nutrição e imunidade no homem

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ILSI EUROPE CONCISE MONOGRAPH SERIES
NUTRIÇÃO E IMUNIDADE
NO HOMEM
International Life
Sciences Institute
SOBRE O ILSI / ILSI EUROPE
Fundado em 1978, o International Life Sciences Institute (ILSI) é uma fundação internacional sem fins lucrativos voltada para
promover o bem-estar das pessoas em geral pelo avanço da ciência. Seu objetivo é contribuir para um maior conhecimento
das questões científicas relacionadas à nutrição, segurança alimentar, toxicologia, avaliação do risco e meio ambiente. O ILSI é
reconhecido no mundo todo pela qualidade das pesquisas que promove, pelos congressos e workshops que patrocina, pelos projetos
educacionais que inicia e pelas publicações que produz. É afiliado à Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma Organização
Não Governamental e goza de status de órgão consultivo especial na Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura
(FAO). Reunindo cientistas do meio acadêmico, governo, setor produtivo e setor público, o ILSI promove uma busca equilibrada de
soluções para problemas de saúde e meio ambiente que preocupam a todos. Sediado em Washington, DC, o instituto realiza seu
trabalho por intermédio de uma rede internacional de filiais, do ILSI Health and Environmental Sciences Institute (HESI) e de sua
Fundação de Pesquisas. Essas filiais estão atualmente na Argentina, Brasil, Europa, Índia, Japão, Coreia, México, Norte da África
e Região do Golfo, América do Norte, Norte Andino, África do Sul, Sul Andino, Sudoeste Asiático e em um Ponto Focal da China.
O ILSI Europe foi criado em 1986 com o intuito de identificar e avaliar as questões científicas relacionadas ao parágrafo acima por
meio de simpósios, workshops, grupos de especialistas e também publicações, com o propósito de aprofundar a compreensão e a
busca de solução para problemas científicos nessas áreas. O ILSI é mantido precipuamente pelos participantes da indústria.
Esta publicação se tornou possível com o apoio da Força-Tarefa sobre Nutrição e Imunidade do ILSI Europe, sob os auspícios da
Diretoria do ILSI Europe. A política do ILSI determina compulsoriamente que a Diretoria do ILSI e de suas filiais seja composta de
no mínimo 50% de cientistas do setor público; os diretores restantes representam as empresas integrantes do instituto. A Diretoria
do ILSI Europe e os membros da indústria participantes da Força-Tarefa sobre Nutrição e Imunidade do ILSI Europe estão indicados
abaixo.
Diretoria do ILSI Europe
Membros que não pertencem à indústria
Membros da indústria
Prof. A. Boobis, Imperial College of London (Reino Unido)
Prof. P. Calder, University of Southampton (Reino Unido)
Prof. G. Eisenbrand, University of Kaiserslautern (Alemanha)
Prof. A. Grynberg, Université Paris Sud - INRA (França)
Prof. M. Kovac, Ministro da Agricultura (Coreia do Sul)
Prof. em. G. Pascal, National Institute for Agricultural Research - INRA (França)
Prof. G. Rechkemmer, Max Rubner-Institut – Federal Research Institute of
Nutrition and Food (Alemanha)
Dr. J. Schlundt, National Food Institute (Dinamarca)
Prof. V. Tutelyan, National Food Institute (Reino Unido)
Prof. G. Varela-Moreiras, University San Pablo-CEU de Madri (Espanha)
Mr. C. Davis, Kraft Foods Europe (Suíça)
Mr. R. Fletcher, Kellogg Europe (Irlanda)
Dr. M. Knowles, Coca-Cola Europe (Bélgica)
Dr. G. Kozianowski, Südzucker/BENEO Group (Alemanha)
Dr. G. Meijer, Unilever (Holanda)
Prof. J. O’Brien, Nestlé (Suíça)
Prof. C. Shortt, McNeil Nutritionals (Reino Unido)
Dr. J. Stowell, Danisco (Reino Unido)
Dr. G. Thompson, Danone (França)
Dr. P. Weber, DSM (Suíça)
Membros da Força-Tarefa sobre Nutrição e Imunidade do ILSI Europe participantes da indústria
Danone
Institut Mérieux
Nestlé
Pfizer Consumer Healthcare
Royal FrieslandCampina
Seven Seas
Südzucker/BENEO Group
Unilever
Yakult Europe
NUTRIÇÃO E IMUNIDADE NO HOMEM
Sandra Gredel
2ª edição
Versão original em inglês © 2011 ILSI Europe
Todos os direitos reservados. É proibido reproduzir, armazenar em sistema de recuperação e transmitir qualquer parte
desta publicação, independentemente da forma ou meio, seja eletrônico, mecânico, por fotocópia, gravação ou outro, sem
a autorização prévia por escrito do detentor dos direitos autorais. O ILSI Europe autoriza a fotocópia de itens para uso
interno ou pessoal a bibliotecas e usuários individuais.
ILSI®, “A Global Partnership for a Safer, Healthier World.®” e a imagem do logotipo com o microscópio sobre o globo, são
marcas registradas do International Life Sciences Institute (ILSI), licenciadas para uso do ILSI Europe. O uso dos nomes e
fontes comerciais encontrados no documento se destina exclusivamente à identificação, não implicando endosso por parte
do ILSI Europe, assim como as opiniões e conclusões nele expressas são as dos autores, não representando necessariamente o ponto de vista do ILSI Europe ou das empresas que dele fazem parte.
Para mais informações sobre o ILSI Europe, entre em contato com:
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Avenue E. Mounier 83, Box 6
B-1200 Bruxelas
Bélgica
Tel.: (+32) 2 771 00 14
Fax: (+32) 2 762 00 44
e-mail: [email protected]
Internet: www.ilsi.eu
Impresso no Brasil
ISBN 978-85-86126-40-6
ILSI BRASIL
INTERNATIONAL LIFE SCIENCES INSTITUTE DO BRASIL
Rua Hungria, 664 - conj.113
01455-904 - São Paulo - SP - Brasil
Tel./Fax: 55 (11) 3035 5585
e-mail: [email protected]
© 2012 ILSI Brasil International Life Sciences Institute do Brasil
As ilustrações da capa são reproduzidas com permissão da British Society for Immunology (Sociedade Britânica de Imunologia) (sistema imune) e de Lena Jönsson (capsicum).
ÍNDICE
PREFÁCIO......................................................................................................................................................................................................1
INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................................................................2
1. O SISTEMA IMUNE................................................................................................................................................................................3
1.1 Como funciona o sistema imune..............................................................................................................................................3
1.2 Principais células do sistema imune........................................................................................................................................4
1.3 O sistema imune do intestino...................................................................................................................................................6
1.4 Como se desenvolve o sistema imune.....................................................................................................................................7
2. FATORES DIETÉTICOS QUE ALTERAM A RESPOSTA IMUNE..................................................................................................9
2.1 A quantidade de energia ingerida afeta a resposta imune..................................................................................................9
2.2 A quantidade e a qualidade de gordura na dieta podem influenciar a função imune................................................10
2.3 Deficiências na ingestão de vitaminas e oligoelementos podem comprometer a resposta imune .......................... 12
2.4 Os fitoquímicos podem alterar a resposta imune.................................................................................................................1
2.5 Probióticos, prebióticos e fibra alimentar.............................................................................................................................17
3. REDUÇÃO DO RISCO DE DOENÇAS POR MEIO DE MODIFICAÇÕES NA DIETA QUE INFLUEM NO SISTEMA
IMUNE ......................................................................................................................................................................................................19
3.1 Doenças inflamatórias..............................................................................................................................................................19
3.2 Infecções virais e bacterianas .................................................................................................................................................22
3.3 Alergia alimentar .................................................................................................................................................................... 23
3.4Câncer......................................................................................................................................................................................... 24
4. BENEFÍCIOS E RISCOS DA ALTERAÇÃO DA RESPOSTA IMUNE POR MEIOS NUTRICIONAIS................................... 24
5. CONCLUSÕES
6. GLOSSÁRIO........................................................................................................................................................................................... 28
7. LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................................................................30
Autora da 1ª edição: Lillian Langseth (EUA)
Autora da 2ª edição: Sandra Gredel (Alemanha)
Editor Científico: Bernhard Watzl, Max Rubner-Institut (Alemanha)
Revisores Científicos: Philip Calder, University of Southampton (Reino Unido),
Dirk Haller, Technical University of Munich (Alemanha)
Editor da Concise Monograph Series: John Howlett (Reino Unido)
Coordenadora: Lena Jönsson, ILSI Europe (Bélgica)
Traduzido por: Just Traduções S/S Ltda.
Revisor científico da versão em português: Prof. Dr. Beni Olej, D. Sc. Universidade Fluminense
Nutrição e Imunidade 1
PREFÁCIO
O sistema imune evoluiu como mecanismo de defesa
contra infecções e danos aos tecidos, sendo essencial para a
manutenção da saúde no dia a dia. É formado por elementos
estruturais e celulares espalhados pelo corpo todo. Um
desequilíbrio do sistema imunológico pode agravar os
danos causados aos tecidos e provocar inflamação crônica
e desenvolvimento de doenças alérgicas e autoimunes.
O funcionamento mais apropriado da função imune1,
portanto, pressupõe um delicado equilíbrio entre destruir
os patógenos invasores e impedir a autodestruição.
Para manter esse equilíbrio (conhecido como homeostase
do sistema imunológico) e poder desempenhar suas
funções, o sistema imune precisa de energia, componentes
básicos e vitaminas essenciais para a produção de
moléculas sinalizadoras, a proliferação celular e a síntese
de moléculas efetoras, como os anticorpos. Todos esses
processos são muito sensíveis a deficiências de macro e
micronutrientes e explicam a conhecida associação entre
subnutrição, mau funcionamento do sistema imune e
maior susceptibilidade a infecções. Mais recentemente,
tornou-se evidente que o sistema imunológico também é
sensível a microrganismos e aos constituintes alimentare
que interagem com os receptores específicos e as células
do sistema imune, e que portanto, modulam suas funções.
1. No texto todo, “função imune” significa “o
funcionamento do sistema imunológico”.
Nossa compreensão dos mecanismos que regulam a
função imune, do impacto da nutrição sobre eles e das
consequências para a manutenção da saúde se expandiu
em ritmo acelerado na última década. Por isso, é oportuno
atualizar a última Monografia Concisa do ILSI Europe,
“Nutrition and Immunity in Man”, publicado em 1999. A
presente monografia é um panorama geral e atualizado da
função imune, abordando elementos recém-descobertos,
como as células Treg e Th17, uma síntese dos efeitos de
componentes dietéticos específicos sobre a função imune,
e o impacto disso tudo sobre a saúde. Nesse aspecto, foram
atualizados os efeitos das vitaminas e ácidos graxos sobre
a função imune, bem como os efeitos dos pre e probióticos.
A monografia se propõe a servir de introdução concisa
ao fascinante, porém complexo campo da nutrição e
da imunidade. Temos certeza de que ela se tornará um
valioso recurso para todos aqueles que se interessam
pelo impacto da nutrição sobre a função imune e suas
implicações para a saúde.
Em nome da Força-Tarefa sobre Nutrição e Imunidade
Ruud Albers
Unilever
2 Concise Monograph Series
INTRODUÇÃO
Sabe-se desde o tempo de Hipócrates que a pessoa
mal nutrida é mais suscetível a doenças infecciosas. A
associação entre fome e epidemias de doenças infecciosas
foi observada muitas vezes ao longo da história.
A subnutrição compromete o sistema imune suprimindo
a função imune, fundamental para a proteção eficiente do
corpo contra infecções bacterianas e virais. A consequência desse comprometimento é um aumento tanto na incidência quanto na gravidade das infecções. Alguns vírus,
por exemplo, não afetam tão gravemente crianças bem nutridas, embora sejam fatais para as mal nutridas.
A ciência já sabe, desde os anos de 1960, que o sistema
imune desempenha papel fundamental na relação entre
má nutrição e infecção. Essa inter-relação se aplica não
apenas a crianças com nutrição inadequada de países em
desenvolvimento, como também a pessoas de todas as
idades no mundo todo. Entre os especialmente suscetíveis
estão os idosos, bebês prematuros, portadores de
distúrbios alimentares, alcoólatras e vítimas de doenças
debilitantes - todos eles apresentam comprometimento
da função imune relacionada a problemas de nutrição.
Os efeitos adversos sobre a função imune também estão
presentes em alguns casos de “supernutrição” (como a
obesidade ou a ingestão muito elevada de gordura total
ou de determinados tipos de ácidos graxos), assim como
podem estar presentes nas deficiências de micronutrientes
e em desequilíbrios nutricionais.
Outro foco importante da atual pesquisa é a possibilidade
de promoção das funções do sistema imune de pessoas
saudáveis por meios nutricionais na esperança de
melhorar sua saúde. Alguns cientistas, por exemplo,
estão pesquisando a possibilidade da suplementação
com alguns nutrientes, como as vitaminas E e C, em
concentrações acima das Recomendações Nutricionais
(RDA – Recommended Dietary Allowance), ou com
alimentos - como probióticos e prebióticos - proporcionar
melhoras da função imune em segmentos vulneráveis da
população, como os idosos, mas também na população
em geral. Alimentos funcionais, que visam a melhorar
ou suprimir a função imune, são vistos com cada vez
mais frequência nos supermercados. Doenças como
alergia, asma e doenças intestinais inflamatórias têm
suas raízes em distúrbios do sistema imune, sendo que
o sistema imune também está envolvido nas doenças
cardiovasculares e no câncer. A evolução de todas essas
doenças pode ser alterada por meio de intervenção na
dieta.
Nutrição e Imunidade 3
O SISTEMA IMUNE
FIGURA 1
A distribuição do sistema imune
O corpo humano possui um intricado sistema de
mecanismos de defesa contra agentes estranhos
potencialmente perigosos. Esse complexo sistema de
moléculas efetoras, células e tecidos fica disperso pelo
corpo todo (Figura 1). O organismo conta com vários
mecanismos de defesa não específicos, como a pele
e a secreção das mucosas. Quando um organismo
consegue transpor essa barreira superficial, ele
encontra mais dois níveis de defesa: a resposta imune
inata e a resposta imune adquirida. São essas as defesas
que abordamos nesta monografia e que, juntamente
com suas células e órgãos específicos, costumam ser
chamadas sistema imune.
