DERMATITE DE CONTATO CAUSADA POR SUBSTÂNCIAS PRESENTES EM ESMALTES 1 2 Mariana Felix Rodrigues , Luciana Nowacki 1 Acadêmico do curso de Tecnologia em Estética e Imagem Pessoal da Universidade Tuiuti do Paraná (Curitiba, PR); 2 Bióloga, Prof. Msc Universidade Tuiuti do Paraná (Curitiba/PR). Endereço para correspondência: Mariana Felix Rodrigues, [email protected] RESUMO: Esmaltes de unhas são considerados pela Anvisa produtos cosméticos com baixo risco à saúde, porém há substâncias em sua formulação capazes de acarretar dermatite de contato e até câncer. O objetivo deste trabalho é identificar os sintomas, informar e orientar os clientes. Foi realizada uma revisão bibliográfica utilizando artigos e manuais de órgãos de regulamentação entre os anos de 1994 a 2013. O risco dos esmaltes está nos componentes tóxicos, como formaldeído e tolueno, que são capazes de sensibilizar a pele e ocasionar danos à saúde. Os usuários deste cosmético podem desenvolver dermatite de contato alérgica, que abrange sintomas como, eritema, edema e descamação. O tratamento é realizado com medicação, porém informação e prevenção, ainda são mais adequados. Palavras-chave: dermatite, esmaltes, formaldeído _________________________________________________________________________ Abstract: according to anvisa, nail polish products are classified as low risk to health, however, in its formulation it may contain substances that can cause contact dermatitis and even cancer. The objective of this work is to identify the symptoms, inform and guide customers. to this end a literature review was conducted using articles and manuals regulators into 1994 and 2013. The risk of toxic components in the glaze is like formaldehyde and toluene, which are able to irritate the skin and cause damage to health. Users of this cosmetics may develop allergic contact dermatitis, which abrenge symptoms such as erythema, edema and scaling. Treatment is done with medication, but information and prevention, still are more appropriate. Keywords: dermatitis, nail polish, formaldehyde. 1 INTRODUÇÃO Cosmetologia é a parte da ciência farmacêutica responsável pelas pesquisas, estudos e elaboração de cosméticos, envolve desde seus componentes até suas aplicações práticas, visando o bem estar e saúde das pessoas que os utilizam. Este seguimento está sempre em evolução, pois estamos sempre em busca de novos ativos, novas tecnologias, além de melhorias nas formulações e matérias-primas (BRENNER, 2011). Os cosméticos estão divididos em quatro categorias: produtos para higiene, cosméticos, perfumes e produtos para bebês; e dois grupos de risco. Nesta divisão quando ao risco, estão os de grau I que apresentam risco mínimo à saúde, e os de grau II, que apresentam risco potencial, estes produtos, quando utilizados corretamente possuem baixo risco à saúde. Os esmaltes de unha se enquadram no grau I de risco segundo a Anvisa (SEBRAE, 2008). Esmaltes de unhas são cosméticos possíveis de ocasionar reações alérgicas, pois são produzidos com uma ampla gama de substâncias químicas, dentre elas o tolueno e o formaldeído. Essas substâncias são capazes de sensibilizar a pele e produzir sintomas no local de aplicação e nos locais por onde passamos as mãos, principalmente face e pescoço (CRQ, 2012). A indústria cosmética tem se esforçado muito a fim de desenvolver componentes alternativos a estes, que não produzam efeitos alérgicos nos consumidores. Na Europa, o formaldeído e tolueno já estão proibidos em formulações cosméticas, nos EUA a restrição ao uso está em debate. Aqui no Brasil a maioria das marcas utiliza essas substâncias, porém algumas já seguem a tendência mundial de abolir sua utilização (MILHORANCE, 2013). O objetivo desse trabalho é realizar uma revisão de literatura do ano 1994 a 2013 para definir quais substâncias presentes nas fórmulas de esmaltes tem potencial alergênico, quais seus prejuízos para a saúde e como podemos reconhecer os sintomas e orientar e alertar corretamente nossos clientes na estética. Esmaltes de unha Desde a antiguidade as mulheres