Sustendo a respiração, a sonda Juno está a chegar a Júpiter

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Cimino
(19392016), um
realizador entre o Céu e
Morreu o
actor
Camilo de
Oliveira,
"o cómico popular"
O Verão
Clássico
do CCB é
uma
academia de aprendizes
Morreu o
cineasta
iraniano
Abbas
Kiarostami
Sustendo a respiração, a sonda Juno
está a chegar a Júpiter
NICOLAU FERREIRA 03/07/2016 ­ 08:35
A atmosfera, a composição interior e a magnetosfera do planeta serão
objecto de observação da sonda da NASA, durante um ano. É a segunda
sonda – desde a Galileu, há 20 anos – dedicada exclusivamente a perscrutar
o maior planeta do nosso sistema solar.
Júpiter tem uma longa tradição de ajudar a humanidade a compreender o céu
à sua volta. Em 1610, quando Galileu Galilei fez as primeiras observações
conhecidas das quatro maiores luas de Júpiter (Io, Europa, Ganimedes e
Calisto), as suas descrições deram força à teoria heliocêntrica que Nicolau
Copérnico tinha proposto 67 anos antes. Os quatro satélites naturais eram a
prova de que nem todos os corpos celestes giravam em torno da Terra, como o
geocentrismo defendia. Júpiter podia ser visto como uma espécie de reflexo
do sistema solar: tal como as luas giram à volta do planeta por causa da
gravidade, também os planetas viajam em torno do Sol.
Mais recentemente, em 1994, vários telescópios registaram em tempo real a
queda de 21 pedaços do cometa Shoemaker­Levy 9 na superfície de Júpiter,
alguns com dois quilómetros de diâmetro. O fenómeno tirou as últimas
ilusões sobre a possibilidade de um enorme corpo extraterrestre embater na
Terra, como terá acontecido há 65 milhões de anos, no cataclismo que ajudou
a pôr termo à era dos dinossauros. Se aqueles corpos colidiram contra Júpiter,
como negar que outros grandes objectos poderão estar um dia na rota da
Terra?
Esta segunda­feira nos Estados Unidos (mas já na madrugada de terça­feira
em Portugal), quando a sonda Juno for capturada pela gravidade de Júpiter, a
NASA vai dar continuação a esta tradição de se usar aquele gigante como um
enorme espelho, onde se encontram reflectidas algumas características do
sistema solar e da sua história. Ao contrário da Terra, a massa de Júpiter
permitiu reter a sua composição original, quando o planeta se formou. Por
isso, ao analisar a composição da atmosfera de Júpiter, a NASA espera que a
sonda dê informações sobre o início do sistema solar e sobre como os planetas
se formaram.
Deste modo, a Juno permitirá olhar lá para fora para compreendermos o
nosso mundo, o nosso passado. Antes disso, contudo, terá de sobreviver ao
momento vertiginoso de ser agarrada pela gravidade de Júpiter, o instante
mais perigoso da missão, segundo dizem os cientistas da NASA. Se correr mal,
esse momento poderá deitar a perder cinco anos de viagem espacial, 990
milhões de euros do custo da missão e, claro, tudo o que poderíamos aprender
com Júpiter. Mas hoje ainda não é a altura exacta de suster a respiração.
“Demos por encerrado cinco anos de uma viagem espacial e temos apenas dez
dias pela frente até à inserção na órbita de Júpiter”, dizia na semana passada
Rick Nybakken, um dos responsáveis pela missão da Juno no Laboratório de
Propulsão a Jacto da NASA, que fica em Pasadena, na Califórnia. As palavras
antecipam o nervosismo crescente com a aproximação do 4 de Julho – o Dia
da Independência dos Estados Unidos, que este ano terá um sabor especial
para os norte­americanos com a chegada da sonda ao planeta. “É uma grande
sensação pôr todo o espaço interplanetário no espelho retrovisor e ter o maior
planeta do sistema solar no nosso pára­brisas.”
Como fabricar planetas
Dizer que Júpiter é o maior planeta do sistema solar não chega para
compreender a sua dimensão. Júpiter é enorme: é três vezes maior do que
Saturno, tem 11 vezes o diâmetro da Terra (12.756 quilómetros) e 122 vezes a
sua área superficial. Só a Grande Mancha Vermelha, uma tempestade
atmosférica épica de cores vermelhas que existe no Hemisfério Sul, bem
visível nas fotografias do telescópio espacial Hubble e que os astrónomos
andam a monitorizar pelo menos desde o século XIX, tem agora cerca de
16.000 quilómetros de diâmetro. A Terra caberia lá dentro, sem problemas.
