Propostas de Resolução da Prova Escrita de História A – 12º Ano – 2012 (1ª Fase) GRUPO I 1. Documento 1: balanço de Lenine sobre a obra da revolução bolchevique na transformação da sociedade russa numa sociedade socialista relevando as seguintes medidas ou realizações: – supressão dos “latifundiários e todas as suas tradições”; – combate à religião e perseguição do clero com o objetivo da laicização do Estado; – destruição do sistema capitalista através da nacionalização da propriedade privada e a centralização dos meios de produção nas mãos do Estado; – implantação da ditadura do proletariado, “um novo tipo de democracia” alavancada na defesa exclusiva dos interesses do proletariado (“operários e camponeses”); – afirmação da igualdade e da soberania dos povos das diversas nacionalidades “não russas” que estavam integradas no império russo; – fim da restrição dos direitos da mulher. ____ Nota: A questão exige a referência apenas a três realizações das enunciadas. 2. Documento 1 e 2: reconhecimento por Lenine de insucessos e erros na “construção económica” alicerce do “edifício” novo socialista e fundamentação da “viragem” expressa na Nova Política Económica (NEP) incorporando medidas de natureza capitalista, concretamente: – reconhecimento das dificuldades de construção de uma economia coletivizada, com requisição de alimentos pelo Estado, num país de pequenos camponeses e necessidade de dar resposta à crise cerealífera, à fome e ao descontentamento social e ultrapassar as dificuldades provocadas pelas medidas do “comunismo de guerra” e pela guerra civil (doc. 1); – reintrodução da livre concorrência (docs. 1 e 2), concebidas como recuo estratégico para a sobrevivência da revolução socialista; – concessão da liberdade de venda de alimentos nos mercados como fator de incentivo à produção (doc. 1); – incremento da produção e do comércio interno através da abertura de estabelecimentos comerciais privados (doc. 2); – fomento da produção industrial, com a privatização de pequenas empresas industriais, mantendo, no entanto, o controlo estatal sobre a banca, os transportes, a indústria de base e o comércio externo; – abertura ao investimento estrangeiro para construção de infraestruturas e de grandes projetos industriais, à importação de equipamentos e de tecnologia, à contratação de técnicos especializados; – adoção de incentivos ao aumento da produtividade industrial, como a atribuição de prémios individuais; – enriquecimento de novas classes de pequenos industriais e de comerciantes, os denominados nepmen (doc. 2) e de proprietários rurais (kulaks), contrários ao princípio socialista da sociedade sem classes. ____ Nota: A questão exige a referência apenas a três características da NEP. © Edições ASA GRUPO II 1. Documento 1: cartaz de propaganda elaborado pela Federação Nacional dos Produtores de Trigo (FNPT) para assinalar o XX Aniversário da Campanha do Trigo (1929-1949), evidenciando pelo seu conteúdo e objetivos alguns dos princípios ideológicos do Estado Novo, concretamente: – autarcia ou autossuficiência económica (doc. 1); – dirigismo estatal da economia (doc. 1); – conservadorismo ou tradicionalismo; – ruralismo (doc. 1); – nacionalismo e protecionismo económico (doc. 1); – corporativismo expresso na organização corporativa de toda a vida económica, social e política (doc. 1); – doutrinação através da propaganda e organizações estatais para enquadramento e inculcação nas massas dos valores morais, políticos e culturais do regime (doc. 1); – autoritarismo, antiparlamentarismo e anti-individualismo traduzidos na valorização do poder executivo, na subalternização do poder legislativo, na subordinação dos interesses individuais aos do Estado e na repressão política e ideológica dos cidadãos; – monolitismo político expresso numa política de partido único; – colonialismo fundado no mito do País “uno, multirracial e pluricontinental”. ______ Nota: A questão exige a referência apenas a três princípios ideológicos do Estado Novo. 2. Documentos 3 e 4: apresentação de perspetivas distintas de dois deputados – Jacinto Ferreira e Proença Duarte – no debate ocorrido na Assembleia Nacional em 1952 sobre a proposta de lei relativa ao I Plano de Fomento: – o deputado Jacinto Ferreira (doc. 3) afirma que o plano em análise é mais um plano de obras públicas do que um verdadeiro plano de fomento, enquanto o deputado Proença Duarte defende que se trata de um verdadeiro plano de fomento, ou seja, “um conjunto orgânico e sistematizado de realizações extraordinárias a levar a efeito durante um período de tempo pré-determinado”; – o deputado Jacinto Ferreira (doc. 3) refere que o plano revela “falta de sentido da unidade da nação portuguesa” por se tratarem separadamente a metrópole e as