Sonhos: possíveis ferramentas para vir a ser inteiro

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Sonhos: possíveis ferramentas
para vir a ser inteiro em psicoterapia
Franciele Engelmann
Ano I | número 1 | 2012
CONIUNCTIO Revista Científica de Psicologia e Religião | Ichthys Instituto | Curitiba - PR
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Sonhos: possíveis ferramentas
para vir a ser inteiro em psicoterapia
Franciele Engelmann*
Resumo
Os sonhos acompanham a humanidade desde a antiguidade. Constituídos de natureza premonitória e tidos
como manifestação de forças ocultas para os egípcios; utilizados nos rituais de cura pelos gregos, os sonhos
revelaram-se ao longo da história como ferramentas úteis na relação com a alma. Para Jung, o ser humano
é habitado por um impulso que o impele à totalidade. O objetivo deste artigo é abordar a importância dos
sonhos no processo psicoterapêutico de vir a ser inteiro. O método utilizado é a revisão de literatura com
base na psicologia analítica. O tornar-se inteiro, a individuação, se origina e culmina no si-mesmo, o arquétipo central, promovedor do desenvolvimento humano. Os sonhos, enquanto compensação de unilateralidade
da consciência e como manifestação do si-mesmo, configuram-se como possibilidades de uma conexão com
a alma, expressões que podem contribuir para encontrar o sentido da vida e realizar a finalidade à qual se é
chamado a ser.
Palavras-chave: sonhos, psicoterapia, processo de individuação.
Abstract
Dreams come mankind since antiquity. Consisting of premonitory nature and taken as a manifestation of
hidden forces to the Egyptians, used in healing rituals by the Greeks, the dreams have proved throughout
history useful tools in relation to the soul. For Jung, the human being is inhabited by an impulse that propels
the whole. The aim of this paper is to address the importance of dreams in the psychotherapeutic process
of becoming whole. The method used is a literature review on the basis of analytical psychology. Becoming
a full-individuation originates and culminates in the Self, the central archetype, promoter of human development. Dreams, while compensation of one-sidedness of consciousness as a manifestation of the Self,
configured a possible connection to the soul, words that can help find the meaning of life and achieve the
purpose for which it is required to be.
Keywords: dreams, psychotherapy, process of individuation.
I. Introdução
* Psicóloga graduada
pela UFPR – Universidade Federal do Paraná.
Especialista em psicologia analítica e religião
ocidental e oriental pelo
ICHTHYS – Instituto de
Psicologia e Religião.
Companheiros da jornada humana, desde a antiguidade, os sonhos configuraram-se,
ao longo da história, como espaço significativo
para a compreensão e cumprimento do vir a ser
humano.
Para os antigos egípcios, os sonhos apresentavam um caráter premonitório, que comumente manifestava a intenção dos deuses e o
destino da pessoa. Provavelmente, este povo foi,
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conforme Ramos (1994) o primeiro povo a institucionalizar uma forma de interpretação onírica, nos assim chamados, templos de incubação
(apud GALLBACH, 2003).
Se os egípcios foram os primeiros a utilizar a interpretação dos sonhos, coube aos gregos
aprimorar tais técnicas e inserí-las no diagnóstico e tratamento de doenças. Com base na visão
mítica, acreditavam que a doença era a conseqüência da violação de um tabu ou de uma ofen-
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sa aos deuses. A cura, segundo RAMOS (1994),
gem única para um sujeito único” (GALLBA-
somático e o espiritual, buscando-se identificar
interioridade humana, tecida no entrelaçamento
consistia em restabelecer a relação entre o plano
no sintoma, o aspecto com o qual o indivíduo
havia se desconectado e deveria voltar a se re-
conectar. As práticas curativas caracterizavamse como verdadeiros rituais, desenvolvidos nos
templos dedicados a Esculápio, o deus da medi-
CH, 2003, p.13). Esta mensagem se encontra na
da história pessoal e coletiva.
