galaxia e universo - Departamento de Física

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Introdução à Astronomia e à Astrofı́sica
A Nossa Galáxia e o Universo
Dietmar William Foryta
Departamento de Fı́sica, Universidade Federal do Paraná, Centro Politecnico, Caixa Postal 19044, 81531-990,
Curitiba, Paraná, Brasil∗
A partir da observação noturna podemos inferir que a existência de uma distribuição nao uniforme
de estrelas nos céus implicará percepção da distribuição espacial de estrelas no Universo. Com
isto podemos introduzir o conceito de Galáxia e extender este conceito ao conceito de galáxias em
geral. A medida em que tentamos determinar a distribuição de galáxias no Universo chegaremos
a estimar o tamanho e a idade do Universo.
Keywords: Estrelas: Relação Perı́odo-Luminosidade;
Galáxia: Tamanho e Forma;
Galáxias: Distâncias;
Universo: Tamanho e Idade;
1
O Universo de Thomas Wright (1750) . . . . . .
3
2
O Universo de Kapteyn (1922)
. . . . . . . . .
4
3
A Relação Perı́odo-Luminosidade . . . . . . . .
6
4
A Galáxia de Shapley . . . . . . . . . . . . .
8
5
A Idade das Estrelas . . . . . . . . . . . . . .
11
6
O Tamanho do Universo . . . . . . . . . . . .
13
7
A Idade do Universo . . . . . . . . . . . . . .
14
Nada mais belo que uma noite estrelada, as estrelas
do céu sob um fundo “negro” das mais belas noites
longe das luzes da cidade. Por que não percebemos as
estrelas durante o dia? A resposta vem rápida... por
causa do Sol. Assim pergunta-se
Os “céus” da Lua, para que estiver na Lua,
durante o “dia”, não poderemos ver as estrelas?
Muito mais do que a presença do Sol, é o espalhamento da luz do Sol pela atmosfera que nos impede
de observar outras estrelas no céu diurno. Podemos
mostrar a importância deste espalhamento experimentando. Sempre podemos encontrar uma sala com uma
janela por onde entra a luz do Sol. Varrendo o chão
levantamos poeira, e esta poeira, a mais fina, pode
ser percebida por que ela espalha luz do Sol. Melhorando ainda mais, uma noite enevoada, com os faróis
ao máximo percebemos que não mais enxergamos, pois
o brilho nos retorna.
A noite é escura... o que significa isto?
∗ Electronic
address: [email protected]
Tomemos as palavras de Heinrich Olbers (1823):
[...]Se nós supusermos que as estrelas fixas
estão uniformemente repartidas no espaço
cósmico, e se nós representarmos em torno
de nosso sol uma esfera de raio igual a um,
ou igual a distância média das estrelas de
primeira grandeza, o diâmetro de de cada
estrela fixa em média igual a d, e se nós
denotamos n seu número a esta distância,
então elas recobrirão para nós uma fração
nd2 /4 da esfera celeste. A distância igual
a dois, o diaâmetro aparente das estrelas
fixas é d/2, mas seu número é 4n e por
consequência elas recobrirão ainda nd2 /4
da esfera. Portanto em todas as distâncias
1, 2, 3, 4, 5, ..., m de nós, as estrelas fixas
cobrirão áreas iguais sobre a esfera e assim
nd2 /4 + nd2 /4 + nd2 /4 + etc... = mnd2 /4
torna-se infinitamente grande quando m
torna-se infinitamente grande, pois d2 /4,
por menor que seja, é uma grandeza finita.
Então, não somente a esfera celeste é coberta de estrelas, mas ainda elas deveriam
estar colocadas umas atrás das outras em
fileiras infinitas e ocultando-se umas as outras. É claro que a mesma conclusão vale
também se as estrelas fixas não estiverrem
uniformemente repartidas no espaço, mas
agrupadas em sistemas isolados, separados
por grandes distâncias. [...]