colónias, enquanto o deputado Proença Duarte (doc. 4) considera que o plano contempla, “simultânea e articuladamente, a economia metropolitana e as economias das províncias ultramarinas”, “de harmonia com os interesses da Nação”; – o deputado Jacinto Ferreira (doc. 3) afirma ser dispensável a inclusão no plano de verbas para a criação de escolas técnicas, enquanto o deputado Proença Duarte (doc. 4) elogia essa decisão, porque “é bem sensível a necessidade de criar no País uma rede de escolas para o ensino técnico”; – o deputado Jacinto Ferreira (doc. 3) considera que “uma boa parte da verba a despender é destinada à agricultura”, enquanto o deputado Proença Duarte (doc. 4) considera que “a agricultura, sendo enumerada em primeiro lugar no plano para o continente e ilhas, sob o ponto de vista de dotações financeiras, aparece em último lugar”; – o deputado Jacinto Ferreira (doc. 3) critica o plano de fomento porque é “puramente industrial”, “deixando em plano secundário o progresso agrícola”, quando o País “continua a ter na agricultura a sua maior riqueza”, enquanto o deputado Proença Duarte (doc. 4) enaltece a orientação seguida quanto aos investimentos na indústria, designadamente nos setores hidroelétricos e indústrias de base. _____ Nota: A questão exige a referência apenas a três aspetos oponentes nas intervenções dos dois deputados. © Edições ASA 3. Desenvolvimento do tema “Portugal: economia e sociedade da década de 30 à década de 60 do século XX”, abordando três dos aspetos a seguir referidos para cada um dos três tópicos de orientação da resposta: Prioridades económico-sociais de Portugal na década de 1930: – adoção de uma política económica intervencionista alicerçada na proteção e controlo das atividades económicas e sociais e na subordinação dos interesses individuais ou particulares ao interesse e desígnio nacionais (doc. 1); – organização corporativista das forças produtivas, tendo em vista não só o controlo da economia como também das relações laborais, evitando a luta de classes pela conciliação dos interesses dos indivíduos e dos grupos sociais (doc. 1); – ruralização da economia, expressa no doc. 1 (campanha do trigo) e no doc. 2 (significativo peso relativo da agricultura na economia nacional, apesar da sua baixa produtividade), tendo em vista a realização do ideal de autarcia económica (doc. 1); – defesa da sociedade rural (doc. 3) e do conservadorismo moral expressos em valores considerados como genuinamente nacionais, como a religião católica, a Pátria e a família; – política de condicionamento industrial, submetendo toda a iniciativa privada ou individual ao controlo do Estado, constituindo-se como um fator de bloqueio ao desenvolvimento dos setores secundário e terciário (doc. 2); – centralidade ao rigor orçamental visando assegurar o equilíbrio das finanças públicas; – política colonial caracterizada pela subordinação dos interesses das colónias (“províncias” ou “territórios ultramarinos”) aos da metrópole, traduzida na exploração de produtos primários e no bloqueio do desenvolvimento industrial das colónias como forma de proteção à indústria metropolitana; – lançamento de um vasto programa de obras públicas, para dotar o país de infraestruturas, combater o desemprego e instrumento de propaganda do regime. Alterações da política económica interna e externa do Estado Novo após a Segunda Guerra Mundial: – adoção de medidas de planeamento da economia através dos Planos de Fomento com vista a estimular a produção nacional pela criação e modernização de infraestruturas económicas e culturais (docs. 3 e 4); – promoção de reformas na agricultura, que, não obstante as intenções de incremento do setor e de reconhecimento da sua importância (doc. 3), não conseguiram modificar substancialmente a estrutura fundiária tradicional, arcaica e de baixa produtividade (doc. 2); – defesa do desenvolvimento industrial, mas estimulado por políticas fortemente protecionistas e na “utilização das nossas matérias-primas pelos aproveitamentos hidroelétricos e pelas indústrias de base” (docs. 3 e 4), cresceu a um ritmo lento e de forma ineficiente (doc 2); – afirmação clara da opção industrializadora, na década de sessenta, com o abandono da política de condicionamento industrial o que se refletiu no crescimento dos setores secundário e terciário (doc. 2); – abandono progressivo, a partir da mesma década, da ideia de autarcia e integração na economia europeia e mundial através da adesão a organismos internacionais como a EFTA, o FMI, o BIRD e o GATT; – reforço do fomento económico nas colónias, nomeadamente, após o início da guerra colonial, como forma de legitimar a pertença portuguesa, incentivar a colonização, os investimentos públicos e privados e à abertura ao capital