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Sumário
Lembra dessa?
Gripe
Carro econômico e de design inovador
criado dentro do Projeto Sabiá, da Uemg,
conquista primeiro lugar em competição
internacional.
Técnica ainda pouco utilizada no Brasil
pode fornecer respostas sobre a ação de
patógenos e ajudar a combater doenças
como a gripe suína.
33
6
Hidropólio
Lixo
Trabalho avalia o potencial energético do
lixo domiciliar produzido em Belo Horizonte para que, num futuro próximo, esse
resíduo possa ser transformado em fonte
renovável de energia elétrica.
Equipamento desenvolvido na Unifei
aproveita a correnteza de rios de pouca
profundidade para gerar energia elétrica,
beneficiando especialmente comunidades
ribeirinhas.
34
12
Controle
Bactéria
Método avalia, de forma rápida, a presença de resíduos de carrapaticidas no leite
e em produtos lácteos, fornecendo dados
sobre qualidade e parâmetros para o manejo sanitário dos rebanhos.
16
Anemia
Grupo da UFU é referência no estudo de
bactéria que ataca o sistema gastrintestinal
do homem e está relacionada a síndromes
que afetam o sistema nervoso.
36
Cachaça
A fim de garantir a qualidade da bebida,
pesquisadores identificam compostos presentes no aroma da cachaça, separando os
desejáveis daqueles que comprometem o
sabor.
40
Pesquisa procura caracterizar o vírus responsável pela anemia infecciosa das galinhas, doença que ataca o sistema imune
e acarreta prejuízos significativos aos produtores.
20
TPM
Educação
A chegada da escola em aldeias da etnia
Xakriabá e as consequentes transformações no modo de vida da comunidade
são foco de estudo de um grupo multidisciplinar.
As mulheres conhecem. Os homens não
entendem. Duas médicas analisam os sintomas e formas de tratamento da TDPM,
uma versão mais grave da TPM que afeta
5% da população feminina.
42
23
Inovação
Empresas propiciam a aproximação entre
academia e mercado, contribuindo para
que os resultados de projetos de pesquisa cheguem à população na forma de produtos ou processos inovadores.
26
Especial
Em cerimônia que reuniu pesquisadores de
todo o país, FAPEMIG se torna membro
institucional máster da Academia Brasileira
de Ciências (ABC), o que abre portas para
novas parcerias.
46
Cientistas brasileiros
Flores
Pesquisas com espécies tropicais avançam
na fazenda experimental da Epamig, transformando a região em um polo estratégico e competitivo de floricultura.
Lucilia de Almeida Neves Delgado, historiadora, escritora e cientista política, fala sobre
a evolução da FAPEMIG e o cenário nacional
de ciência e tecnologia.
30
Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de Minas Gerais
MINAS FAZ CIÊNCIA tem por finalidade divulgar a produção científica
e tecnológica do Estado para a sociedade. A reprodução do seu conteúdo é permitida, desde que citada a fonte.
50
Ao leitor
Expediente
MINAS FAZ CIÊNCIA
Assessora de Comunicação Social e Editora:
Vanessa Fagundes (MG-07453/JP)
Redação: Vanessa Fagundes, Ariadne Lima (MG09211/JP), Patrícia Teixeira (ES-01020/JP), Juliana
Saragá e Raquel Emanuelle Dores (estagiária)
Colaboração: Letícia Orlandi, Thaís Pontes e
Virgínia Fonseca
Ilustrações: Bruno Vieira
Revisão: Aline Luz
Projeto gráfico/Editoração: Fazenda
Comunicação & Marketing
Montagem e impressão: Lastro Editora
Tiragem: 15.000 exemplares
Fotos: Lucas Prates, Marcelo Focado e Thaiane
Andrade
Agradecimentos - Agradecemos a todos os
colaboradores desta publicação
Redação - Rua Raul Pompeia, 101 - 12.º andar
São Pedro - CEP 30330-080
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Capa: Flores
Foto: www. sxc.hu
Nº37 mar. a mai/2009
GOVERNO DO ESTADO
DE MINAS GERAIS
Governador: Aécio Neves
SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA,
TECNOLOGIA E ENSINO SUPERIOR
Secretário: Alberto Duque Portugal
Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de Minas Gerais
Presidente: Mario Neto Borges
Diretor Científico: José Policarpo G. de Abreu
Diretor de Planejamento, Gestão e
Finanças: Paulo Kleber Duarte Pereira
Conselho Curador:
Presidente: Paulo Sérgio Lacerda Beirão
Membros: Afonso Henriques Borges
Anna Bárbara de Freitas Proietti
Evaldo Ferreira Vilela
Francisco Sales Horta
Giana Marcellini
João Francisco de Abreu
José Cláudio Junqueira Ribeiro
José Luiz Resende Pereira
Magno Antônio Patto Ramalho
Paulo César Gonçalves de Almeida
Valder Steffen Júnior
4
MINAS FAZ CIÊNCIA - DEZ.
MAR./2008
A MAI.
A /FEV.
2009
/ 2009
Por trás do nosso cafezinho ou do pão de queijo mineiro existem anos
de estudos e o esforço de vários pesquisadores para garantir a qualidade e
a competitividade desses produtos, sem perder o gostinho da tradição. A
ciência, a tecnologia e a inovação estão presentes em todos os momentos
de nossa vida, mesmo que, às vezes, isso não seja tão óbvio. Um exemplo é o
cultivo de flores na região do Campo das Vertentes, uma atividade praticada
há anos que, com a ajuda de centros de pesquisa, está ganhando o mercado
nacional e internacional.
A Minas Faz Ciência já havia publicado uma reportagem sobre os estudos
nessa área em sua edição nº25. Esses trabalhos evoluíram e culminaram na
implantação, pela Epamig, de um Núcleo Tecnológico de Floricultura dentro
da Fazenda Experimental Risoleta Neves (FERN), em São João del Rei. O
órgão pioneiro visa a estimular o segmento, tanto na produção de pesquisas
quanto na difusão de tecnologias, proporcionando novas alternativas para a
geração de emprego e renda. No local, são realizadas pesquisas sobre diversas espécies, entre elas flores tropicais, típicas de região quente e de aspecto
exótico. O resultado é que, hoje, Minas Gerais é hoje o segundo maior Estado
em área plantada para cultivo de flores no Brasil.
Também é destaque dessa edição um trabalho realizado na Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (Cetec) que investiga o potencial energético
do lixo domiciliar produzido em Belo Horizonte. Um estudo preliminar já
mostrou que esses resíduos são capazes de gerar, em média, 3.500 kcal/kg de
energia diariamente. Isso equivale a 9,6 milhões de kWh/dia, o suficiente para
alimentar 30 milhões de lâmpadas de 100 watts durante seis horas. Dividido
em etapas que incluem um estudo socioeconômico da população da capital
mineira e a determinação do poder calorífico do lixo, o trabalho promete,
também, garantir uma destinação mais adequada a esses resíduos, que hoje
são descartados em aterros sanitários, aterros controlados e lixões.
Mulheres e homens, não deixem de conferir, ainda, reportagem sobre
uma condição que afeta 5% da população feminina mundial: o Transtorno
Disfórico Pré-Menstrual ou TDPM, uma forma grave da já conhecida TPM.
Nesse caso, os sintomas comuns da TPM, como mau-humor, irritabilidade ou
depressão, são significativamente acentuados, trazendo desequilíbrios para a
vida pessoal, familiar e profissional das pacientes. Duas médicas estudaram a
ação de uma nova droga para o tratamento do transtorno, com resultados
preliminares promissores. Enquanto o uso desse novo medicamento aguarda
para ser incorporado à rotina médica, elas ensinam que a melhor forma de
combater os sintomas e a discriminação é a divulgação do tema e o autoconhecimento.
Em tempos de gripe suína, vale conhecer o trabalho de um grupo de pesquisa mineiro, que colocou o Estado no centro dos debates sobre formas de
contenção e prevenção da doença. Desenvolvido pelo Centro de Pesquisas
René Rachou e pelo Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, o estudo promete fornecer respostas para a compreensão do agente infeccioso e a produção de uma vacina eficaz. A base é a técnica conhecida como genética reversa,
que permite mapear e manipular o vírus, atenuando ou potencializando algumas de suas características. A técnica é utilizada de forma pioneira pelo grupo
e motivou o convite para reunião com o Ministério da Saúde, a fim de discutir
a intensificação e aceleração das pesquisas sobre a influenza no país.
Por fim, um convite. Em outubro, será realizado em Belo Horizonte o X
Congresso Brasileiro de Jornalismo Científico com o tema “Jornalismo Científico e Desenvolvimento Sustentável”. O evento, que acontece a cada dois
anos, já é tradicional da área e, este ano, contará com o apoio da FAPEMIG.
Essa será uma oportunidade valiosa para conhecer os profissionais envolvidos com a cobertura da área de C&T, conhecer os projetos que estão sendo
desenvolvidos em outros estados e discutir questões relevantes para a área.
Vanessa Fagundes
Editora
Cartas
entidade com as universidades. Por essa razão, é possível apresentar enfoques das mais
variadas áreas da ciência.Tomei conhecimento
da revista através de um amigo, que é engenheiro agrícola e recebe trimestralmente um
exemplar da conceituada publicação. Como
sou professor de Biologia e Ciências no Ensino
Médio e Fundamental, gostaria de ter a honra
de recebê-la também, para que eu possa estar atualizado das conquistas de Minas Gerais
no campo acadêmico-científico e, dessa forma,
repassar tais informações para meus alunos
nas escolas onde trabalho.”
Gleisson Araújo Nunes
Professor
Piumhi/MG
“Ao ler a revista durante uma visita à casa de
um amigo fiquei muito interessado no conteúdo. Conclui que é de grande importância para
minha vida acadêmica e profissional, uma vez
que apresenta a produção científica e tecnológica do Estado para a sociedade.”
Marcílio Gomes da Silva
Publicação trimestral da Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de
Minas Gerais - FAPEMIG
nº 36 - dez/2008 a fev. /2009
MINAS FAZ CIÊNCIA informa que as cartas enviadas à Redação podem ou não ser
publicadas e, ainda, que se reserva o direito
de editá-las, buscando não alterar o teor e
preservar a ideia geral do texto.
“Recebi a revista 35 e meu neto de 9 anos
veio a minha casa ontem à noite. Ele mora
em Ribeirão Preto, estuda no Colégio Ideal
e é muito interessado em pesquisas (ele lê
desde 4 anos, sabe muito sobre dinossauros e sobre astros). Não preciso dizer para
vocês o que aconteceu... Juro que não vou
falar que perdi minha revista, mas mostrei
mais um caminho (a FAPEMIG) para uma
criança que se interessa e que já fala em
pesquisa... Me surpreendi: ele com a revista
na mão fazendo contato com vocês, passou o endereço dele em Ribeirão, da escola dele. Venho fazer dois pedidos: 1) uma
atenção especial para essa criança (Lucca
), ele promete; 2) não li a revista e gostaria
de receber outra. É uma duplicata, mas tenho certeza que trará frutos.”
Maria das Dores Lima
Franca/SP
“Primeiramente, gostaria de parabenizálos pelo conteúdo da revista editada pela
FAPEMIG, pois o mesmo mostra como o
povo mineiro apresenta conhecimento
acadêmico de ponta, graças à parceria da
Estudante do curso de Ciência e Tecnologia
de Laticínios/UFV
Viçosa / MG
“Alguns meses atrás tive o privilégio de conhecer a MINAS FAZ CIÊNCIA e os conteúdos
abordados me interessaram, assim como ao
meu coordenador de Proteção Radiológica e
Ambiental. Com muita alegria, ele constatou
que os temas abordados são muito importantes e de uma contribuição enorme para nosso
trabalho e para nosso dia-a-dia. Parabenizo e
aplaudo todos que contribuem para esse trabalho de grande valia.”
Maria Aparecida R. Claudino
Auxiliar de Administração/ Indústrias Nucleares do Brasil (INB)
“Gostaria de receber gratuitamente as edições da revista MINAS FAZ CIÊNCIA, pois tenho interesse nas reportagens publicadas. As
notícias divulgadas, para mim, são de muita
importância.”
Eliana Rocha
Estudante de Ciências Biológicas/ Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)
Cruz das Almas/BA
“Sinto-me privilegiado e feliz por receber a
revista MINAS FAZ CIÊNCIA, que tem contribuído para a formação de minha cidadania e
a divulgação científica no grande Estado de
Minas Gerais. Aproveito e parabenizo o antigo
e o novo presidente da Fundação, Sr. Mario
Neto Borges.”
Daniel Marques
Historiador
Virginópolis-MG
“Recentemente tive a oportunidade de
conhecer a revista MINAS FAZ CIÊNCIA,
uma publicação muito interessante e da
qual gostei muito. Fiquei sabendo, também, que sua distribuição é gratuita, e
para recebê-la basta cadastrar-se. Por isso
envio a vocês este e-mail, para solicitar
calorosamente que me incluam na lista
dos beneficiados de tal recebimento. Seria
um grande prazer poder ler regularmente
uma publicação sobre o fascinante mundo
da ciência publicada pela FAPEMIG e que,
com certeza, contribuiria, e muito, para enriquecer meus conhecimentos científicos.”
Fernando Augusto Gouvêa Reis
Estudante de Química/Cefet-MG
Belo Horizonte/MG
“Conheci a revista editada por esta instituição e gostei muito da qualidade do trabalho realizado por vocês. Gostaria de recebê-la, porque será de grande ajuda para
trabalhar com meus alunos temas atuais
sobre Ciências, pois nosso papel hoje como
educadores é fazer com que nossos alunos
façam uma leitura de mundo de forma
atualizada e responsável. Sei que o conteúdo desta revista irá proporcionar estes
momentos em sala de aula.”
Moacir Alves Moreira
Professor
Contagem/MG
“Quero agradecer o envio regular das edições da revista, que muito tem sido útil
para meus trabalhos de Saúde Comunitária e Saúde Ambiental. Estamos produzindo e ensinando crianças e jovens a produzir as tintas a base de terra, ensinada
em um dos exemplares. Particularmente
me foi útil a Edição Especial de nov.2008:
Bioética. Fui membro de duas bancas de
mestrado em Bioética na Univás - Pouso
Alegre (MG) e a leitura dos artigos publicados muito contribuíram para este trabalho
junto aos mestrandos.”
Maria Lígia Mohallem Carneiro
Professora universitária
Belo Horizonte/MG
“Agradeço-lhes pelo envio da edição de nº
36, a qual abrange vários assuntos muito importantes como Doença de Chagas,
Própolis, Eucalipto, Suinocultura, etc. Parabenizo o novo presidente da FAPEMIG, sr.
Mário Neto Borges, pelo trabalho que já
está prestando ao nosso Estado e ao nosso
país, e também por liderar o Confap. Minas faz, mostra, renova e lidera a Ciência.”
Roselé Fernando de Andrade
Universidade de Itaúna.
Itaúna - MG
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/ Revista MINAS FAZ CIÊNCIA - Rua Raul Pompéia, 101 - 12.º andar - Bairro São Pedro - Belo Horizonte/MG - Brasil - CEP 30330-080
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
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Precaução,
sim.
Pânico,
não.
“Um vírus mortal está se espalhando rapidamente. De origem
animal, ele pode ser transmitido por meio de uma simples tosse.
Os cientistas, agora, correm contra o tempo para encontrar uma
solução e evitar uma tragédia de proporções mundiais”.
O parágrafo acima poderia ter sido tirado de um jornal da
última semana, mas, na verdade, trata-se do enredo do filme “Epidemia”, uma produção americana lançada em 1995. Não é coincidência que a situação se pareça com a enfrentada atualmente pela
disseminação do vírus H1N1, responsável pela gripe suína. Afinal, a
possibilidade de aparecimento de uma doença altamente virulenta, capaz de se propagar rapidamente e causar uma infinidade de
mortes, sempre assombrou a humanidade.
Hoje, a chance de algo parecido acontecer não é pequena. Afinal, a facilidade e velocidade de deslocamento das pessoas tornam
quase impossível conter um vírus. A configuração das cidades modernas, repletas de espaços pequenos e fechados onde dezenas
de pessoas convivem diariamente, também facilita a propagação.
Isso sem falar na constante exploração de novos ambientes, o que
provoca a migração de vetores e o aparecimento de doenças até
então desconhecidas ou restritas a determinado perímetro.
Foi o que aconteceu com o H1N1. Os primeiros casos foram
divulgados em abril e, quatro meses depois, o mapa da doença inclui até mesmo ilhas mais isoladas. A população respondeu
com medo: escolas adiaram o início das aulas, alguns governos
sugeriram evitar locais fechados ou de grande concentração de
pessoas, máscaras cirúrgicas se tornaram comuns especialmente
em aeroportos. A comunidade científica, por sua vez, respondeu
com uma mobilização mundial para descoberta de tratamentos e
formas de prevenção.
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MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
Um desses trabalhos está sendo
desenvolvido no Centro de Pesquisas René Rachou (CPqRR), unidade
da Fundação Oswaldo Cruz em Minas Gerais, em parceria com outras
unidades da Fiocruz e com o Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (ICB
- UFMG).O grupo, formado por cinco
pessoas entre pesquisadores e alunos,
utiliza, de forma pioneira, uma técnica
chamada genética reversa para obter,
a partir do mapeamento do código
genético do vírus, uma vacina eficiente
para a influenza A. O estudo é coordenado pelo pesquisador Alexandre
Vieira Machado, membro do grupo
de vacinas chefiado pelo pesquisador
Ricardo Tostes Gazzinelli, do CPqRR
e da UFMG). Machado teve contato
com a técnica há seis anos, durante o
doutorado em Virologia no Instituto
Pasteur, na França.
Os primeiros resultados são promissores. “O objetivo é que, futuramente, uma pessoa que vá a um posto
de saúde consiga se vacinar, ao mesmo
tempo, contra gripe e contra doença
de Chagas, por exemplo”, diz. Recentemente, o pesquisador e o diretor do
CPqRR, Rodrigo Corrêa, foram convidados para uma reunião no Ministério
da Saúde a fim de apresentar os estudos que estão sendo desenvolvidos
em Minas Gerais.
Nesta entrevista, Machado fala sobre seu trabalho pioneiro com a genética reversa e a importância da interação entre pesquisadores de diferentes
grupos e instituições. E faz um alerta: a
situação é preocupante, mas não justifica o pânico.
Há cerca de três anos, o mundo
entrou em alerta devido a gripe aviária, provocada pelo vírus H5N1. Esse
assunto deixou de ocupar as manchetes e, agora, enfrentamos problema parecido com a gripe suína (vírus
H1N1). Será que vamos continuar a
ser surpreendidos com o aparecimento de novas doenças? Não há forma de
prever ou controlar o surgimento de
enfermidades desse tipo?
Primeiro, é importante dizer que
não tivemos o problema da gripe aviária, nós ainda o temos. A questão é
que essa gripe não se espalhou pelo
mundo da maneira que imaginamos.
Isso se deveu, principalmente, ao fato
de que a transmissão da ave para o
homem é difícil e a do homem para
o homem, até o momento, é nula ou
praticamente inexistente. Diferentemente da gripe suína, que se adaptou
ao ser humano.
Mas com relação ao vírus da influenza aviária, felizmente ela está
controlada. Se olharmos na página da
Organização Mundial de Saúde (OMS
- http://www.who.int/), vez ou outra
vemos alguns casos que, normalmente, são fatais. Lembrando que, quando
falamos em vírus aviários, temos que
pensar que o H5N1 tem diferentes
tipos de virulência, que variam entre
moderadamente e altamente virulentos. Com a gripe suína temos o oposto: um vírus altamente transmissível,
mas cuja virulência é de moderada a
branda. O que está acontecendo é a
mudança do perfil das pessoas infectadas com o vírus. Até pouco tempo
atrás, achávamos que ele atingia as
pessoas com o perfil clássico: asmáticas, idosas, com problemas cardíacos e
imunossupressão, seja natural ou induzida por medicamentos. Hoje, o perfil
é diferente. A gripe suína ataca pessoas
obesas, grávidas. Isto é preocupante.
Mas é importante considerar que
o número de mortes ainda é pequeno
se comparado com outras doenças,
Fotos: Juliana Saragá
Fotos: Juliana Saragá
Entrevista
As pesquisas sobre influenza desenvolvidas
no ICB/UFMG contam com o apoio da
FAPEMIG e do CNPq e envolvem uma equipe
de cinco pessoas, entre professores e alunos.
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
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de dez anos. Inicialmente, trabalhava
na França, onde fiz meu doutorado
e aprendi a técnica. No Brasil, posso
dizer seguramente que o nosso grupo é o precursor da técnica. Nós começamos a trabalhar com o influenza
em 2004 e posso dizer que essa área
guarda muitas promessas. É importante salientar que este é um trabalho de
grupo, chefiado por Ricardo Gazzinelli,
pesquisador da Universidade Federal
de Minas Gerais e do Centro de Pesquisas René Rachou. Ele nos deu apoio
moral, logístico e financeiro e, se não
fosse isso, não teríamos conseguido
começar o projeto, pois é muito difícil
para um pesquisador iniciante conseguir financiamento e estabelecer uma
linha de pesquisa.
A técnica da genética reversa permite reconstituir o vírus e alterar suas características. Uma
forma atenuada do agente infeccioso, por exemplo, é o que irá compor a vacina.
até com a própria gripe sazonal.Temos,
até agora, uma média de 800 mortes
no mundo provocadas pela gripe suína,
sendo que morrem de 100 a 500 mil
pessoas de gripe sazonal por ano. Sim,
a situação é muito preocupante, mas
não há nada que justifique o pânico.
O vírus precisa ser monitorado não
somente pela circulação no território
nacional, mas pelos possíveis derivantes ou mutações. Por exemplo, há uma
maior mortalidade na Argentina. É o
caso de saber se há um vírus mutante
por lá, ou se algum fator climático da
região aumenta sua letalidade.
humano?
Ainda há o problema das pessoas
que não vão aos hospitais, que ficam
em casa. Os sintomas clássicos da gripe são conhecidos, mas cada paciente
é um paciente. Da mesma forma, no
caso da gripe aviária, seguramente
aquele quadro de óbitos não corresponde à realidade de infecção. Se forem feitos exames de soroprevalência
para anticorpos contra H5N1, o número possivelmente será muito maior.
Como isso funciona dentro dos laboratórios, com as pesquisas científicas?
Os pesquisadores tentam antecipar os
tipos de doenças que podem surgir
e, nesse caso, já pensar em formas de
prevenção e tratamento?
