2 Química Tabela periódica A. Elementos biologicamente importantes Na natureza, existem 81 elementos estáveis. Destes, 15 ocorrem em todos os seres vivos, de 8 a 10 foram comprovados apenas em determinados organismos. O quadro mostra a primeira metade da tabela periódica, na qual estão presentes todos os elementos biologicamente importantes. Além de dados físicos e químicos (número de ordem, massa atômica relativa, distribuição dos grupos e configuração eletrônica), são fornecidas também informações sobre a distribuição dos elementos na natureza viva e sobre a frequência da sua presença no organismo humano. Mais de 99% de todos os átomos no organismo animal incidem em apenas quatro elementos: hidrogênio (H), oxigênio (O), carbono (C) e nitrogênio (N). Hidrogênio e oxigênio são os componentes da água, que sozinha representa 60 a 70% da massa celular (p. 196). Junto com carbono e nitrogênio, estes átomos são também componentes principais dos compostos orgânicos, nos quais se baseia a maioria dos processos vitais. Muitas biomoléculas contêm, além disso, enxofre (S) ou fósforo (P). Os macroelementos até agora mencionados são imprescindíveis para todos os organismos. Um segundo grupo de elementos biologicamente importante, que no total compreende apenas aproximadamente 0,5% de todos os átomos presentes no corpo, existe quase exclusivamente como íons inorgânicos. Aos chamados eletrólitos pertencem os metais alcalinos sódio (Na) e potássio (K), bem como os metais alcalinoterrosos magnésio (Mg) e cálcio (Ca). O halogênio cloro (Cl) também é sempre ionizado na célula. Todos os outros elementos importantes para a vida ocorrem em quantidades tão pequenas, que são identificados como elementos-traço (p. 384). Estes elementos são predominantemente do grupo dos metais, como, por exemplo, ferro (Fe), zinco (Zn), cobre (Cu), cobalto (Co) ou manganês (Mn). Alguns não metais, como iodo (I) ou selênio (Se), também são elementos-traço essenciais. de elétrons. Por isso, na Figura A são apresentadas também as configurações eletrônicas dos elementos. A Figura B mostra a grafia abreviada empregada. Apresentações minuciosas do tema são encontradas em livros de química. Os estados possíveis dos elétrons de um átomo são denominados orbitais. Eles são caracterizados por um número, o chamado número quântico principal, e uma letra (p. ex., s, p ou d). Os orbitais são preenchidos, um a um, à medida que o número de elétrons aumenta, porém cada orbital pode conter no máximo dois elétrons, os quais então devem possuir “spins” com sentidos diferentes. Na Figura A, para cada elemento é especificada a distribuição dos elétrons nos diferentes orbitais. Por exemplo, os 6 elétrons do carbono (B1) ocupam o orbital 1s, o orbital 2s e dois orbitais 2p. O orbital 1s completo corresponde à configuração do gás nobre hélio (He). Este campo da camada de elétrons do carbono está abreviado com “He” na Figura A. Abaixo está mencionado o número de elétrons nos respectivos orbitais indicados na margem direita. As camadas de elétrons do cloro (B2), por exemplo, são como as do neônio, com mais sete elétrons nos orbitais 3s e 3p. No ferro (B3), um metal de transição do primeiro grupo, o orbital 4s já está ocupado, embora o orbital 3d ainda não esteja preenchido. Os orbitais d participam de muitas reações dos metais de transição, como, por exemplo, na formação de complexos com bases e em reações redox. Configurações eletrônicas especialmente estáveis surgem quando, nos elementos do segundo e do terceiro período, a camada mais externa está totalmente ocupada com 8 elétrons (“Regra do octeto”). Isso acontece com os gases nobres, mas também com íons como Cl− (3s23p6) ou Na+ (2s22p6). Apenas no hidrogênio e no hélio dois elétrons já bastam para preencher o orbital 1s externo e, com isso, alcançar uma configuração eletrônica estável. B. Configurações eletrônicas As propriedades químicas dos átomos e o tipo de ligações que eles estabelecem entre si são determinados pela estrutura das suas camadas Koolman_book.indb 2 11/12/12 09:56 3 Tabela periódica A. Elementos biologicamente importantes 1 2 Grupo 13 14 15 16 17 18 1,01 H 1 1 Período 2 3 4,00 1 Metais alcalinoterrosos Grupo do nitrogênio Halogênios 63 1s 2 He 2 6,94 He 9,01 He 10,81 He 12,01 He 14,01 He 16,00 He 19,00 He 20,18 He 1 2 2 2 2 2 2 2 1 2 3 4 5 6 3 5 6 9,5 7 1,4 8 25,5 9 10 4 ?Li ?B Be C N O F 2s 2p Ne 22,99 Ne 24,31 Ne 26,98 Ne 28,09 Ne 30,97 Ne 32,07 Ne 35,45 Ne 39,95 Ne 2 2 2 2 2 2 2 1 1 2 3 4 5 6 14 15 0,22 16 0,05 17 0,03 18 11 0,03 12 0,01 13 39,10 Ar 40,08 Ar 69,72 Ar 72,61 Ar 74,92 Ar 78,96 Ar 79,90 Ar 83,80 Ar Na 4 Al ? Mg 1 K Ca 2 Si 10 2 1 Ga 19 0,06 20 0.31 5 Grupo do boro 31 Metais alcalinos Ge 32 P 10 2 2 As ? 