Dissertação de Mestrado Valesca da Silveira Silva ALTERAÇÃO DE ROCHAS E A CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO: ESTUDO DE CASO DO PÓRTICO DA IGREJA DO OUTEIRO DA GLÓRIA Universidade Federal do Rio de Janeiro ALTERAÇÃO DE ROCHAS E A CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO: ESTUDO DE CASO DO PÓRTICO DA IGREJA DO OUTEIRO DA GLÓRIA-RJ Valesca da Silveira Silva PPGL IGEO UFRJ 2007 2007 UFRJ ALTERAÇÃO DE ROCHAS E A CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO: ESTUDO DE CASO DO PÓRTICO DA IGREJA DO OUTEIRO DA GLÓRIA-RJ Valesca da Silveira Silva Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós graduação em Geologia, Instituto de Geociências, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como requisito necessário à obtenção do grau de Mestre em Ciências (Geologia). Orientador: Emílio Velloso Barroso Rio de Janeiro Agosto de 2007 i ALTERAÇÃO DE ROCHAS E A CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO: ESTUDO DE CASO DO PÓRTICO DA IGREJA DO OUTEIRO DA GLÓRIA Valesca da Silveira Silva Orientador: Emílio Velloso Barroso Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em Geologia, Instituto de Geociências, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciências (Geologia). Aprovada por: ________________________________________________ Presidente: Prof. Dr. Ismar de Souza Carvalho, Departamento de Geologia – IGEO/UFRJ. ________________________________________________ Profa. Dra. Eliane Aparecida Del Lama, Instituto de Geociências – USP. ________________________________________________ Profa. Dra. Andrea Ferreira Borges, Departamento de Geologia – IGEO/UFRJ. Rio de Janeiro Agosto de 2007 ii SILVA, VALESCA SILVEIRA ALTERAÇÃO DE ROCHAS E A CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO: ESTUDO DE CASO DO PÓRTICO DA IGREJA DO OUTEIRO DA GLÓRIA 165 P. 29,7 CM (INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS – UFRJ, MSC, PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA, 2007). DISSERTAÇÃO – UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO. INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS. 1. AÇÃO DO INTEMPERISMO E A ALTERAÇÃO E DEGRADAÇÃO DE ROCHAS GNÁISSICAS EM MONUMENTOS HISTÓRICOS.I.IG/UFRJ II – TÍTULO (SÉRIE) Rio de Janeiro Agosto de 2007 iii Primeiramente, agradeço a Deus por ter me dado força para superar os desafios que surgiram durante esta árdua caminhada. A Cydéa Paulino de Carvalho (in memorian), minha mãe espiritual e maior incentivadora. Rio de Janeiro Agosto de 2007 iv AGRADECIMENTOS Agradecimentos ao meu orientador Prof. o Dr. Emílio Velloso Barroso, que compreendeu os meus momentos de limitação de tempo, pela paciência e suporte oferecido durante o desenvolvimento desta dissertação e por ter me ajudado a conduzir com sabedoria as inspirações que surgiram ao longo da caminhada. A Profª. Andréa Borges pela ajuda no processo de sistematização de dados. Aos alunos do curso de graduação em Geologia Rodrigo Brauns e Viviane Silva, os meus sinceros agradecimentos, pois foram os meus anjos protetores e os maiores colaboradores desta dissertação. Aos amigos que tive o prazer de conhecer durante o curso de Pós Graduação: Gilmar Pauli, Cláudio Lessa, Aline Nogueira, Melissa, Guilherme e Janaína. Ao Programa de Pós Graduação em Geologia pela oportunidade de realização do curso de mestrado e, em especial, ao ex-Coordenador do Curso o Profº. Dr. Júlio César Mendes e a Secretária Cristina Barreto sempre muito atenciosa e carinhosa. A Capes – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior pelo apoio financeiro com a concessão da bolsa de mestrado. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio financeiro dado ao Projeto "Avaliação da alteração e da alterabilidade de rochas de cantaria em prédios e monumentos históricos na Cidade do Rio de Janeiro" (Processo 479348/2004-9). A profª. Ana Lúcia Britto, pela compreensão durante os muitos momentos que tive de me ausentar da pesquisa. Às diretoras, Conceição e Márcia Cristina pela compreensão nos momentos em que mais necessitei de tempo, e que muito me apoiaram e incentivaram durante o desenvolvimento deste trabalho, e aos amigos do Colégio Estadual Dom João VI. A Imperial Irmandade da Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro, em especial ao provedor Dr. Mauro Viegas, por ter fornecido relatórios de extrema importância para a compreensão das obras de intervenção da igreja. Rio de Janeiro Agosto de 2007 v A arquiteta Yanara Hass do IPHAN por ter sugerido o estudo na Igreja da Glória e por sua participação nas visitas de campo na fase inicial deste trabalho. A FEEMA – Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente, em especial ao Dr. Antônio Carlos Dias e a pesquisadora Isabel de Carvalho, por terem fornecido os dados climáticos necessários ao desenvolvimento desta dissertação. Ao Profº. Dr. Luiz Francisco Pires Guimarães Maia, do Laboratório de Estudos em Poluição do Ar, Departamento de Meteorologia da UFRJ, pelo fornecimento de informações sobre a qualidade da água das chuvas na Cidade do Rio de Janeiro. Ao Profº. Jose Antônio Baptista Neto-UFF, meu professor durante o curso de graduação em Geografia nesta casa, pela enriquecedora troca de informações e materiais. A arquiteta Paula de Assumpção Vieira, pela orientação para o manuseio do programa Sketchup. Ao Laboratório de Cartografia da UFRJ-Geocart, pelo suporte fornecido para geração dos resultados, em especial a Geógrafa Izaura Nunes, grande amiga e colaboradora, e a sua filha, tão aguardada por todos nós, Sofia. Rio de Janeiro Agosto de 2007 vi AGRADECIMENTOS ESPECIAIS Aos meus pais, José Almir Soares da Silva e Celina da Silveira Silva, por estarem sempre presentes nos momentos de alegria para festejar e prontos para me confortar nas horas de aflição. Ao meu compadre Carlos Augusto Vieira, a minha prima Edivânia Viera e ao meu afilhado Alyson Viera, por ter me trazido momentos de muita alegria desde momento do seu nascimento, e à toda minha família, em especial ao meu irmão Junior, agradeço todo o amor, carinho, compreensão e respeito. Aos meus padrinhos Maria da Conceição e Aristides, pelo carinho e apoio incondicional. A minha mãe espiritual Selma Vasconcellos, que sempre me amparou nos momentos que pensei não ter mais forças para continuar, e todos os amigos espirituais que me ajudaram durante o desenvolvimento deste trabalho, aos irmãos e irmãs que sempre tiveram uma palavra de conforto e um abraço amigo. As amigas Yara e Solange pelo carinho e paciência durante momentos de prova e sofrimento pelos quais eu passei. Ao meu melhor amigo Bob Carrara, companheiro nos momentos de solidão. A aqueles que se foram antes do início ou da conclusão deste trabalho, mas sei que era do desejo de vossos corações que o concretizasse, aos meus avós maternos Ezilda Silva e Silverio da Silveira (in memorian), aos meus avós paternos Numeriano Soares e Laura Maria da Silva (in memorian), ao meu tio Luiz Soares (in memorian). Ao meu inesquecível professor Gildo de Araújo Sá Cavalcante de Albuquerque (in memorian). Rio de Janeiro Agosto de 2007 vii “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse Amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse Amor, nada seria”. Coríntios 13:1 Rio de Janeiro Agosto de 2007 viii RESUMO ALTERAÇÃO DE ROCHAS E A CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO: ESTUDO DE CASO DO PÓRTICO DA IGREJA DO OUTEIRO DA GLÓRIA-RJ Valesca da Silveira Silva Orientador: Emílio Velloso Barroso Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós graduação em Geologia, Instituto de Geociências, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciências (Geologia). O presente trabalho trata de uma análise das formas de degradação encontradas nas rochas gnáissicas quartzo–feldspáticos (Leptinito) da Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro, localizada no Bairro da Glória – RJ. A igreja construída no século XVIII foi tombada pelo Serviço do Patrimônio Artístico e Nacional, em 17 de março de 1938. Objetivo principal desta dissertação é analisar em conjunto a distribuição das morfologias de alteração encontradas nas fachadas externas e internas, visto que o processo de degradação encontrando no monumento compromete a estrutura estética do conjunto arquitetônico. As formas de alteração mais significativas encontradas durante o mapeamento de danos se resumem na ocorrência de patologias distribuídas entre os grupos II (Perda de matéria ou perda de massa) e III (Alterações Cromáticas e Depósitos superficiais). O método utilizado para obtenção de dados quantitativos e análise sistemática dos resultados foi o Sistema de Informações Geográficas-SIG, ferramenta importante de análise espacial que possibilita as operações de interseção, sobreposição e fusão de imagens, compostos pela disposição entre “views”, gráficos e tabelas. O resultado da aplicação desta ferramenta foi a geração de mapas temáticos. Dentre os resultados obtidos durante o mapeamento das formas de degradação as patologias mais encontradas no monumento foram as seguintes: película 21,85%, em relação à média das áreas das fachadas seguido de erosão (19,95%), mancha (13,65 %) e plaqueta com (5,86%). Palavras-Chaves: Morfologias de alteração, conservação, patrimônio arquitetônico. Rio de Janeiro Agosto de 2007 ix ABSTRACT AMENDMENTS TO ROCK AND CONSERVATION OF STOCKHOLDERS ARCHITECTURAL: CASE STUDY OF THE CHURCH OF PÓRTICO OUTEIRO OF GLÓRIA Valesca da Silveira Silva Orientador: Emílio Velloso Barroso Abstract of thesis presented to graduated programme of Geology/UFRJ as partial fulfillment of the requirements for degree of Master of. (MSc.) The present work deals with an analysis of the forms of degradation found in the gnáissicas rocks quartz-feldspatic (Leptite) of the Church of Ours Lady of the Glory of the Outeiro, located in the Quarter of the Glory - RIO DE JANEIRO. The church constructed in century XVIII, was overthrown by the Service of the Artistic and National Patrimony, in 17 of March of 1938. Main objective of this work is to analyze in set the distribution of the found morphologies of alteration in the external and internal façades, since the degradation process finding in the monument compromises the aesthetic structure of the joint architectural. The found more significant forms of alteration during the mapping of damages if summarize in the occurrence of pathology distributed between groups II (Loss of substance or loss of mass) and III (Chromatic Alterations and superficial Deposits). The method used for attainment of quantitative data and analyzes systematics of the results was the System of Information Geographical-SIG, important tool of space analysis that makes possible the operations of intersection, overlapping and fusing of images, composites for the disposal between views, graphs and tables. The result of the application of this tool was to the generation of thematic maps. Amongst the results gotten during the mapping of the degradation forms the found pathology more in the monument had been the following ones: film 21.85%, in relation to the average of the areas of the façades followed of erosion (19,95%), spot (13,65 %) and plaquette with (5,86%). Key-words: weathering morphologies, conservation, architetonic heritage. Rio de Janeiro Agosto de 2007 x SUMÁRIO AGRADECIMENTOS .......................................................................................................... vi AGRADECIMENTOS ESPECIAIS. .................................................................................... vii RESUMO ........................................................................................................................... viii ABSTRACT ......................................................................................................................... ix LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................... xi LISTA DE TABELAS ........................................................................................................ xvi 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 1 1.1 Objetivos ................................................................................................................ 5 1.2 Justificativas ........................................................................................................... 6 2 REFERENCIAL TEÓRICO SOBRE A DEGRADAÇÃO DE ROCHAS EM MONUMENTOS HISTÓRICOS ........................................................................................... 8 2.1 Alteração e Alterabilidade de Rochas ..................................................................... 8 2.2 A Alteração no Ambiente Construído ................................................................... 16 2.3 As Morfologias de Alteração ................................................................................ 22 2.4 Ensaio Não Destrutivo: o esclerômetro de Schmidt ............................................... 48 3 PRINCÍPIOS DE CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO: APLICAÇÃO AOS MATERIAIS PÉTREOS ...................................................................................................... 51 3.1 Abordagem Histórico-Conceitual dos Termos Restauração e Conservação ........... 51 3.2 As Cartas Patrimoniais ......................................................................................... 56 3.2.1 A Carta de Atenas ......................................................................................... 56 3.2.2 A Carta de Veneza ........................................................................................ 58 3.2.3 A Carta de Burra...............................................................................................59 4 OBJETO DO ESTUDO: A IGREJA DO OUTEIRO DE NOSSA SENHORA DA GLÓRIA .............................................................................................................................. 60 4.1 Localização do Monumento .................................................................................. 60 4.2 Considerações Históricas ...................................................................................... 61 4.3 Descrição Arquitetônica do Monumento: Plantas e Fachadas ................................ 64 4.4 Caracterização das Rochas Observadas na Construção .......................................... 71 5 METODOLOGIA ........................................................................................................ 75 5.1 Caracterização das Condições Ambientais ............................................................ 75 5.2 Caracterização da Poluição Atmosférica Local ..................................................... 81 5.3 Avaliação “In Situ” da Degradação das Rochas de Cantaria ................................. 82 5.3.1 Cadastro de Testes da Matriz ........................................................................ 82 5.3.2 Mapeamento das Formas de Degradação (Morfologias de Alteração) ............ 84 5.3.3 Ensaio Não Destrutivo ................................................................................ 103 5.3.4 Avaliação dos Danos................................................................................... 104 6 RESULTADOS .......................................................................................................... 105 6.1 Condições Ambientais ........................................................................................ 105 6.2 Levantamento e Mapeamento das Morfologias de Alteração ............................... 116 6.3 Cadastro de Testes da Matriz .............................................................................. 140 6.4 Dados de Esclerometria ...................................................................................... 141 6.5 Análise dos Resultados ....................................................................................... 141 7 CONCLUSÕES ....................................................................................................... 1558 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 160 xi LISTA DE FIGURAS FIGURA 2.1 - Desagregação granular, estátua de mármore Carrara, Pantheon, Budapeste, Hungria. Fonte:Weiss, et.al. (2004). ..................................................................................... 17 FIGURA 2.2 - Portal da Índia, Mumbai (ex-Bombaim). Fonte: Tiwari et al. (2005). ............ 18 FIGURA 2.3 - Notar os efeitos deletérios das eflorescências salinas, Mahathat (28 de outubro de 1996), Tailândia. Fonte:Weiss, et.al. (2004). ................................................................... 18 FIGURA 2.5 - Pátina negra. Urmeneta (1997)...................................................................... 28 FIGURA 2.6 - Pátina laranja. Urmeneta (1997) .................................................................... 28 FIGURA 2.7 – Erosão eólica. Urmeneta (1997) ................................................................... 28 FIGURA 2.8 – Arenização. Urmeneta (1997)....................................................................... 28 FIGURA 2.9 – Descimentação. Urmeneta (1997)................................................................. 29 FIGURA 2.10 – Rupturas. Urmeneta (1997) ........................................................................ 29 FIGURA 2.11 – Disjunções por descamação da rocha. Urmeneta (1997) ............................. 29 FIGURA 2.12 – Alteração cromática. Henriques et al. (2005). ............................................. 30 FIGURA 2.13 – Alveolização. Henriques et al. (2005)......................................................... 30 FIGURA 2.14 - Bolha. Henriques et al. (2005)........................................................................31 FIGURA 2.15 – Colonização biológica. Henriques et al. (2005).............................................32 FIGURA 2.16 – Crosta negra. Henriques et al. (2005)............................................................32 FIGURA 2.17 – Concreção. Henriques et al. (2005)................................................................32 FIGURA 2.18 – Deformação. Henriques et al. (2005).............................................................33 FIGURA 2.19 – Depósito superficial. Henriques et al. (2005)................................................33 FIGURA 2.20 – Desagregação granular. Henriques et al. (2005)............................................34 FIGURA 2.21 – Eflorescência. Henriques et al. (2005)...........................................................34 FIGURA 2.22 - Empolamento. Henriques et al. (2005)...........................................................35 FIGURA 2.23 – Erosão. Henriques et al. (2005). ................................................................. 36 FIGURA 2.24 – Escamas. Henriques et al. (2005). .............................................................. 36 FIGURA 2.25 – Esfoliação. Henriques et al. (2005). ............................................................ 36 FIGURA 2.26 – Fissura. Henriques et al. (2005). ................................................................. 36 FIGURA 2.27 – Fratura. Henriques et al. (2005). ................................................................. 37 FIGURA 2.28 – Incrustação. Henriques et al. (2005). .......................................................... 37 FIGURA 2.29 – Junta aberta. Henriques et al. (2005). ......................................................... 37 FIGURA 2.30 – Lacuna. Henriques et al. (2005).................................................................. 37 FIGURA 2.31 – Lascagem. Henriques et al. (2005). ............................................................ 38 FIGURA 2.32 – Mancha. Henriques et al. (2005)................................................................. 38 FIGURA 2.33 – Pátina. Henriques et al. (2005). .................................................................. 38 FIGURA 2.34 – Película. Henriques et al. (2005)................................................................. 39 FIGURA 2.35 – Picamento. Henriques et al. (2005). ............................................................ 39 FIGURA 2.36 – Placa. Henriques et al. (2005)..................................................................... 39 FIGURA 2.37 – Plaqueta. Henriques et al. (2005). ............................................................... 39 FIGURA 2.38 – Pulverização. Henriques et al. (2005). ........................................................ 40 FIGURA 2.39 – Vegetação. Henriques et al. (2005). ............................................................ 40 FIGURA 2.40 - Detalhe da tela que constitui o mapa base. Fonte: França, Araújo & Souza (2005) .................................................................................................................................. 41 FIGURA 2.41 - Apresentação da tela com o mapa de Conservação e sua respectiva tabela. Fonte: França, Araújo & Souza (2005). ................................................................................ 42 FIGURA 2.42 - Mapa de Classificação das formas de Degradação por Grupos. Fonte: França, Araújo & Souza (2005) ........................................................................................................ 42 xii FIGURA 2.43 – Imagem raster e vetor utilizados para a criação da base de referência espacial (a) e o tema Vetorial sobreposto à imagem raster. Fonte: França, Araújo & Souza (2005) .... 43 FIGURA 2.44 - Tabela constituída pela área total de cada forma de degradação na Portada e gráfico (eixodo x- representando as formas de degradação e do eixo y-área total da degradação do bloco). Fonte:França, Araújo & Souza (2005) ............................................... 44 FIGURA 2.45 - Vista parcial do busto em pedra-sabão situado no Chafariz do Alto da Cruz, datado de 1761 (a) e detalhes do rosto da escultura com relevo de degradação moderado, fissuras e perda de fragmentos (b). Fonte: Silva & Roeser (2003).. ....................................... 46 FIGURA 2.46 - Representação gráfica do mapeamento das deteriorações e categorias de danos no busto em pedra-sabão do Chafariz do Alto da Cruz. Fonte: Silva & Roeser (2003). 47 FIGURA 2.47 - Martelo de Schmidt do tipo L...................................................................... 49 FIGURA 2.48 - Etapas do ensaio de esclerometria (Evangelista, 2002). ............................... 49 FIGURA 2.49 - Gráfico de correlação da dureza de Schmidte resistência à compressão simples. (ISRM, 1978)..............................................................................................................50 FIGURA 4.1 - Vista da Igreja da Glória do Outeiro e as pistas do Aterro do Flamengo. Fonte: Lacerda & D‟Affonsêca (2007) ........................................................................................... 60 FIGURA 4.2 – Localização e proximidade da Baía de Guanabara. ....................................... 61 FIGURA 4.3 - Igreja da Glória retratada pelo pintor brasileiro Leandro Joaquim em1790. Antes dos aterros as águas da baía chegavam até ao sopé do outeiro da Glória. .................... 62 FIGURA 4.4 - Mapa de 1904 mostrando as reformas planejadas por Pereira Passos. Fonte: Lacerda & D‟Affonsêca (2007).. ......................................................................................... 63 FIGURA 4.5 - Vista do cais e da Avenida Beira-Mar, ainda em construção – 1905. Fonte: Lacerda & D‟Affonsêca (2007).. ......................................................................................... 63 FIGURA 4.6 - Volumetria interna básica das igrejas cariocas de nave retangular: Corte e planta. Fonte: Alvim (1999). ................................................................................................ 64 FIGURA 4.7 - Planta baixa térreo em escala 1/100 (A) e em maior detalhe a forma de duplo octógono da sua planta baixa encontra-se expressa em seu exterior (B, C e D), além disso, notam-se as folhas das portas (E) de jacarandá, que ajustam-se à feição austera, sóbria da edificação com suas almofadas em forma de diamante (F) . Fonte: Hue (2000) .................... 67 FIGURA 4.8 - Azulejos setencentistas que adornam o templo – nave e capela-mor, assim como a sacristia e coro. Fonte: Hue (2000). .......................................................................... 68 FIGURA 4.9 - Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro, teto em abóbada. Fonte: Ramazzini (2003). ................................................................................................................ 69 FIGURA 4.10 - Igreja de Nossa Senhora da Gloria do Outeiro, traçado geométrico da fachada. Fonte: Alvim (1999). .............................................................................................. 70 FIGURA 4.11 - Gnaisse leptinito, apresentado sinais de alteração. Fonte: Barroso (2006).. .. 71 FIGURA 4.12 - Desenvolvimento progressivo do “boudinage” (Ramsay, 1967 apud Menezes Filho, 1993). ........................................................................................................................ 72 FIGURA 5.1 – Ocorrências de temperaturas máximas em função da hora no ano de 2003.... 76 FIGURA 5.2 - Base digital da planta fornecida pela Imperial Irmandade do Outeiro de Nossa Senhora da Glória. ............................................................................................................... 77 FIGURA 5.3 - Segunda etapa do projeto de construção do modelo digital em 3D. ............... 78 FIGURA 5.4 - Terceira etapa de desenvolvimento do software, em destaque elementos da cobertura, sino, telhado e cornijas. ....................................................................................... 78 FIGURA 5.5 - Quarta etapa do projeto em 3D, colocação das janelas e portadas. ................. 79 FIGURA 5.6 - Elementos em cantaria em destaque. ............................................................. 79 FIGURA 5.7 - Definição da localização geográfica do objeto de estudo. .............................. 80 FIGURA 5.8 - Exemplo de simulação da insolação e sombreamento da fachada. ................ 81 FIGURA 5.9 – Exemplo do processo de vetorização de fachadas. ........................................ 88 FIGURA 5.10 – Construção da “polyline” da região de interesse da fachada. ....................... 