Mas como um vírus especificamente
animal pode ser transmitido ao ser
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MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
É o que chamamos de transposição de
barreiras de espécies. O vírus vai se
adaptando. Pense o seguinte: em uma
população temos duas forças, a mutação e a seleção natural. A mutação
acontece a todo o tempo e em todos
os organismos. Então vem a seleção
daqueles que são mais adaptados. Evidentemente, existem várias mutações
do influenza que não chegam a lugar
algum. No caso da gripe suína, ocorreu
uma mutação que, ao entrar no ser
humano, se adaptou bem a ele.
Sim. O nosso grupo, por exemplo,
trabalha com uma técnica chamada
genética reversa. É basicamente uma
técnica de biologia molecular, popularmente chamada de engenharia genética. Eu trabalho com engenharia
genética de vírus influenza há cerca
Podemos dizer que influenza é uma
denominação geral para o tipo de
vírus?
Existem três tipos de influenza A, B e
C, que pertencem a uma mesma família de vírus. Em se tratando de doenças
humanas, o que interessa basicamente
é o influenza A. O influenza B causa
doença em um quadro mais brando e
está restrito ao ser humano, enquanto
o influenza C, do ponto de vista de doenças, é muito brando.
Temos vários subtipos de influenza A.
Quando falamos H1N1, H5N1, o que
é isto? São duas proteínas de superfície, a hemoglutinina (H) e a neuraminidade (N) . Existem diferentes tipos
de proteínas H e N, que podem se
rearranjar de maneira teoricamente
aleatória. Dentro de cada subtipo de
influenza temos as variantes. Exemplos
de subtipos: o H5N1, o H3N2 que apareceu em 1968, o H2N2 que apareceu
em 1957. O H1N1 não é um subtipo
novo. Na verdade, existem vírus H1N1
humanos que circula rotineiramente, a
vacina que tomamos este ano também
o previne. Mas o H1N1 que está provocando essa pandemia é suíno e só
agora entrou na população humana.
As vacinas que tomamos para o vírus
H1N1 humano não são capazes de
proteger contra o vírus H1N1 suíno.
A existência de variedades dificulta a
tarefa de prevenção, não é?
Exatamente. Por isso é de importância
fundamental que os centros de referência do Brasil e do mundo façam o
mapeamento genético do vírus, de tal
forma que seja possível tentar antecipar as variantes que podem aparecer, e
assim desenhar as vacinas para os anos
seguintes. Com relação ao vírus da gripe suína, ainda não podemos prever
o que irá acontecer. Esse é um vírus
que vai circular e depois desaparecer?
Ou ele irá se adaptar ao ser humano
e será mais um vírus contra o qual teremos que vacinar? Nós não sabemos,
são apenas possibilidades.
Como funciona a técnica de genética
reversa?
Chamamos de reversa porque é como
se nós fizéssemos o trabalho de trás
para frente. A gente manipula o genoma do vírus e o reconstitui a partir dos
clones moleculares. Basicamente, você
trabalha com o genoma do vírus e o
manipula, nos limites da natureza, da
forma como quer. Quer fazer um vírus
carregando a proteína de outro patógeno? Quer fazer um vírus mais atenuado? Você faz. Uma forma atenuada do
vírus, aliás, é o que irá compor a vacina.
Aqui no laboratório, nós trabalhamos
no desenvolvimento de vacinas, usando um modelo de camundongos, com
vírus adaptado. Quer dizer, ainda estamos em escala de laboratório, tentando estabelecer um protocolo de
vacinação para doenças negligenciadas,
como toxoplasmose e doença de Chagas. O nosso objetivo é, futuramente,
usar o vírus influenza neste protocolo,
de tal forma que possamos vacinar ao
mesmo tempo contra gripe e contra
uma doença de interesse. Dessa forma, a pessoa iria a um posto de saúde
para vacinar contra a gripe e vacinaria
também contra doença de Chagas ou
toxoplasmose. No caso do influenza, já temos projetos aprovados para
desenvolver vacinas bivalentes contra
influenza e toxoplasmose no modelo
suíno. Pois a gripe é também um problema da suinocultura, provoca perda
de peso do animal, algumas vezes até
a morte, trazendo prejuízos econômicos para o pecuarista. Além disto, ao
evitar a toxoplasmose no animal, evitaríamos também sua transmissão para
Para o mapeamento genético, é importante também que os diferentes
centros de pesquisa interajam. A ciência não pode ser encarada como um
A letra H, de H1N1, é a inicial de hemoglutinina, uma proteína localizada na superfície externa do vírus e que ele utiliza
para se fixar nas células humanas. O nome
vem da aglutinação das células do sangue.
Já a letra N é a inicial de neuraminidase,
uma proteína que quebra os açúcares da
célula sob ataque para liberar novos vírus.
Como as duas proteínas localizam-se no
lado externo do vírus, são elas que o sistema imunológico detecta e que os cientistas
procuram alvejar na busca por formas de
matar o vírus.
feudo, no qual cada um se torna um
suserano do seu domínio e não conversa com os outros. É muito importante que os pesquisadores de Minas
Gerais interajam com pesquisadores
de outros estados e de outros países.
Essa é uma questão de saúde pública não só nacional, mas mundial. Para
haver resultados, temos que trabalhar
em equipe.
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
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Quais as vantagens desse método?
Existem algumas vantagens. Atualmente, a vacina para influenza é obtida
utilizando como substrato o ovo embrionado. Mas cada ovo resulta em, no
máximo, duas doses de vacina – é muito pouco se compararmos com a febre amarela, em que cada ovo resulta
em 300 doses. Assim, para uma doença de risco populacional grande, você
tem de prever uma demanda de vacinas. No caso da gripe suína, temos que
vacinar a população em geral. O ideal
seria vacinar o maior número de pessoas possível, pois um infectado pode
transmitir a doença para um grande
número de pessoas. A propagação do
vírus acontece em escala geométrica.
Na genética reversa não é necessário
o ovo embrionado, é possível utilizar
cultura celular, o que facilita no aumento da escala.
Outro aspecto vantajoso é que a genética reversa elimina a necessidade
de manusear vírus altamente patogênicos nos laboratórios. Caso contrário, não conseguiríamos trabalhar com
um vírus muito virulento em um laboratório como esse, de nível de proteção dois. Com essa técnica, é possível
manipular o genoma do vírus antes
de criar o recombinante. Além disso,
usa-se o plasmídeo como ferramenta.
Plasmídeo é uma pequena molécula de
DNA, fácil de ser manipulada. Nós colocamos o material genético do vírus
ali e, rapidamente, conseguimos um
material idêntico. Para um vírus altamente virulento - que não é o caso do
vírus da gripe suína - a genética reversa conseguiria fornecer uma resposta
em tempo muito menor.
O senhor teve o primeiro contato
com a técnica de genética reversa na
França. Outros grupos brasileiros já
trabalham com ela?
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MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
Somos o primeiro grupo do Brasil, e
talvez da América do Sul, a trabalhar
com genética reversa. Somos pioneiros
e, até onde sei, os únicos a trabalhar
com a técnica no país. Mas acho que o
saber deve ser difundido. É importante
ter mais gente trabalhando com esses
objetivos, pois temos observado uma
sobrecarga no sistema de saúde. O
inverno no nosso país é brando, mas
onde faz mais frio a situação está complicada, como no caso da região Sul. E
esse é um vírus de virulência branda
a moderada, se aparecer um vírus do
tipo que provocou a gripe espanhola, como ficará a situação do sistema
de saúde? Uma coisa é lidar com um
surto de gripe, outra coisa é lidar com
uma pandemia. A própria OMS já está
tendo dificuldades de acompanhar a
evolução dos casos.
No fim de julho, a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos
do Ministério da Saúde (MS) convocou
o senhor e o diretor do Centro de
Pesquisas René Rachou, Rodrigo Corrêa, para uma reunião sobre os estudos
conduzidos em Minas Gerais sobre o
vírus H1N1. Como foi a conversa?
Isso aconteceu porque eu já tinha um
projeto em andamento com o BioManguinhos (Instituto de Tecnologia
em Imunobiológicos - Bio-Manguinhos
– é a unidade técnico-científica da
Fundação Oswaldo Cruz que produz
e desenvolve imunobiológicos para
atender às demandas da saúde pública).
Ironicamente, foi na semana em que a
gripe suína começou a se alastrar que
nós assinamos a carta compromisso.
O objetivo não é fazer vacina para
gripe suína. Caso existam empresas
capazes de produzir o vírus vacinal,
nós podemos gerar os recombinantes
para elas, sabemos que existem institutos no Brasil capazes de fazer isto.
Mas é até onde vamos: usar o nosso
know-how para gerar recombinantes.
Introduzir lotes vacinais pilotos, isso
Foto: Angelo Paulino
o ser humano, já que o principal foco
de transmissão desta doença é o consumo da carne de porco mal cozida.
O objetivo do grupo é, futuramente, obter vacinas bivalentes, de forma que uma pessoa, ao
buscar um posto de saúde, consiga se vacinar ao mesmo tempo contra a influenza e uma
outra doença de interesse
nós não temos condições de fazer.
Seria um projeto para mais de três
anos. Assim, nossa proposta é otimizar
a técnica de genética reversa usando
isolados humanos de gripe sazonal. A
pessoa gripada vai ao centro de saúde,
onde é coletado o material. Realizado
os testes, envia-se o vírus, extrai-se o
RNA, clona-se o plasmídio, gerando
um recombinante. Feito isto, enviaríamos para o Bio-Manguinhos para
produção em reator de 14 litros. Mas
as coisas andaram mais rápido do que
imaginávamos e a pandemia chegou
mais cedo. Tivemos um alerta amarelo
para a gripe aviária e agora, com gripe
suína, um alerta laranja. Temos um vírus moderadamente virulento, mas altamente transmissível. Uma pandemia
que se propaga em grande velocidade.
Em questão de três meses o vírus já
atingiu mais de 150 países.
para, futuramente, se uma situação parecida voltar a ocorrer, não ficarmos
na situação que nos encontramos,
dependendo de ajuda estrangeira. O
Brasil já assumiu: vacina contra a gripe
suína só na metade do ano que vem.
Devemos agir como os Estados Unidos: mandar as amostras vacinais, gerar recombinantes, fazer nossas próprias vacinas e imunizar a população.
Volto a dizer: não queremos competir
com nenhuma instituição de pesquisa.
Nosso objetivo é trabalhar em colaboração com quem desejar colaborar
e minimizar as consequencias negativas no caso de uma outra pandemia.
O que esperamos é que este projeto
não seja somente da Fiocruz, mas um
projeto nacional.
E não há mais como isolá-lo?
Não dá para dizer falar. Qualquer coisa
que eu dissesse seria um blefe. O que
posso dizer é que, se isso fosse uma
caminhada de uma milha, ainda estaríamos nos primeiros passos. Ainda vai
demorar para termos uma vacina, mas
esperamos poder contribuir com o
Brasil nessa tarefa.
Se você olhar o mapa da doença, não
só países, mas também ilhas mais isoladas já tem seus casos da nova gripe. O
vírus está globalizado, não tem como
controlar. O nosso objetivo é implementar a técnica de genética reversa
O senhor arrisca uma previsão? O que
pode acontecer daqui pra frente?
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
11
Energia que
vem do lixo
Pesquisadores desenvolvem estudo para
avaliar a viabilidade de implantação de
tecnologias sustentáveis em BH
Na segunda parte da trilogia “De volta para o futuro”, de 1989, o Dr. Emmett Brown (personagem
de Christhoper Lloyd) utiliza o lixo doméstico como
matéria-prima de energia para o De Lorean, sua máquina que viaja no tempo. No filme do diretor Robert
Zemecckis, o ano em questão é 2015. O que parecia
somente ficção científica nos anos 80, na verdade, antecipava possibilidades reais para o presente. Em um estudo preliminar, pesquisadores do Centro Tecnológico
de Minas Gerais (Cetec) obtiveram dados significativos:
o lixo produzido pelas nove regionais da cidade de Belo
Horizonte é capaz de gerar, em média, 3.500 kcal/kg de
energia diariamente. São 9.600.000 kWh/dia, aptos para
alimentar 30.000.000 lâmpadas de 100 watts durante
seis horas. Esses resultados fazem parte do projeto que
vai calcular o potencial energético do lixo domiciliar
produzido pela população da cidade, para que esse resíduo possa ser, num futuro próximo, transformado em
fonte renovável de energia elétrica.
A transformação do lixo doméstico em energia
elétrica pode parecer algo novo para a sociedade brasileira. O processo de conversão, no entanto, já é amplamente utilizado em diversos países europeus, além
de países como China e Índia, que também se destacam
no aproveitamento. Com o agravamento dos problemas ambientais em todo mundo, o uso de fontes renováveis de energia torna-se uma alternativa urgente para
reduzir o impacto dos dejetos produzidos pelo homem
e para poupar a natureza.
“A implantação de novas tecnologias para a reutilização sustentável do lixo depende de estudos de viabilidade”, observa o engenheiro civil e sanitarista Cláudio Jorge Cançado, que coordena o projeto intitulado
“Levantamento do potencial energético dos resíduos
12
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
domiciliares e comerciais urbanos do
município de Belo Horizonte”. A cidade enfrenta hoje o problema de falta
de área para a implantação de aterros sanitários. O estudo, por sua vez,
poderá possibilitar o aproveitamento
energético do lixo sem a necessidade de aterrá-lo. “O projeto, apesar de
não ser tão complexo, é muito importante porque vai oferecer uma informação que não existe. Trata-se de
uma pesquisa de levantamento básico,
para se começar a pensar que tipo de
tecnologia é mais adequado ao município”, diz.
O projeto
De acordo com Cançado, o projeto começa com um estudo sócioeconômico da população de Belo Horizonte. As nove regionais da cidade
foram estratificadas de acordo com
dados do último censo do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), que divide a cidade em mais
de 2.500 setores censitários – unidades individuais de planejamento para
a aplicação de pesquisas que, em conjunto, fornecem informações para a
composição do Censo. Outra fonte de
dados foi a Empresa de Informática e
Informação do Município de Belo Horizonte (Prodabel).
Nesta primeira parte do projeto,
Foto: Raquel Dores
Meio Ambiente
Gisele Andrade, Cláudio Jorge
Cançado e Viviane Lopes,
pesquisadores do Cetec
que já foi concluída, foram recolhidos
dados referentes à renda e à população. “O levantamento foi feito por
domicílio ou instituição focalizando a
renda porque sabemos que os resíduos sólidos variam de acordo com o
poder aquisitivo das pessoas”. Na divisão seguida, renda A equivale a mais
de 20 salários mínimos, renda B, 12 a
20 salários, renda C, 6 a 12 salários,
renda D, 2 a 6 salários e renda E, 0 a 2
salários mínimos.
Como explica o coordenador do
projeto, observa-se que quanto maior
o poder aquisitivo, maior é a ocorrência de embalagens, plásticos, entre
outros, alternando a composição do
lixo. Sabendo disso, a análise do lixo,
tendo como base a renda, busca obter
a maior representatividade da composição do lixo em função da renda de
sua população para cada região. Hoje,
aproximadamente 60% do volume de
resíduos sólidos gerados pela cidade é
material orgânico, como capina e poda
de árvore, mas, principalmente, comida.
Esse lixo também é classificado como
lixo úmido, que possui menor potencial de energia. “Para que se entenda a
implicação da umidade, basta que pensemos na situação: quando queremos
secar uma roupa, temos que gastar
energia para secá-la. Da mesma forma
ocorre com os resíduos sólidos”, diz.
A partir dos dados levantados,
foram elaboradas cartas (veja a figura) com a estratificação sócio-econômica por renda das nove regionais,
utilizando-se o apoio de softwares
de geoprocessamento. Estas foram
finalizadas com a colaboração da bióloga e bolsista da FAPEMIG, Viviane
Marcelina Barbosa Lopes. “As cartas
são importantes para se identificar
os setores censitários, a população e
a renda dentro das regionais de Belo
Horizonte e, a partir disso, também a
representatividade da composição do
lixo por cada classe social”, diz. O objetivo da análise
dos resíduos sólidos é a concretização da segunda parte do projeto: a realização de coletas por regional e de
acordo com faixa de renda de cada população. “Com a
estratificação, poderemos recolher amostras que sejam
realmente representativas de cada área. A região Centro-Sul da cidade, por exemplo, possui um percentual
de pessoas com um salário muito alto. Logo, a maioria
das amostras colhidas nessa área será da renda A, que
é predominante e que é bastante representativa da regional. Outro exemplo é a regional Barreiro, que possui
80% de sua população enquadrada na renda D. Então,
80% das amostras serão da renda D, porque 80% das
pessoas que moram no Barreiro vivem com essa renda”, diz o coordenador do projeto.
A terceira e atual etapa consiste em determinar
como será feita a coleta das amostras de resíduos sólidos. Com os nove mapas prontos, já existe um plano
de ação. A ideia é fazer um contato com a população
de cada região e combinar a coleta. Cançado estima
a coleta de 50 amostras por regional, que dariam no
final, 450 amostras em cada uma das quatro campanhas
ou estações do ano. O objetivo é obter o potencial de
cada regional, fazer uma média por época do ano e, finalmente, a média da cidade, levando em conta as épocas de chuva que, naturalmente, aumentam a umidade
do lixo, um dos principais fatores para a determinação
do poder calorífico dos resíduos.
Etapa laboratorial
As amostras recolhidas serão levadas para o Setor
de Análises do Cetec (Laboratório de Ensaios Orgânicos), onde serão determinados o Poder Calorífico
Superior (PCS) e o Poder Calorífico Inferior (PCI), respectivamente o potencial máximo e o potencial mínimo de energia que a porção pode gerar. Cada amostra
será homogeneizada, estratificada dentro de uma metodologia, triturada e encaminhada para a realização de
ensaios químicos em laboratório.
Além do processo realizado para a obtenção do
PCS e do PCI, será também feito outro ensaio que reduzirá os resíduos a seus componentes: carbono, oxigênio, nitrogênio, hidrogênio e enxofre. O objetivo é
obter o poder calorífico através de equações matemáticas, que também oferecem o resultado do potencial.
De acordo com a química Gisele Carolina da Fonseca
Andrade, que atua no laboratório de química orgânica
do Cetec, o PCS será obtido pela queima dos resíduos
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
13
na presença de oxigênio em um equipamento chamado
calorímetro. Já o PCI será obtido através de cálculos
matemáticos, dos componentes da amostra, da umidade e de seu PCS. “O setor de Análises Químicas determinará o carbono, hidrogênio, oxigênio (CHN) das
amostras”.
De acordo com Cançado, será possível chegar a
dois resultados que aumentarão ainda mais o rigor dos
resultados. “Nós teremos o poder calorífico obtido
experimentalmente, aqui no laboratório e este ainda
poderá ser comparado com o resultado obtido a partir de modelo matemático. Poderemos assim, verificar
se os dois resultados são próximos. Esses dados ainda
permitem avaliar se o resíduo e a coleta que fizemos
estão adequados ao resultado obtido”.
O coordenador ainda ressalta a importância de todas as etapas do projeto devido ao tamanho da amostra que vai efetivamente para o equipamento, que é de
um grama. “A ideia é que o laboratório faça um número
grande de amostras. Para cada amostra serão feitas de
10 a 15 determinações de poder calorífico, para a máxima representatividade do resultado que se está buscando”. Ainda de acordo com Cançado, as 3.500kcal/
kg de energia produzidas pela cidade revelam um valor
considerável, apesar de existirem perdas de energia no
processo de conversão. “Quando o lixo é transformado acontecem perdas de energia. No entanto, podese dizer que o potencial energético do lixo de Belo
Horizonte é bem alto e interessante”. O pesquisador
ainda pondera: “Trata-se de um dado preliminar e esse
estudo financiado pela FAPEMIG está sendo feito justamente para levantarmos esse potencial ao longo do
ano e com maior precisão para que ele possa viabilizar
investimentos na área”.
Lixo domiciliar
De acordo com Cançado, a ideia do projeto surgiu de estudos ligados à implantação de Planos de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos (PGIRSU),
uma iniciativa do Cetec que existe desde 1994 e engloba vários projetos em cidades mineiras. “Com o Plano,
observou-se que a questão da gestão dos resíduos sólidos urbanos é complexa, sendo que, mais de 500 municípios de Minas Gerais trabalham com lixão, uma das
piores alternativas do ponto de vista ambiental”, diz.
De acordo com dados do último censo do IBGE, todo
o país despejou 200 mil toneladas de resíduos por dia
em lixões, o equivalente a 73 milhões de toneladas por
ano. Para se ter uma ideia, enquanto Europa e EUA reciclam 40% de seu lixo, o Brasil chega à marca de 2%.
Hoje, o lixo domiciliar possui, basicamente, três destinos no país: aterros sanitários, aterros controlados e
lixões. A adequação ou não dos três sistemas se baseia
na forma como cada um protege o meio ambiente dos
dois resíduos que o lixo produz, o chorume, resíduo
liquido extremamente tóxico, e o gás metano, resíduo
14
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
gasoso altamente inflamável em contato com a atmosfera, podendo gerar
riscos de acidentes.
Dos três, o aterro sanitário é a solução mais adequada, pois o solo é impermeabilizado utilizando-se materiais
como a argila e a manta de polietileno
de alta densidade, protegendo-o da infiltração do chorume, além de possuir
drenos para os dois resíduos e vários
outros sistemas de proteção ligados à
questão ambiental. No aterro controlado, o lixo é compactado e coberto
com uma camada de terra, sem qualquer tipo de tratamento. E finalmente no caso do lixão, os resíduos são
simplesmente jogados a céu aberto,
ficando expostos a diversos animais
vetores de doenças, além do risco
ambiental ligado ao chorume e ao gás
metano.
Em São Paulo, o uso do lixo de
aterros sanitários para a produção de
energia elétrica já acontece. No aterro Bandeirantes, as sete mil toneladas
diárias de lixo foram convertidas em
uma economia de R$ 3 milhões por
mês em conta de luz pelo banco brasileiro Unibanco, que investiu R$ 48
milhões na construção de uma central
de geração elétrica. A iniciativa chegou
a gerar créditos de carbono – créditos
que podem ser vendidos para empresas de países desenvolvidos, obrigados
a reduzir suas metas de poluição para a empresa Biogás, que instala e
administra os equipamentos, e para a
Prefeitura.
O aterro São João, também na cidade de São Paulo, possui um projeto
para captação e transformação do gás
bioquímico em energia elétrica. O uso
do gás do aterro evita que ele seja despejado na atmosfera e contribua para
o aquecimento global. No entanto,
permanece o problema do consumo
de área para aterramento, pois o sistema trabalha com células ou valas que
são ocupadas longitudinalmente. No
caso de Belo Horizonte, por exemplo,
o lixo é enviado para a cidade de Sabará, por falta de espaço para aterrar.