têm o hábito de enfeitar as unhas, elas poliam as unhas com materiais abrasivos como pedra-pomes, e aplicavam 2 tinturas para colori-las. Para conferir coloração, no Egito, era utilizada a hena como pigmento principal, e demonstrava o poder e a riqueza de quem o utilizava. Os esmaltes de unha como conhecemos hoje, surgiram em 1920 por Michelle Menard, em decorrência da Primeira Guerra Mundial, sua fabricação foi baseada na nitrocelulose, um explosivo obtido das fibras da celulose extraídas do algodão ou da madeira em reação com uma solução de ácido nítrico. A nitrocelulose é solúvel em solventes orgânicos, e após sua evaporação, deposita-se na forma de uma película dura e brilhante, chamada laca sintética. Em 1930, Charles Revson incorporou pigmentos opacos para colorir esta laca, até então incolor, e dois anos mais tarde criou a Revlon, e iniciou a comercialização de esmaltes de unhas e demais cosméticos (SILVA, 2011). Os esmaltes são compostos orgânicos, basicamente formados por solventes orgânicos, nitrocelulose, plastificantes, resina, pigmentos e agentes tixotrópicos. Solventes orgânicos proporcionam estabilidade à formulação e determinam o tempo de secagem. O plastificante tem função de deixar a película do esmalte flexível, resistente e durável. A resina é responsável pela aderência do esmalte. Os pigmentos conferem coloração ao produto, podendo ser orgânicos e inorgânicos, sendo extraídos de flores, folhas, rochas ou sintéticos. Os agentes tixotrópicos são responsáveis pela viscosidade e uniformidade da formulação (GALEMBECK, 2010). Dentre as substâncias que compõem os esmaltes de unha, algumas são consideradas tóxicas e sensibilizantes ao ser humano, como o formaldeído presente na resina, o tolueno utilizado como solvente na formulação e a mica, utilizada somente em esmaltes com acabamento perolado. Outras substâncias presentes na formulação são capazes de causar sensibilização cutânea, porém com incidência diminuída como, furfuraldeído e o nitrotolueno. O furfuraldeído é um solvente que melhora a conservação do esmalte, esta substância é comprovadamente cancerígena em animais. O nitrotolueno tem função semelhante ao tolueno, dissolver pigmentos (CRQ, 2012). Formaldeído O formaldeído é um gás, inflamável, possui odor característico e em temperatura ambiente é incolor, é o aldeído mais simples e mais abundante na 3 natureza, sua obtenção é feita a partir do metanol. Em sua forma líquida, está misturado à água e álcool e recebe o nome de formol ou formalina na seguinte proporção 37 a 50% de formaldeído e 6 a 15% de álcool com função de estabilizante (IARC, 2014). Essa substância está presente no ambiente e é gerada por fontes naturais de combustão, como incêndios, é também um dos compostos voláteis formados no início do processo de decomposição de resíduos vegetais no solo, ocorre em frutas de forma natural; em casa, o formaldeído é produzido por cigarros, fogões e lareiras. O formaldeído é um importante produto da economia global, é muito utilizado na fabricação de móveis, materiais de moldagem, como eletrodomésticos, matéria-prima para revestimento de superfícies, adubos, carpetes, couro, borracha, indústria têxtil e indústria química, produção de resinas fenólicas, filmes fotográficos, adesivos de madeira, isolantes, fixador e em líquidos para embalsamamento (CETESB, 2012). A população pode se expor ao formaldeído e seus derivados como, formol e formalina com a utilização de cosméticos. Em composições cosméticas o formaldeído pode estar presente em shampoos e cremes de uso capilar, desodorantes, cremes e loções para a pele, removedores de cutículas e esmaltes de unhas (INCA, 2014). Segundo a Resolução n°162, de 11 de setembro de 2001, da ANVISA, nos cosméticos o formol é permitido com limite máximo de utilização de 0,2% como conservante, e 5% é o máximo permitido como endurecedor de unhas. Devendo ser incorporado à formulação durante a fabricação nunca após o término. Em decisão mais recente, (RCD 36/09) aprovada pela Diretoria Colegiada da Anvisa e publicada em junho, fica proibida a comercialização de formol em farmácias, supermercados, e quaisquer estabelecimentos, a fim de coibir a utilização da substância indiscriminadamente, como no uso em escovas progressivas. Como o formol é solúvel em água, ele é absorvido de forma rápida pelo organismo. A absorção pela pele costuma ser leve, mas pode acarretar dermatites de contato, em outras formas de absorção como, inalação, ingestão ou por via intravenosa, o formol é considerado tóxico (IARC, 1995). 