A equidade e os medicamentos órfãos

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A equidade e os
medicamentos órfãos
Este suplemento faz parte integrante do Jornal de Negócios n.o 3142,
de 2 de Dezembro de 2015, e não pode ser vendido separadamente.
Custos para a Saúde vão aumentar
Negociação hospitalar é solução?
O papel dos ensaios clínicos
Entrevista a Filipe Assoreira
“Não temos coordenação, nem agilidade”
Projectos editoriais realizados em parceria. Todos os conteúdos são de jornalistas do
Negócios caso nada se diga em contrário.
Hélder Mota Filipe
Adoptar genéricos para gastar nos inovadores
Instanta
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II QUARTA-FEIRA 2 DEZ 2015
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NEGÓCIOS INICIATIVAS EQUIDADE E MEDICAMENTOS ÓRFÃOS
EQUIDADE E MEDICAMENTOS ÓRFÃOS
Equidade: utopia
ou possibilidade?
As doenças raras afectam cerca de 7% da população
mundial, com tratamentos muito mais caros. Portugal tem
sido capaz de dar resposta, dizem os especialistas, mas
subsistem desigualdades no acesso aos medicamentos.
E
xiste ou não equidade
noacessoaotratamento de doenças raras?
Qualéoretratodoconsumo de medicamentos órfãos em
Portugal? E quais são os desafios
para o futuro? Foram algumas das
questõesdiscutidasna2.ªConferência Internacional “Equidade e os
Medicamentos Órfãos”, um iniciativadaP-BioedoNegócios,quejuntou vários especialistas daárea.
Os medicamentos órfãos destinam-seapatologiasqueafectematé
cincopessoasemcada10mil.Doenças raras, muitas vezes altamente
debilitantese potencialmentefatais,
comgrandeimpactosocial.Existem
entre seis a nove mil doenças registadas,queafectamentre6%a8%da
população,ouseja,entre27a36milhõesdepessoasnaEuropa.Oitoem
cada dez doenças raras têm uma
causagenética. As outras causas dividem-se entre razões degenerativas ou infecciosas.
EmPortugal,existemmaisde700
milpessoas diagnosticadas comuma
doençarara. Filipe Assoreira, presidentedaP-Bio,AssociaçãoPortuguesade Bioindústrias, afirmaque adespesa com os medicamentos órfãos
andanacasados80milhõesdeeuros,
cercade3,7%dadespesatotalcommedicamentosemPortugal,umvalorque
acompanhaatendênciadeoutrospaísesnaEuropa,diz.Atendênciaépara
os números crescerem. “De acordo
comestudospublicados,adespesairá
atingircercade5%entre2015e2020
naEuropa”,adiantaoresponsável.
OaumentoexpectáveldadespesamostraqueoorçamentodaSaúde
podeestarsobpressãodevidoaosmedicamentosórfãos.Noentanto,opresidentedaAssociaçãoPortuguesade
Bioindústriasgaranteque“ocustorelativodosmedicamentosórfãosébaixo”,dadoqueoseupesonoorçamentodoMinistériodaSaúdeéde0,75%,
“em linha com outros países europeus”.FilipeAssoreiragaranteainda
que“mesmocomestesvalores,estamos atratarde umaformaefectivae
racionalcercade 50 doenças”.
Mas há equidade no
acesso aos tratamentos?
JoaquimBrites,presidentedaAssociaçãoPortuguesadeDoentesNeuromusculares, lamentou o facto de
não existir “umaverdadeirarede de
apoioconsolidada”.Ademoranodiagnóstico e no acesso às terapêuticas
foioutrodesafioreferido.“Noacesso,
desdeomomentoemqueapessoa começacomsintomas,atéaomomento
em que de facto lhe é administrado
esse medicamento, aindaexiste uma
assimetriaimportantenessavariável
deequidade”,afirmouHenriqueMar-
“
Mesmo com estes
valores [3,7% da
despesa total], estamos
a tratar de uma forma
efectiva e racional
cerca de 50 doenças.
FILIPE ASSOREIRA
Presidente da P-Bio, Associação
Portuguesa das Bioindústrias
Não é um problema
financeiro, mas ético
manter os pacientes à
espera tanto tempo.
