamares (7D), apresentando substrato que se dá, ora em rocha cristalina (granito e
gnaisses), ora em rocha sedimentar. Esta unidade apresenta-se ainda entremeada por um
conjunto residual de mesas e pináculos.
Todavia, na porção norte da unidade 7D a escarpa apresenta apenas um pequeno recuo
em relação à posição Falha de Ibimirim/Lineamento Pernambuco, revelando o balizamento
por pedimentos ainda pouco extensos, ainda jovens, o que pode indicar tectônica bastante
recente. Esta hipótese de neotectônica ainda é corroborada pela chamada ‘cerca de pedra’,
localizada próxima à região do Muquem e caracterizando uma escarpa de linha de falha
estruturada em sedimentos da Formação Tacaratú.
A subdivisão precisa da área pedimentar 7G-7H em pedimentos e/ou glacis não pôde
ser conduzida corretamente sem antes proceder a uma discussão conceitual e terminológica.
Não obstante sua acepção meramente morfológica, enquanto setor da paisagem em
forma de rampa com menos de 7 graus de inclinação entre o canal de drenagem e o primeiro
knickpoint a montante, o termo pedimento tem sido utilizado para superfícies aplainadas
compostas da mesma rocha das áreas elevadas que balizam. Já o termo glacis de erosão é
aplicado para pedimentos originados sobre uma rocha menos resistente do que aquela das
áreas elevadas (JOLY, 1972; TRICART; DEMEK, 1972; OBERLANDER, 1989; WHITE,
2006). Quando o glacis é recoberto por um manto sedimentar contínuo e incoeso (geralmente
oriundo de leques aluviais), o mesmo passa a ser denominado glacis de acumulação (JOLY,
1972; TRICART; DEMEK, 1972).
Conduzindo uma revisão similar, Thomas (1994) conclui que é preciso adotar
definições mais simples e propõe que o termo pedimento seja reservado às superfícies de
inclinação suave que se desenvolvem sobre material consolidado (rochas) com uma camada
fina de sedimento ou saprolito (2m). Enquanto o glacis seja aplicado para formas suaves sobre
material inconsolidado mais espesso, a exemplo de rampas coluviais, leques aluviais e
saprolito.
Assumindo as definições de Thomas (1994) e tomando por base as informações
geológicas, dividimos o Horst Buíque, em nosso perfil, em duas unidades onde predominam
Glacis (7G) e Pedimentos (7H), contudo é muito provável que haja intercalações de todos os
tipos possíveis no interior de cada uma. Cortando os glacis desenvolvem-se rios de leito
130
arenoso, acumulando óxidos de ferro nas margens, sobretudo nos espaços ocupados pelas
raízes das plantas.
Os pedimentos na área apresentam um relevo bastante plano, ocasionalmente
recortado por canais intermitentes, que apresentam longos meandros com margens erosivas
em contraste com barras laterais. Geralmente apresentam leitos argilosos desenvolvidos a
partir da estagnação da água sobre as rochas cristalinas, outras vezes os leitos são rochosos ou
pedregosos e, em ambos os casos, pode ocorrer uma cobertura de areia delgada.
Entre os patamares da borda (7D) e os patamares do Horst do Quiridálho (2D) ocorre,
ao sul do Parque, uma sequencia de hemigrábens (Sistema Catimbau-Ponta da VárzeaCumbe) escalonados de forma descendente no sentido W-E, estruturando a drenagem do
Riacho do Catimbau e controlando o desenvolvimento de colinas íngremes de dissecação
média a alta sobre os mantos psamíticos da Fm. Tacaratú (4-5-6F).
Ao norte do sistema 4-5-6-F, e à oeste do complexo de patamares estruturais de NW
(7D), percebe-se que dois quilômetros a leste da localidade do Muquem, a superfície
apresenta um mergulho suave, no sentido do que parece ser a continuidade encoberta da Falha
do Macaco (paralela à Falha do Catimbau), que aqui é inferida juntamente com outra provável
falha que trunca a parte norte do Gráben do Puiú (3E) e se prolonga como um vale pouco
dissecado em direção aos referidos patamares. Este conjunto de falhas inferidas sugere a
existência de um hemigraben a oeste do Muquem (Hemigráben do Muquem), dominado por
um modelado de colinas suaves sobre os mantos da Fm. Tacaratú (não contemplada no perfil).
Outra unidade que pode ser distinguida corresponde à parte elevada onde afloram as
rochas do cristalino na porção norte do Parque, acima da Falha de Ibimirim/Lineamento
Pernambuco e funciona como uma morfoestrutura elevada (hemigraben ou horst?), recebendo
aqui o nome de Vila Moderna, em função da comunidade homônima.
É interessante ressaltar, que a cobertura arenosa (glacis e pedimentos) sobre a
morfoestrutura Vila Moderna é possivelmente produto de recuo da escarpamento da borda da
Bacia, enquanto o material ao sul da Falha de Ibimirim foi rebaixado pela subsidência e
possivelmente evoluiu por rebaixamento e retrabalhamento do manto alterado. Logo, mesmo
tratando-se de coberturas arenosas com relevo bastante suave, possuem origens diferentes,
sendo similares apenas do ponto de vista funcional.
3.1 Contribuição à Taxonomia dos Geossistemas
Do ponto de vista da sistemática das paisagens, o conhecimento dos elementos
geológico-geomorfológicos fornece indicativos sobre os limites dos geossistemas, servindo
131
para diferenciar as fronteiras abruptas daquelas mais gradativas, suaves. Além disso, a
natureza do litótipo, associado às propriedades do relevo (sobretudo a declividade e
orientação do relevo), condicionam o surgimento de ambientes mais úmidos e mais secos.
Neste sentido, as escarpas que margeiam os patamares estruturais delineiam limites
abruptos das paisagens. Do mesmo modo, os contrastes litológicos, principalmente em termos
dos mantos de alteração formados, se arenosos ou argilosos, também marcam limites claros
entre as unidades, marcando ambientes com predomínio de infiltração sobre escoamento
superficial ou o contrário, respectivamente.
Ainda sobre isso, destacam-se os controles estruturais exercidos sobre a drenagem,
sobretudo, no limite sul do Parque. O Riacho do Catimbau, condicionado pelo sistema de
hemigrábens Catimbau-Ponta da Várzea, corre até seu encontro com o Riacho do Pioré que,
limitado pela falha do Quiridálho, contribui para formação das Lagoas do Puiú e da Maria
Preta.
Além disso, as áreas com extensos e profundos mantos arenosos resultam num
ambiente excessivamente drenado, na parte centro-oeste do Parque. Onde estes mantos são
mais rasos, a exemplo da borda leste do PNC, podem-se formar inclusive ambientes alagados,
de má drenagem (brejos de pé de serra), a exemplo do sítio pingadeira na Fazenda Brejo de
São José e o olho d’água nas proximidades do Sítio Arqueológico Alcobaça.
Entretanto, as áreas com declives menos marcados delineiam mudanças mais suaves
nas paisagens e de mais difícil precisão, é o caso da transição entre a porção norte dos
patamares estruturais da borda da Bacia do Jatobá e as colinas suaves arenosas, a oeste. De
forma similar, os glacis indeterminados (se ‘de erosão’ ou ‘de acumulação’) também
apresentam maior necessidade de precisão, mormente através de observações de campo.
Com base nessas considerações, podemos distinguir classes e subclasses de paisagens
que, na proposta taxonômica de Isachenko (1991), envolvem unidades e subunidades de
ordem geológico-geomorfológica. No caso do PNC, determinamos as seguintes categorias, a
saber: Bacia Sedimentar (colinas e patamares estruturais) e Planalto (colinas e
pedimentos/glacis) (Fig. 43).
4 Conclusões
Este capítulo apresentou a análise de elementos geológico-geomorfológicos do Parque
Nacional do Catimbau, o que permitiu diferenciar unidades morfoestruturais e do modelado.
Com base nos limites inferidos para estas unidades e, associados com os resultados da análise
climática, que será possível propor uma taxonomia dos geossistemas da área de interesse.
132
A utilização de dados de poços, associados a perfis topográficos, mapas geológicos e
informações geofísicas presentes na literatura, se mostrou bastante eficaz para distinção de
morfoestruturas de âmbito regional e mesorregional, bem como para evidenciar seu controle
sobre o desenvolvimento do modelado.
Figura 43. Classes e Subclasses de Paisagens do Parque Nacional do Catimbau.
Fonte: o autor.
Com base nos dados de poços, evidenciou-se que os patamares estruturais da borda da
Bacia do Jatobá apresentam uma espessura sedimentar de 250m, estando alocados sobre o
Horst Buíque. Contudo, as informações disponíveis não foram suficientes para confirmar a
existência, ou não, do hemigraben do Muquem. Apenas estudos geofísicos posteriores, a
exemplo de modelagem gravimétrica 2D, permitirão tal feito.
Outro problema de ordem cartográfica encontrado envolve a precisão dos limites e
intercalações entre glacis e pedimento. Para este fim, aconselha-se a utilização de radar de
penetração do solo (GPR).
Apesar das reticências elencadas, este capítulo permitiu a diferenciação de conjuntos
morfoestruturais e do modelado que auxiliaram nas reflexões sobre as relações espaciais entre
os
compartimentos
topográficos
levantados,
apresentando
as
bases
geológico-
geomorfológicas para classificação dos geossistemas do Parque Nacional do Catimbau. A
partir disso, foram definidas classes e subclasses de paisagens.
133
Capítulo 5
Climatologia do Parque Nacional do Catimbau: Seus Condicionantes
e seus Efeitos sobre a Paisagem
1 Introdução
Um dos principais fatores envolvidos na diferenciação físico-geográfica é o clima,
correspondendo ao regime habitual da atmosfera numa determinada região. Geralmente o
fator climático é avaliado a partir de critérios como as médias de temperatura e pluviosidade
(KOTTEK et al., 2006), algumas vezes incluindo a radiação solar incidente, soma das
temperaturas ativas, índices de umidade e continentalidade (ISACHENKO, 1991) e a
evapotranspiração potencial (FEDDEMA, 2005).
Apesar da utilização de médias climáticas já terem sido bastante criticadas por
geógrafos (MONTEIRO, 1976, 2003) e ecólogos (HOLDRIDGE, 1947; HOLDRIDGE,
1966), sobretudo por não serem adequadas à representação de aspectos dinâmicos da
paisagem, elas têm demonstrado bastante utilidade para suportar projeções de mudanças
climáticas, tanto mudanças futuras (como destacam KOTTEK et al., 2006), como para
mudanças pretéritas, a exemplo das médias de paleotemperaturas derivadas dos isótopos de
oxigênio (SILVA, 2013).
Na verdade, é preciso que se reconheçam os limites e o potencial dos dados, sabendose que um mesmo conjunto de dados pode ser fundamental para determinados tipos de análise
e, ao mesmo tempo, insuficiente para a resolução de outros tipos de problema. No caso do
estudo de geossistemas, as médias são essenciais para caracterização da estrutura da
paisagem, mas desnecessária para se compreender a dinâmica da paisagem, por exemplo.
Neste sentido, concordamos com Nóbrega (2010), quando este afirma que as classificações
climáticas, apesar de suas limitações, possuem valor para determinadas questões.
Seguindo na ordem da determinação da estrutura da paisagem do Parque Nacional do
Catimbau, este capítulo teve por objetivo caracterizar os aspectos climáticos na referida área,
sobretudo destacando as causas de possíveis contrastes do hábito atmosférico e seus efeitos
sobre os padrões gerais da paisagem.
2 Metodologia
No contexto do semiárido brasileiro, onde a temperatura média anual apresenta-se,
geralmente, quente (média anual superior a 18°C) e apenas ocasionalmente moderada (abaixo
de 18°C), a distribuição do regime hidrológico é o principal fator de diversificação das
paisagens, variando de acordo com os valores de precipitação e o modo como a água
134
precipitada é aproveitada pelos geossistemas. Aqui, buscou-se a visualização dos setores mais
e menos úmidos na área de estudo, sendo realizada uma estimativa espacial de médias
históricas de precipitação. O objetivo foi reunir informação inicial acerca da distribuição
espacial e temporal das entradas, armazenamento e saídas de água na paisagem.
Por estimativa espacial entende-se a aplicação de métodos de interpolação para
inferência de superfícies a partir de pontos conhecidos. Em outras palavras, a interpolação
compreende um procedimento matemático, algorítmico, que busca o ajuste de uma função à
pontos não amostrados, baseando-se em pontos já amostrados (LANDIM, 2000,
FELGUEIRAS, 2001). Para tanto, cria-se uma grade regular de pontos inferidos
estatisticamente a partir dos pontos conhecidos e, em seguida, são traçadas curvas de igual
valor (isolinhas) (Fig. 44).
Figura 44. Estimativa Espacial de Superfícies.
(À esq.) pontos conhecidos. (À dir.) superfície com valores estimados. Fonte: Landim, 2000.
Organizado pelo autor.
Neste trabalho, os valores históricos de precipitação de 24 postos pluviométricos ao
redor do Parque (Tab. 1) foram salvos num arquivo separado por vírgulas (.csv), utilizando o
Microsoft Excel, e em seguida transformados num arquivo vetorial de pontos, através da
função ‘adicionar uma camada a partir de um texto delimitado’ do programa Quantum GIS
1.8. A partir disso, foi realizada a estimativa espacial dos valores de precipitação utilizando o
método do Inverso Ponderado da Distância (Inverse Distance Weighting - IDW), que estima
valores para pontos desconhecidos a partir da soma ponderada dos valores de N pontos
conhecidos, tendo sido escolhido por não estimar valores maiores ou menores que os dados
originais (LANDIM, 2000), o IDW é definido na equação a seguir:
135
∑
∑
(5.1)
onde Z é o valor interpolado para o nó da grade, Zi é o valor do ponto amostrado vizinho ao
nó, hij é a distância entre o nó da grade e Zi, β é o expoente de ponderação e n o número de
pontos amostrados utilizados. A interpolação foi utilizado o valor de potência 4, por ser aquele
de menor ordem que apresentou maior suavidade das superfícies estimadas.
Tabela 1. Dados Climáticos da Região do Parque Nacional do Catimbau.
Posto
Lat.
Long. Altitude Precipitação Temperatura Tempo de
Pluviométrico
(m)
(mm)
(°C)
observação
(anos)
-8,316
-37,35
507
507,20
24,00
52
Algodões
-8,76
-37,05
475
448,40
23,90
25
Amaro
-8,43
-37,06
663
590,50
22,50
62
Arcoverde 1
-8,416
-37,05
663
756,60
22,60
10
Arcoverde 2
-8,516
-37,2
655
629,90
22,70
19
Brejo de São José
-8,616
-37,53
470
463,60
24,30
26
Brejo do Pioré
-8,616
-37,16
798
1100,10
21,60
54
Buíque
-37,916
480
625,60
24,60
27
Cachoeira do Leite -8,183
-8,35
-37,75
500
539,40
24,40
28
Caiçara
-8,3
-37,583
470
556,30
24,50
22
Carualina
-8,35
-36,85
850
853,20
21,00
24
Cimbres
-8,283
-37,183
510
392,50
23,90
22
Henrique Dias 1
-8,25
-37,16
510
352,80
23,90
19
Henrique Dias 2
-8,383
-37,63
445
592,30
24,70
53
Jeritacó
-8,43
-37,416
525
509,00
23,90
28
Moderna
-8,716
-37,53
431
458,80
24,60
53
Moxotó
-8,5
-36,96
660
756,10
22,50
49
Pedra
-8,5
-37,73
450
591,90
23,40
22
Poço da Cruz
-37,866
610
553,30
24,60
28
Poço do Alexandre -8,666
-8,583
-37,316
680
480,40
22,60
27
Ponta da Vargem
-8,616
-36,7
793
565,30
21,20
27
Salobro
-8,733
-36,86
586
479,30
22,90
48
Tara
-8,75
-37,35
709
928,90
22,30
27
Tupanatinga
-8,4
-37,216
630
558,40
23,00
26
Xilili
Fonte: Departamento de Ciências Atmosféricas/Universidade Federal de Campina Grande. Disponível
em: http://www.dca.ufcg.edu.br/tsm.htm. Acesso em 14 de jan de 2012. Organizado pelo autor.
O principal problema no uso dos dados referidos acima consiste na diferença dos
períodos observados nos diferentes postos pluviométricos. O ideal seria que todos os dados
apresentassem o mesmo número de anos e o mesmo período de observação. Contudo,
136
arriscamos em função da quantidade de postos disponíveis, esperando que os dados sejam
correlacionáveis entre si, tanto quanto correlacionáveis com os dados de outras naturezas.
2.3 Condicionantes sobre a Precipitação
Após a determinação das isoietas, buscou-se evidenciar possíveis condicionantes sobre
a distribuição espacial do regime de chuvas. Neste caso, verificou-se preferencialmente a
influência da altitude sobre a precipitação, sobretudo em função das variações altimétricas no
contraste entre o Horst Buíque (Cf. capítulo anterior) e o sistema de hemigrábens que o
margeiam, rebaixando-se consecutivamente para oeste.
Para tanto, os valores de ambas as variáveis foram plotados num diagrama de
dispersão e, em seguida, determinou-se a tendência de distribuição dos dados, indicadas pelo
menor ajuste quadrado através dos pontos, utilizando-se a técnica de regressão polinomial.
Esta técnica estatística retorna um valor (R²) referente à tendência geral de distribuição dos
dados, caracterizando um coeficiente de determinação entre os valores dos eixos x e y, sendo
expressa pela seguinte fórmula:
(5.2)
onde b e c1...c6 são constantes.
Uma ressalva importante é que o raster de precipitação precisou ser reamostrado para
ficar com o valor de célula (pixel) igual ao da imagem de Altitude, de outra forma, a
quantidade de pontos gerada pela criação do perfil seria diferente entre as imagens,
impossibilitando a correlação.
2.4 Efeito da Precipitação sobre a Fenologia
Sabe-se que sua resposta fenológica é sensível a diversas características do ambiente,
como a textura do substrato, a duração e intensidade do período chuvoso, a topografia, a
altitude, entre outras. Este conhecimento pode ser usado para identificar diferentes tipos de
interações entre os elementos naturais num dado local, auxiliando na identificação da
