nietzsche contra darwin - a critica nietzscheana à

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NIETZSCHE CONTRA DARWIN A CRITICA NIETZSCHEANA À LUTA PELA
EXISTÊNCIA
BERNARDO GOYTACAZES DE ARAÚJO
Membro do Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa”, da UFJF.
Aluno do Curso de Filosofia da UFJF.
[email protected]
MANOEL FRANCISCO DA SILVA
ALUNO DO CURSO DE FILOSOFIA DA UFJF.
O presente trabalho é uma resenha da obra de Wilson Antônio FREZZATI JUNIOR, Nietzsche contra
Darwin, São Paulo: Edições Unijui, 2001, 149 páginas.
A luta é central no pensamento de Darwin e de Nietzsche. Em Darwin, a seleção natural é o mecanismo
da evolução das espécies e a luta é o motor da seleção (FREZATTI JUNIOR: 62). A luta, em Darwin, é
constituída por relações de dependência entre um ser e outro (relação predador/presa) na disputa pelo mesmo
alimento. A luta pela sobrevivência (66) segue-se da alta taxa de crescimento populacional dos seres vivos (teoria
de Malthus),1 aplicada por Darwin ao reino animal e vegetal. Considerando também, a necessidade de fatores
ligados ao ambiente e o sucesso na reprodução2 podem produzir uma diversificação de fatores. Uma confluência
de questões científicas, filosóficas, políticas e religiosas propiciou a construção do Darwinismo (25).
Em Nietzsche a luta sempre teve uma posição destacada (vontade de potência) dentre alguns
aspectos, destaco: 1) a luta apresenta o jogo de duas pulsões cósmicas que se manifestam na arte (o apolíneo e
dionisíaco); 2) “não existe vida sem prazer, a luta pelo prazer é a luta pela vida”; 3) da luta como constituinte da
1 São produzidos muito mais indivíduos do que é possível sobreviver, o que fatalmente produz luta pela vida. (66)
2 Através dela uma característica selecionada na luta pela existência pode aumentar sua freqüência em uma população e,
com o tempo, originar uma nova espécie. (64)
efetividade: “Da guerra dos opostos nasce todo o vir-a-ser” (63). Nietzsche nos apresenta o darwinianos na
luta pela existência como conservação, e a seleção natural como mecanismos da espécie humana.3
Pela “luta como constituinte da efetividade”, é que se concentram as críticas de Nietzsche a
Darwin, as quais estão entrelaçados os conceitos mais importantes da filosofia nietzschiana (63). A ênfase que
Darwin dá à sobrevivência provoca as críticas de Nietzsche (64), ele rejeita a idéia de que a luta ocorra para a
conservação da vida, pois “o ser vivo quer, de preferência, dar livre curso a sua força. Ele o quer e necessita” 4.
Os seres vivos não lutam por alimentos em meio a escassez ou para se manterem na existência a qualquer custo: a
luta não ocorre devido ao desespero de miseráveis ou de esfomeados, mas para ampliação da força daqueles que
combatem. A guerra se faz no meio à opulência de forças e o que os seres vivos buscam é aumentar a intensidade
de sua força, isto é, mais potência (65). Não se deve confundir a natureza com o pensamento de Malthus: “o
impulso vital não aspira à conservação, mas à sua intensificação, ao crescimento da intensidade de sua força, pela
qual chega a sacrificar a própria existência”(66). É necessário que haja luta por amor à luta; e dominar é suportar
o contrapeso da força mais fraca, é, portanto um tipo de continuação da luta. Obedecer é também uma luta;
desde que reste força capaz de resistir. A dominação (e a submissão) é um aspecto do impulso vital: a relação
entre o dominador (o que comanda) e o dominado (o que resiste) é a própria luta e, portanto, a busca por
dominação prevalece sobre a conservação5. A superação deve ser mesmo resolutamente procurada, buscada,
pois o enfrentamento, as condições duras e dolorosas e a relação de domínio propiciam o desenvolvimento,
evitando a cristalização pétrea da conservação. Os 'grandes homens', sempre surgiram onde a luta pela dominação
foi levada mais longamente. A inaptidão ou o desânimo para a luta, ou o mesmo a fuga da dor, é sinal de
degenerescência.
