Comunicação de ocorrência de espécies exóticas invasoras Peixes introduzidos no Parque Nacional da Chapada Diamantina e em seu entorno, na região central do estado da Bahia. Alexandre Clistenes de A. Santos, Marconi P. Sena, Marissol P. Ferreira & Perimar E. S. Moura1 INTRODUÇÃO A Chapada Diamantina forma um divisor de águas entre a bacia do Rio São Francisco e os rios da bacia do Leste que desembocam diretamente no Oceano Atlântico. Com origem nesta região destacam-se três bacias consideradas médias (Rios Itapicuru, Paraguaçu e Contas), drenando juntas uma área total de 145.054Km2. A partir da Chapada Diamantina, estes rios apresentam caimento geral oeste-leste, atravessando regiões semi-áridas e aumentando o seu volume d’água na planície litorânea devido aos altos índices pluviométricos, até desembocarem no Oceano Atlântico (BAHIA, SEPLANTEC, 1979). O Parque Nacional da Chapada Diamantina foi criado por decreto em 17/09/1985, mas até hoje não foi regulamentado e, por este motivo, encontra-se sujeito a depredações antrópicas severas, apesar da reconhecida importância geológica, biológica e ecológica da Cadeia do Espinhaço da Bahia, onde essa unidade de conservação está contida. Entre as principais formas de agressão ao Parque destacam-se o garimpo de diamantes, o desmatamento e o acelerado processo de destruição de habitat junto a centros urbanos emergentes (SANTOS. 2003). Dado o conhecimento ainda incipiente da fauna de peixes, correse o risco de espécies desaparecerem sem terem sido ao menos registradas, o que representaria uma perda inestimável em termos de biodiversidade. Isto posto, considera-se que a identificação das espécies de peixes introduzidas na área do Parque pode subsidiar programas de avaliação de impacto, monitoramento e de estratégias de preservação da Chapada Diamantina. MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho é parte de dois grandes projetos desenvolvidos pela UEFS para a região do Parque Nacional da Chapada Diamantina da Baia e de seu entorno: PROBIO, Chapada Diamantina - biodiversidade e o Projeto Nordeste de Pesquisa/CNPq. Neste foram amostradas 53 localidades (figura 01). O mesmo esforço de coleta foi utilizado para cada localidade nos períodos seco (abril a outubro) e chuvoso (novembro a março) visando possibilitar a realização de comparações sazonais. Os peixes foram coletados com redes de arrasto, peneiras, puçás, redes de malha variadas e tarrafas. Os peixes foram fixados em formalina a 10% e posteriormente, em laboratório, conservados em álcool a 70º GL. No Laboratório de Ictiologia da UEFS, os espécimes foram triados, identificados e organizados em ordem sistemática de acordo com a literatura corrente, até o nível de espécie, sempre que possível. A maioria dos exemplares coletados foram depositados na coleção do Laboratório de Ictiologia da UEFS. Alguns exemplares foram cedidos por empréstimo para outras coleções científicas, visando o esclarecimento de dúvidas sobre a identificação ou o procedimento de descrição ao se tratar de uma nova espécie. 1 Laboratório de Ictiologia, Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Feira de Santana, BA. [email protected] RESULTADOS E DISCUSSÃO Um total de 76 espécies foi coletado. Destas espécies, 42 (55,3%) eram Characiformes, 20 (26,3%) eram Siluriformes, 08 (10,5%) eram Perciformes, 05 (6,6%) eram Cyprinodontiformes e apenas uma (1,3%) pertencia a ordem Gymnotiformes. A família com o maior número de espécies foi Characidae (27 espécies, 35,5%), seguida por Loricariidae (09 espécies, 11,8%) e Cichlidae (08 espécies, 10,5%). Cinco espécies alóctones foram registradas para a região. Duas delas são exóticas (Tilapia sp. e Oreochromis sp.) e pertencentes à família Cichlidae, coletadas da região de Morro do Chapéu. No rio Santos Antônio, em área de mata, no município de Lençóis foram registradas três espécies oriundas de outras bacias Sul-Americanas: Cichla cf temensis Humboldt, 1821 e Astronotus ocellatus (Agassiz, 1831) dois carnívoros amazônicos da família Cichlidae e Tripotheus guentheri (Garman, 1890), espécie onívora da família Characidae, originária da bacia do São francisco. A presença de espécies introduzidas é preocupante, pois estas podem ser causa direta de extinção de espécies nativas. Os dois ciclídeos amazônicos são reconhecidos pelo hábito alimentar voraz. Entre as principais causas de estresse em populações de peixes, relacionadas à atividade humana citadas por MOYLE & CECH (1996), pode-se registrar na Chapada Diamantina a ocorrência de alterações de hábitat e a introdução de espécies não nativas. Enquanto as alterações do hábitat atuam reduzindo a produtividade biótica e a diversidade, as espécies introduzidas podem ser causa direta do desaparecimento de espécies nativas através da predação, competição, doenças e hibridização. A análise de 31 casos estudados sobre introdução de peixes em rios registrou que em 77% dos casos documentados ocorreu o declínio das espécies nativas (ROSS, 1991). Pelo exposto recomenda-se fortemente a realização de pesquisas de médio ou longo prazo na área do Parque visando o monitoramento das espécies introduzidas, a adoção de medidas de fiscalização e o estímulo ao cultivo de espécies nativas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAHIA. SEPLANTEC, 1979. Bacias hidrográficas do estado da Bahia. Centro de Planejamento da Bahia – CEPLAB. Séries Recursos Naturais, 1, 109p. MOYLE, P. B. CECH, J. J. 1996. Fishes: an introduction to ichthyology. Prentice Hall, N. J. 590p. ROSS, S. T. 1991. Mechanisms structuring stream fish assemblages: Are there lessons from introduced species? Environmental Biology of Fishes, 30: 359-368. SANTOS, A. C. de A. 2003. Caracterização da ictiofauna do alto rio Paraguaçu, com ênfase nos rios Santo Antônio e São José (Chapada Diamantina, Bahia) Tese de Doutorado. UFRJ/ Museu Nacional, Rio de Janeiro. 215p. Figura 01 – Localidades amostradas na região da Chapada Diamantina da Bahia.