cobertura da terra e no consequente mapeamento dos geossistemas.
Neste sentido, o uso de geotecnologias para o estudo fenológico das plantas tem se
tornado comum na literatura geográfica mundial, sobretudo através do processamento digital
de imagens de satélite. O realce das imagens a partir da transformação de seus Números
Digitais (DN) em índices de vegetação e avaliação de uma série de imagens do mesmo ano
tem permitido o monitoramento das fenofases do sistema fotossintético das plantas (BEURS;
HENEBRY, 2010).
137
Alguns dos principais índices que têm sido utilizados para detecção de fenofases por
sensoriamento remoto são aqueles baseados na pigmentação foliar, sendo mais comum o
Normalized Difference Vegetation Index (NDVI) (ROCHA; SHAVER, 2009; HUETE;
SALESKA, 2010). Este índice baseia-se na relação entre a luz vermelha incidente (Verm),
absorvida pela clorofila, e a reflexão da luz infravermelha (IV) pela estrutura celular das
folhas (ROUSE et al. 1973), e tem apresentado boa correlação com as mudanças na biomassa
verde, sendo muito importante para o monitoramento sazonal da vegetação (JENSEN, 2009).
O NDVI é obtido pela seguinte equação:
(5.3)
Aqui, as variações intra-anuais do NDVI foram utilizadas para evidenciar diferenças
naturais em escala macroscópica, permitindo a inferência de algumas relações entre os
componentes da natureza na área do Parque Nacional do Catimbau.
As variações na vegetação foram avaliadas a partir da extração do NDVI de duas
imagens do satélite LANDSAT 5, sensor Thematic Mapper, disponibilizadas pelo Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) para a órbita 215 e ponto 66, referentes ao ano de
2001, ano climaticamente regular (Cf. tópico seguinte) e que apresentou maior sorte de
imagens com pouca cobertura de nuvem. Cada uma das imagens apresentava características
climáticas distintas, sendo uma do período chuvoso e outra de um período seco (ver Tab. 2).
Tabela 2. Características Pluviométricas da Data de Passagem do Satélite.
Data de
Precipitação (mm)
Passagem
Até 10 dias
Até 30 dias
Até 60 dias
antes da
antes da
antes da
passagem
passagem
passagem
27
78,2
102,7
28/03/2001
0
0
26,5
06/10/2001
Fonte: INPE, INMET. Organizado pelo autor.
Inicialmente foi realizado o pré-processamento das bandas 3 e 4 das imagens,
necessárias para obtenção do NDVI. Esta etapa consistiu na determinação de correções
geométricas e radiométricas. A correção geométrica corresponde à determinação de
coordenadas geográficas para a imagem, e foi realizada tendo como referência corpos hídricos
e estradas.
A correção radiométrica busca resolver ruídos que aparecem nas imagens em função
de problemas na calibração dos sensores, bem como erros na transmissão de dados e a
influência de gases e aerossóis atmosféricos. Para tanto, é preciso converter os números
digitais da imagem em valores de radiância (Lλ), que representam a energia solar refletida por
138
cada elemento que compõe a imagem e que foi medida ao nível do sensor (≈705 km de altura)
(MARKHAM; BAKER, 1987), sendo obtida pela seguinte fórmula:
(5.4)
onde Lλmax e Lλmin são os valores de radiância espectral máximo e mínimo (em W/(m2 sr
μm)), respectivamente, determinados conforme Chander, Markham e Helder (2009) e DN é a
intensidade do pixel, que varia entre 0 e 255.
Uma vez que os valores de radiância representam apenas a energia solar refletida, que
pode sofrer influência de outras fontes (radiâncias de trajetória) causando distorções nos
valores. O efeito de gases e aerossóis atmosféricos é o principal problema encontrado para a
calibração radiométrica de imagens de satélite, sendo um dos modos mais utilizados para
correção destes efeitos o método de subtração do pixel escuro (Dark Object Subtraction DOS). Esta técnica assume que a imagem apresenta pixels escuros com valores de reflectância
de 1% (sombras de nuvens e/ou corpos hídricos) e utiliza os valores apresentados por estes
pixels escuros na imagem, geralmente maiores que o esperado, como referência para
determinação da correção atmosférica (CHAVEZ JR, 1988; 1989).
A correção atmosférica por DOS é realizada com base na seguinte equação:
(5.5)
onde L1% é a reflectância de 1%, Esun é o valor de irradiância solar média na
exoatmosfera55, cosθz é o ângulo solar zenital que varia de acordo com o momento de
aquisição da cena e d é a distância Terra-Sol em unidades astronômicas.
Em seguida, o efeito do espalhamento atmosférico (Lhaze) é obtido pela diferença
entre L1% e o valor de um pixel escuro obtido da imagem de radiância (Starting Haze Value SHVrad). Por fim, obtém-se a imagem de reflectância à superfície, eliminando-se o efeito de
Lhaze.
Todas as etapas de pré-processamento e realce das imagens foram realizadas com a
ferramenta ‘Normalização de Imagens LANDSAT’ (SADECK GEOTECNOLOGIAS, 2011).
Após a determinação dos valores de reflectância de superfície, as imagens foram
transformadas (realçadas) com o NDVI.
Após isso, a imagem NDVI do período chuvoso (março) foi subtraída pela imagem
NDVI do período seco (outubro), cuja diferença foi denominada imagem de mudança, tendo
55
O valor de Esun é determinado de acordo com o dia juliano da passagem do satélite. Podemos encontrar estes
valores de referência para o LANDSAT 5TM em Chander, Markham e Helder (2009).
139
sido utilizada para evidenciar diferenças espaciais na fenologia do sistema foliar e inferir a
existência de condições ambientais diferentes.
Considerando que os valores de NDVI variam de -1 a 1, os máximos de mudança que
se podem obter com a soma variam entre -2 (quando há uma redução máxima dos valores) e 2
(quando há um incremento máximo dos valores). Observando as variações num intervalo de 1
ponto, podemos identificar 4 classes de incremento e redução de valores de NDVI, que podem
ser representadas de forma percentual e nominal (Tab. 3).
Tabela 3. Classificação para Mudanças Intra-anuais nos Valores de NDVI com intervalo de 1.
Valores de
Mudança
Mudança
(%)
(intervalo de 1)
Perda >50
-2 a -1
Perda 0 a 50
0 a -1
Ganho 0 a 50
0a1
Ganho >50
1a2
Fonte: o autor.
2.4.1 Ano Climaticamente Regular para a Estação de Arcoverde (Pernambuco)
Além de realizar as correções das imagens (geométrica, radiométrica e atmosférica) é
preciso evitar o efeito de anos muito secos e muito chuvosos na resposta espectral dos alvos,
isso, é claro, quando se pretende caracterizar variações intra-anuais da paisagem de um ano
climaticamente regular. A determinação do ano climático regular consistiu na tentativa de
agrupar os dados de precipitação anual de modo a se obter valores regulares e distingui-los de
valores atípicos, sendo este parâmetro utilizado para selecionar o ano de obtenção das
imagens de satélite para o realce por NDVI.
O ano regular foi determinado utilizando 39 anos de dados de precipitação (19732011) da estação meteorológica do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), localizada
no município de Arcoverde (OMM: 82890), nas coordenadas -8,41º e -37,08º e altitude de
680,7 metros e que opera desde 01/02/1973, a cerca de 25km de distância do PNC. Em função
da presença de lacunas nos dados, a exemplo da falta de informação para um dia, mês ou
conjunto de meses, alguns anos precisaram ser desconsiderados. Deste modo, foram
desconsiderados os anos em que houvesse falta de informação para 3 meses ou mais. A tabela
4 mostra os anos eliminados em função da ausência de informação.
Tabela 4. Anos Excluídos em Pela Ausência de Dados.
Ano
Ausência de informação (meses)
3
1987
7
1988
9
1991
Fonte: o autor.
140
O ano regular foi então, definido pela utilização de separatrizes, agrupando-se os
valores de precipitação anual dos anos considerados em quartis. Os valores abaixo do
primeiro quartil (Q1) indicam os 25% de anos menos chuvosos (anos secos); Os valores
acima do terceiro quartil (Q3) indicam os 25% de anos mais chuvosos (anos chuvosos). Por
fim, os valores entre Q1 e Q3 indicam os 50% dos anos nem muito secos, nem muito
chuvosos, que utilizamos aqui como referência para os anos regulares. Para realização desta
operação utilizou-se a função QUARTIL, do Microsoft Excel.
2.4.2 Avaliando a Relação entre Pluviosidade e Fenologia
A fim de se avaliar um possível condicionamento da fenologia em relação à
pluviosidade, foram elaborados diagramas de dispersão e determinadas linhas de tendência
polinomial de ordem 2, num perfil distinto.
O procedimento utilizado foi o mesmo adotado para análise dos condicionantes sobre
a pluviosidade, a saber: reamostragem das imagens matriciais de precipitação e altitude para
que ficassem com o mesmo tamanho de célula; elaboração de um perfil que destacasse a
maior variação espacial dos valores; exportação do perfil para o Excel e; plotagem dos dados
no gráfico e adição da linha de tendência (regressão polinomial de 2ª ordem).
2.5 Taxonomia dos Geossistemas
Continuando com as investigações do capítulo anterior, sobre a estrutura das paisagens
e sua classificação, as unidades bioclimáticas identificadas serviram para diferenciar em
detalhes os grupos de paisagem, mais uma vez seguindo a proposta de Isachenko (1991). O
cruzamento dos dados climáticos (grupos) e geológico-geomorfológicos (classes e subclasses)
permitiu classificar as paisagens do PNC, estabelecendo cartograficamente os seus limites.
3 Resultados e Discussão
3.1 Pluviosidade Média Anual e Seus Condicionantes
As isoietas para a região do PNC e seu entorno (Fig. 45) apresentam uma faixa de
concentração da pluviosidade na direção NE-SW, com valores históricos acima de 600
mm/anuais, com destaque para o posto pluviométrico de Buíque. Esta faixa mais úmida
separa duas áreas com precipitação inferior a 600 mm/anuais.
Fonte: DCA/UFCG. Organizado pelo autor.
Figura 45. Isoietas do Parque Nacional do Catimbau e Arredores.
141
142
Analisando a distribuição da precipitação ao longo do ano (Fig. 46), percebe-se que os
postos possuem picos de precipitação no mês de março, geralmente associados à Zona de
Convergência Intertropical (ZCIT) (ALVES, 2012). Os postos que se localizam na faixa de
umidade (Arcoverde 1 e 2, Brejo de São José, Buíque, Cimbres, Pedra e Tupanatinga)
apresentam picos de precipitação entre março e julho, decrescendo a partir de agosto (Fig.
47). Estas precipitações geralmente provêm de Distúrbios Ondulatórios de Leste (DOL), que
podem se associar a Complexos Convectivos de Mesoescala (CCM) (ALVES et al., 2011;
ALVES, 2012).
Figura 46. Pluviosidade Mensal de Postos em Isoietas abaixo de 600mm.
Fonte: DCA/UFCG. Organizado pelo autor.
Figura 47. Pluviosidade Mensal dos Postos em Isoietas acima de 600mm.
Fonte: DCA/UFCG. Organizado pelo autor.
143
Todos os postos na faixa superior a 600 mm possuem altitudes acima de 650m, fato
que poderia indicar a altitude como um elemento de diferenciação. Contudo, o posto Ponta da
Vargem, localizado a 680m, possui precipitação média anual de apenas 480,4mm.
A explicação mais provável para a existência do elemento mais úmido são chuvas
orográficas produzidas por uma convecção do tipo vale-montanha, condicionada pela escarpa
do Horst Buíque, que apresenta um desnível em torno de 400m entre a parte mais elevada
desta região. Na região entre o posto de Buíque (1098 mm/ano) e a parte mais baixa, onde se
localiza o posto do Amaro (448 mm/ano), o desnível é de 323m, numa distância de apenas
19,9km (em linha reta) (Fig. 48).
A correlação entre os pluviogramas de ambas as localidades apresenta uma
similaridade no ritmo, mas não na magnitude anual da pluviosidade. Assim, é possível aventar
a hipótese que esta faixa de umidade seja principalmente uma relação entre a escarpa do Horst
Buíque com a atuação dos ventos que adentram o continente no inverno, provavelmente
associados aos Distúrbios Ondulatórios de Leste (DOL).
Figura 4813. Contraste da Pluviosidade entre os Postos de Buíque (798m) e do Amaro (475m).
Fonte: DCA/UFCG. Organizado pelo autor.
Os ventos úmidos oceânicos ganhariam ainda mais umidade pela razão adiabática
decorrente da ascensão da escarpa da referida morfoestrutura, provocando a continuidade das
precipitações até julho. Além disso, a influência da morfoestrutura ainda é uma explicação
plausível para a diferença na magnitude das precipitações entre as localidades consideradas.
O efeito do desnível topográfico no regime de chuvas se torna ainda mais evidente no
diagrama de dispersão (Fig. 49), que apresenta os valores de precipitação ao longo do
gradiente altimétrico entre as duas localidades (Buíque e Amaro), com R² de 0,93, conforme
tendência polinomial de ordem 2.
144
Figura 14. Relação entre Altitude e Pluviosidade entre os Postos do Amaro e de Buíque.
Fonte: DCA/UFCG;SRTM. Modificado e Organizado pelo autor.
3.2 Fenologia e Seus Condicionantes
A análise do percentual ocupado, no Parque, para cada classe de incremento ou perda
de NDVI, no indica que mais de 85% da área do Parque apresentou classes de perda na
pigmentação foliar entre março e outubro de 2001 (ano climático regular) (Fig. 50). Neste
contexto, apenas 1,15% do PNC apresentou perda > 38%. A maior parte da unidade de
conservação (58,18%) caracterizou uma perda entre 16% e 38%. Além disso, pouco mais que
¼ da área (26,96%) teve uma redução de 0% a 16% no valor de mudança intra-anual na
pigmentação foliar (mPF).
Figura 5015. Área Ocupada por Classes de Mudança Sazonal na Pigmentação Foliar no Parque
Nacional do Catimbau (%).
Fonte: LANDSAT 5TM. Modificado pelo autor.
145
De forma interessante, uma pequena porção da área de estudo (13,71%) apresentou
incremento nos valores de NDVI, entre março e outubro de 2001. Além disso, uma pequena
região (equivalente a 0,36% da área do Parque) teve ganho superior a 30% no mPF no mesmo
período. O motivo deste incremento é sugerido a seguir.
O mapa de mPF, agrupado em quatro classes (Fig. 50), nos indica que os maiores
contrastes estão relacionados aos valores elevados da porção SE do PNC, que concentra o
incremento de NDVI. As demais regiões do Parque apresentam forte evidencia de caráter
decidual (perda de mPF).
Vale ressaltar que os valores de incremento de NDVI, localizam-se preferencialmente
na porção SE do Parque, coincidindo com as regiões de maior pluviosidade (comparar Fig. 45
e 51). Este fato pode indicar menor deciduidade (caráter semidecidual) e até ausência de
caducifolia (caráter sempre-verde) no extremo SE do PNC.
Figura 51. Mapa de Mudança Sazonal da Pigmentação Foliar.
Fonte: LANDSAT 5TM. Modificado pelo autor.
Uma observação detalhada sobre a relação entre pluviosidade (P) e mPF, por meio do
gráfico de dispersão (Fig. 52), apresenta um ajuste (R²) igual a 0,85 para uma tendência
polinomial de ordem 2. Isto indica uma forte relação entre P e mPF.
146
Figura 52. Perfil 1: Dispersão da Pigmentação Foliar ao Longo do Gradiente Pluviométrico.
Fonte: DCA/UFCG; LANDSAT 5TM. Modificado pelo autor.
Além disso, verifica-se que abaixo de 585 mm de P, não foi registrado ganho de mPF,
assim como acima de 650 mm não houve perda de PF, caracterizando uma possível faixa
transicional.
Deste modo, o gráfico acima constitui uma boa explicação para a variabilidade dos
padrões intra-anuais de mudança na pigmentação foliar em relação à pluviosidade média
anual. Além do mais, permite subsidiar hipóteses sobre as relações entre valores de
pluviosidade e as respostas fenológicas do sistema fotossintético para as plantas da região
estudada.
Diferentemente do perfil anterior, o Perfil 2 (Fig. 53) apresentou baixo valor de R2
para a relação P-MPF, sendo de apenas 0,32. Em concordância, acima dos valores de 646 mm
de P, não houve perda de PF. Contudo, houve bastante ganho de PF, mesmo em área com
baixo valor de P. Em função dessa discordância, os dados do Perfil 2 foram observados com
maior cautela para tentar identificar as causas desta diferença.
147
Figura 53. Perfil 2: Dispersão da Pigmentação Foliar ao Longo do Gradiente Pluviométrico.
Fonte: DCA/UFCG; LANDSAT 5TM. Modificado pelo autor.
Visto que os valores de ganho do perfil 2 encontravam-se quase totalmente no
intervalo de 557mm e 535mm de precipitação, resolvemos isolá-los num novo gráfico (Fig.
54), no qual percebemos que a maior parte dos valores está agrupada no intervalo de 535mm e
540mm de precipitação.
Reclassificando o plano de informação da pluviosidade média anual em classes de 10
mm, foram isoladas, com a cor cinza escuro, as regiões no intervalo referido (535-540mm) e,
em seguida, procedeu-se uma correlação visual com a imagem de mPF.
Figura 516. Valores de Ganho do Perfil 2 Isolados.
Fonte: DCA/UFCG; LANDSAT 5TM. Modificado pelo autor.
148
Observando na imagem de mPF as regiões da porção SW do Parque, com intervalo
535-540mm, não apresentaram valores de ganho. Estes valores concentraram-se na porção S,
próximo às localidades da Ponta da Vargem e do Caldeirão que, na imagem de alta resolução
disponível no Google Earth coincidem com uma área de intenso uso da terra (Fig. 55).
Figura 55. Influência do Uso da Terra nos Valores de mPF.
A. Pluviosidade Média Anual, destacando o intervalo entre 535mm e 540mm (cinza escuro); B.
Localização no perfil de valores de ganho na Pigmentação Foliar, coincidentes com o intervalo
