O GRADIENTE DE ANTROPIZAÇÃO NA VEGETAÇÃO

Propaganda
O GRADIENTE DE ANTROPIZAÇÃO NA VEGETAÇÃO CAMPESTRE
AFETA A COMUNIDADE DE ARTRÓPODES?
Junior Guilherme Scheidt Pereira(1), Cassiana Alves de Aguiar(2), Tiago Gomes dos
Santos(3)
(1)
Estudante de Ciências Biológicas; Universidade Federal do Pampa – Campus São Gabriel, São Gabriel - RS
([email protected]);
(2)
Estudante de Ciências Biológicas; Universidade Federal do Pampa – Campus São Gabriel, São Gabriel - RS
([email protected]);
(3)
Orientador; Universidade Federal do Pampa;
Palavras-Chave: Conservação, Impactos ambientais, Bioma Pampa.
INTRODUÇÃO
No Brasil, o Bioma Pampa está representado somente no Rio Grande do Sul, onde ocupa uma área
de cerca de 17,64 milhões de hectares, o que de acordo com o IBGE (2008) corresponde a 63% da área
total do estado. A supressão da vegetação, constitui um grave problema ambiental, que afeta diretamente a
biodiversidade (NABINGER, 2007). Valls (2006) alerta que, quanto maior a pressão sobre ecossistemas
naturais, fonte de diversidade biológica e genética, maior a necessidade de se conservar o que vem sendo
negligenciado em função das mudanças sociais e econômicas.
A diminuição da densidade e riqueza de uma grande biodiversidade que utiliza o solo como hábitat é
consequência de vastas explorações dos ecossistemas. Isto afeta diretamente suas funções tróficas na
decomposição de matéria orgânica e ciclagem de nutrientes (LIMA et al., 2003). Com a alteração do ambiente natural, diversas espécies abandonam o local, sendo que inúmeros indivíduos ou espécies podem ser
extintas, até que um novo equilíbrio se estabeleça (THOMANZINI e THOMANZINI, 2000).
Devido à grande diversidade de espécies e o hábitat escolhido pelos artrópodes, eles são considerados bons indicadores dos níveis de impacto ambiental, além da sua importância nos processos biológicos
dos ecossistemas naturais. Portanto, o número de ordens, famílias e espécies destes podem diminuir com a
elevação do nível de antropização do ambiente (THOMANZINI e THOMANZINI, 2002).
O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da antropização na comunidade de artrópodes terrestres
em área campestre a fim de compreender como estes animais respondem às mudanças decorrentes do uso
da terra. Este trabalho de pesquisa foi realizado durante a disciplina Ecologia de Campo, componente complementar de graduação para o curso de Ciências Biológicas.
METODOLOGIA
A área de estudo analisada está localizada na Serra do Caverá, município de Alegrete – RS (30° 03'
8.32"S, 55° 33' 19.35"O), no Bioma Pampa. Segundo Hasenack et al. (2010), a vegetação é caracterizada
como campo graminoso com tipologia vegetal dominante por espécies herbáceas, essencialmente gramíneas. No local de amostragem foram selecionadas três áreas representando diferentes níveis de antropização agropecuária de acordo com sua cobertura vegetal predominante: Ambiente Nativo (N1), campo com
baixa pressão de pecuária, Ambiente Intermediário (N2), campo nativo com intensidade média de pastejo, e
o Ambiente Antropizado (N3), campo em regeneração (aproximadamente 10 anos) após intensa prática
agrícola.
Em cada fisionomia de amostragem as coletas foram realizadas com método de varredura entomológica (com auxílio de puçá) sobre a vegetação. Os artrópodes coletados foram fixados em álcool 70% e posteriormente identificados em laboratório com auxílio de chaves de identificação e microscópio estereoscópico (lupa) em nível de morfotipos.
As análises utilizadas foram: i) o diagrama de Whittaker - a fim de se obter um comparativo de
riqueza/abundância entre os ambientes amostrados; ii) Modelos de Ajuste de Abundância - modelos de
estruturação das comunidades; e iii) curva de Rarefação - a fim de comparar a riqueza de espécies entre os
ambientes. Adicionalmente, foi realizado ANOSIM + NMDS (Non-metric multidimensional scaling) para
comparar os três ambientes com base na estrutura das comunidades, utilizando o índice de Bray-Curtis.
Todas as análises foram realizadas por meio do Programa PAST 2.17c (HAMMER & HARPER, 2001).
Anais do 8º Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade Federal do Pampa
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Um total de 1.015 indivíduos foram coletados, representando 91 morfotipos pertencentes a nove
ordens (Aranae, Blattodea, Coleoptera, Diptera, Ephemeroptera, Hemiptera, Hymenoptera, Lepidoptera e
Orthoptera). A ordem com maior número de morfotipos foi Aranae, seguida por Hemiptera e Hymenoptera,
respectivamente. O campo nativo (N1) com baixa pressão de pastejo apresentou maior riqueza e
abundância de artrópodes. O campo nativo com intensidade intermediária de distúrbio (N2) apresentou
maior equitabilidade quanto à abundância de artrópodes.