89 xiii FIGURA 5.11 – Transformação do vetor fachada para o formato shape (.shp). .................... 90 FIGURA 5.12 – Notar que a fachada no ambiente GIS é um vetor (“polyline”). ................... 90 FIGURA 5.13 – Preparação de “polyline” única paraposterior transformação em polígono. . 91 FIGURA 5.14 – Criação de polígono com a ferramenta XToolsPro. ..................................... 91 FIGURA 5.15 – Cálculo da área no SIG para comparação com a área do desenho CAD. ..... 92 FIGURA 5.16 – Seleção da unidade de medida no ArcGis. .................................................. 92 FIGURA 5.17 – Cálculo da área no ArcGis. ......................................................................... 93 FIGURA 5.18 – Georreferenciamento da imagem. ............................................................... 93 FIGURA 5.19 – Processo de superposição entre a fachada e a fotografia.............................. 94 FIGURA 5.20 – Visualização dos “layers” existentes nas janelas. ........................................ 95 FIGURA 5.21 – Visualização simultânea da imagem da fachada e do seu vetor. .................. 95 FIGURA 5.22 – Transformação da fotografia e vetor em um único “layer”. ......................... 96 FIGURA 5.23 – Tornando o “layer” fachada editável........................................................... 96 FIGURA 5.24 – Seleção do método utilizado para tornar compatível o processo entre os “layers”. ............................................................................................................................... 97 FIGURA 5.25 – Início da seleção dos pontos de controle. .................................................... 98 FIGURA 5.26 - União dos pontos de controle, sentido vetor-imagem................................... 98 FIGURA 5.27 – Escolhido todos os pontos de controle na fachada, fazer o ajuste vetorimagem. ............................................................................................................................... 99 FIGURA 5.28 – Notar o ajuste do contorno da fachada (vermelho) com a imagem raster retificada. ........................................................................................................................... 100 FIGURA 5.29 – Mapeamento da morfologia de alteração plaqueta e banco de dados contendo seus parâmetros geométricos (perímetro e área). ................................................................ 101 FIGURA 5.30 – Representação esquemática simplificada dos principais procedimentos para correção e mapeamento das morfologias de alteração. ........................................................ 102 FIGURA 5.31 - – Esquema do martelo de Schmidt. Fonte: Medeiros & Helene (2007)......................................................................................................................................103 FIGURA 6.1 – Médias mensais de temperatura do ar – Estação Aterro do Flamengo (INMET,1997). .................................................................................................................. 106 FIGURA 6.2 - Média de precipitação mensal do período de 1931-1960 (INMET, 2007). ... 108 FIGURA 6.3 - Média de precipitação mensal do período de 1973-1990 (INMET, 2007). ... 108 FIGURA 6.4 - Rosa dos Ventos (26/07/2000 a 30/11/2006), Estação Centro (FEEMA, 2007) .......................................................................................................................................... 109 FIGURA 6.5 – Iluminação solar da fachada da Marina da Glória às 5:30 h da manhã do mês de janeiro. .......................................................................................................................... 110 FIGURA 6.6 – Exposição solar da fachada Centro (NW) às 12h30min para os meses de abril (a) e setembro (b) de 2003. ................................................................................................. 111 FIGURA 6.7 - Exposição solar da fachada Centro (NW) às 13h30min para os meses de abril (a) e setembro (b) de 2003. ................................................................................................. 112 FIGURA 6.8 - Exposição solar da fachada Centro (NW) às 14h30min para os meses de abril (a) e setembro (b) de 2003. ................................................................................................. 112 FIGURA 6.9 – Composição química do material particulado em suspensão em alguns bairros do Rio de Janeiro. Fonte: Carvalho (1999). ...........................................................................113 FIGURA 6.10 – Concentrações médias mensais de dióxido de enxofre. Fonte: Carvalho (1999)......................................................................................................................................114 FIGURA 6.11 - Concentrações médias mensais de monóxido de carbono. Fonte: Carvalho (1999)......................................................................................................................................114 FIGURA 6.12 - Concentrações médias ponderadas pelo volume dos íons sódio e cloreto nas Estações da SMAC (Maia & Mello, 2004). ...........................................................................115 xiv FIGURA 6.13 - Concentrações médias ponderadas pelo volume de sulfato na água da chuva (barra completa), de excesso de sulfato (cinza claro) e de sulfato do aerossol de sal marinho (cinza escuro). Fonte: Maia & Mello (2004). ...................................................................... 116 FIGURA 6.14 - Aparecimento de plaquetas (a e b) na base dos pilares externos e voltados para sudeste. Fonte: Silva (2006)........................................................................................ 117 FIGURA 6.15 - Películas e machas localizadas na fachada sudeste. Fonte: Silva (2006). ... 118 FIGURA 6.16 - Erosão encontrada no pilar, posicionado no lado da Marina da Glória (SE) e voltado para NW. Fonte: Barroso (2007). ........................................................................... 119 FIGURA 6.17 - – Presença de vegetação superior nas juntas da cantaria. Fonte: Silva (2006) .......................................................................................................................................... 120 FIGURA 6.18 – Observar filme de colonização biológica abaixo de superfície de plaquetas. .......................................................................................................................................... 120 FIGURA 6.19 - Quebra da rocha por ação antrópica. Fonte: Barroso (2006). ..................... 121 FIGURA 6.20 - Vista da fachada NE, grafitada. Foto: Hue (2004). .................................... 121 FIGURA 6.21 – Morfologias de alteração observadas e mapeadas na fachada externa de SE (voltada para a Marina da Glória). ...................................................................................... 123 FIGURA 6.22 - Morfologias de alteração observadas e mapeadas na fachada externa de NW (voltada para o Centro)....................................................................................................... 125 FIGURA 6.23 - Morfologias de alteração observadas e mapeadas na fachada externa frontal – NE. .................................................................................................................................... 127 FIGURA 6.24 - Morfologias de alteração fachada frontal interna, localizada no lado da Marina da Glória e voltada para porta principal da igreja (SW). ......................................... 129 FIGURA 6.25 – Distribuição das morfologias de alteração na fachada frontal interna, localizada no lado do Centro e voltada para porta principal da igreja (SW)......................... 131 FIGURA 6.26 – Distribuição das morfologias de alteração na alteração no pilar localizado no lado da Marina da Glória, interno ao pórtico e face voltada para o Centro (NW). ............... 133 FIGURA 6.27 - – Distribuição das morfologias de alteração na alteração no pilar localizado no lado do Centro, interno ao pórtico e face voltada para a Marina da Glória (SE). ............ 135 FIGURA 6. 28 – Localização dos blocos testados com o martelo de Schmidt na fachada voltada para a Marina da Glória (SE) e as respectivas morfologias de alteração. ................ 144 FIGURA 6.29 – Mapas de contorno para os índices de esclerometria da fachada externa voltada para a Marina da Glória (SE). O mapa inferior corresponde ao bloco 1.3, o intermediário ao 2.3 e o superior ao 6.3. ............................................................................. 145 FIGURA 6.30 - – Localização dos blocos testados com o martelo de Schmidt na fachada externa frontal (NE) e as respectivas morfologias de alteração. ......................................... 147 FIGURA 6.31 – Mapas de contorno dos valores de esclerometria dos blocos 2.5 (inferior) e 3.5 (superior) da fachada externa frontal (NE). ................................................................... 148 FIGURA 6.32 - Localização dos blocos testados com o martelo de Schmidt na fachada externa voltada para o Centro (NW) e as respectivas morfologias de alteração. .................. 149 FIGURA 6.33 - Mapas de contorno dos valores de esclerometria dos blocos 1.1 (inferior) e 3.1 (superior) da fachada externa frontal (NE). ................................................................... 150 FIGURA 6.34 - Localização dos blocos testados com o martelo de Schmidt no pilar interno do lado do Centro e voltado para a Marina da Glória (SE) e as respectivas morfologias de alteração. ........................................................................................................................... 151 FIGURA 6.35 -Distribuição dos valores de esclerometria para os blocos 2.2 e 5.2 do pilar interno localizado no Centro e face voltada para a Marina da Glória (SE). ......................... 152 FIGURA 6.36 - - Localização dos blocos testados com o martelo de Schmidt no pilar interno do lado da Marina da Glória e voltado para Centro (NW) e as respectivas morfologias de alteração. ........................................................................................................................... 153 xv FIGURA 6.37 - Distribuição dos valores de esclerometria para os blocos 2.1 (a) e 5.2 (b) do pilar interno localizado na Marina da Glória e face voltada para o Centro (NW)................. 154 xvi LISTA DE TABELAS TABELA 2. 1 – Efeitos causadores de degradação da rocha em seu ambiente natural. Efeitos herdados e causa dos fatores.Fonte: Smith & Warke (1996). ................................................ 20 TABELA 2.2 - Efeitos causadores de degradação da rocha no ambiente construído. Fonte: Smith & Warke (1996). ........................................................................................................ 21 TABELA 2.3 – Classificação da classificação das morfologias de alteração segundo Urmeneta (1997). ................................................................................................................. 24 TABELA 2.4 - Formas de Intemperismo com suas respectivas divisões em principais e individuais e suas abreviaturas correspondentes (Modificada de Fitzner et al., 1995). Fonte: Fitzner et al., 1995; Silva & Roeser, 2003. ........................................................................... 45 TABELA 2.5 - Medidas recomendadas em relação às categorias de danos (Modificada de Fitzner et al., 1995). Fonte: Fitzner et al., 1995; Silva & Roeser, 2003.. ............................... 45 TABELA 4.1 – Descrição macroscópica dos estágios de alteração de alguns gnaisse do Rio de Janeiro. Modificado de Barroso et al. (1996). ....................................................................... 73 TABELA 5.1 – Cadastro de testes da matriz empregado para reconhecimento e classificação dos estágios de alteração intempérica, modificada de Barroso (1993). .................................. 83 TABELA 5.2 – Morfologias do Grupo I. Adaptação das obras de Urmeneta (1997), Fitzner (2004) e Henriques et. al. (2005). ......................................................................................... 85 TABELA 5.3 - Morfologias do Grupo II. Adaptação das obras de Urmeneta (1997), Fitzner (2004) e Henriques et. al. (2005). ......................................................................................... 85 TABELA 5.4 - Morfologias do Grupo III. Adaptação das obras de Urmeneta (1997), Fitzner (2004) e Henriques et. al. (2005). ......................................................................................... 86 TABELA 5.5 - Morfologias do Grupo IV. Adaptação das obras de Urmeneta (1997), Fitzner (2004) e Henriques et. al. (2005). ......................................................................................... 87 TABELA 6.1 - Temperaturas médias mensais, máxima e mínima, no período de 1973-1990. .......................................................................................................................................... 106 TABELA 6.2 – Precipitação média mensal para o período de 1931 a 1960 (INMET, 2007). .......................................................................................................................................... 107 TABELA 6.3 - Precipitação média mensal para o período de 1973 a 1990 (INMET, 2007). 107 TABELA 6.4 – Freqüência absoluta de ocorrência das morfologias de alteração na fachada externa de SE (voltada para a Marina da Glória) ................................................................ 122 TABELA 6.5 - Freqüência absoluta de ocorrência das morfologias de alteração na fachada externa de NW (voltada para o Centro). ............................................................................. 124 TABELA 6.6 - Freqüência absoluta de ocorrência das morfologias de alteração na fachada externa frontal (voltada para NE). ...................................................................................... 126 TABELA 6.7 - Freqüência absoluta de ocorrência das morfologias de alteração na fachada frontal interna, localizada no lado da Marina da Glória e voltada para porta principal da igreja (SW). ................................................................................................................................. 128 TABELA 6.8 - Freqüência absoluta de ocorrência das morfologias de alteração na fachada frontal interna, localizada no lado do Centro e voltada para porta principal da igreja (SW). 130 TABELA 6.9 - Freqüência absoluta de ocorrência das morfologias de alteração no pilar localizado no lado da Marina da Glória, interno ao pórtico e face voltada para o Centro (NW). .......................................................................................................................................... 132 TABELA 6.10 - Freqüência absoluta de ocorrência das morfologias de alteração no pilar localizado no lado do Centro, interno ao pórtico e face voltada para Marina da Glória (SE). .......................................................................................................................................... 134 xvii TABELA 6.11 – Síntese das morfologias de alteração e suas áreas de ocorrência nas fachadas externas do pórtico da entrada principal da igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro. . 136 TABELA 6.12 – Síntese das morfologias de alteração e suas áreas de ocorrência nas fachadas dos pilares internos do pórtico da entrada principal da igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro............................................................................................................................... 138 TABELA 6. 13 – Dados da avaliação macroscópica das alterações física e química do gnaisse. .............................................................................................................................. 141 TABELA 6. 14 – Dados estatísticos dos ensaios de esclerometria. ..................................... 142 1 1 INTRODUÇÃO Nas últimas décadas o interesse pela preservação e/ ou conservação do patrimônio artístico e cultural surge como uma necessidade, tendo em vista a preocupação, no momento presente, com o desaparecimento dos traços urbanos do passado. Os países europeus, ao enfrentarem o processo de industrialização acelerada que descaracterizava, demolia e alterava as formas das antigas cidades, foram os primeiros a manifestar a preocupação de “proteger” edifícios e regiões do desmedido crescimento das cidades que demandavam mais e mais espaços (Meneguello, 2000). “A primeira conferência internacional para a conservação dos monumentos históricos aconteceu em Atenas, em 1931, reunindo países da Europa, a segunda em Veneza, em 1964, que contou com a participação da Tunísia, México e Peru; por fim, em 1979, 24 países dos cinco continentes participaram do estabelecimento do conceito de um patrimônio mundial” (1ª Conferência Internacional para a Conservação dos Monumentos Históricos apud Meneguello, 2000). A preservação do patrimônio artístico e cultural, seja no Brasil ou no exterior, exige uma compreensão de conceitos fundamentais de patrimônio artístico e nacional, patrimônio, monumento e obra de arte patrimonial. Segundo o anteprojeto elaborado por Mario de Andrade, em 1936 (Meneguello, 2000; Andrade, 2002) com a finalidade de criar o Serviço de Patrimônio Artístico e Nacional, este apresenta as seguintes definições. Entende-se por “Patrimônio Artístico Nacional todas as obras de arte pura ou de arte aplicada, popular ou erudita, nacional ou estrangeira, pertencentes aos poderes públicos, a organismos sociais e a particulares nacionais e a particulares estrangeiros residentes no Brasil”. (...) O Patrimônio Histórico e Artístico Nacional 1 também pode ser compreendido como um o conjunto de bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja do interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnológico, bibliográfico ou artístico. 1 Legislação Federal. Decreto-Lei nº 25, de 30.11.37. Capítulo I, art. 1º. 2 Obra de arte patrimonial, pertencente ao Patrimônio Artístico Nacional pode ser definida como: “as obras que estiverem inscritas, individual ou agrupadamente, nos quatro livros de tombamento” (Cavalcanti, 2000). O serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional possui quatro Livros de Tombo, nos quais são inscritas as obras a que se refere o art. 1º desta lei2, a saber: 1. Livro do Tombo Arqueológico, Etnológico e Paisagístico - as coisas pertencentes às categorias de arte arqueológica, etnográfica, ameríndia e popular; e bem assim as mencionadas no § 2º do citado art. 1º; 2. Livro de Tombo Histórico - as coisas de interesse histórico e as obras de arte histórica; 3. Livro do Tombo das Belas Artes - as coisas de arte erudita nacional ou estrangeira; 4. Livro do Tombo das Artes Aplicadas - as obras que se incluírem na categoria das artes aplicadas nacionais ou estrangeiras. Segundo a Carta de Veneza (1964) em seu art. 1º, a noção de monumento histórico compreende, além da obra arquitetônica em si, os sítios urbanos e rurais bem como o sítio urbano ou rural que dá testemunho de uma civilização particular, de uma evolução significativa ou de um acontecimento histórico. Assim, estende-se não só as grandes criações, mas também as obras modestas, que tenham adquirido, com o tempo, uma significação cultural. Para Meneguello (2000), a compreensão do patrimônio está atrelada à idéia de monumento histórico. O sentido inicial do monumento é o de rememoração, para uma comunidade de indivíduos, de outras gerações de pessoas, de eventos, de ritos, de crenças; faz o passado vibrar dentro da existência do presente, é universal, cuja função é mobilizar a memória coletiva e afirmar a identidade de um grupo. Entretanto, essa função de memória vai sendo progressivamente apagada, e o monumento torna-se, a partir do século XIX, uma experiência estética. Quatremère de Quincy (apud Meneguello, 2000) designa que o monumento é construído para estabelecer o que é memorável (o monumento deixa de ser evidência da memória e passa a criá-la), ou seja, o 2 Legislação Federal. Decreto-Lei nº 25, de 30.11.37. Capítulo II, art. 4º. 3 monumento histórico é um agente de embelezamento das cidades. Ele passa a ser também a afirmação do design público, dos estilos, de manifestação estética. Ainda, é importante salientar que o “monumento é uma interpelação da memória; não apresenta nem carrega em si uma informação neutra, mas traz uma memória viva”, tendo em vista a importância da preservação e identidade dos monumentos que retratam o passado de uma sociedade, através de sua arquitetura (Meneguello, 2000). O monumento histórico não é um dado sempre existente, mas uma invenção ocidental que ganha força a partir da segunda metade do século XIX. Portanto, a consagração do monumento histórico surge na Inglaterra e na França ligada ao evento da era industrial, justamente em função do crescimento urbano. Portanto, diferentes estratégias de recuperação do passado e da materialidade urbana ocorreram em diferentes regiões, dentre os quais se destacam a Europa, a Ásia e o Oriente Médio. Tal fato se deve, obviamente às suas especificidades culturais, geográficas, ao seu desenvolvimento histórico e à importância turística dessas regiões. A partir do estudo da evolução da humanidade e da interação desta com ambiente construído, torna-se imprescindível a adoção de técnicas de preservação e conservação do patrimônio e dos valores intrínsecos dos seus monumentos e sítios históricos, visto que a história da civilização se faz reconhecida, pelo uso da rocha, pois esta tem sido empregada na construção civil desde antes do nascimento de Cristo, nas construções de pontes, estradas, aquedutos, palácios, castelos, igrejas, túmulos e monumentos. Devido à sua grande utilidade e uso para a sociedade de um modo geral e por apresentar as mais variadas aplicabilidades, diversidade de padrões cromáticos e estruturais, as rochas são até hoje utilizadas como elementos ornamentais – de arte estatuária e funerária, pias, tampos de mesa e outras peças decorativas e, mais amplamente, como materiais de construção civil, quando podem ser aplicadas como elementos estruturais (colunas e pilares) e, principalmente, como revestimentos verticais (paredes e fachadas) e horizontais (pisos), de interiores e exteriores de edificações. Segundo Vicente et.al. (1996), a rocha é o principal material de construção dos monumentos e edifícios históricos europeus, não somente pela sua abundância, mas pela sua resistência e durabilidade, visto que suas propriedades físicas e químicas estão diretamente ligadas às suas características intrínsecas, as quais condicionarão os usos mais adequados da rocha no revestimento de edificações, pois o uso adequado do material a ser utilizado 4 possibilita sua maior durabilidade perante as solicitações de uso: intempéries, desgaste abrasivo pelo tráfego de pedestres, danos relacionados às variações térmicas e pela poluição. As características estéticas e a importância comercial atribuída às rochas ao longo da história da humanidade, associadas ao comprometimento da sua resistência e durabilidade no momento presente, têm levado pesquisadores em diversas partes do mundo a aplicarem recursos em pesquisas e a investigarem a alterabilidade de rochas, visando à preservação e à conservação das mesmas nas fachadas, paredes e pisos, nos interiores e exteriores, das edificações. Na Europa e na Ásia destacam-se principalmente o mármore de Carrara ou rochas carbonáticas em geral, o calcário, o arenito, o granito e as rochas basálticas. A maioria das pesquisas aponta para os estudos de deterioração direcionados para pedra-sabão, granito e o gnaisse, no Brasil. Centros de pesquisa como a Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais – CETEC, a Universidade Federal de Ouro Preto-UFOP, o Instituto de Pesquisa Tecnológica – IPT, Universidade Federal Fluninense-UFF, a Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, deixam claro, em suas contribuições tecno-científicas, o extenso grau de complexibilidade existente quando se aborda o material pétreo durante as intervenções. No Brasil esse tipo de estudo ainda é pouco divulgado, podendo-se citar principalmente a “pedra-sabão” (esteatitos) das obras do Aleijadinho em Minas Gerais. Os seguintes aspectos são temas recorrentes e foram abordados na literatura relativa às rochas: a biodeterioração, a ação do intemperismo salino em monumentos de alvenaria de rocha, os fatores de degradação, insolação x dilatação hídrica, diagnóstico de danos sobre monumentos históricos – formas de intemperismo, categorias de danos e índices de danos, a acidez da chuva e a deterioração dos monumentos carbonáticos e a ação do intemperismo sobre a coloração de monumentos rochosos. 