LUÍS SILVA MIGUEL
Economista no Centro
de Investigação sobre Economia
Portuguesa
Cabe às universidades
fazer a investigação
básica para que logo
depois as empresas
possam dar
continuidade e trazê-la
para a prática.
“
LILIANA BORGES
[email protected]
FILIPE ASSOREIRA
Presidente da P-Bio, Associação
Portuguesa das Bioindústrias
Caminho para a equidade passa por diminuir o tempo de espera no acesso aos medicamen
tins,presidentedosServiçosPartilhadosdoMinistériodaSaúde.
Achave paraaequidade assenta
tambémnadiminuiçãodotempoentre o desenvolvimento clínico e o
acesso a medicamento. “Não é um
problemafinanceiro,maséticomanterospacientesàesperadurantetanto tempo”, afirmaLuís SilvaMiguel,
economistado Centro de Investigação sobre EconomiaPortuguesa.
Filipe Assoreiraapontaumasolução. “Cabe às universidades fazer
a investigação básica para que logo
depoisasempresaspossamdarcontinuidadeàinvestigaçãoetrazê-laaté
àpráticaclínica”,defende.“Todosganham. O Estado porque desenvolve
competências,osinvestigadoresporque vem atranslação dasuainvestigação e os doentes porque temasua
necessidade médicarespondida”.
QUARTA-FEIRA
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2 DEZ 2015
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SUPLEMENTO
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III
Instanta
NÚMEROS
FILIPE ASSOREIRA PRESIDENTE DA P-BIO
Retrato dos
medicamentos
raros
“Não temos
coordenação, nem
temos agilidade”
Agilidade e coordenação. Estas são as duas
ferramentas em falta, aponta Filipe Assoreira.
O presidente da P-Bio acredita que a solução está
nas mãos dos agentes da saúde.
5
OpresidentedaAssociaçãoPortuguesa da Bioindústria consideraque Portugal estáem linha
comosrestantespaísesdaUnião
Europeia, mas há espaço para
melhorar. Está na altura de começar a planear a longo prazo e
definirestratégiasparaospróximosdezanos,quepodempassar
pelo investimento em ensaios
clínicos.
EM CADA 10 MIL
Até cinco casos a
cada 10 mil pessoas.
Este é a relação
para uma doença
ser considerada rara.
700
MIL PORTUGUESES
Em Portugal, existem
pelo menos 700 mil
pessoas
com uma doença
rara diagnosticada.
3,7%
DESPESA TOTAL
Em Portugal, 3,7% é o
valor da despesa com
medicamentos raros
no total das despesas
com medicamentos.
tos raros, dizem especialistas.
TrazerensaiosclínicosparaPortugal é outro passo que pode reforçar a equidade no tratamento de
doençasraras.Umaideiadefendida
porAntónioParreira,directorclínicodoCentroClínicoChampalilaud.
Joaquim Brites falou do problema
da falta de acesso à informação dos
ensaios clínicos pelos doentes, que
muitas vezes desconhecem a sua
realização em Portugal. I
63%
NOVAS TERAPIAS
Em 2014 foram
submetidas 329
novas substâncias,
um crescimento de
63% face a 2013.
Portugal gasta cerca de
3,7% da sua despesa total
em medicamentos com medicamentos órfãos. É suficiente?
Se é suficiente ou é insuficiente,éumnúmero.Eissoéum
facto.Outrofactoéque,emPortugal, os doentes são bem tratados,sãobemseguidospeloshospitaisemédicosetêmtidoacesso às terapêuticas, umas vezes
demorammais,outrasvezesdemorammenos. Mas o que é certo é que é uma realidade em linhacomoutrospaíses,queestão
entreos3%,4%e5%,dependendo dos países.
Ao longo das apresentações
foram apontadas alguns dos
problemas. Já estão identificados, o que falta para os
resolver?
O que eu acho que falta é
uma convergência de vontades.