pluviométrico mencionado; C. Visualização em detalhe; D. Visualização na imagem Google Earth.
Fonte: DCA/UFCG; LANDSAT 5TM; Google Earth 6. Modificado pelo autor.
Com base nisso, podemos concluir que os sistemas de uso da terra (provavelmente
através de irrigação), na região onde foi traçado o Perfil 2, constituem uma explicação
razoável para o baixo valor de R² para a relação P-MPF.
3.2.1 Relação Altitude (Z) x Mudança na Pigmentação Foliar (mPF)
Adicionalmente, foi testada a relação Z-mPF, com vistas a avaliar a hipótese da
influência do Horst Buíque também sobre os ciclos anuais da vegetação do Parque. O valor de
0,54 da tendência polinomial de ordem 2 (R2), indica uma baixa correlação. Contudo, no
gráfico da figura 47 ficam visíveis alguns indicadores de relação, como por exemplo, o fato de
que acima de 915m não ocorre perda de PF, assim como abaixo de 750m não é registrado
ganho de PF (Fig. 56).
149
Figura 56. Perfil1: Altitude (Z) x Mudança na Pigmentação Foliar (mPF).
Fonte: SRTM/TOPODATA; LANDSAT 5TM. Modificado pelo autor.
Sabendo que altas temperaturas afetam diretamente a fotossíntese e que, a altitude
afeta diretamente a temperatura, podemos levantar a hipótese de que a altitude possa ter um
efeito indireto (através do regime térmico) sobre as mudanças sazonais na pigmentação foliar.
Outra evidência para a sustentação desta hipótese é a simples correlação visual entre
os valores de mPF, de P e os contornos da geomorfologia (Fig. 57). Neste contexto, os valores
de mPF apresentam-se bastante distintos mesmo estando sobre uma mesma faixa de P, mas
que apresentam boa correlação com os contornos da topografia dos Patamares Estruturais da
porção SE do Parque.
Figura 17. Correlação entre Fenologia (à esq.), Pluviosidade e Geomorfologia (à dir.) na Porção SE
do Parque.
Fonte: o autor.
150
Isto pode ser um indicativo de que a geomorfologia realmente possa estar exercendo
algum controle na vegetação, onde os Patamares Estruturais promovem um regime térmico
diferenciado, que por sua vez afeta as taxas de fotossíntese, condicionando maior
produtividade de pigmentação foliar, talvez em função de um regime térmico mais ameno que
o calor excessivo das regiões de entorno (ver a seguir).
Similarmente ao Perfil 1, a relação Z-mPF no Perfil 2 foi relativamente baixa a
moderada, com tendência polinomial (ordem 2) de 0,64 (Fig. 58). De modo similar ao Perfil
anterior, não houve perda de PF, desta vez acima da cota de 919m. Além disso, abaixo de
720m não se verificou ganho de PF, com exceção de 14 pontos (que representam 1,25% do
total de pontos) localizados no intervalo entre 558m e 588m de altitude.
Figura 58. Perfil2: Altitude (Z) x Mudança na Pigmentação Foliar (mPF).
Fonte: o autor.
Conforme realizado para o Perfil 2 da relação P-mPF, também observamos em detalhe
as causas dessas variações (Fig. 59). Assim, o plano de informação da altitude foi
reclassificado, isolando o intervalo de 558m e 588m. Em seguida foram observadas as seções
do perfil, no referido intervalo, a fim de descobrir em quais delas havia registro de ganho de
PF. Tal condição só foi encontrada na região do Vale do Pioré, no qual, por meio da
visualização da imagem disponível no Google Earth, mais uma vez encontramos uma área
sujeita ao uso da terra.
151
Figura 18. Influência do Uso da Terra nos Valores de mPF.
A. Altitude, destacando o intervalo entre 558m e 588m (amarelo); B. Localização no perfil de valores
de ganho na Pigmentação Foliar, coincidentes com o intervalo altimétrico mencionado; C.
Visualização em detalhe; D. Visualização na imagem Google Earth. Fonte: DCA/UFCG; LANDSAT
5TM; Google Earth 6. Modificado pelo autor.
Voltando à discussão da relação altitude-temperatura-fotossíntese, resolvemos estimar
a temperatura média mensal para localidades posicionadas acima dos 900m, utilizando o
programa Estima T (DCA/UFCG, 2003), indicando várias altitudes distintas, observadas em
dados de elevação SRTM.
Com isso, encontramos que, por volta dos 920m, a temperatura média do mês mais
frio tende a ser inferior a 18ºC, que na literatura geográfica tem sido referenciada como
indicativa de climas ‘mesotérmicos’ (NIMER, 1979; BERUCHASHVILI, 1983; KOTTEK et
al., 2006). Além disso, a temperatura máxima fica entre 29ºC (mês mais quente) e 23ºC (mês
mais frio), enquanto a mínima fica entre 18ºC (mês mais quente) e 15ºC (mês mais frio). Estes
intervalos também são solidários com a hipótese de um condicionamento altitudinal da
produtividade biológica.
Contudo, a estimativa também demonstra os mesmos valores mais baixos de
temperatura para a porção NW dos Patamares Estruturais da borda do Parque, que não
apresentam valores de incremento de NDVI. Além disso, os Patamares de NW também se
caracterizam por um valor de pluviosidade abaixo de 600mm, talvez uma explicação para a
maior pigmentação foliar restrita aos Patamares de SE.
152
3.4 Contribuição à Taxonomia dos Geossistemas
Com base nas informações climato-botânicas discutidas aqui, podemos sugerir pelo
menos dois grupos de paisagens para o Parque: Caatingas Secas e Caatingas Subúmidas,
sendo este último localizado sobre a porção SE dos patamares estruturais da borda do Parque.
Em combinação com as subclasses de paisagens definidas no capítulo anterior, podemos
indicar pelo menos 9 categorias de paisagens para a região do Parque Nacional do Catimbau,
a saber (Fig. 60):
Figura 60. Paisagens do Parque Nacional do Catimbau.
Fonte: o autor.
Caatingas subúmidas em patamares estruturais, caatingas secas em patamares estruturais,
caatingas secas em glacis, caatingas secas em pedimentos/glacis, caatingas secas em colinas
íngremes arenosas, caatingas secas em colinas suaves arenosas, caatingas secas em colinas
suaves areno-argilosas, caatingas secas em cristas e morros testemunho, caatingas secas em
planícies.
4 Conclusões
Os dados dos postos pluviométricos apresentaram uma boa correlação entre si, além
de uma boa integração com dados de outras fontes, a exemplo das informações altimétricas,
153
da fenologia e da geomorfologia. Isto significa que, para a área em questão, as informações
disponibilizadas pelo DCA/UFCG possuem certa confiabilidade.
As análises realizadas permitiram concluir que o Parque Nacional do Catimbau
apresenta um regime pluviométrico típico do clima semiárido do Nordeste Brasileiro.
Contudo, sua porção SE se caracteriza por uma forte influência da topografia no curso anual
das chuvas.
O desnível altimétrico que marca a borda E do Horst Buíque, com valor de R² = 0,93
indica um forte controle da pluviosidade pelos contornos da topografia regional, sugerindo a
existência de uma diferenciação vertical das paisagens. Este condicionamento hipsométrico
dos geossistemas, contudo, não se estenderia muito além das proximidades do desnível, onde
voltaria a atuar o clima regional (semiárido).
Assim, teríamos duas categorias de geossistemas regionais na área do Parque: aqueles
condicionados pelo desnível topográfico e; aqueles condicionados pelo clima regional. As
evidências que corroboram esta hipótese incluem os efeitos marcantes da pluviosidade sobre a
distribuição das variações intra-anuais na pigmentação foliar (fenologia), que chega a
apresentar R²=0,85.
Contudo, em áreas de intenso uso da terra, a fenologia parece ser regulada pela
atividade humana, provavelmente em função da irrigação, resultando numa divergência da
marcha anual da precipitação.
A baixa correlação entre a altitude e a fenologia sugere que a relação desnível
altimétrico>chuvas não se estende para uma relação de controle desnível altimétrico
>fenologia. Entretanto, as cimeiras mais elevadas dos patamares estruturais da porção SE do
Parque parecem interagir com os valores de precipitação mais intensos em função da altitude.
Esta relação afeta diretamente a produtividade biológica, pelo menos em termos de
pigmentação foliar.
Com base nas discussões promovidas, uma classificação downscaling dos
geossistemas nos leva a considerar a existência de 9 unidades de paisagem para o PNC. Sendo
apenas uma delas condicionada pela altitude e pluviosidade, sendo as demais compostas por
caatingas secas que colonizam distintos ambientes geomorfológicos mesorregionais.
154
Capítulo 6
Modelagem Cartográfica e Tipologia dos Geossistemas do Parque
Nacional do Catimbau
1 Introdução
O estudo da estrutura da paisagem abrange o delineamento dos limites das paisagens
bem como o reconhecimento de suas partes morfológicas. Por partes morfológicas entende-se
a caracterização dos elementos paisagísticos de dimensões locais, a saber: localidades, tratos,
subtratos e fácies. De outro modo, definição de tipologias para estas unidades auxilia em seu
mapeamento, a exemplo dos grupos e classes de fácies, que Sochava (1978) propõe para a
classificação das categorias locais de geossistemas (geômeros).
Tradicionalmente, o reconhecimento da estrutura morfológica da paisagem tem sido
realizado com base em fotointerpretação auxiliada por observações de campo (ISACHENKO,
1991; ZUCHKOVA; RAKOVSKAIA, 2004). Além disso, cabe ressaltar que a identificação e
registro destas unidades físico-geográficas locais segue uma abordagem diferente daquela que
se usa para a cartografia de geossistemas regionais. Neste sentido é preciso ‘olhar a paisagem
de baixo’ (agrupamento) e não mais ‘de cima’ (divisão lógica).
Para o estudo dos geótopos56, o desenvolvimento das geotecnologias tem permitido
uma maior facilidade na compilação de dados e interpretação de informações para a
classificação e cartografia das paisagens. Como foi visto anteriormente, os referidos
componentes morfológicos das paisagens (fácies, subtratos, tratos e localidades),
tradicionalmente reconhecidos na literatura geográfica, auxiliam na diferenciação detalhada
do território, servindo a propósitos diversos. No nosso caso, espera-se que a cartografia
semidetalhada dos geossistemas do Parque Nacional do Catimbau sirva para a gestão da
unidade de conservação, sendo este o nosso objetivo presente.
2 Metodologia
2.1 Inferência por Geoprocessamento
A determinação dos limites paisagísticos foi realizada por meio de modelagem
cartográfica, baseada na interpretação de planos de informação em dois momentos, a saber: o
primeiro deles voltado para a delimitação dos sítios, e o seguinte para a delimitação dos
estados. Os sítios foram definidos por técnicas de modelagem numérica do terreno, análise
espacial e edição de arquivos vetoriais com base em dados temáticos diversos, sobretudo a
litologia e as morfoestruturas. A delimitação dos estados foi executada tendo como referência
56
Geossistemas locais ou topológicos. Não confundir com o conceito de geótopo de Bertrand (1968).
155
os limites dos sítios, assim como sugerido por Isachenko (1998; 2007), sendo subsidiada
pelos planos de informação dos solos, da vegetação e por imagens de satélite.
Assim, após a inferência dos limites de um determinado sítio (relação relevosubstrato), seus estados (relação solo-vegetação) foram avaliados e, caso houvesse mais de
um estado por sítio este era subdividido (Fig. 61). Em função da resolução espacial das bases
de dados utilizadas (ver a seguir), os mapas finais foram reproduzidos na escala 1:150.000,
com exceção do mapa de geossistemas do Sítio Arqueológico Alcobaça, que foi reproduzido
na escala 1:10.000.
Figura 61. Definição dos Geossistemas pelo cruzamento dos Limites dos Sítios e dos Estados.
Fonte: o autor.
2.1.1 Definição dos Sítios
Os sítios paisagísticos compreendem as condições gerais sobre as quais se diferenciam
estados de diferentes durações. As principais características físico-geográficas que refletem
estas condições são as formas de relevo, a natureza do litotipo (substrato) e o tipo de
drenagem. Estes três elementos, sob um mesmo clima, garantem ambientes distintos para a
circulação geoquímica, a formação de solos e a sucessão vegetal.
Neste sentido, Isachenko e Reznikov (1996), Isachenko (1998; 2005; 2007) e
Isachenko et al. (2010) propuseram e vêm desenvolvendo uma tipologia de sítios
paisagísticos baseada principalmente em observações de campo. Este modelo fundamenta-se
na descrição de grupos e subgrupos que suportam uma indexação (Fig. 62). Neste trabalho,
tentou-se adequar e expandir a supracitada proposta tipológica, construindo uma referência
para classificação de geossistemas para o ambiente semiárido brasileiro.
A determinação dos limites dos sítios foi realizada a partir de quatro planos de
informação principais, a saber: imagens altimétricas TOPODATA, imagens Google Earth,
litologia e morfoestruturas. Os passos de obtenção dos sítios podem ser sumarizados no
esquema da figura 63 e são descritos a seguir.
156
Figura 62. Nomenclatura de Sítios Paisagísticos.
Relevo
Cristalino
Formas positivas
(Δh>5m) drenadas
Encostas muito
íngremes e escarpas
drenadas
Cânions e Vales
Íngremes com
umedecimento
variável
Planícies de
Inundação com
umedecimento
variável
Relevos planos ou
suavemente
ondulados (Δh<5m)
drenados
Relevo plano
pantanoso ou com
estagnação de água,
ainda que periódica
Rocha
Sedimentar
Arenoso a
Franco Arenoso
C/cas S/casc.
c.
Ácid.
Básic
.
Carbonát
.
Terríg.
S
M
C
T
Kfg
Cs
Cm
Cc
Ct
Vs
Vm
Vc
-
-
Ps
Ls
Sedimento
Médio a Argiloso
Orgâni.
C/casc.
S/casc.
Kf
G
Kl
-
Cfg
Cf
Cg
Cl
-
Vt
Vfg
Vf
Vg
Vl
-
-
-
-
Af
-
-
Ab
Pm
Pc
Pt
Pfg
Pf
Pg
Pl
-
Lm
Lc
Lt
Lfg
Lf
Lg
Ll
B
Fonte: Modificado de Isachenko (1998).
Além destas características, Isachenko (2007) sugere que algumas outras letras sejam
utilizadas como indicadoras de áreas anteriormente cultivadas (k). Do mesmo modo, é
interessante incluir na ordem de nomenclatura um indicativo da influência da altitude sobre a
formação dos sítios e seu condicionamento sobre os estados, assim utilizaremos a letra ‘e’.
Figura 63. Fluxograma para Definição de Sítios.
Fonte: o autor.
157
A imagem TOPODATA é um arquivo matricial que apresenta dados de altitude.
Trata-se de um refinamento, por meio de geoestatística, dos dados de elevação adquiridos
entre 11 e 22 de fevereiro do ano 2000 pelo equipamento C/X-Band Synthetic Aperture Radar,
acoplado à nave Endeavour. Os dados possuem acurácia de 16 metros e resolução espacial de
90mx90m, posteriormente, duas imagens de radar, tomadas de pontos ligeiramente diferentes,
foram relacionadas de modo a obter a altitude, tarefa realizada pelo projeto Shuttle Radar
Topography Mission (SRTM). Posteriormente, os dados foram tratados pelo projeto
TOPODATA do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) passando a uma resolução
de 30mx30m (VALERIANO, 2008).
A imagem TOPODATA foi processada no programa de código aberto Quantum Gis
1.8, sendo inicialmente submetida a um estimador de declividade baseado na seguinte
fórmula:
D = arctg {[( ∂Z/∂X )2+( ∂Z/∂Y )2]1/2}
(6.1)
Onde ∂Z/∂X é a derivada parcial na direção X e ∂Z/∂Y, na direção Y, ambos sendo as
componentes do vetor gradiente em uma dada posição (BURROUGH, 1986; FELGUEIRAS,
2001). Foi utilizada a ferramenta Raster/Análise de Terreno/Declividade.
Em seguida, o raster de declividade foi reclassificado em 4 classes representativas do
relevo, a saber: 0 a 3% (relevo plano); 3 a 8% (relevo suavemente inclinado); 8 a 32% (relevo
íngreme) e; >32% (muito íngreme a escarpado). A operação foi realizada com auxílio do
algoritmo de reclassificação de dados raster ‘r.reclass’ do módulo GRASS.
Deste arquivo de declividade reclassificado foi gerado um arquivo vetorial com linhas
de contorno, em seguida convertido da categoria de linhas para a de polígonos. Foram
utilizadas as ferramentas Raster/Extração/Contorno e Vetor/Geometrias/Linhas para
Polígonos, respectivamente.
O arquivo poligonal com a declividade teve sua tabela de atributos modificada e foram
inseridos campos fundamentais para diferenciação dos sítios, os seguintes: forma de relevo,
substrato, gênese do substrato, drenagem do perfil, modo de migração geoquímica, rocha
matriz.
Em seguida, foi realizada uma edição vetorial do arquivo poligonal da declividade.
Esta edição buscou a interpretação dos limites dos sítios com base na inferência dos critérios
citados no parágrafo acima, e teve como referência dados auxiliares e chaves de classificação.
Dentre as bases de dados auxiliares utilizou-se o plano de informação da drenagem do
Zoneamento
Agroecológico
de
Pernambuco
(escala
1:100.000),
as
informações
158
morfoestruturais reunidas no capítulo anterior e imagens disponíveis no Google Earth,
importadas para o Quantum GIS pelo complemento OpenLayers .
A seguir apresentamos os critérios de classificação utilizados para nomenclatura de
cada um dos campos da tabela de atributos do arquivo dos sítios.
Forma de Relevo: compreende o segmento de relevo que pode ser topo, encosta (encosta
superior, meia encosta ou encosta inferior ou basal) e leito, sendo associado à sua declividade
(plana, suavemente inclinada, inclinada, íngreme e muito íngreme a escarpado) (Fig. 64).
Figura 64. Segmentos de Encosta.
Fonte: o autor.
Substrato: corresponde às características gerais do litotipo superficial de uma determinada
forma de relevo, podendo referir-se a algum material consolidado (rocha) ou inconsolidado
(sedimentos e solos). Assim, podemos ter os seguintes tipos de substrato:

Rochoso: quando domina um afloramento rochoso (geralmente ocorre em áreas muito
íngremes a escarpadas);

Arenoso: quando domina uma textura arenosa numa área de material inconsolidado;

Argiloso: quando ocorre uma textura argilosa numa área de material inconsolidado;

Areno-argiloso ou Argilo-arenoso: quando não predominância de material
inconsolidado arenoso ou argiloso;

Pedregoso: quando ocorre cascalho, blocos e/ou matacões. Quando ocorre na porção
inferior de encostas, recebe o nome de depósito de tálus ou, simplesmente, tálus.
Os mapas geológicos e de solos podem dar uma boa indicação da natureza do
substrato, que pode ser confirmada com imagens de satélite e com a forma de relevo (ex.:
dificilmente vai ocorrer um substrato arenoso em áreas muito íngremes ou escarpadas).
159
Gênese do substrato: dá indicativo do processo que conduziu à formação do substrato. Pode
ser de dois tipos gerais: erosivo ou deposicional. O ideal é classificar tipos específicos,
seguindo a chave de classificação abaixo (Fig. 65):
Figura 65. Fluxograma para Determinação da Gênese do Substrato.
Fonte: o autor.
Quando não for possível inferir a gênese do substrato, ela é referida como
‘indeterminada’.
Drenagem do substrato: corresponde às condições de infiltração e escoamento da água no
substrato. São reconhecidas as seguintes classes de drenagem com base no IBGE (2007,
p.196):

Excessivamente drenado: quando a água é removida do substrato muito rapidamente.
É comum em substratos arenosos e rochosos, áreas de topo, vertentes muito íngremes
a escarpadas;

Fortemente drenado: a água é removida do substrato rapidamente. Geralmente são
áreas de topo ou encostas íngremes com substrato arenoso ou areno-argiloso;

Bem drenado: a água é removida do substrato com facilidade, porém não rapidamente;
os substratos comumente apresentam textura argilosa ou argilo-arenosa e formas de
relevo geralmente inclinadas a íngremes;

Moderadamente drenado: a água é removida do substrato um tanto lentamente, de
modo que este permanece molhado por uma pequena, porém significativa, parte do
ano. Geralmente ocorre em áreas de relevo inclinado a suavemente inclinado, quase
sempre com textura argilosa a argilo-arenosa;
160

Imperfeitamente drenado: a água é removida do substrato lentamente, de tal modo que
este permanece molhado por período significativo, mas não durante a maior parte do
ano. Geralmente ocorrem em áreas de meia encosta ou encosta inferior quase sempre
inclinada, suavemente inclinada ou plana, comumente apresentando textura argilosa;

Mal drenado: a água é removida tão lentamente que o substrato permanece molhado
por uma grande parte do ano. O nível freático comumente está à superfície ou próximo
a ela durante uma considerável parte do ano. As condições de má drenagem são
devidas ao nível freático elevado característico de encostas inferiores e proximidade
com áreas de leito. É comum em áreas planas ou suavemente inclinadas;

Muito mal drenado: a água é removida tão lentamente que o nível freático permanece
à superfície ou próximo dela durante a maior parte do ano. Ocorrem em áreas planas
ou depressões fechadas.
Modo de migração geoquímica: corresponde ao modo como a matéria (substâncias químicas)
é transferida de uma forma de relevo para outra (ISACHENKO, 1991; MIRLEAN; TELLES;
DUARTE, 2006). São reconhecidos os seguintes tipos de modos de migração (Fig. 66):
Figura 66. Modos de Migração Geoquímica.
Fonte: Adaptado de ROJKOV et al. 1996.

Eluvial: trata-se de formas de relevo que não recebem matéria das outras, ou seja, elas
apenas recebem substâncias de origem atmosférica (pela chuva) ou por algum por
ação biogênica. As áreas de topo é que apresentam um modo de migração eluvial;

Eluvial-Acumulativo: são áreas de topo deprimidas, ou seja, que recebem e guardam
todas as substâncias;

Transeluvial: geralmente são áreas de encosta superior ou meia encosta, ou mesmo de
baixa encosta quando não há ocorrência de nível freático. São áreas que recebem e
transferem substâncias sem ter condições de acumulá-las;
161

Transeluvial Acumulativa: áreas muito planas e com dificuldade de infiltração, que
tendem à estagnação da água, mas sem permanência da água por muito tempo no
substrato;

Transacumulativas: formas de relevo em que há oscilação do nível freático.
Geralmente na encosta inferior. Estas áreas recebem material que vem de encosta
acima e, em função do nível freático oscilante, terminam acumulando algum material;

Acumulativas ou superaquosas: formas de relevo em que o nível freático atinge o
horizonte superficial do solo;