4 Os efeitos variam conforme o tempo de exposição, conforme o Quadro-01: Quadro 01 – Efeitos do formol após exposição de curta duração: Média concentração de Tempo médio Efeitos à saúde população geral 0,8 - 1 ppm Exposições repetidas percepção olfativa até 2 ppm Única ou repetida exposição irritante aos garganta 3 – 5 ppm 30 minutos lacrimação e intolerância por algumas pessoas 10 – 20 ppm Tempo não especificado dificuldade na respiração e forte lacrimação 25 – 50 ppm Tempo não especificado edema pulmonar, pneumonia, perigo de vida 50 – 100 ppm Tempo não especificado pode causar a morte olhos, nariz e Fonte: Adaptado World Health Organization, IARC (1995) O primeiro efeito observado do formol em seres humanos é seu odor desagradável, seguido de irritação nas mucosas dos olhos e aparelho respiratório. Os efeitos irritantes das vias aéreas superiores, ocorrem devido ao potencial de solubilidade deste gás na água. Observa-se durante a respiração que boa parte do formol inalado é absorvido já na mucosa nasal, irritando as mucosas do nariz, da laringe e da faringe, e uma pequena quantidade chegará às vias aéreas inferiores. Outros sintomas são relatados na intoxicação por inalação como, fortes dores de cabeça, vertigem, falta de ar, tosse e edema pulmonar, em concentrações altas pode causar, bronquite, laringite e pneumonia. Em contato com a pele o formol pode causar desde irritação leve até dermatite de contato grave. O contato do formol com a pele pode deixa-la com aspecto esbranquiçado, áspero, e provocar diminuição da sensibilidade. Em um período exposição prolongado causa rachaduras na pele e ulcerações (LORENZINI, 2012). Segundo o IARC - International Agency for Research on Cancer da Organização Mundial da Saúde, após a conclusão de diversos estudos sobre 5 os efeitos tóxicos do formaldeído, a partir de julho de 2004, esta substância foi classificada como carcinogênica, estando relacionada com o câncer de nasofaringe e leucemia; tumorgênica e teratogênica, por interferir na reprodução humana e de outras espécies de animais. Tolueno O tolueno ou metil benzeno é um solvente líquido incolor e possui odor característico, em sua forma pura contém aproximadamente 0,01% de benzeno e na forma comercial contém aproximadamente 25%. O tolueno está presente em colas, polímeros, borracha, na fumaça de cigarro, na gasolina, é também usado como solventes em tintas, revestimentos, óleos e resinas, além de ser matéria-prima na produção de benzeno entre outros solventes orgânicos (CETESB, 2012). A exposição humana ao tolueno se dá, principalmente por via respiratória e pela pele. O tolueno atua como os demais solventes enquanto substâncias lipossolúveis, ultrapassam a barreira hematoencefálica agindo no Sistema Nervoso Central (SNC), onde produz uma alteração do estado de consciência, deixando o indivíduo letárgico, logo o tolueno é um depressor do SNC, não estando totalmente desvendado seu mecanismo de ação. Sabe-se que afeta o organismo de modo semelhante ao álcool, partindo da excitação e posterior depressão de leve à intensa. A inalação prolongada causa irritação das vias aéreas superiores e olhos, causa cefaleia e tontura, em casos mais graves pode ocorrer diminuição auditiva e até surdez. Na pele sua taxa de absorção varia de 14 a 23mg/cm²/h, causando ressecamento e irritação na pele (FORSTER, 1994). Mica Mica é uma palavra utilizada para caracterizar um conjunto de minerais formados principalmente por silicatos de alumínio hidratado, potássio, sódio, magnésio dentre outros. A mica possui várias propriedades físicas