Que as pessoas sejam consequentes e não fiquemos só pela
discussão. Na sociedade portuguesadiscute-semuito,masdepois não se leva à acção de uma
forma concertada com um plano a longo prazo. E é provavelmente essa a falha do sistema,
que explica que, por exemplo, o
número de ensaios clínicos seja
um dos mais baixos, se não o
maisbaixodaEuropa.Temosinfrasestruturas, temos corpo clínico perfeitamente dotado e capaz,temosdoenteseacessodesses às terapêuticas. Não temos
coordenação. Nem temos agilidade. E tudo isso tem de ser feitopelaspessoasqueestãonosistema.Têmdeseraspessoasque
estão no sistema que se têm de
entenderparaque afaltade agilidade desapareça.
Quando se refere às pessoas
que estão no sistema, fala
de reformas no Governo ou
ao nível da administração
hospitalar?
Nem é uma questão de Governo, porque as políticas existem. É uma questão de
“stakeholders” que estão nesta
área da saúde, dos medicamentos órfãos, dos ensaios clínicos,
dasadministraçõeshospitalares,
das associações de doentes se
entenderem paraque o sistema
seja mais ágil. A legislação existe. Os diversos actores trabalham muito parasi. Têm de trabalhar mais uns com os outros,
para haver efectivamente uma
convergênciaesequebrembarreiras.
Falta um planeamento a
longo prazo?
Nos últimos três ou quatro
anostivemosmesmodeviverno
curto prazo. Jáestánaalturade
começar a olhar a longo prazo.
Estánaalturadetermosumaestratégiado que Portugal serána
saúde nos próximos dez anos a
quinze anos. E os ensaios clínicos e medicamentos órfãos poderão ser um dos pontos estratégicos. Temos condições. Portugal é um país pequeno, mas
“
Está na altura
de termos uma
estratégia do que
Portugal será nos
próximos dez anos.
E os ensaios clínicos
e medicamentos
órfãos poderão ser
um dos pontos
estratégicos.
“
Num universo entre 27 a 36 milhões de pessoas diagnosticadas
com doençarara, cercade 700 mil
são portuguesas. Em Portugal,
a despesa com estes medicamentos é relativamente baixa.
FILIPE ASSOREIRA
Presidente da P-Bio
muito rico. Os diagnósticos estão feitos e muito bem feitos.
Existe capacidade clínica, o que
não existe é exploração.
Quais serão os maiores desafios na área da Saúde nos
próximos anos?
Conseguirencontrarumbalanço entre como incorporarmos inovação que está a surgir,
com os custos da Saúde que temos neste momento, sem termos uma factura tanto a disparar. I
LILIANA BORGES
IV QUARTA-FEIRA 2 DEZ 2015
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NEGÓCIOS INICIATIVAS EQUIDADE E MEDICAMENTOS ÓRFÃOS
HOSPITAIS
Em prol de uma negociação
centralizada dos medicamentos
Mais organização e centralização das decisões,
combatendo também o tempo de espera, é chave
para negociações que garantam maior equidade
no acesso a medicamentos órfãos.
A
quem deve caber a negociação da compra de medicamentos órfãos? As
opiniões dividem-se. Marta Temido,presidentedaAssociaçãoPortuguesaeAdministradoresHospitalares,eHenriqueMartins,presidente
dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) defendem
uma negociação centralizada dos
medicamentos.JáLuisSilvaMiguel,
economista, nota que esta negociação já é responsabilidade do Infarmed.
A negociação centralizada da
compra de terapêuticas para as
doenças órfãs foi um dos temas em
discussão na conferência “Equidade e os Medicamentos Órfãos”, que
teve lugar no dia 26 de Novembro,
em Lisboa. MartaTemido, umadas
oradoras,consideraque“acentralizaçãodaaquisiçãodosmedicamentos órfãos tem vantagens”. Entre
elasacapacidadede“libertaroshospitaisdaorganizaçãodoprocessode
compra, ganhar escala, introduzir
margemparaanegociaçãonacional,
que é sempre curtaface àexclusividade de fornecedor”.
A propósito do poder do fornecedor, Henrique Martins recusa-se
aaceitaraclassificaçãodosmedicamentos de doenças raras enquanto
“órfãos”. “Eles não são órfãos, são
dasempresasqueosfabricam”,nota.
