disciplina de fundamentos de geotecnia

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Faculdade de Ciências e Tecnologia
Departamento de Engenharia Civil
DISCIPLINA DE FUNDAMENTOS DE GEOTECNIA
CAPITULO 4 – PRODUTOS DE ALTERAÇÃO DAS ROCHAS
Prof. Carlos Nunes da Costa
2006/2007
FUNDAMENTOS DE GEOTECNIA
CAP.4 – PRODUTOS DE ALTERAÇÃO DAS ROCHAS
ÍNDICE
1. ALTERAÇÃO DAS ROCHAS ............................................................................................. 2
1.1 Mecanismos de alteração química................................................................................. 4
1.2 Mecanismos de alteração física..................................................................................... 4
1.3 Mecanismos de alteração física e química .................................................................... 4
2. MINERAIS DAS ARGILAS ................................................................................................. 5
2.1 Classificação dos minerais argilosos ............................................................................. 5
2.2 Propriedades físico-químicas das argilas .................................................................... 10
3. FORMAÇÃO DO SOLO .................................................................................................... 13
FONTES DE INFORMAÇÃO E MAIS LEITURAS EM: ........................................................ 15
IV-1
FUNDAMENTOS DE GEOTECNIA
CAP.4 – PRODUTOS DE ALTERAÇÃO DAS ROCHAS
PRODUTOS DE ALTERAÇÃO DAS ROCHAS
SUMÁRIO
Definições de alteração e alterabilidade. Série de Goldich, ou da estabilidade geoquímica dos
minerais. Agentes de alteração. Mecanismos de alteração física e química.
Minerais das argilas. Grupos da caulinite, ilite, clorite, montmorilonite e vermiculite. Grupo dos
minerais interestratificados. Propriedades físico-químicas das argilas. Superfície específica.
Suspensão coloidal argilosa. Carga eléctrica. Hidratação das argilas. Expansibilidade. Actividade.
Catiões permutáveis. Esmectites. Bentonites.
Formação do solo. Perfil-tipo de um solo. Factores de formação de um solo.
1. ALTERAÇÃO DAS ROCHAS
Alteração (weathering) é um processo natural do qual resultam modificações físicas e
químicas das rochas por acção de agentes atmosféricos (chuva, vento, variações de
temperatura) e de outros agentes ambientais.
Por sua vez, alterabilidade é a menor ou maior capacidade das rochas para resistir aos
efeitos da exposição às condições ambientais, o que se traduz em modificações
significativas nas suas propriedades físicas e químicas.
Os factores que mais influenciam a alterabilidade das rochas são a sua composição
original, o fenómeno de alteração em presença (em particular a alteração química) e o efeito
tempo.
No que se refere à composição mineralógica das rochas é sabido que a alterabilidade é
inversamente proporcional à ordem de estabilidade geoquímica dos minerais, também
conhecida por série de Goldich, sendo (dos mais estáveis para os menos estáveis):
ƒ
Oxidos e hidróxidos de Fe e Al
ƒ
Quartzo
ƒ
Minerais das Argilas
ƒ
Moscovite
ƒ
Felspato K (Ortoclase)
ƒ
Biotite
ƒ
Feldspato Na (Albite)
ƒ
Anfíbolas
IV-2
FUNDAMENTOS DE GEOTECNIA
ƒ
Piroxenas
ƒ
Feldspato Ca (Anortite)
ƒ
Olivina
CAP.4 – PRODUTOS DE ALTERAÇÃO DAS ROCHAS
De um modo geral, em geotecnia entende-se por alteração aquela que resulta da
meteorização, isto é, a alteração secundária, relegando-se para segundo plano a alteração
primária, ou deutérica, resultante de acções decorridas no processo de formação das
rochas.
Por efeito da meteorização, os materiais que estavam em equilíbrio na litosfera respondem
ao contacto com a atmosfera e, em diferentes graus, com a hidrosfera e a biosfera.
