Solenidade de Cristo Rei II Sam 5,1-3 Sal 121 Col 1,12-20. Lc 23,35-43 A Solenidade de Cristo Rei do universo nos faz fixar o nosso olhar Naquele que domina a história, guiando-nos através da cruz. Esta festa foi estabelecida pelo Papa Pio XI em 11 de março 1925. O Papa quis motivar os católicos para reconhecer em público que o líder da Igreja é Cristo Rei. Mais tarde a data da celebração foi mudada dando um novo senso. Cristo Rei, anuncia a Verdade e essa Verdade é a luz que ilumina o caminho amoroso que Ele traçou, com sua Via Crucis, para o Reino de Deus. "Tu o dizes: eu sou rei. Para isso nasci e para isto vim ao mundo: para dar testemunho da verdade. Quem é da verdade escuta minha voz." (Jo 18, 37) Jesus nos revela sua missão reconciliadora de anunciar a verdade ante o engano do pecado. Assim como o demônio tentou Eva com enganos e mentiras para que fora desterrada, agora Deus mesmo se faz homem e devolve à humanidade a possibilidade de retornar ao Reino, quando qual cordeiro se sacrifica amorosamente na cruz. A possibilidade de alcançar o Reino de Deus foi estabelecida por Jesus Cristo, ao nos deixar o Espírito Santo que nos concede as graças necessárias para obter a Santidade e transformar o mundo no amor. Essa é a missão que Ele deixou à Igreja portanto a cada um de nós ao estabelecer seu Reino. Na primeira leitura 2° Sam 5,1-3 nos narra a proclamaçao do rei Davi, como rei de Israel da parte do povo. E’ uma confirmaçao da escolha que ja Deus tinha feito al filho Jessé depois de ter rejeitado o rei Saul que que tinha se afastado do Senhor pela sua ganancia do poder. Na segunda leitura de Paulo a Col 1,12-20 é um hino tirado provavelmente da liturgia batismal. Por meio dele, Palulo quer mostrar que Cristo Jesus é a plenitude do humano e do divino. Nos vv. 15-17 nos mostra Cristo como raiz, centro e ponto de unidade de toda a criaçao.O Deus invisivel mostrou a sua visibilidade na humanidade de Jesus, que viveu como nos, morreu e ressuscitou, é para nos o lugar de onde contemplamos o Deus criador. No Evangelho Lc 23,35-43, a viajem de Jesus verso Jerusalém, que tinha iniciado no XII domingo do T.O., agora encontra a sua meta final: o Calvario e o Paraiso. Jesus é o Rei que sobe sobre o trono da cruz, coroado de espinho e com o manto de porpora. Na cruz é maltratado, o povo està olhando, como diante de um espetaculo imfame....... Lc descreve a cena do calvário colocando em paralelo a cena da transfiguração. Alí transfigurado, aqui desfigurado; ali com Moisés e Elias, aqui com dois ladrões. v. 35 Lc diz que o povo assistia o drama da crucificação em um grande silêncio.... talvez perplexo pela não intervenção de Deus ao seu Filho eleito, o Messias. A zombaria dos chefes junto à cruz faz revelar qual era a preocupação deles: “A outros salvou...” vv. 36-38 Lc sublinha no sentido negativo o fato que os soldados além de caçoar Jesus lhes oferecia vinagre. No Sal 69,22 diz “como alimento deram-me fel, na minha sede fizeram-me beber vinagre”. A zombaria dos soldados e dos chefes nos faz lembrar a tentação do deserto (Lc 4,5-13), mas Jesus nos ensina que “aquele que quiser salvar a sua vida vai perdê-la” (Lc 9,24). Jesus manifesta a sua potência e liberdade perdendo e doando-se. A sua fraqueza é a forza de Deus. Jesus é rei porque reina sobre todo o universo. “e quando eu for elevado da terra; atrairei todos a mim.” (Jo 12,32) vv. 39-43 O episódio do “bom ladrão” é proprio de Lucas, com isso ele quer mostrar que a misericordia de Deus jamais se esgota, desde que as pessoas sejam dispostas a aceitá-las. A bestemia de um dos malfeitores consistia em nao aceitar a salvação que Deus oferecia através da morte do proprio Filho na cruz. O outro ladrão representa o clamor de todos os malditos da nossa sociedade, no qual Jesus se lembra e começa a reinar com eles apartir do “hoje”. Éo “hoje” da salvaçao. Como se Jesus dissesse: “ti assiguro, hoje verrai comigo no lugar das benaventuranças”. Éo “hoje” no qual Jesus tinha inaugurado o reino “hoje se cumpriu aos vossos ouvidos essa passagem