O CUIDADO DA CRIANÇA COM CANCER FORA DE

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O CUIDADO DA CRIANÇA COM CANCER FORA DE POSSIBILIDADES
TERAPÊUTICAS: UM DESAFIO À ENFERMAGEM1
REIS, Thamiza Laureany da Rosa dos2; BIN, Aline3
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Trabalho de Pesquisa
Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa
Maria, RS, Brasil
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Hospital Universitário de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil
E-mail: [email protected]
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RESUMO
O câncer infantil é um grupo de doenças não contagiosas que atinge crianças e adolescentes de 0 a
19 anos. A assistência em oncologia se desenvolve pelo cuidado: preventivo, curativo e paliativo.
Pretende-se, por meio deste trabalho, descrever a observação de uma acadêmica do curso de
enfermagem sobre a atuação do enfermeiro em um Centro de Tratamento de Crianças e
Adolescentes com Câncer e a complexidade do cuidado à crianças com câncer sem possibilidades
terapêuticas. Trata-se de um relato de experiência, baseado em vivências de uma atividade de
extensão universitária, de uma acadêmica do curso de graduação em enfermagem da UFSM, por
meio do PROFCEN. Ao observar o enfermeiro e o cuidar em oncologia pediátrica, percebe-se que
esse exige, além de certa compreensão do profissional para os pacientes e familiares, um preparo
emocional.
Palavras-chave: Neoplasia; Enfermagem; Criança; Cuidados Paliativos.
1. INTRODUÇÃO
O câncer infantil é um grupo de doenças não contagiosas que atinge crianças e
adolescentes de 0 a 19 anos, tendo em comum o aparecimento de células modificadas que
tendem a ser muito agressivas, e se multiplicam rápida e desordenadamente, determinando
a formação de tumores ou neoplasias malignas (SILVA et al., 2009, p.335).
Na infância, as neoplasias mais frequentes são as leucemias. No Brasil, com base no
registro de câncer por base populacional, observa-se um predomínio dos casos de
leucemia, podendo chegar a 45% de todos os tumores pediátricos. Com até 25% dos casos,
os linfomas são o segundo tipo de câncer pediátrico mais comum. Os tumores do Sistema
Nervoso Central ocupam o terceiro lugar. Estima-se que cerca de 8% a 15% das neoplasias
pediátricas são representadas por esse grupo (BRASIL, 2011, p.118).
Nessa perspectiva, justifica-se a atual importância do câncer na formulação de
políticas e ações de saúde da criança e do adolescente. Em âmbito nacional, desde
2007 têm-se ações conjuntas entre o governo, as instituições de referência em
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oncologia e as sociedades médicas, que vêm sendo desenvolvidas com o intuito de
atenuar e/ou resolver esta realidade (MUTTI; PADOIN; PAULA, 2010, p.72).
A assistência em oncologia se desenvolve pelo cuidado: preventivo, curativo e
paliativo. No que se refere à prevenção, a principal estratégia é a detecção precoce do
câncer, antes que ele produza sinais e sintomas clínicos. A terapêutica curativa envolve as
fases de diagnóstico, tratamento e controle. Quando não houver sucesso no tratamento e a
criança for diagnosticada como fora de possibilidades terapêuticas de cura, a transição de
seu tratamento clínico para o cuidado paliativo deve ser gradual (MUTTI; PAULA; SOUTO,
2010, p.72).
A Organização Mundial da Saúde conceitua cuidados paliativos como uma
abordagem que visa melhorar a qualidade de vida dos pacientes e de suas famílias que
enfrentam problemas associados a doenças que põem em risco a vida. Essa abordagem
torna-se possível por meio da prevenção e alívio do sofrimento, e de outros problemas de
ordem física, psicossocial e espiritual (AVANCI et al., 2009, p.710).
A assistência paliativa não tem enfoque nos diagnósticos dos pacientes, e sim nas
suas necessidades. Esse tipo de cuidado preconiza o controle de sintomas, sem função
curativa, com vistas a preservar a qualidade e a dignidade do paciente até o final da vida
(AVANCI et al., 2009, p.371).
A experiência de ter um filho com câncer afeta toda a família e tem o potencial de
causar a desestruturação do cotidiano familiar. Durante o período de convivência com a
doença, a criança e o adolescente e sua família enfrentam diversos problemas como as
frequentes internações, a consequente separação dos membros da família, o agressivo
tratamento, as dificuldades financeiras, a dor e a angustia emocional, além do medo
constante da morte (ANGELO, MOREIRA, RODRIGUES, 2010, p.302).