A alteração das rochas é devida a acções físicas e químicas e à conjugação de ambas. Os
agentes da alteração são, principalmente:
ƒ
Águas de circulação, superficiais e subterrâneas e na forma de gelo
ƒ
Vento
ƒ
Seres vivos
A influência dos factores externos, como a temperatura, a humidade ou o pH pode ser
decisiva no desencadear da alteração. Temperatura e humidade elevadas são favoráveis à
alteração, por isso se verifica que ela é mais forte nos trópicos que nas zonas temperadas
(Figura 1).
Por sua vez, ambientes fortemente afectados por pH baixo, como podem ser algumas áreas
industriais ou urbanas, são também propícios a terem o seu património construído
degradado.
Figura 1 – Distribuição da alteração por regiões (adapt. Peltier, 1950)
IV-3
FUNDAMENTOS DE GEOTECNIA
CAP.4 – PRODUTOS DE ALTERAÇÃO DAS ROCHAS
1.1 Mecanismos de alteração química
Em seguida apresentam-se, de forma sumária, os mecanismos de alteração química mais
relevantes:
ƒ
Hidrólise – iões H+ (ou OH-) presentes na água substituem iões do mineral; o mineral
decomposto dá origem a outro. Ex: feldspato K → caulinite.
ƒ
Solução – Mineral dissolve-se em contacto com a água. Ex: Halite (salgema).
ƒ
Hidratação – Mineral dá origem a outro por adição de água. Ex: Gesso a partir de
anidrite.
ƒ
Oxidação + Hidratação – Ex: Óxido de Fe origina Limonite
ƒ
Redução + Desidratação – Fenómeno inverso ao anterior. Ex: Limonite passa a
Hematite (Fe3+)
ƒ
Carbonatação – Combinação de CO3--ou HCO3- com minerais típicos em rochas com
Ca++ e Mg++.
ƒ
Complexação – Ligação de um ião metal com a estrutura envolvente (levado a efeito por
agentes complexantes de origem orgânica).
1.2 Mecanismos de alteração física
Os principais mecanismos de alteração física resultam de acções mecânicas que provocam
a expansão dos materiais rochosos, como sejam:
ƒ
Efeitos térmicos – de insolação ou congelação
ƒ
Descompressão de maciços –por libertação de tensões devido à fracturação,
desnudação e exfoliação.
Outra acção importante é a abrasão, que actua por fricção provocando desgaste na
superfície dos materiais rochosos.
1.3 Mecanismos de alteração física e química
Alguns mecanismos têm a participação quer de acções físicas, quer químicas, como sejam:
ƒ
Crescimento de cristais – sejam cristais salinos, a partir de soluções, sejam cristais de
gelo
ƒ
Secagem e molhagem – por modificações cíclicas do teor em água
ƒ
Expansão – na presença de água. Ex: argilas expansivas.
IV-4
FUNDAMENTOS DE GEOTECNIA
CAP.4 – PRODUTOS DE ALTERAÇÃO DAS ROCHAS
2. MINERAIS DAS ARGILAS
2.1 Classificação dos minerais argilosos
Os minerais das argilas são silicatos hidratados de alumínio (mas também de Mg, Fe, K, Ca,
etc…), agrupados em unidades estruturais:
ƒ
Tetraédricas (unidade sílica) – 4O2-, 1 Si4+ (Figura 2)
ƒ
Octaédricas (unidade alumina) – 6O2- (ou OH-), 1 Al3+ (ou Mg2+) (Figura 3)
Figura 2 – Representação esquemática de uma folha tetraédrica: a) tetraedro; (b) folha
tetraédrica (Te) (adaptado de Gomes, 1986)
Figura 3 – Representação esquemática de uma folha octaédrica: a) octaedro; (b) folha
octaédrica (Oc) (adaptado de Gomes, 1986)
As unidades estruturais tetraédricas e octaédricas dispõem-se segundo um arranjo
hexagonal constituindo respectivamente folhas tetraédricas e octaédricas.