5 1.1 Objetivos A cidade do Rio de Janeiro apresenta um rico acervo arquitetônico, muitos desses edifícios são tombados e apresentam alvenarias de rocha. Em sua maioria, as rochas que as compõem são gnaisses aflorantes na própria cidade, com destaque para dois tipos texturalmente distintos, embora ambos sejam de quatzo-feldspáticos, a saber: o gnaisse facoidal (ou “augen” gnaisse) e o leptinito. A preservação deste patrimônio implica conhecer os mecanismos e as formas de degradação destas rochas, resultantes dos processos físicos, químicos e biológicos, bem como da interação entre eles e da ação antrópica, esta última tipificada pela poluição atmosférica. Esta dissertação teve início com a colaboração do IPHAN, na pessoa da Arquiteta Yanara Haas (2003), que disponibilizou uma relação de construções tombadas pelo IPHAN nas quais se pode encontrar cantarias de rocha (Haas, 2003). Aponta-se uma parte desses bens tombados e suas respectivas localizações: Fortaleza de São João (Urca) Igreja de São Bento (Centro) Igreja da Candelária (Centro) Igreja de Nossa Senhora da Glória (Glória) Chafariz do Mestre Valentim (Centro) Museu Nacional de Belas Artes (Centro) Pórtico Imperal da Academia de Belas Artes (Jardim Botânico) Paço Imperial (Centro) Rio Branco 46 – Prédio do IPHAN (Centro) Antiga Catedral do Rio de Janeiro (Centro) Parque Lage (Jardim Botânico) Balaustrada da Biblioteca Nacional (Centro) Igreja de Nossa Senhora da Lapa do Desterro (Lapa) A partir de visitas aos locais listados acima e após observar os mais diferentes estágios de degradação encontrados em alguns bens de ampla significação cultural, decidiu-se escolher 6 como objeto de estudo desta dissertação, a Igreja de Nossa Senhora da Glória, construída no século XVIII, tendo em vista as degradações observadas no pórtico localizado na entrada principal, bem como pelo fato de haver sido programada uma intervenção de restauro na Igreja, motivo que realmente facilitou os estudos posteriores devido às facilidades colocadas à disposição (escadas e andaimes). Portanto, o presente trabalho tem por objetivo central analisar em conjunto a distribuição das morfologias de alteração, a estrutura da rocha (orientação da foliação), orientação geográfica das fachadas e os aspectos ambientais para se entender as possíveis causas das degradações, além dos seguintes objetivos específicos: Pesquisar na literatura os principais sistemas de classificação de morfologias de alteração (patologias do material pétreo) e apresentar um sistema de classificação a partir da compilação de outros sistemas de classificação que obedeça a requisitos de simplicidade de aplicação e desvinculação com as causas das patologias pré-existentes, visando evitar erros posteriores quanto a análise e aplicação do diagnóstico; Apresentar um mapa das morfologias de alteração, utilizando um Sistema de Informação Geográfica (SIG), como ferramenta de representação e análise; Aplicar um sistema de classificação da alteração química-mineralógica e física do gnaisse presente no pórtico, a partir da observação da rocha à vista desarmada (macroscópica) e com a utilização de testes simples. Avaliar a degradação geomecânica do gnaisse fazendo-se uso do esclerômetro de Schmidt, um teste não destrutivo que possui boa correlação com a resistência à compressão simples. 1.2 Justificativas Atualmente, alguns pesquisadores brasileiros têm mostrado interesse em abordar a problemática da deterioração de rochas em monumentos históricos brasileiros. Alguns exemplos se encontram na cidade do Rio de Janeiro e na cidade de Ouro Preto, Minas Gerais, onde muitos dos bens tombados datam o século XVIII e cujo processo de degradação pode 7 comprometer a estrutura do conjunto arquitetônico de uma das mais importantes heranças culturais da arte colonial barroca no Brasil. Do ponto de vista técnico, pode-se dizer que ainda são escassos, na literatura científica, os dados a respeito da degradação das rochas gnáissicas, com especial interesse pelo papel da estrutura e da textura metamórfica no condicionamento das morfologias de alteração. Nesse sentido, o mapeamento das morfologias de alteração é a primeira abordagem desse tipo de estudo, com a vantagem de ser um método não destrutivo de avaliação e que pode ser útil também para documentar intervenções de conservação e restauração. A utilização de Sistemas de Informação Geográfica é também uma ferramenta pouco empregada nesse tipo de estudo, com excelente potencial para a adequada documentação das degradações, bem como para a avaliação quantitativa das extensões dos danos de cada morfologia de alteração, o que em última análise significa uma contribuição para a escolha das ações de restauro adequadas a cada caso de degradação. 8 2 REFERENCIAL TEÓRICO SOBRE A DEGRADAÇÃO DE ROCHAS EM MONUMENTOS HISTÓRICOS Neste capítulo são apresentados conceitos e os conhecimentos já estabelecidos sobre o tema alteração e alterabilidade de rochas, com particular interesse para rochas de cantaria. 2.1 Alteração e Alterabilidade de Rochas A alterabilidade e a durabilidade são termos constantemente usados em estudos voltados para degradação e conservação de rochas para revestimento de fachadas ou como elementos de cantaria, por isso torna-se importante a distinção dos termos mencionados durante o desenvolvimento do presente trabalho. Segundo Serra Jr. & Ojima (1998), alteração é o conjunto de modificações das condições em que as rochas foram formadas, mudanças estas que se processam próximas ou na própria superfície da Terra, as quais levam às mudanças físicas e/ou químicas (e também mineralógicas). Além desse processo de alteração (outros exemplos em particular podem ser mencionados tais como: as alterações hidrotermais e o retro-metamorfismo) denominado de intemperismo. Tais modificações, em geral, conduzem à degradação das suas características e propriedades geomecânicas. Durante o processo de alteração, há a diminuição da resistência mecânica, o aumento da deformabilidade e a modificação das propriedades de permoporosidade das rochas. A durabilidade da rocha indica a resistência do material ao intemperismo ou durante o tempo de deterioração e, abrange certo número individual de processos intempéricos e propriedades da rocha (Thorn,1988 apud Smith & Warke, 1996). Rochas com características estruturais similares podem exibir uma diversidade de comportamento sob diferentes regimes de ambientes (Frohnsdorff & Masters, 1980;Tombach, 1982), pois aspectos como a natureza do ambiente, clima e influências antropogênicas têm um maior efeito sobre a deterioração da rocha. Porém, muitos trabalhos de pesquisa sobre esta temática ainda estão longe deste tipo de abordagem, devido à complexidade do tema (Smith & Warke, 1996). 9 Rodrigues (1989) sugere que a durabilidade das rochas depende dos componentes minerais das mesmas, particularmente dimensões e propriedades mecânicas. Este limite falseia a compreensão geral da aceitação da teoria do intemperismo de rochas, isto é, de que mecanismos e taxas de deterioração são dependentes de fatores intrínsecos e extrínsecos (Smith & Warke, 1996). O intemperismo é o processo de alteração que ocorre naturalmente, sendo influenciado pela litologia, pela mineralogia e por fatores ambientais. A deterioração é o dano que resulta de fatores naturais somados aos antrópicos, os quais levam ao desgaste do material (Baer & Snethlage, 1996). A degradação é a modificação do material, que supõe sempre degeneração de características segundo a ótica de conservação. Devido à importância deste conceito, tal termo, que trata da temática principal desta dissertação, será abordado, em maiores detalhes, na próxima seção. A deterioração afeta tanto a rocha em seu lugar de origem como a pedra talhada e sua colocação na obra. Os mecanismos que causam a alteração e degradação são os mesmos, mas têm significativa importância, visto que ocorrem em local natural ou, no caso específico de um monumento de rocha, em determinado contexto ambiental (Oliveira & Brito 1998, apud Silva & Roeser, 2003). O estado de degradação de um monumento pode ser determinado de acordo com o tipo, intensidade, extensão e distribuição dos danos. Segundo Frascá (2005), a alterabilidade também pode ser definida como um fenômeno que ocorre concomitantemente ao uso, do homem e das suas obras de engenharia. Desse modo, alterabilidade pode ser apresentada em função de cinco importantes fatores: fatores intrínsecos: dependentes do tipo de rocha e das propriedades físicas e químicas inerentes à sua mineralogia, alterações preexistentes, grau de fissuramento ou porosidade, ou seja, da superfície exposta à alteração; fatores extrínsecos: função do meio ambiente em que se processa a alteração (temperatura, fatores físico-químicos (pH), quantidade de água, forças bióticas), levando-se em conta não só a intensidade como a freqüência das variações externas, ou seja,seu caráter cíclico; tempo: novas condições ambientais e intempéricas podem acelerar a alteração dos constituintes minerais da rocha; 10 Por isso, na alteração das rochas ornamentais, além daqueles apontados acima, também são importantes os seguintes fatores: modificações (microfissuras, principalmente) decorrentes dos processos de beneficiamento (corte e polimento) e processamento (resinagem); interação destas com as intempéries e as condições de fixação, manutenção e uso. Ainda segundo Frascá (2005), apresentam-se a seguir os agentes atmosféricos que atuam diretamente nos processos intempéricos e podem acelerar a degradação sofrida pelas rochas. Umidade: na forma de chuva, névoa ou como a própria umidade relativa do ar; Temperatura do ar: tende a acelerar as reações químicas; Insolação e resfriamento noturno: responsáveis pelos movimentos térmicos; Vento e energia cinética: promovem ação abrasiva sobre as paredes; Constituintes do ar e poluentes atmosféricos (gasosos e aerossóis): condicionam as taxas de ataque químico. O processo de intemperismo geralmente se inicia com a progressiva desintegração física do material rochoso in situ. Após essa fase inicial, o armazenamento e a percolação de fluidos são facilitados, permitindo, assim, que se processe a decomposição química, cujo resultado é uma mistura de minerais primários resistentes e uma suíte de constituintes minerais neoformados, todos estáveis no novo ambiente (Licht, 1998). Costuma-se dividir o processo de intemperismo, embora de forma artificial, em três componentes distintas: a física, a química e a biológica. O intemperismo físico corresponde à ruptura das rochas por solicitação de esforços inteiramente mecânicos atribuídos a várias causas. Algumas dessas forças originam-se no interior das próprias rochas, enquanto outras são aplicadas externamente. Os esforços aplicados conduzem à propagação de fissuras na rocha provocando a fragmentação do material pétreo (Suguio, 2003). Alguns agentes auxiliam a desintegração física das rochas, tais como: as variações de temperatura (ciclagens térmicas), a ação de sais, o congelamento da água, os ciclos de umedecimento e secagem e, segundo alguns autores, a ação de ventos. 11 A maioria das rochas possui condutividade térmica muito baixa. Quando a rocha encontra-se exposta à insolação é estabelecido um gradiente de temperatura entre a região mais superficial e o seu interior. Dessa maneira, a superfície da rocha expande-se mais do que o seu interior, desenvolvendo um esforço que poderia eventualmente levar ao fraturamento ou desagregação (Suguio, 2003). Além disso, os minerais apresentam diferentes coeficientes de dilatação térmica, de acordo com as suas propriedades físicas, desenvolvendo esforços diferenciados no interior da rocha (Leinz & Amaral, 1998). Quando esses processos ocorrem muito rapidamente e de maneira repetitiva, os esforços gerados podem ser suficientes para causar fissuras ao longo dos contatos e limites de cristais individuais e grãos, propagação de fissuras pré-existentes por expansão e contração termal diferencial ao longo de direções cristalográficas contrastantes ou mesmo a desintegração da rocha provocada por fadiga nos minerais (Licht, 1998). Este efeito é típico de regiões com grandes amplitudes térmicas entre o dia e a noite, como é próprio em regiões desérticas. Em regiões litorâneas é provável que haja desagregação produzida pela cristalização do sal existente nas gotículas de água do mar que são levadas pelo vento em grande quantidade da zona da rebentação das ondas. Logo, a superfície da água é evaporada e os sais (sulfatos, cloretos, nitratos, carbonatos) cristalizam-se formando as chamadas eflorescências (Leinz & Amaral, 1998). Quando a cristalização de sais se dá em fissuras e fraturas das rochas, estas tendem a ser aumentadas pela pressão gerada pelo crescimento de cristais. A repetição secular deste fenômeno faz com haja a desagregação progressiva do material (Suguio, 2003). A água, ao congelar-se, expande-se em 9% do seu volume. Por este motivo, o congelamento da água inclusa nas fraturas, fissuras e poros das rochas exerce uma força expansiva considerável. A atividade destrutiva é tanto maior quanto maior for o número de poros preenchidos pela água. O fenômeno é acelerado se a rocha contiver descontinuidades. Também é importante a repetição de degelar e congelar (ciclagem), pois a repetição contínua do processo alarga as fraturas, a rocha afrouxa-se e desagrega-se, formando lascas ou blocos de tamanhos variados. Este tipo de intemperismo é, atualmente, de pouca importância no Brasil, ocorrendo apenas em pequena escala nos planaltos de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Itatiaia-RJ e Campos do Jordão-SP (Leinz & Amaral, 1998). A penetração da água da chuva favorece os ciclos de condensação e evaporação que causam a dissolução e migração de sais, e, posteriormente, a recristalização destes em outro 12 lugar, por exemplo, o aparecimento de eflorescências e subflorescências entre as fissuras e microfissuras e a superfície externa do material rochoso (Winkler, 1985 apud Smith, 1999). Outro efeito é a pressurização de ar nos poros das rochas toda vez que, depois de seca, há a saturação por fluidos das mesmas. Esse processo, muito comum em rochas sedimentares argilosas, leva ao desenvolvimento de tensões internas que podem ser suficientemente altas para produzir a expansão e a conseqüente desagregação da rocha (Franklin & Dusseault, 1989). O processo de intemperismo químico é caracterizado pelas reações entre a rocha e soluções aquosas diversas, uma vez que o principal agente do intemperismo químico é a água. Este acontece quando o equilíbrio do conjunto de átomos que constitui os minerais é rompido, resultado de reações químicas que conduzem o mineral a um arranjo mais estável (Suguio, 2003). O equilíbrio físico-químico determina que todas as substâncias estejam presentes na forma de fases, e que estas sejam estáveis sob novas condições de pressão e temperatura relativamente baixas. Quando as condições da composição química são modificadas pela presença da água e/ ou ar, alguns minerais ou suas fases tornam-se instáveis e podem surgir novos minerais mais estáveis sob estas condições, que são denominados minerais neoformados (Suguio, 2003). Sob condições apropriadas, rochas cristalinas silicatadas de granulação grossa, como granitos porfiróides, podem ser reduzidas a um complexo ultrafino de argilosminerais e um resíduo arenoso. A partir de uma grande variedade de litologias, podem se desenvolver óxidos hidratados de Fe e de Al (lateritas e bauxitas). Uma atuação de grande intensidade dos processos de intemperismo em ambiente tropical ou subtropical úmido (intemperismo ferralítico) produz, ao final de uma completa lixiviação dos metais alcalinos, alcalino-terrosos e sílica, enquanto o Fe e o Al concentram-se in situ como óxidos e hidróxidos (Licht, 1998). A acumulação maciça do ferro, como da laterita, e do alumínio, como bauxita, pode ser considerada como o resultado final do intemperismo ferralítico profundo (Zeegers, 1979, apud Licht, 1998). A presença de K, Na, Ca e Mg indica um processo ainda incompleto. Em todos os níveis e em todos os ambientes o intemperismo químico depende da presença de água, dos sólidos e gases dissolvidos. Embora poucos minerais sejam solúveis apenas em água pura, as águas pluviais são em geral ácidas pela dissolução de dióxido de 13 carbono (CO2) retido na atmosfera formando o ácido carbônico (H 2CO3), além de cloretos e sulfatos derivados dos oceanos e das atividades humanas, domésticas ou industriais. O pH também é freqüentemente reduzido pela presença de ácidos fúlvicos e/ou húmicos produzidos por processos biológicos a partir da decomposição de materiais vegetais, processo muito comum nos solos, mas também verificável sob certas condições nas rochas de revestimento em ambiente construído. Os principais tipos de reações químicas que ocorrem durante o intemperismo das rochas são: a dissolução, a hidrólise, a hidratação e a oxidação. A dissolução é, geralmente, o primeiro estágio do intemperismo químico. O volume de material dissolvido depende da quantidade e qualidade da água e, conseqüentemente, da solubilidade dos minerais. A exemplo deste tipo de processo pode ser citado a halita (NaCl) que é muito solúvel mesmo em água pura, a gipsita (CaSO 4 2H2O) e os carbonatos que seguem a halita entre os materiais solúveis mais comuns na natureza (Suguio, 2003). A hidrólise e a hidratação são dois processos relacionados de forma intensa. A hidratação implica na absorção das moléculas de água na estrutura cristalina de um mineral. A hidrólise é uma reação química entre o mineral e a água, isto é, entre os íons H+ e OH- da água e os íons do mineral. Através desta reação dá-se a decomposição da estrutura cristalina do mineral. Na hidrólise, por exemplo, um silicato de Al ou Fe é convertido em um argilomineral ou hidróxido de Fe, acompanhado pela perda de cátions e pela incorporação de H+ (Leinz & Amaral, 1998; Suguio, 2003). Os processos orgânicos, além de constituírem o principal fator genético na formação do solo, também desempenham um papel significativo na decomposição de rochas. A atividade orgânica, principalmente a de bactérias viventes no solo, toma parte na decomposição das rochas. Os primeiros ataques sofridos por uma rocha durante a exposição às intempéries são de bactérias e fungos microscópicos, seguidos de líquens, algas e musgos, formando e preparando o solo para as plantas superiores. Todas elas segregam gás carbônico, nitratos, ácidos orgânicos como produtos do seu metabolismo (Leinz & Amaral, 1998). Embora a ação intempérica dos organismos vivos seja, principalmente, química, ela pode também ser física, como no caso das plantas que, por meio da ação de raízes, podem penetrar nas fraturas abrindo-as e fazendo-as propagar. As plantas mais desenvolvidas (traqueófitas) apresentam verdadeiros sistemas de raízes e aparato aéreo, e podem ser consideradas como um dos agentes da degradação mais importantes, principalmente, devido à 14 pressão exercida pelo crescimento das raízes em fissuras já existentes nas rochas. Além disso, a penetração e o crescimento das raízes, juntamente com a cristalização de sais, podem contribuir para a ampliação destas fraturas. No caso de animais, a presença de pombos pode causar, através da acumulação das suas fezes, uma importante fonte de sais e de matéria orgânica para as comunidades microbiológicas que povoam os revestimentos atacando-os quimicamente e provocando modificações estéticas importantes nos monumentos (Suguio, 2003; Sousa et al., 2005). Os monumentos construídos de rocha são, principalmente, colonizados por organismos fotossintéticos: cianobactérias, algas, líquens, musgos e plantas, onde o substrato é usado como suporte para obter luz, fonte primária da energia. As bactérias que colonizam os monumentos são responsáveis pela produção de substâncias que vão atacar quimicamente o material pétreo, que podem ser, segundo Sousa et al .(2005), serem divididas em dois grupos distintos: autotróficas e heterotróficas. As autotróficas obtêm o carbono a partir do dióxido de carbono presente na atmosfera e podem obter a sua energia diretamente da luz solar (fotolitotróficas) ou a partir de reações químicas de oxirredução (quimiolitotróficas). Já as bactérias heterotróficas utilizam compostos orgânicos acumulados sob o revestimento de rocha para obter carbono e, tal como as anteriores, podem obter a sua energia tanto através da luz solar (fotoorganotróficas), como através de reações químicas (quimioorganotróficas). As algas e as cianobactérias, designadas algas azuis, são organismos fotoautotróficos capazes de se desenvolver em revestimentos pétreos sempre que ocorra uma combinação adequada de umidade, temperatura e luz. As algas e as cianobactérias conseguem desenvolver-se apenas com dióxido de carbono (CO2) e nitrogênio (N2) e incluem-se entre os colonizadores pioneiros em monumentos, após as bactérias (Sousa et al., 2005). Sob condições de elevada umidade e temperatura, as algas e cianobactérias se desenvolvem abundantemente. Em condições de ausência de umidade e de baixa temperatura, esses organismos não sobrevivem, criando depósitos de células mortas que irão permitir um rápido desenvolvimento de uma nova geração, assim que as condições ambientais tornem-se favoráveis. Estes depósitos de matéria orgânica vão criar condições para o desenvolvimento de fungos e seres mais evoluídos, como briófitas ou mesmo plantas superiores (Sousa et al., 2005). 15 Estes organismos apresentam uma enorme capacidade de adaptação a diferentes substratos, mediante a alteração da coloração e da morfologia. As pátinas resultantes das colônias formadas por algas e cianobactérias exibem, geralmente, uma coloração verde brilhante em todos os locais suficientemente úmidos e protegidos da radiação solar direta. Por isso, estas têm sido investigadas devido a sua capacidade de atacar quimicamente alguns minerais que compõem a rocha originando pátinas, que podem ser analisadas macroscopicamente como não estéticas como parte da imagem coletiva do próprio edifício. Ainda é freqüente a associação das algas e cianobactérias com outros habituais colonizadores de revestimentos pétreos, os líquens (Richardson, 1980 apud Sousa et al., 2005). Os líquens são associações simbiótica entre alga ou cianobactéria e fungos. Estes organismos são os mais notáveis e importantes colonizadores ao ar livre em monumentos e levam superfícies antigas ao manchamento. O crescimento dos líquens é muito lento, quando comparado com o das plantas de modo geral; no entanto, segundo Sousa et al. (2005), existe uma grande variação na velocidade de crescimento entre espécies e também entre diferentes idades do organismo, podendo o crescimento radial variar entre 0.2 e 28 mm por ano. O crescimento depende também das condições ambientais onde o talo liquênico se desenvolve, onde há disponibilidade de água e de luz, fatores que desempenham um papel essencial, bem como a poluição atmosférica (que inibe o desenvolvimento destes). Algumas alterações biogeofísicas são causadas pela penetração dos filamentos que formam os fungos sob a superfície da rocha através de ciclos de contração e expansão, ou seja, dessecação e re-hidratação. Estes movimentos resultam no levantamento marginal de parte do líquen e no desprendimento de camadas na superfície da rocha, levando à biodeterioração. Ao contrário do que ocorre com as briófitas e plantas inferiores, as plantas superiores geralmente encontradas em revestimentos pétreos apresentam uma maior concentração de íons de hidrogênio, o que lhes permite extrair os íons de minerais do substrato (Sousa et al., 2005). No entanto, a ação mecânica e/ou química das briófitas sobre o revestimento pétreo pode ser quase despercebida, uma vez que não dispõem de raízes, mas sim rizoídes que não fazem contato diretamente com o substrato e, portanto, não podem ser consideradas como um fator importante para o processo de biodeterioração sofrido pela rocha, a não ser pelo fato de 16 que mantém elevadas as umidades, pois trabalham como uma barreira que impede sua evaporação. Em alguns casos, podem ser considerados não estéticos (Kumar & Kumar, 1999 apud Sousa et al., 2005). 2.2 A Alteração no Ambiente Construído A alteração da rocha em ambiente construído ocorre a partir do seu uso, ou seja, quando esta é exposta na superfície sob as mais variadas condições químicas, físicas e biológicas resultantes dos processos intempéricos, onde tais processos podem causar alterações mineralógicas, além da extensão e dilatação de fissuras e fraturas. Durante algum tempo, após a exposição da rocha no ambiente construído, a taxa e extensão da deterioração estrutural das placas de piso e de revestimento, a durabilidade do material começa a apresentar-se comprometida devido à sua exposição às condições ambientais (Drever, 1994). A forma da edificação é a responsável pela criação de condições micro-ambientais variadas, as quais contribuem para a variação espacial das taxas e tendências de deterioração. As condições de localização podem facilitar, em um determinado local, a aceleração da deterioração através da retenção da umidade e da acumulação de sais. Em outro lugar, a edificação, quando exposta às condições micro-ambientais diferentes, pode apresentar perdas significativas de um determinado tipo de rocha e exibir, comparativamente, uma maior evidência da deterioração. As condições naturais de temperatura e umidade são fatores importantes para se avaliar a degradação da rocha. Na Hungria, por exemplo, foi observado o processo de desintegração granular e perda de coesão na estátua de mármore de Carrara (Figura 2), cujo fenômeno é resultante do processo de insolação, que leva a ciclos de umedecimento e secagem, além de variações acentuadas de temperatura, aos quais os mármores são sensíveis (Bland & Rolls, 1998). 17 FIGURA 2.1 - Desagregação granular, estátua de mármore de Carrara, Pantheon, Budapeste, Hungria. Fonte: Weiss et al. (2004). A ação dos agentes intempéricos pode provocar a deterioração da superfície exposta da rocha, seja através da modificação de seu aspecto estético (perda de brilho e alteração cromática), seja pela sua danificação (esfoliações, escamação e manchamentos). Portanto, a escolha da rocha, baseada somente nos seus atributos estéticos, pode resultar em projetos arquitetônicos e de engenharia inadequados para o uso pretendido o que, por sua vez, é causa de degradações diversas ou de variação da durabilidade das rochas. A observação e análise de edificações antigas é uma excelente forma de se avaliar a durabilidade de rochas sob diferentes condições. A seguir são apresentados alguns casos relatados na literatura. A atuação dos agentes intempéricos e seus respectivos impactos em monumentos históricos têm sido foco de estudos, como por exemplo, no Portal da Índia, localizado em Munbai (Figura 2.2). Neste local, foram avaliados os efeitos do clima de monções, clima tropical que recebe essa denominação no sul e sudeste asiático, e do ambiente marinho, além de ter sido observada pelos pesquisadores a alteração na cor das rochas do mesmo (Weiss et al., 2004; Tiwari, et al., 2005). 