Instituto de Educação — infantil e juvenil Outono, 2012. Londrina, ______ de ____________________. Nome: ____________________________________Ano:____________ Edição IV MMXII Texto Grupo A O CÉU DE NOITE – MONTEIRO LOBATO Estava um céu lindo, transparente como cristal. O assanhamento do brilho das estrelas parecia os olhos dos meninos quando viam a bandeja de doces que o Coronel Teodorico mandava no dia dos anos de Dona Benta. Antes de levantarem a toalha da bandeja, os olhos de todos ali no sítio ficavam como as estrelas daquela noite. Dona Benta tomou fôlego e falou, apontando para o céu: — Olhem lá aquelas quatro formando uma cruz! É a constelação do Cruzeiro do Sul. Constelação quer dizer um grupo de estrelas. Esta constelação do Cruzeiro é a de maior importância para os povos que vivem do equador para o sul, como nós. Tem a mesma importância da célebre constelação da Ursa Maior para os povos que vivem ao norte do equador, como os europeus e norte-americanos. O Cruzeiro do Sul é o nosso relógio noturno. No dia 15 de maio de cada ano essa constelação fica bem a prumo sobre as nossas cabeças, como o sol ao meio-dia, e então sabemos que são exatamente nove horas da noite. — Que engraçado! — exclamou Pedrinho. — Estamos em fins de abril. Logo chegaremos ao 15 de maio — e eu vou acertar o nosso relógio da sala de jantar pelo Cruzeiro do Sul. Que beleza, hein, vovó? — Sim, meu filho. Saber é realmente uma beleza. Uma isquinha de ciência que você aprendeu e já ficou tão contente. Imagine quando virar um verdadeiro astrônomo, como o Flammarion! — Aí, então, ele fica com cara de bobo, a rir o dia inteiro, só de gosto da ciência que tem lá por dentro — disse Emília. Dona Benta achou graça e continuou a falar do Cruzeiro. — As quatro estrelas do Cruzeiro — disse ela — são designadas por meio de letras gregas. Gama é a estrela do topo da cruz; alfa é a do pé da cruz; beta e delta formam os braços. — Mas por que essas estrelas são tão importantes? — quis saber Pedrinho. — Por causa da disposição regular em forma de cruz, disposição que as torna de fácil encontro no céu. Num instante a gente corre os olhos e encontra o Cruzeiro. Encontrar as outras constelações já é mais difícil — exige prática; mas o Cruzeiro até a boba da Tia Nastácia descobre no céu. Não há por aqui caboclo da roça, nem há negro da África, nem atorrante da Argentina, nem gaúcho do Uruguai, nem índio de todas as repúblicas da América do Sul, nem selvagem australiano, nem negro do Congo, Moçambique ou Hotentótia, nem bôer da Colônia do Cabo, nem papua da Nova Guiné, que não conheça o Cruzeiro. — Então Robinson Crusoe também via o Cruzeiro, vovó! — lembrou Pedrinho. — A ilha dele era a de Juan Fernández, que fica ao sul do equador, perto das costas do Chile. — Exatamente, meu filho. Quantas vezes Robinson e o seu bom índio Sexta-Feira não estiveram, como nós agora, a olhar para as quatro estrelas do Cruzeiro!… Texto extraído do livro Viagem ao céu de Monteiro Lobato – Capítulo IV