1.1 Como funciona o sistema imune
O sistema imune pode ser subdividido em imunidade
inata e adquirida (ou adaptativa). A imunidade inata é
uma primeira linha de defesa e uma resposta genérica,
enquanto a adquirida é específica e requer adaptações
contínuas a agentes estranhos. A principal distinção entre
as duas está no tipo de célula, receptores e mecanismos
envolvidos nas respostas imunes. A comunicação interna
entre imunidade inata e adquirida através de receptores e
mediadores específicos é a responsável pela eficiência do
nosso sistema de defesa.
Para realizar a tarefa de defender o organismo contra
as infecções, o sistema imune conta com três recursos
extraordinários:
• A capacidade de distinção entre os componentes do
próprio organismo e componentes invasores estranhos
(muitas vezes chamada de capacidade de distinguir entre
“próprio” e “não próprio”)
• A capacidade de reconhecer e responder, de maneiras
adenoide
amígdala
timo
Placas de
Peyer no
intestino
delgado
apêndice
vasos
linfáticos
baço
linfonodo
medula óssea
O timo e a medula óssea são os tecidos de maturação das células
imunes. Os linfócitos T amadurecem no timo e os linfócitos B na
medula óssea. Os linfócitos migram através do sistema sanguíneo
para outros tecidos imunes, como o baço, os linfonodos e os
tecidos linfoides associados ao intestino (as placas de Peyer, por
exemplo, encontradas no intestino delgado).
específicas, a um número essencialmente ilimitado de
moléculas diferentes
• A capacidade exclusiva de emitir uma resposta acelerada
e aperfeiçoada diante da reexposição a agentes estranhos
já encontrados (ou seja, o sistema tem “memória”).
4 Concise Monograph Series
FIGURA 2
Medula óssea
Principais células do sistema imune
Célula-tronco
Sangue e linfonodos
Célula T
Célula B
Célula exterminadora
natural
Tecido e linfonodos
Célula dendrítica
Sangue
Monócito
Precursor desconhecido
Neutrófilo
Tecido
Macrófago
O reconhecimento do que é próprio se dá por meio de
um elaborado sistema de moléculas específicas presentes
nas superfícies de todas as células do organismo. Em
circunstâncias normais, as células do sistema imune não
atacam as que têm esse marcador distintivo que denotam o
próprio, mas qualquer encontro com determinadas moléculas
marcadoras estranhas (denominadas antígenos, termo que
provém de ANTIbody GENerator (gerador de anticorpos)
ativa as células do sistema imune, fazendo-as subir de
nível em sua resposta defensiva. Durante essa resposta, os
patógenos são destruídos e seus antígenos são apresentados
a células imunes imaturas, que são assim estimuladas a
se diferenciar em células especializadas, equipadas com
estruturas receptoras específicas que as habilita a reconhecer
e interagir com seus alvos individualmente. Umas poucas
dessas células especializadas, chamadas células de memória,
conservam sua funcionalidade mesmo depois de terminada
a resposta diante de um agente estranho e com isso, na
vez seguinte em que o sistema imune encontra o mesmo
antígeno, ele consegue responder de forma rápida e eficiente.
Mastócitos
1.2 Principais células do sistema imune
Os principais “soldados” de defesa do sistema imune são
uma classe de glóbulos brancos móveis denominados
leucócitos. Existem dois tipos distintos de leucócitos:
fagócitos, que englobam os macrófagos, neutrófilos e
células dendríticas; e os linfócitos, que englobam as células
B, células T e células exterminadoras naturais (Figura 2).
Os fagócitos engolfam e destroem micróbios e outras
partículas. Fazem parte do sistema imune inato e englobam
os monócitos/macrófagos, neutrófilos e células dendríticas.
Os monócitos circulam no sangue como precursores dos
macrófagos e se diferenciam em macrófagos depois de
deixar a circulação e migrar para tecidos do corpo todo. Os
macrófagos e os neutrófilos expressam receptores chamados
Toll-like, que os auxiliam no reconhecimento de constituintes
comuns a muitos patógenos (ver Quadro 1).
Algumas moléculas com especificidade para patógenos
se ligam a esses receptores e ativam células imunes,
Nutrição e Imunidade 5
QUADRO 1
Receptores que reconhecem estruturas moleculares
“estranhas”
A tarefa primordial do sistema imune inato não é reconhecer todos
os antígenos possíveis, mas identificar umas poucas estruturas
moleculares altamente conservadas que são características de
todos os microrganismos e que são reconhecidas por receptores
específicos chamados receptores de reconhecimento de padrões
(PRR). A estrutura desses receptores é invariável, ao contrário das
estruturas extremamente diversificadas dos receptores das células
B e T. Os PRRs reconhecem padrões característicos, encontrados
exclusivamente em patógenos microbianos, denominados
padrões moleculares associados a patógenos (PAMP), que
precisam cumprir três requisitos muito importantes:
• Ser expressos exclusivamente por patógenos e não por seu
hospedeiro
• Ser compartilhados por classes inteiras de patógenos
• Ser essenciais para a sobrevivência ou patogenicidade de
microrganismos
Uma classe importante de PRRs é a família de receptores Tolllike. Eles reconhecem os PAMPs, como os lipopolissacarídeos
encontrados em todas as bactérias Gram-negativas, no RNA de
fita dupla dos vírus e em muitas outras estruturas. Assim que o
PRR identifica um PAMP específico, as células efetoras corretas
são lançadas para desempenhar imediatamente suas funções
efetoras. Os PRRs do tipo Toll-like são um importante elo entre os
sinais imunológicos e a regulação da expressão gênica associada
a nutrientes, promovendo uma defesa antimicrobiana aumentada
(caso da vitamina D, por exemplo).
que engolfam e matam os patógenos, além de induzir
a secreção de mediadores químicos, as citocinas e as
quimiocinas pelos fagócitos (ver Quadro 2). Certos
nutrientes, como, por exemplo, a vitamina D, mediam a
ativação do receptor Toll-like pela indução da síntese de
peptídeos antibacterianos dentro dos macrófagos.
Células dendríticas são células de amostragem antigênica do
tecido periférico, equipadas para a captura, processamento
e apresentação dos antígenos às células T, que então se
diferenciam em células T ativas, imunogênicas. Por causa de
suas propriedades funcionais, as células dendríticas ficam
situadas ao longo das superfícies corporais que demarcam
a fronteira entre o corpo e o meio ambiente, como a pele e a
mucosa dos tratos respiratório e gastrointestinal.
QUADRO 2
Citocinas
As citocinas são proteínas produzidas por vários tipos de célula,
tanto imunes quanto não imunes, e afetam o comportamento
de outras células. Cada citocina exerce efeitos variados sobre os
diferentes tipos de célula. As citocinas produzidas por leucócitos
e que exercem efeito principalmente sobre outros leucócitos são
denominadas interleucinas (IL). As citocinas agem seletivamente
através de seus receptores específicos situados nas células que
elas afetam. A ligação com o receptor induz atividades na célula,
como crescimento, diferenciação ou morte.
As citocinas produzidas no início da resposta imune agem sobre
outras células imunes, determinando, assim, o tipo de resposta
imune desenvolvida (inflamação, produção de anticorpos). Os
diferentes subgrupos dos linfócitos T em particular contribuem para
a imunorregulação através de seu perfil de segregação de citocinas:
• Thelper 1 (Th1): IL-2 e interferon-γ (estimulação de processos inflamatórios)
• Thelper 2 (Th2): IL-4, IL-5, IL-9 e IL-13 (estimulação de produção
de anticorpos)
• Thelper 17 (Th17): IL-17 (mediador nas doenças inflamatórias e
autoimunes)
• T regulatory (Treg): IL-10, fator de crescimento-β transformante
(inibição de processos inflamatórios)
Quase todas as citocinas agem em concerto com outras para
provocar seus efeitos fisiológicos. Além das células imunes, as
citocinas também podem afetar células não imunes de tecidos,
tais como os do cérebro e do fígado.
As quimiocinas fazem parte da família de citocinas. Agem como
proteínas quimioatraentes e estimulam a migração e a ativação de
células, sobretudo fagócitos e linfócitos. Desempenham um papel
fundamental nos processos inflamatórios
6 Concise Monograph Series
QUADRO 3
Mais sobre células B e T
Cada célula B é programada para produzir um anticorpo específico
capaz de reagir com um antígeno específico, do mesmo modo que
uma chave em sua respectiva fechadura. Quando encontra seu
antígeno disparador, a célula B dá origem a um grande número
de células filhas, que fabricam e secretam grandes quantidades do
anticorpo específico que se “casa” com o antígeno. Os anticorpos
se ligam às moléculas do antígeno e os processam por eliminação.
Coletivamente, as células B são capazes de produzir os milhares
de tipos diferentes de anticorpos que um indivíduo precisa para
contra-atacar a enorme variedade de antígenos que poderá ser
encontrada ao longo da vida. As células B expressam anticorpos
que se ligam à membrana de sua superfície como receptores
antígênicos, permitindo, assim, sua proliferação depois da
interação com antígenos. Quando um determinado antígeno
é encontrado pela primeira vez, as células B, que produzem o
anticorpo específico, são preparadas e ativadas. Se o mesmo
antígeno é encontrado de novo, as células B (células de memória)
são capazes de responder produzindo grandes quantidades do
anticorpo necessário com grande rapidez.
As células T são outro subconjunto de linfócitos. Caracterizadas
por sua capacidade de produzir citocinas ativadoras ou
supressoras, elas se subdividem em células T (p.ex.: Th0, Th1, Th2,
Th17) e células T reguladoras (ver Quadro 4). Um terceiro grupo
de células T, as T citotóxicas, é bem equipado para matar células
infectadas com vírus.
Assim como as células B, as células T reagem a antígenos
específicos. Sabem reconhecer antígenos através de receptores
localizados em sua superfície, os receptores de células T. Parte do
receptor da célula T é uma molécula específica para antígeno que
se comporta como anticorpo, ligando-se ao antígeno específico.
Quando o antígeno se liga, a célula T é ativada, desencadeando
a cascata de reações imunes. A ativação das células Th2, por
exemplo, controla a proliferação e a diferenciação das células B
que se ligaram ao mesmo antígeno.
As células B são uma classe de linfócitos e se originam
na medula óssea. Ao serem estimuladas pelos antígenos,
as células B se transformam em células produtoras de
anticorpos, que por sua vez são proteínas complexas
chamadas imunoglobulinas. Cada célula B produz um tipo
de anticorpo, que reage especificamente com uma única
variedade de antígeno. Os antígenos que estimulam as células
B são normalmente moléculas proteicas (ver Quadro 3).
Certas atividades das células B estão sob o controle das
células T. Assim como as células B, as células T se originam
na medula óssea, mas passam por importantes estágios
de desenvolvimento dentro de um órgão chamado timo.
Sinais específicos fazem as células T não diferenciadas
se transformar em tipos funcionalmente diferentes de
células T (ver Quadro 4).
As células exterminadoras naturais conseguem reconhecer
e exterminar rapidamente as células alvo, entre as quais
se incluem células infectadas por vírus e células tumorais.
Nem o reconhecimento das células alvo nem a subsequente
função exterminadora das células exterminadoras naturais
são regulados por mecanismos dependentes de antígenos,
e sim por receptores inibidores e ativadores presentes
nessas células. Os receptores são lançados pelo contato com
células consideradas como células-alvo.
1.3 Sistema imune do intestino
O sistema imune do intestino, ou do tecido linfoide
associado ao intestino (GALT) é uma parte muito
importante de nossa capacidade imunológica total. O GALT
impede a passagem de bactérias e antígenos alimentares
que vêm do lúmen gastrointestinal pelo epitélio da
mucosa intestinal, porém, a título de informações
imunológicas importantes, permite o deslocamento de
quantidades mínimas de bactérias viáveis e mortas para
o sistema imune sistêmico. As células imunes do intestino
ficam organizadas dentro de compartimentos distintos:
linfonodos, folículos linfáticos e placas de Peyer (Figura 3).
Nutrição e Imunidade 7
Algumas células imunes isoladas ficam distribuídas dentro
da mucosa intestinal e entre as células epiteliais. Para poder
enfrentar desafios tão variados, o GALT desenvolveu
pelo menos duas estratégias. A primeira é a que favorece
a exclusão imune pela secreção de anticorpos que vão
inibir a colonização de bactérias causadoras de doenças
e evitar infecções na mucosa. A segunda é lançar mão de
mecanismos que evitam a reação exagerada em relação a
substâncias inócuas das superfícies mucosas. O terceiro
fenômeno se chama tolerância oral e explica em grande
parte por que a maioria das pessoas não apresenta reação
imune adversa diante daquilo que come. Em algumas
pessoas, no entanto, o sistema imune inicia uma resposta
imune imprópria e exagerada diante dos alimentos, que é o
que se conhece como “alergia alimentar” (ver Monografias
Concisas do ILSI Europe “Food Allergy”).
As bactérias inerentes também podem contribuir para a
proteção das superfícies mucosais, o que se dá pela criação
de um “efeito barreira” contra os patógenos, conhecido
como resistência à colonização. Esse “efeito barreira”
envolve diversos mecanismos, entre eles a competição
por receptores e substratos metabólicos nas superfícies
mucosas e a produção de fatores reguladores, como
ácidos graxos de cadeia curta e bacteriocinas (proteínas
antibióticas produzidas por bactérias).
1.4 Como se desenvolve o sistema imune
O sistema imune não é constante e sim sujeito a várias
alterações ao longo da vida da pessoa, que são induzidas
por inúmeros fatores ambientais (Figura 4), ocorrendo as
principais na infância e na adolescência. Como o embrião
FIGURA 3
Reprodução extraída do artigo: “Modulating the
intestinal immune system: the role of lymphotoxin and
GALT organs”. Spahn, T.W., Kucharzik, T. 53:456-465,
2004, com permissão do BMJ Publishing Group Ltd.