18 FIGURA 2.2 - Portal da Índia, Mumbai (ex-Bombaim). Fonte: Tiwari, et al. (2005). Em Ayutthaya, na Tailândia, existem ruínas de muitos templos budistas que hoje são considerados patrimônios da humanidade. Estes monumentos têm sofrido deterioração por eflorescecências salinas (Figura 2.3). Este processo também tem sido uma preocupação dos pesquisadores, pois a sua ocorrência, resultante da cristalização de sais, é um sério problema que compromete a conservação de monumentos, cujas construções, neste caso, são de alvenaria cerâmica (tijolos) (Kuchitsu et al., 1999; Weiss et al., 2004). FIGURA 2.3 - Notar os efeitos deletérios das eflorescências salinas, Mahathat (28 de outubro de 1996), Tailândia. Fonte:WEISS, et al. (2004). Na Europa, Urmeneta (1997) aponta que o uso dos combustíveis fósseis por veículos automotores e as emissões de poluentes lançados na atmosfera pelas indústrias têm causado grandes danos ao Patrimônio Histórico-Artístico da cidade de Zamora, especialmente em suas áreas urbanas. Por isso, a autora aborda a importância de se qualificar o limite do estado de conservação de edifícios ou obras civis de grande valor cultural, que em alguns casos 19 encontra-se em um estado irreversível. Tal fato tem levado diferentes organismos internacionais a protagonizar a temática referente à restauração. No Brasil, embora o assunto também desperte o interesse da comunidade científica e acadêmica, segundo Pilotto & Barroso (2006), as atenções da comunidade geocientífica ainda não se encontram direcionadas para a degradação e alterabilidade das rochas em monumentos históricos. Conforme mencionado nesta seção, a alteração das rochas tem início a partir da sua exposição às condições atmosféricas. No caso do Brasil, a atuação dos principais fatores e elementos climáticos configura ao país condições distintas daquelas encontradas nos países de clima temperado, onde os estudos sobre a durabilidade e conservação de rochas no ambiente construído são mais desenvolvidos. A presença de intensas variações de temperatura e umidade, variáveis que configuram as condições climáticas do Brasil, associadas à presença de poluentes (SO 2, NOx, CO, HCO3 e material particulado), lançados na atmosfera, têm influenciado na durabilidade do material rochoso, causando impactos negativos sobre o estado de conservação dos monumentos históricos devido à ação dos poluentes sobre os materiais de origem pétrea. O resultado da ação destes processos pode ser encontrado nas esculturas e monumentos históricos, através da sedimentação de partículas sobre a superfície dos mesmos, o que leva à alteração do aspecto externo dos materiais a partir de reações químicas resultantes do contato entre os poluentes e o material rochoso. A prolongada exposição à chuva ácida tem sérias implicações nas rochas calcárias, tais como a perda de material pela gradual solubilização da rocha. Isto também pode alterar, além da superfície da rocha, a dimensão dos poros, o que pode facilitar a penetração de sal, facilitada pela umidade e tornar a rocha ainda mais degradada. Durante o processo de análise macroscópica do ambiente construído a ausência de danos visuais pode, quase sempre, ser enganosa, visto que alterações microscópicas podem ter ocorrido na rocha, devido, por exemplo, à fadiga térmica e ao conseqüente aparecimento de microfraturas. As mudanças dos fatores como sombras, corrente de ar e umidade, podem ativar processos até então inativos ou acelerar os pré-existentes. Os processos endogenéticos afetam a rocha antes mesmo de esta estar exposta no ambiente construído, criando diferentes escalas na estrutura das rochas, do fraturamento individual dos grãos minerais ao fraturamento de 20 macro-escala da massa de rocha. A seguir, serão apresentados os fatores que causam a degradação das rochas antes da colocação na construção, ou seja, no ambiente natural (Tabela 2.1) e no ambiente construído (Tabela 2.2), e seus respectivos efeitos sob a superfície do material pétreo. TABELA 2. 1 – Efeitos causadores de degradação da rocha em seu ambiente natural. Efeitos herdados e causa dos fatores. Fonte: Smith & Warke (1996). Fatores causadores da degradação Efeitos Herdados (Exposição Histórica) Remoção de sobrecarga (escavação na pedreira) Dilatação volumétrica que conduz a gradual abertura da ligação entre grãos e dos sistemas de microfraturamento. Microfaturamento causado na pedreira O processo de desmonte na pedreira pode causar inicialmente o desenvolvimento de microfraturas e/ou gerar fraturas. Pode causar asperezas na superfície da rocha, Corte e reparo da rocha tornando-a rugosa e criando lugares potenciais para a subseqüente acumulação de umidade, sais e matéria orgânica. 21 TABELA 2.2 - Efeitos causadores de degradação da rocha no ambiente construído. Fonte: Smith & Warke (1996). Fatores causadores da degradação Efeitos Herdados (Exposição Histórica) Indução de microfraturamento por ação Diferencial de expansão térmica e térmica contração dos grãos de minerais com respeito a longas e curtas flutuações temperatura podem conduzir ao desenvolvimento de microfraturamento. Congelamento microfraturamento induz ao Repetidos ciclos de congelamentos e degelos nos espaços dos poros e microfraturas podem conduzir a fragmentação da rocha e provocar a perda de material Dissolução Química Dissolução dos minerais da rocha e alteração das superfícies e dimensões dos poros pode facilitar o subsequentemente o ingresso de sal e umidade. Sujidades na superfície da rocha Sujidades na superfície da rocha e deposição de particulado provocam crescente absorção de radiação solar, além de alterações estéticas. Desenvolvimento de crostas na superfície Ação de crostas pode contribuir para redução do substrato pela lixiviação da rocha. Deposição e acumulação de sal. Deposição de sal contribui para a deterioração da rocha através de mecanismos de cristalização intergranular, hidratação/desidratação e expansão volumétrica. Mudanças na morfologia da superfície Permite a acumulação de umidade, sais e material particulado que facilitam o processo de intemperismo na superfície. Limpeza Remoção de crostas pode expor a superfície do substrato rochoso ao ataque de mecanismos intempéricos, resultando na aceleração da deterioração. Adicionalmente, a alta pressão de lavagem pode dirigir sais para dentro da estrutura da rocha e a aplicação de biocides podem causar danos individuais na estrutura dos grãos e /ou ligação intergranular. 22 2.3 As Morfologias de Alteração A presença das morfologias da alteração é um indicativo de que as condições no ambiente construído podem estar causando ou vir a causar degradações cujas severidades e impactos ao monumento podem ser bastante variáveis. A identificação destas morfologias e o seu mapeamento nas construções são importantes passos metodológicos em estudos de conservação do patrimônio arquitetônico. Podem indicar os processos mais relevantes que conduzem à degradação das rochas, bem como as fachadas, elementos arquitetônicos e regiões da construção em estado mais crítico. Por ser uma forma de investigação que depende apenas da observação, pode ser entendida também como um método não destrutivo de avaliação, mas que, por sua importância, será apresentado em separado neste capítulo. Antes do mapeamento propriamente dito, é necessário que se disponha de um sistema coerente de classificação das morfologias de alteração, que seja capaz de descrever convenientemente os efeitos observáveis na rocha. Hoje ainda não há um sistema que possa ser considerado universal, por isso há na literatura muitas proposições de diversos autores. Estas propostas são descritas e comentadas a seguir. As deteriorações mais comumente observadas em rochas para revestimento, segundo Frascá (2005), são: manchamentos: alteração que pode se manifestar de duas maneiras distintas: (1) pigmentação acidental e localizada da superfície, relacionada com a presença de material estranho ao substrato (por exemplo: contato com substâncias corantes); (2) modificação da cor do material (descoloração, branqueamento, amarelamento), decorrente de reações entre os constituintes da rocha e substâncias químicas agressivas (por exemplo agentes de limpeza com pH ácido); eflorescências: formação, geralmente esbranquiçada, de aspecto cristalino, sobre a superfície do material. No caso de eflorescências salinas, a cristalização pode se desenvolver no interior da rocha (sub- eflorescência), freqüentemente provocando o destacamento das partes mais superficiais; inchamento: levantamento superficial e localizado do material, que pode assumir forma e consistência variáveis; 23 escamação: degradação que se manifesta através da separação total ou parcial de zonas (escamas) do material original, com formas e espessuras irregulares e desenvolvimento tridimensional. Alguns autores como Urmeneta (1997), Fitzner & Heinrichs (2004) e Henriques et al. (2005) apresentam classificações morfológicas distintas em seus estudos voltados para a degradação de monumentos em ambientes construídos. A seguir, a título de ilustração, a classificação de Urmeneta (1997) é apresentada na tabela 2.3. Recomenda-se a visita ao sítio http://www.stone.rwth.aachen.de para visualizar a classificação de Fitzner & Heinrichs (2004). Os autores apresentam uma classificação detalhadíssima de morfologias de alteração o que, de certa forma, a torna de difícil aplicação prática. No entanto, o catálogo de imagens disponibilizado na referida página vale a consulta. 24 TABELA 2.3 – Classificação das morfologias de alteração segundo Urmeneta (1997). Alterações Cromáticas Manchamento superficial Denominação. Primária Denominação Secundária Definição Características (efeitos) Causas (origem-ambiente e clima) Pátinas As pátinas são modificações superficiais que não implicam necessariamente no processo de degradação ou deterioração. Capas ou películas delgadas e superficiais. Quanto à origem as pátinas são constituídas fundamentalmente por oxalatos cálcicos hidratados. Crostas O desenvolvimento intenso de pátinas podem ser chamados de crostas. Quando seu aspecto e efeito destrutivo é mais agressivo Pátina Laranja (Figura 2.6) Constitui uma modificação cromática que recobre a superfície dos monumentos Apresenta aspecto de uma película ou pintura. Encontra-se amplamente disseminada chegando a revestir quase por completo e de forma homogênea alguns monumentos. Encontra-se diretamente ligada às rochas e se desprende dela por diferentes mecanismos. Tipos de Rocha Observação Oxalatos→materiais orgânicos (se formam a partir de substâncias orgânicas). Espessura variável podendo alcançar até 0,4 mm. Apresenta aparência de uma pasta que recobre, homogeneamente, tanto os clastos como o cimento da rocha-matriz. (oxalatos de cálcio, líquens crustáceos e material particulado). Defini-se como uma pátina de envelhecimento de origem antrópica. 24 25 Alterações Cromáticas Denominação Primária Denominação Secundária Pátina Negra (Figura 2.5) Alterações Cromáticas Pátina Artificial Definição Características (efeitos) Causas (origem-ambiente e clima) É uma alteração Desenvolve-se sob o cromática aspecto de manchas sobre superficial da os muros dos edifícios. rocha que proporciona uma cor escura ou negra. Locais onde há presença de umidade e sombra. Tratamentos aplicados para a proteção dos monumentos. Biodemolição (biodestruição) de proteínas complexas como a fosfoproteína. Transformação do tempo dos produtos aplicados por diversos mecanismos biológicos e não biológicos, que podem gerar minerais estáveis. Tipos de Rocha Observação As manchas apresentam poucos metros quadrados. Presença de líquens crustáceos, algas verdes e material partículado (caolinita, esmectitas e calcita) “pátina laranja” (Figura 2.6) da cidade de Zamora, segundo hipóteses levantadas por alguns autores podem ser de origem artificial. A natureza silícea da rocha com uma pequena porcentagem em cálcio (CaO < 0,17%) é também proveniente dos produtos empregados para a proteção do monumento. 25 26 Denominação Primária Denominação Secundária Definição Características (efeitos) Causas (origem-ambiente e clima) Perda gradual de matéria por um processo mecânico. Redução ou rebaixamento do relevo Na maior parte das vezes promovida pela ação do vento e da chuva Tipos de Rocha Observação Sedimentar Erosão Eliminação ou perda de matéria (Figura 2.7) Metamórfica e ígnea Sedimentar Desagregação Enfraquecimento das qualidades de resistência da rocha Falta de coesão superficial Estado avançado de perda de coesão interna. queda de material rochoso de “grão a grão Alteração do mineral Dilatação térmica Metamórfica e ígnea Arredondamento das formas. Perda de parte da rocha geralmente acompanhando a foliação –gnaisse Sedimentar Arenização (Figura 2.8) Desagregação granular Metamórfica e ígnea Perda gradual do material pétreo 26 27 Denominaçã oPrimária Denominação Secundária Definição Descimentação (Figura 2.9) Redução ou perda de cimento ou matriz de um material rochoso Processo de dissolução As rupturas ocorrem perpendicularmente à superfície da rocha Descontinuidade macroscópica planar de origens e tamanhos variáveis São formas de alteração presentes em uma rocha que implicam na separação de partes paralelas à superfície da rocha Descamação, levantamento e separação de fragmentos da rocha, paralelamente à superfície da mesma; e desplacamentos, semelhantes à descamação, contudo com lâminas de rocha extensas, de vários milímetros de espessura e geralmente rígidas. Características (efeitos) Causas (origemambiente e clima) Tipos de Rocha Observação Eliminação ou perda de matéria Sedimentar Rupturas (Figura 2.10) Disjunções (Figura 2.11) Desagregação granular Dilatação térmica causada pela insolação Dilatação térmica causada pela insolação e erosão eólica Metamórfica e ígnea Sedimentar Metamórfica e ígnea Sedimentar Metamórfica e ígnea Perda gradual do material pétreo São subdividas em dois subgrupos: fissuras, e em fendas, que são fraturas e ou fissuras abertas. Disjunções. São subdivididas em dois subgrupos: descamação e deplacamento 27 28 FIGURA 2.5 - Pátina negra. Urmeneta (1997) FIGURA 2.7 – Erosão eólica. Urmeneta (1997) FIGURA 2.6 - Pátina laranja. Urmeneta (1997) FIGURA 2.8 – Arenização. Urmeneta (1997) 29 FIGURA 2.9 – Descimentação. Urmeneta FIGURA 2.10 – Rupturas. Urmeneta (1997) (1997) FIGURA 2.11 – Disjunções por descamação da rocha. Urmeneta (1997) 30 Henriques et al. (2005) apresentaram um catálogo com a terminologia, texto explicativo, simbologia e imagens de vinte e cinco formas de degradação de rocha e reboco que, segundo os autores, configuram as situações mais correntes em situações reais de campo. As definições apresentadas a seguir são simples e abrangentes. Alteração cromática (Figura 2.12): variação de um ou mais parâmetros definidores da cor. Alveolização (Figura 2.13): degradação que se manifesta sob a forma de múltiplas cavidades de dimensões variáveis, com área de abertura para o exterior de dimensão subcentimétrica. Bolha (Figura 2.14): elevação superficial e localizada do material, assumindo formas e consistências variáveis. FIGURA 2.12 – Alteração cromática. Henriques et al. (2005). FIGURA 2.13 – Alveolização. Henriques et al. (2005). 31 FIGURA 2.14 –Bolha. Henriques et al. (2005). Colonização biológica (Figura 2.15): estrato superficial de natureza biológica e coloração diversa, do tipo algas e líquens. Crosta (Figura 2.16): parte mais superficial da rocha modificada pela deposição de substâncias exógenas ou produtos de tratamento. Apresenta espessura variável e características distintas das do interior. O termo crosta negra associa a estas modificações a deposição externa de substâncias escuras, ocorrendo em locais abrigados. Concreção (Figura 2.17): deposito compacto à superfície do material de extensão limitada com desenvolvimento preferencial não-paralelo a essa superfície. 32 FIGURA 2.15 – Colonização biológica. Henriques et al. (2005). FIGURA 2.16 – Crosta negra. Henriques et al. (2005). FIGURA 2.17 – Concreção. Henriques et al. (2005). Deformação (Figura 2.18): termo genérico que se aplica a qualquer transformação traduzida pela variação da distância entre dois pontos do corpo considerado. 33 Depósito superficial (Figura 2.19): camada resultante da acumulação de materiais estranhos na superfície, geralmente pouco aderentes e de fraca coesão. FIGURA 2.18 – Deformação. Henriques et al. (2005). FIGURA 2.19 – Henriques et al. (2005). Depósito superficial. 34 Desagregação granular (Figura 2.20): perda de coesão que torna muito fácil a retirada ou o arrancamento de partículas de dimensão areia com esforços mecânicos de baixa intensidade. Eflorescência (Figura 2.21): formação de agregados cristalinos superficiais de cor clara e baixa coesão. Ocorre abaixo da superfície observada, pode provocar destaques da rocha e recebe o nome de criptoeflorescência ou sub- eflorescência (termo mais usado no Brasil). Empolamento (Figura 2.22): Existência de camada superficial não aderente ao substrato; em geral antecede a queda do material. FIGURA 2.20 – Desagregação granular. Henriques et al. (2005). FIGURA 2.21 – Eflorescência. Henriques et al. (2005). 35 FIGURA 2.22. Empolamento. Henriques et al. (2005). Erosão (Figura 2.23): termo genérico caracterizado pela perda de massa da superfície da rocha. É comum assumir morfologia contrastante com zonas vizinhas, designando-se então por erosão diferencial. Escamação ou descamação (Figura 2.24): destaque total ou parcial de escamas definidas como fragmentos achatados com extensão reduzida e espessura inferior a 0,5 cm. Esfoliação (Figura 2.25): divisão múltipla em lâminas finas e paralelas entre si. Fissura (Figura 2.26): caso particular em que pelo menos uma das extremidades não atinja o contorno do objeto. 36 FIGURA 2.23 – Erosão. Henriques et al. (2005). FIGURA 2.24 – Escamas. Henriques et al. (2005). FIGURA 2.25 – Esfoliação. Henriques et al. (2005). FIGURA 2.26 – Fissura. Henriques et al. (2005). Fratura (Figura 2.27): superfície que divide o objeto em partes distintas, podendo implicar no afastamento recíproco das partes fraturadas. Incrustação (Figura 2.28): depósito estratiforme, compacto e aderente ao substrato, composto por substâncias inorgânicas ou de natureza biológica. Junta aberta (Figura 2.29): zona de descontinuidade entre dois elementos com perda do material de fechamento. Lacuna (Figura 2.30): ausência de material por queda. 37 FIGURA 2.27 – Fratura. Henriques et al. (2005). FIGURA 2.28 – Incrustação. Henriques et al. (2005). FIGURA 2.29 – Junta aberta. Henriques et al. (2005). FIGURA 2.30 – Lacuna. Henriques et al. (2005). Lascagem (Figura 2.31): destaque de fragmentos de extensão lateral reduzida e espessura centimétrica, subparalelos à superfície. Mancha (Figura 2.32): alteração cromática circunscrita a uma zona e contrastante com as zonas vizinhas. Pátina (Figura 2.33): alteração do aspecto visual por modificações incipientes das superfícies, mas sem degradação perceptível. Os autores recomendam usar apenas quando não for possível atribuir os nomes crosta ou depósito superficial. Pode assumir a forma de variações cromáticas e, por isso, ser útil como guia para a identificação de superfícies de referência. 38 FIGURA 2.31 Henriques et al. (2005). – Lascagem. FIGURA 2.32 – Mancha. Henriques et al. (2005). FIGURA 2.33 – Pátina. Henriques et al. (2005). Película (Figura 2.34): depósito superficial de pequena espessura e grande continuidade lateral, cuja interface com o substrato é claramente marcada. Picamento (Figura 2.35): formação de cavidades esféricas ou cilíndricas com dimensões milimétricas. Placa (Figura 2.36): destacamento de fragmentos achatados paralelos à superfície, com grande extensão lateral e espessura superior a meio centímetro. Plaqueta (Figura 2.37): destacamento de fragmentos achatados paralelos à superfície, com grande extensão lateral e espessura inferior a meio centímetro. 39 FIGURA 2.34 – Película. Henriques et al. (2005). FIGURA 2.35 – Picamento. Henriques et al. (2005). FIGURA 2.36 – Placa. Henriques et al. (2005). FIGURA 2.37 – Plaqueta. Henriques et al. (2005). Pulverização (Figura 2.38): perda de coesão que produz o desprendimento de material sob a forma de pó ou grânulos. Vegetação (Figura 2.39): presença de manifestações biológicas do tipo musgos ou vegetais superiores. 40 FIGURA 2.38 Henriques et al. (2005). – Pulverização. FIGURA 2.39 – Vegetação. Henriques et al. (2005). Uma vez estabelecido um sistema qualquer de classificação das patologias, essas são mapeadas na construção de interesse. Vale ressaltar que, como outro mapeamento qualquer, neste caso existe a necessidade dos trabalhos de campo e que, em escritório, ferramentas computacionais como, por exemplo, os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) podem ser usadas não apenas para a representação do mapeamento de campo como também para a análise e diagnóstico de morfologias de alteração e eventuais danos. Tal ferramenta tem sido utilizada após a aplicação de procedimentos de documentação gráfica, este procedimento, como ferramenta imprescindível para a elaboração de diagnósticos e planos de intervenção visando a conservação de monumentos históricos e obras de arte. O estudo de caso elaborado por França et al. (2005), a Portada da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto (MG), é um exemplo de utilização desta ferramenta, cujo mapeamento de formas de degradação foi realizado através do software CAD (ComputerAided Design). Durante este estudo de caso, o SIG foi utilizado como tecnologia de apoio e visava avaliar os procedimentos de documentação gráfica e elaboração de diagnósticos do estado de 41 conservação de bens culturais. Tal ferramenta possibilitou a geração de mapas compostos por tabelas e gráficos, vide figura 2.40. FIGURA 2.40 - Detalhe da tela que constitui o mapa base. Fonte: França et al. (2005) Os mapas utilizados para a visualização dos resultados deste estudo de caso foram gerados após a coleta de dados históricos referentes à Portada e Igreja de São Francisco de Assis, construída de “Pedra Sabão” (Esteatito). Posteriormente a esta etapa, foram empregadas técnicas de geoprocessamento para análise espacial do mapa base e dos mapas de Estado de Conservação (Figura 2.41) e de Classificação das Formas de Degradação por Grupos (Figura 2.42), sendo estes gerados a partir do tratamento dos dados no modo Vetorial e Raster pertencentes ao grupo de componentes temáticos (Figuras 2.43a e 2.43b). 42 FIGURA 2.41 - Apresentação da tela com o mapa de Conservação e sua respectiva tabela. Fonte: França et al. (2005). FIGURA 2.42 - Mapa de Classificação das formas de Degradação por Grupos. Fonte: França et al. (2005). 43 Durante o desenvolvimento deste trabalho, os autores deixam claro que os resultados obtidos através do software CAD baseiam-se apenas no aspecto visual, portanto, apresentando-se bastante subjetivos (França, et al., 2005). (a) (b) FIGURA 2.43 – Imagem raster e vetor utilizados para a criação da base de referência espacial (a) e o tema Vetorial sobreposto à imagem raster (b). Fonte: França, et al. (2005). 44 Em contrapartida, a aplicação do SIG, a partir da identificação das morfologias responsáveis pela degradação, possibilita a geração dos resultados baseados em dados numéricos, o que torna possível a intervenção por bloco (Figura 2.44). Este tipo de informação configura-se num instrumento de apoio ao conservador na tomada de decisões, devido à disponibilidade oferecida pelo software à obtenção de dados estatísticos, onde este banco de dados torna-se um cadastro relevante que pode constantemente agregar novas informações, contribuindo de forma útil ao processo detalhado e preciso da análise espacial do ambiente construído. FIGURA 2.44 - Tabela constituída pela área total de cada forma de degradação na Portada e gráfico (eixodo x- representando as formas de degradação e do eixo y-área total da degradação do bloco). Fonte:França et al. (2005). Um outro estudo também realizado na cidade histórica de Ouro Preto-MG, aponta para uma metodologia desenvolvida em 3 etapas, a saber: foto documentação, mapeamento litológico e mapeamento detalhado das formas de intemperismo. O mapeamento das degradações foi realizado a partir do esquema de classificação das formas de intemperismo proposto por Fitzner et al., 1995 (Silva & Roeser, 2003). Na tabela 2.4, estão apresentados quatro grupos de morfologias de alteração que se distinguem pela perda de material rochoso, depósitos de material sobre a superfície da rocha, desprendimento de fragmentos e fissuras. 45 TABELA 2.4 - Formas de Intemperismo com suas respectivas divisões em principais e individuais e suas abreviaturas correspondentes (Modificada de Fitzner et al., 1995). Fonte: Silva & Roeser ( 2003). Na tabela 2.5, são apresentados os resultados das observações visuais correlacionadas às categorias de danos em cinco classes, cujo propósito é estimar a extensão dos danos das estátuas, visando análise imediata do problema e possivelmente sua intervenção futura. TABELA 2.5 - Medidas recomendadas em relação às categorias de danos (Modificada de Fitzner et al., 1995). Fonte: Silva & Roeser, 2003. Na parte superior do Chafariz do Alto da Cruz, esculpido em “Pedra Sabão” e ornamentado por um busto (Figura 2.45), podem ser observadas duas formas de intemperismo, segundo Silva & Roeser (2003). Através do mapeamento detalhado, foram 46 identificadas mudanças morfológicas na superfície rochosa devido à alteração dos constituintes minerais e das fissuras que cortam a extensão da escultura. (a) (b) FIGURA 2.45 - Vista parcial do busto em pedra-sabão situado no Chafariz do Alto da Cruz, datado de 1761 (a) e detalhes do rosto da escultura com relevo de degradação moderado, fissuras e perda de fragmentos (b). Fonte: Silva & Roeser (2003). Na figura 2.46, segundo os autores, formas de intemperismo importantes associadas às fissuras predominam em toda a superfície da escultura, onde estas encontram-se subordinadas aos depósitos de sujeira e perda de partes da rocha. Tal fato permite relacionar a degradação da escultura à categoria de danos III, ou seja, de danos moderados. É importante ressaltar que tal classificação aponta para a necessidade de medidas de conservação e restauração, ou seja, torna-se necessário o monitoramento intensivo da escultura. 47 FIGURA 2.46 - Representação gráfica do mapeamento das deteriorações e categorias de danos no busto em pedra-sabão do Chafariz do Alto da Cruz. Fonte: Fonte: Silva & Roeser (2003). 