como, flexibilidade, resistência a mudanças bruscas de temperatura e baixa condutividade térmica e elétrica (CAVALCANTE et al, 2005). Para uso em cosméticos é utilizada a mica micronizada, ela é composta de partículas muito finas abaixo de 40 µm. Está presente em 6 esmaltes de unha, sombras, batons e cremes, nestas formulações servem como agente perolizante, devido à suas características, possui boa lubricidade, aderência à pele e compressibilidade, e sua estabilidade na luz ultravioleta (TANER, 1994). Sistema imune e reações de hipersensibilidade: Entende-se por resposta imunológica, o conjunto de mecanismos envolvidos na defesa do corpo, que visam eliminação de agentes como, bactérias, parasitas e fungos. Qualquer resposta imune envolve, primeiramente, o reconhecimento do patógeno e em segundo lugar, a elaboração de uma reação de defesa dirigida a este elemento. O sistema imune é dividido em sistema inato ou não específico e sistema adaptativo ou específico. O sistema inato compreende a primeira defesa contra possíveis invasores, e o sistema adaptativo compreende a segunda defesa do organismo, além de proteger contra a reexposição ao mesmo patógeno. Ambos os sistemas são formados por componentes celulares e humorais, e através deles cumprem sua função de proteção (MACHADO et al, 2004). O sistema imune inato é composto por barreiras anatômicas, moléculas de secreção e componentes celulares. Dentre os fatores mecânicos estão, a pele que forma uma barreira física, impenetrável para a maioria dos agentes infecciosos, havendo descamação do epitélio, bactérias ou agentes infecciosos que ficaram aderidos são removidos. Os movimentos ciliares e de peristaltismo também contribuem para proteção das vias aéreas e trato gastrointestinal. O mesmo acontece com as lágrimas e saliva que auxiliam na limpeza dos olhos e boca. Estas mesmas barreiras são influenciadas por fatores químicos como, ácidos graxos presentes no suor que limitam o crescimento bacteriano, o ph baixo do suor e da secreção gástrica que inibem o crescimento de bactérias, lizosima e fosfolipase que estão presentes nas lágrimas, saliva e secreção nasal, atuam destruindo a parede celular das bactérias. Há ainda fatores biológicos envolvidos no sistema imune, a flora normal da pele e do trato gastrointestinal, previne a colonização bacteriana pela secreção de substâncias tóxicas ou pela ligação à superfície da célula (JUNIOR, 2010). Na grande maioria das vezes estas barreiras anatômicas são efetivas, porém, quando os tecidos estão lesionados pode haver infecção. Quando os 7 agentes infecciosos atravessam o tecido, outro mecanismo de defesa inato começa a operar, a inflamação aguda. Fatores humorais tem um papel fundamental na inflamação, que tem como característica o edema e o recrutamento de células fagocitárias. Dentre os fatores humorais estão, o sistema complemento, este quando ativado pode aumentar a permeabilidade vascular e o recrutamento de células fagocitárias; o sistema de coagulação, dependendo da gravidade da lesão este sistema pode ou não ser ativado, algumas substâncias deste sistema contribuem para a defesa específica por aumentar a permeabilidade vascular, e outras são, por si só antimicrobianas; a lactoferrina e transferrina, limitam o crescimento bacteriano após se ligarem ao ferro; interferons, são proteínas que limitam a multiplicação do vírus na célula; lisozima, atua degradando a parede celular da bactéria; interleucina, induz a febre e a produção de proteínas de fase aguda, sendo, algumas delas antimicrobianas (CRUVINEL et al, 2010). O processo inflamatório é a resposta do organismo ao ataque de agentes agressores. A inflamação acarreta diversas reações bioquímicas, vasculares e celulares, enviando leucócitos para o local onde estão os microorganismos e iniciando o processo de fagocitose. Os principais fagócitos envolvidos no processo inflamatório são os neutrófilos e macrófagos, logo o aumento considerável dos neutrófilos no sangue caracteriza o processo inflamatório agudo. Tanto neutrófilos e macrófagos fazem fagocitose, mas