Subaquosas: formas de relevo totalmente imersas.
Rocha matriz: diz respeito à rocha que deu origem ao material que compõe o substrato. É
inferida preferencialmente a partir do mapa geológico. Quando mais de um litotipo é
responsável pela composição do substrato (no caso do leito de um rio que corta uma área com
vários substratos diferentes), é indicada a classe ‘diversos’. Quando for impossível inferir a
rocha matriz indica-se a classe: ‘indeterminada’.
2.1.2 Definição dos Estados
Diferentemente dos sítios paisagísticos, a nomenclatura dos estados é bastante
variável, sobretudo em função da diversidade de categorias de estados (diários, intradiários,
sazonais, etc.). Para fins de cartografia de geossistemas, é interessante representar os estados
de longo prazo, representados pelos tipos de cobertura pedológica e comunidades vegetais
(afetadas ou não pelo uso da terra). Entendendo que a nomenclatura de estados de longo prazo
para o Nordeste brasileiro ainda não existe, apresentamos, a seguir, uma proposta de
indexação baseada na literatura existente, enfocando, sobretudo, na realidade da área de
estudo.
Refletindo solos e vegetação, podemos distinguir duas categorias de estados de longo
prazo, os pedogênicos e os vegetacionais, respectivamente. Compreendendo isto, uma
nomenclatura geral de estados precisa considerar, mesmo que de modo generalista, as
relações entre estas duas categorias.
Um primeiro passo neste sentido pode-se basear nas considerações biogeográficas
gerais de Cardoso e Queiroz, que reforçaram a perspectiva de outros autores como AndradeLima (1981) e Prado (2003), ao afirmar que a flora do semiárido brasileiro apresenta uma
variação florística distinta nas bacias sedimentares e nas áreas de rochas cristalinas, que
caracterizam solos profundos e arenosos e solos rasos e argilosos, respectivamente.
162
De outro modo, Santos et al. (2011), destacam dois padrões fisionômicos da flora das
caatingas, um padrão florestal (forest stand) e outro rupestre (scrub land). No primeiro
dominariam espécies lenhosas, sobretudo árvores e arbustos, enquanto nas áreas de
afloramentos rochosos seriam mais comuns espécies de Cactacea e Bromeliacea.
Uma diferenciação destes padrões fitofisionômicos, poderia ser realizada com base em
critérios simples como, por exemplo, a projeção da cobertura vegetal e as condições de
sustentação. Deste modo, o padrão florestal pode ser fechado, onde as copas são interdigitadas
e não é possível enxergar o solo a partir de uma imagem (aérea ou orbital) ou aberto quando
as copas estão separadas e torna-se possível observar o solo a partir de fotointerpretação.
Além disso, uma caatinga fortemente afetada pelo desmatamento pode apresentar um
padrão gramíneo-lenhoso, marcado pela presença de indivíduos ou pequenos grupos isolados
de árvores e/ou arbustos, dispersos em meio a herbáceas pioneiras e pequenos arbustos. Outra
influencia sobre os estados do semiárido brasileiro é o hidromorfismo, que condiciona a
formação de padrões fisionômicos fisiológicos e florísticos com caráter hidrófilo, sejam eles
ripários ou mesmo aquáticos, crescendo geralmente em solos argilosos de baixadas muito
úmidas (Vertissolos).
Considerando que a diferenciação dos sítios já traz a indicação da natureza do
substrato (cristalino ou sedimentar), influência da ação antrópica, efeito da altitude e aspecto
geral dos solos e que, algumas nomenclaturas discutidas acima refletem a natureza do
substrato (rupestre, hidrófila), podemos traçar uma proposta de nomenclatura para grupos de
estados do semiárido brasileiro (Fig. 67).
A determinação dos limites dos estados teve como referência os limites dos sítios, de
acordo com a proposta de Isachenko (2007) e foi realizada a partir de dois planos de
informação, a saber: imagens Google Earth e os sítios. Os passos de obtenção dos estados
podem ser sumarizados no esquema da Figura 68 e são descritos a seguir. As letras entre
parênteses constituem um indexador do grupo de estados, estas letras são precedidas de uma
maiúscula indicando o domínio florístico, a saber: Caatingas ‘T’, Cerrado ‘S’, Mata Atlântica
‘M’ e ‘A’, para área com espécies introduzidas pela sociedade.
Em caso de as observações revelarem uma composição florística mista, esta era
indicada por ‘m’. Por exemplo, um estado rupestre pedimentar (Rp) com elementos florísticos
mistos, típicos das Caatingas (T) e de Cerrado (S) é representado por TSm/Rp. Enquanto uma
Caatinga rupestre pedimentar é representada por T/Rp.
163
Substrato
Rochoso
Rupestre
(Rp)
Indivíduos agrupados sobre pedimentos rochosos
Ambiente
Hídrico
Substrato Cristalino
ou Sedimentar
Figura 67. Proposta de Nomenclatura para Grupos Estados.
Grupos de Estados
Descrição
Florestal
Indivíduos lenhosos (árvores e arbustos) e sem interditgitação dos dosséis,
Aberto
sendo possível ver o solo a partir de imagens áreas ou orbitais
(Fa)
Florestal
Indivíduos lenhosos (árvores e arbustos) com interditgitação dos dosséis,
Fechado
não sendo possível ver o solo a partir de imagens áreas ou orbitais
(Ff)
GramíneoÁrea com predomínio de gramíneas com indivíduos lenhosos esparsos
Lenhosa
(Fgl)
Hidrófila
(H)
Formações aquáticas ou ripárias
Fonte: o autor.
Figura 68. Fluxograma para Determinação dos Estados.
Fonte: o autor.
Os estados são obtidos principalmente pela interpretação de imagens orbitais de alta
resolução e pelo mapa de solos. As classes de solos para cada sítio podem ser obtidas de um
mapa temático de solos e seus limites podem ser redesenhados e inferidos com base nos
limites dos sítios. A base para a interpretação dos estados vegetacionais foi o mapa de
cobertura e uso do solo do Parque Nacional do Catimbau, elaborado por Guerra (2004).
164
2.2 Cartografia de Geossistemas e Descrições Físico-Geográficas
A carta de geossistemas representa um modelo conceitual da estrutura da paisagem
(SOCHAVA, 1978). A cartografia de geossistemas locais baseia-se preferencialmente em
descrições físico-geográficas realizadas em campo. A carta de geossistemas é elaborada ao
longo de cinco etapas, a saber: Escolha da área e nível de detalhamento; Descrição FísicoGeográfica completa; Descrição Físico-Geográfica simples, Elaboração de Tipologia de Sítios
e Estados; Confecção da Carta. As características gerais destas etapas são sumarizadas na
figura 69.
Figura 19. Etapas da Cartografia de Geossistemas.
Etapa
Subetapas
Equipamentos necessários
Seleção
da
área
de
estudo;
Imagens
aéreas e/ou orbitais,
Escolha da área e do nível de
Definição do tamanho da
cartas topográficas, SIG.
detalhamento
amostra;
Reunião de material de
referência (imagens de satélite
de alta resolução, fotografias
aéreas, cartas topográficas,
dados temáticos).
Seleção das áreas de controle;
Caneta/lápis, caderneta de
Descrições FísicoElaboração de um roteiro de
campo, receptor GPS, bússola,
Geográficas completas
campo;
altímetro, trena (30m), pá,
Visita a campo;
enxada e/ou trado, carta de
Plotagem de pontos sobre uma
cores de Munsell (para solos),
carta de referência.
máquina fotográfica, fotocópias
do roteiro de campo.
Cobertura das áreas não
Idem acima.
Descrições Físicovisitadas;
Geográficas simples
Plotagem de pontos sobre uma
carta de referência;
Cobertura final das áreas não
visitadas (se necessário);
Tabulação dos dados em
Programa para trabalhar em
Elaboração da tipologia de
computador;
planilhas.
sítios e estados
Construção da legenda do mapa
(quadro de correlação).
Plotagem dos pontos sobre
Sistema de Informações
Confecção da carta de
imagens de satélite, fotografias
Geográficas
geossistemas
aéreas e/ou curvas de nível
Fonte: o autor.
Uma etapa fundamental da cartografia de geossistemas é a descrição físico-geográfica,
que consiste na observação e registro de atributos físico-geográficos da paisagem, no campo.
Envolve a descrição das formas do relevo, drenagem, litotipo, solos, vegetação, uso da terra,
além de outras informações que sejam relevantes para caracterização de alguma área. Em
geral, as observações são realizadas em parcelas de 30xm30m (ISACHENKO, 1998;
ZUCHKOVA; RAKOVSKAIA, 2004; EGOROV, 2008).
165
A descrição físico-geográfica pode ser de dois tipos: completa ou simples. Qualquer
atividade de cartografia de geossistemas inicia-se com a elaboração de descrições completas,
que resultam de observações mais detalhadas, com controle seletivo dos locais observados, de
modo a se obter um reconhecimento da maior diversidade possível de paisagens da área que
está sendo mapeada. Este tipo de descrição serve de referência para o estabelecimento de uma
tipologia de sítios e estados.
Já as descrições simples são realizadas com o objetivo de adensar a malha de
observações e auxiliar na construção da carta de geossistemas, sendo elaborada de modo a
cobrir as regiões ainda não mapeadas e detectar as variações nos tipos de sítios e estados já
identificados. Figura 70 apresenta um resumo dos atributos que fazem parte de uma descrição
físico-geográfica.
Figura 70. Critérios para Descrição Físico-Geográfica.
Atributos
Critérios
Coordenadas
geográficas;
Datum; Data; Número da descrição.
Cabeçalho
Altitude, declividade, orientação do relevo, curvatura e
Relevo
processos superficiais atuais (erosão laminar, erosão linear,
etc.) e pretéritos (ex.: queda de blocos).
Condição de Drenagem; Modo de migração geoquímica.
Drenagem
Camadas sedimentares e horizontes pedogenéticos, indicando
Litotipo/Solo
sua espessura, cor, textura, estrutura e presença de mosqueado,
cascalho e raízes. Também indicando o tipo de rocha.
Cobertura da terra Cobertura biofísica do terreno, sendo o mais específico quanto
possível. No caso de um ambiente florestal, por exemplo: é
preciso indicar a quantidade de estratos, sua altura, cobertura e
as espécies/gêneros dominantes e suas formas de crescimento.
Inclui registro das evidências de uso da terra (agricultura,
Uso da terra
pecuária, etc.)
Fonte: o autor.
Neste trabalho, as descrições de campo foram utilizadas para validar e auxiliar as
interpretações das informações obtidas por meio do geoprocessamento. Sendo assim, as áreas
amostrais escolhidas basearam-se em critérios logísticos (principalmente acessibilidade e
infraestrutura) e em contrastes paisagísticos gerais (contato cristalino-sedimentar, transição
dos patamares estruturais para os glacis da borda da bacia sedimentar, variações litológicas e
abruptas de relevo, condições climáticas distintas).
Além disso, foi confeccionada uma carta de detalhe (1:10.000) na região do Sítio
Arqueológico Alcobaça, tendo como objetivo detalhar uma tipologia de sítios e estados para
os ambientes arenosos do semiárido brasileiro. A Fig. 71 e o mapa da Fig. 72 sumarizam as
166
condições gerais de escolha das áreas amostrais e as características e distribuição das 13257
descrições realizadas.
Figura 20. Características das Descrições Físico-Geográficas Realizadas.
Local
Motivo da
Data
Duração Descrições Equidistância
Escolha
(dias)
dos pontos
Sítio Arqueológico
Detalhamento 11/2010
5
52
50m
Alcobaça/Brejo de São José
da Tipologia
Fazenda Brejo de São José
Transição da 08/2011
5
25
1000m
borda da
Bacia
Lagoa do Puiú-Cumbe
Variações
05/2012
2
12
1000m
litológicas
Serra do Catimbau
Área com
07/2012
5
26
500m
Caatingas
Subúmidas
Xilili
Contato
01/2013
1
14
500m
cristalinosedimentar
Fonte: o autor.
Foram utilizados os seguintes instrumentos auxiliares: receptor GPS (com altímetro
barométrico e bússola), caderno, caneta, câmera fotográfica, pá (de preferência de corte com
ponta redonda, também chamada “pá cortadeira de bico”), faca e/ou canivete (para o solo),
Carta de Munsell, pulverizador, trena e/ou fita métrica. Neste trabalho também foi necessário
carregar uma cópia da autorização58 do Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMbio),
responsável pela administração do Parque.
2.2.1 Processamento dos dados
O processamento dos dados foi realizado a partir da construção de quadros de
correlação com as informações obtidas em campo. Tal ferramenta consiste na elaboração de
um quadro onde são dispostos, e assim correlacionados, os diversos elementos ambientais no
modo como eles foram observados na paisagem. Trata-se de uma técnica lógica de síntese
ambiental, que substitui a simples sobreposição de mapas, considerada subjetiva
(MARTINELLI, 2011).
57
58
Foram utilizadas 3 parcelas descritas no trabalho de Fonseca (2012).
Autorização Nº 23250-1, de 24/08/2010.
167
Neste trabalho adotou-se o modelo de quadros de correlação desenvolvido por
Fonte: o autor.
Figura 72. Distribuição das Descrições Físico-Geográficas Realizadas.
Isachenko & Reznikov (1996), baseado em duas variáveis: sítios e estados. Um sítio
corresponde a uma unidade geomorfológica, isto é, uma forma de relevo que apresenta as
mesmas características do substrato (litotipo) e um mesmo regime hídrico subsuperficial.
Um estado compreende uma fase de mudança da paisagem, podendo-se identificar
estados de curto prazo (intra-anuais), médio (interanuais) e longo prazo (interanuais
168
superiores a uma década). No caso de estudo de campo com fins de mapeamento, observamse os estados de longo prazo, que são aqueles de ordem pedológica (tipos de solos) e de
ordem biocenótica (comunidades vegetais). Na proposta de Isachenko e Reznikov (1996), os
estados vegetacionais e pedológicos são ordenados de acordo com o tipo de sítio em que
ocorrem, sendo possível distinguir duas etapas para sua construção:
1. Elaboração de uma matriz inicial com os dados observados em campo (Fig. 73), onde
cada coluna corresponde a um atributo observado (ponto de descrição, sítio, estados
pedológicos e estados vegetacionais) e as linhas correspondem às variações dos
atributos em cada local observado.
Figura 73. Matriz Hipotética de Dados Ambientais Observados no Campo.
Local da descrição Sítios (r) Solos (s) Vegetação (v)
r1
s1
v1
1
r1
s2
v3
2
r1
s1
v2
3
r1
s2
v3
4
r2
s1
v2
5
Fonte: o autor.
2. Em seguida, a matriz é rearranjada, organizando a vegetação por tipo de solo e os
solos por tipo de sítio (Fig. 74). O princípio que rege esse tipo de correlação é o
mesmo que rege a ecodinâmica de Tricart (1977), a saber: as transformações
pedológicas e a sucessão vegetacional só podem ocorrer quando há estabilidade
geomorfológica (ou uma instabilidade moderada). Logo, um sítio (unidade
geomorfológica) é a unidade de referência sobre a qual se distribuem os estados
pedogênicos e vegetacionais. O geossistema é, deste modo, um sítio e seus estados.
Figura 74. Quadro de Correlação dos Dados Ambientais para determinação dos Geossistemas.
Local da descrição
Sítios
1, 3, 5
r1
2, 4
r2
Estados de Longo Prazo
Solos
Vegetação
s1
v1
v2
s2
v3
s1
v1
v2
Fonte: o autor.
Geossistemas
(G)
G1
G2
G3
G4
G5
O quadro de correlação funciona como a legenda do mapa de geossistemas, que é