33 S 10 2 3 Grupo do carbono Cl Se 34 Br ? 10 2 4 Grupo do oxigênio 35 3s 3p Ar 10 2 5 3d 4s 4p 10 2 6 Kr 36 126,9 Kr 10 2 53 5 Gases nobres 4d 5s 5p 10 11 12 I Grupo 3 4 5 6 7 8 9 44,96 Ar 47,88 Ar 50,94 Ar 52,00 Ar 54,94 Ar 55,85 Ar 58,93 Ar 58,69 Ar 63,55 Ar 65,39 Ar 4 Sc 1 2 2 2 Ti 21 V 22 3 2 4 2 24 95,94 Kr 4 2 42 Cr 23 5 Mn 25 5 2 Fe 6 2 Co 26 7 2 Ni 27 28 8 2 9 2 Cu Zn 29 10 2 4d 5s Mo Massa atômica relativa 30,97 Ne Símbolo químico Número de ordem P 2 3 15 0,22 3d 4s 30 Configuração eletrônica Macroelemento Essencial para... todos/a maioria dos organismos Participação (%) no corpo humano para alguns Elemento-traço Metal Semimetal Não metal ? possivelmente Gás nobre B. Configurações eletrônicas s p s p s p d 3 3 1 Hélio (He, gás nobre) 1s2 4 1. Carbono (C) 2 Argônio (Ar, gás nobre) 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 [Ne] 2 [He] Koolman_book.indb 3 2 1 4 [He] 2s2 2p2 3 1 Neônio (Ne, gás nobre) 1s2 2s2 2p6 3 [Ar] 2. Cloro (Cl) [Ne] 3s2 3p5 3. Ferro (Fe) [Ar] 4s2 3d6 2 1 11/12/12 09:56 4 Química Isomeria A. Isomeria: definição As moléculas que contêm o mesmo tipo e número de átomos são isômeras (têm, portanto, a mesma fórmula molecular); no entanto, elas diferem quanto à estrutura. Se a ligação dos átomos na molécula for diferente, trata-se de isômeros constitucionais. Leucina e isoleucina (p. 50) ou citrato e isocitrato (p. 114) são exemplos de isômeros constitucionais. Nos estereoisômeros, a distribuição espacial de substituintes é diferente em relação a uma ligação (B, C) ou a isomeria depende da existência de um centro quiral na molécula (D). Quando os estereoisômeros se comportam como imagem e imagem especular, fala-se de enantiômeros; todos os outros estereoisômeros são denominados diastereômeros. B. Isômeros E/Z As ligações duplas não giram livremente. Os átomos com ligação dupla portam substituintes diferentes, havendo, por isso, duas orientações possíveis desses grupos. No ácido fumárico, um produto intermediário do ciclo do citrato (p. 114), os grupos carboxi situam-se em lados distintos da ligação dupla (posição E ou trans). No ácido maleico, isômero que não ocorre no metabolismo animal, os grupos carboxil situam-se no mesmo lado da ligação (posição Z ou cis). Os isômeros E/Z (isômeros geométricos) distinguem-se claramente em suas propriedades químicas e físicas, como, por exemplo, em seus pontos de fusão (Fp) e valores pKa. A transformação de um no outro só é possível mediante uma reação química. No metabolismo dos lipídeos, a isomeria cis-trans é especialmente importante. Assim, as ligações duplas em ácidos graxos de ocorrência natural (p. 38) geralmente têm configuração cis, enquanto nos produtos intermediários insaturados da -oxidação elas ocupam a posição trans. C. Confôrmeros As formas moleculares que se originam por rotação em torno de ligações sujeitas livremente a giros (p. ex., ligações simples C-C) são denominadas confôrmeros. Mesmo moléculas pequenas em solução podem assumir muitas conformações distintas. Nos confôrmeros de ácido succínico apresentados, os átomos têm disposição semelhante à do ácido fumárico ou ácido málico. Além de muitas outras formas, em solução Koolman_book.indb 4 ocorrem também essas duas; devido à maior distância dos grupos COOH, a conformação 1 (acima) é mais propícia e, por isso, mais frequente. Macromoléculas biologicamente ativas, como proteínas ou ácidos nucleicos, contêm milhares de ligações sujeitas a rotações livres, razão pela qual teoricamente podem assumir muitíssimas conformações. Apesar disso, elas existem geralmente em apenas uma conformação definida (“nativa”), que por meio de interações torna-se estável na molécula (p. 60, 68). Se a conformação nativa de uma macromolécula se perder por desnaturação, sua atividade biológica também desaparece. D. Enantiômeros Um outro tipo de isomeria origina-se quando uma molécula contém um centro quiral ou ela é um quiral como um todo. A quiralidade (do grego, cheir = a mão) determina que surjam