“A melhor solução depende do
contexto de cada município”, diz Cançado. Para Belo Horizonte, a coleta
com caminhões para o aterro é um
O mapa mostra o resultado do estudo sócio-econômico realizado na regional Pampulha, em
BH. A renda familiar é um indicativo da composição do lixo produzido na região
investimento necessário, mas acaba
tornando-se caro. “São muitos caminhões, em várias áreas da cidade, a qual
é imensa. Os caminhões amarelos são
da Prefeitura e os brancos são terceirizados. São 2.400 toneladas coletadas
por dia e para que o lixo seja recebido
no aterro de Sabará, a prefeitura paga
por tonelada, ou seja, paga para a retirada do lixo aqui na cidade e também
para que o lixo seja recebido lá”.
Como observa coordenador do
projeto, o estudo realizado pelos pesquisadores do Cetec possibilita um
aproveitamento diferente do que já
é feito em São Paulo. “Será medido o
potencial de energia que poderá ser
gerado pelo lixo através da gaseificação do resíduo sem aterrá-lo. Essa
gaseificação, dependendo do processo
escolhido, irá gerar um gás sintético e
calor que podem ser utilizados para
geração de energia elétrica. Existem
vários tipos de processo nesse sentido, como a incineração, muito usada
na Europa, a pirólise e o plasma”.
Perspectivas
A implantação de novas tecnologias para conversão do lixo em energia
demanda investimentos, tanto privados como públicos. Estes, por sua vez,
também dependem de estudos para a
viabilidade econômica. É basicamente
isso que o projeto do Cetec irá proporcionar ao mensurar as 2.400 toneladas de lixos produzidas, por dia, pela
capital. Mas as referências técnicas para os empreendedores são apenas o começo. Outros benefícios futuros, como a solução para impactos ambientais da
poluição gerada pelo lixo e a criação de uma opção
para gerar energia elétrica também são evidentes.
Existe uma discussão sobre os benefícios da utilização de novas tecnologias e do consequente impacto para a atividade dos catadores de materiais
recicláveis, um dos responsáveis pelos R$ 7 bilhões
por ano que a reciclagem rende, de acordo com o
Ministério do Meio Ambiente. Para Cançado, essa
ponderação não leva em conta o real objetivo dos
processos de tratamento de resíduos sólidos. “O
que não pode ser aproveitado e reciclado é que será
destinado para a geração de energia”.
Aliás, para o pesquisador, um dos benefícios diretos que podem advir do uso do lixo como fonte de
energia é o incentivo à reciclagem e ao correto armazenamento dos resíduos, que passam a ser matéria-prima. Segundo o Plano Decenal de Produção de
Energia 2008/2017, existe potencial para isso, pois o
lixo das 300 maiores cidades brasileiras pode produzir 15% da energia elétrica consumida no país. Hoje,
existe uma série de propósitos positivos para o que
se tornou um problema ambiental. O lixo pode ser
utilizado como matéria-prima em indústrias de reciclagem, evitar gastos com o próprio saneamento
básico e ainda, se reciclado e manuseado corretamente, poluir menos a atmosfera. No entanto, “não
existe uma solução mágica”, como observa o coordenador do projeto. “Antes de pensar na implantação de soluções de aproveitamento energético do
lixo, é preciso estudar e entender o assunto, pois os
investimentos são muito altos para que se realizem
sem dados precisos”.
Raquel Emanuelle Dores
Projeto: Levantamento
do potencial
energético dos
resíduos domiciliares
e comerciais urbanos
do município de Belo
Horizonte
Coordenador: Cláudio
Jorge Cançado
Modalidade: Edital de
Resíduos Sólidos
Valor: R$ 119.402,05
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
15
Qualidade
Alimento
seguro
Método rápido
e preciso
monitora a
presença de
agrotóxicos em
alimentos
De um lado, produtores preocupados em manter a qualidade do
rebanho e evitar pragas. De outro, a
possibilidade de contaminação dos
alimentos por resíduos dos produtos
usados para manejo sanitário. Essa é
a equação que motiva uma pesquisa
do Laboratório de Química Analítica do Departamento de Química da
Universidade Federal de Viçosa (UFV)
sobre métodos para avaliação rápida
e adequada da qualidade dos alimentos. Além disso, o estudo busca criar
condições para se verificar tendências
no uso de agrotóxicos, fornecendo
dados para que medidas preventivas e
de controle possam ser efetuadas.
Um dos principais parasitas que
atinge o gado bovino brasileiro é o
carrapato Boophilus microplus. As doenças associadas a esse tipo de ácaro,
com sintomas de febre alta, prostração, falta de apetite e anemia, causam
prejuízos estimados em mais de US$1
bilhão por ano. Para combatê-lo, são
utilizados carrapaticidas, mas seu uso
intensivo nos rebanhos aumenta a
possibilidade de acúmulo de resídu-
16
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
Vacina combate carrapatos
As consequências da praga do
carrapato nos rebanhos bovinos e
as alternativas de prevenção à infestação são tema de estudo de um outro grupo de pesquisadores da UFV.
O projeto, coordenado pelo professor Joaquín Hernán Patarroyo, resultou no desenvolvimento de uma
nova vacina, com alta eficiência e
mais barata do que as existentes no
mercado, e foi tema da revista Minas
Faz Ciência nº 3 (junho a agosto de
2000). A equipe do Departamento
de Veterinária do Instituto de Biotecnologia Aplicada à Agropecuária
(Bioagro) trabalhou em cooperação
com o Instituto de Inmunologia del
Hospital de San Juan de Díos, em
Bogotá, na Colômbia, e contou com
o apoio da FAPEMIG.
Existem hoje apenas vacinas
recombinantes originadas de uma
proteína imunogênica (formadora
de anticorpos) produzida em leveduras. Com pesquisas registradas
desde a década de 30, as primeiras
vacinas chegaram ao mercado nos
anos 70, com tecnologia australiana. Na década de 80, pesquisadores
cubanos também desenvolveram o
produto, fabricado em escala industrial. O professor Patarroyo explica
que o alto custo de produção e a
relativa eficiência levam os produtores rurais a optar pela aplicação
de carrapaticidas, que, conforme
descrito também no trabalho do
professor Antônio Neves, se usados indiscriminadamente, podem
aumentar a resistência dos carrapatos e causar danos ambientais e
à saúde pública.
A pesquisa, desenvolvida desde
1993, se baseou no estudo de uma
proteína retirada do intestino do
carrapato – a Bm86. Proteínas são
moléculas gigantescas, compostas
por um grande número de unidades menores, chamadas aminoácidos. A equipe estudou os 650 aminoácidos que compõem a Bm86
e descobriu que a combinação de
43 deles era suficiente para criar a
imunidade nos animais. A técnica é
similar à de outras vacinas: os aminoácidos são injetados nos bovinos
e induzem a reação do sistema de
defesa do organismo, que cria anticorpos. Ao picar o animal, o carrapato ingere os anticorpos que vão
atacar suas células intestinais, provocando sua morte ou limitando a
reprodução e alimentação.
O desenvolvimento da vacina
sintética foi motivado pelas vantagens da técnica em si – não necessitar de meios de cultura ou organismos vivos para sua produção, custo
mais baixo e grau de pureza mais
elevado, ausência de contaminantes proteicos e processo de produção mais simples - mas também
pela necessidade de um produto
nacional, que evitasse a importação e o pagamento de royalties, já
que a tecnologia é estrangeira. Os
primeiros testes em animais apontaram uma eficiência de 80% sobre
a população dos carrapatos, correspondendo às expectativas dos
pesquisadores.
Quando a matéria original foi
publicada, iriam começar os testes
em campo, em parceria com a Embrapa Gado de Leite, no município
de Coronel Pacheco, na Zona da
Mata. Hoje, nove anos depois, o
professor Patarroyo conta que os
testes em campo com o peptídeo
sintético demonstraram eficiência
de 60%, aferida em três aplicações.
Mais testes devem ser realizados,
por um período de dois anos consecutivos - dois períodos de primavera e um de verão.
Em junho de 2003, os direitos
de produção e comercialização da
vacina foram transferidos para o
Laboratório Hertape, com sede em
Juatuba (MG), e a expectativa era
de que o produto estivesse disponível no mercado a partir de junho
de 2005. Entretanto, o processo de
produção da vacina em escala in-
dustrial ainda não obteve sucesso
e o processo de transferência de
tecnologia foi extinto.
“Existe grande dificuldade para
as empresas na síntese química ao
nível industrial, seja pela falta de capacidade de investimento ou pelo
desconhecimento do potencial de
mercado que a síntese química representa entre os produtos veterinários”, ressalta Patarroyo. Os pesquisadores se voltaram então, para
alternativas no processo de produção. “Tendo em conta a relevância
do produto, resolvemos desenhar
genes sintéticos que codificassem
a vacina sintética, para que ela pudesse ser produzida por fermentação”, explica o professor.
Os testes foram feitos com
duas leveduras - Pichia pastoris e a
Kliveromices lactis. O peptídeo sintético foi produzido em fermentação
pelas duas leveduras, tendo maior
quantidade na Pichia. “Os resultados foram excelentes em camundongos e o produto da fermentação – peptídeo recombinante - foi
reconhecido por soros de bovinos
que tinham sido vacinados com o
peptídeo sintético, indicando que
os produtos são idênticos”, explica
Patarroyo. No segundo semestre
de 2009, será iniciada a produção,
em escala piloto, do peptídeo recombinante. Em seguida, serão feitos testes em bovinos. Essa nova
etapa da pesquisa também conta
com apoio da FAPEMIG, dentro do
Programa de Apoio a Núcleos de
Excelência (Pronex).
A vacina sintética contra carrapato bovino foi a primeira patente
na história da FAPEMIG e da UFV.
O depósito de patente foi requerido no Brasil, Austrália, Estados Unidos, México e os países da União
Europeia. Patarroyo conta que a
carta-patente já foi concedida na
Austrália e, até o final de 2009, a
comunidade europeia e o México
também deve concedê-la.
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
17
Foto: Antônio Augusto Neves
A equipe analisou amostras de leite e produtos lácteos comercializados na região para identificar resíduos de carrapaticidas.
os e de sua eliminação por meio do
leite e de tecidos adiposos. Para o
coordenador da pesquisa, o professor
Antônio Augusto Neves, a contaminação do leite, em especial, é um fator
extremamente preocupante, uma vez
que se trata de um alimento essencial
à saúde humana e muito consumido
nos estágios iniciais da vida.
O uso intensivo de carrapaticidas
na pecuária leiteira requer atenção
especial dos produtores e dos técnicos que os orientam, pois seu uso
inadequado e excessivo pode causar
problemas de ordem ambiental e de
saúde pública, que vão desde desequilíbrios ecológicos e surgimento de novas pragas até a possibilidade de deixar
resíduos tóxicos nos alimentos. Alguns
trabalhos desenvolvidos na UFV tem
foco justamente nesse campo: desenvolver metodologias de extração de
poluentes orgânicos em diferentes
matrizes: solo, água, leite, vegetais e
alimentos.
Carrapaticidas
O manejo sanitário de rebanhos
bovinos é constituído por um conjunto
de práticas tecnológicas. Quando adequadamente adotadas e gerenciadas,
elas criam condições para ganhos na
produtividade porque propiciam bemestar aos animais e índices mais elevados de reprodução e de produção de
leite de qualidade, ou seja, isentos de
resíduos e contaminantes que podem
18
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
prejudicar a saúde dos consumidores
de produtos lácteos.
A aplicação de carrapaticidas é
um exemplo dessas práticas. Os mais
utilizados atualmente fazem parte da
classe dos piretroides, compostos
sintéticos que apresentam estruturas
semelhantes à piretrina, substância
isolada das flores do Pyrethrum ou,
como é conhecido popularmente, o
crisântemo (Chrysanthemum cinerariaefolium). Os mais comuns são aletrina,
resmetrina, deltametrina, cipermetrina
e fenpropanato. A elevada eficácia antiparasitária dos piretroides tem resultado no aumento de sua utilização.
No organismo humano, o contato
e o acúmulo de piretroides podem
provocar náuseas, vômitos, irritações
alérgicas na pele, paralisia muscular
e, em casos graves de intoxicação, até
a morte. Antônio Neves explica que,
apesar de não haver fiscalização no
Brasil sobre a presença de resíduos de
piretroides no leite para consumo humano, o Codex Alimentarius - fórum
internacional de normalização sobre
alimentos, parte de um programa
conjunto da Organização das Nações
Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e da Organização Mundial da Saúde (OMS), estabelece que o
máximo aceitável para deltametrina e
cipermetrina no leite de vaca é de 20
e 50 µg/L, respectivamente.
Esses dois produtos foram selecionados para o trabalho por serem in-
seticidas muito utilizados na pecuária
da região da Zona da Mata de Minas
Gerais. “A busca de novos métodos
para monitorar resíduos de pesticidas
deve ser estimulada tanto sob o ponto
de vista ambiental como de saúde pública. Além do aspecto de risco à saúde, o monitoramento constante se faz
necessário porque o nível de resíduos
acima de limites tem se apresentado
como uma importante barreira comercial no mercado internacional de
alimentos”, explica o coordenador.
Análise
O problema de grande parte dos
métodos de extração de resíduos utilizados atualmente é que eles retiram,
além das substâncias de interesse, alguns componentes dos alimentos que
acabam influenciando os resultados. É
o caso do leite, uma matriz considerada complexa por ser gordurosa. Neste
caso, a dificuldade é ainda maior, sendo
necessário um processo de limpeza
dos extratos antes da análise.
Em seu projeto de pós-graduação,
Simone Machado Goulart, sob orientação de Antônio Neves e da professora
Maria Eliana Lopes Ribeiro de Queiroz, buscou desenvolver um método
de extração em que a amostra (leite)
é misturada com um solvente de baixo
ponto de congelamento. A mistura é
resfriada em freezer e, com a redução
da temperatura, a água, as proteínas e
as gorduras são congeladas e separa-
das do solvente, que contém, portanto, apenas as substâncias de interesse
para estudo – os piretroides - que
permanecem na fase líquida.
Por esta metodologia, os extratos
não precisam ser submetidos a etapas
adicionais para a remoção de interferentes gordurosos. Segundo Antônio
Neves, o método desenvolvido se
mostrou bastante eficiente, com taxas
de recuperação acima de 90% para cipermetrina e acima de 80% para deltametrina. “Além de eficiente, é simples
e de fácil execução, exigindo pequeno
volume de solvente extrator", comemora o professor. Depois de otimizado
e validado, o método foi empregado na
determinação de resíduos dos piretroides em amostras de leite e de bebida
láctea comercializadas em Viçosa.
A equipe observou que algumas
amostras colhidas apresentaram contaminação, mas em níveis residuais
abaixo dos limites máximos estabelecidos pelo Codex Alimentarius. "No
entanto, os resultados comprovam a
presença desses compostos no leite, o
que sugere a necessidade de ação por
parte dos órgãos responsáveis pela
saúde pública, no sentido de monitorar a presença de drogas veterinárias
neste e em outros produtos de origem animal", conclui o coordenador.
Além disso, esse tipo de estudo
pode promover maior conscientização
quanto à necessidade da utilização adequada dos carrapaticidas e agrotóxicos
em geral. O laboratório da UFV tem
adaptado a metodologia para análise
em diversas matrizes, como água, solos, alimentos e bebidas em geral. Já foram realizados trabalhos em manteiga,
mel, tomate, maçã, carne bovina, batata,
água e solos. Atualmente, estão sendo
desenvolvidos trabalhos com agrotóxicos em café, abacaxi, sucos de frutas e
bebidas lácteas, entre outros.
Letícia Orlandi
Projeto: Desenvolvimento de
metodologia de extração,
separação e quantificação
de carrapaticidas em leite e
manteiga
Modalidade: Edital Jovens
Doutores
Coordenador: Antônio Augusto
Neves
Valor: R$13.000,00
Palavra-chave
Momento virtuoso
José Policarpo G. de Abreu*
A área de ciência, tecnologia e inovação cresceu bastante não só em Minas Gerais, mas no país como um todo.
Recentemente, foi divulgado o grande salto na publicação
de artigos em revistas indexadas. O Brasil passou de cerca
de 20 mil artigos publicados para mais de 30 mil no último
ano, de tal forma que subiu do 15º para o 13º lugar, ultrapassando potências como a Rússia e a Holanda, respectivamente. Minas teve papel de destaque nessa conquista,
especialmente em função da firme atuação da FAPEMIG.
O apoio crescente às instituições de ensino e pesquisa do Estado
está relacionado à alocação devida de recursos orçamentários: de 2004 a
2009, o orçamento da FAPEMIG foi multiplicado por dez. Os resultados
dessa política governamental estão aí para quem quiser ver. O objetivo,
agora, é uma melhora nos índices de inovação, amparados nas Leis Federal e Estadual de Inovação, e ainda no Decreto 44.784, que regulamenta o
Fundo de Incentivo à Inovação Tecnológica (FIIT). Vale lembrar a criação
da Gerência de Propriedade Intelectual, através da qual a FAPEMIG apoia
inventores e orienta na transferência de tecnologia. Dessa forma, a agência tem se tornado vetor fundamental para o avanço de Minas não só em
ciência e tecnologia, mas também em inovação.
Nos próximos anos, a proposta da Fundação é consolidar seu crescimento e promover a internacionalização, transformando-a em uma agência também respeitada no exterior, uma vez que hoje ela já o é nacionalmente. Como exemplos recentes, podemos citar que o presidente da
FAPEMIG passou a ser também o presidente do Conselho Nacional das
Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) e que a Fundação
foi uma das primeiras FAPs a se tornar membro da Academia Brasileira
de Ciências.
A política da atual direção é a de que só não será feito aquilo que não
for legal. Tudo o que puder ser feito para o engrandecimento da ciência
e tecnologia, bem como para a consolidação da inovação do Estado, será
feito. O principal desafio é avançar a passos largos porque é nosso objetivo, nossa meta, colocar Minas na liderança desse setor. Assim, estaremos
colaborando para que o próprio país venha a se firmar como um dos
líderes no contexto mundial.
Faz-se mister ressaltar que esse momento virtuoso da área de CT&I,
com a ação firme e segura da FAPEMIG, só foi possível porque o atual Governo do Estado reconheceu a importância do papel da fundação
como agência indutora e, já pelo terceiro ano consecutivo, aplica 1% do
orçamento do Estado na mesma. Antes, por melhor que fossem as ideias,
era difícil implementá-las, pois não havia recursos para tal. Portanto, é
fundamental manter esta conquista, que levou duas décadas para ser efetivada. O preço desta conquista é a eterna vigilância. Mas se conseguirmos demonstrar para a sociedade a importância desses investimentos
em Ciência, Tecnologia e Inovação, a própria sociedade se incumbirá de
cobrar do Governo, qualquer que seja ele, essa manutenção.
Por fim, importante lembrar que o investimento em ciência, tecnologia e inovação não é “um caminho” para se enfrentar a crise mundial,
mas “o caminho”, pois não há nada mais sólido que isso. O que se fez
durante muito tempo foi investir em papel, que é algo extremamente
volátil. Ações hoje valem X e amanhã valem Y, depois de amanhã valem Z.
Seu valor é algo que varia conforme os humores do mercado. Uma conquista científica e tecnológica ou um invento são definitivos, independem
de como o mercado está se comportando. Aí está a solidez de qualquer
desenvolvimento. O desenvolvimento sustentável só se faz com base em
investimentos sólidos, e esses são aqueles feitos em Ciência, Tecnologia
e Inovação.
*Diretor Científico da FAPEMIG
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
19
Combate
ao oportunismo
Foto Marcelo Focado
Caracterização de vírus que causa
anemia em galinhas pode fornecer
informações importantes para
o controle da doença e reduzir
perdas do produtor
Uma doença com consequências
severas para aves jovens e capaz de causar danos para a avicultura industrial é
o foco do estudo de pesquisadores da
Escola de Veterinária da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), que
pode subsidiar estratégias de controle
sanitário. A anemia infecciosa das galinhas é uma doença causada por um
vírus conhecido pela sigla CAV e causa, como o próprio nome diz, anemia
e imunodepressão em aves jovens, da
espécie das galinhas (Gallus gallus domesticus). De acordo com o professor
e coordenador da pesquisa, Nelson
Rodrigo Martins, a importância dessa
enfermidade está exatamente nessa
característica de atingir o sistema imune e inviabilizar plantéis industriais que
necessitam de saúde plena para expressar a produção no momento certo, com ganho de peso, crescimento e
postura de ovos, por exemplo.
A imunodepressão provoca diversos transtornos no equilíbrio do
organismo das aves, que se tornam
suscetíveis a infecções oportunistas e
tem dificuldade de formação de uma
flora bacteriana intestinal saudável. A
transmissão ocorre de duas formas:
vertical - via reprodução, de galinha e
galo infectados; e a partir do ambiente
de criação contaminado, por ser vírus
de alta resistência.
Nas aves jovens, faixa etária em
que a doença clínica ocorre, há palidez,
anemia, atrofia da medula óssea e dos
órgãos do sistema imune, permitindo a
entrada de infecções por outros vírus,
bactérias, fungos e protozoários. As dificuldades para controle estão muito
ligadas a essa característica. Entretanto,
a infecção por CAV pode não apresentar sinais aparentes em aves com mais
de quatro semanas de vida, e os pro-
Foto Marcelo Focado
Avicultura
A equipe buscou a caracterização molecular do vírus da anemia infecciosa das galinhas, o que
ajudará a delinear estratégias de controle da doença
blemas para o sistema imune dos animais só são notados tardiamente. “Isso
favorece a alta disseminação da doença
e, junto com ela, vêm outras preocupações, como a coinfecção por outro
agente que deprime o sistema imune
das aves, o vírus da doença infecciosa
bursal”, completa Bruna Cypreste Michell, que foi orientada por Martins em
seu mestrado em Ciência Animal.
São várias as infecções favorecidas
pela anemia, a exemplo das colibaciloses (Escherichia coli), clostridioses
(bacterias do gênero Clostridium), micoses (especialmente as aspergiloses, infecções por fungos do gênero
Aspergillus), coccidioses (protozooses
por esporozoários) e outras viroses,
como as adenoviroses. A depressão
imune impede a formação de resposta protetora adequada às vacinações
contra agentes de grande relevância,
como o vírus da doença de Newcastle, de notificação e erradicação
obrigatórias para a conformidade ao
comércio internacional.