Este pequeno raciocı́nio nos leva a perceber que como
a noite é escura então
2
Introdução à Astronomia e à Astrofı́sica
Figura 1 Com uma câmera de grande angular pode-se observar completamente o céu noturno em sua amplitude. Nela
percebe-se facilmente, contra o fundo escuro do céu, uma faixa brilhante como que uma “fumaça” extendendo-se de
horizonte a horizonte. Fica claro que a distribuição de estrelas no céu não é uniforme. Nesta imagem algumas estrelas
parecem “borradas” pelo tempo de exposição e também está presente um “traço” da passagem meteorı́tica pela atmosfera.
Que conclusões poderiamos tirar da observação desta faixa luminosa?
o Universo teria um tamanho finito.
Para Olbers o paradoxo, pois para ele o Universo tinha de ser infinito em suas premissas teológicas, seria
levantado pela existência de um meio que permeasse o
Universo, atenuando a luz das estrelas mais distantes.
A idéia do meio interestelar, apesar de correta falha
por a absorção da luz aqueceria também este “gás” que
o faria brilhar tanto quanto as estrelas elas próprias.
Infelizmente ele não teve acesso as informações sobre
as teorias do calor que estavam sendo, então, formuladas: Carnot em 1824 com suas Reflexões sobre a
potência motriz do fogo e sobre as máquinas próprias
a desenvolver sua potência e Fourrier em 1822 com sua
Teoria analı́tica da calor e em 1824 com Sobreas temperaturas do globo terrestre e do espaço planetário.
Entretanto, outra possibilidade poderia resolver o proCuritiba, 21 de Outubro de 2003
A Nossa Galáxia e o Universo
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Figura 2 A idéia, de Herschell, para determinar a extensão da distribuição de estrelas que nos cerca, e confirmar a
inferência de Thomas Wright, é contar estrelas em diversas direções. Caso o número de estrelas seja igual em todas as
direções então estamos no meio de um sistema esférico de estrelas, mas devida a distribuição observacional, apresentada
na figura 1, sabe-se que não estamos em uma distribuição esférica. A mais comatı́vel com com a observação seria estarmos
no “meio” de uma distribuição em forma de disco.
blema posto
o Universo teria uma idade finita.
Como resolver este “pequeno” problema cosmológico?
O Universo é finito, ou tem uma idade? Ou, ainda
seria o Universo finito e com idade?
1. O Universo de Thomas Wright (1750)
Senhor,
Diz-se, e, se eu me lembro bem, é também
sua opinião, que três dos mais belos espetáculos da natureza são um amanhecer
sobre o mar, uma paisagem verdejante com
um arco-ı́ris e uma clara noite a luz das
por Dietmar William Foryta
estrelas. Eu frequentemente observo eu
mesmo estes espetáculos com uma grande
alegria e um grande prazer. Eu vejo o primeiro frequentemente e sempre com uma
agradável surpresa; eu, também frequentemente, observo o segundo sem menor admiração, mas eu jamais levantarei os olhos
para o último sem um assombro misturado
de uma espécie de felicidade. A última
noite, esta admirável cena se mostrou em
toda sua beleza, e como diz Milton
O silêncio se fez, agora que o firmamento avermelhado de suas Safiras vivas; Hesperus que guia a armada de
estrelas se eleva a mais brilhante...
Eu descobri que era impossı́vel de ver
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Introdução à Astronomia e à Astrofı́sica
Figura 3 Kapteyn, com auxı́lo tecnológico das placas fotográficas, refez a técnica de contagem de estrelas feita por Herschell
e com o acrescimo do conhecimento da distância das estrelas, pelo menos as mais próximas, pode estimar a extensão da
Galáxia e nossa localização aproximada. Esta inferência implicava que o Sol estaria próximo do centro da Galáxia. Sua
inferência falha por não levar em conta a existência do meio interestelar, que não era ainda conhecido em sua época.
por muito tempo esta cena prodigiosa, tão
plena de objetos estupendos, e particularmente a Via Lactea que, a Lua estando
ausente, em toda sua perfeição, sem ser
obrigado a pensar em minha obra: esta
zona de luz sendo o objeto principal que eu
empenho-me de tratar e de explicar. [...]
A partir de 1610, Galileo Galilei apontando para o céu,
seu telescópio, na direção daquele fenômeno luminoso
que cruza os céus e conhecida como Via-Lactea, percebe que o fluido celestial é na realidade um grende
número de estrelas com uma grande variedade de brilhos aparentes.