estruturas que se comportam com imagem e imagem especular e não se correspondem (“imagem especular-isômero”). A causa mais frequente do comportamento quiral é a existência de um átomo de C assimétrico, ou seja, de um átomo de carbono saturado com quatro substituintes diferentes. A ligação em questão aparece então em duas formas (enantiômeros) com configuração distinta. Com frequência, os enantiômeros de uma molécula são identificados como formas L e D. O sistema R/S permite uma agregação inequívoca da configuração (ver livros de química). A chamada projeção de Fischer se presta à representação das fórmulas dos centros quirais (p. 48). Os enantiômeros têm propriedades químicas muito semelhantes e, por isso, é difícil separá-los por meios químicos. Para distinção, pode-se utilizar o fato de que os enantiômeros desviam o plano de luz polarizada linear em direções opostas (“atividade óptica”). Os enantiômeros do ácido láctico também possuem esta propriedade. O ácido láctico L com rotação para a direita ocorre nos músculos e no sangue dos animais (p. 130); a forma D com rotação para a esquerda, elaborada por microrganismos, é encontrada, por exemplo, em produtos do leite. 11/12/12 09:56 5 Isomeria A. Isomeria: definição Isômeros Fórmula molecular igual, ligação dos átomos distinta Isômeros de constituição Estereoisômeros Fórmula molecular e ligação dos átomos iguais, disposição espacial distinta Diastereômeros Não se comportam como imagem e imagem especular por exemplo, citrato/isocitrato Comportam-se como imagem e imagem especular Enantiômeros por exemplo, isômeros ópticos, hélices com giro para a esquerda e para a direita por exemplo, isômeros E/Z, confôrmeros C. Confôrmeros B. Isômeros E/Z Ácido fumárico Fp. 287 °C pKa 3,0; 4,5 E (trans) Ácido succínico Conformação 1 Ligação dupla sem possibilidade de giro Ligação simples giro livre Ácido maleico Fp. 130 °C pKa 1,9; 6,5 Z (cis) Ácido succínico Conformação 1 D. Enantiômeros Projeções de Fischer Centro quiral COO COO C CH3 HO L(S) HO C H CH3 H OOC OOC H C OH C 3HC 3H C OH H D(R) Ácido láctico L Ácido láctico D 53 °C 53 °C Valor pKa 3,7 3,7 Valor pKa Giro específico + 2,5˚ –2,5˚ Giro específico Fp. Koolman_book.indb 5 Fp. 11/12/12 09:56 6 Química Biomoléculas I A. Classes de compostos importantes A maioria das biomoléculas deriva de ligações mais simples de não metais de oxigênio (O), nitrogênio (N), enxofre (S) e fósforo (P). Os compostos de oxigênio, nitrogênio e enxofre, importantes na bioquímica, geralmente podem ser derivados dos respectivos compostos de hidrogênio (hidretos, como H2O, NH3 e H2S). O fósforo ocorre nos sistemas biológicos quase exclusivamente sob forma de derivados do ácido fosfórico (H3PO4). Se, nos compostos de hidrogênio com não metais, um ou mais átomos de H forem substituídos por outros grupos (p. ex., por resíduos de alquila), obtêm-se compostos derivados do tipo R-XHn−1, R-XHn−2-R, etc. Assim, por exemplo, a partir da água (H2O) originam-se alcoóis (ROH) e éter (R-O-R), respectivamente. A partir da amônia (NH3) obtêm-se amina primária (R-NH2), amina secundária (R-NH-R) e amina terciária (R-N-R’R’’), enquanto do gás sulfídrico (H2S) resultam tiol (R-SH) e tioéter (R-S-R’). Grupos polares, como –OH ou –NH2, encontram-se como substituintes em muitos compostos orgânicos. Por terem capacidade de reação muito maior do que as estruturas de hidrocarboneto, às quais se ligam, estes grupos polares são denominados grupos funcionais. Por oxidação dos compostos mencionados, formam-se novos grupos funcionais. Assim, por meio da oxidação de um tiol, obtém-se um dissulfeto (R-S-S-R). A dupla oxidação de um álcool primário (R-CH2-OH) produz inicialmente um aldeído (R-C(O)-H) e, após, um ácido carbônico (R-C(O)-OH). Por outro lado, por meio da oxidação de um álcool secundário, origina-se uma cetona (R-C(O)-R). O grupo carbonil (C=O) é característico de aldeídos e cetonas. A adição de uma amina ao grupo carbonil forma uma aldimina (não representada), depois da eliminação de água. As aldiminas são produtos intermediários no metabolismo de aminoácidos e servem para a ligação de aldeídos com grupos amino nas proteínas (p. 166). Por meio da adição de um álcool ao grupo carbonil de um aldeído, resulta um semiacetal (R-O-C(H)OH-R). As formas cíclicas dos açúcares (p. 28), por exemplo, pertencem ao grupo dos semiacetais. Por meio