Tecido linfoide associado ao intestino
Célula epitelial intestinal (IEC)
Linfócito
intraepitelial (IEL)
Vasos linfáticos
Lúmen intestinal
Células
dendríticas (DC)
Linfócitos da
lâmina própria
Criptoplacas (CP)
Células M
Placa de Peyer
(PP)
Domo
Vasos linfáticos
Áreas de
células T
Lâmina própria
Folículo linfoide isolado (ILF)
Folículos de
células B
Linfonodo
mesentérico (MLN)
8 Concise Monograph Series
FIGURA 4
Fontes de variação da função imune
Status do nutriente
Dieta
Flora intestinal
Obesidade
Eventos precoces da vida
Genética
Sexo
Consumo de álcool
Função imune
Exercício
– agudo
– crônico
Idade
Status hormonal
Fumo
Exposição a
patógenos (infecções)
– presença
– histórico
em geral não se confronta com antígenos enquanto está
no útero, certos aspectos do sistema imune inato e do
adquirido não estão completamente amadurecidos no
nascimento. A concentração de imunoglobulina no
recém-nascido é baixa (com exceção da imunoglobulina
G, que é transferida para o feto pela placenta) e suas
células T produzem uma grande variedade de citocinas
onde predominam as citocinas específicas dos linfócitos
Thelper 2 (Th2), que aumentam a produção de anticorpos
pelas células B. Durante o primeiro ano de vida, o padrão
da citocina muda e a proporção entre citocinas Thelper 1
(Th1)/Th2 fica mais equilibrada, propiciando uma melhor
resposta imune celular e a eliminação de patógenos
intracelulares. Um desequilíbrio entre as citocinas Th1 e
Th2 aumentaria o risco de reações autoimunes e alérgicas.
Além disso, a função de barreira da mucosa intestinal
e a tolerância oral contra antígenos alimentares se
desenvolvem com o tempo. Nos primeiros sete anos de
vida, os órgãos do sistema linfoide crescem mais depressa
Histórico de
vacinação
Estresse
– ambiental
– fisiológico
– psicológico
do que todo o resto do corpo e depois seu tamanho relativo
vai diminuindo até ficar mais ou menos como o do adulto,
aproximadamente na idade de 12 anos.
O sistema imune do idoso se caracteriza muitas vezes
por um desequilíbrio das respostas imunes, que podem
apresentar redução, deixando a pessoa mais suscetível a
infecções. Por outro lado, a produção de anticorpos no idoso
saudável se compara à do adulto jovem, muito embora um
comprometimento na imunocompetência no idoso não se
deva necessariamente a um declínio primário da função
imune e sim a déficits nutricionais latentes. Por isso, o
desequilíbrio nas respostas imunes do idoso pode estar
associado a processos imunes cumulativos da vida toda
e quaisquer alterações em termos de nutrição, atividade
física e saúde em geral (Figura 4) podem contribuir ainda
mais para isso.
Nutrição e Imunidade 9
QUADRO 4
2. FATORES DIETÉTICOS QUE
ALTERAM A RESPOSTA IMUNE
Por que a resposta imune tem que ser regulada?
O mesmo mecanismo de supressão imune, porém, poderia em
outra situação suprimir a resposta imune necessária contra células
tumorais, que também mostram propriedades em comum com as
células do próprio corpo.
As Recomendações Nutricionais (RDA) de cada nutriente
indicam a ingestão dietética diária média considerada
suficiente para atender às necessidades de praticamente
todas (97-98%) as pessoas saudáveis. Para a maioria dos
nutrientes, no entanto, seu papel de contribuir para uma
resposta imune mais adequada não foi considerado na
definição das RDA e com isso, as RDA de um nutriente
específico podem não corresponder à concentração que
favorece a melhor resposta imune. Consequentemente,
ainda não se sabe, no caso de muitos nutrientes, se sua
ingestão em concentração mais alta do que as RDA
melhoraria a resposta imune.
Ou, o que acontece quando frações de proteína dietética
atravessam a parede intestinal e entram em contato com
leucócitos intestinais? Sem mecanismos reguladores e a indução
da tolerância oral, ocorreria a indução da alergia alimentar, uma
resposta imune contra alimentos inofensivos.
2.1 Um consumo alto ou baixo de
energia compromete a resposta imune
Supõe-se que a resposta imune não pode ser forte demais. O que
queremos não é matar e eliminar patógenos nocivos da maneira
mais rápida e eficiente possível?
Não exatamente.
O que acontece quando uma célula T helper autorreativa, que
escapou da eliminação no timo, entra na circulação e ataca
células do corpo saudáveis? Sem a adequada supressão imune,
ela proliferaria e provocaria uma resposta autoimune direcionada
contra as células do próprio corpo.
As células imunes que desempenham papel mais importante no
controle da intensidade e da duração de uma resposta imune
apropriada são as células T reguladoras, que podem ser identificadas
por marcadores de superfície distintos e por um padrão específico
de secreção de citocinas. A imunorregulação é um equilíbrio
contínuo entre estímulo e supressão de células efetoras imunes. Há
outras células que também podem estar implicadas na regulação
imune, como as células B que produzem anticorpos IgA específicos
para antígenos alimentares no intestino dos mamíferos.
É fato conhecido que a desnutrição grave, sobretudo a
desnutrição infantil debilitante, compromete fortemente
a função imune. Essa desnutrição, problema que afeta
principalmente os países em desenvolvimentos, aumenta
substancialmente o risco de mortalidade infantil por
infecção. A carência de energia de origem proteica costuma
vir acompanhada da deficiência de micronutrientes, como
vitamina A, vitamina E, vitamina B6, vitamina C, folato,
zinco, ferro, cobre e selênio. Na desnutrição, a maioria
dos mecanismos de defesa fica comprometida, mesmo
que a deficiência nutricional seja apenas de gravidade
moderada. Normalmente de proliferação rápida, as
células T que respondem a patógenos ficam especialmente
afetadas e sua quantidade sofre uma queda acentuada. A
desnutrição grave e crônica leva à atrofia do timo e outros
órgãos linfoides.
Tanto a obesidade quanto seu tratamento parecem ter
10 Concise Monograph Series
efeitos claros, mas não ainda precisamente definidos,
sobre a resposta imune. Os obesos são mais sujeitos do que
pessoas de peso normal a desenvolver diferentes tipos de
infecção e a obesidade está associada a um maior risco de
vários tipos de câncer. Além disso, moléculas produzidas
especificamente no tecido adiposo (adipocinas) geram
um ambiente pró-inflamatório em diferentes tecidos do
corpo, o que aumenta o risco de desenvolver doenças
inflamatórias crônicas. Apesar de observarmos sinais
patentes do efeito prejudicial da obesidade sobre o sistema
imune, não dispomos ainda de dados experimentais
claros obtidos com estudos realizados com seres
humanos. Alguns estudos relataram deficiência nas
funções imunológicas básicas, entre elas proliferação de
linfócitos, hipersensibilidade do tipo tardia e/ou impacto
na maturação e na capacidade bactericida dos macrófagos.
Há estudos, porém, que demonstraram não haver
diferenças entre obesos e pessoas de peso normal. Assim,
continuamos sem saber se a relação entre obesidade e
infecção é causal ou simplesmente uma associação gerada
por fatores confundidores (como o diabetes mellitus).
Determinadas estratégias de redução de peso provocam
alterações na capacidade do organismo de processar a
resposta imune. Não temos no momento uma imagem
clara das consequências da redução de peso nessas
pessoas, já que existem relatos tanto de efeitos supressivos
quanto estimulantes sobre várias respostas imunes. A
solução dessa questão encontra ainda outro empecilho
que é o número limitado de estudos e estudos com falhas
de concepção (exemplo: falta de sujeitos de controle,
heterogeneidade entre os diferentes métodos de perda
de peso). Como a obesidade e os programas de perda de
peso afetam um número cada vez maior de pessoas de
sociedades abastadas e desenvolvidas, o esperado é que
o impacto da obesidade e da perda intencional de peso
sobre a resposta imune se acentue ainda mais no futuro.
2.2 A quantidade e a qualidade de
gordura na dieta podem influenciar a
função imune
O alvo de grande parte da pesquisa sobre como a gordura
na dieta influencia o funcionamento do sistema imune
tem sido alguns tipos específicos de ácidos graxos,
mas pode ser que a ingestão total de gordura também
seja importante. Nos países ocidentais, a gordura
normalmente contribui para 35 a 40% da ingestão total de
energia. Os ácidos graxos têm várias funções nas células
imunes (ver Tabela 1) e toda alteração no consumo total
de gordura pode influenciar a resposta imune no homem.
Um exemplo: a redução de 36% para 25% na ingestão de
gordura aumenta a capacidade de resposta linfocitária
e a capacidade das células exterminadoras naturais de
destruir células tumorais. A gordura também é um dos
principais constituintes das membranas.
Os ácidos graxos se subdividem em famílias distintas
que diferem entre si em termos de estrutura e origem
na dieta: os saturados e os insaturados. Na estrutura
dos ácidos graxos saturados (SFA) não existem ligações
duplas carbono-carbono. Os que têm ligações duplas
são chamados insaturados: monoinsaturados, se houver
uma ligação dupla carbono-carbono, e poliinsaturados, se
houver duas ou mais ligações duplas. Os poliinsaturados
(PUFA) podem ainda ser classificados em duas famílias,
dependendo da posição da dupla ligação: n-3 (ômega-3) e
n-6 (ômega-6).
Os PUFA n-3 e n-6 originais, respectivamente, ácido
a-linolênico e ácido linoleico, não podem ser sintetizados
pelo homem e têm de ser supridos pela dieta, sendo,
portanto, considerados ácidos graxos essenciais. O PUFA
n-6 original, ácido linoleico, é encontrado basicamente
nos óleos vegetais, como o óleo de milho e o óleo de
girassol, enquanto o ácido a-linolênico, o PUFA n-3
original, é encontrado nos óleos de linhaça, canola e soja.
Para influenciar o sistema imune, os compostos originais
Nutrição e Imunidade 11
Tabela 1
Quadro 5
Papel dos ácidos graxos nas células imunes
Eicosanoides
Ácidos graxos:
• São precursores dos eicosanoides e outros mediadores de lipídeos
Os eicosanoides pertencem a uma família de hormônios
derivados de ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa
associados à membrana celular (LCPUFA) e são formados, por
exemplo, por prostaglandinas e leucotrienos. O tipo de ácido
graxo poliinsaturado (PUFA) da membrana celular é influenciado
pela gordura na dieta. Grande variedade de atividades biológicas
foi atribuída aos eicosanoides, como a modulação da intensidade
e da duração das respostas inflamatórias imunes.
têm de ser convertidos em derivados de cadeia longa
(LCPUFA): ácido araquidônico (AA), da família n-6, e
ácidos eicosapentaenoico (EPA) e docosa-hexaenoico
(DHA), da família n-3.
O principal precursor dos eicosanoides é o LCPUFA n-6, ácido
araquidônico, mas as duas classes de LCPUFA, n-6 e n-3,
competem na formação dos eicosanoides, resultando em diferentes
famílias de prostaglandinas, leucotrienos e outros hormônios que
atuam sobre os tecidos. O PUFA n-3 suprime ainda a produção
dos eicosanoides derivados do PUFA n-6.
• Fornecem energia às células imunes
• São componentes dos fosfolipídios da membrana celular e
afetam a estrutura e o funcionamento da membrana
• Regulam a expressão gênica, por exemplo, por meio de
processos de sinalização
O ácido linoleico dietético é rapidamente convertido em
AA, mas a conversão do ácido a-linolênico em EPA e DHA
é limitada. Existem, porém, boas fontes dietéticas de EPA
e DHA pré-formados, como o óleo de peixe.
As prostaglandinas derivadas do LCFUFA n-6 (p.ex.: prostaglandina
E2) parecem exercer funções reguladoras decisivas sobre vários
tipos de células imunes. Em concentração baixa, acredita-se
que a prostaglandina E2 seja necessária para certos aspectos da
imunidade, mas em concentração mais alta, várias funções das
células imunes são suprimidas. O conteúdo desses precursores
da prostaglandina nas membranas celulares pode ser modificado
pela alteração da composição de PUFA na dieta, influenciando
assim a quantidade de prostaglandina E2 produzida.
Uma vez incorporado à membrana das células imunes,
o LCPUFA pode ser convertido em hormônios que agem
sobre os tecidos, denominados eicosanoides, uma família
de reguladores biológicos que engloba as prostaglandinas
e os leucotrienos (ver Quadro 5). Dependendo do tipo de
PUFA presente na dieta, principalmente da quantidade
de LCPUFA n-3, as células imunes produzem diferentes
quantidades e espécies de eicosanoides, que exercem
efeitos muito diferentes sobre a resposta imune.
Além disso, os LCPUFAs parecem ser ligantes naturais de
uma certa classe de fatores da transcrição antiinflamatória
chamados receptores de peroxissoma ativados por
proliferadores.
Os ácidos graxos são importantes para o funcionamento
do sistema imune porque também afetam a fluidez das
membranas, que diminui com o comprimento da cadeia
e aumenta com o grau de insaturação dos ácidos graxos
incorporados. A fluidez é importante para a expressão
das estruturas da superfície celular, como os receptores,
que desempenham papel fundamental na função imune.
Em geral, dietas ricas em PUFA n-3 acabam inibindo
o excesso de resposta imune associado a doenças
inflamatórias crônicas, como a artrite reumatoide. No
entanto, as respostas imunes necessárias para a proteção
contra os patógenos parecem não ser prejudicadas. A dieta
rica em PUFA n-6 exerce efeitos diversos sobre as respostas
imunes, entre elas respostas pró- e anti-inflamatórias.
12 Concise Monograph Series
QUADRO 6
Avaliação da situação imune
De modo geral, os estudos realizados até agora sobre função imune
e nutrição humana se concentraram quase que exclusivamente nas
células imunes que circulam no sangue. A desvantagem é que elas só
correspondem a 2% do total de células imunes e, portanto, podem não
oferecer uma imagem inteiramente representativa do quadro, sem contar
que as células imunes associadas ao intestino normalmente não ficam
acessíveis no homem. Atualmente, não há um marcador único que permita
tirar conclusões sobre o funcionamento do sistema imune como um todo.