Issac Newton, o primeiro a ter alguma idéia sobre a
distância às estrelas, não se dá conta que não há necessidade de fazer o Universo infinito e uniformemente
preenchido para evitar que a força gravitacional faça
colapsar todo o Universo.
Thomas Wright apresenta, em 1750, a discussão sobre
a não uniformidade observacional na distribuição de
estrelas nos céus e tenta inferir a causa desta distribuição não uniforme. Ele considera a possibilidade da
distribuição espacial se assemelhar a um disco e nosso
Sol estar dentro deste.
[...] Agora admitindo que a largura da Via
Lactea seja somente 9o de largura, e supondo que haja somente 1 200 estrelas por
grau quadrado, ela terá em sua totalidade
da superfı́cie orbicular aproximadamente
3 888 000 estrelas, e todas estas estrelas em uma pequena porção da imensa extensão dos céus.
E logo após esta proposição estima o tamanho do conjunto de estrelas, utilizando-se da medida de Newton
a Sı́rius
[...] E como as estrelas são todas visı́veis
graças a bons telescópios até 9a ou
10a magnitude, se nós multiplicarmos a
distância primária de Sı́rius ou de não importa qual outra estrela desta classe pelo
número de espaços intermediários comuns,
o produto será igual ao raio da criação
visı́vel para um observador situado no Sol
e esta distância, por esta regra, encontrarse-á 6 000 000 000 000 de milhas tomandose uma estrela de 6a magnitude e para uma
estrela de 9a magnitude, 9 000 000 000 000
de milhas. [...]
Claro que o número fornecido é equivocado, mas ele
deixa uma possibilidade de medida que será utilizada
mais tarde, correlacionar um grupo de estrelas com o
mesmo brilho aparente com sua distância média, o que
se revelará razoável em primeira aproximação.
2. O Universo de Kapteyn (1922)
No final do século XVIII, muito antes das medidas de
distância às estrelas pela técnica de paralaxe trogonométrica fossem conhecidas, o astronomo inglês William Herschel tentou estimar o tamanho e a forma do
sistema de estrelas que aparentava ser um disco. Ele
assumiu que, estatisticamente, estrela mais próximas
seriam mais brilhantes e estrelas mais distantes seriam
mais fracas. Claro que deve-se admitir que podem
existir estrelas de diferentes brilhos aparentes por teram diferentes potências, mas, estatisticamente, podese assumir que em dois grupo de estrelas terão números
Curitiba, 21 de Outubro de 2003
A Nossa Galáxia e o Universo
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Figura 4 Algumas estrelas tem um brilho variável. Dentre as que tem brilho variável, algumas apresentam uma correlação
entre o perı́odo da variação de brilho com o valor do brilho. Para estas estrelas variáveis, obtemos então uma relação
conhecida como perı́odo-luminosidade. Mesmo não sabendo a distância, podemos perceber quanto o brilho varia e qual o
intervalo de tempo para estas variação de brilho. Assim, podemos estimar qual é o seu brilho “real” e a diferença entre
o brilho observado e o “real” estará associado a sua distância.
equivalentes de estrelas de pequeno brilho e de grande
brilho. Assim, tomando-se o número de estrelas pelo
brilho observado em diferentes direções podemos estimar a densidade de estrelas por unidade de distância
“de brilho”. Esta idéia chama-se contagem de estrelas.
Assim Herschell estima com as observações efetuadas
que a forma do sistema de estrelas tem uma forma
por Dietmar William Foryta
aproximada de um disco e o Sol estava próximo ao
centro da distribuição de estrelas. Uma observação
interessante é que quando se faz a contagem de estrelas, pode-se perceber que a figura da Galáxia possui
“dedos” saı́ndo para fora do disco de estrelas. Subsequentes refinamentos, efetuados no inı́cio do século
XX, por Kapteyn, agora conhecendo-se números das
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Introdução à Astronomia e à Astrofı́sica
Figura 5 Observando-se os céus percebe-se frequentemente aglomerações de estrelas, que são conhecidas como constelações. Todavia, a aglomeração pode ser aparente e não ser real. A maioria das constelações observáveis nos céus são
todas aparentes mas não tem causa fı́sica diferente da posição do observador. Todavia, pela existência da gravitação, a
mesma que faz com que os planetas permaneçam próximos ao Sol, pode produzir aglomerações reais pela ação da força
da gravidade. Nesta imagem tem-se duas aglomerações de tal tipo conhecidas como aglomerado duplo, observável pela
densidade das estrelas.