Diante do exposto, pretende-se, por meio deste trabalho, descrever a observação de
uma acadêmica do Curso de Graduação em Enfermagem sobre a atuação do enfermeiro
em um Centro de Tratamento de Crianças e Adolescentes com Câncer e a complexidade do
cuidado a crianças com cancer sem possibilidades terapêuticas. As inquietações acerca da
problemática surgiram de observações e experiências ocorridas durante a graduação e da
participação em projetos de pesquisa e extensão.
Tal experiência foi proporcionada pelo “Programa de Formação Complementar em
Enfermagem” (PROFCEN), um programa de ensino e extensão do Curso de Graduação em
Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Participam das atividades de
extensão acadêmicos do curso de graduação em enfermagem em parceria com
profissionais de saúde de serviços do território de abrangência da UFSM. Seu objetivo
primordial é oportunizar vivências aos alunos da graduação para que possam desenvolver
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competências e habilidades a partir de experiências em múltiplos espaços de formação,
através da inserção em diferentes locais de produção de saúde.
2. METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência, do tipo observacional, baseado em vivências
de uma atividade de extensão universitária, por meio do PROFCEN, desenvolvida nos
meses de janeiro a março de dois mil e doze (2012), por uma acadêmica do Curso de
Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), somado aos
conhecimentos previamente obtidos no decorrer da graduação e por buscas em bases de
dados para a devida fundamentação teórica.
O local de observação foi o Centro de Tratamento de Crianças e Adolescentes com
Câncer (CTCriaC) de um hospital de referência regional localizado em Santa Maria – RS,
onde buscou-se compreender a complexidade do cuidado de enfermagem à criança e/ou
adolescente com câncer em cuidados paliativos através da observação das atividades
específicas dos enfermeiros assistenciais da unidade. Estes atuaram como parceiros no
desenvolvimento diário da atividade, com saberes técnicos e científicos, atuantes na
instituição, especificamente na área de oncologia pediátrica.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
O presente estudo tem como principais resultados as reflexões a cerca da atuação
do enfermeiro e desafio do cuidado à criança com câncer fora de possibilidades
terapêuticas, considerando a percepção e experiências de uma acadêmica do curso de
enfermagem.
Comparado ao câncer na população adulta, o câncer infantil é considerado uma
doença rara. No entanto, em alguns países em desenvolvimento, aonde a população de
crianças chega a 50%, a proporção do câncer infantil representa de 3% a 10% do total de
neoplasias. Já nos países desenvolvidos, essa proporção diminui, chegando a cerca de 1%
(BRASIL, 2011, p.51).
Na infância a infância com frequência apresenta sinais e sintomas que podem ser
confundidos com inúmeras outras doenças da infância, retardando assim o diagnóstico
precoce, o que é de importância vital para a sobrevida dessa população (BRASIL, 2011, p.
132). Em muitos casos o que dificulta a suspeita e o diagnóstico do câncer nas crianças e
nos adolescentes é o fato de sua apresentação clínica ocorrer através de sinais e sintomas
comuns a doenças frequentes nessa faixa etária, manifestando-se por sintomas gerais, que
não permitem a sua localização, como febre, vômitos, emagrecimento, sangramentos,
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adenomegalias generalizadas, dor óssea generalizada e palidez. Ou, ainda, através de
sinais e sintomas de acometimento mais localizados, como cefaleias, alterações da visão,
dores abdominais e dores osteoarticulares (BRASIL, 2011, p.54).
Para que se possa fazer uma suspeita correta e conduzir o caso de maneira rápida e
eficaz é essencial que os achados clínicos sejam contextualizados com a idade, sexo,
associação de sintomas, tempo de evolução e outros dados. Reconstituir a história clínica e
fazer um exame físico detalhado são os passos básicos na avaliação da oncologia
pediátrica (BRASIL, 2011, p.54).
Aliado ao diagnóstico precoce, o tratamento em centros especializados também tem
contribuído significativamente para o aumento das possibilidades de cura do câncer em
crianças e adolescentes. Sabe-se que se o diagnóstico for preciso e precoce, e o tratamento
terapêutico for adequado, pode-se considerar de excelente prognostico a maioria dos
cânceres (BORGES, 2009 p.338). No contexto atual, em centros desenvolvidos, sua cura
ultrapassa a faixa de 70% dos casos (BRASIL, 2011, p.52).