da escritura..” (Lc 4,21). Dos Padres da Igreja Venha o teu reino “O reino de Deus”, conforme as palavras de nosso Senhor e Salvador, “năo vem visivelmente, nem dirá: Ei-lo aqui o ei-lo ali; mas o reino de Deus está dentro de nós, pois a palavra está muito próxima de nossa boca e “em nosso coração”. Segue-se daí, sem dúvida alguma, que quem reza para que venha o reino de Deus, pede, justamente por já ter em si um início deste reino, que desponte, produza frutos e chegue à perfeição. Pois em todo santo, Deus reina e quem è santo obedece às leis espirituais de Deus que nele habita como em cidade bem administrada. Está presente o Pai e, junto com o Pai, reina Cristo na pessoa prefeita, segundo as palavras: “Veremos a ele e nele faremos nossa morada”. Então o reino de Deus, que já está em nós, chegará por nosso contínuo adiantamento à plenitude, quando se completar o que foi dito pelo Apόstolo: Sujeitados todos os inimigos, Cristo entregará “o reino a Deus Pai, a fim de que Deus seja tudo em todos”. Por isso, rezemos sem cessar, com aquele amor que pelo Verbo se faz divino; e digamos a nosso Pai que está nos céus: “Santificado seja teu nome, venha a nόs o teu reino”. É de se notar também a respeito do reino de Deus: da mesma forma que não ha participação da justiça com a iniquidade, nem sociedade da luz com as trevas, nem pacto de Cristo com Balial, assim o reino de Deus não pode subsistir junto com o reino do pecado. Por conseguinte, se queremos que Deus reine em nós, de modo algum “reine o pecado em nosso corpo mortal”, mas mortifiquemos nossos “membros que estão na terra” e produzamos fruto no Espírito. Passei, então, Deus em nós como em paraíso espiritual, e reine só ele, junto com Cristo; e que em nós se assente a destra de sua virtude espiritual, objeto de nosso desejo. Assente-se até que seus inimigos todos que existem em nós sejam reduzidos a “escabelo de seus pés”, lançados fora todo principado, potestade e virtude. Tudo isso pode acontecer a cada um de nόs e ser destruída a “última inimiga, a morte”. E Cristo diga também dentro de nos: “Onde está, o morte, teu aguilhão? Onde está, inferno, tua vitória?” Já agora, portanto, o corruptível em nόs se reveste de santidade e de “incorrutibilidade”, destruída a morte, vista a “imortalidade” paterna, para que, reinando Deus, vivamos dos bens do novo nascimento e da ressurreição. (Do Opusculo “Sobre a Oraçao”, de Origenes, presbitero) A Palavra da Igreja Neste domingo, que encerra o ano litúrgico, a Igreja celebra a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do universo. Escutamos no Evangelho a pergunta dirigida a Jesus por Pôncio Pilatos: «Tu és o rei dos judeus?» (Jo 18, 33). Jesus, por sua vez, responde perguntando: «Dizes isso por ti mesmo, ou foram outros que to disseram a Meu respeito?» (Jo 18, 34). E Pilatos responde: «Acaso sou eu judeu? O Teu povo e os sumos sacerdotes é que Te entregaram a mim. Que fizeste?» (Jo 18, 35). A este ponto do diálogo, Cristo afirma: «O Meu reino não é deste mundo. Se o Meu reino fosse deste mundo, os Meus guardas lutariam para que Eu não fosse entregue às autoridades dos judeus. Mas o Meu reino não é daqui» (Jo 18, 36). Agora tudo é claro e transparente. Perante a acusação dos sacerdotes, Jesus revela que se trata doutro tipo de realeza, uma realeza divina e espiritual. Pilatos pergunta de novo: «Então Tu és rei?» (Jo 18, 37). A este ponto Jesus, excluindo qualquer forma de interpretação errada da Sua dignidade real, indica a verdadeira: «Tu estás a dizer que Eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para dar testemunho da verdade. Todo aquele que está com a verdade ouve a Minha voz» (Jo 18, 37). Ele não é rei no sentido que pensavam os representantes do Sinédrio: com efeito, não aspira a nenhum poder político em Israel. O Seu reino, pelo contrário, ultrapassa em grande medida os confins da Palestina. Todos os que estão com a verdade ouvem a Sua voz (cf. Jo 18, 37) e reconhecem n'Ele um Rei. Eis o âmbito universal do Reino de Cristo e a sua dimensão espiritual. 