só os macrófagos sobrevivem ao processo de fagocitose. Os macrófagos quando estimulados exercem o papel de células apresentadoras de antígenos, sendo as responsáveis por apresentar os antígenos para os linfócitos T, e dessa forma iniciam a ativação da resposta imunológica adaptativa (GOMES, 2013). A resposta imunológica adaptativa é considerada uma resposta específica e tem como propriedade aumentar a sobrevida das células do sistema imunológico após o estímulo do antígeno, ocasionando desta forma, a memória imunológica. Outra característica importante da resposta adaptativa é a autolimitação, esta propriedade dosa a atividade celular, aumentada na presença do antígeno e diminuída em sua ausência. As células da imunidade adaptativa são os linfócitos T e B, estas células são reativas a substâncias ou moléculas que não possuímos genuinamente em nossos tecidos. Os linfócitos 8 T e B são produzidos na medula óssea, a maturação no linfócito B acontece na própria medula e a maturação do linfócito T, acontece no timo (JUNIOR, 2010). A resposta imunológica adaptativa difere da inata, pois a resposta é específica para o antígeno ou imunógeno invasor, sendo também mais rápida devido às células de memória. Todos estes eventos são desencadeados pelo próprio antígeno ou imunógeno, levando à ativação e a produção de anticorpos e linfócitos específicos. Resumidamente o que ocorre é que, imunógeno ativa as células B, as quais processam o antígeno, fagocitam o complexo receptorantígeno, apresentando-o às células T que destroem o antígeno ou imunógeno. (CRUVINEL et al, 2010) Em princípio a intenção da resposta imunológica é a defesa do organismo, garantindo o equilíbrio corpóreo, porém essa resposta pode ser voltada contra antígenos ambientais ou componentes químicos presentes em formulações farmacêuticas, ocasionando, dessa forma as reações de hipersensibilidade. As reações de hipersensibilidade são classificadas em quatro tipos I, II, III e IV, de acordo com seus mecanismos imunológicos, mas somente as do tipo I e IV estão associados ao uso de cosméticos. A hipersensibilidade do tipo IV é também chamada de hipersensibilidade tardia, dentro deste tipo estão as reações de dermatite de contato, esta reação é normalmente desencadeada pela exposição tópica aos componentes (GOMES, 2013). Dermatite de contato: Dermatite de contato é definida como uma inflamação cutânea, causada pela ação de agentes externos em contato com a pele, apresenta lesões características como eritema, vesículas, pápulas e escamas. As dermatites de contatos são classificadas em alérgicas ou irritativas, sendo 20% dos casos relatados de dermatite de contato alérgica e 80% de dermatite de contato irritativa (LAZZARINI, 2009). A dermatite de contato irritativa provém de um efeito tóxico local, que se inicia após o contato com algum componente da formulação que possui ação irritante, causando uma reação inflamatória local. Nesta dermatite é comum apresentar eritema, edema, descamação e vesiculação; se a exposição 9 se der de forma crônica podem ocorrer hiperqueratose e fissuras (ALCHORNE, 2014). As dermatites de contato alérgicas, estão entre as principais queixas por uso de cosméticos. As reações alérgicas podem ocorrer por exposição contínua do indivíduo a determinadas substâncias, porém pode ocorrer quando há uma associação entre determinado componente da formulação e as proteínas da pele. As reações podem aparecer no local onde a substância com potencial alergênico foi utilizada ou em outros lugares devido à manipulação. Apresentam-se como sintomas de modo geral, edema, eritema e secreções com formação de crosta (GOMES, 2013). As substâncias que desencadeiam este tipo de hipersensibilidade são chamadas haptenos. Os haptenos são substâncias de baixo peso molecular e pouca capacidade de gerar resposta imunológica de forma isolada, porém, quando em contato com a pele, pode haver conjugação entre haptenos e as proteínas existentes no organismo, esta junção sim, tem capacidade de estimular o sistema imunológico, formando o antígeno (Ag) completo