distâncias às estrelas, a aparência geral do sistema de
estrelas continuou essencialmente o mesmo, mas podese acrescentar o número ao tamanho do sistema de estrelas. A Galáxia, como se passou a chamar o sistema
de estrelas, teria aproximadamente 10 kpc de diâmetro
com uma espessura de 2 kpc.
3. A Relação Perı́odo-Luminosidade
Os estudos para se compreender o que são as estrelas passavam pela idéia que podendo relacinar as observáveis entre si poder-se-ia obter informações sobre
os mecanismos que estavam em ação no interior das
estrelas. Um exemplo cotidiano disto pode ser associado, considere uma barra de metal colocada em uma
fogueira, quando esta barra estiver brilhando com uma
cor avermelhada, esta barra estará “quente” (a uma
certa temperatura), mas se abarra estiver com uma
coloração mais amarelada, ou mesmo esbranquiçada,
isto significa que a barra estará ainda mais “quente”
(a uma temeratura ainda maior do que quando estava
avermelhada). Isto significa que existe uma correlação
entre o brilho da barra com a sua temperatura.
A medida em que se fazia crescer um catálogo de estrelas, que nada mais é do que uma tabela de dados das
estrelas, contendo, para cada estrela, a sua distância
(pela paralaxe trigonométrica), sua temperatura (pela
razão do brilho entre o azul e o vermelho), sua potência
(brilho total aparente e conhecendo-se a distância),
bem como outras propriedades, percebeu-se que algumas das estrelas não possuiam um brilho que fosse
representado por um número somente. Estas estrelas
tinham um brilho variável, ora brilhavam mais ora menos, e foram portanto chamadas de estrelas variáveis.
Para estas estrelas mais uma entrada no catálogo teve
de ser efetuada, o perı́odo de variação de brilho.
Comparando-se o perı́odo do brilho da estrela com as
outras propriedades fı́sicas do catálogo percebe-se que
Curitiba, 21 de Outubro de 2003
A Nossa Galáxia e o Universo
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Figura 6 Nesta imagem percebe-se ainda melhor que a aglomeração das estrelas, conhecida como M80, deve possuir uma
causa fı́sica diferente do posicionamento do observador. A densidade de estrelas claramente tem um centro de diminui
radialmente a partir deste centro. Tamb’me fica claro que os dois aglomeramentos, M80 e o aglomerado duplo, tem
caracterı́sticas diferentes. O aglomeramento do tipo apresentado nesta imagem é muito pouco frequente na região do disco
galático, enquanto o aglomeramento do tipo do algomeramento duplo é comum na região do disco. Chamaremos então os
aglomerados de globulares, ou cerrados, para os do tipo de M80 e de galáticos, ou abertos, para os do tipo do aglomerado
duplo.
quanto mais brilhantes, em potência absoluta, não a
aparente, elas o forem maior será o perı́odo de sua variabilidade. Assim os valores numéricos foram dispostos
em um diagrama, tal como o da figura 4, para verificar
se haveria alguma correlação entre as duas propriedades fı́sicas: o perı́odo e o brilho. No referido diagrma
por Dietmar William Foryta
percebe-se que os pontos não estão distribuı́dos ao
azar, mas sobre uma “linha” bem determinada. ISto
significa que mesmo não sabendo qual o real mecanismo por trás desta caracterı́stica da Natureza, podemos utilizar este diagrama para medir a distância às
estrelas, que não sabemos a distância, conhecendo-se
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Introdução à Astronomia e à Astrofı́sica
Figura 7 Com o fenômeno perı́odo-luminosidade empiricamente conhecido pode-se utiliza-lo para a determinação da
distância aos aglomerados de estrelas. Aqui mostra-se a variação luminosa de uma variável, dita Cefeida, em M100,
cujo perı́odo pode ser determinado e é independente da distância. Uma vez com este perı́odo cruza-se o perı́odo com a
curva empı́rica e obtem-se a luminosidade que esta estrela deverá ter e o brilho aparente está associado com a distância
a estrela. Como a largura da relação emprı́rica não é muito grande este método tem uma “boa” precisão.
seu perı́odo de variabilidade. Claro que se a estrela
não possuir tal variabilidade, tal técnica não pode ser
utilizada.