da oxidação, forma-se éster de ácido carboxílico a partir de semiacetais. Especialmente importantes são os ácidos carboxílicos e seus derivados, que podem ser obti- Koolman_book.indb 6 dos pela substituição do grupo –OH por outros grupos. De fato, tais derivados são formados por substituição nucleofílica de compostos intermediários, com liberação de água (p. 10). A partir de ácidos carboxílicos e alcoóis formam-se ésteres de ácidos carboxílicos (R-O-CO-R). As gorduras, por exemplo, pertencem a este grupo (p. 38). De modo análogo, de um ácido carboxílico e um tiol obtém-se um tioéster (R-S-CO-R). Os tioésteres exercem um papel de destaque no metabolismo dos ácidos carboxílicos. O composto mais importante desse tipo é a acetil-coenzima A (p. 8). A partir de ácidos carboxílicos e aminas primárias resultam amidas de ácidos carboxílicos (R-NH-CO-R). Uma vez que os aminoácidos – componentes dos peptídeos e proteínas – unem-se por ligações amida-ácido, esta ligação é também chamada de ligação peptídica (p. 56). O ácido fosfórico (H3PO4) é um ácido tribásico (triprotonado), ou seja, ele contém três grupos hidroxilas, que podem doar íons H+. Sob condições fisiológicas, pelo menos um desses três grupos está completamente dissociado.Os outros dois podem reagir com alcoóis. Dessa maneira, resultam monoésteres (R-O-P(O)O-OH) e dioésteres (R-O-P(O)O-O-R’) de ácidos fosfóricos. Os monoésteres de ácido fosfórico são encontrados, por exemplo, no metabolismo dos carboidratos, ao passo que os grupos de diésteres de ácido fosfórico ocorrem em fosfolipídeos (p. 40) e ácido nucleicos (p. 64). As ligações entre ácidos são denominadas anidridos de ácidos. Para o estabelecimento de ligações de anidridos de ácidos, é necessária de muita energia. Por esse motivo, as ligações de anidridos de ácido fosfórico desempenham um papel destacado na conservação e liberação da energia química na célula (p. 104, 122). Os anidridos mistos de ácidos carboxílicos e ácido fosfórico, bem como os enolfosfatos, são “metabólitos ricos em energia” (p. 106) importantes no metabolismo. 11/12/12 09:56 7 Biomoléculas I A. Classes de compostos importantes Compostos de oxigênio H OH Água OH R O Oxidação C H R O Oxidação C H R Aldeído H C OH Ácido carboxílico Álcool primário OH R C O O Oxidação R' R C R' R Cetona H R' C O Éster Álcool secundário OH R C R R' R' O R R' Éter O O C O C R' Anidrido de ácido carboxílico Álcool terciário Compostos de enxofre H S Compostos de nitrogênio H H N H R H Ácido sulfídrico N H R N H Amônia R' H Amina primária Amina secundária NH R S H R Tiol R R S R' R N Tioéter R S O S C C N H H H R' + R N O R' R N R'' Tioéster Dissulfeto (dissulfano) N H Guanidina substituída Amina terciária Ligação rica em energia S R R' R'' C R' H Sal de amônio quaternário Amida de ácido carboxílico Compostos de fósforo O H O P O O H R O P O O H R O P O R' O O O Fosfato di-hidrogenado Monoéster de ácido fosfórico Diéster de ácido fosfórico R O R O P O O O P O O O Anidrido de ácido fosfórico Koolman_book.indb 7 R' H O P O O O O Anidrido misto C R' H O P R' C O O C R'' Enolfosfato 11/12/12 09:56 8 Química Biomoléculas II Muitas biomoléculas são módulos formados de unidades pequenas, nas quais podem ser novamente decompostos. Na maioria dos casos, a formação de tais moléculas ocorre por meio de reações de condensação, com a saída de água. Sua degradação, ao contrário, processa-se de maneira hidrolítica, ou seja, com a entrada de água. Na página seguinte, ilustramos esse princípio modular com o exemplo de uma coenzima importante. A. Acetil-CoA A coenzima A (p. 88) é um nucleotídeo de estrutura complexa, cuja função consiste em ativar resíduos de acil (resíduos de ácidos carboxílicos). Da união do grupo carboxil do ácido carboxílico com o grupo tiol da coenzima resulta uma ligação tioéster (-S-CO-R, p. 6), na qual o resíduo de acil apresenta potencial químico alto. Por isso, mediante reações exergônicas ele pode ser transferido para outras moléculas. Esse processo exerce um papel importante principalmente no metabolismo de lipídeos (p. 144 e seguintes), bem como em duas reações do ciclo do citrato (p. 114). Conforme tratado na página 18, o potencial de transferência de grupos é quantificado como mudança da energia livre (ΔG) pela cisão hidrolítica do grupo considerado. Na verdade, esta definição é arbitrária, mas há indicativos importantes do potencial químico, a partir do qual é formado o grupo em questão. Assim, no caso do grupo acetil na acetil-CoA, considera-se a reação: Acetil-CoA + H2O → Acetato + CoA 2. Por meio de uma ligação ácido-amida (-CO-NH-), o grupo amido da cisteamina liga-se ao grupo carboxílico de uma outra amina biogênica. A -alanina resulta da descarboxilação do aminoácido aspartato, mas pode ser formada também pela decomposição de bases pirimidínicas (p. 180). 