Darwin nega-se a ver a luta como a própria vida, pois a considera temporária e cruel, embora
obrigatória , presente no curso vital de um organismo. Para Nietzsche, os acontecimentos que são considerados
cruéis pelas tradições religiosa e filosófica, constituem obstáculos que devem ser superados. (84)
A relação entre conservação e superação pode ser entendida como: “uma espécie surge, quando
certas características se tornam fortes e são fixadas através da luta contra condições desfavoráveis e constantes.
Nietzsche afirma que as espécies bem alimentadas e protegidas das condições agressivas e selvagens não se
fixam, pois apresentarão nessas condições inúmeras variações e monstruosidades6, a exemplo da criação de
gado”. (84)
Apesar da variação e do surgimento de uma espécie através da luta, serem temas darwinianos, o
modo como Nietzsche os aborda não é darwinista: Darwin não afirma que a ação dos criadores causa diretamente
variações nas espécies domesticadas - essa ação apenas seleciona variações já ocorridas. A situação é transposta
para a sociedade humana: nos povos que prevaleceram frente a outros, foram desenvolvidos, devido às duras
condições e às lutas com os vizinhos ou com os oprimidos rebelados, características que lhe permitiram vencer e
3 Citação feita na página 25.
4 A conservação é apenas uma conseqüência indireta da busca por maior potência pelas forças do organismo; o vencedor
deste conflito persiste. (65)
5 A relação de dominação ocorre já em nível celular, isto é, entre as células também ocorre competição por domínio. (67)
6 Este argumento também foi utilizado por Darwin; a domesticação dos animais promove uma variação maior do que a
encontrada na natureza. A espécie humana porta-se como uma espécie domesticada. (84)
evitar o risco de serem exterminados.
As propriedades que propiciaram a vitória são fixadas através de uma moral aristocrática e
cultivadas como virtudes (84). Mas com a conservação, se estabelece uma situação favorável e um conflito se
afrouxa: não há mais inimigos e existem meios de subsistência abundantes. A variação começa a ocorrer tanto
para o mais elevado como para o degenerado e, como conseqüência, desenrola-se uma competição entre os
variantes que podem culminar na degeneração e extermínio total do grupo (85). Há dois caminhos: a manutenção
da degeneração através dos artifícios de conservação ou a superação da 'espécie'. O primeiro caminho é o da
doença, o segundo, da vida saudável e plena. “Os indivíduos mais fortes serão aqueles que saberão resistir às
regras da espécie sem, portanto, morrer, os isolados”. O que assegura a manutenção do indivíduo pode ao mesmo
tempo, imobilizá-lo em seu desenvolvimento. A luta pela conservação é uma restrição da vontade de viver (apego
a existência, isto é, com a conservação ) – o caráter fundamental é a superação (86). Quem não pode ou não quer
suportar o confronto inerente á vida, desenvolve estratégia para persistir na existência. Na “Reação-AntiDarwin”, Nietzsche afirma que 'por mais curioso que pareça, deve-se sempre armar os fortes contra os fracos'
(87).
A VIDA COMO SUPERAÇÃO CONTRA A SELEÇÃO NATURAL
“Eu chamo de seleção natural a preservação de variações favoráveis e a rejeição de variações
7
desfavoráveis” . As ligeiras diferenças que aparecem nos indivíduos são o material que a seleção natural
acumula: é o acúmulo de inúmeras e pequenas modificações que provocam as grandes modificações e, por
conseqüência, a diferenciação das espécies através de variações lentas e infinitas8. Darwin enumera várias
prováveis causas da variação: o uso e o desuso de certas estruturas, intercruzamento de espécies, a ação direta das
condições de vida sobre o sistema reprodutor, correlação9 do crescimento (97).