elaborada a partir da plotagem dos pontos observados sobre dados auxiliares (curvas de nível,
imagens de satélite de alta resolução, dados temáticos, etc.), a partir dos quais se elabora o
contorno dos geossistemas. Contudo, uma vez que este trabalho busca a identificação dos
169
limites naturais por meio de geoprocessamento, as descrições físico-geográficas foram
utilizadas para validar as unidades inferidas em SIG.
3 Resultados e Discussão
A observação da estrutura das paisagens no campo trouxe importantes considerações
sobre sua diversidade e que não foram possíveis inferir por meio de geoprocessamento, deste
modo, algumas unidades dos mapas de sítio e estados foram reajustadas conforme a realidade
observada em campo (ver Apêndice A).
3.1 Perfil Puiú-Cumbe
Na planície do Riacho do Pioré, cuja drenagem é controlada pelo Graben do Puiú,
uma série de litótipos intercalados (Fm. Inajá, Sergí e Tacaratú) aparecem no mapa geológico.
Nesta região, descrevemos 13 pontos com equidistância média de 1 km, no intervalo
altimétrico de 437m a 572m. As observações foram realizadas em maio de 2012. A paisagem
da região é margeada pelos patamares estruturais do Horst do Quiridalho (localmente
denominada Serra do Quiridalho), apresentando duas lagoas (Puiú e Maria Preta) e uma
sequência de depósitos coluviais em rampas na base dos patamares.
Os solos são predominantemente arenosos e pouco desenvolvidos (Neossolos
Quartzarênicos). Contudo, nas proximidades e nas áreas das duas lagoas encontram-se
Vertissolos. Na região dos patamares estruturais, encontram-se escalonados Neossolos
Litólicos e Quartzarênicos.
A vegetação da área é tipicamente arbustiva, dominada por Poincianella e Jatropha,
sempre com Mimosa, Croton e Pilosocereus, não raras vezes com Ziziphus e Cnidoscolus
(principalmente quercifolius). Nas proximidades da localidade do Cumbe, foram identificados
pavimentos detríticos com Pilosocereus gounelei.
O uso da terra exerce uma influência significativa na distribuição da vegetação. Nas
proximidades das lagoas, é muito frequente a ocorrência das exóticas Prosopis e Parkinsonia,
principalmente a primeira. Ainda às margens do ambiente lacustre destaca-se a ocorrência de
Ipomoea, Nicotiana e Tarenaya.
3.2 Perfil Xilili
Nas áreas de rocha cristalina, no setor NE do Parque, foram observados 14 pontos ao
longo de 7km, em altitudes no intervalo de 560m a 630m, próximos à localidade do Xilili,
170
objetivando a constituição de uma seção-tipo representativa (Fig. 75). As observações foram
realizadas no mês de janeiro de 2013.
Figura 75. Seção Esquemática da Paisagem no Perfil Xilili.
1.Pedimento Rochoso no Cristalino (Ps/p); 2.Pedimento com estagnação sazonal de água (Ls/p); 3.
Glacis Arenoso Conservado (Pf/c); 4. Inselbergue baixo em Serpentinito (M); 5.Poincianella;
6.Mimosa; 7.Maytenus; 8.Ipomoea; 9.Commiphora; 10.Ziziphus; 11.Tacinga; 12.Aspidosperma;
13.Schinopsis; 14.Croton; 15.Jatropha; 16.Prosopis; 17.Pilosocereus (pachycladus e/ou gounellei);
18.Pilosocereus (tuberculatus); 19.Cnidoscolus (cf. quercifolius); 20.Cnidoscolus (cf. pubescens).
Fonte: o autor.
No Perfil Xilili a paisagem desenvolve-se sobre um pedimento estruturado em rochas
metamórficas ocasionalmente inumadas por um manto arenoso, às vezes raso (havendo
migração da argila do cristalino por capilaridade) às vezes profundo, evidenciando a base
dissecada de algum antigo morro testemunho (Fig. 76).
Neste contexto, desenvolvem-se solos rasos sobre camadas alteradas de rocha ou sobre
algum material transportado, geralmente com clastos de tamanhos variados, compondo
pavimentos detríticos que ocasionalmente estão intercalados com afloramentos rochosos
(Neossolos Litólicos) e dificilmente guardam um horizonte A. Muitas vezes o solo reflete a
planura do relevo e seu efeito sobre a estagnação da água, resulta na formação de um
horizonte B bastante argiloso de cor reduzida (B plânico). Onde a cobertura arenosa é rasa, a
argila do horizonte B plânico migra por capilaridade e é percebida na camada arenosa
superior. Onde a cobertura arenosa é mais profunda, o efeito da migração da argila não é
percebido (Neossolos Quartzarênicos) e, no caso observado, estes solos são acompanhados
pela presença de elementos florísticos peculiares aos solos arenosos (ver a seguir).
171
Figura 76. Paisagem no Xilili.
(A) Pavimento detrítico (Ps/g) com Caatinga Rupestre Pedimentar (T/Rp); (B) Pedimento (Ls/p) com
Formações Gramíneo-Lenhosas (TAm/Fgl1); (C) Ortognaisse; (D) Planícies Arenosas Conservadas
(Glacis – Pf/c) com Caatinga em regeneração (TAm/Fgl2); (E) Pedimento Rochoso (Ps/r) com
Caatinga Rupestre (T/Rp); (F) Planossolo. Fonte: o autor.
A vegetação é de baixo porte, geralmente com indivíduos de Poincianella,
Cnidoscolus, Mimosa e Aspidosperma com 3m a 4m compondo o dossel aberto e elementos
arbóreos emergentes de Schinopsis e secundariamente Commiphora. Esta vegetação recobre
um pedimento desenvolvido por vezes dissecado.
Destaca-se o contraste na ocorrência de duas espécies do gênero Cnidoscolus, a saber:
C. quercifolius e C. pubescens (Fig. 77), estando a primeira distribuída ao longo de todo o
perfil, com exceção da área onde ocorrem Neossolos Quartzarênicos (RQ), que é justamente
172
onde ocorrem e dominam indivíduos da espécie C. pubescens, o que permite aventar uma
hipótese acerca da relação entre a distribuição destas espécies em função do conteúdo de
argila no solo. Uma relação similar foi encontrada para Pilosocereus tuberculatus, só
registrado na área dos RQ.
Figura 21. Diferentes Espécies de Cnidoscolus que Ocorrem em Substratos Distintos.
Fonte: o autor.
3.3 Brejo de São José e Sítio Arqueológico Alcobaça
As paisagens da borda leste do Parque Nacional do Catimbau são das mais
exuberantes do ponto de vista cênico. A paisagem marcada por glacis arenosos cuja
distribuição é interrompida por morros testemunhos, numa faixa altitudinal entre 670 e 810m,
caracteriza um conjunto de rara dramaticidade (Fig. 78).
O mapa de geossistemas do sítio
Nesta região, as principais variações paisagísticas se dão ao longo de pelo menos dois
tipos de transição, uma mais abrupta, assinalada pela sequencia que se desenvolve a partir das
escarpas (algumas vezes com alcovas), marcadas por um tálus, colúvios diversos e por fim,
glacis arenosos (Fig. 79). Os solos acompanham a distribuição do relevo, as escarpas
marcando a ausência de solos, enquanto o tálus apresenta solos rasos e rochosos (Neossolos
Litólicos), passando a solos arenosos profundos com grande conteúdo de clastos (Neossolos
Quartzarênicos Órticos Fragmentários) a até solos arenosos e profundos com ausência de
clastos (Neossolos Quartzarênicos Órticos Típicos).
173
Figura 78. Paisagem do Brejo de São José.
Acima: Glacis Arenoso (Pf) e ao fundo Patamares Estruturais (Ct/p) e Escarpamentos (Ct/f). Abaixo:
Glacis Arenoso Conservado com Caatinga Gramíneo-Lenhosa (Pf/c – TAm/Fgl) e Neossolos
Quartzarênico (à esq.) Fonte: Daniel R. Lira, 2011.
Um destaque é o Sítio Pingadeira localizado num estreito corredor na base da escarpa.
A área apresenta um olho d’água que confere um caráter hidromórfico aos solos arenosos
(Neossolos Quartzarênicos Hidromórficos). Além disso, este setor é marcado pela presença
extensiva de espécies pouco comuns ao domínio florístico do semiárido brasileiro, como
Cecropia sp. E Attalea sp., bem como a presença da hidrófila Typha sp..
174
Figura 22. Transição Abrupta entre Conjuntos Paisagísticos.
A – Escarpa (Ct/f); B – Alcova (Ct/a); C – Tálus (Ct/t). Fonte: o autor.
De modo geral, a vegetação tende a apresentar uma fisionomia florestal fechada nas
proximidades das escarpas e sobre o tálus, tornando-se mais aberta à medida em que se
distancia dessas morfologias. Com exceção da unidade descrita acima, a composição florística
é típica de caatingas arenosas da região, com ocorrência de Cnidoscolus pubescens e
Pilosocereus tuberculatus (Caxacubrí), esta última que é uma entre 10 espécies de cactáceas
encontradas no local (P. gounellei, P. pachycladus; Tacinga inamoema; T. palmadora;
Rhipsalis sp.; Melocactus sp.; Harrisia adscendens; Cereus jamacaru e C. albicaules).
Outras espécies comuns são Poincianella pyramidalis (Catingueira); Ziziphus joazeiro
(Juazeiro), Sideroxylon obtusifolium (Quixabeira) e Commiphora leptophloeos (Imburana).
Outro destaque é Pityrocarpa, que ocorreu apenas sobre o tálus ou em patamares acima dos
700m.
175
Por outro modo, os patamares estruturais podem ocorrer de forma menos abrupta,
caracterizando feições de maior grau de dissecação, apresentando sequencias ora recobertas
por depósitos superficiais incoesos, ora desnudas (Fig. 80). As porções recobertas geralmente
são marcadas por uma mudança gradativa da granulometria dos materiais, indo dos
pavimentos detríticos nos setores proximais, a seções psamíticas ou psamo-pelíticas sobre os
distais.
Figura 80. Transição Suave de Conjuntos Paisagísticos.
A – Pavimento Detrítico (Pt/g); B – Patamar Inumado (Pt/c); C – Patamar Exumado (Pt/r); D – Glacis
Arenoso Conservado (Pf/c). Fonte: o autor.
Nas seções de pavimentos detríticos, o substrato alterado é por vezes argiloso, muitas
vezes dando origem a Argissolos Amarelos. O material carreado encosta abaixo compõe solos
arenosos que, ocasionalmente apresentam um maior grau de desenvolvimento elevado
(Latossolos). Contudo, o predomínio é de Neossolos Quartzarênicos e/ou Litólicos.
A vegetação é marcada pelos mesmos elementos comuns descritos acima. Os gráficos
de distribuição das espécies dominantes por parcela foram agrupados conforme o grau de
detalhamento da amostragem, para o Brejo de São José (1:50.000) e para o Sítio
Arqueológico Alcobaça (1:10.000) (Fig. 81), mostrando uma dominância de Ziziphus.
O mapa de geossistemas do Sítio Arqueológico Alcobaça (Fig. 82), na escala
1:10.000, retrata os principais contrastes paisagísticos locais, permitindo um conhecimento
mais detalhado da estrutura morfológica da paisagem e contradizendo qualquer ideia de que a
abordagem geossistêmica não se aplica a áreas de pequenas dimensões.
Figura 23. Espécies Dominantes para o Sítio Alcobaça e o Brejo de São José.
176
Fonte: o autor.
Figura 82. Mapa dos Geossistemas do Sítio Arqueológico Alcobaça.
177
178
3.4 Serra do Catimbau
Nas porções elevadas da borda da Bacia do Jatobá, em altitudes superiores à cota de
890m, foram observados 27 pontos numa área de aproximadamente 13,5km, na localidade da
Serra do Catimbau, que auxiliaram na composição de uma seção-tipo representativa. As
observações foram realizadas no mês de julho de 2012 (Fig. 83).
Figura 83. Paisagem da Serra do Catimbau.
A: Pavimento Rochoso (Pt/r); B: Arenito cinza, friável; C: Feições de dissolução no Arenito; D:
Assembleia de Colunas Areníticas (Pt/a); E: Pavimento Rochoso em degraus controlados por
estruturas NNE (Pt/r); F: Solo desenvolvido a partir de alteração do arenito. Fonte: o autor.
179
O Perfil Serra do Catimbau caracteriza uma paisagem de cimeira plana fortemente
delimitada por escarpas com desníveis que algumas vezes superam os 200m, e geralmente são
sucedidos por diversos níveis escalonados de patamares estruturais ora desnudos, ora com
cobertura elúvio-coluvial arenosa.
A superfície é extensivamente dominada por um arenito cinza a creme, friável, similar
à Fácies B do Arenito Tacaratú, como descrita por Carvalho (2010). A superfície plana da
cimeira facilita a drenagem vertical, dando origem a solos bastante profundos e desenvolvidos
(Latossolos), enquanto nas escarpas, ora escalonadas, a cobertura arenosa não raras vezes é
bastante delgada e parece permanecer pouco tempo na paisagem (Neossolos Litólicos), outras
vezes
é
profunda,
mas
sem
grande
desenvolvimento
pedogenético
(Neossolos
Quartzarênicos). Em alguns pontos, encontram-se coberturas detríticas sobre um pavimento
argiloso, aparentemente rochas intemperizadas com textura mais pesada.
A vegetação diverge completamente do que foi observado até então, apresentando
inclusive espécies incomuns como Jacaranda rugosa, que até hoje só foi registrada nessa
localidade e Paralychnophora reflexoauriculata comum aos campos rupestres da Chapada
Diamantina. Além disso, os elementos dominantes destoam grandemente do resto dos pontos
observados, destacando-se Gochnatia, Guapira e Pityrocarpa (Fig. 84).
Figura 84. Faixa Paisagística Altitudinal da Porção SE do Parque Nacional do Catimbau.
Fonte: o autor.
Neste momento, podemos retomar as discussões do capítulo anterior, em que se
verificou um regime intra-anual distinto para esta região em termos de pigmentação foliar, de
pluviosidade e de temperatura, em função da altitude e do desnível topográfico. Aqui temos
180
solos e plantas diferentes, raras e até únicas. Nas cimeiras planas dominam Gochnatia,
Guapira e Pityrocarpa, enquanto sobre os patamares rochosos prevalecem comunidades de
campos rupestres, com pelo menos duas espécies de Clusia, uma de Paralychnophora e uma
diversidade particular de Bromeliaceae e Orchidaceae. Nos pavimentos detríticos registrou-se
ocorrência de Campomanesia e Eugenia, mas sempre com Gochnatia. Outro elemento
importante que pode auxiliar na distinção da faixa paisagística altitudinal é a ocorrência de
espécies do gênero Tacinga (popularmente conhecidas como quipá e palmatória), típicas de
ambientes semiáridos, só ocorrem abaixo dos 900m.
Estas características paisagísticas são suficientes para confirmar a paisagem de
Caatingas Subúmidas em Patamares Estruturais do capítulo anterior, cuja estrutura
morfológica é composta por feições de Cimeira Plana com Caatingas Subúmidas, Pavimentos
Detríticos com Caatingas Subúmidas e Pavimentos Rochosos com Campos Rupestres.
3.6 Carta de Geossistemas
Unindo os resultados das descrições de campo à inferência por geoprocessamento,
foram identificados 25 grupos de sítios paisagísticos (Fig. 85), determinados pelas
peculiaridades do relevo, drenagem, geoquímica, substrato, gênese dos sítios e rocha matriz
(Ver Apêndice B). Associados aos limites dos 7 grupos de estados (Fig. 86) permitiram inferir
61 diferentes grupos de geossistemas locais (Fig. 87).
Do ponto de vista puramente metodológico, a identificação de mais de uma centena de
áreas naturais de dimensões locais, baseada em princípios estabelecidos pela teoria dos
geossistemas, é contrária à ideia errônea de muitos geógrafos brasileiros sobre a referida
teoria, para os quais a ideia de geossistemas associa-se à escalas de trabalho pequenas. Deste
modo, fica claro que tais geógrafos encaram o conceito de geossistema como parte de um
simples procedimento descritivo das paisagens, sem considerar seus princípios e conceitos
norteadores, a exemplo das noções de sítios e estados.
Ainda no tocante a questões de metodologia, cabe ressaltar, que a melhor aproximação