“Não é uma relação de orfandade,
masdeimensapropriedade”,considera. O presidente do SPMS acredita que a negociação centralizada de
fundosepreços éachavedaoptimização dos serviços. Defende também a concentração de competências terapêuticas em três ou quatro
hospitais que sejam especialistas e
o abandono da “ideia de que temos
desertodosumbocadinhoespecialistas”.
Planearéprioritário.“Temosde
olharparaacompracomoumaactividade estratégica dos sistemas de
saúde.Quandocompro,quandoencomendo, faço um exercício de pla-
neamento”,justificaHenriqueMartins.
Naaplicação dadespesa, aorganização da administração hospitalar importa na altura de negociar o
acessoàsterapias.Masaquisurgem
dificuldades de planeamento. “Os
hospitais têmmuitadificuldade em
seorganizar.Onossoproblemaéum
problema organizacional. Temos
muitadificuldadeemnossentarmos
e discutiras coisas. Apensarnelas”,
confessa Marta Temido, justificando que as equipas dos hospitais não
têmtempoouformaçãoparaofazer.
JáLuís SilvaMiguel, economista no Centro de Investigação Sobre
Economia Portuguesa, tem uma
opiniãodiferente.Paraoeconomista,opapeldenegociadorcabeaoInfarmed, pelo que a administração
hospitalarnãodeveintervir.“Emrelação às compras centralizadas, tenhosóumproblema.Aminhaquestão é, quando existe umadecisão de
negociaçãodomedicamento,opre-
ço jáfoi negociado entre aindústria
e os laboratórios. Jáhouve umanegociação de preços. E amim faz-me
confusão que após essa negociação
entre quem fornece o medicamento e a fronteira estatal que existe à
entrada do medicamento, exista
umasegundabarreira”,afirma.Luís
Silva Miguel acrescenta que com
isso não coloca em causa o planeamento,masapenasaquestãodanegociação de preço.
Oeconomistaabordatambéma
questão dadificuldade de estimar o
custodeavaliaçãoeconómica,fazendonotarqueestaseriaumatarefafa-
Quanto melhor se planear a negociação dos medicamentos, menor será o tempo de espera e maior será a sua eficácia.
cilmentecontornávelcasoexistisse
um registo depois daintrodução do
tratamento, o que seria possível
também caso existisse um número
razoável de doentes.
“Todos nós, enquanto sociedade, assumimosqueháumadisponibilidade para pagar mais em doenças órfãs”. Por outro lado, decidir
nãofinanciar“inibeaprofundamento da investigação”, com “possibilidade de maiores ganhos clínicos”.
“Temosqueirfinanciandoosuficienteparacontinuaraterinvestigação,mascadapassotemdeterum
custo comportável”. I
QUARTA-FEIRA
DITOS
O que
dizem os
especialistas
DESPESA
Até Setembro de
2015, cerca de 7,8%
da despesa dos
hospitais em
medicamentos
foi canalizada para
medicamentos
órfãos.
Instanta
“
2 DEZ 2015
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SUPLEMENTO
|
V
INVESTIGAÇÃO
Portugal é um dos países
com menos ensaios clínicos
Os ensaios clínicos podem salvar vidas. No entanto, Portugal tem
défice de ensaios e não aposta na continuidade da investigação
clínica. Ao mesmo tempo, os que existem não são fáceis de encontrar.
Instanta
Não é uma
relação de
orfandade,
mas de imensa
propriedade.
Temos de olhar
para a compra
como uma
actividade
estratégica dos
sistemas de
saúde. Quando
encomendo, faço
um planeamento.
HENRIQUE MARTINS
Presidente dos Serviços
Partilhados do Ministério
da Saúde (SPMS)
Todos nós,
enquanto
sociedade,
assumimos que
há uma
disponibilidade
para pagar mais
em doenças
órfãs.
LUÍS SILVA MIGUEL
Economista
Os hospitais têm
muita dificuldade
em se organizar.
O nosso problema
é organizacional.
MARTA TEMIDO
Presidente da Associação
Portuguesa
de Administradores
Hospitalares
“
7,8
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Portugal é dos países europeus que menos ensaios clínicos realiza por milhão de habitantes.