Marcadores selecionados podem ser indicativos de aspectos específicos
da função imune (p.ex., resposta a vacinas para conferir resistência a
infecções), mas a avaliação global das alterações introduzidas pela dieta
sobre o funcionamento do sistema imune requer uma metodologia
extremamente cuidadosa, voltada para um espectro de marcadores.
Teoricamente, as medidas imunes usadas como biomarcadores deveriam
ser biologicamente relevantes e sensíveis, além de viáveis sob condições
normais de estudo. Com base nesses critérios, um grupo de especialistas
recentemente classificou os marcadores imunológicos em três categorias:
Alta conformidade: Os marcadores dessa categoria são considerados
altamente convenientes porque medem uma resposta in vivo integrada
diante de um desafio imune. Os marcadores que pertencem a essa
categoria são a produção de anticorpos séricos específicos das vacinas,
a resposta de hipersensibilidade de tipo tardia, a concentração de
imunoglobulina secretora A (sIgA) em fluidos relevantes e a resposta a
patógenos atenuados.
Média conformidade: Quando não é possível a aplicação de marcadores
de categoria “alta”, existem diversos marcadores ex vivo à disposição, que
permitem a compreensão mecanicista do efeito de uma intervenção. Os
marcadores abrangem atividade das células exterminadoras naturais e
explosão oxidativa do fagócito. A combinação de proliferação de células T,
expressão de marcadores da ativação das células T e produção de citocinas
chave pode ser aplicada na avaliação da função do linfócito T. A medida
da produção do anticorpo antígeno-específico serve para avaliar a função
das células B.
Baixa conformidade: Alguns marcadores ex vivo são considerados
de baixa conveniência, em grande parte por causa da falta de uma
associação clara entre uma alteração no marcador e uma alteração na
susceptibilidade a infecções.
A combinação de marcadores de alta e média estabilidade é
atualmente a melhor maneira de medir a imunomodulação nos
estudos de intervenção de nutrição humana.
2.3 Uma deficiência na ingestão
de vitaminas e microminerais pode
comprometer a resposta imune
Está demonstrado que a deficiência de vários micronutrientes reduz a resposta imune, conforme sintetizado
na Tabela 2. Alguns métodos usados para medir respostas no sistema imune são discutidos no Quadro 6.
Vitamina A
A vitamina A da dieta ocorre principalmente no fígado,
na gema do ovo e no leite. Certos carotenoides (ver Seção
2.4) encontrados nas verduras, legumes e frutas podem ser
convertidos no organismo em vitamina A. A deficiência de
vitamina A é rara nas sociedades ocidentais, mas constitui
um importante problema de saúde pública em muitas partes
dos países em desenvolvimento. Médicos e cientistas sabem
há centenas de anos que o distúrbio do “olho seco”, causado
por deficiência de vitamina A, está ligado à alta morbidade
e mortalidade em virtude de doenças infecciosas.
Mais recentemente, testes clínicos feitos em países em
desenvolvimento mostraram que a suplementação com essa
vitamina reduz a mortalidade infantil em 30%, consistindo
em uma das intervenções de melhor relação custo/benefício
para a melhoria da saúde pública. Tais testes indicaram ainda
que a suplementação com vitamina A reduz a gravidade
das doenças diarreicas na infância. Porém, testes clínicos
feitos com suplementação com vitamina A em crianças com
infecção respiratória viral mostraram resultados duvidosos
e deveriam ser melhor investigados. É importante também
considerar a toxicidade da vitamina A quando dada como
suplemento. É muito mais seguro aumentar o consumo de
alimentos ricos nessa vitamina.
Para poder se desenvolver normalmente e para o bom
funcionamento de seus muitos tipos de células sanguíneas, entre elas os linfócitos, o organismo precisa de um
suprimento adequado de vitamina A. Na deficiência de
vitamina A, a quantidade dessas células pode cair, provo-
Nutrição e Imunidade 13
Tabela 2
Efeitos da deficiência ou insuficiência de micronutrientes ou substâncias fitoquímicas sobre a resposta imune
Micronutriente
Efeitos da deficiência ou insuficiência
Vitamina A
Perda da função de barreira da mucosa epitelial
Comprometimento da função dos neutrófilos e macrófagos
Diminuição na quantidade de células exterminadoras naturais e da atividade lítica
Vitamina D
Diminuição da resposta dos anticorpos
Diminuição da produção de peptídeos bacterianos
Vitamina E
Comprometimento da imunidade mediada por células B e T
Vitamina B6
Aumento no dano oxidativo na membrana de células imunes
Diminuição da capacidade de resposta dos linfócitos
Vitamina C
Comprometimento da produção de anticorpos
Diminuição da resistência a infecções
Zinco
Comprometimento da proliferação de células T
Comprometimento do desenvolvimento das células T
Comprometimento da capacidade de resposta dos linfócitos
Selênio
Diminuição da resistência a infecções
Aumento do dano oxidativo na membrana das células imunes
Diminuição da produção de citocinas
Diminuição da resistência a vírus
Carotenoides
Diminuição da produção de anticorpos
Diminuição da atividade das células exterminadoras naturais
Diminuição da produção de citocinases
Flavonoides
Comprometimento da função dos fagócitos
Efeitos imunomoduladores
cando anormalidades em seu funcionamento. Em períodos de deficiência de vitamina A, pode ocorrer também
alteração nas redes de citocinas, que influenciam respostas imunes, com possível modificação da resposta dos anticorpos diante dos antígenos.
Outras consequências da deficiência de vitamina A são o
comprometimento da integridade do revestimento dos tratos pulmonar, gastrointestinal e urinário, ficando assim
mais fácil para as bactérias patogênicas penetrar a barreira
epitelial e provocar infecções mais graves e inflamações mais
exacerbadas. Um exemplo: a suplementação com vitamina A
limita a diarreia, restaurando a integridade intestinal. Foi demonstrado recentemente que o ácido retinoico, um metabólito da vitamina A, é produzido exclusivamente por células
imunes intestinais, mas não do mesmo tipo de célula imune
de outros órgãos linfoides. Esse ácido direciona a migração
de células T antígeno-específicas da periferia de volta para o
intestino, onde encontraram seu antígeno pela primeira vez.
São, portanto, dados que confirmam a importância de uma
ingestão adequada de vitamina A para a regulação dos processos imunes que ocorrem no intestino.
14 Concise Monograph Series
Vitamina D
A vitamina D é um hormônio e seu precursor pode ser
sintetizado na pele pela exposição à luz solar. Esse precursor
é metabolizado primeiramente no fígado e depois no rim,
onde adquire a forma biologicamente ativa de vitamina D,
mas fatores como latitude, estação do ano, pigmentação
da pele, envelhecimento e protetor solar contribuem para
diminuir a produção de vitamina D cutânea. Algumas
fontes dietéticas do precursor da vitamina D são óleo de
peixe, óleo de fígado de bacalhau e gema de ovo.
Estima-se que um bilhão de pessoas no mundo todo
tenham deficiência ou insuficiência de vitamina D. Nas
últimas décadas, observações acumuladas indicaram que
quem tem deficiência de vitamina D sofre com infecções
respiratórias mais frequentes e mais graves do que quem
tem concentração adequada de vitamina D no plasma.
A incidência frequente de infecções respiratórias no
inverno pode ser causada por uma deficiência de vitamina
D, já que a radiação solar em latitudes acima de 45° é
consideravelmente mais baixa no inverno do que no verão.
A vitamina D é um importante regulador do sistema
imune. Seus receptores ocorrem na maioria das células do
corpo, inclusive nas células imunes. As células do fígado e
do rim e os macrófagos possuem a capacidade enzimática
de sintetizar a forma biologicamente ativa de vitamina D. O
interessante é que a estimulação de receptores Toll-like nos
macrófagos promove a conversão do precursor da vitamina
D para a forma ativa e a expressão do receptor da vitamina
D. A vitamina D dos macrófagos regula a produção de
um antibiótico endógeno chamado catelicidina e modula
o padrão de secreção de citocinas. Ambas, catelicidina e
citocinas aumentam a defesa contra patógenos. Obviamente,
a vitamina D é um elo chave entre a ativação do receptor
Toll-like e as respostas antibacterianas da imunidade inata.
Alguns resultados de estudos epidemiológicos e clínicos
sugerem ainda um menor risco de determinados tipos de
doença autoimune quando o status de vitamina D sérica é
mais alto. Depois muitos estudos voltados para determinar
se as RDA da vitamina D eram adequadas para a população
em geral, o Institute of Medicine acabou aumentando o
valor para 600 UI no fim de 2010.
Vitamina E
A vitamina E ocorre em grande variedade de alimentos de
origem vegetal. Alguns óleos vegetais, como os de germe de
trigo, de milho e de soja são especialmente ricos em vitamina
E. Há estudos experimentais mostrando que a deficiência
de vitamina E compromete vários aspectos da resposta
imune, entre eles a imunidade mediada por células B e T.
Uma característica pouco comum da vitamina E é que ela
é um dos poucos nutrientes para os quais a suplementação
em concentração muito acima da recomendada contribui
positivamente para certos aspectos da função imune.
Levando em conta apenas testes controlados realizados
com humanos, a vitamina E em concentração alta parece
melhorar a resposta imune celular e diminuir a produção da
prostaglandina E2 nos idosos. Uma vez que concentrações
muito altas de prostaglandina E2 inibem a função e a
proliferação das células T, esse fato, aliado à prevenção do
dano oxidativo da membrana das células imunes, poderia ser
uma explicação mecanicista para o aumento da função imune
com suplementação de vitamina E nos idosos. No entanto,
os efeitos da suplementação com vitamina E se mostraram
variáveis e dependentes do nível de ingestão de vitamina E,
da dose, da idade, fumo, condições de moradia etc. Talvez
por essa a razão não tenha sido possível demonstrar o efeito
protetor da vitamina E contra infecções no trato respiratório
nos idosos em testes controlados randomizados.
Vitamina B6
A vitamina B6 está amplamente distribuída nos alimentos,
sendo suas fontes mais ricas as aves, peixes, fígado, cereais
e grãos de leguminosas. Sabe-se desde a década de 1940
que deficiências de vitamina B6 debilitam a função imune.
Esse efeito não surpreende, já que a vitamina B6 é essencial
para grande variedade de reações necessárias para a
síntese e o metabolismo de aminoácidos (componentes
Nutrição e Imunidade 15
unitários das proteínas) e, durante a resposta imune, a
necessidade de síntese proteica é maior.
Estudos feitos com seres humanos demonstram que a defi­
ciência de vitamina B6 compromete a produção de anticorpos
e a atividade das células T. O crescimento e a maturação
dos linfócitos também sofrem alteração, assim como cai
a atividade das células exterminadoras naturais. Embora
a suplementação de vitamina B6 corrija tanto a deficiência
quanto essa queda de imunidade, doses acima das RDA não
produzem benefícios a mais em adultos saudáveis.
Vitamina C
As principais fontes dietéticas de vitamina C são frutas,
legumes e verduras. Assim como a vitamina E, a vitamina
C é um antioxidante, mas ao contrário da vitamina E, a
vitamina C é uma substância solúvel em água encontrada
nos líquidos do corpo, e não nos lipídios e membrana
celulares. A vitamina C age como principal antioxidante da
fase aquosa e reforça os efeitos de outros antioxidantes, como
a vitamina E, pela regeneração de suas formas ativas depois
de reagirem com radicais livres.
Os mecanismos pelos quais a vitamina C afeta o sistema
imune não estão bem esclarecidos. Devido à sua atividade
antioxidante, pode ser que ela proteja as células imunes do
dano oxidativo e que alguns órgãos apresentem concentração
de vitamina C muito mais elevada do que a do sangue. Um
desses órgãos é o timo, que desempenha papel crucial na
imunidade mediada pelas ações dos linfócitos T. A vitamina
C também é encontrada em elevada concentração nas células
imunes, mas essa concentração cai rapidamente durante as
infecções. Ela modula as funções dos fagócitos, a proliferação
de linfócitos T, a produção de citocinas e a expressão gênica
das moléculas de adesão dos monócitos.
Alguns estudos feitos com animais indicam que, na
deficiência de vitamina C, as respostas imunes são
anormais diante de infecções. De modo particular, a
vitamina C desempenha um papel muito importante na
função dos fagócitos e, quando esse funcionamento fica
debilitado, o mesmo acontece com a resposta às infecções.
Por isso, a possibilidade de que altas doses de vitamina C
(1 g/dia ou mais) de fato previnam alguns tipos de infecção,
sobretudo respiratórias, atrai grande interesse, que se deve,
principalmente, à propagação da alta ingestão de vitamina
C por Linus Pauling. Já se realizou um grande número de
testes controlados com pessoas voluntárias para avaliar o
efeito da vitamina C no resfriado e eles mostram que quem
consome regularmente 200 mg/dia ou mais de vitamina
C costuma sofrer um pouco menos com resfriados (cerca
de 10%) do que quem não consome. A suplementação com
vitamina C, porém, não afeta a incidência de resfriados na
população normal; a redução na incidência de resfriados
pela suplementação com vitamina C é observada apenas nas
pessoas que praticam atividades físicas muito extenuantes
(maratonistas, por exemplo) ou expostas a ambientes
subárticos.
Zinco
As principais fontes dietéticas de zinco são a carne, os
laticínios, frutos do mar e cereais. As células do sistema
imune contêm um grande número de enzimas que precisam
de zinco para funcionar e não admira que a deficiência de
zinco afete profundamente a função imune.
A deficiência de zinco é muito comum em muitas partes do
mundo. Nessas populações, sua suplementação diminui
a morbidade e a mortalidade infantil, diminuindo seu
risco de contrair diarreia e infecções respiratórias agudas.
No homem, a deficiência moderada de zinco induzida
experimentalmente afetou as funções das células T e provocou
um desequilíbrio entre as subpopulações de células T, queda
na produção de citocinas (interleucina-2, interferon-γ) e
atenuação na atividade das células exterminadoras naturais.