sobre a compartimentação ambiental do Parque, realizada por Silva et al. (2001), apresenta
apenas 7 unidades geoambientais (Fig.88), que se aproximam muito mais do mapa de sítios
do que do mapa de geossistemas, com 61 diferentes tipos identificados. Deste modo, percebese que o modelo das unidades geoambientais reflete muito mais as características físicas dos
complexos naturais do que realmente um quadro integrado da paisagem.
Fonte: o autor.
Figura 24. Sítios Paisagísticos do Parque Nacional do Catimbau.
181
Fonte: o autor.
Figura 25. Grupos de Estados do Parque Nacional do Catimbau.
182
183
dos
aspectos
puramente
metodológicos,
os
mapas
inferidos
por
Fonte: o autor.
Figura 87. Grupos de Geocomplexos do Parque Nacional do Catimbau.
Além
geoprocessamento, com auxílio das informações de campo, trouxeram informações
importantes sobre o Parque. Neste sentido, é preciso destacar que em relação à distribuição
184
dos estados, há uma tendência de mudança em função da sucessão florestal, sobretudo nas
áreas de formação gramíneo-lenhosas, sobretudo porque sua origem está associada ao
desmatamento para uso da terra e que, a partir da consolidação da Unidade de Conservação
passarão a assumir outros padrões (ex.: caatinga florestal). Além disso, uma simples
observação do mapa de geossistemas permite destacar as porções E e SE do Parque como
aquelas que apresentam maior heterogeneidade ambiental, principalmente quando comparadas
à porção central da Unidade de Conservação.
Figura 88. Unidades Geoambientais (acima) e Grupos de Geocomplexos (abaixo).
Fonte: Silva et al., 2001; o autor.
Os 61 tipos de geossistemas identificados dão uma ideia do conjunto paisagístico local
do Parque e somam-se às informações já levantadas nos capítulos anteriores para nos dar uma
185
compreensão maior da organização das áreas naturais da referida Unidade de Conservação.
Porém, os dados obtidos por geoprocessamento não nos oferecem uma visão clara sobre a
hierarquia das unidades, uma vez que o mapa de geossistemas não necessariamente inclui
unicamente fácies físico-geográficas, sobretudo em função da baixa densidade espacial da
maior parte do Parque.
4 Conclusões
Este capítulo apresentou uma modelagem cartográfica das paisagens do Parque
Nacional do Catimbau, realizada semi-qualitativamente por meio de inferências mediadas
pelo geoprocessamento e consubstanciadas por dados de campo. Os resultados apresentaramse bastante satisfatórios no que tange a promoção de um detalhamento inédito dos
compartimentos ambientais da Unidade de Conservação, com a identificação de 61
geossistemas determinados a partir da correlação espacial entre 25 grupos de sítios
paisagísticos e 7 grupos de estados.
Uma correlação com o mapa de unidades geoambientais do ZAPE revelou um avanço
em termos de reconhecimento da diversidade paisagística do Parque Nacional do Catimbau,
que até o momento da finalização deste trabalho, não possuía plano de manejo. Além disso,
foram propostas tipologias inéditas para classificação de sítios e, principalmente, de estados,
de uma forma ajustada à realidade paisagística do semiárido brasileiro. Os avanços obtidos
contribuem para a consolidação e validação empírica da metodologia adotada, que se mostrou
bastante satisfatória, por sua abrangência e caráter tipológico, para distinção de geossistemas
em escala local.
Muito ainda há para ser feito no sentido de ampliar o conhecimento da estrutura da
paisagem do Parque Nacional do Catimbau. Além disso, muito pouco foi dito em relação à
dinâmica e evolução das paisagens, bem como de sua organização hierárquica, sobretudo pelo
fato da metodologia adotada se tratar de uma abordagem essencialmente tipológica. Assim,
reconhecemos que este trabalho não esgota o conhecimento sobre os geossistemas na área de
estudo, pelo contrário, constitui apenas uma primeira aproximação.
186
Considerações Finais
Esta tese abordou o conceito de Sínteses Naturalistas como objeto único,
historicamente construído e epistemologicamente distinto, abrangendo qualquer atividade
racionalmente mediada, baseada na diferenciação de áreas pelo critério das relações entre os
componentes da natureza. Este tipo de atividade tem no conceito de áreas naturais sua
categoria fundamental. Deste modo, as Sínteses Naturalistas caracterizam-se por apresentar
concepções de abrangência, noções de escala e organização hierárquica e abordagens de
identificação e classificação comuns. Além disso, e, sobretudo, as distintas abordagens de
síntese naturalista variam em termos de compreensão e terminologia utilizada para se referir a
seus caracteres comuns.
Com base numa pesquisa sobre as origens da ideia de área natural, identificamos sua
raiz na concepção de zona natural e na atividade de descrição de áreas, desenvolvidas como
parte da geografia. Contudo, só a partir do século 18 as Sínteses Naturalistas encontram-se
completamente construídas, passando, no final do século 19, a ser objeto de interesse da
ecologia e das ciências agrárias, com finalidades diversas. Hoje, até as engenharias fazem uso
desta atividade.
A aplicação da teoria dos sistemas ao modelo russo-soviético de Síntese Naturalista
resultou numa revolução epistemológica para esta atividade, que passa a ser vista além
daquilo a que se propunha. A teoria dos geossistemas abrange as sínteses naturalistas, mas
não se limita a elas. Fundamenta-se no conceito de áreas naturais, mas pela abordagem
sistêmica, expande o conceito a uma compreensão do funcionamento e evolução destas áreas.
Deste modo, a teoria dos geossistemas, consiste numa ampliação e integração de
horizontes cognitivos sobre as sínteses naturalistas. Neste sentido, a sua principal contribuição
baseia-se na integração de perspectivas (estruturais, dinâmicas e evolutivas), que resultam na
agregação de informações (físicas, biológicas e humanas) para compreensão das áreas
naturais (ou geossistemas).
Do ponto de vista epistemológico, a referida teoria suporta um direcionamento
específico e autônomo, mas não independente, em relação aos outros ramos da ciência
geográfica, a saber: a Geografia Física Integrada, que se baseia em três linhas de estudo:
estrutural, dinâmica e evolutiva. Do ponto de vista das sínteses naturalistas (que se enquadram
na análise estrutural), a teoria dos geossistemas, sobretudo através da ideia de invariantes e
variáveis de estado, suporta uma análise integrada da estrutura da paisagem em nível local,
diferente daquilo que é lugar comum na geografia brasileira.
187
Em função de a epígrafe ‘geossistema’ ter sido introduzida no Brasil por um artigo de
Georges Bertrand e, numa perspectiva distinta de sua proposição original, por Sochava, o
termo tem sido mal interpretado por geógrafos brasileiros que, sequer reconhecem a mudança
de perspectiva do próprio Bertrand, que abdicou de sua antiga proposta em favor daquela de
Sochava. Além disso, pela natureza de sua organização institucional, a geografia brasileira
configura atualmente uma situação que não favorece o desenvolvimento da teoria dos
geossistemas no país, carecendo de um novo rumo epistemológico-curricular em termos de
incorporação da teoria dos geossistemas e estudo da estrutura, dinâmica e evolução das
paisagens, como componente curricular distinto, ainda que complementar, da geomorfologia e
da biogeografia, por exemplo.
Compreendendo que a utilização de elementos geológico-geomorfológicos e
bioclimáticos permite uma distinção de condicionantes mesorregionais sobre as áreas naturais
(geossistemas), que podem ser detalhados a partir da investigação de seus principais
contrastes com base no uso de outras ferramentas como a modelagem numérica do terreno e
observações de campo, observamos o caso do Parque Nacional do Catimbau. Neste sentido,
identificamos um condicionamento morfoestrutural das precipitações na borda SE do Parque,
bem como uma forte influência da pluviosidade na fenologia das plantas.
A modelagem cartográfica da referida Unidade de Conservação, associada a
descrições de campo e interpretações dos dados morfoestruturais e bioclimáticos, resultaram
na determinação de 61 geossistemas locais. Neste sentido, a abordagem geossistêmica, nos
termos da proposta russo-soviética, mostrou-se de grande relevância para detalhar
grandemente os contrastes paisagísticos locais, contradizendo muito do que parece
firmemente consolidado na literatura geográfica nacional. Em âmbito geral, esta tese inova
pela discussão a respeito sobre as sínteses naturalistas como um produto único, abrindo uma
porta para o desenvolvimento do estudo de geossistemas como componente curricular no
Brasil.
Do ponto de vista prático, apresentamos uma taxonomia dos geossistemas para o
Parque Nacional do Catimbau, unidade de conservação de extrema importância e que sequer
possui plano de manejo. Contudo, pouco se falou sobre os estudos da dinâmica e evolução
dos geossistemas, sobretudo porque estes direcionamentos ainda carecem de exemplos no
cenário nacional e regional. É, pois, uma oportunidade para consolidação de perspectivas e
desenvolvimento de atividades posteriores (agendas de pesquisa), cujo conteúdo está além
deste trabalho.
188
Por fim, espera-se que este trabalho sirva como auxílio para aqueles que desejem fugir
de perspectivas menos assertivas e que têm pouco a dizer sobre a teoria dos geossistemas. De
outro modo, espera-se contribuir para o desenvolvimento de uma perspectiva colaborativa, no
sentido de promover estudos integrados da natureza sob a ótica do geógrafo. Apesar de este
trabalho enfocar o aspecto estrutural da teoria dos geossistemas, a partir do conceito de síntese
naturalista, ele nem de longe esgota os elementos da referida teoria, sobretudo em relação aos
seus aspectos dinâmicos e evolutivos, enfim, ainda há um longo caminho a ser percorrido pela
geografia brasileira.
189
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1
Apêndice A – Descrições de Campo
PARCELA
LAT
LONG
ALT
SITIO
SOLO
FITOFISIONOMIA
ESPÉCIES DOMINANTES
Commiphora-Spondias-Poincianella-Croton
BSJ1
9059257 695773 700
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
Arbóreo-Arbustiva Aberta
BSJ2
9059006 695474 716
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
Arbóreo-Arbustiva Aberta
Pityrocarpa-Pilosocereus
BSJ3
9058852 696060 702
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
Arbóreo-Arbustiva Aberta
Croton-Schinopsis-Chloroleucon-Varronia
BSJ4
9058735 696720 685
Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f
RLdf/RQol
Arbórea Aberta
Schinopsis-Dalbergia-Mimosa-Commiphora
BSJ5
9058352 697487 670
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
Arbóreo-Arbustiva Aberta
Jatropha-Lippia-Jacaranda (Cf.)-Poincianella
BSJ6
9057668 696521 673
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
Arbórea Aberta
Commiphora-Schinopsis-Cnidoscolus-Aspidosperma
BSJ7
9057587 696974 680
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
Arbórea Aberta
Syderoxilon-Schinospsis-Prosopis
BSJ8
9056600 696791 687
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
Arbórea Aberta
Ziziphus-Prosopis-Senna
BSJ9
9056036 697124 704
Glacis Arenoso Dissecado – Pf/d
RQot
Arbórea Fechada
Pityrocarpa-Ziziphus-Senegalia-Simaba
BSJ10
9053943 696860 764
Tálus com Hidromorfismo na base – Ct/h
RQof
Arbórea Fechada
Attalea-Pipper-Senegalia (Cf.)-Gallesia (Cf.)
BSJ11
9054669 696581 743
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
Arbórea Fechada
Ziziphus-Syderoxilon-Hymenaea-Parapiptadenia
BSJ12
9054627 696035 755
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot/RLdf
Arbórea Fechada
Hymenaea-Tabebuia-Senegalia (Cf.)-Ziziphus
BSJ13
9054914 695179 729
Tálus – Ct/t
RQof/RLdt
Arbórea Aberta
BSJ14
9055207 695409 718
Glacis de Acumulação
RQot
Gramíneo-Lenhosa
Ziziphus-Syderoxilon-Maytenus-Chloroleucon
Pavonia-Malva-Prosopis-Pilosocereus
BSJ15
9055324 695907 708
Glacis de Acumulação
RQot
Gramíneo-Lenhosa
Prosopis-Ziziphus-Pavonia-Pennisetum
BSJ16
9055724 695818 704
Glacis de Acumulação
RQot
Arbóreo-Arbustiva Aberta
Prosopis-Ziziphus-Senna-Mimosa
BSJ17
9056014 694675 718
Glacis de Acumulação
RQot
Arbóreo-Arbustiva Aberta
Prosopis-Ziziphus-Pilosocereus
BSJ18
9055852 695130 709
Pavimento Detrítico
RLdf
Arbóreo-Arbustiva Aberta
Prosopis-Jatropha-Senegalia-Tacinga
BSJ19
9056052 693826 729
Tálus – Ct/t
RQof
Arbóreo-Arbustiva Fechada
Capparis-Croton-Simaba-Ubaia
BSJ20
9056655 693177 752
Glacis Arenoso Dissecado – Pf/d
RQot
Arbóreo-Arbustiva Fechada
Capparis-Croton-Simaba-Ziziphus
BSJ21
9057019 694123 732
Glacis Arenoso Dissecado – Pf/d
RQof
Arbóreo-Arbustiva Aberta
BSJ22
9056639 694613 706
Glacis de Acumulação
RQot
Arbórea Fechada
Tabebuia-Syagrus-Ziziphus-Croton
Ziziphus-Cedrela (Cf.)-Sideroxylon-Anadenanthera
BSJ23
9056884 695434 706
Glacis de Acumulação
RQot
Arbustiva Aberta
Senegalia-Cereus-Lippia-Varronia
BSJ24
9056375 695813 686
Glacis de Acumulação
RQot
Arbóreo-Arbustiva Aberta
Prosopis-Jatropha-Croton-Ziziphus
BSJ25
9057026 697242 702
Glacis de Erosão
RQof
Arbóreo-Arbustiva Aberta
Croton-Cnidoscolus-Dalbergia
SC1
9052760 695570 961
Pavimento Rochoso – Pt/r
RLdt
ArbustivaAberta
Clusia-Paralychnophora-Pilosocereus-Bromeliaceaesp.
2
SC2
9052803 695488 980
Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f
RQof/RLdt
ArbustivaAberta
Bromeliaceaesp.-Croton-Cnidoscolus-Senna
SC3
9052828 695832 916
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
ArbustivaAberta
Hyptis-Sapium-Buquenavia-Hymenaea
SC4
9053253 695639 949
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
LAdp
Arbóreo-ArbustivaAberta
Senna-Pityrocarpa-Helicteris-Buchenavia
SC5
9053895 695786 987
Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f
LAdp
Arbóreo-ArbustivaAberta
Gochnatia-Guapira-Pityrocarpa-Hyptis
SC6
9053888 696304 994
Pavimento Detrítico – Pt/g
RLdf
ArbustivaAberta
Encholirium-Gochnatia-Senna-Clusia
SC7
9053586 695956 994
Pavimento Detrítico – Pt/g
RLdf
ArbustivaAberta
Gochnatia-Hyptis-Campomanesia-Senna
SC8
9053265 695132 975
Pavimento Detrítico – Pt/g
RLdf
Arbóreo-ArbustivaAberta
Gochnatia-Pityrocarpa-Croton-Eugenia/Campomanesia
SC9
9052863 695486 986
Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f
LAdp
ArbustivaAberta
Erythroxylum-Campomanesia-Sapium-Hyptis
SC10
9052556 695249 978
Pavimento Detrítico – Pt/g
RLdf
Arbóreo-ArbustivaAberta
Gochnatia-Pityrocarpa-Clusia(Cf.)-Ximenia
SC11
9052418 695597 918
Tálus – Ct/t
RLdf/RQof
ArbustivaAberta
Handroanthus-Gochnatia-Bromelia-Syagrus
SC12
9052433 694708 962
Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f
LAdp
Arbóreo-ArbustivaAberta
Gochnatia-Guapira-Pityrocarpa-Leguminosa
SC13
9052050 694338 950
Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f
LVAdt
Arbóreo-ArbustivaAberta
Gochnatia-Guapira-Pityrocarpa-Clusia(Cf.)