“Nós somos dos países na Europa
commenoscapacidadedefazertrabalhodeinvestigaçãoclinicanoterreno, nomeadamente no campo de
ensaiosclínicos”.ParaAntónioParreira, directorclínico doCentroClínicodaFundaçãoChampalimaud,a
raiz do problema reside “na formação médica” e na“organização hospitalar, principalmente dos hospitais públicos, onde as pessoas querem fazerinvestigação”.
Um dos problemas, aponta, é o
conflito com os hospitais. “Estamos
em constante conflito com o administrador hospitalar. Nós estamos a
gastar dinheiro e eles querem poupar”. O administrador hospitalar
“não vê isso combons olhos, porque
dalinão resultaumamais valiaimediataparaoseuorçamento”,explica.
António Parreira aponta exemplos de grupos de investigação de
qualidade, mas desenha um traço
transversalde“desmotivação”.“Estamos a passar uma fase em que a
medicina se baseava na evidência
paraamedicinabaseadanaciência.
O treino de conhecimento científico é umadas chaves paraaintrodução”.
Aindaassim,omédicoreconhecequeocenário“estámuitomelhorado em relação a anos anteriores”.“Em comparação com outros
países, é possível e necessário fazer
melhor”, observao director clínico.
“É preciso umaestruturanas administraçõeshospitalaresquevalorize
osbenefíciosdosensaiosclínicos,introduzindo mais investigação”, sublinha. António Parreira destaca as
vantagens dos ensaios clínicos, nomeadamente no aumento do rigor
dos relatórios, porexemplo, contribuindo para a evolução de outros
tratamentos paralelos.
UmaopiniãopartilhadaporJoaquimBrites, presidente daAssociação Portuguesa de Doentes Neuromusculares, que exemplificacom a
expectitivade tratamento.
“A expectativa do tratamento,
ainda,quasesempre,sempromessa
decura,égrandeemtodasasidades
eemquasetodasasdoenças”,noen-
tanto,destaca“tratando-sededoentes emidade pediátrica, pelo tempo
disponívelepelaimportânciadetratar uma criança e pela importância
de lhe devolveraelae àsuafamíliaa
esperança de uma vida melhor. O
ensaio clinico assume aquiumaimportânciafundamental”.
“Arealizaçãodeensaiosclínicos
em Portugal terá obrigatoriamente
quecrescer”,afirmaJoaquimBrites.
“A participação de doentes portuguesesnasváriasfasesterátambém
de ser avaliada, divulgada e implementada pelos diversos laboratórios”, diz. “A rentabilização de custos e umamaiorproximidade de todas as equipas científicas responsáveis pelo acompanhamento dos ensaios serão apenas duas das muitas
vantagens”.
AntónioParreiraapontaasconsequênciasdasdificuldadesnoacesso à informação disponível: “pode
não haver uma equidade tão boa
quantosegostariaporfaltadeinformação”. I
LILIANA BORGES
VI QUARTA-FEIRA 2 DEZ 2015
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NEGÓCIOS INICIATIVAS EQUIDADE E MEDICAMENTOS ÓRFÃOS
Instanta
Pacientes deverão
aumentar
Número de doenças raras vai aumentar, prevê o representante da
Europabio, Associação Europeia de
Bioindústrias. Ou pelo menos vai
aumentar o seu nível de identificação. Riccardo Mezzasalma explica
que, com o desenvolvimento da investigação, é expectável que os
diagnósticos se tornem mais eficientes e por isso existirá, consequentemente, um aumento da procura de medicamentos para doenças raras, quer para as patologias
já existentes ou novas variações,
aponta. Os países devem por isso
preparar-se para um aumento da
despesa, algo que, Mezzalsalma
teme que não seja suportável na
actual economia dos países, que
mostram já dificuldades. Urge por
isso um planeamento que garanta
a resposta aos novos e velhos pacientes que possam ter dificuldades no acesso a estes tratamentos,
naturalmente mais inflacionados
no seu custo.
Riccardo Mazzasalma, da Europabio, salienta que investigação tem levado a um forte aumento no número de medicamentos órfãos.