Nos sonhos, o inconsciente se manifesta
mediante símbolos. Em sua obra O homem e seus
símbolos, Jung define símbolo como:
cina. A atenção e o entendimento dos Sonhos,
um termo, um nome ou mesmo uma imagem que
zavam-se nesta época, como atividades, median-
sua conotações especiais além do seu significado
equilíbrio entre psique e corpo (RAMOS, 1994
vaga, desconhecida ou oculta... uma palavra ou
ao lado da música, meditação e dieta caracteri-
nos pode ser familiar na vida diária, embora pos-
te as quais era possível um restabelecimento do
evidente e convencional. Implica alguma coisa
e MEIER, 1999).
imagem é simbólica quando implica alguma coi-
Estudos e curiosidades acerca da vida oní-
rica estenderam-se ao longo da história, permeando culturas e presentificando-se em diferentes
âmbitos do conhecimento e no trilhar dos diferentes caminhos de realização da alma.
O que são os sonhos? De onde provêm?
Expressarão eles algum significado, sentido para
a vida do sonhador?
sa além do seu significado manifesto e imediato.
Esta palavra ou esta imagem tem um aspecto “inconsciente” mais amplo, que nunca é precisamente definido ou de todo explicado. Por existirem
inúmeras coisas fora do alcance da compreensão
humana, é que frequentemente utilizamos termos
simbólicos como representação de conceitos que
não podemos definir ou compreender integralmente... Mas este uso consciente que fazemos de
símbolos é apenas um aspecto de um fato psico-
II. O sonho como manifestação
simbólica do inconsciente
O sonho surge espontaneamente durante
o sono como fruto de um “processo involuntário
que ocorre num estado de consciência relaxado
e não focalizado” (GALLBACH, 2003, p. 17).
Segundo Jung (1971), suas raízes estão no inconsciente. Conforme Gallbach (2003), o sonho
não apresenta um caráter de inconsciência total,
uma vez que ocorre num estado limiar em que
há um resíduo de consciência e percepção.
Para Jung (1971), o sonho é expressão
simbólica do inconsciente. Expressão esta que
pode se dar mediante ideias, sensações, emoções,
imagens e situações que, ao serem desencadeadas no processo onírico, podem envolver de forma mais intensa, ou não, o sonhador.
O sonho traz um sentido ( JUNG, 1971)
para a vida do sonhador. Articula uma “mensaAno I | número 1 | 2012
lógico de grande importância: o homem também
produz símbolos, inconsciente e espontaneamente,
na forma de sonhos (1964, p. 20-21).
A manifestação do símbolo no sonho pode se
dar de diferentes formas: apresentar um caráter
claro, estranho, obscuro ao sonhador. Em suas
mais variadas expressões, o símbolo articula um
significado, um sentido, os quais por sua vez po-
dem estar ocultos, sob determinadas imagens,
pensamentos, emoções, à espera de vir a serem
descobertos, compreendidos e assimilados pelo
sonhador.
Ao abordar o conceito de sentido nos
sonhos, Jung situa os mesmos no contexto de
finalidade, destacando que esta designa a “tensão psicológica imanente dirigida a um objetivo
futuro” (1971, p. 181). Além de considerar o as-
pecto causal, Jung destaca a importância de se
considerar o porquê do sonho. Ao falar sobre as
assimilações que sucessivamente acontecem em
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1| Neste escrito, Jung
identifica o processo
de individuação com
o desenvolvimento da
personalidade, donde
os termos individuação e
personalidade, serem utilizados como sinônimos.
relação ao sonho, ressalta que elas conduzem a
2| No contexto deste
trabalho, o si-mesmo (Self)
será abordado como
centro ordenador da personalidade. Em Memórias,
sonhos e reflexões, Jung o
define como: “arquétipo
central da ordem, da
totalidade... é uma realidade ‘sobre-ordenada’ ao
eu consciente. Abrange
a psique consciente e a
inconsciente, constituindo por esse fato uma
personalidade mais ampla,
que também somos... É
também a meta da vida,
pois é a expressão mais
completa dessas combinações do destino que se
chama indivíduo” (1963,
p. 358).
todo médico deveria estar consciente do fato de
uma meta; para o além do aqui e agora da vida
do sonhador, conduzem “à plena realização do
homem inteiro, à individuação” (2008, p. 31). No
tocante à prática psicoterapêutica, assim escreve:
que qualquer intervenção psicoterapêutica, e, em
especial, a analítica, irrompe dentro de um processo e numa continuidade já orientados para um
determinado fim, e vai desvendando, ora aqui, ora
acolá, fases isoladas do mesmo, que à primeira vista podem até parecer contraditórias. Cada análise
individual mostra apenas uma parte ou um aspecto do processo fundamental (Id., 2008, p. 31).
mesmo tempo germe (designação) e meta (unidade, totalidade) da Individuação.