Uma vez percebida a relação perı́odo-luminosidade podemos determinar a distância às estrelas variáveis e de
suas companheira próximas, caso tenhamos a certeza
de sua proximidade.
Observando-se a distribuição das estrelas nos céus,
com mais cuidado do que somente perceber a
existência da Via-Lactea, podemos perceber que existem aglomradmentos de estrelas tais como os da figura
??. Bem provavelmente o aglomeramento deve ter a
gravitação como causa e portanto estas estrelas deverão estar próximas em distância e não somente em
posição aparente. Se soubermos a distância a uma
das estrelas do aglomerado teremos uma boa noção
da distância ao aglomerado ele próprio. Tal idéia esta
esboçada na figura 7, conhecendo-se o perı́odo de variabilidade sabe-se qual deverá ser o valor de seu brilho.
A diferençaentre o brilho observado e o que deveria
ser o brilho absoluto deve estar associado a distância
à estrela.
4. A Galáxia de Shapley
A vantagem do método perı́odo-luminosidade sobre a
contagem de estrelas reside no fato de que este último
baseia-se numa idéia estatistica, enquanto o primeiro
tem-se valores numéricos para distâncias muito melhores. Shapley portanto produz um catálogo de
distâncias aos aglomerados de estrelas e percebe que a
distância aos aglomerados globulares é muito maior do
que a distância aos aglomerados abertos ou às estrelas
obtidas pelo método da contagem.
Por que as estrelas formam um disco de estrelas, contendo aglomerações de estrelas? Porque existe a gravitação que faz deste distema de estrelas uma grande
aglomeração de estrelas e aglomerados. Assim inferese que os aglomerados devem ser atraı́dos gravitacionalmente pelo disco de estrelas. Se esles são atraı́dos
pelo disco de estrelas, os aglomerados devem estar orbitando o disco tal qual fazem os planetas em torno do
Sol, e o Sol está no “centro” do movimento dos diversos planetas. Como os aglomerados globulares estão a
grandes distâncias eles podem ser usados para saber
até onde a gravitação do disco está atuando e também
onde está ocentro desta gravitação do disco.
A idéia maior é portanto associar o centro de graCuritiba, 21 de Outubro de 2003
A Nossa Galáxia e o Universo
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Figura 8 Shapley parte da idéia de que os sistemas de estrelas interagem com outros sistemas de estrelas pela interação
gravitacional. Assim, um agrupamento de estrelas, um aglomerado globular, deverá orbitar o conjunto de estrelas da
Galáxia pelo centro gravitacional da Galáxia. Então a dsitribuição dos aglomerados deverá dar uma boa idéia de nossa
localização dentro da Galáxia. Caso estejamos muito próximos do centro a distribuição azimutal de aglomerados deveria
ser aproximadamente uniforme. Quanto menos uniforme for mais distante do centro estaremos e a direção ao centro
estará na direção do maior número de aglomerados.
Figura 9 Quanto maior for uma fogueira mais tempo ela durará; claro possui mais madeira para ser queimada. Quando
tenta-se correlacionar a massa da estrela com seu brilho percebe-se que o tempo de “queima” da estrela difere da idéia
da fogueira. O diagrama massa luminosidade mostra que o brilho cresce muito mais rapidamente do que a massa. Se
o brilho duplica-se e tivessemos o dobro da massa terı́amos o mesmo tempo de “queima”. Como a massa cresce muito
mais lentamente, as estrelas muito brilhantes “queimar-se-ão” muito mais rapidamente.
vitação dos aglomerados globulares, com o centro de
gravitação do disco, dito galático, e o centro de gravitação do disco com o centro “fı́sico” da Galáxia.
