1 A FORMAÇÃO HISTÓRICA DO PENSAMENTO ANTROPOLÓGICO E SUA ARTICULAÇÃO COM AS CIÊNCIAS SOCIAIS unidade Seção I Civilização e escrita na formação de atitudes antropológicas e pedagógicas. Seção II Civilização e oralidade na formação de atitudes antropológicas e pedagógicas. Seção III Colonialismo e pensamento social. seções 12 3 Objetivos A FORMAÇÃO HISTÓRICA DO PENSAMENTO ANTROPOLÓGICO E SUA ARTICULAÇÃO COM AS CIÊNCIAS SOCIAIS • Seção I: refletir sobre escrita como ferramenta cultural para a formação de atitudes pedagógicas e antropológicas. • Seção II: refletir sobre a oralidade como ferramenta cultural para a formação de atitudes pedagógicas e antropológicas. • Seção III: refletir sobre o colonialismo como processo de formação do pensamento social. 1 Seção Unidade I SEÇÃO I CIVILIZAÇÃO E ESCRITA NA FORMAÇÃO DE ATITUDES ANTROPOLÓGICAS E PEDAGÓGICAS Vamos tentar compreender a relação entre a Antropologia e a Educação. Inicialmente iremos buscar algumas referências históricas que nos auxiliem a estabelecer relações entre uma e outra. Antropologia e Educação são duas importantes áreas do conhecimento científico moderno que se distanciam nos seus conteúdos de reflexão, mas que também se aproximam nos seus processos de análise. UESC Pedagogia 19 Antropologia e Educação Civilização e escrita na formação de atitudes antropológicas e pedagógicas Tanto a Antropologia quanto a Educação tomam por tarefa do pensamento o homem e a cultura. Digamos que, enquanto a Antropologia busca compreender como a cultura produz o homem e vice-versa, a Educação busca compreender como, através do ensino e da aprendizagem, a espécie humana produz cultura. Ambas Antropologia: palavra originária do grego que significa pensamento sistemático sobre o homem. Anthropos: homem e logos: razão. Educação: no sentido aplicado ao texto significa área do conhecimento que busca compreender as relações estabelecidas entre os homens na produção de saberes. possuem como referências de análise o homem, suas experiências de convívio social e as práticas e saberes com os quais a espécie humana se relaciona com a cultura sob a forma de pensamento, atitudes e linguagem. Os primeiros grandes pensadores da antiguidade não separaram Antropologia e Educação como áreas distintas do conhecimento. Ao criarem seus sistemas de ideias, dedicavam o trabalho de uma vida ao pensamento. A este trabalho chamaram de Filosofia (amor ao saber). Hoje são reconhecidos como filósofos por terem elaborado ensinamentos que buscavam, de forma ordenada, compreender as ações humanas através de princípios e conceitos que orientam tais ações. A filosofia ocidental em sua origem grega buscava demonstrar, como através da vida em sociedade, os humanos produzem conceitos que ordenam suas atitudes. Foi o uso dos registros escritos que permitiu à humanidade acesso a esses ensinamentos que, ainda hoje, nos possibilitam o acesso à maneira como outras civilizações organizavam seus sistemas de ideias e seus sistemas sociais. Tomemos como exemplo dois pensamentos e uma atitude filosófica que demonstram a importância do conhecimento sobre o homem para o desenvolvimento da civilização da espécie humana. O primeiro pensamento está inscrito no Oráculo de Delfos, um templo erguido pelos gregos entre os anos de 650 ac. e 550 ac. na cidade grega de Delfos. Logo na entrada do oráculo, está escrita a seguinte frase: “conhece a ti mesmo”. Através deste pensamento, atribuído aos sete sábios da antiguidade grega, os peregrinos que visitavam o templo eram convidados a pensar sobre si mesmos para alcançarem a verdade. Para serem atendidos na sua busca, era necessário que exercitassem o autoconhecimento. Seriam merecedores da verdade se conhecessem o bastante suas qualidades e seus defeitos, só assim poderiam lidar, de forma mais adequada, com os ensinamentos do deus Apolo. O nosso segundo exemplo vem da China Antiga. Está nas palavras do pensador Kung-Fun-Tse mais conhecido entre nós como Confúcio, e diz o seguinte: “aprender sem pensar é tempo perdido”. Confúcio é considerado um dos maiores pensadores das civilizações orientais. Os registros dos seus ensinamentos foram organizados pelos seus discípulos e orientam, até hoje, as tradições chinesas que 20 Módulo 2 I Volume 1 EAD 1 seguem o confucionismo como um sistema de ideias. O ensinamento Seção destacado anteriormente mostra a importância do pensamento para tornar mais significativas as aprendizagens humanas. Desse Unidade I ensinamento se deduz que o homem ou a mulher que não pensam sobre aquilo que aprendem não conseguem guardar lições importantes para suas experiências de vida. O terceiro exemplo também vem da antiguidade. Tem a sua origem em Heródoto, pensador que nasceu na cidade de Halicarnasso (hoje Bodrum, Turquia), no século V ac..Heródoto é considerado por muitos o pai da História, da Etnografia e da Antropologia. Este pensador dedicou toda a sua vida à descrição de inúmeros feitos das civilizações antigas, sobretudo as civilizações egípcia, grega e persa. Passou muitos anos viajando, observando e registrando anotações sobre costumes, guerras, tradições e saberes de outros povos. Organizou seus registros segundo a ordem cronológica das suas observações e, após a elaboração dos livros que compõem a obra Histórias, dava