haptenoproteína (MOTTA, 2011). Segundo Motta, o antígeno completo é processado e apresentado à célula de Langerhans, que em seguida leva os antígenos específicos a se ligarem aos receptores específicos de linfócitos T, gerando uma resposta imune. Quando acontece a sensibilização o antígeno completo entra na epiderme, conecta-se às células de Langerhans, ativa os queratinócitos e as células da derme a liberarem citocinas com propriedades inflamatórias, a célula de Langerhans ligada ao conjugado hapteno-proteína migra para o linfonodo. Já no linfonodo o LTh0 gera clones de LTh1 específicos, esta fase de sensibilização ou fase aferente que ocorre ao redor de dez dias. Se após esta fase o indivíduo entrar em contato novamente com a substância que anteriormente o sensibilizou, seus LTh1 já tem receptores específicos que reconhecerão o antígeno ligado ás células de Langerhans e irão secretar citocinas, ocasionando um processo inflamatório com edema intercelular, esta fase é chamada fase de eczematização ou fase eferente e dura de 12 a 36 horas (ALCHORNE, 2014). 10 A dermatite de contato pode ocorrer com uma substância a qual o indivíduo entra em contato com frequência, a reação pode não ser inicial, e com o uso regular ou com o tempo, desenvolver sensibilidade. A dermatite alérgica costuma provocar uma erupção vermelha nos locais em que a substância tocou. A reação alérgica é retardada, aparecendo erupções de 24 a 48 horas após a exposição. A lesão pode ser inchada e vermelha, com bolhas, calor aparente ou formar crostas espessas. Este é o caso da dermatite de contato alérgica causada por substâncias presentes em esmaltes de unhas, as lesões aparecem mais frequentemente nas pálpebras, mãos, lábios e pescoço, locais que manipulamos com maior frequência (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA, 2014). METODOLOGIA Para o presente estudo foi realizada pesquisa bibliográfica com publicações entre os anos 1994 a 2013, por meio de publicações e artigos disponíveis para consulta em acervos como Scielo, Revistas Científicas de Dermatologia, Reumatologia, Imunologia, e informativos e manuais de instituições como SEBRAE, ANVISA, Conselho Regional de Química, Sociedade Brasileira de Dermatologia e INCA. O objetivo é listar os danos e riscos que substâncias tóxicas presentes em fórmulas de esmaltes podem acarretar à nossa saúde. DISCUSSÃO O mercado de cosméticos está em constante crescimento no Brasil, sendo o único não afetado pela crise mundial. Com o aumento de renda das classes C e D, os itens de beleza passaram a ser altamente consumidos. Segundo a Euromonitor, uma empresa internacional de mercados e indústrias que analisa o consumo de diversos produtos em vários países, o Brasil é segundo maior consumidor mundial de esmaltes de unha, perdendo apenas para os Estados Unidos. Os maiores fabricantes de esmaltes do Brasil arrecadaram R$213,48 milhões, somente do primeiro trimestre de 2011 (GRADE, 2011). 11 O aumento no consumo de esmaltes, tornou evidente os casos de pessoas com alergia aos componentes da fórmula convencional. São sintomas desta dermatite, coceira nas mãos, pescoço, pálpebras, com descamação e eritema (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA). A Associação Brasileira de Defesa ao Consumidor – Proteste, avaliou, em 2011, a segurança e qualidade dos esmaltes mais vendidos no mercado brasileiro. Foram analisadas em laboratório 12 tons de esmaltes na cor branca. Quanto a composição, a marca Colorama é hipoalergênica mas não divulga no rótulo essa importante característica do produto; Hipoalergênica, que assim se intitula, não é; e a a marca Impala marca Risqué apresenta ingredientes, que podem causar alergias e também câncer. Os esmaltes avaliados na pesquisa supracitada apresentam em sua composição, vários componentes que causam prejuízo à saúde, foram analisadas as seguintes substâncias: dibutilftalato, nitrotolueno, tolueno e furfural. As substâncias dibutilftalato e nitrotolueno, não estão sequer relacionadas na legislação brasileira. Já o tolueno e o