Observacionalmente, se estivermos muito próximos
por Dietmar William Foryta
ao centro da Galáxia deveriamos perceber o mesmo
número de aglomerados em não importa qual direção
de observação. Por outro lado caso estejamos cada vez
mais distantes do centro perceberemos que o número
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Introdução à Astronomia e à Astrofı́sica
Figura 10 Como nos aglomerados de estrelas devem bem provavelmente ter “nascido” ao mesmo tempo, podemos estimar então, com a depopulação da sequência principal, que os aglomerados mais velhos são aqueles que possuem menor
Sequência Principal. Através do conhecimento da fı́sica do núcleo atômico, pode-se estimar qual deva ser o tempo de vida
das estrelas em sequência principal. Assim, o ponto de saı́da da Sequência Principal implicará na estimativa da idade do
Aglomerado ele próprio, bem como de suas estrelas.
de aglomerados globulares deverá ser maior na direção
do centro da Galáxia. Conseguirı́amos também, caso
não estejamos muito próximos ao centro, a direção
do centro da Galáxia. E Shapley assim procedeu, e
obteve como resultado o diagrama da figura 8 que
evidência que não só não estamos próximos do centro
da Galáxia, mas consideravelemnte longe deste centro. A uma distância de 30 000 anos-luz do centro de
um disco com aproximadamente 120 000 anos-luz de
diâmetro. Os valores são sistematicamente melhorados, com apoio de outras técnicas de determinação da
posição do centro galático, e, hoje, estima-se que estamos perto de 23 000 anos-luz do centro galático (veja
a figura ?? como esboço do sistema em forma de disco
da Galáxia e de nossa posição dentro deste disco).
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A Nossa Galáxia e o Universo
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Figura 11 O aglomerado galático das Pleiades pode ser estudado através do seu diagrama côr-magnitude, esboçado embaixo
a esquerda. A partir da comparação com os diagramas teóricos da figura 10 pode-se estimar a idade do sistema. Outros
diagramas reais podem ser obtidos de outros aglomerados, para comparação tem-se, também embaixo, a direita, o diagrama
côr-magnitude para o aglomerado Praesepe cuja idade inferida difere das Pleiades já que os diagramas diferem. Este
fenômeno é reflexo da percepção de que quanto maior for a emissão de energia por parte da estrela, mais rapidamente
a estrela irá consumir seu reservatório de energia disponı́vel. Assim, as estrelas da parte esquerda do diagrama côrmagnitude rapidamente irão desaparecer com a idade. Assim estima-se a idade do grupo de estrelas.
5. A Idade das Estrelas
O que foi evidênciado anteriormente é que se estrelas pertencem a um mesmo aglomerado pela ação da
por Dietmar William Foryta
gravidade mantendo-as próximas, então bem provavelmente estas estrelas deverão ter se formado já como
membros destes aglomerados e assim todas terão a
mesma idade. Como questionar sobre a idade das es-
12
Introdução à Astronomia e à Astrofı́sica
Figura 12 A galáxia de Andromeda, visı́vel a olho nú no hemisfério Sul, tem dimens Ões aparentes muito grandes, chegando
a ser aproximadamente duas vezes o tamanho aparente da Lua. As estrelas que aparecem nesta imagem são pertencentes
a Galáxia e não são de Andromeda. A medida da distância até Andromeda poderia ser feita utilizando-se telescópios de
maior tamanho de maira que possamos encontrar na imagem estrelas isoladas pertencentes à Andromeda.
trelas?
A antiga analogia do Sol ser parecido com o fogo de
uma fogueira pode não ser adequada, mas qual conclusão tirarı́amos sobre a idade das estrelas quando
estas forem imaginadas como uma fogueira? Quanto
maior uma fogueira, mais “quente” esta será. Isto
significa que a fogueira estará emitindo mais energia a cada instante do tempo do que outra mais
“fria”. Então, se temos madeira, ou qualquer outro
combustı́vel, uma quantidade de energia a ser gerada
implicará no consumo de uma quantidade de combustı́vel. Se a fonte emite mais energia por unidade
de tempo, então o consumo de energia será proporcionalmente maior. Seria esta conclusão adequada?
Como verificar isto?