aulas públicas, nas quais relatava as experiências culturais de outros povos e defendia a observação e o registro da história tal como ela é vivida pelos povos como a forma mais adequada de se conhecer verdadeiramente as civilizações. Tal atitude contribui até os dias de hoje para o desenvolvimento do pensamento humano, seja no campo filosófico seja no campo das Etnografia: prática de pesquisa que deu origem à antropologia aplicada na modernidade. Significa literalmente registro escrito das tradições de um povo. O prefixo grego etnos designa: tradição, povo, raça. O sufixo graphos designa: registro escrito. No pensamento antropológico contemporâneo é comum compreendê-la como descrição da cultura. História: No sentido atribuído no texto, referese ao campo das ciências humanas dedicado ao registro sistemático no tempo e no espaço dos acontecimentos que constituem a humanidade. ciências humanas. Contudo nos interessa, neste momento, destacar o caminho feito por Heródoto para chegar ao conhecimento: ir ao encontro de outros povos, observar a maneira como se organizam e vivem suas tradições, registrar aquilo que foi observado, sistematizar as informações coletadas, compartilhar com outras pessoas o conhecimento produzido a partir da experiência vivida. Tais atitudes foram extremamente inovadoras para as tradições da época. Os gregos aprendiam a História através da narrativa oral dos mitos que, na maioria das vezes, eram apresentados através da saga de personagens fantásticos tais como: deuses, semideuses e heróis (homens e mulheres capazes de grandes realizações). Tais narrativas míticas eram organizadas sob a forma de Epopeias. Para realizar tal trabalho, o pensador recolhiase na sua individualidade para rememorar histórias orais de sua tradição e idealizar, de forma grandiosa, os textos que serviriam de base para a compreensão da relação do humano com o mundo. A partir do exemplo de UESC Pedagogia SAIBA MAIS Epopeia: gênero da produção literária apresentado sob a forma de poemas e canções que expõem as narrativas dos grandes feitos de personagens míticos da história antiga. Mito: campo do saber através do qual o ser humano estabelece uma relação ‘mágica’ com a tomada de consciência do conhecimento. Personagens, eventos e contextos míticos são compostos por características humanas e mais que humanas que os qualificam como superiores na capacidade de realização de grandes feitos. Estão presentes em fábulas, causos e nas mais diversas crenças, que tem por fundamento a existência de formas de inteligência e saberes superiores aos saberes humanos. 21 Antropologia e Educação Civilização e escrita na formação de atitudes antropológicas e pedagógicas Heródoto, a civilização grega da época passou a questionar a verdade contida nas narrativas míticas sem, no entanto, abandoná-las no seu valor literário ou no seu conteúdo religioso. Afinal de contas era através dos mitos que contemporâneos de Heródoto cultuavam os seus deuses. ATIVIDADE • Organize as suas dúvidas em forma de pergunta e tente respondê-las. • Qual a importância do conhecimento do homem pelo homem? • Quais reflexões e/ou questões este texto lhe provocou? Cite as mais importantes. • A partir das suas experiências de vida quais as relações que você consegue estabelecer com o texto? • Qual a sua ideia de homem? • Qual a sua ideia de cultura? LEITURA C O M P L E M E N T A R A música do Olodum, Faraó Divindade do Egito, nos expõe de forma primorosa elementos de alguns dos mitos mais importantes da História da humanidade do norte da África, em suas relações com a cultura negra contemporânea, presente na capital baiana. O Egito e o Pelourinho celebram a história como um encontro entre culturas e evocam, através da canção, um novo olhar sobre a importância do povo negro para a humanidade. A letra da canção diz o seguinte: 22 Módulo 2 I Volume 1 EAD Hum Pelourinho Uma pequena comunidade Que porém Olodum unira em laço de confraternidade A emersão, nem Osíris sabe como aconteceu A emersão, nem Osíris sabe como aconteceu Despertai-vos para Cultura egípcia no Brasil Em vez de cabelos trançados Veremos turbantes de Tutancâmom A ordem ou submissão do olho seu transformou-se na verdadeira humanidade E nas cabeças Enchei-as de liberdade o povo negro pede igualdade deixando de lado as separações Epopéia do Código de Gueb E Nut gerou as estrelas Osíris Proclamou matrimônio com Ísis E o mal Seth Irado o assassinou Em per-aä Horus levando avante a vingança do pai Derrotando o império do mal Seth E grito da vitória Que nos satisfaz Cadê? Tutancâmom Hei Gizé Akahenaton Hei Gizé Tutancâmom Hei Gizé Akahenaton Eu falei Faraó Ê e e e e Faraó Eu clamo Olodum Pelourinho Ê e e e e Faraó Pirâmide da Paz do Egito Ê e e e e Faraó É eu clamo Olodum Pelourinho Ê e e e e Faraó Cadê? Tutancâmom Hei Gizé Akahenaton Hei Gizé Tutancâmom Hei Gizé Akahenaton Eu falei Faraó Ê e e e e Faraó Eu clamo Olodum Pelourinho Ê e e e e Faraó Pirâmide a Paz do Egito Ê e e e e Faraó É eu clamo Olodum Pelourinho Ê e e e e Faraó É que mara mara Maravilha ê Egito Egito ê UESC Seção 1 Deuses Divindade infinita do universo Predominante Esquema mitológico A ênfase do espírito original “Chu” Formará No Éden o ovo cósmico Unidade I Egito Egito ê É que mara mara Maravilha ê Egito Egito ê Egito