A deficiência de zinco nos idosos também está associada a
uma debilitação na resposta imune, que pode ser restaurada
pela suplementação de zinco. Por outro lado, uma análise
sistemática de testes clínicos publicados concluiu que
atualmente não há sinais convincentes de que o zinco seja
eficaz no tratamento do resfriado.
16 Concise Monograph Series
Existem várias maneiras pelas quais a deficiência e a
suplementação de zinco afetam o sistema imune. Em
primeiro lugar, o zinco é necessário para a atividade
biológica da timulina, um hormônio específico do timo que
promove as funções das células T, como a citotoxicidade e a
produção de citocinas. Em segundo lugar, o zinco afeta as
vias de transdução do sinal que controla a expressão gênica
de várias citocinas imunorreguladoras. Por último, o zinco
é um cofator de várias enzimas envolvidas nas respostas
antioxidantes que contribuem para um menor dano
oxidativo nas células imunes.
É fato conhecido que a ingestão de zinco duas vezes maior
que a recomendada por dia não exerce efeitos negativos sobre
o sistema imune de adultos saudáveis, mas em quantidade
superior a essa, o zinco pode comprometer a imunidade.
Selênio
O selênio dietético ocorre em alimentos ricos em proteína,
como carne, peixe, frutas secas e sementes. Trata-se de um
elemento essencial para a resposta imune mais adequada
e que influencia tanto o sistema imune inato quanto
o adquirido, desempenhando papel fundamental no
equilíbrio de oxidação-redução, inclusive na proteção do
DNA. O selênio é também importante cofator de um grupo
de enzimas que contribuem para proteger as células de dano
oxidativo. Como os fagócitos geram grandes quantidades
de espécies de oxigênio reativo, o selênio pode ser um fator
na proteção dos fagócitos contra o excesso desses oxidantes.
Porém, a avaliação dos efeitos diretos do selênio é difícil por
causa das interações entre o selênio e outro antioxidante, a
vitamina E.
Foi feito um estudo com homens saudáveis, com ingestão
baixa de selênio, que receberam selênio suplementar durante
várias semanas. Essa suplementação de selênio (50 e 100
μg/dia) melhorou a resposta imune celular, sem alteração
das respostas imunes humorais, e provocou também uma
eliminação mais rápida da vacina contra pólio com vírus
vivos atenuados. Os dados apresentados sugerem que uma
ingestão mais alta de selênio contribuiria para uma melhora
da função imune, com redução da morbidade e mortalidade
causadas por várias infecções virais. São exemplos o HIV, a
pólio e a doença de Keshan (que afeta o músculo cardíaco).
A última é endêmica em algumas partes da China e parece
se dever a uma conjugação de infecção pelo vírus Coxsackie
e deficiência de selênio e vitamina E na dieta. A doença foi
praticamente erradicada na China por suplementação de
selênio, muito embora o vírus presumivelmente ainda esteja
presente no meio ambiente.
Outros sais minerais
Além do zinco e do selênio, outros sais minerais e
oligoelementos são importantes para o funcionamento
normal do sistema imune, tais como o ferro, cobre,
magnésio e manganês. O ferro é um exemplo de nutriente
que não é necessário apenas para uma resposta imune
adequada, mas também para o crescimento ótimo dos
patógenos. Se a função imune não estiver sendo afetada
pela deficiência de ferro, a suplementação desse elemento
só chegará a beneficiar as bactérias patogênicas, devendo
ser considerada apenas caso a caso.
2.4 Os fitoquímicos podem alterar a
resposta imune
O progresso da pesquisa em nutrição na última década
sugere claramente que, além dos nutrientes essenciais,
alguns constituintes não nutritivos, como os fitoquímicos,
têm forte impacto sobre a saúde humana. Essas substâncias
fitoquímicas são representadas por inúmeras substâncias
diferentes entre si do ponto de vista químico. Até agora se
investigou principalmente o potencial imunomodulador
dos carotenoides e flavonoides.
Carotenoides
Os carotenoides são compostos amarelos, alaranjados e
vermelhos encontrados nas frutas, verduras e legumes.
São exemplos o β-caroteno, amplamente distribuído
Nutrição e Imunidade 17
nos vegetais, e o licopeno, um carotenoide encontrado
no tomate. Da mesma forma que as vitaminas C e E, os
carotenoides são antioxidantes e, além disso, o β-caroteno é
um precursor da vitamina A.
Apesar de alguns estudos com animais terem demonstrado
claramente um efeito positivo do β-caroteno sobre o sistema
imune, os resultados obtidos com estudos realizados com
humanos são inconsistentes. Há estudos epidemiológicos
sugerindo que dietas ricas em carotenoides reduzem
o risco de infecções respiratórias. A ingestão dietética
elevada de carotenoide está ainda inversamente
associada a marcadores inflamatórios, sugerindo que os
carotenoides têm atividade anti-inflamatória. Existem
estudos demonstrando que a suplementação de β-caroteno
pode ser benéfica para quem está com o sistema imune
comprometido. Em particular, observou-se que a atividade
diminuída de células exterminadoras naturais em idosos
se recuperou e voltou ao normal depois da suplementação
do β-caroteno. E em voluntários com baixa ingestão de
carotenoides, uma alimentação rica em β-caroteno ou
carotenoides promoveu a melhora de várias respostas
imunes. Por outro lado, em adultos saudáveis com ingestão
adequada de carotenoides e respostas imunes normais, a
suplementação com alimentação rica em carotenoides não
melhorou a modulação das respostas imunes.
O mais importante é que, embora os mecanismos
secundários não sejam ainda conhecidos, os carotenoides
podem exercer efeitos imunomoduladores no homem.
E a quantidade adequada para ingestão e as diferenças
no potencial imunomodulador dos vários carotenoides
também não são ainda conhecidos.
Flavonoides
Os flavonoides ocorrem em todos os alimentos de origem
vegetal e englobam milhares de compostos com estruturas
químicas bem definidas. São responsáveis pelas cores
vermelha e azul de todos esses alimentos e também pelo
sabor característico de alguns vegetais.
Os dados experimentais e clínicos até agora são muito
raros e o interessante é que a maioria dos estudos
in vitro sugere que os flavonoides provocam efeitos
imunossupressores. Os dados clínicos de um teste de
intervenção humana sugeriram que um subgrupo dos
flavonoides, as antocianinas, possui atividade antiinflamatória em doses dietéticas relevantes (equivalentes à
ingestão de 100 g de mirtilo). Alguns estudos moleculares
indicaram que os flavonoides interferem na transdução
do sinal de células imunes, mas é importante saber que,
nesses testes, eles são aplicados em concentração com
muito pouca probabilidade de ser atingida no corpo
humano depois de uma refeição rica em flavonoides.
Mesmo assim, essas substâncias fitoquímicas têm grande
potencial para modular respostas imunes e merecem ser
mais estudados em seres humanos.
2.5 Probióticos, prebióticos e fibra
alimentar
As bactérias do intestino desempenham papel importante
em várias funções relacionadas à digestão dos alimentos
e o estabelecimento e manutenção da barreira da defesa
imune do intestino. Elas são o primeiro estímulo do sistema
imune intestinal e são necessárias para o desenvolvimento
imune normal. Quando o equilíbrio dos organismos que
habitam o intestino é perturbado ou alterado por doença
ou pelo uso de antibióticos, as defesas imunes locais ficam
debilitadas.
Por definição, probiótico é um microrganismo vivo
que, quando administrado em quantidade correta,
confere benefícios em termos de saúde ao hospedeiro.
Outras opções complementares aos probióticos que vêm
sendo investigadas são os prebióticos e os simbióticos.
O prebiótico é um constituinte alimentar fermentável
seletivamente não digerível que afeta o hospedeiro pela
estimulação seletiva do crescimento e/ou atividade de
alguma ou de um número limitado de bactérias do
intestino grosso, conferindo benefícios para o bem-estar
18 Concise Monograph Series
e saúde do hospedeiro. O simbiótico é uma mistura de
probióticos e prebióticos cuja finalidade é estabelecer e
aumentar a sobrevida de bactérias que fazem bem à saúde.
Probióticos
Os organismos probióticos são encontrados em alimentos
fermentados, entre os quais os iogurtes e os novos tipos de
leite fermentado elaborados especificamente para conter
bactérias benéficas para a saúde. Os organismos incluídos
nos probióticos comerciais são, principalmente, bactérias
ácido láticas dos gêneros Lactobacillus e Bifidobacteria.
Pelo fato de esses organismos só colonizarem tempo­ra­
riamente o trato intestinal, seu consumo regular pode
ser necessário. Tanto a resposta imune inata quanto
a adquirida podem ser moduladas por probióticos de
maneira dependente da cepa e da dose.
Há várias maneiras pelas quais os probióticos afetam o
sistema de defesa de seu hospedeiro. Uma é contribuindo
para o “efeito barreira” das bactérias intestinais, o
que cria um ambiente hostil para certas bactérias
patogênicas. Uma outra está relacionada aos produtos
metabólicos secretados pelas bactérias ácido láticas,
como as bacteriocinas e o próprio ácido lático, que inibe
o crescimento de organismos patogênicos. Determinadas
cepas probióticas também aderem à parede epitelial do
intestino, impedindo assim as bactérias patogênicas de
aderir aos mesmos receptores, ou então competindo com
os patógenos por nutrientes de oferta limitada.
Existe ainda uma outra maneira pela qual os probióticos
promovem a saúde, que é alterando o sistema imune no
local (intestino) e no nível sistêmico. A interação direta
entre probióticos e células imunes parece ser mediada via
sinalização de receptor Toll-like (Quadro 1). Já foi relatada
com frequência em vários sistemas experimentais uma
alteração da função imune depois da ingestão de alguns
probióticos específicos. Exemplo: os probióticos podem
contrabalançar o aumento da permeabilidade do intestino
que ocorreria depois da exposição a antígenos estranhos,
como os vírus. Foram também observados efeitos
imunomoduladores cepa-específicos em seres humanos.
Em cada cepa, estão presentes diferentes subclasses
com atividades imunomoduladoras específicas. Entre os
marcadores imunológicos que respondem a probióticos
estão a fagocitose e a produção de anticorpos, mas
não foram estudados os efeitos de longo prazo da
suplementação de probióticos.
Os probióticos podem ser de grande valor na prevenção
e tratamento de vários quadros clínicos que envolvem
populações anormais de micróbios do intestino e mau
funcionamento de respostas imunes. São exemplos de
situações nas quais os probióticos podem ser benéficos:
a diarreia aguda causada por rotavírus, doenças
intestinais inflamatórias e doenças alérgicas, caso em
que um número limitado de probióticos demonstrou
exercer efeito benéfico em subpopulações específicas de
sujeitos alérgicos.
Em suma, o potencial imunomodulador de probióticos
específicos está agora demonstrado com clareza. Porém,
ainda não se sabe se e como as alterações observadas na
função imune estão relacionadas a efeitos de saúde. Em
muitos estudos, só foram medidos os sintomas e pouco
se sabe sobre os mecanismos imunológicos que estão
por trás deles. É importante lembrar que, assim como as
diferentes vitaminas não provocam os mesmos efeitos,
os efeitos das diferentes cepas probióticas também são
diferentes, e essa é a razão pela qual conclusões gerais
sobre os probióticos não são muito significativas. A
natureza das interações entre probióticos individuais
e células e tecidos imunes no intestino continua sendo
assunto de intenso debate.
Prebióticos e fibra alimentar
Os prebióticos estão presentes na dieta normal e
costumam ser ingeridos na concentração de 2 a 10 g/
dia, consistindo na inulina, frutooligossacarídeos,
galactooligossacarídeos e lactulose. Eles alteram a
Nutrição e Imunidade 19
composição da microbiota intestinal, aumentando nelas
a proporção de bifidobactérias e lactobacilos. O termo
fibra alimentar se refere a constituintes como a celulose
e o amido resistente, e inclui alguns prebióticos. O que
os prebióticos e as fibras alimentares têm em comum
é o fato de não serem hidrolisados no intestino delgado
e chegarem ao cólon. Lá, servem de fonte de energia e
carbono para a microbiota colônica, aumentando assim
a massa bacteriana do intestino. Certos ácidos graxos
de cadeia curta, como por exemplo o butirato, são
subprodutos da fermentação bacteriana no intestino e
provocam um efeito benéfico sobre as células intestinais.
Em alta concentração, melhoram os sintomas de doenças
intestinais inflamatórias, inibindo, por exemplo, a
produção de citocinas pró-inflamatórias.
Há estudos, tanto com animais como com pessoas, segundo os quais os prebióticos aumentam especi­ficamente o
número de microrganismos do cólon intestinal. Juntamente com essas alterações, os prebióticos melhoram as
respostas imunes contra patógenos e reduzem as respostas inflamatórias em modelos animais de doenças intestinais inflamatórias. Eles porém afetam principalmente
o sistema imune associado ao intestino, que é difícil de
estudar no ser humano.
Foi demonstrado que uma mistura de prebióticos
diminui muito a incidência de dermatite de contato em
bebês atópicos, sugerindo que esses prebióticos alteram
o desenvolvimento imune pós-natal. A mesma mistura
de prebióticos também aumentou a concentração fecal de
anticorpos em crianças alimentadas com leite em pó.
Resumindo: a composição e a atividade da microbiota
intestinal pode ser alterada pela ingestão de probióticos,
prebióticos e fibra alimentar. Basicamente, pode-se esperar
um aumento no número de lactobacilos e bifidobactérias,
aumentando a imunidade do intestino e afetando todo o
sistema imune. Além desses efeitos indiretos, pode ser que
os probióticos, prebióticos e seus produtos de degradação
afetem diretamente o sistema imune.
3. REDUÇÃO DO RISCO DE
DOENÇAS POR MEIO DE
MODIFICAÇÕES NA DIETA QUE
INFLUEM NO SISTEMA IMUNE
Tem-se pesquisado ativamente como modificações
dietéticas que influenciam o sistema imune podem
contribuir pra reduzir o risco ou melhorar o controle
de várias doenças, como vários quadros inflamatórios,
infecções virais e bacterianas e alergias alimentares.