Para Nietzsche, não há seleção das características vantajosas para conservação do indivíduo: o
acaso na luta pela vida, auxilia tanto os fortes como os fracos – a astúcia substitui, a força e, a fecundidade
aumenta com a probabilidade de destruição, assim ao invés de transmitir características mais vantajosas para
geração posterior, transferiria as características mais freqüentes. O forte é quem consegue superar as dificuldades,
aquele que não recorre ao rebanho para se conservar. É o isolado que é capaz de criar uma nova moral.
Darwin utiliza a palavra 'forte' no sentido de mais apto a vencer a luta pela existência. Nietzsche,
não aceita esse gradualismo que, devido à luta pela sobrevivência ser acirrada, uma pequena variação provoque
um desequilíbrio considerável. O aparecimento de um órgão não é explicado por sua utilidade, segundo
7 C. Darwin: Origem das Espécies. Três elementos compõem a definição de seleção natural: o processo (rejeição ou
preservação); o que sofre o processo (as variações dos seres vivos); a qualificação e diferenciação daquilo que sofre o
processo (favorável e desfavorável).
8 Nietzsche desdenha essa teoria, mas não leva em consideração o tempo. (96)
9 Dependência entre as funções de duas ou mais variáveis aleatórias em que a ocorrência de um valor de uma das variáveis
favorece a ocorrência de um conjunto de valores das variáveis. (Dicionário Aurélio).
Nietzsche. Darwin introduz uma teleologia ao indicar a utilidade futura de uma forma na luta pela existência e, se
as novas características existissem para alcançar um objetivo, seriam aquelas que sempre fossem úteis e estão
ligadas à conservação. Nietzsche considera que a vida deve superar a si mesma, quer buscar mais, por
intensificação dos impulsos, que não busca a utilidade de uma estrutura para a persistência na existência. Além
do Gradualismo e da Hereditariedade, Nietzsche aponta o exagero no efeito das condições externas, a ausência de
formas de transição, a falta de seqüência nos fósseis, a esterilidade dos híbridos e o problema da transformação de
uma espécie em outra (103).
Em 1876, Darwin diz que “o maior erro que cometi foi não ter levado em conta a ação direta do
meio, isto é, da alimentação, do clima, etc., independentemente da ação da seleção natural”(103). Nietzsche
propõe que as transformações dos seres vivos não ocorrem por meio da seleção natural, mas através dos impulsos
internos criadores que buscam sempre se intensificar e se superar. Para ele, as espécies são indiferentes à
modificação do clima e da alimentação e que não encontram formas de transição entre uma espécie e outra,
sustentando com isso a proeminência do interior, ou seja, dos impulsos que compõem o organismo e que estão
em luta entre si por mais potência sobre o meio ambiente (104).
Darwin explica que a inexistência de formas de transição se dá por: a) não são encontrados
vestígios nos estratos geológicos devido às dificuldades de se datar e encontrar fósseis; b) as variedades
intermediárias não estão vivas pois, existindo em menor número foram eliminadas na competição pela vida. No
processo de seleção natural, as novas variedades, continuamente, exterminam as formas aparentadas porque
entre elas a luta é mais acirrada.
O desenvolvimento crescente dos seres, para Nietzsche, é afirmado sem qualquer justificação,
pois todo tipo teria seus limites, além dos quais não haveria mais transformações. Os animais e os vegetais não se
desenvolvem de um estado inferior para outro superior, mas um após outro, em desordem, e um contra o outro
(105). Nietzsche explicita seu pensamento através de três pontos: a) O homem, enquanto espécie, não está em
progresso; b) O homem, enquanto espécie, não representa progresso em relação a nenhum outro animal; c) A
cultura humana, isto é, a domesticação do homem não é, como se pensa, um melhoramento do homem (105-106).
Na questão da perfeição das estruturas orgânicas, Darwin cita o exemplo de que 'a borboleta é
superior a lagarta', sendo que 'superior' é a apreensão que o progresso e o mais perfeito tem no sentido daquilo
que é mais organizado, isto é, mais complexo e especializado. A especialização e a conseqüente divisão
fisiológica do trabalho são consideradas uma vantagem evolutiva.
