Subtipos e Subclasses Aula 15 do curso 6.170 15 de outubro de 2001 Sumário 1 Subtipos 32 2 Exemplo: Bicicletas 3 Exemplo: Quadrado e retângulo 4 Princípio de substituição 5 Subclasses e subtipos Java 33 37 38 40 6 Interfaces Java 41 Leituras necessárias: Capítulo 7 do livro Program Development in Java da Bárbara Liskov. Verifique o seu livro texto Java sobre os detalhes de Java como, por exemplo, tipos abstratos (nem todos os métodos são implementados, e nenhum objeto pode ser instanciado), detalhes sobre interfaces, e modificadores de acesso (public, private, protected, default). Eles não serão discutidos nesta aula. 1 Subtipos Nós vimos que A é um B se todo objeto A também é um objeto B. Por exemplo, todo automóvel é um veículo, e toda bicicleta é um veículo, e todo pula-pula é um veículo: todo veículo é um meio de transporte, assim como todo animal de carga. Nós apresentamos este subconjunto de relacionamento em um diagrama de dependência modular: Este subconjunto de relacionamento é uma condição necessária, mas não suficiente para um relacionamento de subtipificação. O tipo A é um subtipo do tipo B quando a especificação de A implica na especificação de B. Isto é, qualquer objeto (ou classe) que satisfaça a especificação de A também satisfaz a especificação de B, pois a especificação de B é mais fraca. Outra maneira de explicar isto é que em qualquer lugar do código, se você espera um objeto B, um objeto A é admissível. È garantido que o código escrito para funcionar com o objeto B (e para depender de suas propriedades) continua a funcionar se o objeto A for fornecido ao invés dele; além disso, o comportamento será o mesmo, se forem considerados apenas os aspectos do comportamento de A que também estão inclusos no comportamento de B. (O A pode introduzir novos comportamentos que o B não tenha, mas isto apenas modifica os comportamentos existentes de B em certas maneiras; veja em seguida.) 2 Exemplo: Bicicletas Suponha que nós tenhamos uma classe para representar as bicicletas. Aqui está uma implementação parcial dessa classe: class Bicycle{ private int framesize; private int chainringGears; private int freewheelGears; ... // retorna o número de marchas da bicicleta public int gears() { return chainringGears * freewheelGears; } // retorna o preço da bicicleta public float cost() { ... } // retorna o imposto de venda que incide sobre a bicicleta public float salesTax() { return cost() * .0825; } // execução: transporta o ciclista do trabalho para casa public void goHome() { ... } ... } Uma nova classe, representando bicicletas com lanternas dianteiras, pode se adaptar a situações noturnas (ou as madrugadas). class LightedBicycle{ private int framesize; private int chainringGears; private int freewheelGears; private BatteryType battery; ... // retorna o número de marchas da bicicleta public int gears() { return chainringGears * freewheelGears; } // retorna o preço da bicicleta float cost() { ... } // retorna o imposto de venda que incide sobre a bicicleta public float salesTax() { return cost() * .0825; } // execução: transporta o ciclista do trabalho para casa public void goHome() { ... } // execução: substitui a bateria existente pelo argumento b public void changeBattery(BatteryType b); ... } Copiar todo o código é cansativo e passível de erro. (O erro pode ser causado pela falha na realização de uma cópia correta ou pela falha na realização das alterações necessárias.) Adicionalmente, se um erro é encontrado em uma versão, é fácil esquecer de realizar o conserto em todas as versões do código. Finalmente, é muito difícil compreender a distinção entre duas classes apenas procurando por diferenças em uma massa de similaridades. A linguagem Java e outras linguagens de programação utilizam o conceito de subclasse para superar essas dificuldades. A especialização de classes utilizando herança de classe permite reutilizar implementações e sobrescrever os métodos. Uma implementação melhor da classe LightedBicycle é a seguinte class LightedBicycle extends Bicycle{ private BatteryType battery; ... // retorna o preço da bicicleta float cost() { return super.cost() + battery.cost(); } // execução: transporta o ciclista do trabalho para casa public void goHome() { ... } // execução: substitui a bateria existente pelo argumento b public void changeBattery(BatteryType b); ... } A LightedBicycle não precisa implementar os métodos e campos que aparecem na sua superclasse Bicycle; as versões de Bicycle são automaticamente utilizadas pelo Java quando elas não são sobrescritas na subclasse. Considere a seguinte implementação do método goHome (juntamente com o fornecimento de especificações mais completas). Se estas forem as únicas alterações, as classes LightedBicycle e RacingBicycle são subtipos de Bicycle? (Mais adiante nós falaremos sobre o conceito de subtipos; nós retornaremos as diferenças entre as subclasses Java, os subtipos Java, e os verdadeiros subtipos mais tarde.) class Bicycle{ ... // requer: velocidade_do_vento < 20mph && luz_do_dia // execução: transporta o ciclista do trabalho para casa public void goHome() { ... } } class LightedBicycle{ ... // requer: velocidade_do_vento < 20mph // execução: transporta o ciclista do trabalho para casa void goHome() { ... } } class RacingBicycle{ ... // requer: velocidade_do_vento < 20mph && luz_do_dia // execução: transporta o ciclista do trabalho para casa // em um período de tempo < 10 minutos // && faz o ciclista suar void goHome() { ... } } Para responder a essa pergunta, relembre a definição de subtipificação: um objeto do subtipo pode ser substituído em qualquer lugar onde o código espera um objeto do supertipo? Se sim, o relacionamento de subtipificação é válido. Neste caso, tanto LightedBicycle quanto RacingBicycle são subtipos de Bicycle. No primeiro caso, as condições são relaxadas; no segundo caso, a execução é reforçada de uma maneira que ela ainda satisfaça a execução da superclasse. O método cost de LightedBicycle mostra outra capacidade da especialização de classes em Java. Os métodos podem ser sobrescritos para fornecer uma nova implementação na subclasse. Isto permite uma maior reutilização de código; em particular, a LightedBicycle pode reutilizar o método salesTax de Bicycle. Quando o salesTax é chamado em uma LightedBicycle, a versão da Bicycle é que é utilizada. Então, a chamada de cost de dentro de salesTax chama a versão baseada no tipo em tempo de execução do objeto (LightedBicycle), assim a versão da LightedBicycle é utilizada. Independentemente do tipo declarado de um objeto, a implementação de um método, com muitas implementações (da mesma assinatura), é sempre escolhida baseada no tipo de tempo de execução. De fato, não existe nenhuma maneira para um cliente externo chamar a versão de um método, especificado pelo tipo declarado ou qualquer outro tipo, que não seja o tipo de tempo de execução. Esta é uma propriedade importante e muito agradável do Java (e outras linguagens orientadas a objeto). Suponha que a subclasse mantenha alguns campos extras que sejam mantidos em sincronismo com os campos da superclasse. Se os métodos da superclasse puderem ser chamados diretamente, é possível que sejam realizadas alterações em campos da superclasse sem que os campos da subclasse sejam alterados também, então a invariante de representação da subclasse seria quebrada. De qualquer maneira, uma subclasse pode chamar métodos dos seus ancestrais pela utilização de super. Algumas vezes isto é útil quando o método da subclasse necessita fazer apenas mais um pouco de trabalho; relembre a implementação de LightedBicycle para cost: class LightedBicycle extends Bicycle{ // retorna o preço da bicicleta float cost() { return super.cost() + battery.cost(); } } Suponha que a classe Rider modele as pessoas que passeiam de bicicleta. Na ausência de especializações de classe e subtipos, o diagrama de dependência modular iria se parecer com algo assim: O código para a Rider também precisaria testar que tipo de objeto teria sido passado, o que seria feio, verboso, e passível de erro. Com a subtipificação, as dependências do MDD se pareceriam com isso: As várias dependências foram reduzidas para uma única dependência. Quando as setas indicadoras de subtipo são adicionadas, o diagrama fica apenas mais um pouco complicado: Mesmo que existam várias setas, este diagrama é mais simples do que o original: restrições de dependência complicam o projeto e a implementação mais do que outros tipos de restrição. 3 Exemplo: Quadrado e retângulo Nós sabemos desde o ensino básico que todo quadrado é um retângulo. Suponha que nós queiramos fazer do quadrado Square um subtipo do retângulo Rectangle, que inclui um método setSize: class Rectangle{ ... // execução: define a largura width e a altura height com os valores // espeficiados (isto é, this.width’ = w && this.height’ = h) void setSize(int w, int h); } class Square extends Rectangle{ ... } Qual dos seguintes métodos é correto para o Quadrado? // requer: w = h void setSize(int w, int h); void setSize(int edgeLenght); // lança a exceção BadSizeException se w != h void setSize(int w, int h) throws BadSizeException; O primeiro não está certo, pois o método da subclasse requer mais do que o método da superclasse. Assim, os objetos da subclasse não podem ser substituídos por objetos da superclasse, pois pode existir algum trecho de código que chama o método setSize com argumentos diferentes. O segundo não está certo (completamente), pois a subclasse ainda precisa especificar um comportamento para setSize(int, int); esta é uma definição de um método diferente (cujo o nome é o mesmo mas cuja assinatura é diferente). O terceiro não está certo, pois ele lança uma exceção que não é mencionada pela superclasse. Assim, novamente, ele possui um comportamento diferente e desta maneira o quadrado Square não pode ser substituído pelo retângulo Rectangle. (Se a exceção BadSizeException for uma exceção não verificada, então