Os sonhos constituem-se como um dos
espaços para o dar-se conta desta a ação do si-
mesmo na vida. Para Sanford (2007), originamse no centro da personalidade, constituindo-se o
elo de ligação entre a realidade menor do ego e a
maior do si-mesmo. Von Franz, assim se expressa:
Os sonhos não nos protegem das vicissitudes, doenças e eventos dolorosos da existência. Mas eles
nos fornecem uma linha mestra de como lidar com
esses aspectos, como encontrar um sentido em
nossa vida, como cumprir nosso próprio destino,
como seguir nossa própria estrela, por assim dizer,
a fim de realizar o potencial de vida que há em nós
(1988, p. 25).
III. Sonhos, individuação
e psicoterapia
Para esta realização, é preciso uma busca a
Em seu ensaio1 Da Formação da Personali-
dade, Jung (1998) salienta que, além dos aspectos de necessidade e decisão, há a designação
que, perpassando o eu, o convoca a individuar-
fim de se compreender o significado, a mensa-
gem que o Self envia a cada noite, sob a forma
de símbolos.
No tocante à prática psicoterapêutica, Jung
se. Esta é definida como: “um fator irracional
(2008, 1964) ressalta que os sonhos são a forma
da massa gregária e de seus caminhos desgas-
a consciência. Seus conteúdos podem exprimir
traçado pelo destino que impele a emancipar-se
tados pelo uso” ( JUNG, 1998, p.181). A ideia
vinculada no conceito de designação remete ao
2
si-mesmo (Self ), que enquanto instância maior,
promove a individuação. Aceitar a designação, a
ação do si-mesmo na vida, implica em “fidelidade
à sua própria lei” (Id. p. 179).
A noção de destino expressa no conceito
específica de o inconsciente se comunicar com
fatos passados, desenfreadas fantasias, planos,
antecipações, visões telepáticas ( JUNG, 1971);
vincular-se a realidades problemáticas ou confli-
tantes do presente, bem como manifestar com-
ponentes da personalidade do sonhador (Id.,
2008).
Considerando que os sonhos são mani-
de designação não pode ser tomada como pre-
festações do inconsciente, é importante lembrar
te na vida do indivíduo é uma possibilidade de
cientes que simbolicamente são personificados
determinação: o Self enquanto arquétipo laten-
vir a ser. Possibilidade esta que assume, segundo
Fogel, o caráter de destino, numa perspectiva
de circularidade: no sentido de ser um envio de
si para si, uma “possibilidade de possibilidade”
(1999, p. 152). A individuação, como designação, requer que a pessoa se empenhe na tarefa
de dar-se conta do movimento do próprio Self
em sua vida, pois, na perspectiva de destino, enquanto movimento de circularidade, o Self é ao
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que Jung identificou quatro conteúdos inconsnos sonhos:sombra, anima, animus e self. Em
função da brevidade deste artigo, não se abordará aqui o trabalho com tais elementos; reme-
temos o leitor aos escritos de Marie-Louise Von
Franz: O Caminho dos Sonhos (1988) e O Processo
de Individuação – contido na obra de Jung: O
Homem e seus Símbolos (1964), nos quais a au-
tora discorre ampla e profundamente sobre tais
conteúdos.
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Ao se buscar compreender um sonho, é
to e o do objeto. A interpretação a nível do sujeito
1971). Faz-se necessário, ainda, conhecer as si-
personificações da personalidade do sonhador.
preciso a colaboração do sonhador ( JUNG,
tuações concretas nas quais o indivíduo está inserido, pois o sonho, conforme Jung: “não é um
acontecimento isolado, inteiramente dissociado
do cotidiano e do caráter do mesmo” (2008, p.