Nietzsche, discorda do progresso das espécies pois segundo ele, elas não crescem em perfeição e
os mais fracos sobrepujam os mais fortes(110). Ele rejeita o progresso da espécie, mas não o surgimento de
formas mais elevadas no seio da espécie, e essas formas não se propagam por duas razões: a) as formas mais
elevadas são raras exceções, por isso tendem a desaparecer em função da superioridade numérica das outras
formas - este é o argumento que desqualificava a transmissão de características de uma geração para outra; b) as
formas mais elevadas são mais complexas. A maior complexidade da forma implica maior probabilidade de
destruição. Além disso, o desenvolvimento de algo não é progresso em direção a um fim. A seqüência de
processos é aleatória e resultante de conflitos por dominação(111).
Para Darwin, o homem varia em sua estrutura corporal e nas faculdades mentais e transformase pela seleção natural dessas variações: raças ou espécies humanas sucedem-se uma às outras coma as de
qualquer outro animal As faculdades mentais, incluindo a moral, desenvolveram-se da mesma maneira que a
estrutura corporal. O desenvolvimento da moral é um longo e complexo processo que se iniciou a partir de
instintos animais mais simples. A maior distinção entre os animais e o homem não está na presença de certas
faculdades (tais como razão, memória, etc.) e emoções (amor, ciúme, vingança, beleza, etc.) O que nos distingue
das outras espécies é o sentido moral ou consciência que é capaz de comparar seus motivos e suas ações passadas
e futuras, de aprová-las ou reprová-las. As mesmas emoções, faculdades, sentidos e intuições humanas são
encontradas, de forma incipiente, ou mesmo bem desenvolvidas, nas outras espécies animais, porém, só o homem
é capaz de um ato moral (112). Os instintos sociais (compaixão, altruísmo, coragem, fidelidade, laços de família)
são o resultado da ação da seleção natural. Os indivíduos que têm maior satisfação em viver em grupo estão mais
seguros do que aqueles que preferem a solidão, o que os favorece na luta pela vida (114). Há, portanto, um
deslocamento da noção de seleção natural do nível individual para o social. A seleção natural é o resultado da luta
pela sobrevivência entre indivíduos e, quanto mais semelhantes eles são, mais acirrada é a competição, porém,
para espécies estritamente sociais, como a humana, a luta ocorre fundamentalmente entre os grupos. Quanto mais
desenvolvida a moral e as faculdades intelectuais, maior probabilidade de sucesso tem o grupo (114). Em
determinado ponto desse desenvolvimento, o homem torna-se capaz de analisar e comparar as ações passadas e
seus motivos, de projetá-las e prevê-las no futuro. Após um desejo ou paixão temporária mais forte, sobrepujar
os instintos sociais mais fracos, mais persistentes. O homem compara, agora, as enfraquecidas impressões desses
impulsos satisfeitos passados com os sempre presentes impulsos sociais. Ele sente a sensação de insatisfação
desses últimos. Por esta sensação ser persistente, o indivíduo resolve agir diferente no futuro: assim surge o
dever. A obediência passa a ser calculada, com o aumento cada vez maior das capacidades mentais, aprende-se
com a experiência que a ajuda dispensada a um semelhante pode ser retribuída(115). O próximo passo do
desenvolvimento da consciência está ligado ao aparecimento da linguagem: os desejos, as necessidades e as
opiniões passam a ser expressos (115). O homem já é um ser moral, mas há ainda um refinamento da moral: o
hábito (116). Um homem conduzido por sua consciência adquirirá, através de um longo hábito, um autodomínio
tão perfeito que seus desejos e paixões render-se-ão, instantaneamente, e sem luta a seus instintos sociais e de
compaixão (um esfomeado não pensará em roubar comida). Esses hábitos podem ser transmitidos
hereditariamente, assim, através de hábitos adquiridos (instrução e exemplo), passa a sentir os seus mais
persistentes impulsos (116). As convicções do homem são transformadas em hábitos e controladas pela razão
proporcionam uma regra mais segura, sua consciência torna-se o juiz supremo. Darwin dá um valor 'a priori' para
o gregarismo e a consonância social. Mesmo que o sucesso de uma civilização dependa de vários fatores
contingentes; ele acredita que o progresso depende do aumento do número de pessoas dotadas de elevada
capacidade intelectual, moral, e do seu padrão de excelência: as nações que tiverem o maior número de homens
com intelecto, energia, bravura, patriotismo e benevolência em nível elevado, tenderão a prevalecer sobre as
nações menos favorecidas nesses aspectos. Darwin não questiona o valor moral, ele indica uma diferença entre os
selvagens e os civilizados, enquanto que a seleção natural elimina os fracos de corpo e mente. Os selvagens (os
sobreviventes exibem um vigoroso estado de saúde), a civilização se esforça para bloquear os processos de
eliminação (sanatórios, asilos, instituições de proteção aos pobres,medicina,etc.). A ajuda dada aos desvalidos é
resultado dos instintos de compaixão 'parte mais nobre do homem' que não pode ser bloqueada (118).
