O céu de Fevereiro (Expresso: 31-01-1998) Com os planetas que nos acompanharam este Verão e este Outono quase escondidos é uma constelação, a Oríon, que nos vai orientar nos céus de Fevereiro. Um mês a que não falta um eclipse do Sol. UM A UM, os brilhantes planetas que nos acompanharam no Verão e Outono têm esconder-se. vindo Vénus a foi engolido no crepúsculo, Júpiter parece querer seguir o mesmo caminho, e Marte tem vindo a perder o seu brilho, sendo agora uma pálida imagem do esplendor que há um ano nos oferecia. Resta-nos Saturno, o fotogénico planeta dos anéis, que amanhã aparece pouco acima da Lua nos céus de Sudoeste. E quem ainda não o observou tem na noite de domingo uma óptima oportunidade para o localizar. Olhe-se para a Lua ao princípio da noite de amanhã. Acima deste astro aparece um ponto de luz alaranjado. Esse ponto de luz é Saturno. Quem ainda estiver na dúvida, conte cerca de quatro diâmetros de Lua cheia (dois graus de distância angular) para cima do bordo não iluminado da Lua. É aí que está Saturno. À medida que a noite avança e que os dois astros se aproximam do poente, a distância entre eles diminui. Perto das 10h30, quando ambos estão já tão perto do horizonte que se torna difícil observá-los, a Lua ultrapassa Saturno pela esquerda e a distância reduz-se a menos de metade, a menos de dois diâmetros lunares (1 grau). Nos Açores, onde se observam os astros até um pouco mais tarde, a aproximação será ainda mais espectacular. Mês sideral É a Lua, é claro, com o seu rápido movimento aparente contra a esfera celeste, que é a responsável por aproximação. esta O nosso satélite demora cerca de 27,3 dias a descrever uma órbita completa contra o fundo estelar. É o chamado mês sideral. Quer isso dizer que a Lua se desloca cerca de meio grau por hora, isto é, avança em cada hora uma distância equivalente diâmetro. ao seu Saturno, em contraste, desloca-se tão lentamente que a sua posição quase não muda de noite para noite. Uma vez localizado no céu de domingo com a ajuda da Lua, será fácil observá-lo nas noites seguintes, em que o nosso satélite não ofuscará o planeta dos anéis com o seu brilho. Mais perto do Sol, Júpiter apenas pode ser observado ao crepúsculo. No princípio do mês o planeta gigante põe-se 80 minutos depois do ocaso. Noite após noite deita-se uns minutos mais cedo, de forma que, a 23 de Fevereiro, está em conjunção com o Sol, sendo impossível observá-lo. Em Março o planeta reaparece a este nos céus da madrugada, tal como Vénus o fez há pouco. Nos meses que seguem os dois planetas apresentam-se como «estrelas da manhã». Durante a semana que entra não será difícil localizar Júpiter, pois o planeta é tão brilhante que se destaca como um ponto de luz branca, bem visível acima do horizonte de Sudeste, ainda perto do crepúsculo. Dentro de duas semanas o planeta estará demasiado perto do Sol para poder ser observado. Marte, o planeta vermelho, acompanha Júpiter junto ao horizonte, mas mantémse visível durante todo o mês de Fevereiro. Muito menos brilhante do que o planeta gigante, Marte constitui um alvo mais difícil. Para observar os dois planetas é necessário começar cedo, cerca de meia hora depois do ocaso. Olhe-se para cima do ponto em que o Sol se pôs e procure-se um ponto de luz branca brilhante - Júpiter. Aponte-se uns binóculos para cima deste planeta. A uns seis graus de distância angular, uns quatro dedos de um braço estendido, aparece um ponto de luz avermelhada. Esse ponto de luz, muito menos brilhante que Júpiter, é o célebre planeta vermelho. Depois de localizado com a ajuda de binóculos deverá ser fácil observar Marte a olho nu. Orion, o ponto de partida Se este Fevereiro não é particularmente favorável à observação dos planetas, o mês revela, como sempre, algumas das constelações mais bonitas e interessantes dos céus. Tomemos Orion como ponto de partida. Orion, ou Orionte, como muitos preferem chamar-lhe (a designação científica internacional segue a forma latina: Orion). É a constelação em forma de rectângulo com três estrelas no meio, numa diagonal. Representa a figura de um caçador mitológico, rival do Escorpião e amigo de Diana, a deusa caçadora. Um pouco acima de Orion e à sua direita encontra-se Touro, uma constelação em forma de «V» que inclui alguns belos enxames de estrelas. Segundo algumas versões da mitologia greco-romana, Touro é colocado no firmamento como desafio ao poderoso caçador. A 5 de Fevereiro, na próxima quinta-feira, a Lua oculta a mais brilhante estrela de Touro, Aldebarã, que é a décima estrela mais brilhante do céu. Para os observadores em Portugal continental o espectáculo durará apenas alguns minutos e passar-se-á ao pôr-do-sol, pelo que a sua observação não é fácil. Vista de Lisboa, a ocultação inicia-se pelas 17h32 e termina pelas 18h07. Nesse dia o Sol põe-se às 18h06. Abaixo de Orion encontra-se Lebre (Lepus), uma constelação desprovida de estrelas brilhantes. Conta-se que a lebre era a presa favorita de Orion, de forma que os deuses a colocaram nos céus em sua honra. Um pouco à esquerda e abaixo de Orion encontra-se uma estrela muito brilhante. Trata-se de Sírio (Sirius), a mais brilhante estrela dos céus. Apenas o Sol, a Lua, Vénus, Júpiter e Marte (quando em oposição) são mais brilhantes que Sírio. Trata-se de uma estrela branca que está apenas a oito anos-luz da Terra. Apenas se sabe de quatro estrelas que estão mais perto do sistema solar do que Sírio. Acima de Sírio e à esquerda de Orion é fácil detectar uma outra estrela brilhante. Trata-se de Prócion (Procyon), que é a sétima estrela mais brilhante do céu, de magnitude muito comparável à de Rigel (sexta) e à de Betelgeuse (oitava), ambas em Orion. Sírio pertence à Cão Maior (Canis Major) e Prócion à Cão Menor (Canis Minor), duas constelações associadas ao mito do grande caçador. São os cães que ajudam Orion na sua actividade favorita - a caça. As estrelas da Cão Maior desenham uma figura que relembra um cão, de que Sírio é o olho, o nariz ou o peito, conforme as representações. Mas as estrelas da Cão Menor não relembram qualquer figura animal. Apenas duas estrelas se destacam nessa constelação. Acima de Prócion e à esquerda de Orion aparece outra constelação célebre, Gémeos. Mesmo em céus poluídos pelas luzes da cidade é fácil detectar Castor e Pólux, as cabeças dos dois irmãos. Trata-se de duas estrelas de magnitude semelhante, se bem que de diferente coloração: Castor é azul-esbranquiçada, enquanto Pólux é alaranjada, tal como Aldebarã. A fechar o mês, o sistema solar voltará a relembrar-nos que a dança dos planetas não tem descanso. No dia 26 de Fevereiro um eclipse do Sol varre o Atlântico, as Caraíbas e as Américas. O eclipse será total nas Antilhas e em partes da América do Sul. No nosso país o eclipse será apenas parcial. No Continente inicia-se minutos antes do ocaso; mas as ilhas têm mais sorte. Nos Açores e na Madeira assistir-se-á a um espectacular crepúsculo, com o Sol dentado pelo nosso satélite. Texto de UO CRATO