SC14
9052143 695071 995
Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f
LAdp
Arbóreo-ArbustivaAberta
Anacardium-Hyptis-Mimosa-Syagrus
SC15
9051636 695091 994
Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f
LAdp
Arbóreo-ArbustivaAberta
Gochnatia-Guapira-Pityrocarpa-Clusia(Cf.)
SC16
9051619 695547 940
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
LVAdt
ArbóreaFechada
Anacardium-Cedrela-Artocarpus-Coffea
SC17
9052383 697528 957
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
LAdp
Arbóreo-ArbustivaAberta
Senna-Syagrus-Pityrocarpa-Croton
SC18
9052548 698082 970
Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f
LAdp
Arbóreo-ArbustivaAberta
Croton-Pityrocarpa-Anacardium-Byrsonima
SC19
9053181 698167 976
Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f
LAdp
Arbóreo-ArbustivaAberta
Guapira-Pityrocarpa-Hyptis-Croton
SC20
9054101 697817 947
Pavimento Detrítico – Pt/g
PAdt
Arbóreo-ArbustivaAberta
Gochnatia-Guapira-Pityrocarpa-Syagrus
SC21
9054174 698361 888
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
LAdp
ArbóreoAberta
Anacardium-Syagrus-Pityrocarpa-Copaifera
SC22
9053574 698047 947
Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f
PVAdt
Arbóreo-ArbustivaAberta
Anacardium-Pityrocarpa-Syagrus-Lippia(Cf.)
SC23
9053457 697557 944
Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f
PVAdt
Arbóreo-ArbustivaAberta
Guapira-Pityrocarpa-Senna-Mimosa
SC24
9053647 697050 925
Pavimento Detrítico – Pt/g
PVAdt
Arbóreo-ArbustivaAberta
Maytenus-Pityrocarpa-Ximenia-Campomanesia
SC25
9054047 697319 929
Pavimento Detrítico – Pt/g
PVAdt
Arbóreo-ArbustivaAberta
Gochnatia-Pityrocarpa-Clusia(Cf.)-Mimosa
SC26
9054618 697399 916
Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f
PVAdt
Arbóreo-ArbustivaAberta
Syagrus-Anacardium-Pityrocarpa-Cnidoscolus
SC27
9055118 697351 893
Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f
RLdt
Arbóreo-ArbustivaAberta
Pityrocarpa-Senna-Mimosa-Clusia(Cf.)
PU1
9049290 670721 475
Leito Argiloso Intermitente – Ll/l
VGot
FlorestaCiliar
Prosopis-Parkinsonia-Euphorbia
PU2
9048347 668854 473
Leito Areno-Argiloso Intermitente – Ll/l
RQot/VGot
FlorestaCiliar
Nicotiana-Prosopis-Croton-Tarenaya
PU3
9048855 669166 533
Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f
RLdf
Arbóreo-ArbustivaAberta
Croton-Encholirium-Aspidosperma
3
PU4
9048726 669157 494
Pavimento Detrítico – Pt/g
Aflo.R.
Arbóreo-ArbustivaAberta
Croton-Ziziphus-Tacinga-Mimosa
PU5
9049037 670128 480
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
ArbustivaAberta
Jatropha-Poincianella-Croton-Tacinga
PU6
9049923 670904 503
Tálus – Ct/t
RLdf/RQot
ArbustivaAberta
Croton-Encholirium-Tacinga-Poincianella
PU7
9050667 671773 503
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
Árboreo-ArbustivaAberta
Pilosocereus-Jatropha-Aspidosperma-Pavonia
PU8
9051154 672352 498
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
Arbóreo-ArbustivaAberta
Jatropha-Cnidoscolus-Prosopis-Senna
PU9
9051864 674297 522
Pavimento Detrítico – Pt/g
RLdf
Arbóreo-ArbustivaAberta
Pilosocereus-Croton-Commiphora
PU10
9052641 675127 534
Pavimento Detrítico – Pt/g
RLdf
ArbustivaAberta
Pilosocereus-Croton-Cnidoscolus
PU11
9053359 676012 546
Pavimento Detrítico – Pt/g
RLdf
ArbustivaAberta
Pilosocereus-Croton-Jatropha
PU12
9054131 676730 560
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
ArbóreaAberta
Commiphora-Anadenanthera-Schinopsis-Cnidoscolus
PU13
9055105 678152 572
9066322 692143 637
RQot
RLdf
Arbóreo-ArbustivaAberta
XI1
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
Pavimento Detrítico – Pt/g
ArbóreaAberta
Poincianella-Commiphora-Croton-Jatropha
Schinopsis-Commiphora-Poincianella-Tacinga
XI2
9066812 692359 614
Pavimento Detrítico – Pt/g
RLdf
ArbóreaAberta
Schinopsis-Poincianella-Cnidoscolus-Tacinga
XI3
9067149 692697 609
Pedimento com estagnação sazonal de água – Ps/l
SX
Arbóreo-ArbustivaAberta
Poincianella-Aspidosperma-Croton-Tacinga
9067547 693005 606
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot/SX
Arbóreo-ArbustivaAberta
Schinopsis-Poincianella-Cnidoscolus-Mimosa
XI5
9067914 693374 603
Pavimento Detrítico – Pt/g
SX/RLdf
Arbóreo-ArbustivaAberta
Poincianella-Commiphora-Croton-Tacinga
XI6
9068035 693833 599
Pavimento Detrítico – Pt/g
S
Arbóreo-ArbustivaAberta
Schinopsis-Aspidosperma-Poincianella-Jatropha
XI7
9068124 694384 591
Pedimento Dissecado – Ps/d
SX(margens)
Arbóreo-ArbustivaAberta
Schinopsis-Poincianella-Cnidoscolus-Mimosa
XI8
9068491 694753 590
Pavimento Detrítico – Pt/g
SX
Arbóreo-ArbustivaAberta
Poincianella-Pilosocereus-Cnidoscolus-Mimosa
XI9
9068858 695091 594
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
Arbóreo-ArbustivaAberta
Cnidoscolus-Pilosocereus-Jatropha
XI10
9069259 694757 585
Pavimento Detrítico – Pt/g
SX
ArbóreaAberta
Schinopsis-Cnidoscolus
XI11
9069751 694637 577
Pedimento Dissecado – Ps/d
SX/Aflor.R.
Arbóreo-ArbustivaAberta
Prosopis-Schinopsis-Ipomoea-Croton
9070243 694578 574
Sopé Coluvial – Pm/g
CX
Arbóreo-ArbustivaAberta
Schinopsis-Prosopis-Poincianella-Croton
XI13
9070736 694396 568
Pavimento Detrítico – Pt/g
RLdf
Arbóreo-ArbustivaAberta
Maytenus-Pilosocereus-Cnidoscolus-Poincianella
XI14
9071228 694215 562
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
Arbóreo-ArbustivaAberta
Ziziphus-Prosopis-Schinopsis-Croton
XI4
XI12
PV1
0
0
0
Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f
RLdf/RQol
Arbóreo-ArbustivaAberta
Mimosa-Croton-Aspidosperma-Lippia
PV2
0
0
0
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
Arbóreo-ArbustivaAberta
Poincianella-Croton-Lippia-Jatropha
PV3
0
0
0
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
Arbóreo-ArbustivaAberta
Poincianella-Croton-Maytenus-Dalbergia
AL_CHRIS1
0
0
0
Tálus – Ct/t
RLdf/RQof
ArbóreaFechada
Ziziphus-Anadenanthera-Syagrus-Syderoxilon
AL_CHRIS2
0
0
0
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
Arbóreo-ArbustivaFechada
Poincianella-Senegalia-Tabebuia-Mimosa
4
AL_CHRIS3
0
0
0
Glacis Arenoso Dissecado – Pf/d
RQot/RF
Arbóreo-ArbustivaFechada
Ziziphus-Schinopsis-Parapiptadenia-Capparis
AL_PAR1
9056497 698551 690
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQol
Arbóreo-ArbustivaAberta
Commiphora-Jatropha-Syderoxilon-Croton
AL_PAR2
9056398 698483 705
Glacis Arenoso Dissecado – Pf/d
PVAd
Arbóreo-ArbustivaAberta
Piptadenia-Poincianella-Pilosocereus-Croton
AL_PAR3
9056305 698244 704
LeitoAreno-Rochoso
RQot
Arbóreo-ArbustivaAberta
Ziziphus-Pilosocereus-Mimosa-Croton
AL_PAR4
9056185 698227 707
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
Arbóreo-ArbustivaAberta
Ziziphus-Pilosocereus-Croton-Pavonia
AL_PAR5
9055959 698048 726
Tálus – Ct/t
RQot/Aflor.R.
ArbóreaFechada
Parapiptadenia-Simaba-Commiphora-Ziziphus
AL_PAR6
9056152 698152 717
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot/Aflor.R.
Arbóreo-ArbustivaAberta
Poincianella-Cnidoscolus-Chloroleucon-Croton
AL_PAR7
9055555 699109 800
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
Arbóreo-ArbustivaFechada
Pityrocarpa-Copaifera-Libidibia-Croton
AL_PAR8
9055382 698942 801
Pavimento Detrítico – Pt/g
Ladt/RLdf
Arbóreo-ArbustivaAberta
Pityrocarpa-Dalbergia-Clusia-Croton
AL_PAR9
9055345 698666 762
Tálus – Ct/t
RQof
ArbóreaFechada
Parapiptadenia-Simaba-Pityrocarpa-Copaifera/Libidibia
AL_PAR10 9055531 698691 723
Glacis Arenoso Dissecado – Pf/d
RQot
Arbóreo-ArbustivaAberta
Pityrocarpa-Ziziphus-Croton-Helicteris
AL_PAR11 9055680 698649 718
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
Arbóreo-ArbustivaAberta
Ziziphus-Pilosocereus-Jatropha-Pavonia
AL_PAR12 9056050 698536 705
Pavimento Detrítico – Pt/g
PVda
Arbóreo-ArbustivaAberta
Mimosa-Croton-Helicteris-Neoglaziovia
AL1
9056593 698646 690
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
ArbustivaAberta
Poincianella-Pavonia-Jatropha-Pilosocereus
AL2
9056559 698675 691
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
Arbóreo-ArbustivaAberta
Ziziphus-Commiphora-Jatropha-Croton
AL3
9056486 698622 697
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQof
Arbóreo-ArbustivaAberta
Syderoxilon-Ziziphus-Schinospsis-Croton
AL4
9056432 698584 706
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RLdf
ArbóreaAberta
Myracrodruon-Schinopsis-Pilosocereus-Capparis
AL5
9055571 699010 794
Pavimento Detrítico – Pt/g
PAda
Arbóreo-ArbustivaAberta
Schinopsis-Mimosa-Senna-Croton
AL6
9055782 698857 787
Pavimento Detrítico – Pt/g
RLdf
ArbustivaAberta
Tabebuia-Pilosocereus-Croton-Solanum(Cf.)
AL7
9055820 698925 787
Pavimento Detrítico – Pt/g
RLdf
Arbóreo-ArbustivaAberta
Mimosa-Senna-Pityrocarpa-Croton/Pilosocereus
AL8
9055712 699069 803
Pavimento Detrítico – Pt/g
RLdf
Arbóreo-ArbustivaAberta
Libidibia-Senna-Copaifera(Cf.)
AL9
9055556 699092 809
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
ArbóreaFechada
Libidibia-Pityrocarpa-Copaifera(Cf.)-Croton
AL10
9055433 699001 809
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
Arbóreo-ArbustivaAberta
Pityrocarpa-Croton-Capparis-Neoglaziovia
AL11
9055363 698857 792
Pavimento Detrítico – Pt/g
PAda
Arbóreo-ArbustivaAberta
Pityrocarpa-Lippia-Croton
AL12
9055329 698764 785
Pavimento Rochoso – Pt/r
Ausente
Arbóreo-ArbustivaAberta
Pityrocarpa-Lippia-Croton-Bromelia
AL13
9055311 698663 775
Pavimento Rochoso – Pt/r
RLdf
Arbóreo-ArbustivaAberta
Tabebuia-Pilosocereus-Croton-Senna
AL14
9055345 698666 762
Tálus – Ct/t
RQof
ArbóreaFechada
Parapiptadenia-Simaba-Pityrocarpa-Copaifera/Libidibia
AL15
9055446 698725 745
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
Arbóreo-ArbustivaFechada
Ziziphus-Pilosocereus-Croton
AL16
9055455 698955 739
Glacis Arenoso Dissecado – Pf/d
RQot
Arbóreo-ArbustivaFechada
Ziziphus-Pilosocereus-Croton-Capparis/Chloroleucon
5
AL17
9056366 698411 721
Pavimento Detrítico – Pt/g
Ausente
ArbustivaAberta
Poincianella-Senegalia-Tabebuia-Pilosocereus
AL18
9056436 698313 709
Pavimento Rochoso – Pt/r
Ausente
Arbóreo-ArbustivaAberta
Commiphora-Ziziphus-Croton
AL19
9056320 698270 696
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
Arbóreo-ArbustivaAberta
Ziziphus-Mimosa-Jatropha-Cnidoscolus
AL20
9056267 698230 699
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
Arbóreo-ArbustivaAberta
Ziziphus-Plisocereus-Ubaia-Senna
AL21
9056187 698164 697
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
Arbóreo-ArbustivaAberta
Ziziphus-Pavonia-Cereus-Pilosocereus/Chloroleucon
AL22
9056076 698056 713
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
Arbóreo-ArbustivaAberta
Ziziphus-Pilosocereus-Mimosa-Capparis
AL23
9056023 698038 716
Glacis Arenoso Dissecado – Pf/d
RQot
Arbóreo-ArbustivaAberta
Schinopsis-Ziziphus-Capparis-Mimosa/Syagrus
AL24
9055962 698043 726
Tálus – Ct/t
RQot/Aflor.R.
ArbóreaFechada
Parapiptadenia-Simaba-Commiphora-Ziziphus
AL25
9055945 698007 723
Tálus – Ct/t
RQof
ArbóreaFechada
Parapiptadenia-Ziziphus-Syagrus-Maytenus
AL26
9055992 697983 718
Tálus – Ct/t
RQot/RQof
ArbóreaFechada
Syderoxillon-Ziziphus-Simaba-Libidibia/Capparis
AL27
9056036 697980 718
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot/Aflor.R.
Arbórea-ArbustivaAberta
Ziziphus-Pilosocereus-Capparis-Tacinga
AL28
9056069 697967 718
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
Gramíneo-Lenhosa
Malva-Cnidoscolus-Chloroleucon-Mimosa
AL29
9056179 697824 725
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
Arbórea-ArbustivaAberta
Ziziphus-Chloroleucon-Mimosa
AL30
9056146 697752 734
Glacis Arenoso Dissecado – Pf/d
RQot/RQof
Arbórea-ArbustivaAberta
Ziziphus-Chloroleucon-Lippia-Capparis
AL31
9056204 697756 737
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot/Aflor.R.
Arbórea-ArbustivaAberta
Ziziphus-Chloroleucon-Lippia-Capparis
AL32
9056523 698726 684
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
Arbórea-ArbustivaAberta
Ziziphus-Pilosocereus-Croton
AL33
9056394 698813 687
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
Arbórea-ArbustivaAberta
Ziziphus-Lippia-Croton
AL34
9056310 698856 691
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
ArbustivaAberta
Mimosa-Croton-Capparis
AL35
9056262 698923 695
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQof
Arbórea-ArbustivaAberta
Poincianella-Schinopsis-Pilosocereus-Chloroleucon
AL36
9056253 698987 705
Pavimento Detrítico – Pt/g
Ausente
Arbórea-ArbustivaAberta
Poincianella-Schinopsis-Pilosocereus-Croton
AL37
9056155 699019 718
Pavimento Detrítico – Pt/g
RQot/RQof
Arbórea-ArbustivaAberta
Poincianella-Chloroleucon-Croton-Lippia/Pilosocereus
AL38
9056063 698996 720
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
LVAdt
Arbórea-ArbustivaAberta
Poincianella-Croton-Mimosa-Pilosocereus/Varronia
AL39
9056052 699029 720
Pavimento Detrítico – Pt/g
PVAdaa
ArbustivaAberta
Pilosocereus-Croton
AL40
9055957 699057 732
Pavimento Detrítico – Pt/g
RLdf
Arbórea-ArbustivaAberta
Mimosa-Croton-Lippia
AL41
9055929 699004 736
Pavimento Rochoso – Pt/r
Ausente
Arbóreo-ArbustivaAberta
Mimosa-Syagrus-Capparis-Lippia/Croton
AL42
9055871 698993 750
Tálus – Ct/t
RLdf
Arbóreo-ArbustivaAberta
Tabebuia-Syagrus-Senegalia(Cf.)
AL43
9055978 699079 730
Pavimento Detrítico – Pt/g
RLdf
ArbustivaAberta
Capparis-Lippia-Croton
AL44
9055968 699116 711
Pavimento Detrítico – Pt/g
PAdca
Arbóreo-ArbustivaAberta
Poincianella-Croton
AL45
9055990 699169 708
Glacis Areno-Argiloso Conservado – Pl/c
PAdca
Arbóreo-ArbustivaAberta
Poincianella-Mimosa-Cnidoscolus-Croton
6
AL46
9056031 699280 694
Tálus – Ct/t
RLdf/RQof
Arbóreo-ArbustivaAberta
Poincianella-Mimosa-Capparis-Croton
AL47
9056076 699299 688
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
Arbóreo-ArbustivaAberta
Ziziphus-Poincianella-Commiphora-Mimosa/Cnidoscolus
AL48
9056088 699343 688
Glacis Arenoso Dissecado – Pf/d
RQot
Gramíneo-Lenhosa
Prosopis-Malva-Zea
AL49
9056347 699352 674
Glacis Arenoso Dissecado – Pf/d
RUpt
ArbóreaAberta
Prosopis
AL50
9056346 699303 677
Glacis Arenoso Dissecado – Pf/d
RQot/RQof
Arbóreo-ArbustivaAberta
Poincianella-Croton-Mimosa-Jatropha
AL51
9056310 699220 680
Glacis Arenoso Dissecado – Pf/d
RQot/RQof
Arbóreo-ArbustivaAberta
Poincianella-Croton-Schinopsis-Pilosocereus
AL52
9056459 697802 711
Glacis Arenoso Dissecado – Pf/d
RQot
Gramíneo-Lenhosa
Malva-Pavonia-Cnidoscolus-Mimosa
AL53
9056509 697852 711
Glacis Arenoso Conservado – Pf/c
RQot
ArbustivaAberta
Senegalia(Cf.)-Croton-Malva
7
Apêndice B – Mapas Analíticos
8
9
10
11
12
Ecorregiões, Regiões Naturais, Unidades de Paisagem, Unidades Geoambientais,
Ecossistemas, Geossistemas, Biomas, Complexos Territoriais Naturais, Paisagens...
A literatura geográfica é rica de termos que têm por objetivo representar o conceito
de ‘área naturais’. Este trabalho investiga tais abordagens de Síntese Naturalista a partir de
um enfoque epistemológico, discutindo aspectos estruturais, históricos e metodológicos
deste tipo de atividade.
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