As falhas nos programas de vacinação e os custos da terapia antibacteriana, somadas aos maiores custos de
produção e menores índices de produtividade configuram um quadro de
despesas extras para os produtores. A
anemia infecciosa das galinhas tem, portanto, grande relevância para a avicultura
industrial, embora seja difícil quantificar
o impacto no aspecto econômico. “Em
plantéis jovens clinicamente afetados a
Nelson Rodrigo Martins, da UFMG
20
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
perda da viabilidade atinge em torno de
100% das aves. Entretanto, as infecções
subclínicas podem deprimir a produtividade com impacto mais disseminado
por toda a avicultura, seguramente com
perdas de rentabilidade significativa”,
explica o professor.
Esta conclusão deriva da alta prevalência, maior que 90%, da infecção na
avicultura industrial brasileira, embora
a doença clínica ocorra em índices
muito menores, atualmente inferiores
a um 1% no Brasil. As perdas econômicas nos plantéis portadores podem ser
de 2 a 2,3% comparados a plantéis não
infectados. Atualmente, as estratégias
de prevenção para a avicultura industrial articulam-se por meio de normas
de biossegurança e pela aplicação de
vacinas nos plantéis de reprodução. O
objetivo da vacinação dos reprodutores é evitar a transmissão para os filhotes, que serão, no futuro, os frangos
de corte ou as poedeiras.
A caracterização molecular do
vírus realizada durante o projeto da
UFMG será útil para a manutenção de
um banco de dados epidemiológicos
sobre a ocorrência da anemia infecciosa das galinhas em Minas Gerais,
essenciais para delinear estratégias
de controle, além de constituir objeto
de estudo de programas de iniciação
científica, mestrado e doutorado.
Descobertas
A anemia infecciosa das galinhas é
mais descrita em avicultura industrial.
Mas o estudo viabilizado com auxílio
da FAPEMIG e do CNPq apontou, de
forma inédita no Brasil, que a infecção
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
21
Foto: Arquivo Geduc
Educação
Importância da avicultura mineira
Pesquisas cujos resultados podem resultar na melhora nos índices de produtividade da avicultura mineira significam também aumento das divisas e benefícios
para a balança do agronegócio mineiro. Em abril de 2009,
o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) colocou em
funcionamento o Grupo de Atenção Veterinária Especial
em Avicultura (Gavea), com o objetivo de melhorar o
sistema de atenção veterinária, a capacidade de resposta a emergências sanitárias e elevar o status sanitário
avícola de Minas, atualmente classificado como “C”, ou
intermediário. A classificação é feita pelo Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) por meio
de auditoria nos estados que aderiram ao Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA).
Para definir a classificação, o Ministério avalia critérios
como dados descritivos da avicultura, sistema de atenção veterinária, condições para respostas a emergências
sanitárias e adequação às normas do PNSA. Atualmente, nenhum estado brasileiro possui classificação “A”. O
PNSA tem como objetivo certificar a sanidade dos plantéis avícolas do Brasil, expandir os mercados internos e
externos, controlar e/ou erradicar as principais doenças
avícolas, prevenir a introdução de doenças exóticas no
Estado, manter sob vigilância as doenças avícolas, monitoramento sanitário em estabelecimentos que alojem aves
de produção.
Recadastramento de granjas avícolas, atendimento a
suspeitas de doenças de notificação obrigatória, cadastro de estabelecimentos que comercializam aves vivas e
está presente em cerca de 30% das
criações de subsistência. “A presença
do CAV nessas populações de galinhas
tem implicações para a medicina veterinária preventiva. Os dados mostram
que há necessidade de se adotar medidas de biossegurança e promover o
isolamento entre a criação industrial e
a de subsistência”, explica a doutoranda Priscilla Rochele Barrios, professora da Universidade Federal de Lavras,
que desenvolveu tese de doutorado
junto ao projeto.
Além disso, o estudo demonstrou
que o CAV esteve presente como
contaminante de vacinas vivas e inativadas até meados dos anos 1990.
“Isso significou a disseminação da
infecção entre os plantéis vacinados
por quaisquer vacinas vivas usadas na
avicultura”, atestam os pesquisadores.
Devido a essa alta prevalência, as boas
condições para diagnóstico e pesquisa
22
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
cadastro de outras explorações avícolas são algumas das
atividades do grupo. Um exemplo da importância desse
setor está na exportação de ovos de galinha. De acordo
com dados divulgados em 2009 pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC),
Minas Gerais confirmou sua condição de líder nacional
nas vendas internacionais desse produto - ovos de galinha em casca refrigerados para consumo -, alcançando
receita de US$28,4 milhões no balanço de 2008. Além
disso, o Estado teve receita de US$1,2 milhão com a comercialização de ovos de incubação no exterior. Segundo
a secretaria de Estado da Agricultura (Seapa), Minas está
também dentre os maiores produtores de aves, ocupando
o quinto lugar, com 401 milhões de frangos produzidos
durante o ano passado.
Os mineiros responderam, em 2008, por 62% do valor
total das exportações brasileiras de ovos para consumo,
que alcançaram US$46,5 milhões. Ainda segundo a Seapa,
Minas Gerais é o segundo produtor de ovos do país, com
um volume de quase 200 mil toneladas em 2008, sendo
o Sul de Minas o maior polo de granjas de postura do
Estado. Na comparação dos volumes negociados, o Estado vendeu quase 20 mil toneladas, enquanto a soma do
Brasil é de cerca de 33,2 mil toneladas. O levantamento
do MDIC demonstra que os Emirados Árabes são líderes
absolutos na aquisição de ovos para consumo produzidos em Minas Gerais. O país comprou, no ano passado,
cerca de 11,8 mil toneladas do produto, possibilitando
uma receita de US$ 16,6 milhões.
com o vírus se tornam cruciais para
permitir maior agilidade nas respostas
e recomendações relacionadas com
o controle da anemia infecciosa das
galinhas. “Outra descoberta interessante, em estudo preliminar, foi que o
CAV pode ter infectado ave da fauna
brasileira, situação que pode também
recomendar para o maior isolamento
entre criatórios conservacionistas e a
avicultura comercial de galinhas”.
Existem vacinas comerciais contra
a anemia infecciosa das galinhas disponíveis no mercado brasileiro, embora
haja algumas controvérsias, principalmente relacionadas ao custo econômico, por serem produtos de alto custo,
e também devido à potencialidade da
disseminação do vírus CAV por meio
das próprias vacinas. Nelson Rodrigo
Martins explica que os estudos nessa
área vão continuar, ampliando a população estudada, principalmente entre a
população que integra a avicultura de
subsistência e industrial em Minas Gerais. “O controle da anemia infecciosa
das galinhas pode resultar em melhora
dos índices de produtividade e redução dos custos de produção, o que
poderia refletir, em tese, em menores
preços de produtos avícolas”, levanta o pesquisador. Os trabalhos nessa
área podem, portanto, facilitar a vida
do produtor, mas também beneficiar
o consumidor.
Letícia Orlandi
Projeto: Caracterização
molecular de isolados do vírus da
anemia infecciosa das galinhas do
Estado de Minas Gerais
Coordenador: Nelson Rodrigo
da Silva Martins
Modalidade: Edital Universal
Valor: R$29.820,00
Oralidade X Escrita
Grupo analisa impactos do letramento em uma
comunidade indígena do Norte de Minas
A Constituição de 1988 é um marco para as comunidades indígenas brasileiras. Com sua promulgação, os índios
deixaram de ser considerados uma categoria social em vias
de extinção e passaram a ser vistos como grupos étnicos
diferenciados, com direito a manter sua organização social,
costumes, línguas e crenças. Ela também assegura às comunidades indígenas o direito a uma educação escolar diferenciada, com a utilização de suas línguas maternas e processos
próprios de aprendizagem. A coordenação das ações de
educação indígena é responsabilidade do Ministério da Educação, cabendo aos estados e municípios a sua execução.
Do encontro entre a alfabetização e a tradição oral
característica dessas comunidades nascem múltiplos conflitos, criando um terreno fértil para investigações no
campo da educação. Na Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), o Grupo de Educação Indígena, formado
por pesquisadores de diferentes áreas e instituições, estuda a transformação das comunidades indígenas a partir da
chegada da escola. Criado em 2000, o grupo é coordenado
pela professora Ana Maria Rabelo Gomes, da Faculdade de
Educação (FAE) da UFMG.
Os primeiros trabalhos acompanharam duas etnias,
Maxacali e Xakriabá, as maiores de Minas Gerais. A hipótese que orientava o estudo era a de que a escolarização
não acontece de forma uniforme, ela passa por um mecanismo de negociação com as práticas culturais tradicionais.
“Os integrantes da equipe acompanhavam o dia-a-dia da
aldeia, registrando suas observações em diários de campo.
Essa primeira pesquisa originou três teses de doutorado,
cinco dissertações de mestrado e várias monografias em
áreas como Educação, Ciências Sociais e Economia”, lembra a professora.
Ao fim da investigação sobre os processos de apropriação da escrita e de escolarização, a equipe reuniu dados sobre as formas de criação, armazenamento e transmissão do conhecimento entre as comunidades indígenas.
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
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MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
Foto:Vanessa Fagundes
Fotos: Arquivo Geduc
Os professores Ana Maria Rabelo, Carlos Henrique Gerken e Marildes
Marinho fazem parte do Grupo de Educação Indígena
Outros estudos
Os rituais tradicionais, como a reza de São Benedito, também foram
modificados com a chegada da escola.
A equipe acompanhou o dia-a-dia de duas aldeias da etnia Xakriabá,
a Caatinguinha e a Barreiro Preto.
gumas pessoas, geralmente as mais jovens, acompanhavam
as rezas utilizando-se de anotações escritas. Os textos
eram uma tradução do que se ouvia e, lidos isoladamente, não tem sentido. “Essa foi uma transformação motivada
pela introdução da escola. Os membros alfabetizados da
comunidade, especialmente as mulheres, tentam escrever
as ladainhas para acompanhar os ritos”, acredita Gerken.
Dessa forma, a escola, que poderia significar a perda da
identidade pela introdução de novos temas e práticas, representa, na verdade, uma retomada da cultura tradicional.
“Os costumes são ensinados em sala de aula, o que garante sua continuidade, uma preocupação constante dos mais
velhos”, diz. Para ele, outra consequencia interessante da
escola é que, atualmente, todas as crianças aprendem desde
cedo que são índias, e o que isso significa.
Todas essas manifestações culturais foram gravadas em
áudio e vídeo. Depois, foi realizada a transcrição para partituras e a descrição das melodias e cantos. O professor
lembra que, para a observação dos rituais, a equipe precisou se integrar à rotina da aldeia. “Esse tipo de trabalho
requer uma participação distanciada, foi necessário seguir
Fotos: Arquivo Geduc
Cultura preservada
Os Xakriabá são considerados a maior nação indígena
de Minas Gerais, com aproximadamente sete mil habitantes, distribuídos em 29 aldeias, localizadas em um território
de 53 mil hectares no Norte do Estado. Para realizar o
estudo, foi feito um recorte no universo de investigação.
Os trabalhos se concentraram nas aldeias da Caatinguinha
e do Barreiro Preto. Como conta Gerken, os Xakriabá se
diferenciam por uma história marcada por quase 300 anos
de contato com outras culturas. As aldeias conviveram
primeiro com os bandeirantes, depois com pecuaristas e
também com garimpeiros. Como resultado, alguns elementos externos foram incorporados à sua cultura. A Festa de
Santa Cruz e a Via Sacra, por exemplo, duas das festas mais
tradicionais entre os Xakriabá, são representações de celebrações da religião católica.
A pesquisa concentrou-se na análise da Via Sacra. Este
ritual integra as festividades da Semana Santa e realiza-se
no cemitério da aldeia. Na preparação do espaço para celebração, são assinaladas 14 estações ao longo do perímetro
interno do cemitério, em cartazes escritos à mão e pendurados nas cercas. Os rezadores são responsáveis por entoar os benditos e as ladainhas, formas melódicas caracterizadas pelo ritmo e pela repetição em diferentes vozes. As
ladainhas soam como uma mistura de latim e português.
Em cada uma das estações, canta-se um trecho do ofício (tipo especial de ladainha que conta a história da Paixão
de Cristo), realiza-se uma leitura e canta-se um bendito. As leituras são realizadas a partir do livro “Cartilha da
Doutrina Cristã”, que data do início do século XX e incorpora tanto lições de catequese como de primeiras letras
e aritmética. Mas o interessante, como aponta o pesquisador, é que o rezador que conduz a festividade não domina
a linguagem escrita. Ele conhece os seus conteúdos pela
participação em práticas anteriores, nas quais assumiu o
papel de ouvinte.
Mas a equipe notou algo diferente: durante o ritual, al-
publicação, daqui a cerca de dois anos, de um livro com a
compilação de todos esses trabalhos e resultados. Um outro projeto futuro é disponibilizar esse material para uso
dos próprios Xakriabá.
Desde 2005, a UFMG realiza um vestibular específico para professores indígenas. Entre as etnias beneficiadas estão os Maxacali, Crenaque, Pataxó, Caxixó, Xucuru-cariri, Pancararu e Xacriabá. O processo seletivo
é realizado de forma diferente: os candidatos entregam
memorial e carta de apresentação, escrita por representantes da comunidade indígena, realizam atividades de
leitura e escrita, e se submetem a entrevistas. Em 2009,
será realizado um processo seletivo diferenciado para
um curso regular de Licenciatura Intercultural para Professores Indígenas, com 35 vagas disponíveis. A proposta
é que, no futuro, sejam disponibilizadas também vagas
para outros cursos, especificamente na área de saúde,
cuja demanda é grande.
Fotos: Arquivo Geduc
Com base neles, o pesquisador Carlos Henrique de Souza
Gerken, do Departamento de Psicologia da Universidade
Federal de São João del Rei (UFSJ) e membro do grupo
de pesquisa, deu início a outro projeto: “Produção e transmissão do conhecimento na cultura tradicional Xakriabá:
contradições do cenário contemporâneo”.
“A proposta era observar as transformações que ocorriam junto com o processo de apropriação da escrita, especialmente no caso das práticas culturais”, explica o professor. A etnia Xakriabá foi escolhida porque passaria pelo
processo de escolarização pela primeira vez – as tentativas
anteriores, segundo Gerken, não seguiram as características da educação indígena propostas pelo Ministério e não
atingiram a comunidade como um todo. A partir da observação de um evento de letramento, a equipe procurou analisar diversos aspectos, como, por exemplo, a construção
da escrita em uma comunidade pouco letrada, a interação
entre a oralidade e a escrita e a articulação entre os valores e as representações construídas em torno do uso da
linguagem oral e escrita.
O grupo também analisa a emergência de um novo ator social dentro
das comunidades: o professor indígena.
as regras de etiqueta locais. As diferenças de gênero, por
exemplo, são muito fortes. O ritmo de vida e a dinâmica de
sala de aula, por sua vez, são lentos. A abordagem é feita de
forma cuidadosa”.
Todo o material produzido compõe, hoje, o acervo do
grupo de pesquisa da UFMG. A equipe também prevê a
A análise da influência da escola nos rituais tradicionais
é apenas uma das vertentes estudadas pelo grupo de pesquisa. Como ele é composto por professores de diferentes áreas, vários temas foram investigados. Por exemplo, o
professor Rogério Carvalho de Godoy, da UFSJ, trabalhou
com a retomada da produção de cerâmica com os Xakriabá. O trabalho se estendeu para a produção de materiais
de construção, como telhas e tijolos, que os membros da
comunidade utilizam em suas obras.
Um outro trabalho, da área de Economia, analisou o
consumo e a produção de farinha de mandioca nas comunidades. Apesar do grande consumo, percebeu-se que
menos de 200 famílias produziam a matéria-prima. Com a
introdução de novas técnicas de produção e a construção
de “casas de farinha” comunitárias, onde o produto é fabricado, a produção cresceu e, hoje, funciona como opção de
renda para os Xakriabá.
A equipe tem observado, também, a emergência de um
novo ator social dentro da reserva: os professores indígenas, que aparecem com a chegada das escolas. Para Gerken,
esse é um aspecto interessante de ser estudado, pois eles
são representantes da cultura letrada dentro de um grupo
cuja cultura ainda é predominantemente oral. “Em algumas
aldeias, como a Caatinguinha, quase não existiam sujeitos
alfabetizados. Por isso, houve certa resistência dos pais em
tirar os filhos do trabalho na roça. Mas, aos poucos, a escola foi se tornando parte da vida local e os professores,
membros de destaque das aldeias”, diz.
Na UFMG, o Grupo de Educação Indígena participa,
ainda, das discussões sobre o projeto pedagógico para formação dos professores indígenas. Como explica Gerken,
existe uma proposta para Minas Gerais, mas as práticas pedagógicas são adaptadas ao contexto de cada etnia. Um dos
problemas discutidos atualmente diz respeito à avaliação
das escolas indígenas, que ainda segue os mesmos critérios
das outras instituições de ensino. “Existe uma demanda da
comunidade por uma avaliação diferenciada, assim como o
ensino é diferenciado”, completa Ana Maria Rabelo.
Vanessa Fagundes
Projeto: “Produção e transmissão de conhecimentos
na cultura tradicional Xakriabá: contradições do
cenário contemporâneo”
Coordenador: Carlos Henrique de Souza Gerken
Modalidade: Edital Universal
Valor: R$18.799,44
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
25
Iniciativas de
transferência
de tecnologia
aproximam
centros de
pesquisa e
empresas
balhando para que o desenvolvimento
tecnológico aconteça, por meio da
transferência de inovações para o mercado. Em conjunto com a Fundação, o
Instituto faz um estudo da viabilidade
mercadológica das patentes e entra em
contato com empresas interessadas em
comercializar as novidades. “Buscamos
o Instituto porque eles tem uma grande experiência em prospecção tecnológica. Essa parceria aumenta nosso
potencial de transferência, permitindo
que tenhamos um número maior de
tecnologias transferidas e levando, portanto, mais produtos para a sociedade”,
afirma o diretor científico da FAPEMIG,
José Policarpo G. de Abreu. Ainda em
2009, dez contratos de transferência
serão assinados.
O escopo inicialmente definido foram os pedidos de patente e de proteFoto: arquivo Instituto Invoação
Gustavo Mamão, diretor do Instituto
Inovação, empresa que realiza a prospecção
de tecnologias para o mercado
O Brasil possui mais de 180 universidades, além de diversas instituições e
empresas empenhadas no desenvolvimento constante de pesquisas e inovações. Diariamente, um número incalculável de ideias e soluções surge nesses
ambientes. Entretanto, grande parte delas não chega, efetivamente, a se transformar em técnicas ou produtos adotados pelo mercado. O longo caminho a
ser percorrido por uma invenção entre
a sua criação e sua disponibilização para
uso em escala comercial é uma dificuldade que historicamente assola pesquisadores. Em Minas Gerais, algumas
empresas e programas tem desempenhado o importante papel de facilitar
esse processo, atuando como “ponte”
entre pesquisadores e mercado.
Uma parceria firmada entre a FAPEMIG e o Instituto Inovação vem tra-
Filtro permeável
Houve dois momentos na parceria
com a Fundação. Os primeiros passos
foram dados em 2007, com estudos
que ajudaram a definir inclusive o formato do projeto atual, iniciado em
2008.Ao longo desse tempo, 94 tecnologias já protegidas com a ajuda da FAPEMIG foram analisadas. Atualmente,
o Instituto trabalha diretamente com
cerca de 20 nas quais identificaram
maior potencial de comercialização.
Dessas, 12 resultaram em contratos
de licenciamento, sendo que nove estão em fase avançada de negociação e
três já foram assinados. “Essa filtragem
que fazemos não é estática, existe uma
permeabilidade, algumas tecnologias
vão saindo e outras entrando ao longo
do processo”, explica a gerente do Instituto, Janayna Bhering. Ela conta que
algumas foram descartadas até mesmo por não haver interesse do pesquisador em comercializar seu projeto
naquele momento, preferindo avançar
antes no desenvolvimento.
O estágio de desenvolvimento é
um dos principais critérios de filtragem das tecnologias a serem transferidas. Outro quesito fundamental é
o potencial de inovação tecnológica.
“Adotamos esse filtro porque era necessário definir prioridades, mas não
significa que os projetos que não foram selecionados nesse primeiro momento não tenham potencial, pode
ser que voltemos a trabalhar com
alguns deles”, avalia Bhering.
Ponte com o mercado
O trabalho de organizações como
o Instituto Inovação é justamente promover a aproximação entre um poten-
26
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
cial interessado e uma tecnologia que
já foi ou pode ser desenvolvida. A atuação costuma ocorrer nos dois sentidos: é possível prospectar no mercado
a demanda por um produto e encaminhá-la a um pesquisador ou instituição
que tenha competência para solucionar a questão; ou, por outro lado, parte-se de ofertas tecnológicas que são
qualificadas e apresentadas a empresas
interessadas em investir no seu desenvolvimento e comercialização. Esse segundo caso é a base da parceria entre
a FAPEMIG e o Instituto.
Elimar Vasconcellos, analista de Inovação do Instituto, destaca que não se
trata apenas de aproximar ciência e
mercado, mas, sobretudo, de gerir essa
interação. “Embora não se trate de
um negócio com um fluxo de caixa, é
possível uma análise que vá nortear e
viabilizar a progressão dessa tecnologia
rumo ao mercado, é o que chamamos
Diligência da Inovação”, explica. São desenvolvidos modelos de negócios para
que a transferência ocorra, gerenciando as várias facetas do processo, como
precificação de royalties e da própria
tecnologia. “No primeiro momento, o
que está à venda é algo bastante intangível. É preciso fazer a avaliação disso,
para que a pessoa que está comprando
perceba o valor e o ganho que ela poderá ter”, complementa Bhering.
O primeiro contato com os interessados é feito pelo Instituto, que inicia a abordagem explicando o que é a
tecnologia, as oportunidades de licenciamento, as possibilidades para a empresa de reduzir custo ou lançar um
novo produto, dependendo de cada
caso. Apenas posteriormente, quando
já se identificou o interesse, são agendadas reuniões com o pesquisador,
para esclarecimentos. Antes disso, entretanto, há a assinatura de um acordo
de confidencialidade, para que possam
ser comentados detalhes sobre a tecnologia. Na sequência, a discussão se
estende a outras áreas da empresa,
sendo acordadas questões como valores, tempo de direito de exploração e
outras. “Sempre pensamos nisso como
um modelo de parceria efetivamente,
onde todos vão ganhar, de forma a
gerar inclusive novas patentes, novas
tecnologias”, afirma Bhering.
Foto Marcelo Focado
que move o mercado
ção intelectual de uma forma geral que
já existiam na FAPEMIG. Segundo o diretor de Transferências de Tecnologias
do Instituto Inovação, Gustavo Mamão, a
inovação tecnológica – que gera riquezas
para empresas e centros de pesquisas, e
benefícios diversos para a sociedade –
presume a transferência. “Acreditamos
que quando a tecnologia apoiada pela
FAPEMIG é transferida para uma empresa, ela reforça sua missão de gerar
desenvolvimento por meio da inovação
científica e tecnológica”, opina.