o Java irá permitir que o terceiro método seja compilado; mas então novamente, ele também irá permitir que o primeiro método compile. A noção do Java sobre subtipo é mais fraca do que a noção de subtipo do 6.170. Sem nenhuma arrogância, nós iremos chamar o último de “subtipos verdadeiros” para distingui-los dos subtipos do Java.) Não existe uma maneira de sair deste dilema sem modificar o supertipo. Algumas vezes os subtipos não estão de acordo com a nossa intuição! Ou, a nossa intuição sobre o que é um bom supertipo está errada. Uma solução plausível seria alterar o Rectangle.setSize para especificar que ele lança a exceção; é claro que, na prática, somente o Square.size irá fazer isso. Outra solução seria eliminar o setSize e ao invés dele ter o método void scale(double scaleFactor); que diminui ou aumenta uma figura. Outras soluções também são possíveis. 4 Princípio de substituição O princípio da substituição é a sustentação teórica dos subtipos; ele fornece uma definição precisa de quando dois tipos são subtipos. Informalmente, ele afirma que os subtipos devam ser substituídos por supertipos. Isto garante que se o código depender de (qualquer aspecto de) um supertipo, mas um objeto de um subtipo for substituído, o comportamento do sistema não será afetado. (O compilador Java também requer que as cláusulas extends ou implements nomeiem o pai para que os subtipos sejam usados no lugar dos supertipos.) Os métodos de um subtipo devem suportar certos relacionamentos com os métodos do supertipo, e o subtipo deve garantir que qualquer propriedade do supertipo (como as invariantes de representação ou restrições de especificação) não seja violada pelo subtipo. Métodos Existem duas propriedades necessárias: 1. O subtipo deve possuir um método correspondente, para cada método do supertipo. (É permitido que o subtipo introduza novos métodos adicionais que não apareçam no supertipo.) 2. Cada método do subtipo que corresponda a um método do supertipo: • requer menos (possui uma pré-condição mais fraca) - existem menos cláusulas “requires”, e cada uma delas é menos rigorosa do que uma no método do supertipo. - os tipos dos argumentos devem ser um dos supertipos do supertipo. Isto é dito ser uma contra-variância, e parece um pouco controverso, pois os argumentos dos métodos do subtipo são supertipos dos argumentos dos métodos do supertipo. Entretanto, isto faz sentido, pois é garantido que qualquer argumento passado para o método do supertipo é um argumento válido para o método do subtipo. • garante mais (possui uma pós-condição mais forte) - não existem mais exceções - existem menos variáveis modificadoras - na descrição do resultado e/ou do estado resultante, existem mais cláusulas, e elas descrevem propriedades mais fortes - o tipo do resultado deve ser um dos subtipos do supertipo. Isto é dito ser uma covariância: o tipo de retorno do método do subtipo é um subtipo do tipo de retorno do método do supertipo. (Todas as descrições acima devem permitir a uniformidade; por exemplo, “requer menos” deveria ser “não requer mais”, e “menos rigorosa” deveria ser “não mais rigorosa”. Elas foram colocadas desta forma para permitir uma fácil leitura.) O método do subtipo não deve se comprometer em fornecer resultados a mais ou diferentes; ele deve apenas se comprometer a fazer o que o método do supertipo faz, assim como possivelmente garantir propriedades adicionais. Por exemplo, se um método de um supertipo retorna um número maior do que o seu argumento, um método do subtipo pode retornar um número primo maior do que o seu argumento. Como um exemplo de restrições de tipo, se A é um subtipo de B, então a seguinte redefinição (que é o mesmo que sobrescrever) seria válida: Bicycle B.f(Bicycle arg); RacingBicycle A.f(Vehicle arg); O método B toma uma bicicleta Bicycle como seu argumento, entretanto A.f pode aceitar qualquer veículo (o que inclui todas as bicicletas). O método B.f retorna uma bicicleta Bicycle como resultado, entretanto A.f retorna uma bicicleta de corrida RacingBicycle (que é propriamente uma bicicleta). propriedades Quaisquer propriedades garantidas por um supertipo, como restrições sobre os valores que possam aparecer nos campos de especificação, também devem ser garantidas pelo subtipo. (É permitido que o subtipo reforce essas restrições.) Como um exemplo simples do livro texto, considere o FatSet, que é sempre não vazio. class FatSet{ // restrições de especificação: o objeto corrente this deve // sempre conter pelo menos um elemento ... // execução: se o objeto this contiver x e this.size > 1, // remova x de this void remove(int x); } O tipo SuperFatSet com um método adicional // execução: remove x do objeto this void reallyRemove(int x) não é um subtipo de FatSet. Mesmo que não exista nenhum problema com qualquer método de FatSet – o reallyRemove é um novo método, então as regras sobre métodos correspondentes não se aplicam – este método viola a restrição. Se o objeto do subtipo for