Egito ê Faraó ó ó ó ó Faraó ó ó ó ó Faraó Divindade do Egito Composição: Luciano Gomes É que mara mara Maravilha ê Egito Egito ê Egito Egito ê É que mara mara Maravilha ê Egito Egito ê Egito Egito ê Faraó ó ó ó ó Faraó ó ó ó ó Pedagogia 23 Antropologia e Educação Civilização e oralidade na formação de atitudes antropológicas e pedagógicas ATIVIDADE Após esta leitura, procure identificar elementos da cultura distante do povo egípcio, procure conhecê-los, reflita sobre a importância destes elementos para a compreensão da formação humana no seio de uma determinada tradição cultural e escreva o seu próprio texto sobre o seguinte tema: Homem, cultura e vida em sociedade. Este texto deverá ter, no mínimo, trinta linhas e, no máximo, sessenta linhas. Elabore o texto como se organizasse o seu próprio mapa de trajetos para a compreensão da relação entre Antropologia e Educação. LEITURA RECOMENDADA Acesse o site de procura Google para obter maiores informações sobre as referências utilizadas no texto para a abordagem do tema da aula: www.google.com.br. Assista ao filme Ran, de Akira Kurosawa, para conhecer melhor o universo da civilização japonesa. Através do filme procure estabelecer conexões entre as tradições culturais e os princípios educativos apresentado pelo filme RESUMINDO Os objetivos do texto apresentado são: a) apresentar a Antropologia e a Educação como atitudes indissociáveis na experiência de duas civilizações da antigüidade: a civilização grega e a civilização chinesa; b) destacar a relação entre homem e cultura como uma experiência social de produção do conhecimento, que torna possível o desenvolvimento do pensamento e da linguagem; c) destacar que o conhecimento do homem pelo homem define a base do conhecimento filosófico da antropologia e, que o ensinamento do conhecimento sobre o homem define a base pedagógica da construção da vida comum em diferentes civilizações distantes. Destacam-se como exemplos da escrita como ferramenta cultural das civilizações grega e chinesa: o Oráculo de Delfos e o desafio do autoconhecimento compilado pelos seguidores de Confúcio para a difusão da base moral do seu pensamento. Heródoto é considerado o pai fundador da História, da Etnografia e da Antropologia, suas orientações para a aplicação da observação e o registro dos fatos para elaboração do pensamento sobre outras culturas introduzem atitudes antropológicas e pedagógicas para a utilização da escrita como ferramenta cultural no processo civilizatório ocidental. 24 Módulo 2 I Volume 1 EAD 2 Seção Unidade I SEÇÃO II CIVILIZAÇÃO E ORALIDADE NA FORMAÇÃO DE ATITUDES ANTROPOLÓGICAS E PEDAGÓGICAS Antes da chegada dos portugueses ao Brasil, mais de mil povos de diferentes etnias ocupavam as terras que hoje compreendem a nossa nação. Tais povos tinham em comum a oralidade como ferramenta de preservação e multiplicação dos seus conhecimentos na Etnias: palavra de origem grega que significa povo ou raça. experiência da vida em sociedade. Para pertencer a um determinado grupo étnico, o indivíduo deveria conhecer a história do seu povo através da experiência dos seus ancestrais. UESC Pedagogia 25 Antropologia e Educação Civilização e oralidade na formação de atitudes antropológicas e pedagógicas A ancestralidade pode ser compreendida como uma linguagem predominantemente oral através da qual os mais velhos compartilham com os mais novos os ensinamentos originais dos seus antepassados. Segundo esta experiência, a ideia de homem é indissociável da ideia de cosmos e os saberes e fazeres que constituem a cultura específica de cada povo ou nação consolidam as aprendizagens fundamentais para a vivência do indivíduo em sua comunidade de origem. Com o tráfico de escravos da África Negra para o Brasil, outros povos de tradição oral passam a compor os cenários de formação do povo brasileiro. A oralidade foi fundamental para que os primeiros africanos transpostos para nossas terras mantivessem vivas suas memórias culturais, sobretudo no que diz respeito aos seus costumes religiosos, culinários, linguísticos, agrícolas, manufaturais e festivos. Também para estes povos, a palavra falada, em plena circulação na experiência da vida em grupo, radicava visões de mundo em que tornar-se humano era, sobretudo, pertencer a um povo, vincular-se a uma etnia. Nestes contextos em que a oralidade dimensiona as relações entre linguagem e pensamento, a construção coletiva da memória cultural se revela como fundamento das experiências antropológicas e pedagógicas que, diferentemente das civilizações em que a experiência da escrita indica o caminho da história das civilizações, tomam por base o convívio e a troca da palavra falada como fundamento da consciência de si com os outros na vida em sociedade. Tais povos construíram nações, sistemas econômicos, armamentos, rituais religiosos, artefatos agrícolas, práticas de cura, enfim um sem número de saberes, valores e fazeres que os definiam como praticantes de uma experiência específica de civilização. O trágico contato de etnias indígenas e africanas com portugueses, holandeses, franceses, espanhóis e ingleses, no processo de colonização no Brasil, erradicou parcialmente a experiência da oralidade na construção efetiva de uma outra civilização que hoje nós experimentamos nacionalmente. No