25).
identifica as diferentes imagens do sonho como
Nesta perspectiva, a elaboração apresenta um
caráter essencialmente subjetivo: “o sonhador
funciona, ao mesmo tempo, como cena, ator,
ponto, contra-regra, autor, público e crítico” (Id.,
p. 205). Já, em nível de objeto, a interpretação con-
Com base nas experiências dos primitivos,
cebe as diferentes figuras como representações
quenos sonhos. Estes últimos, também denomi-
inserido. Para orientar-se por uma interpretação
diários, derivam da dimensão subjetiva e pessoal,
se levar em conta as especificidades de cada caso,
sonhos, também chamados de significativos/
nante; se uma imagem é reproduzida por causa
relacionam-se a temas arquetípicos, mitológicos,
plo, uma relação de importância vital é o conte-
com base nas experiências que acompanharam
ficado subjetivo – ou quando, por exemplo, uma
Normalmente, ocorrem em momentos cruciais
às etapas do próprio processo psicoterapêutico,
da vida, ficando frequentemente gravados na
uma criança.
Jung (1971) distingue entre grandes sonhos e pe-
do mundo concreto, no qual o sonhador está
nados banais, articulam significados ordinários,
ou outra, Jung (1971) ressalta a necessidade de
vindo a ser esquecidos facilmente. Os grandes
buscando identificar qual é o aspecto predomi-
importantes, brotam do inconsciente coletivo,
de seu significado objetivo – quando, por exem-
cujo significado principal se encontra intrínseco,
údo e a causa do conflito – ou devido ao signi-
a humanidade nas diferentes épocas e culturas.
imagem se relaciona à dinâmica do indivíduo ou
da existência: na infância, puberdade e no meio
como no caso de se sonhar com o nascimento de
memória por toda a vida, vindo a configurar eta-
Para a psicologia analítica, os sonhos
pas do processo da individuação.
são manifestações do Self. Têm a função de
Jung (1971) destaca ainda que há uma
compensar atitudes unilaterais da consciência,
apresenta, normalmente, quatro fases, as quais se
psíquico ou ameaçar necessidades vitais do indi-
predominância de sonhos médios, cuja dinâmica
as quais podem estar em desacordo com o todo
assemelham à estrutura do drama. A exposição
víduo ( JUNG, 1964, 1971, 2004, 2008).
refere-se à situação inicial que esboça a temática
ou problemática; contextualiza, no tempo e no
espaço, o cenário no qual os personagens atuam.
A segunda fase, a do desenvolvimento da ação,
apresenta o desenrolar da problemática, mani-
festando a complicação e a tensão da situação,
sem saber no que dela vai resultar. A culminação
ou peripécia evidencia o auge do desenvolvimen-
to dramático em sua dinâmica oposta; nesta,
algo decisivo acontece ou a situação se altera
inteiramente. A quarta fase, a lise, mostra a si-
tuação final, apresenta a solução e a conclusão
esboçada pelo sonho.
No que concerne à interpretação oníri-
ca, Jung (1971) estabelece dois níveis: o do sujeiAno I | número 1 | 2012
Para Jung (2008), a teoria das compen-
sações é a regra básica do comportamento psí-
quico: a insuficiência num aspecto cria excesso
em outro aspecto. Cada sonho é, então, uma ten-
tativa da própria natureza psíquica de centrar o
indivíduo. Justifica-se, desta forma, a importância de se considerar o contexto de vida e os as-
pectos da personalidade do sonhador no ato de
compreensão de um sonho. A autorregulação do
equilíbrio psíquico, realizada mediante a compensação do sonho, vincula-se em uma perspec-
tiva mais profunda e mais ampla à individuação
( JUNG, 2008). Decorre daí a importância que
o autor atribui para a análise e interpretação de
um sonho no contexto de uma série de sonhos.