considerado puramente como um objeto do supertipo (isto é, apenas os métodos e campos do supertipo são consultados), então o resultado deve ser o mesmo que se um objeto do supertipo tivesse sempre sido manipulado ao invés dele. Na seção 7.9, o livro texto descreve o princípio de substituição como a colocação de restrições em • assinaturas: isto são essencialmente as regras de contra-variância e covariância que foram descritas acima. (A assinatura de um procedimento é composta pelo seu nome, tipos de argumentos, tipos de retorno, e exceções.) • métodos: isto são restrições de comportamento, ou todos os aspectos de uma especificação que não podem ser expressos em uma assinatura • propriedades: como acima 5 Subclasses e subtipos Java Os tipos Java são as classes, interfaces, ou primitivas. O Java possui a sua própria noção de subtipo (que envolve apenas as classes e interfaces). Esta é uma noção mais fraca do que a noção de subtipos verdadeiros que foi descrita anteriormente; os subtipos Java não satisfazem necessariamente o princípio de substituição. Além disso, uma definição de subtipo que satisfaça o princípio de substituição pode não ser permitida em Java, e não irá compilar. Para um tipo ser um subtipo Java de outro tipo, o relacionamento deve ser declarado (pela sintaxe Java extends ou implements), e os métodos devem satisfazer a duas propriedades similares a, entretanto mais fracas que, aquelas para os subtipos verdadeiros: 1. O subtipo deve possuir um método correspondente, para cada método do supertipo. (É permitido que o subtipo introduza novos métodos adicionais que não apareçam no supertipo.) 2. Para cada método do subtipo que corresponda a um método do supertipo • os argumentos devem possuir os mesmos tipos • o resultado deve possuir o mesmo tipo • não devem existir mais declarações de exceções O Java não possui nenhuma noção de especificação comportamental, assim ele não realiza nenhuma verificação e não pode dar nenhuma garantia quanto ao comportamento. A exigência de uniformidade de tipos para os argumentos e o resultado é mais forte do que o estritamente necessário para garantir a proteção do tipo. Isto proíbe alguns trechos de código que nós gostaríamos de escrever. Entretanto, isto simplifica a sintaxe e a semântica da linguagem Java. A especialização de classes possui várias vantagens, todas elas provenientes da reutilização: • As implementações de subclasses não precisam repetir os campos e métodos não alterados, mas podem reutilizar os da superclasse • Os clientes (aqueles que executam as chamadas) não precisam modificar o código quando novos subtipos são adicionados, mas podem reutilizar o código existente (o trecho que não menciona os subtipos totalmente, apenas o supertipo) • O projeto resultante possui uma melhor modularidade e uma reduzida complexidade, pois os projetistas, os programadores, e os usuários somente têm que entender o supertipo, não todos os subtipos; isto é reutilização de especificação. Um mecanismo chave que permite esses benefícios é a redefinição, que especializa o comportamento para alguns métodos. Na ausência de redefinição, qualquer alteração no comportamento (mesmo uma compatível) pode forçar uma completa re-implementação. A redefinição permite que parte de uma implementação seja alterada sem modificar outras partes que dependam dela. Isto permite uma maior reutilização de código e especificação, por ambos a implementação e o cliente. Uma potencial desvantagem da especialização de classes é a oportunidade que ela apresenta para a reutilização inapropriada. As subclasses e superclasses podem depender umas das outras (explicitamente pelo nome do tipo ou implicitamente pelo conhecimento da implementação), particularmente se as subclasses tiverem acesso às partes protegidas da implementação da superclasse. Essas dependências extras complicam o MDD, o projeto, e a implementação, fazendo com seja mais complicado implementar, entender, e modificar. 6 Interfaces Java Algumas vezes você quer garantias sobre comportamento sem compartilhar o código. Por exemplo, você pode querer requerer que os elementos de um contêiner específico sejam ordenados ou suportem uma operação particular, sem fornecer uma implementação padrão (porque todo relacionamento de ordem possui uma implementação diferente). O Java fornece interfaces para preencher essas necessidades. As interfaces garantem nenhuma reutilização de código. Outra vantagem das interfaces é que uma classe pode implementar múltiplas interfaces e uma interface pode estender múltiplas interfaces; em oposição a isto, uma classe só pode estender uma classe. Isto se confirma na prática, a implementação de múltiplas interfaces e a extensão de uma única superclasse fornece a maioria dos benefícios da herança arbitrária, mas com uma implementação e uma semântica de linguagem mais simples. Uma desvantagem das interfaces é que elas não fornecem uma maneira para especificar a assinatura (ou o comportamento) de um construtor.