48 2.4 Ensaio Não Destrutivo: o esclerômetro de Schmidt A determinação das características mecânicas das rochas, sobretudo a resistência, tem sido amplamente empregada em estudos com a finalidade de avaliar e quantificar a alteração de rochas, servindo como índice de intensidade da alteração. No entanto, em estudos relativos à degradação das rochas que compõem os monumentos históricos, não é possível a obtenção de amostras adequadas para a realização de ensaios geomecânicos, conforme os requisitos exigidos pela Sociedade Internacional de Mecânica de Rochas (ISRM, 1981 apud Silva, 2005). Ensaios geomecânicos em rochas de monumentos históricos que não necessitam da obtenção de amostras ou não causam danos ao material são de extrema importância. Esses ensaios, denominados de não-destrutivos, podem ser realizados no local da construção e podem fornecer informações importantes sobre o estado de degradação das rochas. Os ensaios in situ são importantes fontes de informação quantitativa para análise de formas de intemperismo encontradas em rochas. Durante algumas décadas, diferentes métodos têm sido desenvolvidos, e freqüentemente adaptados por um vasto campo de geocientistas, visando adaptar tais métodos para a sua adequada utilização em monumentos. No presente trabalho, o método empregado foi o de esclerometria, usando o Martelo de Schmidt; portanto, a seguir encontra-se a descrição do método de maneira mais detalhada. O método fornece a medida da dureza superficial da rocha, denominada de índice de esclerometria (I.E), por meio do martelo ou esclerômetro de Schmidt (Figura 2.47). Consiste em submeter a superfície da rocha a um impacto de uma forma padronizada, usando-se uma determinada massa com uma dada energia, medindo-se o valor do ricochete, ou seja, o índice esclerométrico (I.E). O ricochete depende do valor da energia cinética antes do impacto e quanto desta energia é absorvido durante o impacto, pois parte da energia é absorvida na fricção mecânica do equipamento, e a outra parte na interação entre a barra de percussão e a rocha. A energia absorvida está relacionada à resistência e à rigidez da rocha (ISRM, 1981 apud Pilotto & Barroso, 2006). A representação esquemática deste ensaio encontra-se na figura 2.48. 49 FIGURA 2.47 - Martelo de Schmidt do tipo L. FIGURA 2.48 - Etapas do ensaio de esclerometria (Evangelista, 2002). Os resultados de dureza superficial, ou seja, o índice de esclerometria, pode ser correlacionado ao parâmetro de resistência à compressão uniaxial (ISRM, 1978), por meio do gráfico ilustrado na figura 2.49. Segundo Silva (2005), as principais restrições de uso são as seguintes: Deve ser empregado para rochas bem cimentadas e com comportamento elástico; 50 Rochas que se desagregam ou se partem sob a ação do impacto não podem ser convenientemente testadas; As medidas devem ser tomadas em superfícies não rugosas; A avaliação em blocos de rochas pode ser feita desde que os mesmos tenham peso mínimo de algumas poucas dezenas de quilos. FIGURA 2.49 - Gráfico de correlação da dureza de Schmidt resistência à compressão simples. (ISRM, 1978) 51 3 PRINCÍPIOS DE CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO: APLICAÇÃO AOS MATERIAIS PÉTREOS Neste capítulo são apresentados, de forma breve, alguns aspectos conceituais relacionados às atividades de conservação e restauro de patrimônios construídos. Embora o presente trabalho não trate especificamente da temática, não necessitando, portanto, de uma abordagem mais aprofundada, procurou-se prestar uma pequena contribuição, de cunho acadêmico, dado que esses conceitos não são do domínio da grande maioria dos geocientistas. 3.1 Abordagem Histórico-Conceitual dos Termos Restauração e Conservação Entende-se que, antes de se abordar a conservação e a restauração, deve-se definir o termo patrimônio cultural, uma vez que este pode ser bastante diverso segundo o bem considerado. Na página do IPHAN na Internet (www.iphan.gov.br) pode-se encontrar a seguinte definição de para o termo patrimônio cultural: “O patrimônio cultural não se restringe apenas a imóveis oficiais isolados, igrejas ou palácios, mas na sua concepção contemporânea se estende a imóveis particulares, trechos urbanos e até ambientes naturais de importância paisagística, passando por imagens, mobiliário, utensílios e outros bens móveis. Por este motivo é possível realizar uma das mais importantes distinções que se pode fazer com relação ao Patrimônio Cultural, pois sendo ele diferente das outras modalidades da cultura restritas apenas ao mercado cultural, apresenta interfaces significativas com outros importantes segmentos da economia como a construção civil e o turismo, ampliando exponencialmente o potencial de investimentos.” (IPHAN, 2007). O patrimônio cultural pode ser classificado como imaterial ou material. O patrimônio imaterial ou patrimônio intangível, pode ser entendido, segundo a UNESCO, da seguinte forma: “A Unesco define como Patrimônio Cultural Imaterial as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas e também os 52 instrumentos, objetos, artefatos e lugares que lhes são associados e as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos que se reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural. O Patrimônio Imaterial é transmitido de geração em geração e constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana.” (IPHAN, 2007) Objeto desta dissertação, o patrimônio material, apresenta definição específica vista a seguir: “O patrimônio material protegido pelo IPHAN, com base em legislações específicas é composto por um conjunto de bens culturais classificados segundo sua natureza nos quatro Livros do Tombo: (i)arqueológico, paisagístico e etnográfico; (ii)histórico; (iii)belas artes; e (iv)das artes aplicadas. Eles estão divididos em bens imóveis como os núcleos urbanos, sítios arqueológicos e paisagísticos e bens individuais; e móveis como coleções arqueológicas, acervos museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e cinematográficos.” (IPHAN,2007) Portanto, dadas definições acima, fica claro que o objeto desta dissertação, a Igreja do Outeiro de Nossa Senhora da Glória, se enquadra como um bem do patrimônio cultural material brasileiro, registrado no livro de tombo n°. 018, que data de quatro de maio de 1938. Os conceitos de conservação e restauração também merecem uma abordagem um pouco mais ampla. O verbo conservar tem o significado de guardar com cuidado, resistir à idade, preservar, enquanto o verbo restaurar significa consertar, restabelecer-se. No entanto, na área de patrimônio, a diferenciação entre esses termos vai muito além dos seus significados, incluem filosofias desenvolvidas concomitantemente com a organização das atividades de restauro. Os pressupostos dessas filosofias estão fortemente relacionados às concepções de patrimônio que se fazia à época em que foram elaboradas. Kühl (2003) apresentaram uma interessante síntese da evolução histórica das atividades de restauração, conforme reproduzida nos dois parágrafos a seguir. 53 “A restauração, até se firmar como ação cultural no século XIX, passou por lento processo de maturação no decorrer do tempo. Anteriormente, as intervenções feitas em edifícios preexistentes eram resultados, geralmente, de exigências práticas e voltadas para a sua adaptação às necessidades da época. Mesmo aquelas ações que poderiam ser consideradas tentativas de restauração eram comumente conseqüências de algum problema de ordem pragmática, não tendo a carga cultural que a questão assumiu a partir do século XIX.” “No entanto, várias das noções ligadas ao restauro que floresceram, sobretudo a partir do Renascimento, amadureceram gradualmente no período que se estende dos séculos XV ao XVIII e foram conjugadas no estabelecimento das teorias de restauração: o respeito pela matéria original, a idéia de reversibilidade e distingüibilidade, a importância da documentação e de uma metodologia científica, o interesse por aspectos conservativos e de mínima intervenção, a noção de ruptura entre passado e presente. A partir da segunda metade do século XVIII, a restauração passou a se afastar cada vez mais das ações ditadas por razões pragmáticas e assumiu aos poucos uma conotação fundamentalmente cultural, baseada em análises sistemáticas, com maior rigor e método nos procedimentos, e com o julgamento alicerçado no conhecimento histórico e em análises formais. Vários fatores contribuíram nesse processo, tais como o Iluminismo, as reações às destruições maciças posteriores à Revolução Francesa, onde as profundas e aceleradas transformações geradas pela Revolução Industrial na Grã-Bretanha, alterando a relação de uma dada cultura com o seu passado e dando origem a uma nova maneira de encarar o legado cultural, que resultaria nos movimentos para a preservação e restauração de monumentos. Esse processo foi consolidado no século XIX, através de formulações teóricas, de experiências sistemáticas de inventário e de intervenções sobre os monumentos, verificando-se as várias vertentes.” As vertentes a que se referiram Kühl (2003) tiveram início com “Eugène Emmanuel Viollet-le-Duc (1814-1879) que almejava atingir um estado idealizado do edifício, com o objetivo, geralmente, de alcançar a unidade de estilo, não se importando, para tanto, tivessem que ser sacrificadas várias fases da passagem da obra no decorrer do tempo e feitas substituições maciças” (Kühl, 2003). Em contraposição às idéias de Viollet-le-Duc estava o pensamento de John Ruskin (1819-1900), que defendia “o absoluto respeito pela matéria original, que levava em consideração as transformações feitas em uma obra no decorrer do tempo, sendo a atitude a tomar a de simples trabalhos de conservação, para evitar degradações...” (Kühl, 2003). Ruskin defendia a intocabilidade da construção degradada e foi 54 um dos precursores da conservação preventiva. As idéias de Ruskin são entendidas, também, como uma visão passiva do restauro. Hass (2003) afirma que “as teorias de Viollet-Le-Duc e Ruskin, além de opostas pela própria concepção, colocavam em oposição os termos conservação e restauração. Le Duc aceita somente a restauração em nome da unidade estilística e Ruskin prega a intocabilidade do monumento”. Ainda em meados do século XIX e início do século XX, surgiram novas teorias que buscavam um equilíbrio nas ações praticadas por Viollet-Le-Duc e Ruskin. Camillo Boitto (1836-1914) propôs o respeito por todas as partes do monumento, inclusive seus materiais, e opôs-se às integrações para o término de obras inacabadas. Defendia que os acréscimos de épocas posteriores testemunham a história do monumento. Assim, o valor histórico que possuem é o máximo valor a preservar e as intervenções de restauro só devem ser executadas quando necessário (Luso et al., 2004). Boito defendeu a manutenção do edifício ao longo do tempo de modo a evitar-se o restauro, com acréscimos e renovações, porém sem deixá-lo cair em ruínas passivamente, como admitia Ruskin. Posteriormente, Gustavo Giovannoni marcou o restauro da primeira metade do século XX baseado nos postulados de Boito e conhecido por diversos autores como Restauro Científico. Foi considerado um dos mais importantes intervenientes da Conferência de Atenas de 1931, abordada no próximo item deste capítulo. Giovannoni manifesta-se contra os acréscimos a que chama de restauro de inovação. Talvez por sua formação na área de Engenharia, Giovannoni mostrava, também, especial preocupação com as estruturas, com os materiais utilizados na construção e com as técnicas construtivas. Defendia o uso do concreto armado em intervenções de consolidação, reparação e reforço do edifício, de modo a aumentar a resistência da construção (Luso et al., 2004). Essa pequena resenha, embora não tenha a intenção de ser completa, estria certamente empobrecida se dela não constassem algumas linhas dedicadas ao italiano Cesare Brandi (1906-1988). Um dos mais influentes pensadores do século XX, cuja publicação Teoria del Restauro foi traduzida em muitas línguas, inclusive o português. Brandi foi um dos responsáveis pela criação do Instituto Central de Restauração (ICR), em Roma, tendo sido seu diretor por 20 anos. Segundo o pensamento de Brandi, a restauração deve ser entendida como o processo metodológico do reconhecimento da obra de arte, nos seus aspectos físicos e nas suas funções estética e histórica, com vistas à sua transmissão ao futuro. Com sua teoria do restauro e um contínuo exercer da prática, Brandi enfatizou o caráter da restauração como 55 campo disciplinar autônomo, afastando-o do empirismo o qual caracterizara as ações até então, e integrando-o à história e à crítica, sem jamais descuidar dos aspectos materiais das obras de arte. As suas idéias acerca do tema ficaram conhecidas por Restauro Crítico, onde defende que os valores artísticos prevalecem sobre os históricos, afirmando: - “A consistência física da obra de arte deve ter necessariamente prioridade porque assegura a transmissão da imagem ao futuro” (Brandi, 2004). Convencionou-se classificar as diversas correntes sintetizadas nos três parágrafos anteriores da seguinte forma: (i) a restauração tradicional, aquela que admite substituições de matérias em função da estética, do estilo, e que considera aceitável “apagar” as marcas do tempo (envelhecimento); (ii) a restauração romântica, associada ao conceito de intocabilidade do bem e aceitação de sua possível morte; (iii) a restauração científica, baseada na preservação dos sinais do tempo como forma de transmitir a história e que entende a matéria como documento, procurando preservar a estética do objeto e (iv) a restauração crítica, que respeita a autenticidade do bem, seus valores intrínsecos e busca a mínima intervenção. Ainda na dissertação de Hass (2003) pode-se encontrar uma interessante discussão sobre o valor do bem a ser preservado, concluindo que “se preserva aquilo que tem valor ou identidade atribuído”. Dessa forma, a referida autora apresenta quatro categorias de valores que importam reconhecer e que justificam ações de preservação do bem, relacionando-os à preservação dos materiais pétreos nos monumentos: O valor cognitivo, relacionado ao conhecimento que, no caso das rochas presentes em monumentos, associa-se às técnicas de produção e execução. Segundo Hass (2003) “é a oportunidade de produzir informação ou conhecimento. Verificar se a peça é única, esculpida exclusivamente com determinado fim; se for peça seriada, já elaborada segundo um molde, ou até mesmo uma peça seriada, mas fabricada uma a uma e, portanto com pequenas diferenças. O grau de importância que tem este atributo durante uma prática de conservação está justamente na informação do conhecimento”. Os valores formais estão relacionados a determinadas propriedades do objeto que põem em relevo as funções estéticas do mesmo, propiciando, assim, sua completa percepção. A rocha na fachada pode ser singular ou representativa de um estilo. 56 Os valores afetivos, os quais estão atrelados a relações subjetivas dos indivíduos ou da coletividade com o objeto, sendo que “neste caso, a pedra tem carga simbólica, sentimentos de pertença” (Hass, 2003). Finalmente, destacam-se os valores pragmáticos, percebidos como qualidades do material e que, no caso da pedra, pode estar ligado à variedade de tipos ou a um tipo particular de especial valor econômico. 3.2 As Cartas Patrimoniais Como visto anteriormente, a partir do século XIX floresceu um conjunto enorme de teorias e formas de tratar da manutenção de bens artísticos, em seu sentido mais amplo, e de elevado significação cultural. Frente a tantas idéias diversas e protagonistas diferentes em vários países, percebeu-se a necessidade de estabelecer regras aceitas internacionalmente, tendo em vista solucionar os problemas complexos de salvaguarda do patrimônio artístico e histórico. Foi em Atenas, no ano de 1931, que se realizou uma conferência, da qual participaram vinte países da Europa e onde foi discutido sobre tutela e o restauro dos monumentos arquitetônicos. O documento elaborado por ocasião deste encontro ficou conhecido como a Carta de Atenas, a primeira de uma série de documentos elaborados ao longo de muitos anos com a finalidade de se estabelecerem em práticas aceitáveis para a conservação destes bens em todo o mundo. A seguir, são apresentados os principais aspectos de algumas destas várias cartas, com especial interesse para a conservação da matéria, onde estão incluídas as rochas. 3.2.1 A Carta de Atenas As idéias fundamentais apresentadas em 1931 são sintetizadas a seguir: (a) manutenção e conservação regular das obras de arte e monumentos como medida eficaz para assegurar a durabilidade dos objetos e evitar as restituições integrais. Quando seja 57 inevitável a intervenção, pela degradação do monumento, é aconselhável respeitar todas as obras históricas e artísticas do passado sem excluir estilos de qualquer época; (b) é importante a reutilização do edifício, mantendo o seu uso original ou o uso funcionalmente mais adequado, de modo a respeitar o caráter histórico e artístico, garantindo a sua continuidade futura; (c) valorização do aspecto envolvente do edifício, recomendando a reflexão sobre novas construções nas proximidades do monumento, de modo a não degradar a paisagem e o ambiente. Além disso, devem ser suprimidos elementos como publicidade, postes e fios telefônicos, indústrias ruidosas e outros; (d) é aceitável utilizar os recursos da técnica moderna, inclusive o concreto armado, usando-os de forma dissimulada, para que não alterem a imagem e o caráter do monumento; (e) o monumento antes da intervenção deve ser alvo de estudo e análise de toda a documentação, de modo a realizar um diagnóstico correto e trabalhos de restauro adequados. Para esta tarefa, é fundamental o trabalho interdisciplinar entre arqueólogos e arquitetos restauradores, assim como a colaboração de representantes de ciências físicas, químicas e naturais, de modo a analisar futuras degradações provocadas pela passagem do tempo e por efeito dos agentes atmosféricos; (f) preocupação especial na educação dos povos, desde as primeiras idades, no sentido de transmitir a importância da proteção de obras de arte e de limitar atos que possam degradar estes testemunhos de toda a civilização. Alguns dos itens reproduzidos da Carta de Atenas (1931) são dignos de destaque para os geocientistas. Vale ressaltar a preocupação com a durabilidade das obras, expressa claramente nos itens (a) e (f), o que evidentemente se aplica aos materiais que as compõem, incluindo as rochas. Outro ponto de interesse é o planejamento da região do entorno (item b), para que novas construções não interfiram com o bem tombado e com a paisagem de seu entorno. Essas questões são afeitas às atividades de planejamento urbano, onde os profissionais das geociências têm importante contribuição a dar. Finalmente, também exposto no item (e), a necessidade de estudo e análise de toda a documentação disponível sobre o bem visando o diagnóstico e a restauração bem sucedidos. Neste último caso, a documentação pode conter informações úteis sobre os tipos de rochas encontradas nos monumentos, bem como seus locais de origem. Isto significa a eventual 58 necessidade de se localizar a jazida primária das rochas ou de determinação de novas áreas fontes. 3.2.2 A Carta de Veneza Em 1964, do II Congresso de Arquitetos e Técnicos de Monumentos Históricos, realizado em Veneza, resultou um documento ainda hoje reconhecido: a Carta de Veneza. Esta carta vem ampliar a noção de patrimônio arquitetônico e assinalar a importância da conservação de áreas e estruturas edificadas, sejam urbanas, ou rurais. Os pontos mais importantes a que refere são os seguintes: (a) ampliação do conceito de monumento, que além de criações arquitetônicas isoladas históricas, devem ser também os conjuntos urbanos e rurais com significado especial e obras modestas com valor cultural. O conceito de monumento histórico deve incluir também o espaço envolvente e o local onde este se encontra implantado; (b) quando for necessário, o restauro deve respeitar os materiais utilizados e todas as partes de diferentes épocas, que não devem ser adulteradas ou destruídas; (c) estudo acompanhado de investigação arqueológica e histórica do monumento, utilizando meios interdisciplinares avançados: levantamentos arqueológicos, sondagens estratigráficas, técnicas estáticas, procedimentos magnéticos, técnicas informáticas, fotogrametria e outros que precedam os trabalhos de restauro; (d) as intervenções de restauro devem abranger trabalhos que, em qualquer momento, o objeto sobre o qual se atuou se possa despojar da atuação e voltar ao momento anterior à sua realização, ou seja, defende a necessidade de reversibilidade nas intervenções estruturais e construtivas; (e) refere à necessidade de uma manutenção periódica dos edifícios e uma atribuição funcional socialmente útil. Aqui se mantém a necessidade de respeito aos materiais empregados (rochas inclusive) e, no item (c), a explícita recomendação de utilização de profissionais de varias áreas, inclusive geocientistas. 59 3.2.3 A Carta de Burra Em 1980, a Carta de Burra foi elaborada pelo Conselho Internacional de Monumentos e Sítios – ICOMOS. Esta carta aponta para a preocupação da ação de conservação e ressalta que qualquer intervenção prevista de um bem, deve ser precedida de um estudo dos dados disponíveis, sejam eles materiais e/ou documentais. Alguns pontos principais, apresentados na Carta serão mencionados a seguir: (a) qualquer ação de conservação a ser considerada deve ser objeto de uma proposta escrita acompanhada de uma exposição de motivos que justifique as decisões tomadas, com provas documentais de apoio (fotos, desenhos, amostras, etc.); (b) a preservação será a manutenção do material que constitui um bem e a desaceleração do processo pelo qual ele se degrada. (c) a restauração deverá ser efetuada a partir do restabelecimento do material que constitui o bem em um estado anterior conhecido. (d) a manutenção designará a proteção contínua do material, do conteúdo e do entorno de um bem e não deve ser confundido com o termo reparação. Nesta Carta, encontra-se a necessidade de se manter a significação cultural de um bem, mesmo durante o processo de reconstrução, e caso esta venha acontecer que seu impacto sobre o material original seja mínimo, para que se mantenha o valor estético, histórico, científico e social do bem, para as gerações presentes e futuras. 60 4 4 O OBJETO DO ESTUDO: A IGREJA DO OUTEIRO DE NOSSA SENHORA DA GLÓRIA Neste capítulo são apresentados aspectos gerais sobre o objeto de estudo desta dissertação. São apresentadas e discutidas informações como a localização, aspectos históricos, arquitetura da construção e os gnaisses usados na construção. 4.1 Localização do Monumento A Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro, mais conhecida, simplesmente, como Igreja da Glória, ergue-se no alto do outeiro da Glória, no bairro de mesmo nome, no entorno do qual se consolidou o povoamento da cidade do Rio de Janeiro. Sua localização (Figura 4.1) faz desta igreja um ponto turístico que propicia uma das mais belas vistas da cidade, cujo adro pode ser observado: a baía de Guanabara, o Aterro do Flamengo, com o Museu de Arte Moderna, o Pão de Açúcar, o perfil de Niterói e grande parte do centro comercial do Rio de Janeiro. FIGURA 4.1 - Vista da Igreja da Glória do Outeiro e as pistas do Aterro do Flamengo. Fonte: Lacerda & D’Affonsêca (2007). 61 A figura 4.2 complementa a localização apresentada anteriormente e destaca a proximidade que esta construção guarda da Baía de Guanabara. Este aspecto de proximidade do mar pode ser relevante, como se verá adiante, no que respeita às condicionantes do desenvolvimento da alteração dos gnaisses. FIGURA 4.2 – Localização e proximidade da Baía de Guanabara. 4.2 Considerações Históricas A atual Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro substituiu a ermida edificada por Antônio de Caminha, ficando concluída por volta de 1739, sob planos do arquiteto e engenheiro português José Cardoso Ramalho. A figura 4.3 ilustra a posição da igreja em fins do século XVIII. A igreja foi tombada pelo Serviço do Patrimônio Artístico e Nacional, em 17 de março de 1938, cuja propriedade é conferida a Imperial Irmandade de Nossa Senhora da Glória do Outeiro. 62 FIGURA 4.3 - Igreja da Glória retratada pelo pintor brasileiro Leandro Joaquim em 1790. Antes dos aterros, as águas da baía chegavam até ao sopé do outeiro da Glória. Fonte: Telles (1969). Segundo Telles (1969), no decorrer do século XIX, a igreja sofreu alterações em suas características arquitetônicas originais. Foi construída uma varanda corrida ligando as janelas externas correspondentes às tribunas da nave, varanda que cortava ao meio as pilastras externas da edificação; o piso da nave foi revestido com ladrilhos e o da parte elevada da capela-mor com mármore de Carrara; todos os elementos de cantaria foram pintados, assim como foi pintada também, de maneira grosseira, a obra de talha. Além disso, foi colocado um pesado paravento na entrada da nave e um grande número de placas comemorativas nas paredes. Em face do prejuízo causado ao monumento por estas alterações sucessivas, a Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional empreendeu obras consideráveis, visando a restituição da igreja da Senhora da Glória em suas características originais. No ano de 1965, no programa do 4º Centenário da Fundação da Cidade, a administração estadual construiu, no talude fronteiro à Igreja, nova rampa de acesso, intercalada por amplos terraços, segundo concepção do Arquiteto Lucio Costa. Na mesma ocasião fez instalar novo sistema de iluminação, por meio de refletores, para que, à noite, seja valorizado o monumento. Quanto ao entorno urbano da igreja, o mapa de 1904 (Figura 4.4) mostra exatamente as reformas planejadas pelo prefeito Pereira Passos, criando o Largo da Glória e a Avenida Beira Mar (Figura 4.5) sobre o cais construído no século XVIII. 63 FIGURA 4.4 - Mapa de 1904 mostrando as reformas planejadas por Pereira Passos. Fonte: Lacerda & D’Affonsêca (2007). FIGURA 4.5 - Vista do cais e da Avenida Beira-Mar, ainda em construção – 1905. Fonte: Lacerda & D’Affonsêca (2007). Nos anos da década de 1950, para resolver os problemas de saturação das vias entre o Centro e a Zona Sul, o prefeito Henrique Dodsworth alarga a Avenida Beira-Mar, transformando-a numa via expressa. 64 Em 1961, Carlos Lacerda inicia a construção do Aterro do Flamengo, criando uma enorme área (122 hectares) cortada por pistas expressas e agenciada como um parque (projeto de Affonso Eduardo Reidy, com jardins projetados por Burle Marx). Essa configuração se mantém até os dias atuais. 