No entanto, apesar do avanço dos progressos tecnológicos e do aumento dos
índices de cura e sobrevida dessa população, a criança, em alguns casos, pode
apresentar recidivas durante o tratamento, podendo levar ao descontrole da doença,
não havendo mais possibilidades terapêuticas curativas. Nesse contexto surge o
cuidado paliativo como condição básica para resgatar o respeito e a dignidade daquele
que tem doença avançada, através do controle dos sintomas e o suporte psicológico.
(MUTTI; PAULA; SOUTO, 2010, p.72).
Historicamente os cuidados paliativos originaram-se na Idade Média e constituíam-se
como o principal tipo de cuidado oferecido em instituições hospitalares religiosas. Já no
século XX, foi introduzida uma nova concepção sobre os cuidados para pacientes terminais,
os quais passaram a ser desenvolvidos em unidades especializadas. Atualmente, entendese que os cuidados paliativos não implicam um local específico, e sim serviços prestados
onde quer que o paciente se encontre (RABELLO; RODRIGUES, 2010, p.381).
Mais recentemente passou-se a usar a expressão “pacientes fora de possibilidades
terapêuticas”, denominação a mais apropriada por permitir englobar desde o tratamento dos
pacientes internados até os atendidos em ambulatório para controle da sintomatologia
(RABELLO; RODRIGUES, 2010, p. 380).
As frequentes hospitalizações possibilitam um convívio e consequentemente um
relacionamento mais próximo com a criança e a sua família, compartilhando experiências
boas e ruins do dia a dia, bem como emoções e sentimentos (MUTTI, PAULA, SOUTO,
2010, p. 72). A importância da relação entre a criança, a equipe de enfermagem e a família,
no processo de cuidar inclui a maneira como é dada a notícia, a clareza com que é bordado
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o assunto e a abertura que é dada ao paciente e à sua família para que possam conversar
sobre o seu sofrimento, sentimentos e dúvidas (AVANCI et al., 2009, p.710).
Tanto a criança com doença oncológica avançada quanto sua família precisam de
uma assistência mais complexa, pois apresentam necessidades especiais. Diante dessa
complexidade do cuidado em oncologia pediátrica, evidencia-se a importância de uma
equipe de saúde multiprofissional para o acompanhamento da saúde da criança. De tal
modo, tem-se a possibilidade de desenvolver uma assistência especializada, individualizada
e integral. Vislumbra-se integrar a objetividade e a subjetividade, tanto à criança quanto a
sua família, a partir de uma abordagem humanizada (MUTTI; PAULA; SOUTO, 2010, p.74).
Diante do diagnóstico de câncer sem possibilidades terapêuticas, o enfermeiro tornase referência para o apoio à criança e ao adolescente e sua família para enfrentar a fase
terminal e consequentemente a morte (AVANCI et al., 2009, p.709). Para tanto, se faz
indispensável uma comunicação estabelecida através de uma relação de confiança,
considerando os aspectos emocionais e respeitando a criança e a família. Tal participação
envolve não somente administrar os sintomas que surgem devido ao agravo da doença,
mas o compartilhar com o paciente e sua família nas decisões do cuidar.
São inúmeros os desafios à equipe de saúde no que tange a prevenção e a inserção
de programas de cuidados paliativos em crianças com câncer. A assistência em oncologia
requer do profissional de saúde uma prática resolutiva, seja qual for a situação da doença
vivenciada pela criança e seus desdobramentos no cotidiano familiar. Deste modo, mostrase a necessidade de rever dinâmicas assistenciais e práticas no cuidar em oncológica
pediátrica (MUTTI; PAULA; SOUTO, 2010, p. 72).
5. CONCLUSÃO
Entende-se que o modelo ideal de cuidados paliativos deve abranger todas as fases
da doença, sendo estabelecido desde o diagnóstico, em conjunto com o tratamento clinico,
até a morte do paciente terminal. Outro aspecto importante é a intima ligação do cuidado
paliativo à saúde da família, uma vez que os familiares tornam-se sujeitos importantes no
processo do cuidado, e também necessitam de cuidados.
Quando se fala da tríade criança, família e equipe de enfermagem, deve-se priorizar
a formação da equipe de enfermagem no sentido de dar-lhe subsídios para que ocorra um
envolvimento emocional que funcione, não como gerador de mais tensão para o profissional,
e sim como facilitador do cuidar da criança com câncer. E esse apoio emocional pode
chegar de várias formas para as famílias: pela solidariedade, quando há conversação,
escuta ativa, encorajamento, manifestação de apoio e compreensão, colocando-se no lugar
do outro e estabelecendo um vínculo afetivo eficaz.
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REFERÊNCIAS
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