3. Uma outra ligação ácido-amida (-CO-NH-) produz o vínculo com o próximo componente, o pantoinato. Esse composto contém um centro quiral e, por isso, pode aparecer sob forma de dois enatiômeros (p. 4). Na coenzima A natural, encontra-se apenas uma das duas formas, o (R)-pantoinato. O metabolismo humano não consegue sintetizar o pantoinato, razão pela qual na alimentação deve ser adicionado um composto de -alanina e pantoinato – o pantotenato (“ácido pantotênico”) – como vitamina (p. 394). 4. Por meio de uma ligação éster, o grupo hidroxil do C-4 do pantoinato liga-se a um resíduo de fosfato. A parte da molécula até aqui tratada representa uma unidade funcional. Ela é sintetizada nas células sob forma de pantotenato. Como 4’-fosfopantoteína, essa molécula ocorre também ligada à enzima ácido graxo-sintase (p. 150). Na coenzima A, por sua vez, ela está ligada com 3’,5’-adenosina-difosfato. 5. A ligação entre os dois resíduos de fosfato não se trata de uma ligação éster, mas de uma ligação anidrido fosfórica, como se observa também em outros fosfatos de nucleosídeos. Em (6) e (7), por outro lado, encontram-se novamente ligações éster. 8. A base adenina liga-se com C-1 da ribose mediante uma ligação N-glicosídica (p. 34, 64). Junto a C-2 e C-4 da ribose, o C-1 representa também um centro quiral (p. 4). Sob condições-padrão e em pH 7, a mudança do potencial químico G (ΔG0’, p. 18) dessa reação é de – 32 kJ·mol−1 e, com isso, assemelha-se ao ΔG0’ da hidrólise do ATP (p. 104). Além da ligação tioéster “rica em energia”, a acetil-CoA contém outras sete ligações hidrolisáveis com níveis de estabilidade diferentes. Essas ligações e os fragmentos resultantes da sua hidrólise na sua ordem. 1. O grupo tiol reativo da coenzima A encontra-se em uma parte da molécula que é derivada de cisteamina. A cisteamina é uma amina biogênica (p. 52), a qual é formada pela descarboxilação do aminoácido cisteína. Koolman_book.indb 8 11/12/12 09:56 9 Biomoléculas II A. Tipos de ligações no exemplo da acetil-CoA CH 3 Acetato C Ligação tioéster O S CH 2 Cisteamina CH 2 Ligação ácido-amida H N C O CH 2 -alanina CH 2 Ligação ácido-amida H N C O H C OH H3 C C CH3 Pantoinato Acetil-coenzima A Modelo de Van der Waals CH 2 Ligação éster ácido fosfórico O O Fosfato P Ligação anidrida ácido fosfórico O O Fosfato O NH 2 P O O Ligação éster ácido fosfórico N N CH 2 H H H Ligação éster ácido fosfórico O H O OH P O O Koolman_book.indb 9 Adenina N O Ribose Fosfato N HC Ligação N-glicosídica Ligação rica em energia Centros quirais 11/12/12 09:56 10 Química Reações químicas Reações químicas são processos nos quais elétrons ou grupos de átomos são armazenados em moléculas, trocados entre moléculas ou deslocados no interior de uma molécula. Aqui, apresentamos os tipos de reações mais importantes da química orgânica, por meio de exemplos simples, nos quais os deslocamentos de elétrons são identificados por setas vermelhas. A. Reações de oxirredução Nas reações de oxirredução (p. 12), os elétrons são transferidos de uma molécula (o agente redutor) para outra (o agente oxidante). Ao mesmo tempo, com frequência são transferidos também um ou dois prótons, mas o critério decisivo para a existência de uma reação de oxirredução é a transferência de elétrons. O agente redutor é oxidado durante a reação, e o agente oxidante é reduzido. A figura apresenta a oxidação de um álcool a aldeído e a redução do aldeído a álcool. Assim, um íon hidreto (dois elétrons e um próton, p. 12) é transferido do álcool para o agente oxidante A. O próton excedente é ligado a uma base B que atua como catalisador (p. 20). Na redução do aldeído, A-H serve como agente redutor, e o ácido H-B participa como catalisador. B. Reações ácido-base Ao contrário das reações de oxirredução, nas reações ácido-base (p. 14) não são transferidos elétrons, mas sim ocorre a transferência de prótons (íons H+). Na