Foto Marcelo Focado
Inovação
Galpão da Verti Tecnologias, localizado no
campus da UFMG: no local, as empresas
parceiras podem realizar testes pré-piloto e
piloto, incluindo testes e experimentos.
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
27
De lixo a lucro
Novidade no setor
alimentício
O primeiro contrato para comercialização de produto viabilizado pela
parceria FAPEMIG e Instituto foi fechado em dezembro de 2008. Trata-se
de uma tecnologia para desidratação
de alimentos por meio de micro-ondas. O equipamento, que faz a secagem
de legumes e frutas em menor tempo
e com menos consumo de energia do
que as técnicas convencionais, já foi
licenciado para venda pela empresa
Negócio Tecnologia e Inovação (NTI).
Segundo o coordenador de Transferência de Tecnologia da Diretoria de
Extensão do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais
(Cefet-MG), professor Anderson Rabello, que idealizou a tecnologia, o custo com energia elétrica chega a ser 12
vezes menor e a secagem ocorre de
maneira uniforme. “O tempo de desidratação da banana, por exemplo, é de
cerca de 12 horas no método tradicional, com o aparelho é de no máximo
30 minutos”, compara.
De porte compacto, a máquina
permite fácil operação, apontando o
ajuste para desidratação conforme o
produto. O objetivo é que ela possa
ser utilizada pelos próprios produtores ou cooperativas agropecuárias, de
forma a eliminar o desperdício, agre-
28
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
gar valor e contribuir, assim, para a geração de renda. Rabello trabalha agora
um projeto para incentivar a formação
de cooperativas de pequenos produtores em determinadas regiões do
Estado, que poderiam se beneficiar
da tecnologia. “Em Matias Cardoso,
eles poderiam passar a comercializar
também banana passa, em Bambuí e
Barbacena, o mesmo poderia ser feito
quanto ao morango, e assim em várias
localidades. A ideia é levar esta inovação a quem realmente precisa”, conta.
A previsão é de que o equipamento
comece a ser comercializado a partir
do segundo semestre deste ano. “No
momento, estamos refinando detalhes
para iniciar, alinhando questões legais,
verificando o custo da produção em
série, entre outras questões práticas”,
explica o engenheiro de alimentos
Christiano Guirlanda, diretor-presidente da NTI.
No mês de junho, foi concretizado
acordo também para o projeto de um
amortecedor radial e uma suspensão
compacta, duas patentes que tem uma
aplicação única, transferidas para a empresa E-MX, que trabalha no desenvolvimento de software embarcado (mobilidade) para automóveis.
mentos e análises em laboratório, com
a produção de protótipos e plantas
de funcionamento para testes. “Nosso trabalho e o de empresas como o
Instituto Inovação, que é nosso parceiro, se complementam. Enquanto eles
prestam um serviço de consultoria
estratégica e organizacional, pensamos
o operacional da tecnologia”, conta o
economista Euler Santos, diretor- executivo da Verti.
A empresa tem capacidade para desenvolver projetos desde o estágio em
bancada até uma fase piloto.A fase intermediária (pré-piloto) tem como objetivo testar em escala maior os processos
já experimentados em laboratório, sem
a necessidade de realizar grandes investimentos e otimizando procedimentos.
Os projetos em escala pré-piloto e piloto, incluindo os testes e experimentos, podem ser feitos no próprio galpão
da Verti, localizado nas proximidades da
UFMG, exceto nos casos que envolvem
níveis de complexidade muito grande,
ou capacidade de produção elevada, em
que às vezes a própria empresa interessada cede espaço.
Tecnologia verde
Uma das soluções trabalhadas pela
Verti em parceria com a Universidade
Federal de Lavras (Ufla) está ligada ao reaproveitamento dos rejeitos produzidos
durante o curtimento do couro. Para
a pele do boi se transformar no couro
utilizado habitualmente em roupas e sapatos, ela precisa ser limpa e a seguir curtida em processo à base de cromo.Antes
de ser repassado para a indústria, é feita
ainda uma raspagem e são aparadas as
beiradas no material – essas aparas e raspas viram um rejeito perigoso justamente devido à ação do cromo.
Hoje, para se livrar desses resíduos, os curtumes precisam enviá-los
para aterros, em sua maioria localizados em São Paulo, o que é bastante
dispendioso. “Encontramos uma maneira de retirar esse cromo dos rejeitos, devolver para reutilização no curtume, e essas raspas que sobram, que
são colágeno, podem ser usadas como
um fertilizante especial para agricultura”, revela Luiz Carlos Alves Oliveira,
pesquisador da Ufla.
Uma planta piloto foi construída na
Foto Marcelo Focado
O equipamento para desidratação de alimentos por meio de microondas foi o primeiro
produto a ser transferido para a indústria por meio da parceria Instituto Inovação e FAPEMIG.
Mais eficiente e econômico, a proposta é eliminar o desperdício e gerar renda para pequenos
produtores do Norte de Minas.
Transformar um rejeito, que
até então representava custo para
a empresa, em dinheiro. Essa é a
filosofia da Verti Ecotecnologias,
empresa que surgiu inspirada em
pesquisas de tecnologias ambientais
desenvolvidas no Departamento
de Química da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e que
também exerce o papel de unir ciência e mercado, atuando na área
ambiental. “Não queremos apenas
dar uma destinação, nos livrar do
lixo, para isso já existem soluções
convencionais. Nosso foco é transformá-lo em um produto que possa
ser vendido, reutilizado, gerando receita”, reitera Rochel Lago, professor do Departamento de Química
e sócio-consultor da Verti. “A área
ambiental está muito forte e essa é
uma tendência que veio para ficar.
As empresas precisam ficar atentas
à sustentabilidade, à responsabilidade ambiental, há uma pressão
não apenas legal, mas social e mercadológica”, avalia. Segundo ele, a
indústria tem uma série de problemas para serem resolvidos e busca
também oportunidades. Enquanto
a universidade, por sua vez, possui
patentes e estudos de grande potencial para aplicação na indústria.
Daí a ideia de intermediar esse importante diálogo.
Atualmente, estão em análise 13
trabalhos, entre patentes, projetos e
tecnologias a serem transferidas para
o mercado – a principal fonte de
prospecção, inicialmente, tem sido a
UFMG, além de alguns contatos com
as Universidades Federais de Ouro
Preto (Ufop) e Lavras (Ufla). Mas a
empresa, que tem apenas oito meses
de criação, pretende estender o contato oficial a outras universidades e
instituições de pesquisa.
Além do aspecto socioambiental, outros três pontos são avaliados
nos projetos: tecnológico e científico; mercadológico; e relativo ao
negócio. Com isso, é possível identificar os parceiros mais atrativos
para viabilização do projeto. A consultoria prestada pela Verti abrange
o nível operacional, com experi-
Um dos projetos que une a Verti e a Ufla busca o reaproveitamento de rejeitos produzidos
durante o curtimento do couro.
cidade de Divinópolis, no CentroOeste do Estado, e os primeiros
contatos com empresas interessadas em comercializar a tecnologia
já estão em andamento. “A empresa
que fizer vai ganhar em dois momentos, no recebimento do rejeito
e na venda do cromo e do fertilizante”, explica o diretor de Pesquisa da Verti, Fabiano Magalhães. Eles
reiteram que para o curtume também há benefícios, além dos ganhos
ambientais. Por exemplo, o custo de
destinação pode ser reduzido, uma
vez que unidades próximas aos curtumes podem diminuir o custo associado ao transporte do rejeito.
Outro projeto é o desenvolvimento de um fotocatalisador flutuante, capaz de destruir contaminantes orgânicos não-biodegradáveis
em barragens de rejeitos e outros
líquidos resultantes de processos
químicos – como as águas poluídas
por corantes da indústria têxtil e
água de lavagem de embalagens de
defensivos agrícolas. Segundo Magalhães, os atuais processos oxidativos para matéria orgânica não-biodegradável são muito caros, tanto
para instalação quanto para operação, inviabilizando sua aplicação em
um volume muito grande de água.
A ideia se baseia em aplicar o
fotocatalisador, ativado pela luz solar, em um substrato flutuante ao
longo da superfície de uma lagoa
contaminada, por exemplo, cobrindo praticamente toda sua extensão.
“Aproveitaremos o sol para ajudar
nesse processo, utilizando elementos que, através da radiação solar,
vão degradando lentamente esses
contaminantes”, detalha Lago. O
licenciamento do catalisador flutuante já foi concedido pela UFMG ao
grupo, que agora está em negociações para uni-lo a outra patente, da
FAPEMIG, de um catalisador ainda
mais eficiente e barato, otimizando
custos e resultados em grande volume de material. O objetivo é chegar
a uma qualidade de água que possa
ser descartada com segurança no
ambiente ou reutilizada em processos da empresa.
Virgínia Fonseca
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
29
Em
saudável
crescimento
Núcleo Tecnológico em
Floricultura impulsiona o
segmento a partir da produção
científica e da difusão de novas
tecnologias
Com o clima diversificado, que vai
do tropical ao temperado, Minas Gerais é hoje o segundo maior Estado
em área plantada para cultivo de flores
no Brasil. São mais de 1,1 mil hectares,
um número surpreendente em relação aos 118 hectares dedicados a essa
cultura dez anos atrás. Mas o clima
não é o único fator favorável ao desenvolvimento da floricultura mineira.
Nos últimos anos, uma série de ações
de incentivo tem sido empreendidas e
pesquisas coordenadas pela Empresa
de Pesquisa Agropecuária de Minas
Gerais (Epamig) resultaram, inclusive,
na criação de um Núcleo Tecnológico
específico para o setor.
O Secretário de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Gilman Viana Rodrigues, avalia que a floricultura em Minas Gerais se introduz
gradativamente no contexto do agronegócio. “Os eventos deste segmento
realizados no Estado estão cada vem
mais expressivos, assim como a participação nas vendas internacionais do
agronegócio mineiro”, pondera. Ele
acrescenta que a Secretaria de Estado
de Agricultura (Seapa) participa ativamente também do setor de pesquisas,
acompanhando e apoiando as atividades da Epamig.
Os trabalhos da Epamig começaram em 2004, com a implantação do
30
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
Projeto de Ação para o Desenvolvimento da Floricultura e Plantas Ornamentais na Fazenda Experimental
Risoleta Neves (FERN), em São João
del Rei. As pesquisas evoluíram rapidamente, ajudando a impulsionar os resultados do setor. Inicialmente criado
com foco principal na introdução do
cultivo de flores tropicais em Minas
Gerais, o projeto originou o Núcleo
Tecnológico de Floricultura, um órgão
pioneiro que visa estimular o segmento, tanto na produção de pesquisas
quanto na difusão de tecnologias, proporcionando novas alternativas para a
geração de emprego e renda. “O local
se tornou uma referência para avaliação da eficiência e do desenvolvimento da floricultura mineira”, avalia o Secretário de Estado de Agricultura.
De acordo com a engenheira agrônoma Thyara Ribeiro, pesquisadora do
Núcleo e integrante do Departamento
de Transferência e Difusão de Tecnologia da Epamig, na ocasião do início do
projeto, as flores temperadas já eram
tradicionais em Minas, então, o objetivo era adaptar o cultivo das tropicais,
próprias de regiões mais quentes.“Mas,
com o tempo, introduzimos outras variedades a partir da demanda, como o
copo de leite, que é uma flor temperada”, conta. Dos 100m² e três espécies de flores cultivadas no primeiro
Foto:Thyara Ribeiro
Floricultura
momento, houve uma progressão para
0,5 hectare, onde agora são exploradas
mais de 15 variedades diferentes, entre
flores tropicais e temperadas, em três
estufas, três telados e a céu aberto.
Progressos
Para apoiar as ações do Núcleo, a
FERN, que funciona como uma unidade demonstrativa quanto às técnicas
desenvolvidas, possui infraestrutura
constituída por bancos de germoplasmas (canteiros de onde são retirados
rizomas e outros materiais para produção de mudas) de algumas espécies
de flores temperadas e tropicais, áreas
experimentais de manejo, condução
e produção de mudas. Até setembro
deste ano, deve ser inaugurado um
laboratório de micropropagação para
flores e plantas ornamentais, que irá
proporcionar a produção mais rápida
das mudas por meio de processos mais
sofisticados, possibilitando o cultivo em
maior escala para comercialização.
De acordo com a pesquisadora, o
Núcleo vem recebendo recursos que
são utilizados prioritariamente na modernização e adequação das instalações
e são, na sua maioria, provenientes de
fundações públicas de apoio à pesquisa. A FAPEMIG é um dos parceiros. “A
demanda dos floricultores confirma a
pertinência do programa. Apoiado em
pesquisas científicas, o setor tende a
crescer ainda mais, o que se traduz
em uma nova opção de renda para
a região e em desenvolvimento para
o Estado”, justifica o presidente da
Fundação, Mario Neto Borges. Thyara
acrescenta que a unidade ainda possui
várias parcerias com a iniciativa privada, promovendo o desenvolvimento e
transferência de tecnologia para o setor produtivo.
Além das flores tropicais - helicônias, bastão do imperador, sorvetão,
musas, antúrios, bromélias -, flores
temperadas também são estudadas,
dentre elas copo de leite, rosas, violetas, orquídeas. As mudas são utilizadas
prioritariamente para pesquisas. Os
trabalhos, que inicialmente eram focados nos aspectos de adaptação das
plantas ao solo, clima e umidade, hoje
abrangem outras linhas, como: produção de mudas de alta qualidade; nutrição mineral; conservação pós-colheita;
estudo da cadeia produtiva do Estado;
introdução e adaptação de novas espécies; manejo de plantas envasadas e de
flores de corte; produção integrada de
flores; controle de pragas e doenças.
A equipe envolvida também cresceu e conta com cinco pesquisadores,
coordenados pela engenheira agrônoma Simone Reis. “Muitos desses estudos são executados em parceria com
as Universidades Federais de Lavras,
São João del Rei e Viçosa. Temos inclusive bolsistas auxiliando na execução
dos projetos”, comenta Ribeiro.
Interação com o mercado
Dentre as espécies cultivadas, existem apenas duas, tropicais, cujas mudas
são comercializadas, a Helicônia Golden Torch, Helicônia rostrata. “No caso
dessas, o processo de adaptação está
totalmente concluído, outras seguirão
o mesmo caminho na medida em que
tenhamos informações suficientes também sobre elas”, explica a pesquisadora.
As mudas são vendidas principalmente
para produtores e compradores particulares de Minas (Barbacena, Grande
BH, Governador Valadares, Oratórios,
Manhuaçu, Viçosa) e, eventualmente,
Bahia e Espírito Santos. A pesquisadora
avalia que São João del Rei encontrase em um posição estratégica entre os
grandes centros produtivos de flores e
plantas ornamentais do Estado – Barbacena e Região Central. Os
trabalhos contam com uma importante
participação dos produtores do setor,
que além de visitarem o Núcleo para
conhecer de perto os trabalhos, contribuem na identificação das demandas,
orientando a Epamig quanto às linhas
de estudos relevantes. Antônio Jaques
Taroco, que há mais de 30 anos trabalha
com floricultura e cultivo de flores de
corte em São João del Rei, e a esposa,
Maura Teixeira Taroco, visitam a fazenda
para assistir palestras e cedem espaço
para realização de projetos experimentais em suas plantações. “É uma parceria mesmo, procuramos acompanhar
sempre, colaborando e aprendendo”,
conta Maura Taroco. Segundo ela, desde o início das pesquisas, é perceptível a
melhoria para o setor. “Antes o comércio de flores não era tanto. O trabalho
da Epamig tem ajudado a expandir o
conhecimento sobre a floricultura na
própria região, através de palestras, exposições. Isso ajuda muito”, afirma.
Esforço conjunto
Apesar do crescimento da área e
das evoluções apresentadas nos últiMINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
31
Foto:Thyara Ribeiro
mos anos, Thyara Ribeiro lista alguns
problemas que os produtores ainda
enfrentam: a baixa profissionalização e
a desqualificação da mão-de-obra operacional; falta de conhecimentos para
assistência técnica; falta de material
didático; carência de produtos fitossanitários específicos; inexistência de
normas e padrões de qualidade para
os produtos; inadequação dos meios
de apoio logístico. Questões tributárias e de financiamento também são
apontadas, além do baixo consumo
per capta nacional; concorrência com
os produtos importados; desconhecimento do mercado nacional e internacional; carência de ações de promoção
e marketing.
A partir do conhecimento dessas
dificuldades, a Epamig e outras entidades incentivadoras da atividade tem implementado ações de desenvolvimento
que nos últimos anos resultaram em
ganhos para o setor. De acordo com
Thyara Ribeiro, uma das principais foi a
criação pela Seapa, em 2005, da Câmara Técnica de Floricultura, formada por
entidades da iniciativa privada e estaduais, como a própria Epamig, a Empresa
de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater),
o Instituto Mineiro de Agropecuária
(IMA), o Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e
associações de produtores de flores. A
Câmara tem como missão fortalecer e
nortear as políticas, programas e ações
para o desenvolvimento da floricultura
mineira, criando instrumentos para expandir a comercialização, a competitividade e a organização em associações,
além de estimular a diversificação dos
produtos cultivados.
Quanto às colaborações do Núcleo para a expansão do setor, além
das pesquisas, agrônoma cita os trabalhos de divulgação, nos principais
meios de comunicação, da produção e
técnicas de cultivo de flores e plantas
ornamentais. A transferência de tecnologia é constantemente trabalhada.
“Já realizamos mais de 120 palestras,
cursos, reuniões técnicas e treinamentos desde 2004”, contabiliza. Em maio
deste ano foi lançado o Segundo Informe Agropecuário da Epamig de Floricultura, com artigos científicos que
servem de orientação para produtores atuantes na área, o primeiro livro,
lançado em 2005, é referência internacional em trabalhos científicos.
Desde 2006, é realizado em Belo
Horizonte o Seminário Mineiro de
Floricultura. A 4ª. edição ocorrerá no
segundo semestre deste ano. O encontro, que conta com o apoio da FAPEMIG, reúne renomados pesquisadores
e especialistas do país e do mundo na
área de floricultura, com a finalidade
de integrar e atualizar os produtores,
estudantes, pesquisadores, professores
e profissionais quanto às novidades do
setor. Quase 300 pessoas participam
anualmente.
Virgínia Fonseca
32
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
Foto:Todd Radwell
Lembra dessa?
Produção de flores
no Estado
A produção se propaga por várias
regiões do Estado, de acordo com
as características locais, mas de
modo geral, os maiores produtores encontram-se na região central. Cerca de 120 espécies são
produzidas no Estado e dentre as
mais cultivadas estão:
Criadores e criatura –
Equipe responsável pelo
desenvolvimento do Sabiá
6: Mariana Rayane Pereira
Ambrosio; Júnio Luiz Lima
de Oliveira; Josimar Júnio
de Souza; Lívia Galvão
Fiúza; Frederico Guerra
Albergaria de Carvalho;
Sarah Soares Carvalho; Jairo
Jose Drummond Câmara;
Rita Engler;Thayana Cordeiro
de Meneses e Gilson Pereira
Junior
• Flores de corte: rosas, semprevivas, crisântemos, copo de leite,
cravo, áster, gladíolos
• Flores envasadas: orquídeas,
plantas suculentas, bromélias, antúrios e crisântemos.
• As mudas de jardim são as que
ocupam maior área cultivada
(43,33%), seguidas das plantas de
corte (25,15%) e das mudas arbóreas (19,23%), o restante do
cultivo se divide em mudas de palmeiras, plantas envasadas, grama e
bulbos.
• A comercialização é feita não só
na região produtora, mas no Estado e outras regiões do Brasil,
além de países da Europa, Ásia e
América do Norte. Os principais
produtos exportados são rosas
de corte, orquídeas de corte, sempre-vivas e bulbos de lírios.
• Atualmente, cerca de 430 produtores trabalham na produção
de flores e plantas ornamentais,
empregando, em toda a cadeia
produtiva até a comercialização,
mais de 5mil pessoas. Quase metade (48%) desses produtores
atua no ramo entre 4 e 10 anos
e 69% deles enxergaram na floricultura uma lucratividade maior
que os demais setores agrícolas.
A atividade pode ser explorada
em pequenas propriedades, representando uma alternativa para a
agricultura familiar, e proporciona
retorno relativamente rápido em
relação a outras culturas.
Fonte: Universidade Federal de Lavras/2008
Protótipo da Uemg vence
maratona na Califórnia
Inovador e arrojado. Assim é possível qualificar o protótipo batizado de Sabiá 6, que ganhou o primeiro lugar
na categoria de Design Inovador da competição Shell EcoMarathon Américas, realizada no dia 18 de abril, na Califórnia, Estados Unidos. A equipe do Centro de Pesquisa
e Desenvolvimento em Design e Ergonomia da Universidade Estadual de Minas Gerais (Uemg), coordenada pelo
professor Jairo Drummond, recebeu da Shell Oil Company
um cheque no valor de US$ 500 por ter desenvolvido um
modelo inspirado em carros Bugattis da década de 30 e
no herói norte-americano das histórias em quadrinho, o
Homem de Ferro.
Neste ano, mais de 500 alunos se inscreveram para
a competição, formando 44 equipes de seis escolas de
ensino médio e 29 universidades da América do Norte
e Sul, incluindo Brasil, Canadá, México e Estados Unidos.
Além disso, participou também uma equipe convidada da
Índia. “O prêmio representou um atestado de qualidade e
de capacidade da Uemg e de Minas Gerais. Conseguimos
mostrar nosso produto em escala mundial”, comemora
Drummond.
O projeto Sabiá teve início em 1993 e, desde aquela
época, o objetivo das equipes envolvidas era desenvolver
um carro econômico e com design diferenciado, que se
destacasse não só pela estética, mas também pela aerodinâmica, o que permite melhores condições de deslocamento do automóvel. A primeira participação do carro em
competições foi em 1994.
Neste ano, a equipe brasileira buscou criar um modelo
com desempenho superior aos protótipos anteriores. Deu
certo. Pintado na cor laranja califórnia, o Sabiá 6, além de
mais bonito, foi mais competitivo do que as outras versões.
Composto por um controle para ligar e desligar e por um
motor que é um cortador de grama e foi trabalhado para
render mais, o modelo ficou muito menor e mais leve do
que o anterior. A conquista na Shell Eco-Marathon Américas está entre as mais de quarenta que os alunos do centro
de pesquisa já ganharam em 15 anos.