Por sua vez as folhas tetraédricas e octaédricas podem associar-se de várias diversas
dando origem a grupos minerais cristalinos diversos:
IV-5
FUNDAMENTOS DE GEOTECNIA
CAP.4 – PRODUTOS DE ALTERAÇÃO DAS ROCHAS
Grupo da Caulinite
A combinação de uma folha tetraédrica com uma folha octaédrica conduz à formação de
uma unidade estrutural do tipo 1:1 (Te-Oc) que identifica os minerais do grupo da caulinite
(Figura 4), os quais são caracterizados por:
ƒ
Comportamento muito estável
ƒ
Pequena distância reticular – fraca adsorção superficial
ƒ
Muito baixa capacidade de troca catiónica
Figura 4 – Modelo esquemático da estrutura química da caulinite (adaptado de Grim, 1962)
Grupo da Ilite
As camadas estruturais do cgrupo da ilite são do tipo 2:1 (Te-Oc-Te) intercaladas por folhas
tetraédricas (Figura 5). Os minerais deste grupo são os mais abundantes nas argilas e
caracterizam-se por apresentarem um comportamento intermédio entre a caulinite e a
montmorilonite, distinguindo-se desta última por apresentarem:
ƒ
Baixa capacidade de troca catiónica
ƒ
Ausência de expansibilidade intercristalina
IV-6
FUNDAMENTOS DE GEOTECNIA
CAP.4 – PRODUTOS DE ALTERAÇÃO DAS ROCHAS
Figura 5 – Modelo esquemático da estrutura química da ilite (adaptado de Grim, 1962)
Grupo da Clorite
O modelo estrutural da clorite é apresentado na Figura 6 – 2:1 (Te-Oc-Te)/Oc, intercaladas
por folhas octaédricas. Os minerais da clorite estão essencialmente presentes nas rochas
metamórficas, mas também em ígneas e sedimentares e nos solos delas derivados e
caracterizam-se por apresentarem baixa capacidade de troca catiónica.
Figura 6 – Modelo esquemático da estrutura química da clorite (adaptado de Grim, 1962)
IV-7
FUNDAMENTOS DE GEOTECNIA
CAP.4 – PRODUTOS DE ALTERAÇÃO DAS ROCHAS
Grupo da Montmorilonite
A Figura 7 apresenta esquematicamente o modelo estrutural tipo da montmorilonite – 2:1
(Te-Oc-Te), em que o espaçamento entre as camadas é muito variável devido aos
fenómenos de expansibilidade intercristalina que os caracteriza.
As montmorilonites, também designadas por esmectites, onde se incluem as bentonites –
apresentam:
ƒ
Adsorção elevada de moléculas de água, que conduz a elevadas variações
volumétricas
ƒ
Capacidade de permuta catiónica elevada
Figura 7 – Modelo esquemático da estrutura química da Montmorilonite
(adaptado de Grim, 1962)
Grupo da Vermiculite
A estrutura deste grupo de minerais é semelhante à dos precedentes (Figura 8), isto é, do
tipo – 2:1 (Te-Oc-Te). Apresentam:
ƒ
Expansibilidade menor que a do grupo das montmorilonites
ƒ
Capacidade de troca catiónica muito elevada
IV-8
FUNDAMENTOS DE GEOTECNIA
CAP.4 – PRODUTOS DE ALTERAÇÃO DAS ROCHAS
Figura 8 – Modelo esquemático da estrutura química da Vermiculite (adaptado de Grim, 1962)
Grupo dos minerais interestratificados
Os minerais das argilas nem sempre se caracterizam por uma repetição regular das
camadas estruturais, representando estados metaestáveis ou de transição que ocorrem na
evolução de um mineral para outro.