dissociação de um ácido (aqui ácido clorídrico, HCl), a água atua como aceptor de prótons e transforma H3O+ em íon oxônio (hidrônio). Por outro lado, a água assume a função de um ácido na protonação da base conjugada Cl−. Da reação da base NH3 (amônia) com água resultam um íon hidróxido (OH−) e o íon amônio (NH4+) como ácido conjugado. originar álcool. A eliminação de água do álcool (desidratação) é igualmente catalisada por um ácido e se processa por meio dos mesmos produtos intermediários com a reação de adição. D. Substituições nucleofílicas Substituição é uma reação pela qual um grupo funcional (p. 6) é substituído por um outro. Dependendo do andamento da reação, distinguem-se substituições nucleofílicas e eletrofílicas (consultar livros de Química). As substituições nucleofílicas começam com a adição de uma molécula a outra, seguida da eliminação de um grupo inicial. Como exemplo do chamado mecanismo SN2, consideramos a hidrólise de um éster a álcool e a ácido, e a esterificação de um ácido com um álcool. As duas reações são facilitadas pela nítida polaridade da ligação dupla C=O. No mecanismo da hidrólise de éster apresentado, um próton é subtraído de uma molécula de H2O por meio da ação catalítica da base B. O íon OH− resultante, fortemente nucleofílico, reage com o C-carbonil (positivamente carregado) do éster e estabelece-se um estado transitório hibridizado sp3 instável. Após, a água é novamente eliminada (2b) e o éster é formado ou ocorre a eliminação de álcool ROH (1b) e origina-se um ácido livre. Na esterificação (2), cumprem-se os mesmos passos em sequência inversa. Nas redistribuições (isomerizações, não mostradas), grupos são deslocados no interior da mesma molécula. As isomerizações de fosfatos de açúcares (p. 128) e de metilmalonil-CoA a succinil-CoA (p. 170) são exemplos bioquímicos. C. Adições/eliminações Adição é uma reação na qual átomos ou moléculas são armazenados em ligações repetidas. Eliminação é o contrário da adição, ou seja, a separação de moléculas com formação de uma ligação dupla. Durante a adição de água a um alqueno, inicialmente um próton é transferido para o alqueno. O produto intermediário, o íon carbênio, é instável e reage primeiramente com a água, antes da eliminação de um próton para Koolman_book.indb 10 11/12/12 09:56 11 Reações químicas A. Reações de oxirredução H H R C H H B A HCl (Ácido) Aldeído H R C O H A B H H H C O H2O H2O H3O+ NH3 (Base) pKa = +9,2 H2O O B H A H Cl(Base) OH– OH– Íon hidróxido Íon oxônio pKa = –7 NH4+ (Ácido) B A R H H3O+ H2O O Íon hidreto (2e–, H+) O H Cl Álcool A B H H C H B O H A R B. Reações ácido-base H H3N H C. Adições/eliminações O H B H–B H H H R C C R' R H C C B H H–B H H R' R C H B H–B Alqueno H Íon carbênio O H B C R' O H H–B H Álcool D. Substituições nucleofílicas O R R' 1b B 1a O H H C O H O R C R' O O H H O H O R' R BH B BH O H 1a C 2b O O H Éster BH B H 2b H B R C R' O R' Koolman_book.indb 11 O H 1b O Estado transitório O R 2a H C O BH B R' O H Álcool 2a O Ácido carboxílico H C O H C O Álcool R O B R R B O R' O H B 11/12/12 09:56 12 Química Processos de oxirredução A. Reações de oxirredução As reações de oxirredução são transformações nas quais os reagentes trocam elétrons (p. 10). De maneira semelhante às reações ácido-base, nas reações de oxirredução sempre há participação de pares de ligações. Um par desse tipo é conhecido como sistema de oxirredução. Os dois componentes de um sistema de oxirredução (Aox e Ared) distinguem-se pelo número de elétrons que contêm. O componente mais rico em elétrons (Ared) é a forma reduzida; o componente mais pobre em elétrons (Aox) é a forma oxidada do composto em questão. O chamado potencial de oxirredução E de um sistema é uma medida do seu potencial de transferência de elétrons, ou seja, da sua tendência de doar ou receber elétrons. A equação de Nernst vincula o potencial E do sistema ao potencial normal E0 (independente da concentração) e às concentrações dos dois componentes. O potencial de oxirredução (medido em volt, V) pode ser mais negativo ou mais positivo do que um potencial de referência estabelecido arbitrariamente como igual a zero. Nas reações de oxirredução, a forma reduzida de um sistema (o agente redutor, Bred) transfere elétrons para a forma oxidada do outro sistema (o agente oxidante, Aox). Nesse processo, o agente redutor é oxidado e