2. «Dar testemunho da verdade» (Jo 18, 37). A Leitura tirada do Livro do Apocalipse diz que Jesus Cristo é «a testemunha fiel» (1, 5). Ele é testemunha fiel porque revela o mistério de Deus e anuncia o Seu Reino já presente. Ele é o primeiro servidor deste Reino. Tornando-se «obediente até à morte, e morte de cruz!» (Fl 2, 8), Ele dará testemunho do poder do Pai sobre a criação e sobre o mundo. E o lugar do exercício desta sua realeza é a Cruz, abraçada no Gólgota. A Sua foi uma morte ignominiosa, que representa uma confirmação do anúncio evangélico do Reino de Deus. Mas aos olhos dos seus inimigos, aquela morte deveria ter sido a prova de que tudo o que Ele havia dito era falso: «Se é o Rei de Israel... desça agora da cruz, e acreditaremos n'Ele» (Mt 27, 42). Não desceu da cruz, mas, como o Bom Pastor, deu a vida pelas suas ovelhas (cf. Jo 10, 11). A confirmação do Seu poder real é dada pouco depois quando, no terceiro dia, ressuscitou dos mortos, revelando-se «o primogênito dos mortos» (Ap 1, 5). Ele, Servo obediente, é Rei, porque tem «as chaves da Morte e do Inferno» (Ap 1, 18). E, enquanto vencedor da morte, do inferno e de satanás, é «o Príncipe dos reis da terra» (Ap 1, 5). Com efeito, todas as coisas terrenas estão sujeitas à morte. Ao contrário, Aquele que tem poder sobre a morte, abre a toda a humanidade a perspectiva da vida imortal. Ele é o Alfa e o Omega, o princípio e o fim de toda a criação (cf. Ap 1, 8), por isso todas as gerações podem repetir: Bendito o Seu reino que está a chegar (cf. Mc 11, 10). Homilia do P. João Paulo II Paróq. Romana da Ss. Trindade, 23.11.1997 O paradoxo da Verdade O que mais nos incomoda de Deus é que quebre nossos esquemas mentais. Sempre foi assim e deste modo acontece hoje. Como pode ser um rei do universo se morre em uma cruz, em meio de burla e insultos e no mais espantoso dos ridículos? A quem pode impressionar um rei como Jesus? Não é improcedente ler um evangelho como deste domingo para solenizar a festa de Jesus Cristo, Rei do universo? Evidentemente há uma tremenda ironia no letreiro que põem no alto da cruz onde morre Jesus: o famoso INRI (Jesus Nazareno, Rei dos Judeus). Uma tremenda ironia porque em repetidas ocasiões com o passar do Antigo Testamento, para anunciar a futura salvação, apregoa-se para então a aparição de um rei justo, que traria para o Israel a paz, a prosperidade e a reconciliação. pinta-se, esse tempo messiânico, com as características de um tempo ideal: um povo em paz e o Senhor governando-o com justiça. O mais próximo a esse rei justo na lembrança dos filhos do Israel era o rei Davi e sua época. Por isso o Messias é um novo Davi, e os anúncios do Messias, entendidos à medida da ilusões humanas, criavam em grande parte dos judeus umas esperanças políticas desmesuradas. Tudo em Jesus, a primeira vista, surpreendia e escandalizava, ao apresentar-se como aquele em quem se realizam as profecias messiânicas. Como é possível? Um galileu de porte humilde, rodeado de gente humilde, e que, se faltava algo, atribui-se o poder de perdoar os pecados e se proclama Senhor do sábado. Uma arrogância sem limites. Por isso pregaram sobre a cruz, com tom de mofa, o letreiro do que fala o evangelho desta solenidade. O que acontece é que, por um desses paradoxos que parecem agradar a Deus, o letreiro resultou ser mais verdade do que pensavam quem o pôs. O que acontece é que Deus a quem derrotou na cruz de Cristo não foi nem aos assírios nem aos romanos, mas sim à maldade e ao pecado dos homens. Disto não caimos ainda na conta, tampouco em nosso tempo. Ah! Esta vitória foi possível porque Deus deu a razão a Jesus contra quem o condenou, ao ressuscitá-lo dentre os mortos. Não entendemos o paradoxo sem essa ressurreição, e Deus continuará quebrando nossos esquemas. Algo parecido dever ter acontecido com aquele ladrão que insultava a Jesus; o bom ladrão, embora não se imagina como será esse reinado de Jesus, lhe pede: "lembra-te de mim quando chegar a seu reino". Palavras de Dom Braulio Rodríguez Plaza Bispo de Salamanca