Desde a época em que foi tema de reportagem da Minas Faz Ciência (edição nº 8), o projeto Sabiá da Uemg vem
aperfeiçoando veículos para competir em maratonas de
economia energética. Esta é a quarta vez que o professor
Drummond e seus alunos participam da maratona - as outras foram em 1994, 1995 e 2000. Em duas delas, foram
premiados. Em 94, o Sabiá 1 recebeu o Prêmio de Honra do
Design e, há dois anos, o Sabiá 3 foi escolhido o mais bonito
pelo júri e condecorado com o Prêmio Especial de Design
para Equipe Estrangeira. No entanto, além das premiações
que são de extrema relevância para os currículos de todos
os alunos envolvidos nesse trabalho, o professor afirma que
“formar cérebros” é a grande importância desse projeto.
“Fomos capazes de chegar lá e mostrar um projeto
inovador com relação a todos os demais”, acrescenta ele.
A FAPEMIG é um parceiro constante do projeto. Este ano,
a parceria com a Fundação proporcionou apresentações
internacionais e um excelente retorno científico. O projeto já foi apresentado na Croácia, em Mônaco e na França.
Os próximos destinos serão Bueno Aires, no mês de julho,
e China (IEA 09), em agosto. “O evento na China é considerado um dos maiores do mundo na área”, destaca o
professor. Ainda em 2009, está confirmada a participação
do projeto na Inovatec, que é considerado o maior evento
brasileiro de divulgação e incentivo às inovações tecnológicas, a ser realizado em outubro, em Belo Horizonte.
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
33
Hidráulica
para quem
precisa
Sem impacto
ambiental e de
baixo custo, nova
tecnologia garante
energia elétrica
para comunidades
ribeirinhas
Um equipamento de baixo custo que aproveita
a correnteza dos rios para gerar energia elétrica. A
novidade foi desenvolvida no Laboratório Hidromecânico para Pequenas Centrais Elétricas da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), o principal centro
de máquinas hidráulicas do país. Batizado de Hidropólio, o aparelho foi criado para atender às comunidades ribeirinhas e funciona com base no mesmo
princípio que as asas de um avião.
Segundo o professor Geraldo Lúcio Tiago Filho,
coordenador da pesquisa, não há nada parecido no
mundo com o Hidropólio. “A concepção é única,
pioneira, e o registro de patente do produto já foi
solicitado. O levantamento feito pelo programa Luz
para Todos mostra que 12 milhões de brasileiros
não tem acesso à energia elétrica. Destes, três milhões vivem em comunidades isoladas, na Amazônia
ou no Vale do São Francisco, em Minas Gerais - eles
são os potenciais beneficiários da iniciativa. O objetivo é gerar energia elétrica aproveitando os rios
de planície”, diz.
34
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
Foto: Geraldo Filho
Energia
No Brasil, as grandes usinas hidrelétricas são as principais geradoras
de energia elétrica. O diferencial do
aparelho é que ele utiliza a energia hidráulica da correnteza dos rios, o que
não resulta em impacto para o meio
ambiente já que não é preciso formar
uma represa nem alterar o regime de
vazões e quantidade de água. “O Hidropólio aproveita a energia cinética
de trechos de rios sem profundidade.
Na região Norte do Brasil, a grande
maioria dos rios é de planície”, lembra
o professor. O equipamento aproveita
baixas velocidades da água. Normalmente, a velocidade mínima necessária
para a geração de energia é de 1,2 a
1,5 metros/segundo (m/s). O aparelho
pode ser usado com 0,7 a 0,8 m/s. A
energia gerada é alternada: pode carregar uma bateria ou ser levada diretamente ao consumidor.
O custo é outra vantagem: estimado em cerca de R$10 mil, o valor é
inferior ao dos modelos convencionais
para geração de energia em comunidades isoladas, como é o caso da turbina
hidrocinética. Uma vez no mercado, o
professor acredita que haverá interesse das concessionárias de energia em
adquiri-lo. “Por lei, é a concessionária
que tem a obrigatoriedade de oferecer gratuitamente a instalação da
energia elétrica para a população. O
custo de um quilowatt (kw) em centrais elétricas varia de R$ 3 mil a R$ 5
mil, investidos em construção e trans-
O movimento sobe e desce das pás do
Hidropólio aciona um gerador que fornece
eletricidade para o consumo doméstico
Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
em parceria com o Serviço Brasileiro
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), universidades, centros de
pesquisa e prefeituras.
O Princípio de Bernoulli prega que “se a
velocidade de uma partícula de um fluido
aumenta enquanto ela se escoa ao longo
de uma linha de corrente, a pressão do fluido deve diminuir e vice-versa”. Ou seja, se
a velocidade de um fluido aumenta, então
haverá um decréscimo na pressão. É esse
o princípio utilizado na construção de aeronaves. Como a asa do avião é mais curva
na parte de cima, o ar passa mais rápido
na superfície superior que embaixo. Assim,
a pressão do ar em cima da asa é menor
que na parte de baixo, criando uma força
de empuxo que sustenta o avião no ar.
missão da energia. Para que o brasileiro
possa tomar banho quente utilizando 4
kw a 5 kw, o governo investe de R$
12 mil a R$ 20 mil para cada chuveiro
elétrico”, afirmou. Os impactos para as
comunidades beneficiadas vão desde o
aumento da qualidade de vida, percebida a partir dos seis primeiros meses de
utilização da energia, até o uso produtivo da energia elétrica, gerando renda.
De aço inox e galvanizado, o protótipo gera potência suficiente para
atender até cinco casas, cada uma
com aproximadamente seis lâmpadas,
uma geladeira, um rádio, uma televisão, uma antena parabólica e um ferro
elétrico. Sua instalação e manutenção
também tem custo reduzido, o que
o torna ideal para regiões de pouca
infraestrutura. A expectativa é que o
produto seja produzido em escala industrial já em 2010.
O Programa de Incentivo à Inovação (PII) aportou recursos para os
estudos de viabilidade técnica, econômica e comercial. “Os recursos do
PII foram disponibilizados e a empresa
que vai construir o primeiro protótipo
comercial já foi contratada. O protótipo comercial deve ficar pronto em
aproximadamente três meses e até o
ano que vem o Hidropólio estará no
mercado”, prevê Geraldo Filho. O PII
tem como objetivo transformar projetos de pesquisa em inovações tecnológicas para benefício da sociedade e
é uma iniciativa do Governo de Minas,
por meio da Secretaria de Estado de
Funcionamento
O Hidropólio é composto por dois
tipos de pás. A água que passa por elas
tem velocidade maior na parte superior
e, consequentemente, menor pressão. Na
parte de baixo, onde a velocidade é menor, a pressão é maior. Desta diferença de
pressão surge a força de sustentação,
segundo o princípio de Bernoulli.
A força de sustentação faz com que
as pás subam. Quando estão na superfície, essa força se inverte e o equipamento desce, dando início a um novo
ciclo. Esse movimento de pás é usado
para acionar um gerador que fornece
a eletricidade para o consumo doméstico. “Para aumentar a potência gerada,
basta aumentar o tamanho do aparelho, aumentar a área. É interessante
aproveitar quase totalmente a largura
do rio”, garante.
O produto é resultado de estudos
desenvolvidos na Unifei já há dois anos.
Geraldo Lúcio Filho também é secretário executivo do Centro Nacional
de Referências em Pequenas Centrais
Hidrelétricas (CERPCH), programa
dos ministérios da Ciência e Tecnologia e do Meio Ambiente e Recursos
Hídricos. O Centro, que funciona na
Universidade, opera no desenvolvimento de projetos básicos, estudos de
inventários, projetos de recapacitação
e repotenciação de centrais antigas.
A experiência no Centro foi útil
no desenvolvimento do protótipo.
Por meio dele, o pesquisador realizou
uma série de trabalhos para atendimento a comunidades do Pará e Rondônia. “Foi essa experiência que nos
motivou a buscar um dispositivo que
atendesse a essas comunidades, que
geralmente estão às margens de rios
com pouco declive”.
Thaís Pontes
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
35
microscópica
UFU é referência em pesquisas
sobre bactéria que é uma
das principais causadoras da
gastrenterite
Todo bom churrasco é assim: família, amigos, bebida gelada e a carne,
centro da festa, em versões para todos
os gostos. A picanha mal passada, avermelhada ou sangrando, é uma delas e
sempre tem seus apreciadores. Talvez
eles não saibam que o prato suculento
pode esconder uma inimiga microscópica: a Campylobacter jejuni, bactéria do
gênero Campylobacteriaceae, que pode
atacar o sistema gastrintestinal do homem e está relacionada a síndromes
que afetam o sistema nervoso. Em muitos países, como os Estados Unidos, ela
é a principal causa de gastrenterite. No
Brasil, ainda não há dados oficiais a respeito, mas estima-se que ela também
seja importante causa da doença.
No país, os estudos sobre a bactéria ainda são poucos e a maioria
é incipiente. Diante disso, há cinco
anos, uma equipe do Laboratório de
Biotecnologia Animal Aplicada (Labio)
da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) começou a investigar a C.
jejuni, seu comportamento biológico e
as principais formas de contaminação.
Hoje, a equipe coordenada pela bióloga e médica veterinária Daise Rossi
é referência no assunto, com trabalhos publicados em revistas nacionais
e internacionais, além de prêmios na
área. Recentemente, membros do Ministério da Agricultura manifestaram
36
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
interesse de que os pesquisadores
da UFU realizassem intercâmbio com
seus profissionais, a respeito da bactéria. Hoje a equipe é formada por três
alunos de graduação, três de mestrado,
uma de doutorado e tem a participação dos professores Marcelo Emílio
Beletti e Paulo Lourenço da Silva.
As carnes em geral, principalmente
a de frango, são os principais focos da
C. jejuni. Porém o leite não pasteurizado e seus derivados também tem
alto índice de contaminação. A bactéria também pode ser encontrada em
verduras e frutas que tiveram contato
com animais contaminados e na água
não tratada. A boa notícia é que a bactéria não resiste a altas temperaturas
e ao cozimento bem feito, a fervura
ou a pasteurização, no caso do leite,
são suficientes para eliminá-la. A higiene adequada das mãos e dos utensílios de cozinha também é importante
na prevenção da campilobacteriose
(nome dado à doença), uma vez que a
carne crua pode contaminar talheres
e vegetais que serão consumidos sem
cozimento.
Os sintomas da contaminação por
Campylobacter jejuni podem durar de
um a quatro dias e incluem diarreia,
dor abdominal, dores de cabeça e
musculares, febre e vômito. Normalmente, o próprio organismo infectado
cria respostas imunológicas capazes
de curar a doença, mas, se necessário, o tratamento pode ser feito com
antibióticos usados para tratar outras
doenças do sistema gastrintestinal.
Crianças, idosos e pessoas com sistema imunológico fragilizado, como portadores de HIV e pacientes com câncer, podem apresentar sintomas mais
graves, principalmente se a bactéria
atingir a corrente sanguínea. Nesses
casos, o quadro clínico pode até mesmo evoluir para a morte.
Outra preocupação dos pesquisadores é com o fato de que a campilobacteriose pode estar relacionada a
síndromes que causam alterações no
sistema nervoso, como a de GuillainBarré, caracterizada por sintomas de
paralisia neuromuscular aguda. “Todas
essas síndromes tem tratamento e são
na maioria das vezes reversíveis, mas é
um tratamento lento, que frequentemente demanda internação”, diz Rossi.
Segundo a pesquisadora, uma das
possíveis explicações para a relação
entre a síndrome de Guillain-Barré e
a campilobacteriose é a de que a síndrome é causada por substâncias produzidas pelo organismo na tentativa de
combater a bactéria. “Toda vez que é
atacado, para se defender, o organismo
gera uma resposta que em alguns casos
pode ser exacerbada e prejudicar o próprio organismo gerando uma resposta
autoimune”, diz. No caso da síndrome
de Guillain-Barré, isso pode acontecer
até três meses depois da contaminação
por Campylobacter e diarreia.
estudos. Eles são muito importantes,
pois, quanto mais se sabe sobre os
pontos críticos relacionados à infecção de humanos por um organismo e
os fatores relacionados à sua presença,
mais fácil fica a prevenção”, diz.
Os pesquisadores da UFU estudam principalmente a ação da C. jejuni
em frangos, principal reservatório da
doença, que é uma zoonose, ou seja, é
transmitida do animal ao homem. No
frango, no entanto, a campilobacteriose não apresenta sintomas visíveis.
Os motivos ainda são desconhecidos.
Na tentativa de descobri-los, pesquisadores do Laboratório de Microscopia Eletrônica da Universidade, sob
coordenação do médico veterinário
Marcelo Beletti, estudam a biologia da
bactéria dentro das células.
“Queremos saber por que a bactéria, quando penetra na célula, causa
enterite em humanos e nas aves não.
Uma possível explicação é que ela
ainda não foi encontrada na mucosa
das aves, apenas nas células de revestimento, onde não gera reação inflamatória”, explica Beletti. Segundo ele, a
Fotos: Glenio Campregher
Inimiga
Fotos: Glenio Campregher
Saúde
Conhecendo o inimigo
Diante dos riscos causados pela C.
jejuni, a equipe da pesquisadora Daise
Rossi tem se debruçado em trabalhos
que buscam conhecer melhor a bactéria. Segundo ela, no mundo já são muitas as pesquisas sobre o tema, mas, no
Brasil, ele ainda tem pouco destaque.
“Estou bastante satisfeita de estar trabalhando com essa linha. No mundo
inteiro só se fala de campilobacteriose, mas no Brasil ainda temos poucos
No Laboratório de Microscopia Eletrônica da
UFU, os pesquisadores estudam a biologia da
bactéria no interior das células.
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
37
É possível evitar a contaminação
por C.jejuni e outras bactérias usando medidas simples.Veja algumas:
• Lave bem as mãos e os alimentos antes de consumi-los. Frutas
e legumes podem ser deixados
por alguns minutos em solução
de água e vinagre e lavados em
seguida.
• Lave bem as mãos após usar o
banheiro, ter contato com carne
crua ou animais, inclusive cachorros e gatos.
• Não corte legumes e verduras que
serão consumidos crus na mesma
tábua usada para tratar a carne,
nem use os mesmos talheres para
manipulá-los.
• Em trilhas e passeios ecológicos,
não beba água de rios e cachoeiras.
• Não consuma leite e derivados
(como queijo, manteiga, doce e
maionese) sem que sejam pasteurizados.
• Se o leite não for pasteurizado,
ferva-o bem antes de beber.
• Carnes devem ser adquiridas de
estabelecimentos sob inspeção e
devem ser cozidas adequadamente
antes do consumo.
38
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
Fotos: Glenio Campregher
Fotos: Glenio Campregher
Fotos: Glenio Campregher
Prevenção
var mais de dez dias para ser obtido
pelo método tradicional. “Da forma
convencional, o provável positivo vem
em três ou quatro dias. Depois disso,
eu tenho que iniciar a identificação bioquímica para saber qual é a espécie e, se
for necessário quantificar, é ainda mais
complicado. Quando uso esse aparelho,
em 90 minutos, ele me dá a espécie e a
quantidade de cada uma”, diz.
Na análise de ovos comerciais,
que não geram pintos por terem sido
produzidos pela galinha sem a participação do macho, uma importante
descoberta rendeu à equipe o segundo lugar no Simpósio IAFP América
Latina, da International Association for
Food Protection (IAFP), realizado em
Campinas no ano passado. Daise Rossi
e seu grupo constataram que a Campylobacter jejuni não contamina ovos
destinados ao consumo. “Tentamos de
várias formas. Inoculamos, colocamos
os ovos em contato com água contaminada, em ambiente contaminado e
realmente não conseguimos encontrar
a bactéria dentro do ovo”, diz Rossi.
Resultados diferentes, que serão publicados em breve em artigos científicos,
foram obtidos no trabalho com ovos
de matrizes reprodutoras (ovos embrionados capaz de gerar pintinhos) e
de matrizes LPE, tanto frescos como
embrionados.
Com relação ao ovo comercial, a
hipótese é que a clara seja capaz de
destruir a bactéria dentro do ovo.
“Imaginamos que a clara destruiria a
bactéria porque ela possui enzimas
bactericidas e pH básico, inadequado
para a sobrevivência da bactéria”, diz
a pesquisadora. A surpresa, no entanto, foi que, nos experimentos in vitro, a
clara inoculada não foi capaz de destruir a bactéria. “Acho que in vitro o
pH e as enzimas estavam muito ativas.
Pode ser que in vivo a composição da
clara seja diferente”, esclarece.
Na análise de animais vivos, os
pesquisadores da UFU fizeram outra
descoberta importante. As análises
comprovaram que há transmissão
vertical da bactéria, ou seja, da galinha
LPE para os pintos. “Conseguimos ver,
por exemplo, que a bactéria é capaz
de passar para dentro do ovo, pelos
poros”, conta Belchiolina Fonseca. As
bactérias foram colocadas na maravalha, espécie de cama onde as galinhas
colocam seus ovos, e inoculadas nos
Fotos: Glenio Campregher
Fotos: Glenio Campregher
A bióloga e médica veterinária Daise Rossi
coordena boa parte das pesquisas sobre a
C.jejuni
ideia é que, em breve, sejam iniciadas
pesquisas sobre a ação da bactéria em
intestinos humanos. Para isso, serão
utilizados fragmentos saudáveis de
intestinos retirados em cirurgias. No
Laboratório, é acompanhado todo o
processo de reconhecimento da bactéria e os movimentos que ela faz em
torno da célula. “Em humanos, o processo é parecido, mas é uma doença
clínica com problemas secundários
graves”, ressalta. Segundo Daise Rossi,
entre os objetivos principais dessa linha de pesquisa estão o de verificar se
a contaminação pela C.jejuni, embora
assintomática, gera perda econômica
ao longo da cadeia produtiva, quais
os riscos do consumo de alimentos
contaminados e se a bactéria provoca
alguma alteração no funcionamento
intestinal da ave.
No Labio, as pesquisas são em torno da epidemiologia da bactéria nos
animais, com o objetivo de melhor
identificar as formas de disseminação
e controle. Na pesquisa são utilizadas
aves e ovos férteis (que vão gerar
pintos) e inférteis (para consumo humano), todos cedidos por empresas e
laboratórios parceiros. Uma das aves
utilizadas é a galinha Livre de Patógenos Específicos (LPE).“Isso evita que
outros microorganismos atrapalhem a
pesquisa”, explica a doutoranda e pesquisadora do Laboratório, Belchiolina
Beatriz Fonseca.
O material biológico, incluindo
ovos e frangos, é inoculado, ou seja,
contaminado propositalmente com
a bactéria, a fim de verificar suas formas de disseminação. Os testes para
verificar se o animal foi contaminado
normalmente são feitos nas fezes de
animais vivos ou em órgãos do sistema digestivo de animais mortos (baço,
fígado e intestino). Nesses casos, o
material segue para o Laboratório de
Microscopia Eletrônica, onde é verificada a forma da bactéria.
O Laboratório de Biotecnologia
Animal Aplicada conta com um equipamento inovador, o aparelho BAX-Q7PCR - real time, que permite diagnóstico muito mais rápido e tão preciso
quanto os realizados por meios convencionais. Quando há grandes quantidades de amostras a serem analisadas,
ele tem papel fundamental. Com este
equipamento, é possível obter em 90
minutos um resultado que poderia le-
Nos laboratórios da UFU, os pesquisadores estudam, entre outros, a ação da
bactéria em frangos, principal reservatório da doença.
animais por via oral. “Achamos, em algumas situações, a bactéria dentro do
ovo, tanto em técnica de PCR como
por isolamento em cultura tradicional
e encontramos, por microscopia eletrônica, dentro do intestino dos embriões”, relata Daise Rossi.
As pesquisas terão continuidade
em outros trabalhos, alguns em parcerias com outros laboratórios da UFU,
como o Laboratório de Genética.
Segundo Belchiolina Fonseca, há, por
exemplo, a intenção de desenvolverem um kit de diagnóstico rápido, para
detectar a presença da bactéria, e uma
vacina.“No Brasil, não há vacina contra
a Campylobacter e, se existe em outros
países, ela ainda não é funcional”, diz a
doutoranda.
Pesquisas com outros animais também vêm sendo realizadas no laboratório. Em breve, uma nova pesquisa
vai analisar o papel de animais domésticos, cachorros e gatos, em contato
com crianças, na disseminação da bactéria. “Acho que é algo que precisa ser
investigado até mesmo para orientar
as mães. É possível que eles tenham
papel importante nessa disseminação
também”, afirma Daise Rossi.
Em outro estudo, os pesquisadores
estão verificando a epidemiologia em
suínos. Os porcos são acompanhados
desde o criadouro até se transformarem em carne para o consumo. “Os
animais chegam com uma positividade
muito alta no frigorífico”, diz Daise
Rossi. Ela explica que os processamentos de abate são capazes de diminuir
os índices de contaminação, embora
não sejam capazes de zerá-lo. Para a
pesquisadora, o controle adequado da
C.jejuni depende de esforços conjuntos e de vigilância sanitária. No Brasil,
ainda não há normatização a respeito,
nem exigências para análise de alimentos quanto à contaminação por Campylobacter. “Teria de ser um trabalho
semelhante ao que é feito com a Salmonella. É preciso trabalhar na cadeia inteira: desde o campo ao frigorífico, exigindo boas práticas, para que tenhamos
índices aceitáveis, que não tragam problemas à saúde da população”, opina.
Ariadne Lima
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
39
Foto Marcelo Focado
formalidade”, informa o presidente da
Associação Mineira de Produtores de
Cachaça de Qualidade (Ampaq), Alexandre Wagner da Silva.
O faturamento do setor é superior a US$ 600 milhões, e a exportação da cachaça movimentou US$
12,5 milhões em 2005, apenas 2% do
montante. Alemanha, Suíça e Portugal
são alguns dos maiores importadores.
“Mas é a cachaça de coluna a mais exportada”, apontou Patterson de Souza, pesquisador associado da UFMG
e consultor técnico da associação
mineira de produtores de cachaça, referindo-se ao produto industrializado.
Outro entrave, para ele, é a diferença
do imposto da bebida. A mesma opinião tem o presidente da Ampaq: “O
imposto da cachaça industrial é de R$
0,14 por garrafa e o da cachaça artesanal atinge R$ 2,23. A exportação é
insigni ficante”, diz.
Cachaça
tipo exportação
Substâncias nocivas
Pesquisa analisa componentes do aroma para
garantir a qualidade do produto
“Atenda-se que o brasileiro é devoto da cachaça, mas não é cachaceiro”.
A definição de Luís da Câmara Cascudo em seu “Prelúdio da Cachaça”
é confirmada pela produção nacional
da bebida, superior a 1,3 bilhão de litros/ano. No entanto, apenas 2% desse
volume é exportado. Segundo a pesquisadora Zenilda Cardeal, do Departamento de Química da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), o
baixo volume de exportações está diretamente relacionado ao controle de
qualidade do produto.