Os minerais interestratificados apresentam-se como empilhamentos de 2 ou mais camadas
estruturais-tipo correspondentes a minerais distintos, que se podem repetir de forma regular
ou irregular (Figura 9):
Figura 9 – Modelo simplificado da estrutura dos minerais interestratificados construídos com
duas camadas estruturais básicas do tipo A e B (adaptado de Gomes, 1986)
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FUNDAMENTOS DE GEOTECNIA
CAP.4 – PRODUTOS DE ALTERAÇÃO DAS ROCHAS
Minerais argilosos não cristalinos
Os minerais argilosos não cristalinos (ou fracamente cristalinos) são caracterizados por
apresentarem unidades estruturais fracamente organizadas, sendo por isso amorfos à
difracção dos raios x. Os mais importantes são:
a) alofana – que apresenta uma estrutura morfológica em pequenas esferas, sendo
caracterizada por:
ƒ
elevada capacidade de troca iónica
ƒ
elevada sensibilidade/actividade
b) imogolite – que apresenta uma estrutura em cadeia, sob a forma de fibras muito finas.
2.2 Propriedades físico-químicas das argilas
Superfície específica
É a área da superfície externa da partícula expressa em m2/g. Trata-se de um dos
parâmetros mais importantes no comportamento das argilas. Na Tabela I apresentam-se as
s de alguns minerais argilosos.
Tabela I - Superfície específica
Grupo
Caulinite
Ilite
Clorite
Montmorilonite
Vermiculite
Superfície específica
(m2/g)
10-30
70-140
50-150
700-800
700-800
Suspensão coloidal argilosa
A dispersão das partículas argilosas em água pode conduzir à sua deposição num intervalo
de tempo maior ou menor. Neste último caso trata-se de uma solução do tipo coloidal. No
primeiro caso as partículas são maiores e estamos em presença de uma suspensão
coloidal.
As suspensões coloidais exibem propriedades partículas, designadamente:
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FUNDAMENTOS DE GEOTECNIA
ƒ
CAP.4 – PRODUTOS DE ALTERAÇÃO DAS ROCHAS
Efeito Tyndall – fenómeno óptico (aparente somente quando a suspensão é
observada contra um fundo negro) que identifica a perturbação devida à dispersão
das partículas em todas as direcções.
ƒ
Movimentos brownianos – movimentos irregulares em todas as direcções devidos ao
embate das moléculas do meio dispersante (ex: água) nas partículas de argila.
ƒ
Electroforese – migração das partículas de argila sob efeito de um campo eléctrico:
as partículas de argila dirigem-se para o pólo positivo, enquanto os catiões de troca
vão para o pólo negativo.
Carga eléctrica
Os minerais argilosos possuem uma carga eléctrica globalmente negativa distribuída pela
superfície, embora de forma desigual: em regra carregadas negativamente nas faces e
positivamente nos bordos.
Hidratação das argilas
As partículas argilosas estão sempre hidratadas porquanto se encontram envolvidas por
camadas de moléculas de água. As moléculas de água constituem uma camada adsorvida
ligada à superfície das partículas argilosas através de:
ƒ
Ligação aos catiões
ƒ
Partilha do ião H+
Expansibilidade
Caracteriza-se pela variação volumétrica dos minerais argilosos devido à variação do teor
em água. Pode ser:
ƒ
Intercristalina. Ex: Ilite
ƒ
Intracristalina – adsorção de 2 ou mais camadas moleculares de água nas
superfícies internas dos minerais argilosos:. Ex: montmorilonite, vermiculite.
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FUNDAMENTOS DE GEOTECNIA
CAP.4 – PRODUTOS DE ALTERAÇÃO DAS ROCHAS
Actividade
A actividade das argilas é expressa pelo índice de actividade de Skempton:
Ac = IP/ % argila (< 0,002mm)
em que IP é o índice de plasticidade.
Uma argila com alta actividade é a que apresenta plasticidade elevada, o que se deve a
grandes superfícies específicas. As caulinites são as menos activas.
Quanto maior for a sua actividade maior será a sua expansibilidade e deformabilidade.
Catiões permutáveis
Os catiões são atraídos para a superfície das argilas, carregadas negativamente em termos
globais. Trata-se de catiões permutáveis, podendo substituir-se por outros de igual valência,
a qual determina a sua facilidade de permuta.