estrangeiro; – defesa da ideia de coesão entre a metrópole e as colónias (docs. 3 e 4), que conduzirá à criação do Espaço Económico Português (EEP); – incremento significativo dos índices de crescimento económico na década de sessenta expresso no forte crescimento do PIB (doc. 2). © Edições ASA Movimentos migratórios da população portuguesa nas décadas de 1950 e 1960: – crescimento demográfico intenso nas décadas de 1930 e de 1940 (docs. 2 e 3), não absorvido pela economia (atraso nos setores da indústria e da agricultura) nem pela emigração tradicional (Grande Depressão e II Guerra Mundial), seguido de uma desaceleração nas décadas de 1950 e de 1960 (doc. 2); – êxodo rural acentuado: aumento da população nos grandes centros urbanos e industriais do litoral (macrocefalia de Lisboa e vale do Tejo) e progressiva desertificação e envelhecimento das regiões do interior; – período de emigração massiva para a Europa e para outros destinos com níveis de vida superiores; – emigração acentuada por baixos rendimentos e salários, pela política repressiva do regime e pelo recrutamento compulsivo para a guerra colonial; – peso significativo da emigração clandestina, em resultado de muitos entraves legais, pretendendo o Estado prioritariamente o aumento da emigração para as colónias; – adoção, em finais da década de 1960, de uma política menos restritiva do Estado Novo face à emigração e celebração de acordos entre Portugal e os países de acolhimento relativos aos direitos sociais e às remessas dos emigrantes; – forte impacto da emigração: perda de mão de obra ativa, importante para o desenvolvimento do país; importância para o Estado do volume significativo de remessas enviadas pelos emigrantes; contributos para a alteração das mentalidades e das paisagens. GRUPO III 1. Documento: segundo Barack Obama, o século XXI “revelou um mundo mais interligado do que em qualquer outra época da história humana”. Explicação dos fatores que suportam a afirmação de Obama: – a queda do muro de Berlim e fim do mundo bipolar e da Guerra Fria (doc.); – o fenómeno da globalização, decorrente da liberalização e mundialização dos mercados e da destruição das barreiras à circulação da informação e da tecnologia (doc.); – a integração, nos circuitos do comércio internacional, dos países da Europa de Leste, dos países da ex-Jugoslávia – libertos do “condomínio” soviético - e da China, apostada em afirmar-se como superpotência global; – a circulação de capitais à escala mundial; – a expansão das empresas transnacionais à escala planetária, adotando estratégias de produção e de comercialização de bens e serviços; – a generalização e intensificação da troca de conhecimentos, de informações e de tecnologia à escala mundial, facilitada pelos progressos das tecnologias de informação e de comunicação (doc.); – a progressiva uniformização de gostos e de consumo bens materiais e culturais, estimulada pelos media. ______ Nota: A questão exige a referência apenas a três fatores explicativos da afirmação de Barack Obama em apreço. © Edições ASA 2. Documento: não obstante considerar que o fim da Guerra Fria e a globalização trouxeram uma “nova esperança”, Barack Obama afirma também que este trouxe “novos perigos” ou desafios transacionais ou globais. Entre estes, pode relevar-se: – a insegurança traduzida no fenómeno da intensificação e globalização do terrorismo, exemplificando com os atentados de 11 de setembro de 2001, em Nova Iorque (doc.), na proliferação do comércio ilegal de armas e na disseminação dos segredos e armas nucleares; – os problemas ambientais que afetam o globo, como a poluição e o aquecimento global responsáveis, entre outros fatores, pelo degelo verificado nas “calotes de gelo no Ártico”, no recuo das “linhas costeiras do Atlântico” (doc.) e na subida do nível dos oceanos; – a intensificação dos surtos migratórios internacionais geradores de fenómenos reativos de violência, xenofobia e discriminação de imigrantes nos países de acolhimento; – a intensificação do tráfico internacional de droga, explorando as dificuldades acrescidas do seu controlo pelos Estados e organismos internacionais; – os conflitos étnicos e tribais, limpezas étnicas e movimentos de refugiados decorrentes do desrespeito dos direitos humanos e dos fenómenos acima referidos; – o fundamentalismo religioso; – a propagação de doenças endémicas, como o “flagelo da SIDA” (doc.); – a edificação de “novos muros” que o autor considera como “o maior de todos os perigos”, designadamente a desigualdade de crescimento económico e de bem estar entre países, particularizando Obama, entre outros, os exemplos da “pobreza e a violência na Somália” e “a pobreza das crianças no Bangladeche” (doc.). 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