Com o objetivo de estabelecer
parâmetros para uma produção de
qualidade e aumentar os negócios no
exterior, uma equipe de pesquisadores
desenvolveu trabalho que busca determinar os compostos presentes no
aroma da cachaça por meio da cromatografia bidimensional abrangente. Essa
técnica analisa os compostos voláteis
em uma mistura e resulta em uma “im-
40
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
pressão digital” do produto. Centenas
de componentes do aroma da bebida
são detectados, inclusive as substâncias que comprometem a qualidade e
causam danos à saúde. Além disso, a
cromatografia possibilita verificar se
os compostos voláteis detectados são
provenientes da cana-de-açúcar, do
processo de fermentação ou da madeira utilizada no processo de envelhecimento da bebida.
Os componentes são identificados
através de um espectrômetro de massas que fornece a massa molecular e os
fragmentos de massa dos compostos
que foram separados por duas colunas do sistema de cromatografia gasosa, principalmente de compostos que
estão ao nível de traços. “São poucos
pesquisadores no mundo utilizando a
técnica – na Suiça, por exemplo, ela é
usada na produção de perfumes e na
França no controle de qualidade de
vinhos. Com a cromatografia bidimen-
sional, nós podemos dar ao produtor
o reconhecimento técnico, realizando
a comprovação tecnológica da qualidade”, diz a pesquisadora, primeira brasileira a estudar a técnica em outro país
(Austrália) e precursora na utilização
do método em Minas Gerais.
Essa comprovação da qualidade
pode ajudar na exportação do produto. Hoje, Minas Gerais é referência
em cachaça de qualidade, sem produto químico e totalmente artesanal. O
Estado tem produção de cachaça de
alambique estimada em 240 milhões
de litros por ano, o que responde a
60% da produção nacional. “Houve
uma demanda de produtores para
entender e melhorar o produto”, afirma Zenilda Cardeal. Em todo o Brasil, são 40 mil produtores de cachaça.
Em Minas, dos nove mil produtores
de cachaça de alambique, apenas 900
marcas são registradas. “Somente 10%
são legalizadas, as demais estão na in-
A cromatografia bidimensional
abrangente detecta os compostos que
devem e os que não podem estar presentes no produto. “Após a destilação,
a cachaça é dividida em três partes –
cabeça, coração e cauda. A cabeça é
rica em compostos mais leves e apresenta um teor alcoólico muito elevado.
Nessa fase, o produto pode apresentar
componentes nocivos à saúde como o
metanol”, explica Zenilda Cardeal. São
controlados também metais pesados e
Para exportação
Para apoiar os produtores da
cachaça de alambique, a Central Exportaminas lançou a cartilha “Como
Exportar Cachaça de Alambique”,
disponível no endereço http://www.
exportaminas.mg.gov.br/pdf/CartilhaCachaca.pdf. O guia é resultado
da parceria com a Ampaq, Cooperativa Central dos Produtores de
Cachaça de Alambique e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria
e Comércio Exterior, e apresenta
os procedimentos para iniciar um
processo de exportação de cachaça de alambique, com informações
e contatos das instituições de apoio
atuantes em Minas.
Foto Marcelo Focado
Química
Zenilda Cardeal, pesquisadora da UFMG.
o carbamato de etila, composto formado naturalmente no processo de
produção da cachaça, mas com origem
ainda discutível - uma das vertentes é
a de que o cobre dos alambiques possibilita sua formação.
Segundo a pesquisadora, existem
dois processos que são utilizados para
a retirada dos compostos nocivos:
passar por uma resina de troca iônica e por um filtro de carvão orgânico.
O pesquisador Patterson, utilizando
a técnica GCxGC durante um estágio na Austrália para seu trabalho de
doutorado verificou que “a resina de
troca iônica introduz os ftalatos que
são compostos nocivos e que podem
causar infertilidade.” O método, portanto, não deve ser usado isoladamente. Com os dois processos sendo usados na produção, todos os aromas são
preservados, os componentes nocivos
são eliminados e os compostos interessantes são mantidos. Segundo Patterson, apenas um produtor já utiliza
a tecnologia correta, com os dois processos. “O primeiro passo da pesquisa
foi identificar o problema, agora é que
vamos difundir o resultado”, esclarece.
O aroma
Na opinião de Zenilda Cardeal, o
aroma da cachaça é inigualável. “É mais
rico que o do whisky, rum, vodka e tequila, e só perde para o gim, que de tão
perfumado fica enjoativo. O aroma da
cachaça é considerado mais agradável”.
Na produção da cachaça de alambique,
os produtores envelhecem a bebida
em tonéis de madeira como os de umburana, jequitibá ou carvalho para aprimorar esse aroma. “O carvalho, madeira mais utilizada, é rico em compostos
aromáticos. Mas seu custo é elevado
porque não é uma árvore nativa e a
madeira precisa ser importada”.
A fim de expandir o estudo, a equipe de pesquisadores tenta a compra
de um novo equipamento, avaliado em
US$220 mil. A universidade já possui
o software necessário. Com a aquisição, os grandes beneficiados serão
os produtores da cachaça. Na UFMG,
o equipamento de análise existente,
o Trace-GC (Thermo-finnigan) é de
cromatografia unidimensional (GC)
e identifica apenas cerca de 30 compostos, enquanto a cromatografia bidimensional abrangente (GCXGC) faz
a separação detalhada de centenas de
compostos. No Brasil, a minuciosa análise de compostos é realizada somente
nos estados detentores do aparelho:
Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro,
que o adquiriu para teste antidoping
nos jogos pan-americanos.
O trabalho dos pesquisadores
também foi desdobrado em um estudo sobre como verificar falsificações,
sejam elas decorrentes de processos
químicos ou por adição de colorantes
e serragem. Além da cachaça, também
foram identificados os compostos no
aroma da pimenta rosa, conhecida no
exterior como pimenta brasileira (ou
brazillian pink pepper).A técnica da cromatografia é ainda utilizada para diversas análises toxicológicas, ambientais e
de alimentos, dentre outros.
Thaís Pontes
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
41
Saúde
(irritabilidade + ten são + mau-humor)
Tensão Pré- Menstrual (TPM). Ao
pensar neste termo, a primeira imagem que vem à cabeça é a de uma
mulher descontrolada, nervosa ou histérica. Popularmente, a sigla virou até
sinônimo de piadas e definições bemhumoradas como “Todos Problemas
Misturados”, “Totalmente Pirada e Maluca”, “Tente Permanecer Mudo” e até
“Tendência Para Matar”. E mais. Dizem
que “a diferença entre uma mulher na
TPM e um sequestrador é que, com o
sequestrador, ainda existe uma possibilidade de negociação”. Mas, por trás
das piadas e de todo este bom humor,
esconde-se uma condição médica que
atinge uma porcentagem significativa
de mulheres em todo o mundo.
Estudos demonstram que até 80%
das mulheres apresentam algum tipo
de sintoma físico e/ou psíquico no período pré-menstrual, o que é considerado, segundo especialistas, fisiologicamente normal. Os principais sintomas
físicos são cólica, inchaço, dores nas
mamas, sensibilidade, enxaqueca e dores nas articulações. Entre os sintomas
psicológicos, os mais relatados são
42
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
irritabilidade, humor depressivo, compulsão alimentar, tensão e até mesmo
agressividade. O termo TPM é o mais
usado popularmente para definir este
período, mas, academicamente, não
seria o mais correto, pois a letra “T”
corresponde à tensão, que representa apenas um dos sintomas relatados
pelas mulheres. Em função do grande
número de sintomas descritos na literatura médica (mais de 150), o termo
mais indicado para esta definição seria
Síndrome Pré-Menstrual (SPM).
Diversas teorias tem sido propostas para as causas da Síndrome
Pré-Menstrual. Entretanto, ainda não
há consenso para explicar a causa
exata. A teoria mais atual indica que
tal síndrome é causada por uma sensibilidade anormal às variações típicas
dos hormônios femininos ao longo do
ciclo menstrual. Assim, no organismo
das mulheres portadoras da SPM, as
oscilações normais dos níveis de estrógeno e progesterona que ocorrem
mensalmente são capazes de desencadear alterações em diversas funções
de seu corpo. Particularmente, os
sintomas psicológicos pré-menstruais
parecem decorrer de alterações em
neurotransmissores centrais, como a
serotonina. Um neurotransmissor é a
substância química que atua na transmissão dos impulsos nervosos de um
neurônio para o outro.
Para muitas mulheres, a SPM traz
consigo inúmeros problemas, pois durante “aqueles dias” elas mudam completamente. Estas mudanças afetam
não só a vida destas mulheres, mas a
dos seus namorados, maridos, filhos,
amigos, colegas de trabalho, que, assim
como ela, acabam tendo que conviver mensalmente com este problema.
Uma pesquisa realizada em 2008 pela
Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp) revelou que cerca de 50%
das mulheres percebem os “estragos”
da Síndrome Pré-Menstrual nos relacionamentos familiares e também seu
impacto no trabalho. Ainda segundo as
mulheres, mais de 50% dos homens
tentam entendê-las nessa fase sem
brigar, mas 11% deles ficam irritados
e impacientes.
Duke Chargista
Pesquisa
investiga novo
tratamento para
forma grave
da síndrome
pré-menstrual,
condição que
atinge 5% da
população
feminina
2
Descontrole
A funcionária pública, Santuza Barbosa, tem 38 anos e é casada há três.
Em um dia comum estava preparando
o almoço em sua casa e, segundo ela,
“o arroz não ficou bom”. Resultado:
chorou a tarde inteira. “Não conseguia parar de chorar. Meu marido não
entendia porque um simples arroz
me causou tanta comoção”, conta. A
funcionária pública então começou
a notar que estas alternâncias entre
sensibilidade e irritabilidade ocorriam
sempre no período pré-menstrual.
A professora, Marília de Dirceu,
também perdia o controle neste período. “Tinha literalmente vontade de
matar alguém. Esse alguém era quase
sempre o meu namorado”, desabafa. A
falta de paciência ainda vinha acompanhada de dor nos seios e nos quadris.
“Quando eu sentia que estava ficando
muito descontrolada, olhava no calendário e percebia que era a TPM”, relata. O descontrole também já fez com
que a operadora de telemarketing
Josiane Cristina, de 22 anos, deixasse
um cliente na linha e saísse correndo.
“Estava tão nervosa que tive que ir
embora para casa”, conta.
Santuza, Marília e Josiane são personagens de uma versão mais grave da
Síndrome Pré-Menstrual, que atinge
cerca de 5% da população feminina: o
Transtorno Disfórico Pré-Menstrual
(TDPM). O nome é mais complicado,
mas a diferença é simples. Quando os
sintomas pré-menstruais se tornam incontroláveis, a ponto de desequilibrar
a vida social, familiar e/ou profissional
destas mulheres, pode ser identificado
o transtorno. O diagnóstico preciso só
pode ser feito por profissionais, pois,
para confirmação de que a paciente
é portadora do TDPM é preciso observar alguns padrões. Quem explica
é a psiquiatra e pesquisadora, Melissa
Guarieiro Ramos. “Os critérios para
diagnóstico do TDPM são rigorosos e
excluem muitas mulheres com SPM”.
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
43
Duke Chargista
O fundamental é a determinação de
um padrão de sintomas, que seguem
um ciclo regular e repetitivo. São sintomas físicos, comportamentais e de
humor que aparecem ou ficam mais
graves depois da ovulação, duram até
o dia anterior à menstruação (fase lútea), e desaparecem com o início do
fluxo. Este padrão inclui um intervalo
livre de sintomas na fase folicular, que
começa no dia da menstruação e termina com a ovulação.
“Para confirmar o diagnóstico é
preciso que a paciente passe por uma
avaliação prospectiva, feita através de
um registro diário dos sintomas”, explica a psiquiatra. Este registro é feito em uma espécie de diário, onde a
mulher deve marcar diariamente os
sintomas experimentados, sua gravidade, se está ou não menstruada e
observações que considerou importante registrar naquele dia. Sintomas
como variação do humor, tristeza ou
depressão e ansiedade recebem nota
de 1 a 6, de acordo com o grau de
intensidade. O diário deve ser preenchido durante dois ciclos menstruais.
No final, é possível visualizar um gráfico com as alterações. Quando há uma
variação nas pontuações de sintomas
na fase lútea no mínimo 30% maior em
relação à fase folicular, deve-se diagnosticar o TDPM.
Investigação
Conforme o último Censo (2000),
existe cerca de 47 milhões de mulheres na faixa etária de 15 a 49 anos,
44
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
considerada idade fértil. Se 5% delas
possuem o TDPM, significa que mais
de 2 milhões de mulheres no país sofrem deste transtorno. Se a mulher
portadora do TDPM sofre estes sintomas, em média, dos 14 aos 50 anos (da
primeira menstruação até a menopausa), equivaleria a 459 ciclos menstruais.
Como a média é de 6 dias sintomáticos por ciclo, seriam 2800 dias com
os sintomas, ou sete anos de sua vida
sofrendo o transtorno.
O impacto que o TDPM pode causar na vida das mulheres fez com que
a psiquiatra Melissa Ramos investigasse o uso de uma nova droga para seu
tratamento. Melissa, orientada pelo
professor Fábio Lopes Rocha, do Departamento de Psiquiatria do Instituto de Previdência dos Servidores do
Estado de Minas Gerais (IPSEMG), desenvolveu um estudo sobre a eficácia e
segurança da duloxetina, novo tipo de
antidepressivo, no tratamento de pacientes com o TDPM. Como a maioria das mulheres com o transtorno
experimentam predominantemente
sintomas como variação do humor e
irritabilidade, o uso de antidepressivos no tratamento destes sintomas é
comprovadamente eficaz.
Em geral, mulheres com o TDPM
tem níveis mais baixos de serotonina
no sistema nervoso central. A serotonina é um neurotransmissor, isto é,
uma molécula envolvida na comunicação entre os neurônios. Na realização
deste processo, uma pequena quantidade de neurotransmissores é enviada
de cada vez, de um neurônio para outro. Após o envio e recebimento desta quantidade, o neurotransmissor que
ficar "sobrando" no espaço entre um
neurônio e o outro é absorvido pelo
que o liberou. Esse processo recebe o
nome de recaptação. Os antidepressivos comuns agem como inibidores
de recaptação da serotonina, ou seja,
fazem com que esta molécula siga em
fluxo contínuo e sentido único. O que
levou a pesquisadora a avaliar o uso da
duloxetina em relação à outros antidepressivos é que ela pertence a uma classe de drogas conhecidas como duplos
inibidores de recaptação, o que significa
que inibe a recaptação de dois neurotransmissores. Neste caso, a serotonina
e a noradrenalina, neurotransmissor
que influencia o humor e ansiedade,
e potencialmente sintomas dolorosos,
como enxaquecas e dores no corpo.
Metodologia
A primeira etapa da pesquisa foi
selecionar candidatas com perfil que
as indicasse como portadoras do
transtorno. Para isso, foi feito um intenso trabalho de divulgação através
de anúncios no serviço de assistência
médica do IPSEMG e na comunidade,
durante o período de um ano. Para
serem selecionadas, as mulheres precisariam preencher os seguintes critérios: ter de 18 a 45 anos, possuir ciclos
menstruais regulares, queixa de sintomas em pelo menos nove dos últimos
12 ciclos e ter uma boa saúde. Segundo Melissa, esta fase do projeto foi a
mais trabalhosa, pois muitas mulheres
confundem alterações constantes de
humor com sintomas de TPM. “É mais
fácil e socialmente mais permitido dizer que está com TPM do que dizer
que tem depressão”, opina.
Das 500 mulheres interessadas, foram selecionadas 98, mas somente 33
seguiram com o tratamento. Estas levaram o diário de registro de sintomas
para a casa, preencheram durante um
mês e voltaram para nova avaliação.
Para as mulheres cujo diário apontasse maior variação dos sintomas na
fase pré-menstrual era dado um placebo, substância inerte que funciona
como uma terapia "de mentira". As
outras eram descartadas da pesquisa.
“O estudo foi estruturado para que
em nenhum momento a paciente pu-
desse diferenciar o momento em que
tomaria placebo ou duloxetina.13 das
33 pacientes melhoraram com o placebo, o que significa que, para muitas mulheres, a motivação de buscar
um tratamento foi o suficiente para
melhorar”, relata a psiquiatra. As pacientes que melhoraram com o efeito
placebo também eram excluídas do
estudo. Sendo assim, do universo de
500 mulheres, somente 20 possuíam
o perfil desejado para a pesquisa. Elas
iniciaram o tratamento com a duloxetina, administrada diariamente durante
três ciclos menstruais.
As mulheres com TDPM também
se queixam de alterações do funcionamento cognitivo e alterações neuropsicológicas como redução da capacidade de concentração, alterações
da memória, perda de confiança na
tomada de decisões e lentidão motora. Como parte do estudo, as pacientes selecionadas eram encaminhadas
para uma avaliação neuropsicológica
realizada em três etapas: com o uso
placebo (na fase lútea), com uso da
duloxetina (na fase lútea) e na fase folicular (fora do período pré-menstrual) sem uso de nenhum medicamento.
Em cada uma das três avaliações foi
aplicada a mesma bateria de testes,
que avaliaram as funções de atenção
e impulsividade.
“Do ponto de vista neuropsicológico, as mulheres apresentaram pior
desempenho da atenção e do controle da impulsividade na fase pré-menstrual”, relata a psicóloga Eliana Gonçalves Vasconcelos, responsável pela
aplicação dos testes. Após três meses de tratamento com a duloxetina,
houve melhora de desempenho nesta
fase em alguns testes. Das 20 pacientes, duas tiveram intolerância à droga,
cinco saíram da pesquisa por outros
motivos, e 15 completaram a terapia.
“Logo no primeiro mês houve uma
melhora significativa de praticamente
todos os sintomas”, afirma a pesqui-
TPM X Alimentação
Uma das grandes razões que fazem o chocolate ser tão consumido pelas
mulheres durante a TPM é que ele, entre outras coisas aumenta a produção
de serotonina, substância do cérebro ligada à sensação de prazer. Com isso, a
sensação é de alivio da depressão e da ansiedade. A serotonina desempenha
importantes funções no sistema nervoso central, tais como a liberação de hormônios, a regulação do sono, da temperatura corporal, do apetite, do humor,
da atividade motora e das funções cognitivas. Alguns estudos demonstram
que níveis centrais de serotonina em mulheres com síndrome pré-menstrual
são mais baixos do que em mulheres saudáveis, o que explicaria os sintomas
comumente relatados pelas mulheres neste período: ansiedade, irritabilidade,
choro fácil, alterações no humor, aumento do apetite, desejo por doces, insônia, confusão mental.
Quimicamente, a serotonina é um produto da transformação do aminoácido triptofano, presente em alimentos ricos em proteínas, como carne, peixes,
aves e laticínios. Assim, a ingestão de alimentos que aumentem a sua disponibilidade para os neurônios poderá estimular a sua taxa de conversão em
serotonina. “É importante estabelecer modificações dietéticas para aumentar
os níveis de triptofano, que têm resultados na melhora dos sintomas prémenstruais emocionais. Pode-se aumentar o consumo de alimentos fontes de
triptofano, como arroz integral, pão integral, leite, tâmara, iogurte, soja, nozes,
lentilha, entre outros”, explica a nutricionista Josiane Nascimento. Ela alerta
que o consumo excessivo de carboidratos que contenham açúcares simples
(chocolates, doces açucarados, balas) tem sido associado com distúrbios no
humor, inchaço e fadiga. Dessa forma, é recomendado que, durante o período
pré-menstrual, as mulheres consumam refeições pequenas e frequentes, ricas
em carboidratos integrais, com o objetivo de melhorar alguns sintomas, como
tensão e depressão. A nutricionista ainda aconselha que na fase pré-menstrual
a mulher deve reduzir o consumo de sal (devido ao inchaço), açúcar, cafeína,
álcool, preferir frutas a doces, consumir verduras e legumes.
sadora. Como resultado final, 65% das
mulheres que tomaram o remédio melhoraram da metade dos sintomas. As
antes descontroladas Santuza, Marília
e Josiane foram algumas das pacientes
que chegaram ao final do tratamento,
que durou cerca de um ano e meio.
Elas relatam uma melhora considerável dos sintomas pré-menstruais e,
consequentemente, da qualidade de
vida. Algumas delas continuam a usar o
medicamento, mas para a maioria ele já
foi suspenso. “Antes do tratamento eu
não tinha vontade de conversar, nem
de namorar. Hoje me sinto muito mais
tranquila até na hora de dizer: gente,
estou naqueles dias, então, por favor,
não me perturbem”, brinca Santuza.
Impacto social
Estudos demonstram que o período pré-menstrual também pode ser
propício ao aumento da procura por
serviços de saúde, atendimento em
emergências, uso abusivo de cigarros
e outras drogas, acidentes e até tentativas de suicídio e crimes violentos.
Além disto, as limitações funcionais
causadas pela Síndrome Pré-Menstrual
ocasionam queda da produtividade e
faltas ao trabalho. Só para se ter uma
idéia, uma pesquisa americana demonstrou que os prejuízos indiretos deste
impacto somam mais de U$4 mil por
paciente todos os anos.
“A população precisa saber que este
transtorno não é frescura. É um problema sério que atrapalha a vida de muitas
mulheres, causando brigas conjugais,
prejuízos sociais e profissionais”, alerta
a psicóloga Eliana Vasconcelos. Ela ainda
ressalta que há um desconhecimento
geral da gravidade deste problema, que
precisa ser melhor divulgado por ginecologistas e também nas escolas.
Enquanto o preconceito ainda existe, a psicóloga dá dicas para evitar os
prejuízos. “É fundamental a mulher se
conhecer, trabalhar o autocontrole e
sinalizar ao seu círculo social que está
com um problema. Neste período ela
deve se poupar, não aceitando provocações, cuidando da alimentação e do
corpo. Em casos mais graves, ela precisa principalmente reconhecer que tem
um problema fisiológico e procurar
ajuda de um profissional”, alerta.
Juliana Saragá
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
45
Especial
Foto:Vanessa Fagundes
Foto:Vanessa Fagundes
Opinião
Aptidões de um bom pesquisador
Magno Antonio Patto Ramalho*
Adriano Teodoro Bruzi**
Jacob Palis, presidente da ABC, entrega diploma de Membro
Institucional Master ao presidente da FAPEMIG, Mario Neto
Borges
Paulo Kleber Duarte Pereira, diretor de Planejamento, Gestão e
Finanças, Mario Neto Borges e José Policarpo G. de Abreu, diretor
Científico, representaram a FAPEMIG na reunião magna da ABC
FAPEMIG se torna membro da ABC
A FAPEMIG agora faz parte da seleta lista de instituições-membro da Academia Brasileira de Ciências
(ABC). As boas-vindas foram dadas durante a reunião
magna de 2009, realizada em maio no Rio de Janeiro.