3.1 Doenças inflamatórias
Muitas doenças são originalmente causadas ou
acompanhadas de inflamação crônica. As mais comuns
estão na Tabela 3. Existem evidências de que a dieta
afeta a patogênese dessas doenças e os candidatos mais
promissores são os LCPUFA n-3, boas fontes dos quais
são o óleo de peixe e peixes oleosos, como a cavala,
o arenque, o salmão e o atum fresco. O LCPUFA da
membrana da célula pode servir de fonte dos hormônios
tissulares, como as prostaglandinas e os leucotrienos.
Quando derivados do LCPUFA n-3, exercem efeito antiinflamatório, além de mudar o padrão de moléculas de
sinalização como as citocinas, envolvidas na patogênese
de doenças inflamatórias crônicas.
Padrões alimentares com alta ingestão de verduras,
legumes e frutas também estão inversamente associados ao
risco de inflamação crônica, fora o fato de existirem ainda
indícios apontando para o potencial anti-inflamatório da
vitamina C, vitamina E, selênio e flavonoides. Uma baixa
concentração sérica desses nutrientes está correlacionada
a um maior risco de doença cardíaca, asma e artrite
reumatoide.
20 Concise Monograph Series
Tabela 3
Exemplos de doenças de fundo inflamatório
Doenças
Características
Obesidade/síndrome
metabólica
Aterosclerose
Produção de citocinas pró-inflamatórias, como a TNF-α e a IL-6, pelo tecido adiposo
Asma
Inflamação crônica da mucosa pulmonar acompanhada de contração da musculatura lisa nos
brônquios
Doença inflamatória das artérias que ocasiona a deposição arterial de placas
Dermatite de contato e psoríase Doenças cutâneas inflamatórias caracterizadas por diferenciação das células T em direção ao fenótipo
Th2 (dermatite de contato) ou falência dos processos regulatórios durante a inflamação (psoríase)
Artrite reumatoide
Doença autoimune caracterizada por inflamação crônica da membrana sinovial das articulações
Doença de Crohn e colite
ulcerativa
Doenças intestinais inflamatórias caracterizadas por inflamação aguda ou crônica do intestino
Doença cardíaca
Inúmeros fatores ligados a dietas foram correlacionados
ao aumento ou diminuição do risco de doença cardíaca. A
aterosclerose é a principal causa de mortalidade causada
por doença cardíaca. É uma doença inflamatória das
artérias que ocasiona a deposição de placas arteriais.
O sistema imune está envolvido na patogênese da
aterosclerose pela interação entre seus glóbulos brancos
(monócitos e macrófagos) e células da parede arterial.
Fatores ligados à dieta influenciam os processos
imunológicos envolvidos na patogênese da aterosclerose.
Alguns estudos epidemiológicos e clínicos indicaram
que o risco de doença cardíaca diminui com uma maior
ingestão de PUFA e antioxidantes dietéticos (vitamina C,
vitamina E). O LCPUFA n-3 pode inibir o desenvolvimento
de aterosclerose pelo bloqueio da produção de citocinas, as
quais promovem a inflamação (ver Quadro 7), e de outras
substâncias que têm participação no complexo processo
da inflamação local e da lesão arterial que leva à formação
de placas. Embora os antioxidantes suplementares, como
a vitamina E, melhorem a resposta imune em subgrupos
de idosos, estudos controlados randomizados mostram
que os suplementos de vitamina E não diminuem o risco
de doença cardíaca.
Indícios fornecidos por estudos populacionais revelaram
que uma ingestão muito alta de legumes, verduras e frutas
está inversamente associada ao risco de doença cardíaca.
Junto com esse padrão alimentar, um número menor de
marcadores da inflamação foi observado nesses estudos.
Nutrição e Imunidade 21
QUADRO 7
A resposta inflamatória
A inflamação é a resposta do corpo diante da entrada de agentes
infecciosos, de lesão física ou do contato com antígenos (alérgenos
na pele, por exemplo). O aporte de sangue para o local aumenta,
permitindo que as células imunes e outras substâncias protetoras
acessem melhor a área atingida. A inflamação aguda é um meio
apropriado e eficaz de combate à infecção. A inflamação crônica,
contudo, se caracteriza por uma perda de autotolerância e
regulação, podendo causar danos graves aos tecidos.
Eis alguns dos fatores das resposta inflamatória:
Células: Os principais tipos de célula envolvidas na resposta
inflamatória aguda são os fagócitos, sobretudo neutrófilos,
portanto também conhecidos como células inflamatórias.
Na inflamação crônica, também contribuem para o processo
inflamatório as células T ativadas e os macrófagos.
Mediadores: Na resposta inflamatória aguda que se segue
a uma lesão ou infecção no corpo, os fagócitos liberam
mediadores químicos como citocinas e prostaglandinas. Os
efeitos locais conjugados desses mediadores atraem células
inflamatórias para a área, provocando a resposta inflamatória.
Na inflamação crônica, as células T e os macrófagos liberam
mediadores que promovem a cura dos tecidos.
Sintomas: Celsus, no século I, disse que os sinais da
inflamação são “rubor et tumor, cum calore et dolore”, que
significa vermelhidão e inchaço, calor e dor - tudo isso reflete
as atividades das citocinas e outros mediadores.
Doenças inflamatórias intestinais
A doença de Crohn e a colite ulcerativa são as formas
mais comuns de doença inflamatória intestinal (IBD). A
primeira se caracteriza por placas de tecido inflamado que
se aprofundam em toda a parede intestinal, ao passo que a
segunda se concentra basicamente na mucosa do cólon. A
causa das duas é desconhecida, mas a hereditariedade e a
microbiota intestinal parecem estar envolvidas no processo
das inflamações agudas ocasionais (infecções por salmonela
ou rotavírus, por exemplo), que sem o devido tratamento,
podem tornar-se crônicas.
Nas áreas inflamadas da mucosa intestinal, a concentração
de vitamina C cai e o dano oxidativo dos lipídios aumenta.
Em estudo feito com portadores da doença de Crohn,
a suplementação com uma combinação de vitamina C,
vitamina E, óleo de peixe e β-caroteno reduziu a produção de
proteínas inflamatórias por monócitos do sangue. O LCPUFA
n-3 de óleo de peixe talvez tenha sido o componente mais
eficaz da combinação aplicada. Vários estudos confirmaram
que o uso de corticosteroides nesses pacientes pode diminuir
se eles receberem suplementação com LCPUFA n-3.
Pelo fato de a microbiota intestinal estar envolvida na etiologia
das IBDs, o reequilíbrio da flora intestinal provocado pelo
aumento do número de lactobacilos e de bifidobactérias
pode ser benéfico. Na verdade, o uso de prebióticos e
probióticos parece ser atualmente o meio mais promissor
de promover a melhora dos sintomas das IBDs pela dieta.
Na colite ulcerativa, por exemplo, os pacientes tratados com
um simbiótico apresentaram redução nos marcadores da
inflamação intestinal com regeneração do tecido inflamado.
Em outro estudo, pacientes vítimas de colite ulcerativa
apresentaram remissão mais rápida quando tomaram
prebiótico. Mais pesquisas são necessárias, no entanto, para
confirmar esses resultados e definir as cepas e os prebióticos
- e combinações deles - mais eficazes (ver Quadro 8).
Asma
Alguns estudos sugeriram que a ingestão de grupos
específicos de alimentos modula o risco da asma. A ingestão
de peixe, principalmente óleo de peixe contendo LCPUFA
n-3, pode ter efeito protetor contra a asma. Levantou-se a
hipótese, embora não comprovada, de que uma ingestão
elevada de PUFA n-6 e, sobretudo, uma ingestão baixa de
PUFA n-3, contribuam para a maior prevalência da asma.
Acredita-se que a produção de mediadores envolvidos nas
respostas alérgicas seja afetada pelo balanço entre os dois
tipos de PUFA.
22 Concise Monograph Series
QUADRO 8
Alimentos funcionais para “modulação imune”
Na última década, a indústria alimentícia desenvolveu o
conceito de alimentos funcionais (ver Monografias Concisas do
ILSI “Concepts of Functional Foods”). Os alimentos funcionais
beneficiam uma ou mais das funções pretendidas do corpo,
proporcionando efeitos que vão além dos nutricionais. Esse efeito
específico precisa ser comprovado em estudos bem delineados,
realizados com humanos. Os alimentos funcionais têm que
melhorar o estado de saúde ou bem-estar e/ou diminuir o risco de
doenças. É preciso definir muito bem os marcadores das funções
visadas e das respostas biológicas. Relacionados ao sistema
imune, esses marcadores englobam “resposta de vacinação” ou
“atividade citotóxica de células exterminadoras naturais” (ver
Quadro 6), e podem ser melhorados ou suprimidos. Dependendo
da situação de imunidade da pessoa, pode ser conveniente um ou
outro efeito. Os alimentos funcionais com potencial para melhorar
o sistema imune são valiosos para quem apresenta deficiência
marginal em nutrientes específicos ou para quem consome
nutrientes imunossuppressores (gordura, p.ex.) em excesso. Mas
há pessoas que apresentam um bom padrão nutricional e que
mesmo assim estão interessadas em reforçar seu sistema imune
pelo aumento da ingestão de nutrientes específicos. São exemplos
de alimentos funcionais os iogurtes que são suplementados com
probióticos imunomoduladores.
Como o sistema imune é um sistema complexo e de regulagem
muito delicada, é preciso tomar muito cuidado para não perturbar
esse equilíbrio. São necessárias mais pesquisas para entender como
simples nutrientes - assim como combinações deles em doses
acima dos níveis de ingestão dietética recomendados - afetam o
sistema imune em pessoas saudáveis com funcionamento normal
do sistema imune. São também necessárias mais informações
sobre a variação das respostas imunes em pessoas saudáveis e
como isso afeta a susceptibilidade a infecções.
Além de tudo isso, falta ainda investigar em maior profundidade
o efeito do genótipo, do sexo e da idade sobre a sensibilidade do
sistema imune diante de intervenções na dieta. Só assim teremos
uma compreensão mais ampla de se e como as respostas imunes
através dos alimentos funcionais se traduzem em uma melhor
imunocompetência.
Os sinais dados pelos estudos clínicos em adultos com
LCPUFA n-3, porém, não são conclusivos, embora exista um
possível benefício em crianças. O alto consumo de legumes,
verduras e frutas (principalmente maçã) parece de fato reduzir
o risco de asma. Os constituintes benéficos desses alimentos
são as substâncias fitoquímicas, entre as quais os flavonoides.
3.2 Infecções virais e bacterianas Sarampo
A vitamina A tem sido usada com eficácia no tratamento
do sarampo em crianças que apresentam deficiência
dessa substância. Trata-se de um exemplo de melhora
nutricional do sistema imune que se tornou parte da
prática médica padrão. Certos testes realizados em países
em desenvolvimento demonstraram forte diminuição na
pneumonia e na mortalidade infantil associadas ao sarampo
em crianças que receberam suplementos de vitamina A, na
comparação com quem recebeu placebo. Com esses achados,
a Organização Mundial de Saúde passou a recomendar
tratamento com vitamina A para crianças com sarampo
nos países em desenvolvimento. Os benefícios da vitamina
A, porém, não parecem limitar-se a populações carentes.
Mesmo nos EUA, onde a deficiência de vitamina A é muito
pouco considerada, muitas crianças demonstram sinais
bioquímicos de deficiência de vitamina A durante a infecção
do sarampo. Em hospitais norte-americanos, as crianças
com sarampo tratadas com vitamina A apresentaram
uma duração menor e doença menos grave. Esses achados
levaram a Academia Americana de Pediatria a recomendar
tratamento com vitamina A para crianças hospitalizadas em
decorrência de sarampo muito grave.
HIV e AIDS
Existem fortes indícios de que o estado nutricional é um
importante determinante da sobrevivência de pessoas
infectadas com o vírus da imunodeficiência (HIV). Nos
últimos estágios da doença, é muito comum a desnutrição
grave, e a emaciação é uma das características mais
Nutrição e Imunidade 23
proeminentes da doença avançada. As deficiências
nutricionais observadas em pessoas infectadas com HIV,
sobretudo em termos das vitaminas A, B6 e B12, foram
associadas a déficits da função imune (presença de células
T helper em concentração muito baixa) e avanço acelerado
da doença. Algumas pesquisas mais recentes indicam que
a deficiência de selênio pode ser um importante previsor
da menor sobrevida de portadores da síndrome da
imunodeficiência adquirida (AIDS). Segundo certos estudos
de intervenção, a mortalidade de portadores de AIDS
com contagem baixa de células T helper caiu quando eles
passaram a receber suplementos vitamínicos e/ou elementos
traços, muito embora outros estudos não tenham encontrado
efeito algum da suplementação com micronutrientes. Nos
países em desenvolvimento, porém, a vitamina A parece
diminuir a mortalidade, melhorar o crescimento e reduzir a
diarreia em crianças infectadas com o HIV.
Infecções respiratórias
Diversos micronutrientes estão associados a infecções
respiratórias, conforme já discutido: vitaminas A, C, D e E,
selênio e zinco. A vitamina A restaura a integridade da mucosa
no trato pulmonar e a vitamina D promove a produção do
antibiótico endógeno catelicidina - dois mecanismos que
protegem o organismo da colonização e proliferação de
patógenos. De acordo com alguns estudos clínicos, a baixa
concentração de vitamina D sérica nos países do hemisfério
norte está associada a infecções agudas no trato respiratório.
A vitamina E e o selênio protegem as células imunes de
dano oxidativo e, com isso, diminuiriam o risco de contração
de infecções respiratórias ou aliviariam seus sintomas. Os
resultados de um estudo controlado randomizado com
voluntários saudáveis demonstrou que a suplementação
com selênio promove a eliminação de poliovírus e estimula
as respostas celulares imunes. A suplementação com zinco
reduz a incidência de infecções respiratórias em quem
apresenta deficiência de zinco, principalmente nos países
em desenvolvimento. Como dissemos antes, a vitamina C é
um antioxidante sem efeito sobre a incidência do resfriado
em pessoas com padrão de nutrição normal, mas a duração
da infecção apresentou uma leve redução com a ingestão de
vitamina C suplementar na dose de 200 mg/dia ou mais. Em
pessoas com deficiência de vitamina C submetidas a forte
estresse físico ou ao frio intenso, a vitamina C fez cair a
incidência de resfriados.