4.3 Descrição Arquitetônica do Monumento: Plantas e Fachadas Segundo Ramazzini (2003), a igreja colonial não se revela interiormente apenas como um único grande espaço. Como outras obras arquitetônicas, ela é constituída por vários pequenos espaços, cujos significados e funções estão diretamente ligados à doutrina cristã. Naves, capelas, altares, corredores, tribunas, púlpitos todos esses elementos e ambientes têm, ou tiveram, quando construídos, um significado e uma função. Uma característica comum em todas as igrejas coloniais do Rio de Janeiro é a presença de dois espaços que sempre existiram e que expressam a arquitetura básica do estilo colonial: a nave e a capela-mor (Figura 4.6), onde esses espaços distintos estão sempre bem interligados. O primeiro destina-se aos fiéis, enquanto o segundo destina-se ao celebrante. FIGURA 4.6 - Volumetria interna básica das igrejas cariocas de nave retangular: Corte e planta. Fonte: Alvim (1999). 65 A capela-mor distingue-se da nave por apresentar o piso mais elevado. A primeira subdivide-se em dois ambientes também diferenciados por desnível de piso, que têm funções distintas: o presbitério, trecho perto da nave, e o altar mor, ponto mais profundo da igreja. O primeiro é um espaço de circulação e passagem, enquanto que o segundo destina-se à celebração do ato religioso, sendo, portanto, este o ambiente mais elevado entre os espaços principais da igreja (Ramazzini, 2003). O que torna diferentes a nave e a capela-mor não é a volumetria, mas a presença, nesta última, do retro-altar que recebe uma imagem, a mais importante da igreja, este é o espaço mais sagrado de toda a igreja, tornando-o particular e sendo referenciado como o centro de toda a composição interna da igreja, pois é nele que Deus está representado através de imagens e, portanto para ele que se voltam às atenções dos fiéis (Ramazzini, 2003). A Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro possui planta (Figura 4.7A) constituída por dois octógonos irregulares (Figura 4.7B, C e D), alongados e interligados pela base quadrada da torre sineira, cujo pé lhe serve de pórtico. Como será visto nos capítulos posteriores, é justamente esse pórtico, constituído de rochas gnáissicas, o objeto específico de estudo desta dissertação. A capela-mor, também chamada de planta poligonal, encontra-se inserida no octógono posterior, formando, nos intervalos, corredores pelos lados e pela sacristia ao fundo. Através dos corredores térreos seguem escadas de acesso aos púlpitos, às tribunas da nave e ao coro, que percorrem pelas duas bandas todo o perímetro do octógono maior, correspondente à nave. A torre sineira na entrada da nave forma um pórtico com abóbada de aresta, entre três arcos de cantaria no qual se localiza o coro e, no topo, o campanário. A forma de duplo octógono da sua planta baixa transparece perfeitamente no exterior da edificação. É notável, nessa elegante igreja, o contraste entre a severidade da torre sineira e o dinamismo barroco dos dois prismas de base poligonal, correspondentes à nave e à capelamor e sacristia (Alvim, 1999). Há um dinamismo barroco que é conferido pela multiplicidade de fugas dos sucessivos planos e pelas esguias pilastras que os demarcam e que são coroadas por coruchéus altos e robustos. Esse contraste ainda mais se acentua em virtude de se apresentarem as paredes caiadas de branco, ao passo que as pilastras, os coruchéus, as cimalhas e as guarnições dos vãos ostentam a coloração escura da cantaria (Alvim, 1999). 66 Em todo o conjunto, os únicos elementos requintados são as três portadas de pedra portuguesa de calcário Lioz, que datam o século XVIII. As folhas das portas (Figura 4.7E), de jacarandá, ajustam-se à feição austera, sóbria da edificação; as almofadas em forma de diamante (Figura 4.7F), com forte relevo, representam simples losangos e retângulos, destacando-se, nessas folhas, somente as últimas almofadas superiores de cada vão, tratadas com talha mais desenvolta, com curvas e contracurvas (Telles, 1969). 67 (E) (A) (C) (F) (B) (D) FIGURA 4.7 - Planta baixa térreo em escala 1/100 (A) e em maior detalhe a forma de duplo octógono da sua planta baixa encontra-se expressa em seu exterior (B, C e D), além disso, notam-se as folhas das portas (E) de jacarandá, que ajustam-se à feição austera, sóbria da edificação com suas almofadas em forma de diamante (F) . Fonte: Hue (2000). 67 68 A pavimentação da igreja, que foi restaurada durante as obras realizadas pela diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, apresenta assoalho à feição de campas. Quanto à parte elevada da capela-mor, tanto no piso como na face e degraus de acesso, foi restabelecido seu aspecto primitivo, obra em rocha. A esse conjunto de impressionante sobriedade, conferem colorido especial às preciosas barras de azulejos setecentistas (Figura 4.8) que adornam o templo, nave e capela-mor, assim como a sacristia e o coro. Os azulejos apresentam o desenho monocromo azul sobre o branco e, tanto os da nave quanto os da capela-mor, pelas características dos emolduramentos, onde ainda domina a forte composição barroca joanina, com ornamentação e pilastras de robustas volutas, que podem ser datadas de 1735 a 1740 (Hue, 2000). FIGURA 4.8 - Azulejos setencentistas que adornam o templo – nave e capela-mor, assim como a sacristia e coro. Foto: Hue (2000). A abóbada da Igreja da Glória é constituída, no trecho central, por alvenaria, a partir da qual as superfícies da cobertura se desenvolvem como uma sucessão de arcos decrescentes (Figura 4.9). Estes arcos se encontram alinhados pelo topo, e por isso, surgem, em suas laterais, segmentos retos que dão continuidade à sua curvatura, tornando-os elevados (Alvim, 1999). 69 Em sua volumetria externa, a abóbada da Glória, envolvida pela caixa mural da nave, não é percebida, sendo coberta por terraço com caimento em duas águas, solução que caracteriza esta igreja como exemplo ímpar na arquitetura religiosa do Rio de Janeiro (Alvim, 1999). Ainda, conforme o mesmo autor, a análise das proporções geométricas da planta da Glória demonstra elevado grau de complexidade em seu processo de elaboração. A principal relação encontrada baseia-se no traçado de linhas diagonais a partir dos pontos de acesso ao adro, conjugadas a uma circunferência cujo centro coincide com o centro de toda a composição. FIGURA 4.9 - Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro, teto em abóbada. Fonte: Ramazzini (2003). O traçado geral é composto por linhas que se organizam geometricamente dominantes a uma malha secundária. As linhas diagonais conformam os dois triângulos centrais justapostos pela base, que se divide em quatro partes iguais. Destas divisões, estrutura-se uma malha de quadrados indicando, direta ou indiretamente, as várias partes da planta. A mais importante das divisões determina as duas primeiras linhas paralelas ao eixo longitudinal, que definem os principais pontos da planta: largura do último lance da escada frontal de acesso ao adro; linha de fachada imediatamente posterior ao pórtico, a partir do cruzamento com as diagonais; lados do octógno da nave; estrangulamento do contorno externo, entre o corpo da nave e o da sacristia; paredes laterais internas da sacristia. 70 O ponto frontal de nascimento das diagonais cria uma importante relação, da qual se obtém o tamanho e a inclinação do vão de entrada da nave, gerando um alinhamento coincidente com a largura da capela - mor. As diagonais indicam, ainda, a largura do pórtico e do trecho ortogonal da fachada posterior, coincidente, por sua vez, com a largura da escada próxima. A planta da Glória, segundo Alvim (1999), é a única dentre as várias igrejas cariocas estudadas pela autora, cuja forma básica não se reduz a elementos geométricos simples, embora elaborados a partir de quadrados (malha), triângulos (diagonais) e círculos (Figura 4.10). FIGURA 4.10 - Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro, traçado geométrico da fachada. Fonte: Alvim (1999). 71 4.4 Caracterização das Rochas Observadas na Construção Nesta seção serão apresentadas informações relativas a dois gnaisses quartzofeldspáticos (leptinito e facoidal) da Série Superior de Hemboldt et al. (1965 apud Barroso, 1993). Esses gnaisses, aflorantes nas vizinhanças da cidade, estão presentes na construção objeto deste estudo. Além disso, algumas informações dos seus respectivos produtos de alteração intempérica foram obtidos de estudos da formação de perfis de alteração no Rio de Janeiro. O leptinito é um gnaisse de coloração clara (hololeucocrático), granulação fina a média, apresentando-se levemente bandado e com foliação pouco desenvolvida, dada pela orientação das biotitas e pelos grãos deformados e alongados de feldspato e quartzo (Figura 4.11). Segundo Barroso (1993), essas rochas são freqüentemente cortadas por pegmatitos e aplitos, em afloramentos, feição esta que também pode ser vista nos blocos de rocha da igreja. A rocha possui mineralogia pouco diversificada, constitui-se basicamente de quartzo, álcali-feldspato, plagioclásio e quantidades reduzidas de biotita e granada. FIGURA 4.11 - Gnaisse leptinito, apresentado sinais de alteração. Foto: Barroso, novembro/2006. 72 O termo facoidal possui caráter puramente textural, sendo empregado para informalmente designar um grupo de microclina gnaisses da Série Superior de Helmbold Hemboldt et al. (1965 apud Barroso, 1993). Apresentam variedades texturais de granulação média à grossa e composta, essencialmente, por microclina em cristais bem desenvolvidos (porfiroblastos) e por uma matriz mais fina de plagioclásio, biotita, quartzo, granada, opacos e, em menor quantidade, microclina. Três tipos texturais podem ser observados, segundo Barroso (1993): (i) laminar; sem a presença de grãos porfiroblásticos, que se destaquem na matriz (leptinito); (ii) facoidal e semi-facoidal; tipo porfiroblástico que possui cristais de feldspatos bem desenvolvidos, com formato lenticular (ou de olhos) e fortemente orientado na matriz da rocha; (iii) granoblástica grossa; variedade que apresenta a foliação incipientemente desenvolvida ou ausente, o que confere à rocha um aspecto magmático. Um outro aspecto importante encontrado neste tipo de rocha é o mecanismo de confecção dos facóides, que pode ser representado no processo geológico denominado “boudinage” (salsichamento), ilustrado na figura 4.12 (Ramsay, 1967 apud Menezes Filho, 1993). FIGURA 4.12 - Desenvolvimento progressivo do “boudinage” (Ramsay, 1967 apud Menezes Filho, 1993). 73 Segundo Menezes Filho (1993), a figura 4.12 mostra o desenvolvimento progressivo dos “boudins” (salsichas), em que as bandas 1, 2, 3 e 4, de um mesmo material, estão dispostas segundo ordem decrescente de resistência ao esforço. Com relação à alteração intempérica dos gnaisses do Rio de Janeiro, os trabalhos de Barroso (1993), Menezes Filho (1993), Barroso et al. (1996) e Marques (1998) são boas referências dos possíveis estados de alteração e da forma como estes se apresentam no campo. Em todos esses trabalhos, investigou-se o desenvolvimento de perfis de intemperismo associados às suas condicionantes litológica, estrutural e geomorfológica. Além de trabalhos de campo, foram estudados também os aspectos mineralógicos, químicos e comportamento geomecânico dos diversos estágios de alteração encontrados no campo. A tabela 4.1 foi compilada do trabalho citado e trata da identificação dos estágios de alteração, variando do nível I (rocha não alterada ou sã) até o nível IV (rocha extremamente alterada). TABELA 4.1 – Descrição macroscópica dos estágios de alteração de alguns gnaisses do Rio de Janeiro. Modificado de Barroso et al. (1996). Nível de alteração Nível I ROCHA SÃ Nível II ROCHA LEVEMENTE ALTERADA Nível III ROCHA MEDIANAMENTE ALTERADA Leptinito Os minerais apresentam-se sem alterações perceptíveis, eventualmente os feldspatos podem estar com o brilho reduzido. São necessários golpes do martelo geológico para quebrar a rocha. Não é possível escava-la manualmente. Apenas a biotita pode ser arranhada pelo canivete. Nenhum mineral pode ser arrancado do arcabouço da rocha. Os feldspatos, biotitas e granadas mostram redução do brilho original. Biotitas tornando-se cinza e as granadas ocre. A rocha é quebrada com diversos golpes de martelo geológico. Não é possível escavá-la manualmente. É possível riscar as granadas e feldspatos com dificuldade, pelo canivete. Apenas a biotita pode ser, eventualmente, arrancada da rocha. Os feldspatos estão descoloridos e argilizados na superfície. Biotitas e granadas revelam acentuada mudança de cor e claros sinais de oxidação. A ponta do martelo geológico produz entalhe raso na superfície da rocha, não sendo possível escava-la manualmente. Gnaisse Facoidal Todos os minerais estão íntegros perante a observação macróscopica, apenas os feldspatos podem estar com o brilho levemente reduzido. A rocha rompe com extrema dificuldade, necessitando-se de mais de um golpe com o martelo geológico para lascá-la ou quebra-la. Neste estágio a rocha não pode ser escavada manualmente. Com o uso do canivete, apenas a biotita é arranhada. Não é possível arrancarse nenhum mineral do arcabouço da rocha. Os feldspatos perdem seu brilho, enquanto as biotitas e granadas apresentam uma acentuada redução do mesmo e da cor original. A rocha pode ser quebrada com diversos golpes do martelo geológico, não sendo possível escavá-la manualmente. As granadas já podem ser arranhadas com dificuldade pelo canivete, embora nenhum mineral possa ser arrancado da rocha. Os feldspatos apresentam-se totalmente descoloridos e, eventualmente argilizados na superfície. Biotitas e granadas apresentam acentuada alteração da cor, sendo que esta última possui claros sinais de oxidação. Aponta dom martelo geológico produz 74 Com exceção do quartzo, todos os minerais são riscáveis pelo canivete, biotitas e granadas mais facilmente. Nível IV ROCHA EXTREMAMENTE ALTERADA O único mineral que permanece inalterado é o quartzo. Feldspatos, biotitas e granadas estão argilizados, embora não totalmente. O golpe do martelo produz desagregação parcial da amostra, que neste estágio já pode ser escavada por uma pá ou espátula com grande dificuldade. Todos os minerais, excluindo-se o quartzo, podem ser riscados facilmente pelo canivete. Os minerais já podem ser arrancados pelo canivete. entalhe na rocha, que ainda não pode ser escavada manualmente. Feldspatos, biotitas e granadas são arranhados pelo canivete, os dois últimos mais facilmente. Neste estágio, algumas biotitas e granadas já podem ser arrancados da matriz. À exceção do quartzo, todos os minerais estão alterados. As granadas estão muito oxidadas. Os feldspatos apresentam-se argilizados em superfície. O golpe do martelo desagrega parcialmente a rocha, e uma pá ou espátula são capazes de escavá-la com grande dificuldade. Todos os minerais, excluindo-se o quartzo, podem ser arrancados pelo canivete, sendo que a granada pode ser arrancada pela unha. O canivete é capaz de produzir um sulco profundo sobre a matriz e grande parte dos minerais podem ser arrancados da amostra. Os dados da tabela 4.1 servem como elementos de comparação com o que se observa nas cantarias de rocha em construções históricas da cidade. Além disso, há dados descritivos dos resultados do cadastro de testes da matriz que também foram empregados nesta dissertação e servem como guia na investigação. 75 5 METODOLOGIA Neste capítulo discorre-se sobre como os dados que serão apresentados no capítulo 6 foram obtidos. Pode-se dividir o volume dado em dois conjuntos: aqueles obtidos por meio de pesquisa bibliográfica e que foram, portanto, apenas organizados e posteriormente analisados, e aqueles obtidos especialmente no âmbito desta pesquisa. Nos parágrafos seguintes serão informados de que maneira os dados das condições ambientais, cedidos por outras instituições, foram trabalhados nesta pesquisa e com que propósito. Particular ênfase é dada para a análise da insolação sobre a construção, considerada um parâmetro ambiental relevante para a posterior interpretação da distribuição das morfologias de alteração. Em seguida, apresentam-se todos os passos executados no mapeamento das morfologias de alteração, desde a obtenção das imagens até a técnica de mapeamento, e depois, da entrada desses dados em um sistema de informações geográficas até a forma de análise quantitativa. A avaliação da alteração intempérica dos gnaisses, baseada em Barroso (1993), também é apresentada. Finalmente, são descritos os procedimentos de avaliação geomecânica usando o martelo ou esclerômetro de Schmidt. 5.1 Caracterização das Condições Ambientais Os dados climáticos foram obtidos através da própria página do Instituto Nacional de Meteorologia – INMET- na Internet, sendo estes relativos à temperatura e ao período de 1973 a 1990. Usou-se o conjunto dos dados disponíveis para a estação do Aterro do Flamengo, localizada nas seguintes coordenadas geográficas: 22° 55‟ S e 43° 10‟ W. Com os dados de temperatura medidos nesta estação, foi possível analisar a distribuição anual das médias mensais, máximas e mínimas, no período de 1973 a 1990, úteis para a caracterização da amplitude térmica. A associação dos parâmetros ambientais ao microclima local tem por objetivo uma melhor compreensão das condições a que o edifício se encontra submetido e entender as causas das degradações verificadas nos elementos de cantaria constituídos de rochas gnáissicas. A compreensão das trocas térmicas que ocorrem no ambiente urbano, ou seja, entre a cidade e a atmosfera, é de extrema importância para a análise, visto que a radiação 76 solar ocupa lugar de destaque entre todos os elementos meteorológicos, e está diretamente associada à insolação, que é um dos fatores responsáveis pela fadiga térmica de rochas. Então, para esta análise, fez-se uso de um outro conjunto de dados relativos ao ano de 2003, cedido pela FEEMA e com registros diários e horários das temperaturas medidas na estação Centro. Esses dados foram utilizados, como se verá adiante, na análise da insolação sobre a construção. O primeiro passo foi elaborar uma rotina em linguagem de programação C para a leitura de todos os arquivos referentes ao dia, mês, hora e temperatura correspondente ao período de 26 de julho de 2000 até 30 de dezembro de 2006. Como resultado, o programa determina para cada dia, a temperatura e a hora em que foi registrado, também para cada mês, o programa calcula quantas vezes a temperatura máxima foi registrada em cada hora, para todos os anos do intervalo. O resultado é um arquivo com número de ocorrências (ao longo de todo o intervalo) de temperatura máxima em cada hora para cada mês, ou seja, um total de doze histogramas. A partir dos quais foi possível observar o período de maior incidência solar na edificação. Sendo escolhido apenas um ano do intervalo 2003, visto que este apresentou dados mais completos relativo ao período de 12 meses. A figura 5.1 mostra o resultado desta análise, que mostrou os horários de 12:30 h, 13:30 h e 14:30 h como aqueles de temperatura mais elevadas. Nesta figura, mostram-se as ocorrências de temperaturas máximas por hora no ano de 2003. Temperaturas máximas do ano de 2003 600 Freqüência absoluta 500 400 300 200 100 00 :3 0 01 :3 0 02 :3 0 03 :3 0 04 :3 0 05 :3 0 06 :3 0 07 :3 0 08 :3 0 09 :3 0 10 :3 0 11 :3 0 12 :3 0 13 :3 0 14 :3 0 15 :3 0 16 :3 0 17 :3 0 18 :3 0 19 :3 0 20 :3 0 21 :3 0 22 :3 0 23 :3 0 0 Hora FIGURA 5.1 – Ocorrências de temperaturas máximas em função da hora no ano de 2003. 77 Apenas três horários foram selecionados a partir da figura 5.1, e usados para a análise de insolação porque são os de temperatura mais elevada e, embora a temperatura na superfície da rocha seja diferente da temperatura do ar, adotaram-se esses horários como aqueles que poderiam causar maior dano à cantaria. A seguir, a análise da insolação das fachadas foi realizada com o auxílio do programa Sketch-up. Trata-se de um aplicativo simples de modelação para criar, visualizar e modificar desenhos em 3D, permitindo criar modelos de todo tipo de objetos e edificações. Além de desenvolver o modelo, é possível adicionar textura, materiais e simular sombras. Seguem abaixo as etapas e suas respectivas figuras relativas ao processo de modelagem obtido através do software Sketch-Up para a Igreja da Nossa Senhora da Glória do Outeiro. 1. Foram obtidos desenhos de planta e fachada em AutoCad de onde se puderam aferir as dimensões da edificação (Figura 5.2). FIGURA 5.2 - Base digital da planta fornecida pela Imperial Irmandade do Outeiro de Nossa Senhora da Glória. 78 2. A partir desses desenhos foi produzido um volume geral da igreja (Figura 5.3) FIGURA 5.3 - Segunda etapa do projeto de construção do modelo digital em 3D. 3. Em seguida foram desenhadas as colunatas e os elementos de decoração como frisos, além do sino e dos elementos da cobertura (Figura 5.4). FIGURA 5.4 - Terceira etapa de desenvolvimento do software, em destaque elementos da cobertura, sino, telhado e cornijas. 79 4. Nesse volume foram inseridos os desenhos de janelas e portas importados do Auto Cad e “colados” nas superfícies do volume (Figura 5.5). FIGURA 5.5 - Quarta etapa do projeto em 3D, colocação das janelas e portadas. 5. Por fim o modelo foi colorido de forma a se tornar mais representativo da edificação e seus elementos (Figura 5.6). FIGURA 5.6 - Elementos em cantaria em destaque. 80 6. Uma vez pronto o modelo, foi ativado o recurso de iluminação (insolação) da seguinte forma: a. Na caixa de localização definiu-se a cidade do Rio de Janeiro e suas coordenadas geográficas como local da edificação (Figura 5.7). FIGURA 5.7 - Definição da localização geográfica do objeto de estudo. b. Determinou-se, ainda, o Norte a 135° da fachada frontal conforme levantado em campo com uso da bússola. c. Por fim, para cada situação a ser analisada, experimentou-se uma determinada data e hora para que o programa reproduzisse a sombra da edificação nesse momento (Figura 5.8). O Sketch-up simula a sombra a partir das coordenadas geográficas, da posição do objeto em relação ao sol e da hora e da data fornecidas. Além das temperaturas, o INMET também forneceu dados de precipitação pluviométrica medidos também na Estação Aterro do Flamengo, os quais serviram para caracterizar o sítio onde se localiza a Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro. Dados do regime de ventos local, direções e velocidades, foram cedidos pela FEEMA e serviram para a construção de um diagrama circular (rosa dos ventos) que, em última análise, serviu para confrontação da orientação geográfica das fachadas estudadas e suas morfologias de alteração. Essa informação pode ser útil, uma vez que, dada a proximidade do mar, as 81 fachadas da construção podem ser afetadas por névoas salinas ou mesmo por material particulado e outros produtos de poluição originados na via expressa Av. Infante D. Henrique, no Aterro do Flamengo, que passa próximo ao Outeiro da Glória. FIGURA 5.8 - Exemplo de simulação da insolação e sombreamento da fachada. 5.2 Caracterização da Poluição Atmosférica Local Os dados da poluição atmosférica local foram fornecidos pela FEEMA e constam do Relatório Anual de Qualidade do Ar (1999 e 2004). Estão disponíveis registros de duas estações de monitoramento localizadas no centro da Cidade do Rio de Janeiro, uma estação automática capacitada para mensurações contínuas das concentrações dos principais poluentes gasosos e parâmetros meteorológicos, além de uma estação manual responsável pela medição da rede de amostragem de partículas totais em suspensão (PTS) e também pela medição de partículas inaláveis (PI). A interação existente entre a atmosfera e o material pétreo geralmente pode causar danos sobre a superfície da rocha, que podem ser observados macroscopicamente, tais como a 82 formação de crostas a partir da deposição de material particulado e a alteração cromática resultante da deposição deste material por via úmida, ou seja, através da reação química dos compostos gasosos presentes na atmosfera durante o processo de precipitação pluviométrica. Esses são alguns motivos pelos quais se procurou caracterizar a composição da atmosfera urbana local. 5.3 Avaliação “In Situ” da Degradação das Rochas de Cantaria Nos estudos de alteração e degradação de monumentos históricos, sobretudo aqueles que também encerram valor arquitetônico, cultural e artístico, a necessidade de extremo cuidado é fundamental na fase de investigação. Não é admissível que, a fim de se proceder a análise quanto à degradação, as próprias técnicas de investigação causem ainda mais danos ao patrimônio. Assim, no caso das rochas que compõem os edifícios tombados, somente em raros casos se admite a obtenção de amostras para estudos em laboratório, principalmente para ensaios que necessitem volumes consideráveis de amostras, como é o caso da maior parte das avaliações geomecânicas. As análises devem ser, preferencialmente, não destrutivas, de modo a se preservar o próprio bem sob estudo. Baseado nessa ótica, empregaram-se três formas de investigação não destrutivas e in situ para avaliar, respectivamente, a distribuição das diferentes morfologias de alteração nas fachadas; a quantificação da alteração intempérica (levando em consideração suas componentes físicas e químicas) e uma avaliação do grau de comprometimento ou degradação geomecânica dos gnaisses. 5.3.1 Cadastro de Testes da Matriz Uma das ferramentas utilizadas em campo para avaliação das rochas foi o cadastro de teste da matriz proposto por Barroso (1993) com a finalidade de se avaliar o grau de intemperismo de rochas em afloramento para fins de engenharia. Porém, foram introduzidas algumas modificações nesta classificação, para atender às particularidades do presente estudo, pela impossibilidade da realização de ensaios destrutivos (Silva, 2005). 