entanto, muitas de suas tradições atravessaram os mais Etnias Pré-Cabralinas: povos existentes nas terras brasileiras antes da invasão dos portugueses chefiada por Pedro Álvares Cabral. de quinhentos anos de história do nosso país. Segundo os dados do Instituto Socioambiental (2006), ainda existem no Brasil cerca de 225 etnias pré-cabralinas em nossas terras. Com relação às tradições de origem africanas, os remanescentes de quilombos nas zonas rurais e urbanas e os afrodescendentes dos mais diferentes estados brasileiros, preservam no interior da nossa cultura, inúmeros elementos dos seus antepassados. Isto nos revela a importância da oralidade como elemento da nossa formação. Revela ainda a 26 Módulo 2 I Volume 1 EAD importância da palavra falada como ferramenta de registro, resistência e afirmação cultural de um povo. Deste ponto de vista, podemos compreender a Antropologia 2 e a Educação como experiências vividas que se constituem e se Seção consolidam no interior da vida em grupo. Ao contrário dos povos ocidentais e orientais que encontraram na escrita uma ferramenta de registro da história, os povos ágrafos celebram a palavra falada Unidade I como garantia de manutenção de sua própria existência. A oralidade é, em última análise, a dimensão existencial mais profunda da relação entre o indivíduo e o grupo. Deste ponto de vista, a Antropologia e a Educação não podem ser compreendidas como filosofia ou ciência, mas como sabedorias necessárias para garantir aos indivíduos sentimento e conhecimento de pertença a um grupo. O reconhecimento do valor destas experiências antropológicas e pedagógicas de outras culturas ainda é tema de debate na atualidade. Podemos afirmar que a excessiva valorização da presença dos europeus no Brasil produziu uma visão eurocêntrica do mundo. Tal visão ainda Povos Ágrafos: povos que não possuem o domínio da escrita. está presente nos nossos modelos de organização da sociedade em que, a título de exemplo, a palavra escrita ainda é mais valorizada que a palavra falada, o saber científico é mais valorizado que o saber popular, os padrões culturais europeus são mais valorizados que outros padrões culturais. No entanto diversas expressões de saberes não-europeus atravessam a história e nos indicam a importância da oralidade como forte expressão de pensamento e linguagem entre nós. ATIVIDADE • Organize as suas dúvidas em forma de pergunta e tente respondê-las. • De que maneira você define a Antropologia e a Educação como saberes produzidos através da experiência vivida? • Qual a importância da oralidade para o desenvolvimento do pensamento e da linguagem? • O que você entende por ancestralidade? • Quais as contribuições culturais de povos indígenas e africanos para a formação de sua comunidade? UESC Pedagogia 27 Antropologia e Educação Civilização e oralidade na formação de atitudes antropológicas e pedagógicas LEITURA C O M P L E M E N T A R Os textos apresentados a seguir foram retirados de duas importantes obras publicadas recentemente no Brasil: Terra dos Mil Povos (2002) e O Espírito da Intimidade (2003). O primeiro foi escrito por Kaká Werá Jecupé, representante da etnia brasileira Txucarramãe; o segundo livro foi escrito por Sobonfu Some, uma africana que pertence à tribo Dagara da África do Oeste. Colocam-se em destaque nos trechos transcritos, a memória cultural e a iniciação como fundamentos do pertencimento do indivíduo a um povo e suas tradições. A Memória Cultural “A memória cultural se baseia no ensinamento oral da tradição, que é a forma original da educação nativa, que consiste em deixar o espírito fluir e se manifestar através da fala aquilo que foi passado pelo pai, pelo avô e pelo tataravô. A memória cultural também se dá através da grafia-desenho, a maneira de guardar a síntese do ensinamento que consiste em escrever através de símbolos, traços, formas e deixar registrado no barro, no trançado de uma folha de palmeira transformado em cestaria, na parede e até no corpo, através de pinturas feitas com jenipapo e urucum. Um narrador da história de um povo indígena começa um ensinamento a partir da memória cultural do seu povo, e as raízes dessa memória cultural começam antes de o Tempo existir. O Tempo chegou depois dos ancestrais que semearam as tribos no ventre da Mãe Terra. Os ancestrais fundaram o Mundo, a Paisagem e, de si mesmos, fundaram a humanidade. Foi nesse momento que o Tempo surgiu. Para o povo indígena, a origem da tribo humana está intimamente ligada à formação da Terra, assim como o Tempo está intimamente ligado à formação da humanidade. O Tempo organizou o espaço dos ancestrais, do Homem, da paisagem, das Tribos. A formação da Terra está ligada ao coração do Sol, da Lua e das Estrelas. Na consciência indígena, tais seres também fazem parte do Grande Conselho dos Ancestrais, de maneira que pertencemos, pela memória, pelo sangue, também à parte descendente. Essa visão pode ser chamada de cosmologia nativa.” Kaká Werá Jecupé, 2002 Iniciação: aprendizado “Em nossa aldeia, as crianças aprendem sobre intimidade e ritual desde o nascimento. Quando amadurecem, torna-se crucial desenvolverem uma compreensão profunda dessas questões. Na iniciação, os anciãos orientam os jovens sobre intimidade, sexualidade e ritual, para que saibam o que lhes espera. Assim, evitamos que se firam quando adentram o território desconhecido da maturidade.” “A iniciação das mulheres ocorre depois do seu primeiro ciclo menstrual. É feita uma vez por ano, entre dezembro e fevereiro. Assim, se o seu primeiro período for em março, você terá de esperar até a próxima iniciação. No caso dos homens, a iniciação é feita na puberdade, quando começam a querer ser adultos, quando os hormônios começam a aparecer... Durante a iniciação, você aprende muitas coisas; sexo e intimidade são apenas parte dos ensinamentos. Mesmo após a iniciação, há um longo período de acompanhamento por um tutor. Quando você sente que há algo que não está entendendo, sempre pode procurar um ancião. 