A massa de Júpiter é superior à massa de todos os outros corpos do sistema
solar, excluindo o Sol. À noite, o seu brilho só é ultrapassado por Vénus, pela
Lua e, às vezes, por Marte.
Apesar de os telescópios terrestres terem dado a conhecer a muitos
astrónomos as cores do planeta, foram as fotografias da sonda da NASA
Pioneer 10, o primeiro que atravessou a cintura de asteróides, situada entre
Marte e Júpiter, e fotografou de perto o gigante a 4 de Dezembro de 1973, que
permitiram olhar com mais proximidade para a atmosfera joviana. As icónicas
bandas brancas e castanho­claras, que hoje associamos imediatamente ao
gigante, revelam nuvens de várias composições químicas que estão a
diferentes altitudes. Os cientistas pensam que as brancas, por exemplo, são
formadas por cristais de amónia, e estão a uma temperatura de 150 graus
Celsius negativos.
Júpiter é o primeiro dos planetas gasosos do sistema solar, e é composto
maioritariamente por hidrogénio e hélio, tal como as estrelas. Por isso, a sua
densidade é muito menor do que a dos planetas rochosos, como a Terra,
Vénus e Marte.
“Um dos objectivos principais da Juno é aprender qual a receita para se fazer
um sistema solar”, diz Scott Bolton, o investigador principal da missão, no
Instituto de Investigação do Sudoeste, em San Antonio, Texas, citado pelo
jornal norte­americano The New York Times. “Como é que se faz um sistema
solar? Como é que se fabricam os planetas que temos no nosso sistema
solar?”, questiona.
Há elementos mais pesados em Júpiter, como o lítio, o carbono e o azoto.
Apesar destes elementos estarem em quantidades pequenas quando
comparados com o hidrogénio e o hélio, a sua proporção é muito maior do que
a proporção destes elementos no Sol, explica o cientista. Compreender esta
variação pode ser a chave para compreender o sistema solar. “Não sabemos
exactamente como é que isto aconteceu. Mas sabemos que este facto é
realmente importante. E a razão para isto ser importante é porque os
elementos que existem a mais em Júpiter [em relação ao Sol] são os mesmos
elementos que compõem aquilo de que nós somos feitos. É destes elementos
que a Terra é feita. É daqui que a vida surge.”
O interior de Júpiter é outro mistério. Devido ao seu tamanho e à pressão,
estima­se que haja um enorme oceano líquido de hidrogénio no interior do
planeta capaz de conduzir a electricidade e criar um enorme campo magnético
à sua volta. E ninguém sabe qual é a constituição do núcleo do planeta, ou se
ele existe mesmo. Um dos objectivos dos cientistas da NASA é determinar a
existência e a composição do núcleo. Essa informação permitirá identificar a
teoria certa sobre o nascimento de Júpiter: se foi formado a partir de uma
parte instável da nuvem de poeiras e gases do nosso sistema solar, que entrou
em colapso; ou se houve primeiro a formação de um núcleo planetário maciço
que, depois, atraiu todo o gás que estava à volta.
Um ano de ciência
Depois da Pioneer 10, Júpiter foi visitado pela Pioneer 11, em 1974, pelas duas
sondas Voyager, em 1979, a sonda Ulisses, em 1992, a sonda Galileu, que
chegou ao planeta em 1995 e até 2003 esteve a estudar o gigante e as suas
luas, a Cassini­Huygens, em 2000, e, mais recentemente, a New Horizons,
que fez um voo de três meses junto de Júpiter, em 2007, antes de seguir para
Plutão. Por isso, depois da Galileu, a Juno é o segundo aparelho
exclusivamente destinado a perscrutar este gigante.
A sonda partiu da Terra a 5 de Junho de 2011, fez um movimento circular que
ultrapassou a órbita de Marte, voltou até à Terra e aproveitou o impulso dado
pela sua gravidade para finalmente viajar até Júpiter, percorrendo nestes
quatro anos e 11 meses 2800 milhões de quilómetros. Esta segunda­feira, a
sonda será capturada pela gravidade de Júpiter e, fazendo um ajuste à rota, irá
lançar­se para realizar algumas órbitas até iniciar, a 9 de Novembro, 33
órbitas científicas cuja trajectória foi traçada para evitar a potente
magnetosfera de Júpiter, 20.000 vezes mais forte do que a da Terra.