ƒ
Facilidade de permuta: Al++ > Ca++ > Mg++ > NH4+ > K+ > H+ > Na+ > Li+
Aplicações na Engenharia civil: Esmectites
As esmectites são os minerais de argilas mais interessantes para a produção de barreiras de baixa
permeabilidade, com grande aplicação na engenharia civil (ex: em aterros sanitários). Existem vários tipos de
esmectites:
Tabela II – Tipos de esmectites
Esmectites
Montmorilonite
Beidelite
Nontronite
Sauconite
Saponite
Hectorite
Camadas superiores e
inferiores tetraedricas
Si
Si+Al
Si+Al
Si
Si+Al
Si
Camada intermédia
octaédrica
Al+Mg
Al
Fe
Zn
Mg
Mg+Li
A bentonite é uma esmectite proveniente de Fort Benton (USA) formada a partir de depósitos sedimentares de
cinzas vulcânicas em meio marinho (145-165 MA). Consiste em Montmorilonite (>80%) + Beidelite
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FUNDAMENTOS DE GEOTECNIA
CAP.4 – PRODUTOS DE ALTERAÇÃO DAS ROCHAS
3. FORMAÇÃO DO SOLO
A formação do solo é resultado da alteração da rocha mãe, que se processa através da
conjugação de agentes que interagem a partir da Atmosfera, da Hidrosfera e da Biosfera,
sobre a Litosfera, produzindo alteração física e química dos materiais geológicos.
Em termos geotécnicos a alteração dos materiais geológicos e a consequente formação do
solo é assumida como algo problemático - pode conduzir a um comportamento deficiente
dos terrenos. Em termos pedológicos a formação do solo é a base da estabilidade da
biosfera e do ciclo hidrológico.
Os conceitos de solo são de várias naturezas (agronómica, geológica, geotécnica…)
complementares, mas frequentemente contraditórios. Há que ter em conta que qualquer
destas abordagens apenas reflecte parcialmente a complexidade desta entidade que
designamos por solo. Numa perspectiva holística (isto é, que assume que “o todo” é mais do
que a soma das partes) poderá definir-se solo como uma entidade complexa, formada por
partículas minerais, matéria orgânica, ar, água e organismos vivos.
O solo, enquanto recurso não renovável à escala humana, desempenha um sem-número de
funções-chave (ambientais, económicas, sociais e culturais) essenciais à vida, como sejam:
produção alimentar e de biomassa; fonte de matérias-primas; armazenagem, filtração e
transformação; habitat e banco de genes.
O solo é o ambiente físico e cultural da humanidade, por excelência. As diversas visões
parcelares do solo perdem um pouco desta perspectiva globalizante para se centrarem nos
aspectos que lhe dizem respeito.
Para os agrónomos o solo é essencialmente, a terra arável, homogeneizada por práticas
culturais: definem-no como “um corpo natural, diferenciado em horizontes, de constituintes
minerais e orgânicos, usualmente não consolidado, de espessura variável, e que difere do
material originário subjacente pela morfologia, propriedades e constituição físico-químicas e
biológicas" (Demolon, 1952).
Do ponto de vista estritamente geológico, solo é a parte superficial, móvel da crosta terrestre
resultante da transformação da rocha-mãe. Toda a ocorrência natural de depósitos brandos
ou moles, cobrindo um substrato rochoso e que é produzida por desintegração e
decomposição física e química das rochas, podendo ou não conter matéria orgânica, cabe
na definição de solo.
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FUNDAMENTOS DE GEOTECNIA
CAP.4 – PRODUTOS DE ALTERAÇÃO DAS ROCHAS
A alteração, em regra, progride de cima para baixo. Em termos geotécnicos um perfil-tipo de
alteração é constituído basicamente por 3 horizontes:
ƒ
O horizonte superior, ou rególito, constituído, no topo, por solo arável e na base, por
uma mistura de solo e fragmentos de rocha alterada.
ƒ
Um horizonte intermédio, constituído por rocha muito alterada e muito fragmentada.
ƒ
Um horizonte inferior, constituído por
rocha pouco alterada e fragmentada.