Para as estrelas próximas tem-se facilmente um
catálogo de estrelas contendo informações sobre sua
luminosidade aparente, potência absoluta,... precisase das massas das estrelas. Como obter a massa das
estrelas?
Considere um par de pessoas dançando, interagindo
de maneira que permaneçam próximas uma da outra.
Caso as duas pessoas tenham a mesma massa, então as
duas girarão equidistantes a um ponto entre elas, mas
se uma delas for muito mais “pesada” do que a outra,
então o movimento da dança será diferente, o ponto de
giração ficará muito mais próximo da pessoa “maior”.
Outro mais, quanto mais rápido for o movimento mais
forte terão de se segurar um ao outro. Para as estrelas a força de atração sendo a gravitação podemos
então observando as ampitudes do movimento e sua
periodicidade a massa e a razão de massa das estrelas
(duplas).
Assim, com o catálogo enriquecido, peo menos para
as estrelas duplas, com os valores de massa, tentemos
verificar a possı́vel correlação entre a massa e o brilho
absoluto das estrelas. O que resulta está colocado no
diagrama da figura 9.
Observando mais detalhadamente este diagrama, podemos verificar que o brilho da estrela cresce com a
massa da estrela, o que parece razoável, mas o brilho
cresce muito mais rapidamente, o que impicará que a
Curitiba, 21 de Outubro de 2003
A Nossa Galáxia e o Universo
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Figura 13 A partir da análise espectral das galáxias podemos estimar qual sua velocidade em relação a nós. Hubble em
1929, percebeu que existe uma correlação entre os valores numéricos das velocidades radiais e a distância à galáxias então
conhecidas. Esta relação é conhecida hoje como “Lei de Hubble”.
estrela irá consumir muito, muito mais rapidamente
“seu combustı́vel” do que ela ganha com o aumento
de massa. Isto resultará que a estrela terá assim uma
vida mais curta. Observe que seja qual for a fonte
de energia da estrela, ela dverá estar associada a sua
massa e não a um agente externo a ela.
quando se tem uma estimativa deve-se levar em conta
os possı́veis erros das medidas e de modelagem. Com
isto o erro do valor indicado pode ser de até 4 bilhões
de anos para mais ou para menos.
Como as estrelas mais brilhantes estão no extremo
superior da Sequência Principal então como elas irão
evoluir muito mais rapidamente do que as estrelas da
parte inferior da Sequência Principal, e assim aglomerados de estrelas mais “antigos “ irão conter uma deficiência de estrelas de grande massa. Tal fenômeno
pode ser observado no diagrama côr-luminosidade
para dois aglomerados de estrelas conhecidos como
Pleiades e Praesepe, na figura 11.
6. O Tamanho do Universo
Análises modernas podem obter valores para as idades
em função da massa, e estão esboçadas na figura 10.
Observe na referida figura que a idade cresce muito
rapidamente quanto mais fundo for a exaustão das estrelas, o que mostra que estrelas de pequena massa
podem ter idades imensamente grandes.
As estimativas atuais indicam que podem haver aglomerados de estrelas com idades de até 19 bilhões de
anos. Se imaginarmos, sustentados pela análise do
dito paradoxo de Olbers, que o Universo tem uma
idade, as estrelas mais antigas tendo idades da ordem de 19 bilhões de anos, então o Universo deverá
ser algo mais “velho” do que este valor. Deve-se ter o
cuidado de tomar o número muito ao pé da letra, pois
por Dietmar William Foryta
Além das estrelas e dos aglomerados de estrelas podemos observar nos céus outros objetos que chamam
a atenção. Parte destes objetos tem uma aparência
espiral o de uma espiral em perfil, uma outra parte
tem aprarências irregulares. Um destes objetos que
chamam a atenção é a conhecida “Andromeda” que
aparece nos céus do hemisfério Sul e seu tamanho aparente é duas vezes maior do que o tamanho aparente
da Lua.
Considerando que quando a Via Lactea foi observada
por telescópios pode-se perceber que a luminosidade
leitosa era na realidade montes de estrelas fracas muito
próximas umas das outras, pode-se conjecturar que
tais objetos possam ser também aglomerações de estrelas. A aparência de discos em várias inclinações
sugere rapidamente que tais objetos possam ser parecidos com a Galáxia.