Diarreia
Várias revisões sistemáticas de estudos, tanto de países
desenvolvidos quanto em desenvolvimento, mostram
que certos probióticos encurtaram bastante a duração da
diarreia em crianças pequenas. Na maioria dos estudos,
os efeitos clínicos foram acompanhados de aumento na
resposta imune. Os lactobacilos, por exemplo, reduziram
a frequência da defecação e a duração da diarreia na
criança. Esse efeito é dose-dependente, ou seja, quanto
mais altas as doses de probióticos, mas eficiente é a
redução na diarreia.
A vitamina A promove a regeneração do epitélio
danificado da mucosa e a atividade fagocítica dos
neutrófilos e macrófagos. Além disso, restaura a
capacidade das células imunes do intestino de produzir
anticorpos (IgA e IgG) contra toxinas bacterianas, que
mostram comprometimento na deficiência de vitamina A.
Estudos clínicos confirmam a visão de que doses baixas
de suplementação com vitamina A reduzem a incidência
e a duração de episódios de diarreia, principalmente em
crianças mal nutridas.
3.3 Alergia alimentar
Hereditariedade e fatores ambientais são os maiores
predisponentes da alergia. A chance de uma pessoa
geneticamente suscetível desenvolver sensibilidade a
proteínas alimentares depende de muitos fatores, entre
os quais a exposição a possíveis alérgenos alimentares
ingeridos pela alimentação e um episódio antecedente
de gastroenterite viral (ver Monografias Concisas do ILSI
Europe “Food Allergy”).
24 Concise Monograph Series
Os probióticos são um recurso na prevenção e
tratamento da alergia alimentar, por sua capacidade de
promover a tolerância oral e os mecanismos de barreira
endógenos, de aliviar a inflamação intestinal e de afetar
beneficamente a composição da microbiota intestinal.
Alguns estudos clínicos iniciais em crianças com doenças
atópicas sugerem um efeito benéfico dos Lactobacillus
rhamnosus GG, mas estudos mais recentes apresentaram
resultados conflitantes. Está claro que a demonstração
dos efeitos benéficos dos probióticos depende de doses
e cepas probióticas definidas, assim como da situação
clínica (diferenças nos grupos alvo, países, esquemas de
intervenção, critérios de definição de doenças atópicas).
3.4 Câncer
Acredita-se há muito tempo que o sistema imune
desempenha um papel no modo como o organismo
reconhece e reage a tumores. A partir dos anos de
1980, vários estudos revelaram que o risco de câncer é
maior em quem apresenta baixa atividade das células
exterminadoras naturais. Fora isso, a maior incidência
de certos tipos de câncer em pessoas infectadas com
HIV sugere haver relação entre a imunodepressão e o
desenvolvimento de certos tumores.
Uma hipótese atualmente propõe que o sistema imune
e as células cancerígenas interajam de três maneiras.
Na primeira, o sistema imune reconhece as células
cancerígenas e as elimina (imunovigilância tumoral).
Na segunda, a proliferação de células cancerígenas é
mantida sob controle pelo sistema imune (equilíbrio). E
na terceira, as células cancerígenas com imunogenicidade
amortecida não são reconhecidas pelo sistema imune e se
desenvolvem mais facilmente em cânceres clinicamente
aparentes (escape). Principalmente em virtude de razões
metodológicas, não existem até agora indícios em estudos
clínicos feitos com pessoas de que a melhora na função
imune pela alimentação reduza o risco de determinados
tumores.
4. BENEFÍCIOS E RISCOS DA
ALTERAÇÃO DA RESPOSTA
IMUNE POR MEIOS
NUTRICIONAIS
Do ponto de vista nutricional, uma dieta bem balanceada
deve servir de base para a função imune e o conceito
de promoção da saúde ou tratamento de doenças por
alteração da resposta imune pela dieta parece muito
promissor. Muitas perguntas, no entanto, ainda precisam
ser respondidas sobre a ingestão mais adequada de
nutrientes e sobre se de fato as respostas imunes se
traduzem em maior resistência a infecções.
Algumas abordagens possivelmente benéficas seriam a
redução da ingestão de gordura total, a melhor qualidade
da gordura na dieta (diminuição da proporção entre SFA e
PUFA), a compensação da deficiência de micronutrientes
em alguns idosos e o uso de probióticos e prebióticos.
Os benefícios potenciais dessas abordagens precisam
ser pesados contra os riscos potenciais. O maior risco
resultante da modulação dietética da resposta imune
estaria associado a intervenções nutricionais em pessoas
com sistema imune super-reativo (quem tem alergia,
doenças inflamatórias crônicas, doenças autoimunes)
na ausência da devida supervisão médica). Em algumas
abordagens, os riscos tendem a ser desprezíveis e isso é
especialmente verdadeiro na correção de deficiências
nutricionais. Espera-se, por exemplo, que a eliminação da
desnutrição em crianças de países em desenvolvimento
aumente muito sua resistência a doenças infecciosas,
não sendo esperado o surgimento de qualquer resultado
negativo. O uso de uma dose alta única de vitamina A no
tratamento de crianças com sarampo é um bom exemplo
disso. Em outros casos, porém, a correção da deficiência
de um nutriente pode ser nociva.
Nutrição e Imunidade 25
QUADRO 9
Regulamentação das alegações de saúde ligados à
função imune
O Regulamento (EC) nº 1924/2006 harmoniza as alegações em
termos de nutrição e saúde oferecidas por produtos alimentícios
dentro da Comunidade Europeia. A Autoridade Europeia para
Segurança Alimentar (EFSA) avalia a totalidade das provas
científicas disponíveis e aconselha a Comunidade Europeia sobre
a admissibilidade de alegações de saúde específicas. A avaliação
é estabelecida caso a caso, porque o tipo, nível etc. das provas
científicas necessárias dependem do contexto das alegações
especificamente.
A EFSA elaborou um roteiro de orientação preliminar para as
exigências científicas aplicáveis às alegações de saúde no âmbito
do intestino e da função imune e o documento foi discutido com
cientistas especializados em simpósio ocorrido em dezembro
de 2010. A partir dos exemplos fornecidos, ficou óbvio que as
alegações precisam definir com clareza a natureza dos aspectos
do sistema imune especificamente envolvidos na alegação, ou
seja, defesa contra patógenos ou resposta a alérgenos e, além
disso, uma mera alteração em marcadores da função imune não
é necessariamente considerada efeito benéfico sobre a saúde.
Seriam exceções a prevenção da supressão induzida por UV da
imunidade da pele e a melhor resposta à vacinação. Contudo,
de modo geral, falta ser demonstrado que alterações na função
imune contribuem para resultados de saúde benéficos, como
infecções ou episódios de diarreia menos frequentes ou menos
graves. Ao mesmo tempo, as leis aplicáveis a alimentos não
permitem alegações de prevenção ou tratamento de doenças,
uma vez que essas são atribuições dos medicamentos. Com isso,
as alegações de saúde dos produtos alimentícios devem basear-se
nos efeitos sobre fatores de risco ou biomarcadores, não apenas
no resultados das doenças, muito embora estes possam contribuir
para estabelecer a relevância dos efeitos sobre fatores de risco ou
biomarcadores.
Para conhecer o parecer da EFSA sobre alegações de saúde
específicas e orientações mais atualizadas quanto à substanciação
de alegações relacionadas à função imune, consulte o site da EFSA:
http://www.efsa.europa.eu/en/ndatopics/topic/nutrition.htm
A suplementação de ferro em regiões onde há malária
pode aumentar a incidência e provocar um curso mais
grave da doença.
A melhora na resposta imune observada em idosos
suplementados com uma dose baixa de vitaminas
e sais minerais também pouco provavelmente será
acompanhada de efeitos adversos. Os efeitos benéficos da
suplementação em dose baixa se devem, provavelmente,
à correção de deficiências sutis e as doses dos nutrientes
nos suplementos multivitamínicos e multiminerais estão
dentro da faixa de segurança. Até hoje, a maioria dos
estudos mostra que os suplementos não melhoram a
resposta imune em adultos saudáveis e bem nutridos nem
em idosos praticantes de um nível normal de atividade
física, mas que são benéficos para pessoas mal nutridas e
praticantes de atividades física muito extenuantes. O que
se notou foi um reforço na resposta imune, que atingiu
níveis vistos em pessoas normais. Nesses grupos de risco,
os benefícios superam claramente os possíveis riscos. Em
pessoas normais, praticamente não há benefícios e, no
caso da maioria dos nutrientes, também não há riscos.
Porém, são necessários mais estudos para confirmar essa
suposição.
A vitamina E é considerada, de modo geral, um dos
nutrientes mais seguros, mesmo quando administrada
em doses maiores do que as normalmente consumidas.
Um estudo controlado de suplementação com vitamina E
em idosos demonstrou que a melhora no sistema imune
provocada por uma dose comparativamente alta de
vitamina E (200 mg/dia) foi superior à obtida tanto com
doses mais baixas quanto mais altas (60 ou 800 mg/ dia,
respectivamente). Todas as doses desse estudo foram
mais altas do que a ingestão normal de vitamina E pela
alimentação. O interessante é que a ingestão de vitamina
E em doses de 400 mg/dia ou mais estão associadas a um
aumento na mortalidade. Portanto, no caso da vitamina E,
assim como para outros nutrientes, deve haver um nível
mais apropriado de ingestão, que provocará os melhores
26 Concise Monograph Series
efeitos possíveis sobre a resposta imune e sobre a saúde
como um todo, mas esse nível não foi definido ainda.
Em relação à vitamina D, os dados atuais indicam que
boa parte da população nos países ocidentais a ingere
em quantidade insuficiente. Uma quantidade maior de
vitamina D talvez contribuísse para uma melhora na
resistência a infecções e nos processos imunorreguladores
em geral.
Muitos sais minerais, entre eles os que influenciam a
resposta imune, apresentam faixa estreita de segurança.
Enquanto pequenos aumentos na ingestão desses minerais
podem provocar efeitos benéficos sobre a imunidade,
aumentos maiores podem acabar sendo nocivos. Existem,
por exemplo, muitos indícios de que uma baixa ingestão
de zinco compromete a função imune e de que deficiências
discretas de zinco sejam relativamente comuns, mesmo
nas sociedades industrializadas. Seria, portanto, natural
esperar que a suplementação com zinco fosse benéfica. No
entanto, o consumo prolongado de quantidades elevadas
de zinco (mais do dobro das RDA de 12 a 15 mg/dia) pode
comprometer a resposta imune e interferir na nutrição do
cobre.
Existe uma preocupação maior em relação aos tratamentos
que envolvem o uso prolongado de doses altas de
suplementos nutricionais ou padrões de alimentação
pouco comuns com o objetivo de alterar respostas imunes.
Nesses casos, a possibilidade de manifestação de efeitos
adversos - seja sobre a resposta imune em si ou sobre
outras funções fisiológicas - deve ser pesada contra os
possíveis benefícios.
O consumo de alimentos suplementados com probióticos
tem pouca probabilidade de risco, conforme confirmado
por grande número de estudos com pessoas saudáveis.
5. SUMÁRIO
As relações entre nutrição e infecção foram observadas já
na antiguidade e o papel do sistema imune nessas relações
vem sendo estudado desde a década de 1960. Os efeitos
clinicamente significativos da nutrição sobre a função
imune não se limitam a crianças desnutridas nos países
em desenvolvimento; podem ser observados em pessoas
de todas as idades, do mundo inteiro.
O sistema imune consiste em um intricado arranjo de
mecanismos de defesa que protegem o organismo contra
agentes estranhos perigosos. Fatores nutricionais podem
influenciar o funcionamento imune de muitas maneiras e
em vários níveis, sendo, portanto, importante considerar a
relevância imunológica dos efeitos observados. Algumas
medidas in vivo específicas, como a da resposta a vacinas,
podem, por exemplo, indicar maior resistência a infecções,
mas em virtude da complexidade do sistema, nenhum teste
ou marcador individualmente permite tirar conclusões
sobre o funcionamento do sistema imune como um todo.
Com isso, foram estabelecidos pelos cientistas critérios
para a determinação de biomarcadores relevantes, que
quando combinados, dão informações sobre a importância
imunológica de vários fatores dietéticos.
Entre eles, os que influenciam a resposta imune estão a
ingestão total de energia (mesmo quando relacionada à
desnutrição ou à obesidade e a alguma dieta seguida),
a ingestão total de gordura, os tipos de ácidos graxos
(principalmente LCPUFA n-3), várias vitaminas
(sobretudo as vitaminas A, D, E, B6 e C), carotenoides,
flavonoides, microminerais (sobretudo zinco e selênio),
prebióticos e probióticos.
Há pesquisas sugerindo que a alteração da resposta
imune por meio da alimentação pode contribuir para a
diminuição do risco e/ou tratamento de grande variedade
de distúrbios, entre os quais doenças inflamatórias,
cardíacas, infecções virais e bacterianas, asma e alergias
alimentares e câncer. Alguns desses tratamentos, como
Nutrição e Imunidade 27
o uso de vitamina A no tratamento do sarampo, já se
tornaram uma parte aceita da prática médica moderna,
mas para a maior parte dos fatores dietéticos, essa linha de
ação ainda está sendo investigada. Os possíveis benefícios
da modulação dietética da resposta imune devem ser
pesados contra os riscos para a saúde eventualmente
associados a padrões de alimentação pouco comuns ou
ao uso prolongado de suplementos em alta concentração.
Mesmo assim, pode ser que determinadas intervenções
na dieta voltadas para a modificação da resposta
imune acabem um dia provando seu valor tanto para
a manutenção da saúde quanto para o tratamento de
doenças.
28 Concise Monograph Series
6. GLOSSÁRIO
Ácido graxo: Ácido orgânico com uma cadeia de
hidrocarbonetos que pode variar de tamanho; são
constituintes das gorduras, mais especificamente os
triacilglicerois e respectivos compostos.
Ácido graxo poliinsaturado (PUFA): Ácido graxo que tem
duas ou mais duplas ligações em sua cadeia carbônica.