28 Módulo 2 I Volume 1 EAD 2 Unidade I Sobonfu Somé, 2003 Seção Intimidade é algo sagrado, e não se deve brincar com isso. Existe um grande perigo na intimidade. Quando você mergulha nela de olhos fechados, pode facilmente ferir-se. É por isso que os mentores são tão importantes: para que a pessoa evite agir com base em conhecimento ilusório.” ATIVIDADE Apesar das diferentes origens étnicas e de gênero dos dois autores, os textos revelam elementos importantes para compreendermos as experiências antropológicas e pedagógicas entre povos indígenas e africanos: a memória cultural como contexto dos ensinamentos ancestrais e a iniciação como prática de ensino das tradições de um povo. Você se recorda de suas experiências de aprendizagem oral? Quais as que mais marcaram suas vivências? Elabore um texto descritivo em que você apresente de forma resumida uma experiência de aprendizagem na comunidade em que você vive ou no grupo familiar a que você pertence. Procure descrever com precisão o contexto social desta aprendizagem (grupo social e local em que ela aconteceu); a forma como foi ensinado ou ensinada; o conteúdo apreendido desta experiência; a pessoa responsável pelo ensinamento e a posição social que esta pessoa ocupa na sua família ou na sua comunidade. LEITURA RECOMENDADA Acesse o site www.mec.gov.br clique no link educação, ao entrar na página do Ministério da Educação, logo na primeira coluna à direita você vai encontrar a indicação: professores e diretores, clique no link publicações e faça download do livro: História da Educação do Negro e outras histórias. O primeiro artigo deste livro busca definir: Uma abordagem sobre a educação dos negros. Trata-se de um interessante texto de Mariléia dos Santos Cruz. Aproveite a leitura para refletir sobre as questões apresentadas até aqui. Assista ao filme: Narradores de Javé. O enredo do filme busca apresentar os dilemas vividos por uma comunidade no interior da Bahia, os habitantes de Javé não dominam a escrita e precisam elaborar um documento que prove a importância histórica do local que está ameaçado de deixar de existir, pois suas terras serão utilizadas na construção de uma barragem. UESC Pedagogia 29 Antropologia e Educação Colonialismo e pensamento social RESUMINDO O texto busca apresentar a experiência cultural, através das tradições orais de outros povos como fundamento da construção da noção de homem e cultura. É importante destacar a oralidade como ferramenta de elaboração e manutenção da memória cultural que traduz a Antropologia e a Educação como sabedorias emergentes da existência dos povos indígenas e africanos. Ressalta-se ainda o valor do homem e da cultura entre etnias indígenas e africanas como base para a construção do conhecimento na vida em comunidade. As situações de conflito cultural entre tradições escritas e tradições orais constituem o processo de colonização que deu origem à civilização brasileira contemporânea. Para compreender a reflexão proposta pelo texto é importante tomar como referências de análise do seu conteúdo: a) a oralidade como base da cultura dos mais de mil povos habitantes do Brasil antes da chegada dos portugueses; b) ancestralidade como linguagem que traduz a experiência humana como traço marcante das etnias indígenas e africanas no Brasil; c) Antropologia e Educação como sabedorias construídas nas vivências comunitárias dos indivíduos em suas etnias de pertencimento. No conjunto tais pressupostos indicam a existência de atitudes antropológicas e pedagógicas em outras culturas em que tanto a escrita quanto o pensamento filosófico tradicional do ocidente estão ausentes. 30 Módulo 2 I Volume 1 EAD 3 Seção SEÇÃO III Unidade I COLONIALISMO E PENSAMENTO SOCIAL A expansão da Europa pelo mundo, a partir do século XVI, produziu uma série significativa de mudanças em escala planetária. Os europeus já tinham desenvolvido modelos de organização política e social, tecnologias militares, de navegação e de exploração comercial que em muito se diferenciavam da maioria das sociedades não europeias, pelo uso do processo de industrialização, em larga escala, da madeira e do metal na produção de suas ferramentas de dominação econômica. UESC Pedagogia 31 Antropologia e Educação Colonialismo e pensamento social Através da descoberta e exploração de outros povos, os europeus deram marcha a um processo de colonização que, nos séculos posteriores, iriam redefinir o papel do conhecimento de outros povos e outras culturas no processo de colonização das Américas, África, Ásia e Oceania. As tripulações