A partir da idéia de que objetos, naturais, semelhantes não difiram horrendamente um do outro em tamanho, então aquelas estruturas deverão ter tamanhos próximos ao tamanho da Galáxia. Isto implicaria
14
Introdução à Astronomia e à Astrofı́sica
Figura 14 A idéia básica por trás da “Lei de Hubble”, de 1929, é que existe uma relação entre a distância às galáxias
e dua velocidade radial observada. Caso esta relação seja geral, conhecendo-se a velocidade radial poderemos estimar a
distância à galáxia observada. Esta suposição parece ser confirmada, por exemplo em 1931, obtendo-se mais galáxias com
distâncias determinadas por outro processo independente da velocidade radial, por exemplo a relação perı́odo-luminosidade
para estrelas variáveis.
numa enorme distância entre estas “ilhas” de estrelas.
galáxias mais próximas.
Daı́ parte a necessidade de determinar a distância a
estes objetos intrigantes. Assim se pudermos utilizar
a técnica de medida de distância por meio das estrelas variáveis teremos primeiro de identificar estrelas
isoladas nestes objetos, e, ainda mais, encontrar estrelas variáveis adequadas. Isto implica em obter-se
telescópios cada vez maiores, e com o custo associado.
Para verificar a validade desta idéia extensões da medida por estrelas variáveis em outras galáxias com
a velocidade radial foram feitas para outras galáxias
em 1931 por Hubble e Humason. Se extrapolarmos
ainda mais esta idéia medindo todas as velocidades
das galáxis, medida que independe da distância entre o
observador e a galáxias observada, poder-se-á ter suas
distâncias. Encontrada a galáxia mais “rápida” esta
será a mais distante. E assim o tamanho do Universo
contendo galáxias.
No ı́nı́co do século XX, finalmente os telescópios puderam atingir tal performa-se, construindo-se assim paulativamente um catálogo análogo ao de estrelas, mas
para as galáxias. Tal qual foram verificadas as propriedades fı́sicas das estrelas entre si para identificar “leis
empı́ricas” o mesmo foi feito para as galáxias.
Um fato chamaou a atenção imediatamente nestes
catálogo, em formação, as velocidades radias, mensuráveis pelo deslocamento das linhas de absorção e de
emissão das galáxias, implicavam que estas galáxias,
a uma excessão, estavam se afastando do observador.
Por que? Com que padrão?
Procurando correlações entre os valores das velocidades radiais, Hubble, em 1929, percebeu que a propriedade fı́sica mais provável seria a distância, figura
14. Hubble chega a uma conclusão impressionante,
se esta correlação for verdadeira, pela medida das velocidade radias das outras galáxias que não se tem
a distância, poderemos inferir a sua distância pelo
diagrama. Coincidentemente, as velocidades radiais
das outras galáxias eram maiores do que aquelas das
7. A Idade do Universo
Observe que existe uma correlação linear entre a velocidade e a distância. Se fizermos a “evolução para o
passado” as galáxias estarão todas juntas em um certo
tempo neste passado. Assim basta inverter o coeficiente angular e teremos portanto a idade do sistema
de galáxis. Esta idade inferida pela Lei de Hubble indica que a idade do Universo deverá ser próxima a 14
bilhões de anos.
Aglomerados de estrelas com 19 bilhões de anos e o
Universo de galáxias com 14 bilhões de anos? Alguma
coisa está errada! Estaria mesmo errada?
Deve-se ter cuidado com as “interpretações” paressadas, pois os valores nominais apresentados são claramente discordantes, mas os valores nominais não são
Curitiba, 21 de Outubro de 2003
A Nossa Galáxia e o Universo
incentos de “erro” de medida e de modelagem. Assim,
com uma barra de erro nas estimativa for da ordem de
4 bilhões de anos para mais ou para menos, não haverá
nenhuma discordância nos valores. O que implica, na
por Dietmar William Foryta
15
comparação dos valores nominais e das barras de erro,
é que os modelos deverão ser melhorados ou mesmo
termos de desenvolver novas maneiras para tais determinações.
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