Além de provocar nos pólos de Júpiter as maiores auroras boreais do sistema
solar, a magnetosfera carrega as partículas existentes à volta do planeta, sendo
assim capazes de destruir os componentes eléctricos da sonda. Para evitar
estes danos, os cientistas puseram os circuitos da Juno dentro de um cofre de
titânio de 1,7 centímetros de espessura, impedindo muitas partículas de
atingirem o equipamento. Mas o cofre não chega.
“Para muitos dos instrumentos fazerem o seu trabalho, a nave tem de se
aproximar mais de Júpiter do que nas missões anteriores. Para evitar os níveis
de radiação mais fortes que existem à volta de Júpiter, os responsáveis pela
missão projectaram órbitas muito alongadas para a sonda se aproximar do
gigante de gás pelo Norte”, lê­se num documento da NASA sobre a missão.
Nesses trajectos, a sonda irá ficar muito perto de Júpiter, a uma distância
mínima de 4200 quilómetros. Depois, circulará junto ao planeta de Norte
para Sul e de seguida afastar­se­á iniciando mais uma órbita alongada para
evitar ao máximo a radiação.
Cada uma das 33 órbitas demorará 11 dias. Durante esse tempo, os nove
instrumentos da Juno estarão de olhos abertos. A sonda tem uma câmara a
cores para uso do público em geral, que poderá escolher que partes do planeta
a fotografar, e mais oito instrumentos científicos. Entre os quais, estão dois
transmissores que vão trocar sinais com a Terra, para analisar a influência
gravítica de Júpiter, e inferir a sua estrutura interna; um magnetómetro para
criar um mapa tridimensional da magnetosfera do planeta; um radiómetro
que vai analisar microondas emitidas pelo gigante para detectar a composição
das nuvens de Júpiter; e um detector de partículas para analisar como é que
elas interagem com a magnetosfera de Júpiter.
Se tudo correr bem, a missão científica durará um ano. O suficiente para as 33
órbitas permitirem aos aparelhos analisarem toda a superfície de Júpiter.
Quando houver novidades sobre as descobertas de Juno, é provável que já nos
tenhamos despedido da sonda. Apesar de todos os cuidados dos cientistas, a
radiação que a Juno vai receber acabará por danificar o seu interior ao fim
desse ano.
Por isso, o último acto do aparelho será um mergulho na atmosfera daquele
planeta. Para uma sonda que foi baptizada com o nome da deusa que, na
tradição romana, foi a mulher de Júpiter e era capaz de ver através das
nuvens, este desfecho não deixa de ser simbólico. Mas é aqui na Terra que
vamos poder dar um sentido a tudo o que ela viu, e construir mais um pouco
da nossa história planetária aos ombros de um gigante chamado Júpiter.
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COMENTÁRIOS
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Abel Moreira
Pelo visto, a visão remota do Ingo Swann continua a render até hoje... :­)
04/07/2016 16:56

guarda serodio
fiel zelador do parque, contra vespas e abelhas
Sem dúvida, Sr. Moreira. Aqui na ala de psiquiatria onde
fundei o clube de projectores astrais não se fala de outra
04/07/2016 22:30 coisa! As visões do Sr. Swann são uma inspiração ainda nos
dias de hoje. Estou em pulgas para ver se a sonda Juno tira
fotos das montanhas que ele viu! Abraço!

guarda serodio
fiel zelador do parque, contra vespas e abelhas
03/07/2016 12:59
Comentário denunciado por violação dos critérios de publicação
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Zé Solto
Ui..és mais paciente do que eu. E na minha última projeção
astral foi a Júpiter e posso dizer que não gostei nada. O povo
nativo é um beca para o preguiçoso. Passam os dias a
03/07/2016 18:00 flutuar de um lado para outro sem fazer nada. Aconselho
vivamente o caro a projetar­se mentalmente para o extremo
sul de Marte. Lá sim é que bom sítio para passar as férias. E
as marcianas não ficam em nada atrás das algarvias. ;)
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