EUROPABIO
Orçamentos da Saúde vão
enfrentar custos acrescidos
A Europa viu os tratamentos para doenças raras multiplicarem-se nos últimos
15 anos. A melhoria nos diagnósticos vai levar a um aumento do número de
doentes e os Estados podem não ter orçamento para responder.
LILIANA BORGES
[email protected]
A
despesade Portugal com
os medicamentos órfãos
foi de 3,7%, do total com
medicamentos.Umnúmeroquenão
impressionaRiccardo Mezzasalma,
director daEuropabio, aAssociação
EuropeiadeBioindústrias.“Nãoéum
valormuitoalto,mesmoseospreços
dos tratamentos foram altos individualmente, como 100 mil euros, por
exemplo”, disse em declarações aos
Negócios à margem da conferência
“Equidade e os Medicamentos Ór-
fãos”, realizadaa26 de Novembro.
“Portugal está entre os países
com custos mais baixos na União
Europeia”, salientou Mezzasalma.
Na conferência, o representante da
Associação Europeia de Bioindústrias,destacouaevoluçãodascandidaturasdemedicamentosórfãosao
longo dos últimos 15 anos.
Esteorganismoeuropeupretende, adianta, preencher os compromissosderespostaàsdoençasraras,
atravésdeumplanoeficazcomfundossuficientes.Em2000erampoucosostratamentosinovadores.Hoje
existem mais de 110 medicamentos
órfãos aserutilizados naUnião Europeia, o que tem atraído a atenção
daindústria, bem como das universidades e dos investigadores.
O gestor da Europabio aponta
algumasdificuldadesqueospacientesenfrentamactualmente,nomeadamente na dificuldade de acesso a
umdiagnósticocorrecto,seguidodo
tempodeespera,impostoporregulações,naaprovaçãodenovostratamentos e a desigualdade na avaliação dos tratamentos, bem como a
ausência de cuidados e facilidades
adequadas às doenças raras de cada
paciente.
Osriscosdosmedicamentosórfãos é maior devido ao desconhecimento científico, à ausência de tratamentoalternativo,àdispersãodos
pacientescomasmesmasdoençase
a gravidade das doenças. Assim, o
preço é adequado (e inflacionado)
devidoaoriscoadicionaleàincerte-
za na sustentabilidade de investimentos futuros.
As previsões apontavam para
que o impacto dos medicamentos
raros nos orçamentos daSaúde fosse crescer incontrolavelmente, no
entantoestesreceiosdeescaladainsustentável não se confirmaram.
Não obstante, Riccardo Mazzasalma mostra-se preocupado e
teme que nos próximos anos os países tenham aindamais dificuldade
em pagar os tratamentos inovadores. “Acho que os desafios actuais
são os orçamentos. Há cada vez
mais dificuldade nos sistemas nacionais em pagaros medicamentos
e investimentos. Daquiacinco anos
será ainda mais difícil”, antevê.
Sobre o papel de Portugal naindústriadeinvestigaçãodosmedicamentos raros, Mazzasalma afirma
quePortugalnãotemaindaumaforte presença e tradição na área, mas
elogia o papel do sistema de saúde
português.
Sobreonúmerodemedicamentos raros, que aparecem desiguais
para as diferentes doenças raras,
comalgumasdoençasareunirdezenasdediferentestiposdetratamento e outras apenas comum, o representantedaAssociaçãoEuropeiade
Bioindústriasaproveitouparasublinhar a individualidade de cada tratamento.
“Cadamedicamentoédiferente
e cada um tem uma finalidade diferente”. “Mesmo que existam cerca
de 50 medicamentos diferentes,
como é o caso da leucemia, isso é
umacoisaboa.Ésinaldequeaspessoasestãoainvestireainovaçãonão
parou”.
RiccardoMazzasalma prevêque
o número de pacientes vai aumentar, e com ele aprocura. “O número
dedoentesvaiaumentar.Aprevisão
équeosdiagnósticossetornemcada
vez mais eficazes e por isso vamos
conseguirfiltrarmais doenças e casos”, acredita. I
QUARTA-FEIRA
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2 DEZ 2015
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SUPLEMENTO
|
VII
Instanta
“
Não existe um
registo da avaliação
dos tratamentos, o
que não permite
avaliar as evoluções
dos tratamentos.