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Em sua obra A prática da psicoterapia, ao
autor, a palavra consciência deriva dos termos la-
o importante papel da consciência na compre-
ber”, vindo a significar “saber com” “outro”, sen-
falar da individuação, Jung (2004) discorre sobre
ensão dos símbolos compensatórios produzidos
em sonho pelo inconsciente: “Um sonho não
compreendido não passa de um simples episó-
dio, mas a sua compreensão faz dele uma vivência” (Id., p. 117).
do que este outro pode ser uma pessoa, alguma
parte de si ou o próprio Deus. Para Jaffe (2002),
a consciência integra cabeça e coração, sendo sua
base formada pelo conhecimento animado pelo
coração. Isso converge com o que Jung escreve
Com base no fenômeno da compen-
acerca do processo psicoterapêutico: “O paciente
podem favorecer grandemente o processo de
assim fizermos, estaremos nos dirigindo apenas
gem analítica junguiana, exprime, segundo Gu-
dade. Assim, atingiremos o seu coração. Isso o
alemão a ele correspondente: heilen – cura total.
p. 18). Registrar, pintar, refletir afetivamente so-
totalidade, do si-mesmo. Donde temos um dos
a consciência participar da individuação.
sação, JUNG (1971) reconhece que os sonhos
não deve ser instruído acerca de uma verdade. Se
cura. Convém destacar que cura, numa aborda-
à sua cabeça. Ele tem que evoluir para esta ver-
ggenbühl-Craig (1983), o significado do termo
toca mais fundo e age mais intensamente” (2008,
A cura configura-se, assim, como uma busca da
bre as imagens oníricas são formas concretas de
propósitos da psicoterapia: curar, vir, a ser in-
Considerações finais
teiro, total, consciente da ação do Self na vida
( JUNG, 2004).
Segundo Jaffe (2002), a consciência de-
sempenha um componente essencial no individuar-se: o próprio eu se esforça para integrar
as forças desconhecidas surgidas durante o caminho e contribui para a ativação da cura, para
a totalidade psíquica se instalar. A consciência
exerce, pois, uma influência estimuladora sobre o
inconsciente, uma vez que se esforça para com-
preender as mensagens que este lhe apresenta.
Assim, escreve Sanford: “... O potencial total de
3| Segundo CHEVALIER
e GHEERBRANT, tememos é uma palavra grega,
que tem a mesma origem
do radical indu-europeu
tem: cortar, delimitar,
dividir, e “significava o local
reservado aos deuses,o
recinto sagrado que cercava
um santuário e que era um
lugar intocável”((2008, p.
874).
tinos “con”, que expressa “com”, e “sciere”, “sa-
Diferentes visões e abordagens teóricas
surgiram, no decorrer dos tempos, acerca dos
sonhos. Para alguns, são imagens desprovidas
de sentido; para outros, resíduos de memória
ativados; para esotéricos e adivinhos, indicam
caminhos e apontam soluções para diferentes
problemas; para místicos e crentes religiosos,
exprimem a vontade divina; para a psicologia
analítica, configuram-se como possibilidades do
vir a ser humano.
Enquanto mensagens do Self, da totalida-
cura contido em nossos sonhos não se atualiza-
de psíquica maior, os sonhos personificam dife-
mento e desenvolvimento da consciência” (2007,
bem como elementos essenciais com os quais
sonhos constitui, segundo o autor, uma possibi-
ticulado no sonho – trama de relações, cenário,
inconsciente, bem como participar do fluxo de
uma composição mais ampla, revela vivências,
rá a não ser que seja acompanhado pelo cresci-
rentes aspectos da vida e da busca do indivíduo,
p. 49). O hábito de registrar e refletir sobre os
este pode ter se desconectado. Todo drama ar-
lidade de a consciência trazer à luz aspectos do
protagonistas, plateia... – fala do indivíduo em
energia que dele emana. O próprio Jung (2008)
afetos e atitudes indispensáveis para a vivência
orientava seus pacientes a efetuarem tais procedimentos.
da individuação.
Se os antigos rituais de cura ofereciam um
Em sua conceituação mais simples, a
espaço simbólico para restaurar ofensas, integrar
cesso permanente e contínuo de tornar-se um
ta-se, atualmente, que a psicoterapia constitui-se
individuação, conforme Jaffe, consiste no proindivíduo consciente (2002, p. 27). Segundo o
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conteúdos e religar o humano ao divino, consta-
como um novo temenos3, onde se pode integrar
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diferentes aspectos da vida e estabelecer uma re-
lação viva com o Self. Com base na revisão de
literatura desenvolvida neste trabalho, identificou-se que as mensagens simbólicas enviadas
pelo Self à noite, configuram-se como ferramentas significativas na busca de sentido e na desco-
berta dos caminhos que conduzem à realização
do vir a ser da totalidade humana.
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