Perante cientistas e gestores da área de ciência e tecnologia de todo o Brasil, a Fundação recebeu o diploma de
Membro Institucional Máster, entregue pelo presidente
da ABC, Jacob Palis.
“Estamos muito felizes com a entrada da FAPEMIG
na ABC. Ela foi pioneira entre as FAPs e, após sua associação, outras se interessaram. Esse apoio será muito
importante para as atividades da Academia. A cooperação irá resultar, por exemplo, na discussão de temas
regionais específicos. Já temos uma lista de assuntos que
serão abordados ainda 2009”, diz Palis.
O presidente da FAPEMIG, Mario Neto Borges,
destaca a importância do título: “Este fato representa o
reconhecimento da FAPEMIG no cenário nacional pela
comunidade científica brasileira, demonstrando que a
nossa Fundação tem desenvolvido um papel líder nas
ações de ciência, tecnologia e inovação no Brasil”. Ele
lembra que, recentemente, a FAPEMIG foi eleita presidente do Conselho Nacional das Fundações Estaduais
de Amparo à Pesquisa (Confap), o que demonstra seu
prestígio no cenário nacional.
Os Membros Institucionais são entidades que se interessam em se associar à ABC em prol do desenvolvimento da ciência brasileira. Os Membros também participam de decisões das temáticas e da programação do
evento anual da Academia. Entre os primeiros Membros
Institucionais da Associação estão a Petrobras, Eletrobras,Vale, IBM e Companhia Brasileira de Alumínio.
Durante sua fala, o ministro da Ciência e Tecnologia,
Sérgio Resende, destacou a participação da FAPEMIG
e da Faperj, que também recebeu o título de membro
institucional, nos programas nacionais de C&T, como os
Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia. O ministro
da Educação, Fernando Haddad, mencionou o resultado
46
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
de estudo da Capes que mostra que o Brasil subiu para
a 13ª posição no ranking mundial de produção científica,
ultrapassando a Holanda e a Rússia. “Essa nova e merecida posição representa o investimento do país em C&T.
Se manter esse ritmo, em um futuro próximo, o Brasil
estará entre os 10 primeiros do mundo”.
Novos membros
Entre os membros da Academia Brasileira de Ciências que também tomaram posse na reunião magna de
2009 estavam quatro pesquisadores de Minas Gerais. Na
área de Ciências Biomédicas, Mauro Martins Teixeira e
Robson Augusto Souza dos Santos, ambos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); na área de Ciências
Agrárias, Elizabeth Pacheco Batista Fontes, da Universidade Federal de Viçosa (UFV); e na área de Ciências da
Engenharia,Virginia Sampaio T. Ciminelli, da UFMG.
A Academia Brasileira de Ciências é uma entidade
independente, não governamental e sem fins lucrativos,
que atua como sociedade científica honrosa e como
consultora do governo, quando solicitada, para estudos
técnicos e de política científica. A Academia recebe contribuições de seus membros individuais e corporativos e
apoio financeiro de agências governamentais, principalmente as pertencentes ao Ministério da Ciência e Tecnologia: a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e
o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq).
Com um quadro atual de 620 cientistas, a ABC
tem sido reconhecida pelos pesquisadores em história
da ciência como uma das mais antigas associações de
cientistas no país e reconhecidamente a mais prestigiosa dessas entidades. Ela publica dois periódicos (Anais
da Academia Brasileira de Ciências e Pesquisa Antártica
Brasileira), organiza eventos científicos, desenvolve programas e projetos especiais e mantém intercâmbio com
academias científicas estrangeiras, bem como com outras organizações nacionais e internacionais.
Quais seriam as aptidões desejáveis de um bom cientista? É evidente
que elas podem variar em função de
fatores como área de atuação, local
de trabalho e região de atuação. Mas
existem algumas aptidões essenciais:
Paixão pelo conhecimento: O
cientista deve procurar ampliar os
seus conhecimentos. Ou seja, nunca
deve estar satisfeito com seu conhecimento. Segundo um ditado popular,
“quanto mais se estuda mais se tem
certeza de que seu conhecimento
é pequeno”. A procura do conhecimento deve ser realizada diariamente
durante toda a vida profissional.
Criatividade: É outra aptidão fundamental na vida de um cientista.
Aquele que não inova só irá repetir
o que os outros já executaram. Em
alguns casos isso até é importante.
Contudo, o profissional não se realiza. O bom pesquisador é aquele que
está sempre procurando alternativas, seja na metodologia utilizada, no
modo de análise e interpretação e ou
saindo da rotina.
Saber ver e delimitar um problema relevante: Poucos pesquisadores
possuem essa habilidade. Não basta
identificar o problema - é preciso ter
a visão de que você e seu grupo são
capazes de resolvê-lo. E, mais ainda,
saber avaliar se a solução será obtida
em tempo hábil. Ou seja, não adianta
solucionar um problema quando ele
não mais existe.
Persistência: Em toda atividade, persistir é fundamental para o
sucesso. Mas, para o pesquisador, a
persistência é indispensável. Muitos
pesquisadores, a qualquer insucesso
ou aparecimento de uma novidade, paralisam seu trabalho e migram
para novas áreas. Muitos atuam como
verdadeiros surfistas, sempre procurando uma nova onda. A ciência, na
verdade, é repleta de ondas. As novas
trazem status e recursos. Os pesquisadores são assim, sempre atraídos
por mudanças.
Capacidade administrativa: Na
condução de uma pesquisa está envolvida uma série de recursos como pessoal, infraestruta e material. Assim, o
pesquisador quase sempre atua como
um gerente. O bom gerente é aquele
que é capaz de manusear os recursos
do modo mais eficaz possível.
Liderança: A solução de problemas quase sempre envolve um grupo
de pessoas. Para se atingir o objetivo
o mais rápido e com maior eficiência
possível, é necessário liderança. A liderança envolve mais a habilidade de
conviver com pessoas do que propriamente conhecimento. Ninguém
exerce liderança sobre outro porque
domina mais o assunto.
Habilidade de expressar resultados: A ciência sobrevive dos resultados. O pesquisador não é diferente:
só continuará obtendo recursos e
sendo reconhecido perante a comunidade científica se manter ativa sua
produção de conhecimento. Assim, é
indispensável que ele possua habilidade de comunicar o produto de suas
pesquisas. Há profissionais que possuem excelentes resultados, porém
nunca chegam ao usuário por falta de
comunicação. Quando isto ocorre, há
desperdício de tempo e recursos. E,
mais ainda, o grupo envolvido sentese frustrado.
Espírito empreendedor: O pesquisador deve ser empreendedor.
Aqueles que simplesmente repetem
as pesquisas já realizadas dificilmente terão sucesso em longo prazo. É
necessário ser arrojado no sentido
de propor ideias novas que poderão
contribuir para o avanço científico ou
para o bem da sociedade.
Trabalhar em equipe: O pesquisador deve ter flexibilidade para ser
liderado, aceitar a opinião dos outros,
valorizar o trabalho do grupo e ter
humildade para reconhecer a importância de todos os envolvidos na pesquisa. Não significa deixar de expor
suas ideias: a única atitude que não
funciona é aceitar tudo o que é proposto. O pesquisador que não valoriza suas ideias é um “peão científico”.
Vocação para formar discípulos:
Ninguém é eterno. Por isso, é necessário preparar os substitutos. Esse
preparo deve ser iniciado o quanto
antes, tendo em mente que o discípulo deve ser mais completo cientificamente que o mestre. Somente assim
ocorrerá avanço científico. Há alguns
pesquisadores que guardam segredo
de tudo. Estão sempre com o medo
de suas ideias serem “roubadas”. Mas
um dia eles se aposentam ou morrem,
e o conhecimento se perde com eles.
Sensibilidade social e política:
Todo pesquisador, especificamente
os do setor público, devem ter uma
visão clara de que seu trabalho visa
o bem estar da sociedade. Ele é pago
por ela. Embora muitas vezes não seja
cobrado, ela espera retorno do investimento. Muitos pesquisadores fazem
pesquisa com o objetivo, primeiro, de
equipar os seus laboratórios, e esquecem de procurar uma idéia nova.
Gostar do que faz: Só tem sucesso
quem gosta do seu trabalho. Essa é a
primeira condição para que os demais
itens sejam exercidos em sua plenitude. Na vida, o ato de gostar de algo
é um aprendizado. A esperança é que
o pesquisador a cada momento tenha
mais prazer no que está realizando.
(*) Professor da Universidade Federal de Lavras (Ufla) e
membro do Conselho Curador da FAPEMIG
(**) Doutorando em Genética e Melhoramento de
Plantas da Ufla
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
47
Notas
Pesquisa revela opinião de
pesquisadores sobre a FAPEMIG
75%
67,9%
50%
31,1%
25%
1,0%
0%
Transmite muita
credibilidade
Transmite
credibilidade
Transmite pouca
credibilidade
0,0%
Não transmite
credibilidade
Fonte:
Credibilidade e eficiência são os conceitos que melhor
caracterizam a FAPEMIG. Esta é uma das conclusões da pesquisa que avaliou o grau de satisfação dos clientes da agência,
realizada no período de 2 a 10 de março de 2009. Foram 520
entrevistas, aplicadas com pesquisadores de 19 municípios,
representantes das diversas regiões e instituições do Estado.
“Já há algum tempo a FAPEMIG queria realizar uma
pesquisa para saber como seus clientes avaliavam os programas de apoio oferecidos e as novidades implementadas,
especialmente no que se refere à submissão e contratação
de projetos”, lembra Vanessa Fagundes, assessora de comunicação da FAPEMIG. “Os índices de aprovação mostram que o trabalho que vem sendo realizado pela Fundação tem o respaldo da comunidade científica. Além disso,
os dados levantados nos indicaram pontos que podem ser
aprimorados dentro dos departamentos”, completa.
A pesquisa mostrou que a maior parte dos clientes da
FAPEMIG é formada por homens (62,3%), tem entre 35
e 60 anos, trabalha há mais de dez com pesquisas cientí-
ficas (59%) e tem o doutorado como escolaridade mínima
(92,5%). Mais de 88% dos entrevistados consideram que
a FAPEMIG contribui para o desenvolvimento de Minas
Gerais, principalmente nos setores científico e tecnológico. A Fundação também transmite credibilidade ou muita
credibilidade para 99% da amostragem, que, em sua maior
parte, considera credibilidade e eficiência os conceitos que
melhor caracterizam a instituição.
A qualidade do atendimento da FAPEMIG também foi
bem avaliada, recebendo nota média de 3,9 em uma escala
de 1 a 5. Mais de 88% dos pesquisadores consideram o site
da Fundação organizado ou muito organizado e 82,2% acredita que ele disponibiliza todas as informações necessárias.
As ações de informatização também foram bem avaliadas. A
maior parte dos entrevistados (91,4%) já utilizou e considera seguro (91,8%) o termo de outorga eletrônico, além de
acreditar que ele agilizou o processo de liberação do apoio
(81,3%).A maioria (83,1%) também já usou o sistema de submissão eletrônica Ágilfap, o considera de fácil acesso (94%) e
acha que ele contribui para a agilidade do processo (95,8%).
No que se refere às modalidades de financiamento oferecidas, 68,1% dos pesquisadores acham que a Fundação disponibiliza todas as modalidades demandadas; 27,5% responderam que não e 4,4% não souberam ou não responderam. Na
avaliação específica dos programas oferecidos, todos foram
considerados importantes ou muito importantes pela maioria dos entrevistados, com índices acima de 77%. De modo
geral, o índice de satisfação com os serviços prestados pela
FAPEMIG está acima de 8,5, em uma escala de 1 a 10.
Para o presidente da FAPEMIG, Mario Neto Borges, o
resultado da pesquisa indica que “a FAPEMIG está no caminho certo no seu processo de revitalização iniciado em
2004 e a decisão do atual Governo do Estado, de cumprir o
dispositivo constitucional repassando os recursos integrais
desde 2007, tem o reconhecimento da comunidade científica e tecnológica mineira”.
Pesquisadores e estudantes de todo o país se reuniram,
entre os dias 12 e 17 de julho, no campus da Universidade
Federal do Amazonas (Ufam), em Manaus. Eles participaram
da 61ª reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência (SBPC). Além de assistir à apresentação de trabalhos e a debates sobre temas variados, os visitantes tiveram
a oportunidade de conhecer os programas de instituições
diversas na feira ExpoT&C. A FAPEMIG teve um estande na
feira. Uma equipe da Fundação apresentou as linhas de apoio,
principais programas e ações, além do projeto Minas Faz Ciência, de divulgação científica para o público leigo. Ao todo,
foram distribuídos 2.300 exemplares da revista Minas Faz Ciência e mais de 5 mil folders com detalhes sobre a atuação
da agência de fomento mineira. A reunião da SBPC, um dos
eventos mais tradicionais da área, é realizada anualmente.
48
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
Foto:Vanessa Fagundes
FAPEMIG apresenta seus programas na SBPC
Santo de casa faz...
tecnologia
Uma inovação pode ser resultado
de demandas diretas do mercado ou
de possibilidades visualizadas pelo idealizador para solucionar determinada
situação. Mas outro fator, algumas vezes, também pode ser a inspiração: a
necessidade do próprio pesquisador.
É o caso dos engenheiros Luiz Sérgio
Ribeiro e Tadeu Lyrio Junior, proprietários da empresa EM-X, especializada
no desenvolvimento de software embarcado (mobilidade) para automóveis.
Praticantes de esporte off-road com
motocicletas, eles desenvolveram um
computador de bordo com mais de
15 funções, destinado a esportes como
trilha, enduro, motocross ou até mesmo motos de rua. “Começamos a ver
as necessidades que tínhamos como
praticantes, pensamos então em fazer
nossos próprios equipamentos”, conta Ribeiro. Segundo ele, o computador
de bordo, inicialmente bem simples, foi
sendo melhorado na medida em que
era desenvolvido.
Os engenheiros trabalharam no
projeto por mais de dois anos, realizando vários testes para garantir o perfeito
funcionamento do produto. O resultado é um aparelho que auxilia na navegação e funcionamento da motocicleta.
Ele possui duas entradas de dados: é
ligado ao sinal de pulso da ignição para
informações como Rotações por minuto (RPM), Shift Light e tempo de motor
(horímetro); e em um sensor magnético
com um imã instalado na roda dianteira
na motocicleta, que gera informações
para outras funções no equipamento.
“Suas vantagens são a precisão nos dados obtidos, auxílio na manutenção do
veículo e o fato de ser destinado a dois
mundos dos esportes em duas rodas
off-road, os amantes de trilhas e enduro
e os praticantes de motocross.
O produto, que será comercializado pela própria EM-X, foi desenvolvido
com apoio da FAPEMIG dentro do Projeto Inventiva, que apoia o desenvolvimento de protótipos de produtos ou
processos inovadores. Atualmente, a
empresa está cuidando da finalização da
embalagem e do manual, além de acerto de detalhes comerciais. A previsão é
que o produto esteja no mercado até o
final do ano ou no início de 2010.
Pesquisa analisa
cobertura de C&T
pela mídia nacional
A Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), em
parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a
FAPEMIG e a Secretaria de Estado da Ciência,Tecnologia e Ensino
Superior (Sectes), está produzindo um estudo sobre a cobertura
da Ciência e Tecnologia pela mídia
brasileira. O projeto “Ciência,Tecnologia e Inovação na Mídia Brasileira” é uma iniciativa inédita e
está sendo realizado pela Agência
de Notícias dos Direitos da Infância (Andi), que tem experiência na
análise de cobertura da mídia.
Iniciado no fim de 2008, o
trabalho envolveu a análise de
57 jornais e revistas de todo o
Brasil. Foram avaliadas as matérias sobre ciência, tecnologia e
inovação publicadas ao longo de
dois anos (2007-2008). Com os
resultados preliminares em mãos,
será realizado um encontro para
a discussão do conteúdo feita por
profissionais da imprensa e por
órgãos e instituições estratégicos.
Essa reunião está marcada para
agosto.
“O principal objetivo é traçar
o perfil quantitativo e qualitativo
dos veículos de comunicação a fim
de viabilizar um diálogo mais claro entre pesquisadores e população. Pretende-se, ainda, elaborar
novos caminhos para a cobertura
da Ciência, Tecnologia e Inovação
através de diretórios de fontes
de informação, recomendações
para a mídia e pesquisadores e
sugestões de pauta para incentivar a qualificação e a ampliação
da cobertura”, diz Cristina Rocha
Guimarães, da assessoria de comunicação da Fundep. O estudo
terá como resultado a publicação
de um livro.
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
49
Foto: Gláucia Rodrigues
Cientistas brasileiros
“Memória e transmissão de experiências são faces diferentes de um único
cristal que inclui a História. A memória
é retenção do passado atualizado pelo
tempo presente”. A definição é da historiadora, escritora e cientista política Lucilia de Almeida Neves Delgado. Nesta
entrevista, ela compartilha suas memórias sobre os anos em que atuou na FAPEMIG, período em que pôde vivenciar
experiências diversas. Ela fala também
sobre a importância das agências de fomento, a contribuição da iniciação científica para a formação de pesquisadores
e os desafios que permanecem para a
Fundação.
A senhora foi membro e coordenadora da Câmara de Ciências Sociais,
Humanas, Letras e Artes (SHA), membro e presidente do Conselho Curador,
e acompanhou grande parte da história
da FAPEMIG. Que momentos considera
mais importantes e marcantes?
Na década de 1990, fui convidada a integrar a Câmara SHA e ali atuei até 1999.
Foi um período de rica experiência, pois
a SHA é composta por pesquisadores de
diferentes áreas, o que propicia o exercício de compreensão e a aceitação da
pluralidade. Tal prática torna as pessoas
mais generosas, pois diminui a tendência
de olhar o mundo com a cultura própria
de sua especialização. Também contribui
para a solidificação de uma consistência
erudita, pois supõe competência para
compreensão e análise de propostas elaboradas segundo a lógica específica de
diferentes áreas de conhecimento. Essa
realidade é muito forte no contexto da
50
MINAS FAZ CIÊNCIA - MAR. A MAI. / 2009
Câmara SHA, talvez a mais múltipla das
câmaras da FAPEMIG.
Minha experiência na SHA foi uma
das mais instigantes de minha trajetória
profissional. Também foi um período difícil, pois o repasse para a FAPEMIG não
cumpria o preceito constitucional de
1% do orçamento do Estado. Com isso,
a demanda era maior que a capacidade
de atendimento. Cabe ainda ressaltar
que essa experiência de convivência
construtiva com a diversidade foi ainda
mais desafiadora e estimulante durante
o período em que estive no Conselho
Curador. Com certeza, meu pensamento
ganhou em universalidade e heterogeneidade. No Conselho, tive oportunidade
de vivenciar uma fase muito rica, que foi
a passagem de um período de escassez
para outro de maior liberdade para definição de programas estratégicos. Isso
aconteceu quando, de forma gradativa, o
governo do Estado aumentou o repasse
de recursos para a Fundação até atingir o
1% constitucional. Quanto aos momentos mais importantes, destaco dois: o da
fundação, em 1986, e o da definição do
governo de destinar 1% do orçamento
para as políticas de fomento da casa. Essa
decisão foi inédita, pioneira e visionária.
A Ciência, Tecnologia e Inovação
(C,T,I) são fundamentais para o desenvolvimento de um país. Neste contexto,
qual a importância das agências de fomento?
A revolução tecnológica é uma realidade inexorável do mundo e do tempo no qual estamos inseridos. Em ritmo
frenético, processos de inovação tem
transformado, de forma contínua, o cotidiano da vida em sociedade. É, portanto,
fundamental que instituições de fomento destinem parte substantiva de seus
orçamentos para apoio à inovação tecnológica. Essa política institucional não
deve, todavia, ser mais importante que
a do investimento em pesquisas de base,
cujo aplicativo não é visível de início. Os
dois enfoques devem estar contemplados na atuação dessas instituições.
E qual o papel da comunidade acadêmica no fortalecimento das agências
de fomento ?
A maior parte dos pesquisadores
brasileiros são vinculados a universidades. São eles, de forma simultânea, professores e pesquisadores. Essa realidade
não pode ser desconhecida e nem minimizada, pois são nas universidades que
se formam os jovens pesquisadores que
darão continuidade à tarefa de produção do conhecimento. Nesse sentido,
os pesquisadores acadêmicos devem
estar atentos para a preservação de um
relacionamento em mão dupla com as
agências de fomento. Ou seja, além da
apresentação de demandas, precisam
estar disponíveis para contribuir na definição das políticas a serem implementadas e também na seleção e avaliação dos
projetos financiados. Em todo o tempo
no qual atuei na FAPEMIG, foram raras
as ocasiões em que um pesquisador se
recusou a colaborar com esta Fundação.
Eles contribuem para mantê-la viva e
cada vez mais eficiente.
Qual a importância do investimento
destas agências em projetos de iniciação
científica?
A iniciação científica é um dos mais
relevantes programas da FAPEMIG e de
outras instituições de fomento. Além da
oportunidade de introduzir um jovem
no mundo desafiador da produção do
conhecimento, a orientação aos bolsistas é muito gratificante. Sinto-me, como
professora, muito realizada quando um
aluno que orientei na iniciação científica
dá continuidade à sua formação, chegando ao doutorado e depois ingressando,
como profissional, em instituições de ensino e pesquisa. Afirmo também que os
bolsistas de iniciação científica, na maior
parte das vezes, são ótimos alunos de
mestrado e de doutorado, pois incorporam a lógica e a importância da pesquisa
em sua formação. São eles que manterão
acesa a chama do saber num futuro não
muito distante ao da sua formação.
A FAPEMIG passou por três fases:
a de criação (1986-1992), a de transição (19993-2002), e a fase de consolidação, que se firmou em 2006, com
seus 20 anos. Como seria denominada
a fase atual?
Fase da plena realização de seus objetivos matriciais. Desde a sua criação, é
a primeira vez que o governo está cumprindo a determinação constitucional.
Os resultados dessa política são transparentes e eficazes. Além dos editais
de demanda universal, a FAPEMIG tem
publicado editais de demanda induzida,
orientados pelas prioridades governamentais e pela sensibilidade em relação a
importantes pleitos da comunidade científica de Minas Gerais. O principal desafio
que permanece é o de consolidar como
política de Estado, e não de um governo,
o respeito ao preceito constitucional de
que 1% dos recursos do orçamento de
Minas seja sempre a ela destinado.
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