o agente oxidante é reduzido. Um certo agente redutor pode reduzir sempre apenas determinados sistemas. É possível determinar as diferenças de potencial entre dois sistemas de oxirredução por meio das chamadas células galvânicas. Este assunto é ilustrado abaixo no exemplo da reação piruvato + NADH + H+ → lactato + NAD+. Sob condições normais, o sistema NAD+/NADH + H+ tem o potencial mais negativo. Por isso, neste caso não é possível a reação inversa (lactato + NAD+ → piruvato + NADH + H+). Com base nos seus potenciais de oxirredução, é possível ordenar os sistemas de oxirredução nas chamadas sequências de oxirredução. Transferências espontâneas de elétrons só são possíveis quando o potencial de oxirredução do doador é mais negativo do que o do aceptor (ver, p. ex., a cadeia respiratória, p. 120). B. Potenciais normais destina-se arbitrariamente ao sistema [2H+/H2] o potencial normal E0 = 0. Em bioquímica, geralmente empregam-se os potenciais correspondentes E0’ para pH = 7. C. Sistemas biológicos de oxirredução Nas células, a maioria das reações de oxirredução é catalisada por enzimas, que cooperam com cofatores de oxirredução solúveis ou ligados. Alguns desses fatores contêm íons metálicos como componentes de oxirredução. Nesses casos, geralmente são transferidos elétrons isolados, o que provoca a alteração da valência do íon metálico. Muitas vezes, ocorrem nesse caso elétrons não pareados, que se detêm em orbitais d (p. 2) e, por isso, são menos perigosos do que elétrons isolados em átomos de não metais (“radicais livres”, ver a seguir). Outros sistemas de oxirredução consistem em dissulfetos (R-S-S-R) e tióis correspondentes (RSH). Para a redução de um dissulfeto, são necessários 2 e− e 2 H+. Isso acontece em duas etapas isoladas, sendo que como produto intermediário forma-se um radical tiol. Existem sistemas especiais de proteção nas células, que tornam inofensivos os radicais livres (p. 288). Para a redução completa das flavinas FMN e FAD (p. 86), também são necessários 2 e− e 2 H+, tendo um radical semiquinona como produto intermediário. Na redução e oxidação de sistemas quinona/ quinol surgem igualmente radicais livres como níveis intermediários, que, no entanto, são menos reativos do que os radicais flavina. Os nucleotídeos de piridina NAD+ e NADP+ (p. 86) atuam sempre na forma dissolvida. A coenzima oxidada contém um anel aromático de nicotinamida, em que a carga positiva é deslocada. Das duas estruturas limítrofes, a representada à direita contém, na posição oposta ao nitrogênio, um átomo de carbono pobre em elétrons e com carga positiva. Se nessa posição for adicionado um íon hidreto (H−), são produzidas as formas reduzidas NADH e NADPH. Nesse caso, não ocorrem radicais intermediários. Como ao mesmo tempo é liberado um íon H+, a designação correta dos nucleotídeos de piridina reduzidos é NAD(P)H+H+ e não NAD(P)H2. A tabela mostra os potenciais normais dos sistemas de oxirredução biologicamente mais importantes. Sob condições normais (todas as concentrações em 1 mol · L−1, inclusive as de H3O+), Koolman_book.indb 12 11/12/12 09:56 13 Processos de oxirredução A. Reações de oxirredução B. Potenciais normais Para um sistema de oxirredução Aox + n · e– Ared R·T [Aox] E = E° + · ln [Ared] n·F Para uma reação de oxirredução Aox + Bred Ared + Box E = E aceptor – E doador G=–n·F· E l Eletrodo e– NAD+ e– e– NADH e– e– Ponte E° [V] pH 0 E°’ [V] pH 7 Ferredoxina Fe3+/Fe2+ H+/ 1/2 H2 NAD(P)+/NAD(P)H+H+ Liponamidaox+2H+/ 1 1 2 −0,43 0 +0,09 −0,43 −0,41 −0,32 Liponamidared Piruvato+2H+/Lactato 2 2 2 2 2 2 1 2 +0,21 +0,24 +0,22 +0,31 +0,38 +0,51 +0,24 +1,23 −0,23 −0,19 −0,13* −0,10 −0,03 +0,13 +0,24 +0,82 Cit c (Fe 3+)/Cit c (Fe 2+) 1/ O +2 H+/H O 2 2 2 e– Piruvato n FAD(FMN)/FADH2(FMNH2) GSSG/ 2 GSH+2 H+ Fumarato/Succinato+2H+ Ubiquinona+2H+/Ubiquinol ΔE° = + 0,13V e– e– Sistema de oxirredução Lactato E° = – 0,32V GSH - Glutationa; GSSG - Glutationa –Dissulfeto * dependente do meio onde se encontram as proteínas E°l = – 0,19V l C. Sistemas biológicos de oxirredução e 1e 1e 1H Complexos metálicos reduzido oxidado S Dissulfeto/ 2 Tióis m+ n+ R S e C H2 H2 C S H R' R H Dissulfeto N C Flavina H3 C N C N O H H3 C N H3 C Flavina ox. Quinona/ hidroquinona H3 CO C C N e C O O–H e– H3 CO R C H H O H3 C N C H3 C N N R H H3 CO H C O p-Benzoquinona C O O–H e R NH Flavina red. H • R' 2 