furfural não possuem limites estabelecidos para uso em cosméticos no Brasil, pela legislação europeia, o limite para utilização do tolueno é de 25% (250.000 mg/kg) e o limite para o furfural é de 360 mg/kg. Os esmaltes Colorama são os únicos que poderiam ser vendidos na Europa, pois estão de acordo com a legislação; os esmaltes Impala Hipoalergênico, contém dibutilftalato e tolueno em altas concentrações; e a marca Risqué apresentou concentrações exacerbadas de tolueno e nitrotolueno. Com os resultados da pesquisa, a Associação de Defesa ao Consumidor – Proteste, encaminhou ao Ministério Público de Minas Gerais e à ANVISA, solicitando a regulamentação das quantidades de cada substância de forma adequada e que não gere danos aos usuários de esmaltes de unha. O Ministério Público Federal instaurou inquérito para apurar a denúncia da Proteste, e firmou acordo com as empresas, Cosmed Indústria de Cosméticos e Medicamentos S.A. (Cosmed), fabricante dos esmaltes Risqué, e Laboratório Avamiller de Cosméticos Ltda, fabricante dos esmaltes Impala, neste acordo se comprometeram a não utilizar as substâncias dIbutilftalato, nitrotolueno e furfural na composição de cosméticos. Outro resultado importante, a ANVISA editou duas novas resoluções RDC n°16/2011 e RDC 38/2011, definindo que 12 os produtos que tenham substâncias proibidas na Europa devem limitar essa concentração a 0,09% da fórmula de cada item. A concentração máxima do tolueno foi definida em 25%. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os esmaltes de unha estão em alta no universo da beleza, muitas mulheres incorporaram seu uso no dia-dia, fazendo inclusive mudanças de cor com frequência, para combinar com as roupas e ocasiões. Muitas destas usuárias, não tem noção de como são fabricados, muito menos o que compõe estes cosméticos. É preciso estar atenta as possíveis reações, calor e coceira nas pontas dos dedos, coceira e descamação na face, principalmente pálpebras e lábios, que são os principais sintomas da dermatite de contato. O melhor tratamento é a prevenção, as alérgicas não devem insistir em utilizar os esmaltes, devem descontinuar seu uso imediatamente, e procurar um dermatologista para definir qual é a substância que causa a reação, se informar sobre a nomenclatura da substância e, que outros produtos o apresentam em sua composição. Os sintomas aumentam potencialmente com a utilização continuada, porém no início, causa apenas um desconforto leve nas pontas dos dedos, e vermelhidão discreta nas pálpebras, com a insistência na utilização, há vermelhidão intensa e descamação nas pálpebras e lábios, o que normalmente é confundido com alergia à maquiagem ou outros cosméticos de uso facial. É essencial ao Tecnólogo em Estética saber identificar as características e sintomas da dermatite de contato causada por esmaltes de unhas, e repassar aos colegas no âmbito profissional, para que todos estejam preparados para orientar os clientes com este quadro alérgico, principalmente manicures e podólogos. O contato com substâncias potencialmente causadoras de dermatite e câncer, não é aconselhável a ninguém, independente de apresentar sintomas de dermatite ou não, as usuárias de esmaltes de unhas devem escolher a alternativa que traga mais benefícios e que esteja devidamente regulamentada pelos órgãos competentes, pois os sintomas aparecem no contato frequente com as substâncias prejudiciais. 13 Existem medicações específicas para tratar a dermatite de contato alérgica como, pomadas de corticoesteróides que visam reduzir a inflamação; imunomoduladores, que proporcionam aumento da resposta orgânica; em casos mais graves podem ser prescritos corticoesteróides orais e antialérgicos. O mais importante neste quadro de dermatite é a prevenção, utilizando sempre esmaltes seguros e hipoalergênicos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ALCHORNE, A. O. A. Dermatite de contato, 2014. Disponível em: http://cilad.org/archivos/Rondon/Rondon2009/contato.pdf. Acesso em: 24 fev. 2014. 2. 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