Alérgeno: Antígeno (ver abaixo) que provoca reação
alérgica.
Alimento funcional: Alimento designado para exercer
um benefício a mais para a saúde, além daquele de
suprir as necessidades nutricionais básicas.
Anticorpo: Molécula de proteína (imunoglobulina)
produzida e secretada pelos linfócitos B em resposta
a um antígeno, e que é capaz de se ligar a um antígeno
específico. Há cinco classes de anticorpos: IgM, IgG,
IgE, IgA e IgD.
Antígeno: Substância que provoca uma resposta imune.
Antioxidante: Substancia que retarda ou inibe a oxidação.
Aterosclerose: Doença degenerativa das artérias em que
ocorre um espessamento causado pelo acúmulo de
material (placa) abaixo do revestimento interno e que
com o tempo acaba restringindo o fluxo sanguíneo. A
placa característica contém colesterol e macrófagos.
Células B (ou linfócitos B): Subconjunto de linfócitos
capazes de desenvolver-se e transformar-se em células
produtoras de anticorpos.
Células T (ou linfócitos T): Subconjunto de linfócitos
definidos por seu desenvolvimento no timo. As células
T induzem e regulam algumas respostas imunes
específicas depois da estimulação por antígenos
específicos.
Doença autoimune: Doença em que as defesas imunes
do organismo reagem diante de células do próprio
organismo (autoantígenos) como se elas fossem
estranhas, provocando efeitos destrutivos.
Estudo epidemiológico: Estudo conduzido para avaliar
fatores de risco para doenças (cardíaca, por exemplo).
Os investigadores procuram diferenças em termos de
estilo de vida, como moradia, estresse, alimentação,
atividade física ou tabagismo entre portadores de uma
doença específica e pessoas que não têm a doença.
Um estudo epidemiológico pode ser conduzido
prospectivamente (os fatores relativos ao estilo de
vida do grupo estudado são registrados e a incidência
da doença é observada durante o curso do estudo)
ou retrospectivamente (pessoas com e sem aquela
doença especificamente são admitidas no estudo e
entrevistadas sobre seu estilo de vida passado).
Fagócitos/Células fagocíticas: Célula que tem a
capacidade de ingerir outras células, materiais
estranhos ou bactérias.
Hormônios tissulares: Ao contrário dos hormônios, que
são produzidos em um órgão e atuam sistemicamente,
os hormônios de tecido são produzidos localmente e
depois agem nos órgãos específicos.
Inflamação: Termo geral para a reação dos tecidos diante
de uma lesão ou infecção ou, por vezes, de uma
resposta imune localizada; caracteriza-se clinicamente
por calor, vermelhidão, inchaço e dor.
Leucócitos: Família de glóbulos brancos que abrange os
linfócitos, monócitos/macrófagos e neutrófilos.
Leucotrienos: Hormônio tissular derivado de PUFA de
cadeia longa e que possui diversas funções biológicas
no sistema imune.
Nutrição e Imunidade 29
Linfócitos: Classe de glóbulos brancos antígenoespecíficos que abrange as células B, as células C e as
células exterminadoras naturais.
Macrófago: Tipo de célula fagocítica presente nos tecidos.
Monócito: Classe de glóbulos brancos precursores dos
macrófagos.
Morbidade: Condição de estar doente.
Neutrófilos: Glóbulos brancos (50 a 60% dos leucócitos
circulantes), também chamados granulócitos.
Placas de Peyer: Estruturas que se assemelham a
linfonodos e que estão distribuídas em intervalos logo
abaixo do epitélio do intestino delgado.
Prostaglandina: Hormônio de tecido derivado de
PUFA de cadeia longa e que possui diversas funções
biológicas no sistema imune.
PUFA n-3: Ácidos graxos poliinsaturados que têm a
primeira dupla ligação entre o terceiro e o quarto
átomo de carbono contando a partir da extremidade
metila; são encontrados em óleos vegetais, como o
óleo de canola; os PUFA n-3 de cadeia longa (LC) são
encontrados em peixes oleosos e no óleo de peixe.
PUFA n-6: Ácidos graxos poliinsaturados que têm a
primeira dupla ligação entre o sexto e o sétimo átomo
de carbono, contando a partir da extremidade metila;
os PUFA n-6 são encontrados nos óleos vegetais, como
o óleo de soja.
Recomendações Nutricionais (RDA): Ingestão diária
média recomendada de um nutriente, especificada em
concentração apropriada para manter a boa saúde.
Resposta imune celular: Resposta imune interativa que
envolve células T e outras células imunes.
Respostas imunes humorais: Resposta imune que é
mediada por anticorpos secretados.
Teste controlado: Estudo que investiga o efeito de uma
substância teste. Os participantes são designados
aleatoriamente para diferentes grupos. Um grupo
recebe a substância teste e o outro (grupo de controle)
recebe placebo inativo. Teoricamente, o tratamento
deve ser duplo-cego, ou seja, durante o teste, nem
os pesquisadores nem os participantes sabem a que
grupo a pessoa pertence.
30 Concise Monograph Series
7. LEITURA COMPLEMENTAR
Galli, C., Calder, P.C. Effects of fat and fatty acid intake on
inflammatory and immune responses: a critical review.
Annals of Nutrition and Metabolism 55:123-139, 2009.
A relação completa das referências usadas na compilação
desta monografia concisa pode ser encontrada no ILSI
Europe. E informações mais detalhadas sobre o assunto
podem ser encontradas nos textos abaixo.
Gill, H., Prasad, J. Probiotics, immunomodulation, and
health benefits. Advances in Experimental Medicine and
Biology 606:423-454, 2008.
Adams, J.S., Hewison, M. Unexpected actions of vitamin
D: new perspectives on the regulation of innate and
adaptive immunity. Nature Clinical Practice Endocrinology
& Metabolism 4:80-90, 2008.
Albers, R., Antoine, J.M., Bourdet-Sicard, R., Calder, P.C.,
Gleeson, M., Lesourd, B., Samartin, S., Sanderson, I.R.,
Van Loo, J., Vas Dias, F.W., Watzl, B. Markers to measure
immunomodulation in human nutrition intervention
studies. British Journal of Nutrition 94:452-481, 2005.
Calder, P. n-3 Polyunsaturated fatty acids, inflammation,
and inflammatory diseases. American Journal of Clinical
Nutrition 83:1505S-1519S, 2006.
Calder, P., Albers, R., Antoine, J-M., Blum, S., BourdetSicard, R., Ferns, G.A., Folkerts, G., Friedmann, P.S.,
Frost, S.G., Guarner, F., Lovik, M., Macfarlane, S., Meyer,
P.D., M’Rabet, L., Serafini, M., van Eden, W., van Loo, J.,
Vas Dias, W., Vidry, S., Winklhofer-Roob, B.M., Zhao, J.
Inflammatory disease processes and interaction with
nutrition. British Journal of Nutrition 101:S1-S45, 2009.
Cummings, J.H., Antoine, J.M., Azpiroz, F., Bourdet- Sicard,
R., Brandtzaeg, P., Calder, P., Gibson, G.R., Guarner, F.,
Isolauri, E., Shortt, C., Watzl, B. Gut health and immunity.
European Journal of Nutrition 43:S118-S173, 2004.
Falagas, M.E., Kompoti, M. Obesity and infection. Lancet
Infectious Diseases 6:438-446, 2006.
Field, C.J., Johnson, I.R., Schley, P.D. Nutrients and their
role in host resistance to infection. Journal of Leukocyte
Biology 71:16-32, 2002.
Murphy, K., Travers, P., Walport, M. Janeway’s
Immunobiology. 7th edition, London, Taylor & Francis,
2008.
Seifert, S., Watzl, B. Inulin, oligofructose: review of
experimental data on immune modulation. Journal of
Nutrition 137:2563S-2567S, 2007.
Spahn, T.W., Kucharzik, T. (2004) Modulating the intestinal
immune system: the role of lymphotoxin and GALT
organs. Gut 53:456-465.
Stephenson, C.B. Vitamin A, infection, and immune
function. Annual Reviews of Nutrition 21:167-192, 2001.
Vos, A.P., M’Rabet, L., Stahl, B., Boehm, G., Garssen,
J. Immune modulatory effects and potential working
mechanisms of orally applied non-digestible carbo_
hydrates. Critical Reviews in Immunology 27:97-140, 2007.
Webb, A.L., Villamor, E. Update: Effects of antioxidant and
non-antioxidant vitamin supplementation on immune
function. Nutrition Reviews 65:181-217, 2007.
Wintergerst, E.S., Maggini, S., Hornig, D.H. Contribution
of selected vitamins and trace elements to immune
function. Annals of Nutrition and Metabolism 51:301-323,
2007.
Outras Publicações do ILSI Europe
Monografias Concisas
•Alcohol - Health Issues Related to
Alcohol Consumption
•A Simple Guide to Understanding and
Applying the Hazard Analysis Critical
Control Point Concept
•Calcium in Nutrition
•Carbohydrates: Nutritional and Health
Aspects
•Caries Preventive Strategies
•Concepts of Functional Foods
•Dietary Fibre
•Food Allergy
•Food Biotechnology - An Introduction
•Functional Foods - From Science to
Health and Claims
•Genetic Modification Technology and
Food - Consumer Health and Safety
•Healthy Lifestyles - Nutrition and
Physical Activity
•Microwave Ovens
•Nutrition and Genetics - Mapping
Individual Health
•Nutrition and Immunity in Man
•Nutritional and Health Aspects of
Sugars - Evaluation of New Findings
•Nutritional Epidemiology, Possibilities
and Limitations
•Oral and Dental Health - Prevention of
Dental Caries, Erosion, Gingivitis and
Periodontitis
•Oxidants, Antioxidants, and Disease
Prevention
•Principles of Risk Assessment of Food
and Drinking Water Related to Human
Health
•The Acceptable Daily Intake - A Tool for
Ensuring Food Safety
•Threshold of Toxicological Concern (TTC)
•Type 2 Diabetes - Prevention and
Management
Relatórios
•3-MCPD Esters in Food Products
Summary Report
•Addition of Nutrients to Food:
Nutritional and Safety Considerations
•An Evaluation of the Budget Method for
Screening Food Additive Intake
•Animal-Borne Viruses of Relevance to
the Food Industry
•Antioxidants: Scientific Basis, Regulatory
Aspects and Industry Perspectives
•Applicability of the ADI to Infants and
Children
•Application of the Margin of Exposure
Approach to Compounds in Food which
are both Genotoxic and Carcinogenic
•Approach to the Control of
Enterohaemorrhagic Escherichia coli
(EHEC)
•Assessing and Controlling Industrial
Impacts on the Aquatic Environment
with Reference to Food processing
•Assessing Health Risks from
Environmental Exposure to Chemicals:
The Example of Drinking Water
•Beyond PASSCLAIM - Guidance to
Substantiate Health Claims on Foods
•Campylobacters as Zoonotic Pathogens:
A Food Production Perspective
•Considering Water Quality for Use in the
Food Industry
•Consumer Understanding of Health
Claims
•Detection Methods for Novel Foods
Derived from Genetically Modified
Organisms
•Emerging Technologies for Efficacy
Demonstration
•Evaluation of Agronomic Practices for
Mitigation of Natural Toxins
•Evaluation of the Risks Posed in Europe
by Unintended Mixing of Food Crops
Developed for Food Use and Food Crops
Developed for Non-Food Uses
•Exposure from Food Contact Materials
•Foodborne Protozoan Parasites
•Foodborne Viruses: An Emerging
Problem
•Food Consumption and Packaging Usage
Factors
•Food Safety Management Tools
•Food Safety Objectives - Role
in Microbiological Food Safety
Management
•Functional Foods in Europe International Developments in Science
and Health Claims
•Functional Foods - Scientific and Global
Perspectives
•Guidance for the Safety Assessment of
Botanicals and Botanical Preparations for
Use in Food and Food Supplements
•Impact of Microbial Distributions on
Food Safety
•Markers of Oxidative Damage and
Antioxidant Protection: Current status
and relevance to disease
•Method Development in Relation
to Regulatory Requirements for the
Detection of GMOs in the Food Chain
•Micronutrient Landscape of
Europe: Comparison of Intakes and
Methodologies with Particular Regard to
Higher Consumption
•Mycobacterium avium subsp.
paratuberculosis (MAP) and the Food
Chain
•Nutrition in Children and Adolescents in
Europe: What is the Scientific Basis?
•Overview of the Health Issues Related to
Alcohol Consumption
•Overweight and Obesity in European
Children and Adolescents: Causes
and Consequences - Prevention and
Treatment
•Packaging Materials: 1. Polyethylene
Terephthalate (PET) for Food Packaging
Applications
•Packaging Materials: 2. Polystyrene for
Food Packaging Applications
•Packaging Materials: 3. Polypropylene
as a Packaging Material for Foods and
Beverages
•Packaging Materials: 4. Polyethylene for
Food Packaging Applications
•Packaging Materials: 5. Polyvinyl
Chloride (PVC) for Food Packaging
Applications
•Packaging Materials: 6. Paper and Board
for Food Packaging Applications
•Packaging Materials: 7. Metal Packaging
for Foodstuffs
•Recontamination as a Source of
Pathogens in Processed Foods - A
Literature Review
•Recycling of Plastics for Food Contact
Use
•Safety Assessment of Viable Genetically
Modified Micro-organisms Used in Food
•Safety Considerations of DNA in Foods
•Salmonella Typhimurium definitive type
(DT) 104: A multi-resistant Salmonella
•Significance of Excursions of Intake
above the Acceptable Daily Intake (ADI)
•The Safety Assessment of Novel Foods
and Concepts to Determine their Safety
in use
•Threshold of Toxicological Concern for
Chemical Substances Present in the Diet
•Transmissible Spongiform
Encephalopathy as a Zoonotic Disease
•Trichothecenes with a Special Focus on
DON
•Using Microbiological Risk Assessment
(MRA) in Food Safety Management
•Validation and Verification of HACCP
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As series de Monografias Concisas e de
Relatórios do ILSI Europe podem ser
baixadas de http://www.ilsi.org/EUROPE/
Pages/Publications.aspx
9789078637271
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