Tióis NH R H H C H2 H Radical semiquinona O H3 CO C S H2 C O • N R S H R Radical tiol H e NH e R' C H2 Tiol O H3 C •S H2 C H H3 CO C H H3 CO C R O O–H Hidroquinona Radical semiquinona Íon H 1H NAD(P)+ –,1 H 2e hidreto H H C CONH 2 H C CONH 2 H N H H N H R R NAD(P)+ (estruturas limítrofes mesômeras) Koolman_book.indb 13 H– H H H C CONH 2 H N H R NAD(P)H + H 11/12/12 09:56 14 Química Ácidos e bases A. Ácidos e bases Conforme a definição de Brønstedt, ácidos são substâncias capazes de doar íons hidrogênio (prótons, íons H+), ao passo que bases são aquelas capazes de receber prótons. A água reforça as propriedades ácidas ou básicas de substâncias dissolvidas, pois ela mesma pode atuar como base ou como ácido. Em solução aquosa, o ácido HA doa um próton ao solvente. Com isso, formam-se o ânion ácido A− e moléculas de água protonadas (íons hidrônio, H3O+; em geral, representados simplesmente como “H+”). As bases, ao contrário, recebem íons H+ de moléculas de água, resultando íons hidroxila (OH−) e bases protonadas (não mostradas, ver p. 10). Se a lei da ação das massas for aplicada a uma reação ácido-base, obtém-se a constante de ionização do ácido Ka (também identificada como Ks) como constante de equilíbrio. Se para a concentração de H+ e para Ka forem adotados os seus respectivos logaritmos decimais negativos pH e pKa, resulta a equação de Henderson-Hasselbalch. Ela descreve o estado de dissociação dos ácidos, independente do valor de pH. Da representação gráfica, obtém-se a curva de dissociação do ácido (no quadro, abaixo). O valor de pKa do sistema corresponde, neste caso, ao valor de pH no momento de transição da curva. B. Pares de ácidos e bases Nas reações de ácidos e bases, sempre participam pares de um ácido e da base conjugada correspondente. Como medida do potencial de transferência de prótons, emprega-se seu valor de pKa. Quanto menor o pKa, mais forte é o ácido. Ácidos fortes são conjugados com bases fracas e vice-versa. Assim, o íon cloreto (uma base muito fraca) pertence ao ácido clorídrico (um ácido muito forte), ao passo que H2O (um ácido muito fraco) está conjugado com OH− (uma base muito forte). trações de H+ mais altas (O < pH < 7) são ácidas; as com concentrações de H+ mais baixas (7 < pH < 14) são alcalinas. D. Valores do pH no organismo Os valores do pH nas células e no líquido são mantidos em limites estreitos constantes. No sangue, normalmente o pH oscila entre 7,35 e 7,45 (ver p. 292). Isso corresponde a uma variação máxima da concentração de H+ de aproximadamente 30%. O pH do citoplasma varia de 7,0 a 7,3, sendo, portanto, um pouco mais baixo do que o do sangue. Nos lisossomos (ver p. 224, pH 4,5-5,5), a concentração de H+ é algumas centenas de vezes mais elevada do que no citoplasma. No estômago (pH em torno de 2) e no intestino delgado (pH > 8), encontram-se valores extremos. Como os rins podem eliminar ácidos ou bases (ver p. 336), o pH da urina oscila bastante (pH 4,8 até 7,5). E. Tampão As mudanças de curto prazo do pH no organismo são controladas por sistemas-tampão (p. 292), os quais representam misturas de um ácido fraco HA com a base conjugada A− ou de uma base fraca com seu ácido conjugado. Um sistema desse tipo pode inativar íons hidrônio e hidroxila. No primeiro caso (à esquerda), a base A− se liga a uma grande parte dos prótons adicionados, formando-se HA e água. Se a adição for de íons hidroxila (OH−), estes reagem com HA, formando A− e água (à direita). Nos dois casos, desloca-se prioritariamente a razão [HA]/[A−], enquanto o pH altera-se muito pouco. A curva de dissociação (acima) mostra que os sistemas-tampão são mais eficazes quando os valores do pH correspondem ao valor do pKa do ácido. Neste ponto, a curva é mais inclinada e, com isso, a variação do pH (ΔpH) é a mais baixa, devido a uma elevação de Δc de [H+] ou [OH−]. Em outras palavras: a capacidade de tamponamento Δc/ΔpH do sistema é a maior na faixa do valor de pKa. C. Escala de pH Do valor de pKa da água de 15,7 (B) resulta que o produto [H+]·[OH−], o chamado produto iônico da água, tem o valor constante de 1·10−14 mol · L−1, mesmo quando ácidos ou bases adicionais são dissolvidos em água. A 25°C, a água pura contém H+ e OH− em concentrações de 1·10−7 mol · L−1, respectivamente; ela é neutra e seu valor de pH é 7. Soluções aquosas com concen- Koolman_book.indb 14 11/12/12 09:56