No
entanto,
em
termos
pedológicos,
a
observação de um perfil-tipo de um solo exige a
consideração de maior detalhe no horizonte
superior. Na Figura 11 pode observar-se que o
horizonte superior é constituído sucessivamente
por:
ƒ
Horizonte O – formado praticamente por
matéria orgânica (húmus)
ƒ
Horizonte A – húmus e matéria mineral
ƒ
Horizonte E – Zona de lixiviação
ƒ
Horizonte B – Zona de acumulação (de
argilas)
Só depois se seguindo o horizonte C (rocha alterada)
e o substrato não alterado.
Na Figura 22, em que o horizonte E foi omitido,
apresenta-se uma ideia da espessura relativa dos
horizontes superiores (em polegadas = 2,5 cm).
Como se pode concluir trata-se de uma camada muito
superficial da ordem do metro, que não interessa
normalmente aos problemas de engenharia civil e,
por isso, é frequentemente desprezada na análise
geotécnica.
1
2
(in http://courses.smsu.edu/ejm893f/creative/glg110/Weathering.html#page123)
(in http://www.cst.cmich.edu/users/Franc1M/esc334/lectures/origin.htm)
IV-14
FUNDAMENTOS DE GEOTECNIA
CAP.4 – PRODUTOS DE ALTERAÇÃO DAS ROCHAS
Os factores que influenciam a alteração das rochas e, consequentemente, a formação do
solo são, basicamente, os seguintes:
ƒ
Composição da rocha-mãe – rochas de menor estabilidade geoquímica alteram-se
mais rapidamente.
ƒ
Estrutura da rocha – rochas maciças resistem mais; por outro lado dá-se o
fenómeno da alteração diferencial em alternância de rocha dura/rocha branda: a
rocha dura dá lugar à formação de cornijas e abruptos; a branda a taludes suaves.
ƒ
Topografia – Taludes suaves permitem a maior permanência da água,
consequentemente, maior alteração.
ƒ
Cima – A alteração é directamente proporcional à temperatura e à humidade.
ƒ
Organismos vivos – São agentes de alteração: raízes, animais que escavam,
actividades humanas (extractivas, agricultura, construção)
ƒ
Tempo
Em termos geotécnicos a alteração dos materiais geológicos e a consequente formação do
solo tende a ser assumida como algo problemático, na medida em que pode conduzir a um
comportamento deficiente dos terrenos. Contudo em termos pedológicos a formação do solo
é a base da estabilidade da biosfera e do ciclo hidrológico. Nesse contexto considera-se que
a taxa de formação de um solo é muito reduzida: em média, cerca de 1cm por cada 80 a
400 anos. Em contrapartida considera-se que os índices de perda de solo a nível mundial
são muito elevados.
FONTES DE INFORMAÇÃO E MAIS LEITURAS EM:
Aires-Barros, L. (1991) – Alteração e alterabilidade das rochas, Lisboa, INIC, 384p.
Aires-Barros, L. & Mouraz-Miranda, A. (1989) - Weathering and weatherability of rocks and
its significance in geotechnics. Balasubramaniam, K.S. & Evangelou, V.P. & Faure, G. &
Goni, J. & Grubb, P.L.C. & Hill, P.A. & Lahodney-arc, O. & Melfi, A.J. & Mendelovici, E. &
Nikitina, A.P. & Pickering, W.F. & Augustithis, S.S. (eds) (1989). : 605–645. Athens:
Theophrastus Publications, S.A. Weathering: its products and deposits, Volume II
Ashman & Puri (2002) - Essential Soil Science. A Clear and Concise Introduction to Soil
Science. Blackwell Publishing,. 198pp
Gomes, C.F. (1986) - Argilas. O que são e para o que servem. Fundação Calouste
Gulbenkian, Lisboa.
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FUNDAMENTOS DE GEOTECNIA
CAP.4 – PRODUTOS DE ALTERAÇÃO DAS ROCHAS
Grim, R.E. (1962) Applied Clay Mineralogy. McGraw-Hill Book Company, Inc..
Peltier, Louis C. (1950) The Geographic Cycle in Periglacial Regions as it is Related to
Climatic Geomorphology”. Annals of the Association of American Geographers 40: 214-236.
IV-16
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