A análise com modelos de distribuição de abundância revelou que a comunidade de artrópodes em
N1 teve ajuste ao modelo que prediz repartição de nicho. Ou seja, a estruturação dessa comunidade é explicada pela disponibilidade e repartição de diversos recursos no ambiente. Nesse caso, a coexistência das
espécies em seus nichos está relacionada à disponibilidade de mosaicos de recursos, sendo a presença de
determinada espécie um reflexo de sua capacidade de ocupar e repartir os diferentes nichos de recursos.
Para campo N2, os modelos aos quais a comunidade de artrópodes teve ajuste, indicaram dominância moderada a alta dos artrópodes mais comuns sobre os menos abundantes. Assim, este padrão pode ser determinado por competição inter e intraespecífica, pois além dos recursos serem poucos ou raros, são divididos aleatoriamente entre as espécies. Dessa forma, não haveria tanta competição e, consequentemente,
seria o mais uniforme. Este resultado corrobora a Hipótese do Distúrbio Intermediário, na qual níveis intermediários de perturbações podem promover a maior diversidade visto que a frequência e a intensidade
destes caracterizam os distúrbios (CONNELL, 1978). A comunidade de artrópodes no campo N3 teve ajuste
ao modelo representando alta dominância de algumas espécies sobre as demais, indicando elevada competição interespecífica, portanto, baixa riqueza e/ou abundância.
A análise de ANOSIM mostrou diferença significativa entre as comunidades de artrópodes das três
áreas amostradas.
CONCLUSÕES
De acordo com os resultados obtidos é possível concluir que o gradiente de antropização da
vegetação campestre influenciou diretamente as comunidades de artrópodes. Como as perturbações foram
frequentes e intensas em N3, a comunidade foi dominada por atrópodes adaptados aos distúrbios, pois não
houve tempo de recuperação. N1, ambiente com baixa pressão de distúrbio, foi caracterizado por
comunidade composta por artrópodes de alta eficiência competitiva, capazes de deslocar competidores
inferiores. Contudo, N2 apresentou a maior equitabilidade, que pode ser explicada pela Hipótese de
Distúrbio Intermediário onde houve tempo suficiente entre os eventos de perturbações para um grande
número de espécies se recuperar, mas não o bastante para permitir uma exclusão competitiva. Assim,
salienta-se que estudos comparativos de impactos ambientais em áreas nativas são importantes
ferramentas para melhor compreender a ecologia de ecossistemas campestres a fim de contribuir com
indicativos de medidas de conservação ambiental
REFERÊNCIAS
CONNELL, J. H. Diversity in tropical rain forests and coral reefs. Science 199: 1302–1310, 1978.
HAMMER, O.; HARPER, D. A. T; RYAN, P. D. PAST. PALEONTOLOGICAL STATISTICS SOFTWARE PACKAGE
FOR EDUCATION AND DATA ANALYSYS. Paleontologia Electronica 4(1): 9 pp. 2001
HASENACK, H.; WEBER, E.; BOLDRINI, I.; TREVISAN, R. Mapa de sistemas ecológicos da ecorregião das
Savanas Uruguaias em escala 1:500.000 ou superior e relatório técnico descrevendo insumos utilizados e
metodologia de elaboração do mapa de sistemas ecológicos. Porto Alegre: UFRGS/Centro de Ecologia, 2010.
PROJETO IB/CECOL/TNC, PRODUTO 4.
IBGE.
Mapa
de
Biomas
e
de
vegetação.
Disponível
em:
<http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=169>. Acesso em 10/06/2008.
LIMA, A. A. de; LIMA, W. L. de; BERBARA, R. L. L. Diversidade da mesofauna de solo em sistemas de produção agroecológica. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE AGROECOLOGIA, 1, 2003. Porto Alegre. Anais. Porto Alegre: EMATER/RS-ASCAR, 2003. CD-ROM.
NABINGER, C. Potencialidades do Bioma Pampa. In: NAT BRASIL. O Pampa em disputa: a biodiversidade ameaçada
pela expansão das monoculturas de árvores. Porto Alegre: Núcleo Amigos da Terra Brasil. 2007.64p.
THOMANZINI, M. J.; THOMANZINI, A. P. B. W. A fragmentação florestal e a diversidade de insetos nas florestas
tropicais úmidas. Rio Branco: EMBRAPA Acre, 2000. 21p. Circular Técnica, 57.
THOMANZINI, M. J.; THOMANZINI, A. P. B. W. Levantamento de insetos e análise entomofaunística em floresta,
capoeira e pastagem no Sudeste Acreano. Rio Branco: EMBRAPA Acre, 2002. 41p. Circular Técnica, 35.
VALLS, J. F. M. Manejo de Recursos Genéticos Nativos: o exemplo de Arachis. In: MARIATH, J.E.A.; SANTOS, R.P.
(org.). Os avanços da botânica no início do século XXI: morfologia, fisiologia, taxonomia, ecologia e genética.
Porto Alegre: Sociedade Botânica do Brasil, 2006. p.157-161.
Anais do 8º Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade Federal do Pampa
Download