83 Por este motivo, foram excluídas do cadastro de testes da matriz as análises de resistência ao golpe do martelo, escavabilidade e quebra de testemunhos. Desta forma, do cadastro originalmente proposto, sobraram os testes que devem ser realizados nos minerais identificados na rocha objeto do estudo. Outra modificação necessária na classificação mencionada (Tabela 5.1) diz respeito ao item de caracterização da alteração química, em que foi acrescentado o sub- item “oxidado”, tendo em vista ser este um aspecto marcante encontrado em alguns dos minerais analisados. TABELA 5.1 – Cadastro de testes da matriz empregado para reconhecimento e classificação dos estágios de alteração intempérica, modificada de Barroso (1993). CADASTRO DE TESES DA MATRIZ A - Breve descrição da rocha B - Caracterização da alteração Química (por mineral) 1. inalterado 2. sem brilho ou reduzido 3. descolorido ou cor alterada 4. argilização na superfície 5. totalmente argilizado 6. oxidado C - Caracterização da Desagregação Física C, a. Risco do canivete e da unha (por mineral) 1. nenhum arranhão 2. arranhado com dificuldade pelo canivete 3. arranhado facilmente pelo canivete 4. arranhado pela unha C, b. Facilidade de ser arrancado do arcabouço da rocha (por mineral) 1. não pode ser arrancado 2. arrancado com dificuldade pelo canivete 3. facilmente arrancados pelo canivete O cadastro de teste da matriz mostra que, a partir de uma descrição sucinta do tipo litológico, é possível realizar uma verificação quantitativa do grau de intemperismo. Atribuem-se valores a cada mineral constituinte da rocha e observável a olho nu, que geralmente apresentam-se crescentes de acordo com o grau de intemperismo físico-químico. 84 Desse modo, um mineral não alterado apresenta valor mínimo igual a três, enquanto um mineral no estágio mais avançado de alteração possui índice igual a 13. Esses valores finais correspondem ao somatório do resultado de cada parâmetro de avaliação das componentes química (item B do cadastro) e física (item C do cadastro) do intemperismo. A avaliação do cadastro de teste da matriz representa uma tentativa de se padronizarem as descrições da alteração de rochas, pois a sua subjetividade e a influência do observador no teste não podem ser completamente eliminadas. 5.3.2 Mapeamento das Formas de Degradação (Morfologias de Alteração) Foi necessário definir o método de classificação das morfologias de alteração que seria empregado no mapeamento. Pois, durante a pesquisa bibliográfica, constatou-se que muitos sistemas de classificação careciam de definições precisas e, por isso, apresentavam, muitas vezes, duplicidades em suas definições, além da ausência de formas de alteração observadas nos gnaisses do Rio de Janeiro. Então, baseados nos estudos de avaliação da alteração de rochas de cantaria de Urmeneta (1997), Fitzner (2004) e Henriques et al. (2005), cujas obras foram mencionadas no capítulo 2, propõe-se nesta dissertação um sistema de classificação que busca resolver os problemas anteriormente mencionados e que não se baseie na gênese da forma de alteração, pois se considera que, assim sendo, há a possibilidade de erros de interpretação das causas das degradações nas fases de avaliação do dano. A classificação proposta, muito semelhante àquela de Henriques et al. (2005), é dividida em quatro grupos de morfologias, a saber: Grupo I (Perda de Coesão), Grupo II (Perda de Matéria ou Perda de Massa), Grupo III (Alterações Cromáticas e Depósitos) e Grupo IV (Fissuras, Fraturas e Deformações). Como fica claro a partir dos nomes atribuídos a cada grupo, a classificação se baseia nos efeitos e não nas suas gêneses. As tabelas 5.2, 5.3, 5.4 e 5.5 apresentam as morfologias de cada um dos grupos mencionados acima, incluindo também uma pequena definição que auxilia sua identificação no campo. Esse sistema de classificação, apresentado nas tabelas a seguir, foi utilizado para o mapeamento de campo e, deste ponto em diante da dissertação, faz-se referência exclusivamente a ele. Portanto, a avaliação do estado de alteração do pórtico da entrada principal da Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro toma como base o sistema aqui proposto. 85 TABELA 5.2 – Morfologias do Grupo I. Adaptação das obras de Urmeneta (1997), Fitzner (2004) e Henriques et. al. (2005). Grupo I- Perda de Coesão Desagregação Granular Pulverização Perda de coesão do material constituinte da rocha, liberando partículas de tamanho maior ou igual a areia. Perda de coesão da superfície que conduz ao desprendimento do material sob a forma de pó. TABELA 5.3 - Morfologias do Grupo II. Adaptação das obras de Urmeneta (1997), Fitzner (2004) e Henriques et. al. (2005). Grupo II - Perda de matéria ou Perda de Massa Escama: ext. lat. sub-cent./esp < 0,5cm Paralela a superfície: Fragmentos achatados Folhas Individuais paralelos à superfície, com espessura e extensões laterais variáveis. Folhas múltiplas no ponto Formação de Cavidades Plaqueta: ext. lat. cent./ esp < 0,5cm Lasca: ext. lat. sub-cent./ esp > 0,5cm Placa: ext. lat. cent./ esp > 0,5cm Esfoliação Alveolização Múltiplas cavidades de dimensões e geometria variadas, com área de abertura para o exterior de dimensão subcentimétricas. Antropogênica Retirada de material rochoso de formas, dimensões e causas variadas, por ação do homem. Vegetação Perda evidente de material pela ação de raízes de vegetais superiores. Erosão Caracterizada pela remoção de material da superfície ou das bordas dos elementos pétreos, excetuando-se aquelas que são paralelas à superfície, e que resultam em novas superfícies de forma irregular e bordas com tendências arredondadas. Remoção Mecânica Lacuna Perda de Argamassa: Parcial Remoção dos elementos de rejunte, por causas Total diversas. Perda de massa em um só evento (queda), não necessariamente relacionada a estruturas do corpo rochoso. Ainda se verifica argamassa nas juntas. A junta se apresenta aberta, podendo ter efeitos estruturais. 86 TABELA 5.4 - Morfologias do Grupo III. Adaptação das obras de Urmeneta (1997), Fitzner (2004) e Henriques et. al. (2005). Grupo III: Alterações Cromáticas e Depósitos Ação de Organismos Colonização Biológica Microorganismos formando estratos superficiais ou por vegetais de maior porte. Agregados cristalinos na superfície, de fraca Eflorescência coesão e cor clara. Alteração Cromática Mudança de um ou mais parâmetros da cor, (Pátinas) Alteração da cor em uma área ampla. Mudança de um ou mais parâmetros da cor, Manchas mas em área restrita e contrastante com as cores da vizinhança. Depósito superficial de pequena espessura e Películas grande continuidade lateral, cuja interface com o substrato é claramente marcada. Depósito estratiforme, compacto, em geral Incrustação aderente ao substrato e composto por substâncias orgânicas. Parte mais exterior do material modificada Depósitos por deposição de substâncias exógenas ou Crosta produtos de tratamento. Apresenta espessura variável e características distintas das encontradas no interior. Resultante da acumulação de materiais Depósito superficial estranhos na superfície, em geral pouco aderente e de fraca coesão. Tintas Pichação 87 TABELA 5.5 - Morfologias do Grupo IV. Adaptação das obras de Urmeneta (1997), Fitzner (2004) e Henriques et. al. (2005). Grupo IV - Fissuras, Fraturas e Deformações. Deformações Alteração da forma original do corpo considerado, geralmente assumindo formas côncavas ou convexas. Fratura Descontinuidade de superfícies do corpo rochoso gerando abertura milimétrica entre as partes fraturadas, sendo esta abertura persistente ou não. Não apresenta relação com a estrutura da rocha. Fissura Descontinuidade de superfícies do corpo rochoso sem abertura das partes em questão. Pode ser persistente ou não. Não apresenta relação com a estrutura da rocha. Descolamento Desprendimento de camadas nos planos de foliações e acamamento sedimentares. A partir das definições das morfologias de alteração apresentadas, partiu-se para a execução do mapeamento das fachadas da igreja. Essa etapa do trabalho demandou atividades de aquisição e processamento de dados. A etapa de aquisição dos dados teve início com o levantamento fotográfico das fachadas, em seguida foram realizadas medidas das dimensões de alguns elementos geométricos das fachadas (largura de vão livre, altura de blocos), com o objetivo de garantir a escala correta das imagens no SIG (ESRI, 2006). As imagens foram impressas com impressora a laser colorida e serviram de base para o mapeamento das formas de alteração sobre folhas de acetato. Posteriormente à aquisição dos dados, deu-se o seu processamento, o qual teve início com a digitalização dos contornos das morfologias de alteração em ambiente SIG- ArcGis 9.2 (ESRI, 2006), ou seja, os diversos polígonos em cada bloco de rocha e em cada fachada. No entanto, como as imagens obtidas no campo não eram ortogonais às fachadas de interesse, tal fato se deve à perspectiva, foi necessário corrigir esta distorção, caso contrário os cálculos posteriores de área estariam comprometidos. Existem na literatura, técnicas descritas para a 88 correção de fotos oblíquas (Silva, 2006), que, no entanto, demandam uma série de operações que vão desde a calibração da própria máquina digital até a utilização de algoritmos que realizam a retificação da imagem. Nesse trabalho, optou-se por outro caminho, o do aproveitamento dos desenhos das fachadas em meio digital, disponibilizados pela Imperial Irmandade de Nossa Senhora da Glória do Outeiro. A seguir apresentam-se os passos executados para a obtenção das imagens retificadas e com o mapeamento das fachadas. a. Vetorização da área da fachada no Autocad Map 2000 (1999 e 2001), utilizando como referência a planta de toda a fachada, em formato DWG, pois assim utiliza-se o plano de referência da planta que já possui uma coordenada plana definida (Figura 5.9). FIGURA 5.9 – Exemplo do processo de vetorização de fachadas. 89 b. Em seguida, através da ferramenta “Inquiry” do software AutoCad Map 2000 (1999 e 2001), calculou-se a área da fachada vetorizada para compará-la com os valores a serem calculados no ArcGis (Figura 5.10). FIGURA 5.10 – Construção da “polyline” da região de interesse da fachada. 90 c. Utilização da ferramenta Map do AutoCad Map 2000 para exportar o vetor-fachada (Figura 5.11) para o formato.shp. Este procedimento permite a leitura pelo ArcGis. FIGURA 5.11 – Transformação do vetor fachada para o formato shape (.shp). d. “Polyline” exportada no ambiente GIS (Figura 5.12). FIGURA 5.12 – Notar que a fachada no ambiente GIS é um vetor (“polyline”). 91 e. Transformação com a ferramenta XToolsPro da “polyline” constituída de múltiplas partes em uma única “polyline”: feature conversions→convertmultipart shapes to single parts (Figura 5.13). FIGURA 5.13 – Preparação de “polyline” única para posterior transformação em polígono. f. Transformação da “polyline” em polígono: feature conversions→make one polygono to polylines (Figura 5.14). FIGURA 5.14 – Criação de polígono com a ferramenta XToolsPro. 92 g. Ainda dentro do XToolsPro, na opção Table Operations, calculou-se a área do polígono criado para verificar a correção da área levada para o SIG (Figura 5.15) FIGURA 5.15 – Cálculo da área no SIG para comparação com a área do desenho CAD. h. Seleção da unidade de medidas no “layer” de interesse. Inserção da fotografia na área na janela do ArcGis (Figura 5.16). FIGURA 5.16 – Seleção da unidade de medida no ArcGis. 93 i. Imagem (Figura 5.17) para ilustrar a área calculada no SIG (13,4 m2). Comparar com a área da fachada obtida no AutoCad Map (13, 5 m2). FIGURA 5.17 – Cálculo da área no ArcGis. j. Depois, usando a referência preservada pela fachada vetorizada no AutoCad Map 2000, é preciso georeferenciar a imagem para este plano (Figura 5.18). FIGURA 5.18 – Georreferenciamento da imagem. 94 k. Na ferramenta em questão, clica-se sobre o triângulo ao lado da palavra “georeferencing” para desabilitar o comando “Auto Adjust”. Para efetuar o processo de superposição do “layer” da fachada e da fotografia, usa-se o comando “Fly to Display” (Figura 5.19). FIGURA 5.19 – Processo de superposição entre a fachada e a fotografia. 95 l. Para visualizar a imagem da fotografia deve-se usar o botão direito do “mouse” sobre o “layer” e selecionar a ferramenta “zoom to layer”. Para visualizar a superposição entre o “layer” referente à imagem (a foto) e a referente à fachada (o desenho) digitalizada (Figura 5.20). FIGURA 5.20 – Visualização dos “layers” existentes nas janelas. m. Imagem e vetor estão no mesmo plano (Figura 5.21) FIGURA 5.21 – Visualização simultânea da imagem da fachada e do seu vetor. 96 n. Concluída a fase anterior, é preciso unir o vetor à imagem, usando o comando “Spatial Adjustment” (Figura 5.22). FIGURA 5.22 – Transformação da fotografia e vetor em um único “layer”. o. Para tornar o polígono da fachada editável, deve-se clicar em “Set Adjust Data”. Na janela “choose input for adjustment” habilitar o ícone “All features in these layers” (Figura 5.23) e confirmar. FIGURA 5.23– Tornando o “layer” fachada editável. 97 p. Definir o método do ajuste: usou-se “Transformation-Similarity” (Figura 5.24). FIGURA 5.24 – Seleção do método utilizado para tornar compatível o processo entre os “layers”. q. Para superpor os “layers”, devem-se escolher pontos comuns do vetor (“layer” fachada) e da imagem raster, que são pontos de controle. Para isto, usa-se o comando “New Displacement Link” (seleciona os pontos de controle – Figura 5.25). Deve-se estar atento para a orientação neste procedimento, que deve ser vetor→imagem (Figura 5.26), diferente do que foi feito no georreferenciamento, que foi imagem→vetor. Escolhidos os pontos de controle, acionar “Adjust” (Figura 5.27) 98 FIGURA 5.25 – Início da seleção dos pontos de controle. FIGURA 5.26 - União dos pontos de controle, sentido vetor-imagem. 99 FIGURA 5.27 – Escolhidos todos os pontos de controle na fachada, fazer o ajuste vetor-imagem. r. Após o ajuste do vetor fachada e da imagem raster pode-se verificar (Figura 5.28) a superposição de ambos os “layers”. Na figura 5.29, mostra-se um exemplo do mapeamento da fachada voltada para a Marina da Glória, em ambiente ArcGis, com o “layer” plaqueta selecionada e o banco de dados associado, mostrando áreas e perímetros de cada polígono desta morfologia de alteração. 100 FIGURA 5.28 – Notar o ajuste do contorno da fachada (vermelho) com a imagem raster retificada. 101 Total= 0,74m² FIGURA 5.29 – Mapeamento da morfologia de alteração plaqueta e banco de dados contendo seus parâmetros geométricos (perímetro e área). A figura 5.30 sintetiza os procedimentos básicos e as ferramentas computacionais (“softwares” e sistemas) utilizados na correção das fotografias, mapeamento das fachadas e avaliação quantitativa da distribuição das diversas morfologias de alteração observadas no campo. 102 Geoprocessamento Representação do objeto no Modo Raster AutoCad 2000 Representação do objeto no Modo Vetorial Checagem da Fachada em formato *dwg AutoCad Map 2000 ArcGis 9.0 Exportação da fachada em formato *shp. Definição de unidades de medida e Vetorização da fachada sobre o arquivo *dwg. Aquisição do arquivo fachada (*shp) sobre a imagem Mapeamento das patologias Produto Final (Mapeamento temático e análise quantitativa dos danos) FIGURA 5.30 – Representação esquemática simplificada dos principais procedimentos para correção e mapeamento das morfologias de alteração. 103 5.3.3 Ensaio Não Destrutivo Dentre alguns ensaios não destrutivos já mencionados no capítulo 2, mais precisamente no item 2.4 desta dissertação, o método escolhido e utilizado em campo foi o martelo de Schmidt (Figura 5.31). O ensaio consiste na aplicação de impacto sobre a superfície da rocha e a posterior medida do índice de reflexão de um corpo impulsionado por uma mola. Partes principais do esclerômetro 1- Embolo de impacto 2- Superfície do concreto a testar 4- Cursor para leitura 7- Barra guia do martelo 12- Mola de compressão 14- Massa do martelo 15- Mola de retenção 16- Mola para impacto 19 - A leitura do repique é feita em escala linear de 10 a 100. FIGURA 5.31 - Esquema do martelo de Schmidt. Fonte: Thomaz (2007). O índice de reflexão pode ser relacionado, por meio de uma curva empírica de correlação, com a resistência da superfície da rocha. Trata-se, portanto, de um ensaio que avalia a dureza superficial da rocha e a relaciona com sua resistência à compressão (Medeiros & Helene, 2007). O método pode ser empregado tanto de forma qualitativa quanto quantitativa. A forma qualitativa permite a comparação dos resultados de dureza superficial, obtidos a partir de diferentes locais de registro para uma mesma rocha. A análise realizada de forma quantitativa permite a estimativa da resistência à compressão simples da rocha a partir de diferentes locais 104 de registro dos dados e a correlação destes com a resistência de testemunhos permitem avaliar quanto às propriedades mecânicas da rocha. Na presente dissertação, os dados obtidos com o martelo de Schmidt devem ser entendidos como índices de esclerometria, uma vez que não foram realizadas correlações com a resistência à compressão simples para os gnaisses presentes na cantaria de Igreja da Glória. Portanto, os dados apresentados no capítulo 6 têm a finalidade de comparar dados de dureza superficial de gnaisses em diferentes posições na fachada. Em cada bloco estudado, fez-se uma malha quadrada regular de amostragem com 5 cm de lado. Em cada nó destas malhas, foi realizado um teste com o martelo de Schmidt. Os dados foram interpretados levando-se em consideração seus parâmetros estatísticos (valores de média, intervalo dos dados e coeficiente de variação) e o padrão de distribuição dos dados de esclerometria. Neste último caso, foram elaborados mapas de contorno com o “software” Surfer, usando a técnica da Krigagem para interpolação dos dados, que serviram para avaliar o quão degradado, do ponto de vista mecânico, se encontravam os blocos dos gnaisses. Como se verá no capítulo seis, a escala de valores dos índices de esclerometria é rigorosamente a mesma em todos os mapas, o que permitiu uma fácil visualização e comparação dos padrões de distribuição dos índices de esclerometria entre diferentes blocos nas fachadas. 5.3.4 Avaliação dos Danos A avaliação dos eventuais danos nas fachadas foi feita pela análise individual dos resultados de cada método não destrutivo empregado neste trabalho. Além disso, com a intenção de se realizar uma análise integrada dos dados obtidos com os três métodos, seus resultados foram confrontados, o que permitiu concluir sobre aspectos de interesse, tais como a posição geográfica da fachada, a altura dos blocos, áreas afetadas e as diferenças de comportamento se comparadas às partes externas e internas no pórtico. 105 6 RESULTADOS Neste capítulo são apresentados os resultados de interesse direto para a presente dissertação de Mestrado. Vale ressaltar que o primeiro conjunto de dados, relativos às condições ambientais, foi obtido da literatura e cedidas por órgãos específicos. Os demais são resultados da pesquisa de campo e interpretação em laboratório. 6.1 Condições Ambientais Nesta seção são apresentados dados de interesse direto para a análise da influência das variações climáticas observadas e medidas na Cidade do Rio de Janeiro, específicos da região central da cidade, tendo em vista que o objeto de estudo desta dissertação a igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro está aí situada. Procurou-se também abordar as variações climáticas específicas do ambiente local, pois estas podem ter influência sobre as deteriorações sofridas pelas rochas gnáissicas existentes no monumento. As alterações no balanço de energia são apontadas como fatores resultantes das transformações que o processo de urbanização gera na superfície a partir da disposição física dos prédios, do relevo da própria cidade cercada por vias de intenso tráfego, o que favorece o surgimento de condições ambientais específicas, as quais podem ser tratadas como microclimas urbanos. Dentre os condicionantes atmosféricos mais importantes para a análise do microclima urbano destacam-se a distribuição vertical da temperatura, a estabilidade atmosférica, a umidade, a nebulosidade, a precipitação, os ventos e a qualidade do ar (Mendonça & Monteiro, 2003; Maia & Mello, 2004). A partir dos dados de temperatura (Tabela 6.1) medidos na estação do Aterro do Flamengo, para o período de 1973 a 1990, foi possível analisar a distribuição anual das médias mensais, máximas e mínimas (Figura 6.1). Conforme pode ser observado na Tabela 6.1 e na Figura 6.1, as temperaturas do ar correspondentes ao município do Rio Janeiro são típicas das áreas litorâneas tropicais. As médias mensais situaram-se sempre acima de 20,0°C, onde a temperatura máxima média alcançou os 30,2ºC em fevereiro e, nos meses de junho e julho, a menor média anual máxima do período foi de 18,5ºC. 106 TABELA 6.1 - Temperaturas médias mensais, máxima e mínima, no período de 1973-1990. Mês Temperatura Temperatura Máxima Mínima Amplitudes Térmicas (0 C) (0 C) (0 C) Janeiro 29,5 23,0 6,5 Fevereiro 30,2 23,5 6,7 Março 29,5 23,5 6,0 Abril 28,0 22,0 6,0 Maio 26,5 20,5 6,0 Junho 25,2 18,5 6,7 Julho 25,3 18,5 6,8 Agosto 25,5 19,0 6,5 Setembro 25,0 19,0 6,0 Outubro 26,0 20,0 6,0 Novembro 27,5 21,5 6,0 Dezembro 28,5 22,5 6,0 ºc ºc FIGURA 6.1 – Médias mensais de temperatura do ar – Estação Aterro do Flamengo (INMET, 1997). 107 As Tabelas 6.2 e 6.3 apresentam os dados de precipitação média mensal, respectivamente para os períodos de 1931 a 1960 e de 1973 a 1990. TABELA 6.2 – Precipitação média mensal para o período de 1931 a 1960 (INMET, 2007). Mês Média (mm) Janeiro 136.5 Fevereiro 137.0 Março 133.1 Abril 116.2 Maio 72.9 Junho 43.2 Julho 42.5 Agosto 72.9 Setembro 53.2 Outubro 74.0 Novembro 97.4 Dezembro 126.9 TABELA 6.3 - Precipitação média mensal para o período de 1973 a 1990 (INMET, 2007). Mês Média (mm) Janeiro 114.1 Fevereiro 105.3 Março 103.3 Abril 137.4 Maio 85.6 Junho 80.4 Julho 56.4 Agosto 50.5 Setembro 87.1 Outubro 88.2 Novembro 95.6 Dezembro 169.0 108 Nos gráficos das figuras 6.2 e 6.3, respectivamente relativas aos períodos de 1931 a 1960 e 1973 a 1990, pode-se observar que, no período de verão, os índices pluviométricos médios foram sempre superiores a 100 mm. Neste período, as precipitações, segundo Argentiere (1957) e Blair & Fite (1969) (apud Mattos, 2006), são, principalmente, de origem convectiva, originárias de nuvens Cumulonimbus, que são formadas geralmente no final do dia, em função do intenso calor comum nos meses que correspondem ao verão, o que provoca uma grande evaporação da água da superfície. Precipitação Pluviométrica 180 Precipitação (mm) 160 140 120 100 80 60 40 20 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Mês FIGURA 6.2 - Média de precipitação mensal do período de 1931-1960 (INMET, 2007). Precipitação Pluviométrica 180 160 Precipitação (mm) 140 120 100 80 60 40 20 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Mês FIGURA 6.3 - Média de precipitação mensal do período de 1973-1990 (INMET, 2007). 109 Os meses de inverno são mais secos, com precipitações médias aproximadamente entre 40 e 80 mm. As precipitações da estação inverno são principalmente de origem frontal, em conseqüência da passagem de frentes frias originárias do extremo sul do continente e que geralmente são de fraca intensidade, embora se estendam por um período de 2 a 4 dias (Mattos, 2006). Segundo Lacerda & D‟Affonsêca (2007), a umidade relativa do ar apresenta valor médio anual de 78%, com picos de máxima em março (81%) e de mínima nos meses mais secos entre julho e agosto (75%). A partir dos dados cedidos pela FEEMA (2007), procedeu-se a análise da direção e velocidade dos ventos registrados na estação Centro, cuja representação gráfica pode ser observada na Figura 6.4. FIGURA 6.4 - Rosa dos Ventos (26/07/2000 a 30/11/2006), Estação Centro (FEEMA, 2007). 110 Observa-se a predominância de ventos fracos, com velocidades em sua maioria inferiores a 4m/s, e com direção predominante verificada para os setores sul-sudeste e noroeste. Outro aspecto de interesse para este estudo está relacionado com a insolação sobre a construção. Algumas patologias de degradação das rochas, especialmente algumas que levam à perda de massa, podem eventualmente estar relacionadas ao processo de desplacamento (ou formação de escamas) na superfície da rocha por fadiga térmica. A análise da radiação solar e a incidência desta sobre o objeto de estudo foram realizadas com o auxílio do programa Sketchup. Inicialmente, foi analisada a insolação para o período de 14 horários, de 05h30min às 18h30min, separados por intervalos de uma hora. Tomando-se como base o mês de janeiro de 2003, observou-se que, na fachada externa do pórtico voltada para a Marina da Glória (SE), há ocorrência da incidência solar a partir das 05h30min h até 10h30min, e após este horário deixa de estar iluminada (Figura 6.5). Durante a tarde, a fachada voltada para o Centro da Cidade (NW), começa a sofrer a incidência dos raios solares das 12h30min e término após as 18h30min. Esta fachada localizada a noroeste é a que se encontra exposta à radiação solar no mês de janeiro. FIGURA 6.5 – Iluminação solar da fachada da Marina da Glória (SE) às 05h30 min da manhã do mês de janeiro. Conforme mencionado no capítulo 5 (Metodologia) foram analisadas as temperaturas relativas aos horários de 05h30min, às 18h30min, e buscaram-se os horários de maior temperatura. São eles: 12h30min; 13h30min e 14h30min. Esses horários foram tomados como referência para a análise da insolação crítica, ou seja, desejava-se localizar as regiões do pórtico de entrada mais iluminadas nos horários de maior temperatura. Há que se ressaltar que 111 não foram realizadas medidas de temperatura diretamente nas rochas e que, portanto, ao levar em consideração apenas a temperatura do ambiente, esta análise é apenas uma aproximação. Mesmo a apresentação de apenas três horários para cada mês do ano tornaria maçante a descrição da análise da insolação. Por este motivo, são apresentadas a seguir apenas as iluminações para a fachada voltada para o Centro (NW), considerada a mais crítica por receber o sol da tarde, para os meses de abril e setembro, ano de referência de 2007, nos horários de 12h30min (Figura 6.6), 13h30min (Figura 6.7) e 14h30min (Figura 6.8). (a) (b) FIGURA 6.6 – Exposição solar da fachada Centro (NW) às 12h30min para os meses de abril (a) e setembro (b) de 2003. 