Para Nietzsche, a humanidade, não representa uma evolução para melhor ou para o mais elevado
- o progresso é apenas uma idéia moderna, uma idéia falsa, 'uma comédia humana': os homens imaginam que,
através da moral, ascendem desde o animal até a posição de 'deuses' (118). Nietzsche questiona os valores
morais. Ele desconfia do valor dado à compaixão e ao altruísmo, da atribuição ao bem de um valor superior ao
mal, pretende 'conhecer as condições e o meio ambiente em que nasceram, em que se desenvolveram e
deformaram' – método Genealógico: permite que se investigue as condições nas quais o homem inventou os
juízos de valor. Com isso, ele coloca a questão moral no terreno fisiológico: questiona se os valores bom e mau
são signos de um estado de empobrecimento e de degeneração da vida ou signos de crescimento e plenitude da
vida(119). Nietzsche, não propõe a luta generalizada como modelo de comportamento: 'a luta de todos contra
todos' que resultaria 'em desagregação dos impulsos em luta por domínio'. O modelo de luta proposto por ele é o
da hierarquia: no lugar do amor pela humanidade, do instinto de querer ajudar e ser útil, coloca-se a autoimposição de obstáculos, a superação. A conservação é apontada como doença, pois a manutenção dos fracos ou
nocivos, 'dos decadentes', resultaria em uma humanidade vulgar (120-121). A domesticação é o processo pelo
qual o homem é afastado de seus instintos naturais (122). Nietzsche pede condições radicalmente novas para o
homem: novos lugares, nova nutrição, novos pensamentos. Ele não acredita na elevação da humanidade como um
todo, mas sim no surgimento de casos isolados de homens superiores (seis ou sete) que devem sofrer o rigor de
processos seletivos constantes, inclusive auto-impostos (123). A moral, o cristianismo e o 'ideário moderno':
Revolução francesa: liberdade, igualdade e fraternidade - “moral de rebanho daqueles que se agrupam buscando a
conservação” (87). Estas invenções culturais enfraquecem o homem por domesticarem seus impulsos naturais;
impõem a conservação e a compaixão(124). A fraternidade só tem sentido na aristocracia guerreira, pois o forte
só luta com um igual (é necessário que os beligerantes não sejam aniquilados). A igualdade é a relação inter
pares: em toda organização social há sempre superiores e inferiores, porque há diferença, a hierarquia é
inevitável. A liberdade é decorrente da guerra; quanto maiores as resistências a serem superadas maior a
liberdade existente para o indivíduo, uma sociedade ou um povo. Um homem livre não pode abrir mão do
confronto. O homem (o espírito) que se tornou livre calca sobre os pés a desprezível espécie de bem-estar com
que sonham merceeiros, cristãos, vacas, mulheres, ingleses e outros democratas. O homem livre é um
guerreiro(87). A superação não deverá ocorrer apenas uma vez, mas sempre. Livre da finalidade de conservação,
o homem pode criar sobre sua própria cultura, sem nunca cessar(133).
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