Cada medicamento
é diferente e cada
um tem uma
finalidade diferente.
O número de
doentes vai
aumentar. A
previsão é que os
diagnósticos se
tornem cada vez
mais eficazes e por
isso vamos
conseguir filtrar
mais doenças e
casos.
[Sobre a despesa
portuguesa de 3,7%
do total de
orçamento dos
medicamentos em
medicamentos
órfãos] Não é um
valor muito alto.
Portugal está entre
os mais baixos na
União Europeia.
“
RICCARDO MEZZASALMA
Healthcare Biotechnology
Manager - Europabio
O presidente do Infarmed realçou que é preciso medir o resultado real dos medicamentos inovadores.
INFARMED
Poupança nos genéricos
permite gastar nos inovadores
Não existe uma fórmula mágica e cada país terá as suas soluções. Mas há
uma conclusão transversal: é necessário registar mais e melhor as evoluções
dos tratamentos, destaca o presidente do Infarmed, Hélder Mota Filipe.
“E
stamosasalvarmais
vidas e a dar mais
qualidade de vida a
muitas pessoas”. Estaé aconclusão
deHélderMotaFilipe,presidentedo
Infarmed, quando olha para o aumentode63%denovassubstâncias,
entre2013e2014.Paraopresidente
doInfarmed,quefezasessãodeencerramento daconferência“EquidadeeosMedicamentosÓrfãos”, estassão“boasnotícias”,quetraduzem
“um ritmo nunca antes visto, com
medicamentos mais eficazes, para
velhasenovaspatalogias”.
No entanto, este ritmo aceleradodecrescimento“estáacolocarsob
pressãoosorçamentosdesaúdeem
todoomundo”,alerta,acrescentando que “o nosso caso não é um caso
especifico”.“Ageneralidadedosmedicamentos inovadores estáachegaraPortugalapreçosaltíssimos,devido à necessidade de financiar os
avultados investimentos daindústria”,explicaHélderMotaFilipe.
Em 2014, “adespesado Estado
commedicamentos inovadores autorizados pelo Infarmed foi de 197
milhõesdeeuros,quandonoanoanterior tinha sido de 98 milhões”,
nota. “No que respeitaaos medicamentosórfãosereportando-meapenasàdespesahospitalar,elaatingiu
em2014cercade79,6milhões,oque
corresponde aum aumento de 11%
faceaoanoanterior”,analisa,adiantando que este ano o ritmo de crescimentosemanteve,nosdadosapuradosduranteosprimeirosmeses.
No entanto, o crescimento do
número de medicamentos órfãos
enfrentauma“forte contenção” na
despesa pública com a saúde, uma
redução sentido com os cortes impostos pela Troika, que desceram,
progressivamente,adespesacoma
saúdede1,5%doPIB,em2011,para
1% em2014.
Sobreassoluçõespelasquaispoderápassar agarantiade equidade
noacessoaosmedicamentosórfãos
eaostratamentosdedoençasraras,
o presidente do Infarmed destaca
que“nãoexistemrespostasmágicas
e cada país tem de encontrar o seu
caminho”. EmPortugal,porexemplo, aapostaemmedicamentosgenéricos, especialmente durante os
últimos três anos, parece ter sido
umadassoluçõesencontradas,uma
vez que “apoupançanos genéricos
foi o que tornou nos permitiu utilizar recursos para manter o acesso
aos medicamentos inovadores”,
afirmao presidente do Infarmed.
Além disso, destaca Hélder
MotaFilipe, importasaber se o investimentoqueérealizadonumdeterminado produto temresultados
reais.“Estaéamelhorformadepercebermos o que é realmente inovador”.Umavezqueestamosafalarde
doençasraras,nãoexisteumaamostramuito robustae que permitadiminuirograudeincerteza,exemplificando a solução encontrada pelo
Estado no acesso ao tratamento à
hepatite C, que serápago com base
“nas curas obtidas”.
“Precisamos de registar para
conseguirmos medir resultados.
Sem umaculturado registo não temos parte daequação que é essencial para uma solução adequada”,
conclui. I
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