dos colonizadores conduziam homens dedicados à tarefa da observação e registro dos costumes dos povos Estado-nação: definição utilizada pelas ciências políticas para se referirem a um território delimitado por um governo e uma população de composição étnico-cultural coesa. a serem colonizados. Tais homens executavam o trabalho que mais tarde passaria a caracterizar a base metodológica da antropologia. Uma vez instalados nas colônias, os europeus constituíram missões de educadores para implantar, nas terras exploradas, sua cultura e seus modelos de dominação, disseminando aquelas que seriam as bases do pensamento e da prática pedagógica de formação educacional nas colônias. O princípio da dominação exigia conhecimento e controle social e cultural sobre os povos colonizados. Para sedimentar tal princípio, os europeus utilizaram ferramentas de sua própria cultura. À época da formação das primeiras colônias, grandes filósofos e pensadores europeus já formulavam as bases do pensamento científico e pedagógico que orientariam a organização dos Estados-Nações na Europa, bem como a expansão desses Estados-Nações através dos processos de colonização dos povos não europeus. Dada a diversidade e complexidade histórica da expansão da Europa pelo mundo, tomemos, a título de exemplo, a chegada dos portugueses no Brasil. A Carta, de Pero Vaz de Caminha, é o primeiro esboço descritivo da observação sistemática dos povos aqui Etnocentrismo: etnocentrismo é uma postura de compreensão do mundo fechada no ponto de vista de um grupo ou sociedade. Segundo Rocha (1984, p.39) “...o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros grupos são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é existência...”. encontrados. Provavelmente é o primeiro documento de natureza antropológica produzido pelos colonizadores em nossas terras. O desembarque das missões jesuíticas para evangelização dos “selvagens”, por sua vez, é o primeiro feito de intervenção pedagógica na colônia. Tanto o texto de Pero Vaz de Caminha quanto os princípios da educação jesuítica estavam fundamentados na visão de mundo dos europeus. A imagem dos povos e da cultura locais era interpretada segundo a compreensão de civilização dos colonizadores, o que viria a ser criticado mais tarde como etnocentrismo europeu. À medida que tais conceitos eram postos em prática nas colônias, vários conflitos dificultavam a universalização do pensamento europeu fora da Europa. Os povos colonizados falavam diversas línguas e dialetos, possuíam diferentes formas de organização política e social, viviam em terras cuja geografia e clima em muito se diferenciavam da Europa, enfim tornavam difíceis e complexas as condições de domínio pelos colonizadores. Ao contrário deste cenário, dentro do contexto europeu, o nascimento das primeiras escolas e 32 Módulo 2 I Volume 1 EAD universidades unificava as práticas de produção do conhecimento e, apesar das diferenças culturais entre os povos da Europa, a atividade do pensamento filosófico, científico e artístico aproximava cada vez mais estes povos na sua forma de compreender e dominar outros povos. Segundo o antropólogo francês François Laplantine (2000), o 3 nascimento do pensamento científico na Europa tem início no final Seção do século XVIII e está marcado pela divisão entre a observação e o objeto do conhecimento. Quando o homem toma o próprio homem como objeto de conhecimento, a ciência inaugura uma nova forma de Unidade I pensamento. Devemos lembrar que a filosofia foi o caminho encontrado na Antiguidade e na Idade Média, para a reflexão sistemática sobre a existência humana e sobre a natureza. A filosofia sempre usou como recurso de suas reflexões a contemplação e a abstração sobre os fenômenos contemplados como exercício de expansão do pensamento. Em contraposição a esta postura, a ciência passa a ser o pensamento que irá intervir através da experiência vivida pelo observador naquilo que define o seu objeto de reflexão. Voltemos ao exemplo de Pero Vaz de Caminha. Embora não tenha desenvolvido uma teoria sobre as situações observadas nas nossas terras, ele consegue delimitar o campo das suas observações e descrever de forma sistemática aquilo que foi observado. Sua Carta ainda é um documento valioso para as ciências históricas e sociais. No que diz respeito à orientação conceitual do trabalho pedagógico praticado pelos jesuítas no Brasil, eram utilizadas as regras da Ratio Studiorum, um plano de estudos que indicava os princípios gerais da educação católica de acordo com as Ordens Jesuíticas. Segundo Gadotti (2006 p. 72) “... A educação dos jesuítas destinava-se à formação das elites burguesas, para prepará-los a exercer a hegemonia cultural e política...” dos povos com que a Companhia de Jesus colaborava com o processo de colonização. Neste sentido, tanto a Antropologia quanto a Educação vão encontrar, no contexto europeu, as condições para a formação de um pensamento social de caráter científico. O surgimento da biologia, da física, da história, da pedagogia, da sociologia, da etnologia e da psicologia, entre os séculos XVIII e XIX, irá criar novas condições para que o pensamento sobre o homem e a cultura possa construir novas bases de compreensão e intervenção intelectual da espécie Ratio Studiorum: expressão de origem latina utilizada para designar o conjunto de regras pedagógicas da Companhia de Jesus para o ensinamento da fé católica. Etnologia: estudo dos povos ou raças. Esta é uma das definições da prática teórica da antropologia que se dedica à compreensão das formas de organização sóciocultural de outros povos. Muitas vezes é utilizada como sinônimo da antropologia no sentido amplo. humana sobre si mesma. A Antropologia, no final do século XIX, irá despontar como ciência na medida em que o estranhamento e a observação de diferentes culturas vão servir de base para a construção de teorias UESC Pedagogia 33 Antropologia e Educação Colonialismo e pensamento social que buscam definir cientificamente a maneira como os indivíduos, a sociedade e a cultura interagem na criação de fenômenos passíveis de novas interpretações. No caso da experiência da colonização, outro antropólogo francês, Georges Balandier (1976), irá mostrar que tanto a História como a própria Antropologia irão se interessar por este fenômeno como objeto da ciência. Para os historiadores, o evento da colonização vai servir de base para a compreensão das formas modernas de imperialismo. Do ponto de vista dos antropólogos, a colonização vai orientar os estudos sobre contatos entre diferentes povos e conflitos culturais. Tanto em um quanto em outro exemplo, o que concluímos é que o processo de colonização de outros povos pelos europeus foi decisivo para a consolidação e expansão do pensamento social como ciência dentro e fora da Europa. ATIVIDADE • Organize suas dúvidas sob a forma de perguntas e tente respondê-las. • Quais as principais diferenças entre o pensamento filosófico e o pensamento científico sobre o homem? • Qual a importância da observação de outros povos para a formação do pensamento social da Europa a partir do Século XVI? • Na sua opinião, como a ciência pode contribuir para o pensamento do homem pelo homem? • De acordo com os exemplos do texto quais a principais contribuições dos colonizadores para a introdução da Antropologia e da Pedagogia no Brasil? 34 Módulo 2 I Volume 1 EAD LEITURA C O M P L E M E N T A R Os textos apresentados a seguir buscam esboçar explicações para a maneira 3 como os grupos sociais se organizam e estabelecem diferenças entre os indivíduos. O primeiro é uma breve descrição de como os franceses utilizam a gravata como símbolo Seção de distinção social. Trata-se de um trecho da Fisiologia do Vestir, escrito por Honoré de Balzac (2004), no século XIX. O segundo texto foi retirado de um ensaio produzido Unidade I pelo antropólogo Pierre Clastres (1988) e mostra como se dá a divisão do trabalho entre homens e mulheres numa comunidade Guaiaqui, na fronteira entre o Brasil e o Paraguai. Sobre a gravata “A Revolução foi para o vestir, como para a ordem civil e política, um tempo de crise e de anarquia; ela introduziu com a gravata em particular uma dessas mudanças orgânicas que vieram, com séculos de intervalo, renovar a face das coisas. Sob o antigo regime, cada classe da sociedade tinha seu modo de vestir; reconhecíamos pelo traje o senhor, o burguês, o artesão. Então a gravata (se é que podemos dar esse nome à gola de musselina e ao retalho de renda que nossos pais envolviam o pescoço) não era nada mais que uma vestimenta necessária, de tecido mais ou menos rico, mas sem consideração, como sem importância pessoal. Enfim, os franceses se tornaram todos iguais em seus direitos, e também em suas vestimentas, e a diferença do tecido ou a diversidade nos trajes deixou de distinguir as condições. Como então reconhecerse no meio desta uniformidade? Por que sinal exterior distinguir a classe de cada indivíduo? Desde então estava reservado à gravata um destino novo: ela nasceu para a vida pública, adquiriu importância social; pois foi chamada a restabelecer os matizes inteiramente apagados do vestir, tornou-se critério pelo qual se reconhecia o homem digno deste nome e o homem sem educação”. Honoré de Balzac, 2004 O arco e o cesto “Uma oposição muito clara organiza e domina a vida quotidiana dos guaiaqui: aquela dos homens e das mulheres cujas atividades respectivas, marcadas fortemente pela divisão sexual das tarefas, constituem dois campos nitidamente separados e, como aliás em todos os lugares, complementares. Mas, diferentemente da maioria das outras sociedades indígenas, os guaiaqui não conhecem forma de trabalho em que participem ao mesmo tempo os homens e as mulheres. A agricultura, por exemplo, alterna tanto atividades masculinas como femininas, já que, em geral as mulheres se dedicam a semear, a limpar os campos de cultivo e a colher os legumes e cereais, são os homens que se encarregam de preparar o lugar das plantações derrubando as árvores e queimando a vegetação seca”. Pierre Clastres, 1988 Os dois textos fazem o uso da observação e descrição de práticas culturais UESC Pedagogia 35 Antropologia e Educação Colonialismo e pensamento social ATIVIDADE para buscar explicitar como os indivíduos significam seus papéis sociais dentro do grupo em que estão inseridos. Balzac descreve o uso da gravata em sua própria sociedade. Clastres descreve a organização do trabalho numa comunidade indígena. Os dois textos expressam posturas que são adotadas na contemporaneidade pelos antropólogos: a observação da sociedade da qual o observador pertence, a observação de uma sociedade da qual o observador é um estrangeiro. Com base nestes exemplos, procure desenvolver um texto descritivo, no qual você apresenta significações de diferentes papéis sociais, observados nas comunidades a que vocês pertencem. LEITURA RECOMENDADA Para conhecer o texto da Carta de Pero Vaz de Caminha entre no site do Ministério da Educação, acesse ao link Domínio Público e solicite o texto. Assista ao documentário O Povo Brasileiro de Darci Ribeiro, organizado pela GNT. Adquira o livro: O que é etnocentrismo? escrito por Everardo P. Guimarães Rocha, da Coleção Primeiros Passos, da Editora Brasiliense. RESUMINDO O processo de expansão colonial da Europa produziu as condições de emergência da observação de outros povos e formação de um novo pensamento social. A formação das ciências históricas e sociais, sobretudo a Antropologia e a Pedagogia, a partir da experiência entre europeus e não europeus, constituiu as bases para as investigações teóricas da cultura e suas relações com a educação. Situar o homem e a cultura como objetos da ciência do ponto de vista dos modelos de organização social e política da Europa configura-se como o maior legado do colonialismo para o nascimento do pensamento social. No Brasil a experiência do Colonialismo e suas interfaces com o pensamento social pode ser compreendida a partir de dois documentos históricos básicos: a) a Carta de Pero Vaz de Caminha como a primeira experiência sistemática da antropologia no Brasil; b) a Ratio Studiorum como pedagogia jesuítica de base social e religiosa. Em tais documentos, encontraremos as diretrizes fundamentais que orientam o processo de dominação colonial dos portugueses no Brasil. 36 Módulo 2 I Volume 1 EAD RESUMINDO A UNIDADE I Antropologia e Educação têm a sua origem, do ponto de vista histórico, como atitudes intelectuais da espécie humana sobre si. Através da escrita e da oralidade, diferentes civilizações produziram conhecimento, inscrevendo em 3 seus saberes e suas práticas as concepções de homem subjacentes as suas tradições. Civilizações ocidentais e orientais utilizaram a escrita como uma Seção ferramenta cultural. Na antiguidade os usos da escrita foram fundamentais para a constituição de uma base filosófica do pensamento. Os sistemas de Unidade I ideias dos filósofos antigos contribuíram para o nascimento da Antropologia Filosófica e da Pedagogia. No que diz respeito às origens da pesquisa sobre a cultura de outros povos, a maior referência da Antiguidade Clássica é Heródoto. Ao descrever os costumes de outros povos aquele que é considerado o Pai da História, contribuiu, também, para as origens da etnografia. As Civilizações Africanas e Pré Colombianas utilizaram como recurso de afirmação de suas tradições a oralidade. Ensinamentos transpassados, geração após geração, consolidaram suas concepções de homem e sociedade. Para estas civilizações, embora a Antropologia e a Educação não constituíssem formas específicas de conhecimento como a Filosofia, pensar o homem e a sua educação era a base para a formação de um povo. É importante destacar que para estes povos a vida humana estava intimamente ligada com a natureza. Nesta perspectiva a cultura é uma forma ampliada da relação do humano com o universo. Os processos de expansão colonial da Europa no mundo introduziram novas formas de dominação cultural. Intelectuais, ocupados da tarefa de conhecer os povos dominados, contribuíram para o nascimento do pensamento social entre os séculos XVII e XVIII. Com o surgimento das Ciências Sociais originam-se as principais orientações teóricas e metodológicas que iriam possibilitar a emergência da Antropologia e da Educação como áreas disciplinares do pensamento científico moderno. UESC Pedagogia 37 Antropologia e Educação Colonialismo e pensamento social REFERÊNCIAS BALANDIER, Georges. Antropo-lógicas. Trad. de Oswaldo Elias Xidieh. São Paulo: Cultrix, 1976. BALZAC, Honoré. Fisiologia do vestir. In: Tratado dos excitantes modernos. Trad. de Zilda Hutchinson Schild Silva; Carlos Nougué. São Paulo: Landy, 2004. CABALERO, Alexandre. A filosofia através dos textos. São Paulo: Cultrix, 1972. CLASTRES, Pierre. A sociedade contra o estado. Trad. de Theo Santiago. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988. GADOTI, Moacir. História das idéias pedagógicas. 8. ed. São Paulo: Editora Ática, 2006. GOMES, Luciano. Faraó. Intéprete: Margarete Menezes. In: Tete a Tete Margareth. Afropopbrasileiro. [s.l.] Sonopress Rimo, Brasil, 2003. 1 CD. Faixa 16. JECUPÉ, Kaká Werá. Terra dos mil povos. 2. ed. São Paulo: Peirópolis, 1998. KUPER, Adam. Cultura: a visão dos antropólogos. Trad. de Mirtes Frange de Oliveira Pinheiros. Bauru: EDUSC, 2002. LAPLANTINE, François. Aprender antropologia. Trad. de MarieAgnès Chauvel. São Paulo: Brasiliense, 2002. MERCIER, Paul. História da Antropologia. Trad. de Claudia Menezes. São Paulo: Editora Moraes, s/d. ROCHA, Everardo P. G. O que é etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 1984. SOMÉ, Sobonfu. O espírito da intimidade.Trad. de Deborah Weinberg. São Paulo: Odysseus Editora, 2003. 38 Módulo 2 I Volume 1 EAD Suas anotações ________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________