112 (a) (b) FIGURA 6.7 - Exposição solar da fachada Centro (NW) às 13h30min para os meses de abril (a) e setembro (b) de 2003. (a) (b) FIGURA 6.8 - Exposição solar da fachada Centro (NW) às 14h30min para os meses de abril (a) e setembro (b) de 2003. Das três figuras acima, pode-se perceber que as diferenças de iluminação entre os dois meses para os horários de maior temperatura são sutis, mas existem. Principalmente, nos horários de 13h30min e 14h30min, nota-se que a iluminação é maior para o mês de abril (mais próximo do verão). A observação da fachada interna do pórtico de entrada que está voltada para o Centro mostra que a área e altura iluminada são maiores no mês de abril. Outro detalhe interessante é que os dois pilares frontais do pórtico são mais iluminados do que os pilares junto às paredes da igreja. 113 A poluição do ar pode provocar a deterioração do material pétreo e de metais que compõem o conjunto arquitetônico da construção. Por este motivo, foram investigados dados da literatura que tratassem dos materiais particulados em suspensão, do dióxido de enxofre e do monóxido de carbono e também da composição química das águas das chuvas. A Figura 6.9 ilustra os níveis de concentração dos metais determinados nas amostras de material particulado em suspensão analisado por Carvalho (1999) para amostras coletadas em vários bairros da cidade, onde pode ser observado que, em termos porcentuais, as concentrações de ferro e zinco corresponderam a mais de 90% do total dos metais determinados. Figura 06 - Percentual de Ferro e Zinco presente nas Partículas Totais em Suspensão S. J. Meriti São Cristóvão Inhaúma Maracanã Centro Bonsucesso 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Fe Zn FIGURA 6.9 – Composição química do material particulado em suspensão em alguns bairros do Rio de Janeiro. Fonte: Carvalho (1999). O aumento do índice de contaminação atmosférica é o principal fator responsável pelas alterações sofridas na superfície da rocha resultante da ação decorrente dos processos intempéricos de origem química no ambiente construído. Os principais contaminantes são: o dióxido de enxofre e o monóxido de carbono, cujas concentrações monitoradas na Estação Automática do Centro são apresentadas nas figuras 6.10 e 6.11, respectivamente. Além desses, há que se destacar também a ação destrutiva dos cloretos e nitratos. 114 Figura 9- Concentrações Média Mensal de Dióxido de Enxofre 35 concentração (µg/m³) 30 25 20 15 10 5 0 abril maio junho julho agosto setembro outubro FIGURA 6.10 – Concentrações médias mensais de dióxido de enxofre. Fonte: Carvalho (1999). Figura 10 - Concentrações Média Mensal de Monóxido de Carbono Concentração (µg/m³) 12 10 8 6 4 2 0 abril maio junho julho agosto setembro outubro FIGURA 6.11 - Concentrações médias mensais de monóxido de carbono. Fonte: Carvalho (1999). Os veículos automotores aparecem como uma fonte bastante expressiva de monóxido de carbono e de hidrocarbonetos, apresentando uma contribuição significativa para os óxidos de nitrogênio e o dióxido de enxofre. As obras voltadas para a construção civil também contribuem de forma significativa e pontual para o aumento dos níveis de poluição por material particulado em suspensão (Maia, 2005). Os dados referentes à composição química da água das chuvas são de extrema importância, visto que as concentrações de íons Na+ e Cl- são dois principais indicadores da presença de aerossol de sal marinho durante os períodos de precipitação pluviométrica. A Figura 6.12 apresenta as concentrações médias de íons de sal medidas em quatro bairros da cidade. 115 100 90 Concentração (µeq L-1) 80 Na Cl 70 60 50 40 30 20 10 0 São Cristóvão Tijuca Centro Copacabana FIGURA 6.12 - Concentrações médias ponderadas pelo volume dos íons sódio e cloreto nas Estações da SMAC ( Maia & Mello, 2004) As concentrações médias de íons de sal apresentam a seguinte distribuição: Copacabana > Centro > Tijuca > São Cristóvão. Esta distribuição está diretamente relacionada aos fatores determinantes na concentração dos aerossóis de sal marinho na atmosfera, que são principalmente a distância entre o ponto receptor e o mar, o relevo e a direção dos ventos (Maia & Mello, 2004). Segundo Maia & Mello (2004), com base nas concentrações de médias ponderadas pelo volume, estima-se que 68 a 87% do SO4 -2 é excesso de SO4 -2 (Figura 6.13). A quantidade em excesso de sulfato presente na água das chuvas representa somente o sulfato decorrente da oxidação do dióxido de enxofre (SO2) na atmosfera, sendo excluído o sulfato oriundo do aerossol de sal marinho. A estimativa realizada pelos autores é de que pelo menos 45 a 70% do SO4 -2 total presente na chuva da cidade do Rio de Janeiro origina-se da oxidação do SO2 resultante da atividade antrópica existente no ambiente urbano. 116 FIGURA 6.13 - Concentrações médias ponderadas pelo volume de sulfato na água da chuva (barra completa), de excesso de sulfato (cinza claro) e de sulfato do aerossol de sal marinho (cinza escuro). Fonte: Maia & Mello. (2004). 6.2 Levantamento e Mapeamento das Morfologias de Alteração Nesta seção, são apresentados e discutidos os resultados do mapeamento das morfologias de alteração. A identificação sistemática e a cartografia dessas morfologias podem ser consideradas uma forma de investigação não destrutiva e muito útil para auxiliar na quantificação do dano. No caso das fachadas da Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro, a apresentação dos resultados e posterior análise dos dados serão feitas levando em consideração a orientação geográfica das fachadas e o posicionamento das rochas no pórtico da entrada principal, ou seja, se localizado na parte externa ou interna do mesmo. Como já mencionado no capítulo cinco (Metodologia), fez-se uso de um sistema de informação geográfica para armazenar, manipular e analisar os dados do mapeamento, sendo que os resultados de quantificação das áreas afetadas por cada grupo de morfologias ou por cada morfologia em particular foram obtidos com operações no ambiente SIG. A rocha utilizada como revestimento na Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro é um gnaisse quartzo-feldspático (Leptinito) e com estrutura folheada. Nota-se a presença marcante de granada alterada, resultante do processo de oxidação, ou seja, da passagem Fe+² para Fe+³. A rocha apresenta ainda feições de manchamentos ferruginosos abundantes que podem representar a alteração por percolação de água por fraturas e fissuras na rocha, 117 provavelmente ainda na jazida. Este fato indica que é possível que, à época da construção da igreja, as rochas já apresentavam algum grau de alteração. Com relação às patologias de alteração observadas, as mais graves no monumento pertencem ao grupo II, que corresponde à perda de massa ou material, provocada inicialmente pela formação de plaquetas e placas na superfície da rocha. O levantamento fotográfico e o posterior mapeamento das morfologias de alteração indicaram que o aparecimento de placas e plaquetas (Figura 6.14) na superfície da rocha apresenta a seguinte característica: o aparecimento de cicatrizes de forma arredondada, cujo processo tem início a partir do empolamento progressivo e no conseqüente desprendimento da camada superficial da rocha; após esta perda, pode ser observado o aparecimento de uma área de material pulverulento. (a) (b) FIGURA 6.14 - Aparecimento de plaquetas (a e b) na base dos pilares externos e voltados para sudeste. Foto: Silva (2006). 118 Outra patologia identificada nas superfícies das rochas são as pertencentes ao grupo III, que corresponde às alterações cromáticas e depósitos superficiais. É visível a presença de películas, manchas e depósitos superficiais (Figura 6.15). Estas morfologias encontram-se distribuídas por toda a parte superior e também na base da edificação, com maior incidência nas áreas internas do pórtico, como será visto no resultado do mapeamento das morfologias de alteração (Tabela 6. 12). Na parte interna, há um provável acúmulo de água durante os períodos de precipitação e onde a evaporação é mais lenta, ou seja, onde a incidência dos raios solares é menor. FIGURA 6.15 - Películas e machas localizadas na fachada sudeste. Foto: Silva (2006). O pilar interno localizado no lado Marina da Glória, com orientação geográfica da fachada voltada para o Centro (NW) é um dos principais exemplos correspondentes ao processo de erosão (Figura 6.16). A causa deste processo erosivo é, possivelmente, resultante da ação conjugada dos processos de intemperismo químico-físico e da ação dos ventos predominantes NW, que carreiam aerossol marinho e material particulado, que pode ser depositado por via úmida e seca sobre a superfície da rocha. 119 FIGURA 6.16 - Erosão encontrada no pilar, posicionado no lado da Marina da Glória (SE) e voltado para NW. Foto: Barroso (2007). 120 Durante o mapeamento de campo, foram encontradas nas fachadas morfologias que correspondem à presença de vegetação superior e colonização biológica (Figuras 6.17 e 6.18). Vale ressaltar que, embora identificadas, durante o levantamento fotográfico, essas feições aparecem em área muito pequena (vegetação superior) ou por não serem visíveis nas imagens usadas como base para o mapeamento das fachadas (colonização biológica). Neste último caso, as colonizações foram vistas com freqüência sob as plaquetas nas fachadas. FIGURA 6.17 - – Presença de vegetação superior nas juntas da cantaria. Foto: Silva (2006). FIGURA 6.18 – Observar musgos abaixo de superfície de plaquetas. 121 Os resultados provenientes da ação antrópica também foram mapeados, dentre os quais destacam-se a quebra da rocha na fachada frontal (NE), observada na figura 6.19, e manchas de grafite próximas à portada principal da igreja (Figura 6.20). FIGURA 6.19 - Quebra da rocha por ação antrópica. Foto: Barroso (2006). FIGURA 6.20 - Vista da fachada NE, pichada. Foto: Hue (2004). 122 Na fachada SE (voltada para a Marina da Glória) pode se observar a distribuição espacial das patologias na área total da fachada, que corresponde a 134.500 cm². Na tabela 6.4 estão listados os porcentuais de ocorrência (freqüência absoluta) de cada patologia. Deve-se ressaltar que a soma destas freqüências (10,8%) não é exatamente a área afetada, trata-se apenas de uma aproximação, pois pode ser observado na figura 6.21 que há superposição das áreas das diversas patologias. Portanto, a área de fato afetada por alteração deve estar sobreestimada. TABELA 6.4 – Freqüência absoluta de ocorrência das morfologias de alteração na fachada externa de SE (voltada para a Marina da Glória) MORFOLOGIAS MAPEADAS ÁREA DE FREQÜÊNCIA ABSOLUTA OCORRÊNCIA (cm2) (%) Tinta 13,91 0,01 Descolamento 48,32 0,04 Fissura 69,36 0,05 Colonização Biológica 82,79 0,06 Esfoliação 80,46 0,06 Lacuna 103,26 0,08 Remoção Antropogênica 136,20 0,10 Placa 197,65 0,15 Mancha 1.157,34 0,86 Plaqueta 2.123,76 1,58 Erosão 2.685,59 2,00 Película 7.762,93 5,77 14.461,57 10,8 TOTAL 123 FIGURA 6.21 – Morfologias de alteração observadas e mapeadas na fachada externa de SE (voltada para a Marina da Glória). 124 A fachada externa NW (voltada para o Centro) apresenta área total de 136.600 cm². A tabela 6.5 relaciona as morfologias mapeadas e suas freqüências absolutas, bem como a área aproximada da fachada afetada pelas morfologias de alteração. TABELA 6.5 - Freqüência absoluta de ocorrência das morfologias de alteração na fachada externa de NW (voltada para o Centro). MORFOLOGIAS MAPEADAS ÁREA DE FREQÜÊNCIA ABSOLUTA OCORRÊNCIA (cm2) (%) Fratura 29,61 0,02 Tinta 54,72 0,04 Fissura 59,83 0,04 Esfoliação 80,90 0,06 Descolamento 78,52 0,06 Placa 206,92 0,15 Lacuna 236,27 0,17 Remoção Antropogênica 260,99 0,19 Depósito superficial 289,84 0,21 Plaqueta 1393,25 1,02 Erosão 1613,34 1,18 Película 4248,90 3,11 8.553,08 6,3 TOTAL Como se depreende da tabela 6.4, a morfologia mais freqüente nesta fachada é a película, pertencente ao grupo III. Nota-se que a área afetada é menor do que aquela da fachada voltada para SE (voltada para a Marina da Glória). A figura 6.22, apresentada a seguir, ilustra a distribuição das diversas morfologias de alteração mapeadas. 125 FIGURA 6.22 - Morfologias de alteração observadas e mapeadas na fachada externa de NW (voltada para o Centro). 126 A quantificação das áreas de ocorrência das morfologias de alteração observadas na fachada externa frontal, orientada para NE e com área total de 208.233,54 cm2, é apresentada na tabela 6.6. TABELA 6.6 - Freqüência absoluta de ocorrência das morfologias de alteração na fachada externa frontal (voltada para NE). MORFOLOGIAS MAPEADAS ÁREA DE FREQÜÊNCIA ABSOLUTA OCORRÊNCIA (cm2) (%) Vegetação (*) 0,00 Tinta 19,92 0,01 Fratura 47,72 0,02 Alveolização 90,59 0,04 Placa 155,46 0,07 Fissura 297,92 0,14 Lacuna 374,46 0,18 Esfoliação 773,59 0,37 Remoção Antropogênica 881,81 0,42 Plaqueta 2940,08 1,41 Mancha 7232,93 3,47 Erosão 7595,19 3,65 Película 15698,28 7,54 36107,95 17,3 TOTAL < 0,01 (*) A morfologia vegetação aparece na tabela apenas para constar sua presença na fachada mapeada; porém, como foram usadas duas casas decimais, a área atribuída a esta morfologia ficou com valor zero. O mapeamento da distribuição de todas as morfologias de alteração na fachada frontal está ilustrado na figura 6.23. 127 FIGURA 6.23 - Morfologias de alteração observadas e mapeadas na fachada externa frontal – NE. 128 Também foram analisadas e mapeadas as fachadas internas do pórtico da entrada principal da igreja. Essas áreas são, em realidade, pilares e o objetivo de mapeá-los foi verificar se o fato de estar em um pouco mais abrigados trouxe como conseqüência diferentes estágios de alteração e/ou formas de degradação. A fachada interna, localizada no lado da Marina da Glória e voltada para a porta principal da igreja, tem sua face orientada para SW. Este pilar tem uma área de 54.100 cm2. A tabela 6.7 relaciona as morfologias de alteração, as respectivas áreas na fachada e seus porcentuais de ocorrência. A distribuição das morfologias de alteração está ilustrada na figura 6.24. TABELA 6.7 - Freqüência absoluta de ocorrência das morfologias de alteração na fachada frontal interna, localizada no lado da Marina da Glória e voltada para porta principal da igreja (SW). MORFOLOGIAS MAPEADAS ÁREA DE FREQÜÊNCIA ABSOLUTA OCORRÊNCIA (cm2) (%) Fissura 85,19 0,16 Remoção Antropogênica 543,10 1,00 Plaqueta 2.243,29 4,15 Erosão 7.594,06 14,04 Mancha 12.227,80 22,60 Película 24.485,00 45,26 47.178,45 87,21 TOTAL 129 FIGURA 6.24 - Morfologias de alteração fachada frontal interna, localizada no lado da Marina da Glória e voltada para porta principal da igreja (SW). 130 A fachada localizada no lado do Centro e voltada para a porta principal da igreja tem sua face na parte interna do pórtico e está orientada para SW. Este pilar tem uma área de 53.900,00 cm2. A tabela 6.8 relaciona as morfologias de alteração, as respectivas áreas na fachada e seus porcentuais de ocorrência. A distribuição das morfologias de alteração está ilustrada na figura 6.24. TABELA 6.8 - Freqüência absoluta de ocorrência das morfologias de alteração na fachada frontal interna, localizada no lado do Centro e voltada para porta principal da igreja (SW). MORFOLOGIAS MAPEADAS ÁREA DE FREQÜÊNCIA ABSOLUTA 2 OCORRÊNCIA (cm ) (%) Fissura 23,33 0,04 Descolamento 19,53 0,04 Plaqueta 1.399,66 2,60 Erosão 3.010,10 5,58 Mancha 10.695,60 19,84 Película 14.085,32 26,13 29.233,55 54,2 TOTAL 131 FIGURA 6.25 – Distribuição das morfologias de alteração na fachada frontal interna, localizada no lado do Centro e voltada para porta principal da igreja (SW). 132 Outra fachada interna ao pórtico é aquela associada ao pilar posicionado no lado da Marina da Glória e face voltada para o Centro, ou seja, com orientação NW. A área desta fachada alcança 54.500 cm2 e as morfologias de alteração, bem como as áreas por elas ocupadas estão na tabela 6.9. A figura 6.26 ilustra a distribuição das morfologias de alteração no referido pilar. TABELA 6.9 - Freqüência absoluta de ocorrência das morfologias de alteração no pilar localizado no lado da Marina da Glória, interno ao pórtico e face voltada para o Centro (NW). MORFOLOGIAS MAPEADAS ÁREA DE FREQÜÊNCIA ABSOLUTA 2 OCORRÊNCIA (cm ) (%) Remoção Antropogênica 75,00 0,14 Fissura 109,00 0,20 Esfoliação 1.740,00 3,19 Películas 10.022,00 18,39 Plaquetas 10.300,00 18,90 Mancha 11.053,00 20,28 Erosão 20.046,00 36,78 53.345,00 97,9 TOTAL 133 FIGURA 6.26 – Distribuição das morfologias de alteração no alteração no pilar localizado no lado da Marina da Glória, interno ao pórtico e face voltada para o Centro (NW). 134 Finalmente, o último pilar mapeado é aquele interno ao pórtico, localizado no lado Centro e com face voltada para a Marina da Glória, ou seja, orientada para SE. A área total desta fachada é de 54.000 cm2. As morfologias de alteração aí observadas e suas respectivas áreas podem ser vistas na Tabela 6.10, enquanto a distribuição de cada morfologia está representada na figura 6.27. Uma síntese de todas as ocorrências das morfologias de alteração é apresentada na tabela 6.11 (fachadas externas) e 6.12 (fachadas internas ao pórtico). TABELA 6.10 - Freqüência absoluta de ocorrência das morfologias de alteração no pilar localizado no lado do Centro, interno ao pórtico e face voltada para Marina da Glória (SE). MORFOLOGIAS MAPEADAS ÁREA DE FREQÜÊNCIA ABSOLUTA OCORRÊNCIA (cm2) (%) Fissura 16,23 0,03 Descolamento 175,02 0,32 Remoção Antropogênica 1.256,73 2,33 Plaqueta 6.810,00 12,61 Mancha 15.384,31 28,49 Película 29.200,61 54,08 52.842,90 97,9 TOTAL 135 FIGURA 6.27 – Distribuição das morfologias de alteração no alteração no pilar localizado no lado do Catete, interno ao pórtico e face voltada para a Marina da Glória (SE). 136 TABELA 6.11 – Síntese das morfologias de alteração e suas áreas de ocorrência nas fachadas externas do pórtico da entrada principal da igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro. Grupos Patologias Fachada Centro (NW) (136.600 cm²) GRUPO I (134.500 cm²) Área Total das Fachadas Externas (cm2) - - - - Pulverização - - - - - - - - Escama - - - - Plaqueta 1.393,25 2.940,07 2.123,00 6.456,32 Lasca - - - - Placa 206,92 155,45 197,65 560,02 Esfoliação 80,90 773,59 80,46 934,95 Alveolização - 90,59 - 90,59 Antropogênica 260,99 881,80 136,20 1.278,99 Vegetação - 0,00187 - 0,00187 Erosão 1.613,34 7.595,19 2.685,59 11.894,00 Lacuna Perda Parcial Argamassa. de 236,27 - 374,45 - 103,26 - 713,98 - de - - - - 5.326,91 (4,0%) 21.929,72 Perda Total Argamassa. Total do Grupo II (208.233,53 cm²) Fachada Marina (SE) Desagrega. Granular Total do Grupo I GRUPO II Fachada Frontal (NE) 3.791,67 (2,8%) 12.811,14 (6,2%) 136 137 Grupos Patologias Fachada Centro (NW) (136.600 cm²) Total do Grupo IV (208.233,53 cm²) (134.500 cm²) Área Total das Fachadas Externas (cm2) - - 82,79 82,79 Eflorescência - - - - Pátinas - - - - 7232,92 1.157,34 8.390,26 Película 4248,90 15.698,28 7.762,93 27.710,11 Incrustação - - - - Crosta - - - - Depósito Superficial 289,84 - - 289,84 Tintas 54,72 19,92 13,91 88,55 9.016,97 (6,7%) 36.644,34 Total do Grupo III GRUPO IV Fachada Marina (SE) Colonização Biológica Manchas GRUPO III Fachada Frontal (NE) 4.593,46 (3,3 %) 22.951,12 (11,0%) Deformação - - - Fratura 29,61 47,71 - 77,32 Fissura 59,83 297,92 69,36 427,11 Descolamento 78,52 - - 78,52 345,63 (0,2%) 69,36 (0,0%) 582,95 36.107,95 (17,3%) 14.461,57 (10,7%) 59.122,61 167,96 (0,2%) TOTAL 8.553,09 (6,3%) 137 138 TABELA 6.12 – Síntese das morfologias de alteração e suas áreas de ocorrência nas fachadas dos pilares internos do pórtico da entrada principal da igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro. Grupos GRUPO I Patologias Marina, voltado à porta principal da Igreja (SW) 54.100 cm2 Centro, voltado para a Marina (SE) 54.000 cm2 Centro, voltado Área total dos pilares internos para a Igreja (SW) 53.900 cm2 Desagrega. Granular - - - - - Pulverização - - - - - - - - - - Escama - - - - - Plaqueta 2.243,29 Lasca - - - - - Placa - - - - - Esfoliação - - - Alveolização - - - Antropogênica 543,10 Vegetação - Erosão 7.594,06 Lacuna Perda Parcial Argamassa. - - - - - de - - - - - de - - - - - Total do Grupo I GRUPO II Marina, voltado para o Centro (NW) 54.500 cm2 Perda Total Argamassa. 10.380,45 (19,2%) 1.740,00 75,00 6.810,00 1.256,73 - 20.046,00 32.161,00 (59,0%) - 8.066,73(14,9%) 1.399,66 3.010,10 4.409,76 (8,2%) 20.752,95 1.740,00 1.874,83 30.650,16 55.017,94 138 Total do Grupo II 10.300,00 139 Grupos GRUPO III Patologias Marina, voltado para o Centro (NW) 54.500 cm2 Centro, voltado para a Marina (SE) 54.000 cm2 Centro, voltado Área total para a Igreja dos pilares (SW) internos 2 53.900 cm Colonização - - - - Eflorescência Biológica - - - - Pátinas - - - - Manchas 12.227,80 11.053,00 15.384,31 10.695,60 49.360,71 Película 24.485,00 10.022,00 29.200,61 14.085,32 77.792,93 Incrustação - - - - Crosta - - - - Depósito Superficial - - - - Tintas - - - - Total do Grupo III GRUPO IV Marina, voltado à porta principal da Igreja (SW) 54.100 cm2 36.712,80 (6,8%) 21.075,00(38,7 %) Deformação - - Fratura - - Fissura 85,19 Descolamento - Total do Grupo IV 109,00 - 85,19 (0,2%) 109,00 (0,2%) TOTAL 41.178,44 (87,2%) 53345,0 (97,9%) 44.584,92 24.780,92 (82,6%) - (46,0%) - 127.153,64 - - 16,23 23,33 233,75 175,02 19,53 194,55 191,25 (0,4%) 42,86 (0,1%) 428,3 52842,9 (97,9%) 29.233,54 176.599,88 (54,3%) 139 140 Como se depreende das tabelas acima, não foram observadas morfologias de alteração pertencentes ao Grupo I da classificação empregada, ou seja, aquelas relacionadas à perda de coesão. Além disso, a ocorrência das morfologias associadas ao grupo IV foi muito pequena, podendo-se mesmo considerá-las desprezíveis em área. O grupo de morfologias mais freqüente foi o III (alterações cromáticas e depósitos), em especial, as manchas e películas. As morfologias do grupo II também são muito freqüentes e preocupantes, uma vez que estas levam à perda de matéria. A análise dos dados porcentuais parece indicar que as fachadas internas ao pórtico estão mais alteradas (ou degradadas) do que as externas. Quanto à orientação geográfica, percebe-se que aquelas fachadas voltadas para SE e NE são as que mais sofreram alteração. 6.3 Cadastro de Testes da Matriz A seguir são apresentados os resultados do Cadastro de Testes da Matriz realizados para as rochas gnáissicas que revestem as fachadas da Igreja do Outeiro da Glória. Na tabela 6.13, os dados representam as médias calculadas para ensaios em cada fachada e são organizados de modo a se verificar que minerais estão mais alterados e, dessa forma, servir como guia para avaliação da alteração. Além disso, os dados foram organizados de forma a se tentar evidenciar uma eventual influência da orientação geográfica das fachadas no estado de degradação das mesmas, sobretudo no que se refere aos aspectos de insolação e ação de névoas salinas. A análise dos dados do cadastro de testes da matriz permite afirmar que, à exceção do pilar voltado para a Marina e voltado para igreja, orientação SW (última coluna da tabela 6.13), há uma tendência de maior alteração nas faces voltadas para SE, tanto interna quanto externa ao pórtico de entrada. Esses dados, no entanto, apontam para algumas diferenças pouco significativas na alteração dos gnaisses dada a localização na parte interna ou externa do pórtico. Como esperado, os minerais máficos como a biotita e a granada são aqueles que apresentaram os maiores índices de alteração, o que os torna bons marcadores do grau de intemperização da rocha. Os valores encontrados para o quartzo, em geral considerado inerte, estão associados principalmente à leve perda do seu brilho vítreo. 141 TABELA 6. 13 – Dados da avaliação macroscópica das alterações física e química do gnaisse. Posição Geográfica na Fachada EXTERNA INTERNA Minerais Frontal Marina Centro (NE) (SE) (NW) Centro, Marina, Centro, Marina, voltada voltada voltada voltada para a para o para a para a Marina. Centro. igreja. igreja. (SE) (NW) (SW) (SW) Biotitas 8,0 6,7 6,5 8,0 8,0 7,0 8,0 Granada 9,0 9,7 8,5 9,0 7,0 10,0 11,0 Plagioclásios 5,3 6,3 6,5 6,5 3,5 6,0 6,5 Quartzo 4,3 6,0 5,0 5,0 4,5 5,0 5,0 Total 26,6 28,7 26,5 28,5 23,0 28,0 30,5 + Feldspatos 6.4 Dados de Esclerometria Os dados de esclerometria foram obtidos a partir de medidas realizadas com o martelo de Schmidt na posição horizontal, visto que estavam sendo avaliados os blocos das rochas utilizadas nas paredes da edificação. Os dados estatísticos dos ensaios de esclerometria estão organizados na tabela 6.14 segundo o posicionamento das fachadas no pórtico (parte externa ou interna) e considerando a orientação geográfica da fachada (sentido geográfico do vetor normal à mesma). Os dados são apresentados de forma sistemática para cada bloco analisado e o número de medidas obtidas durante os testes, os valores mínimos e máximos, a média calculada a partir destes valores, o desvio padrão e o coeficiente de variação. 142 TABELA 6. 14 – Dados estatísticos dos ensaios de esclerometria. POSIÇÃO NO PÓRTICO ORIENTAÇÃO NA FACHADA (voltada para) DE MEDIDAS VALOR VALOR MÍNIMO MÁXIMO MÉDIA DESVIO PADRÃO COEF. DE VARIAÇÃO (%) 1.3 140 40 60 51,9 4,1 7,9 2.3 132 30 60 49,9 5,2 10,4 6.3 90 22 57 43,9 7,6 17,3 2.5 110 22 58 42,8 6,7 16,1 FRONTAL 3.1 60 20 50 40,5 6,0 14,8 (NE) 3.2 66 25 50 42,7 5,8 13,6 3.5 108 15 42 30,1 6,0 20,1 CENTRO 1.1 99 21 59 48,4 5,5 11,3 (NW) 3.1 66 20 47 36,0 4,8 13,4 MARINA* 2.2 132 20 50 35,5 7,2 20,3 (SE) 5.2 90 18 61 38,5 7,9 20,5 3.1** 184 18 52 36,8 6,2 16,8 3.2*** 187 20 59 49,4 5,7 11,5 5.1*** 190 18 52 37,3 7,2 19,3 209 10 54 35,7 8,2 22,9 91 12 49 33,2 7,9 23,8 MARINA (SE) EXTERNA NÚMERO BLOCO FRONTAL INTERNA (SW) CENTRO**** 2.1 (NW) 3.1 * Fachada interna no pórtico posicionada no lado Centro e voltada para a Marina da Glória (SE). ** Fachada interna no pórtico posicionada frontalmente no lado Centro e voltada para a entrada principal da Igreja (SW). *** Fachada interna no pórtico posicionada frontalmente no lado Marina da Glória e voltada para a entrada principal da Igreja (SW). **** Fachada interna no pórtico posicionada no lado Marina da Glória e voltada para o Centro (NW). 143 O valor médio das médias dos índices esclerométricos é significativamente mais baixo para as rochas na parte interna do pórtico (33,5) do que para as rochas na parte externa (42,9). Isso significa que, em termos médios, as rochas na parte externa estão mais preservadas com relação à resistência. Tal fato se deve provavelmente, a “não remoção” dos minerais alterados pelos agentes erosivos sempre mais atuantes na face externa ao pórtico. Os blocos mais altos nas fachadas externas apresentam menores valores de média, bloco 6.3 (fachada voltada para a Marina da Glória), bloco 3.5 (fachada frontal) e bloco 3.1 (fachada voltada para o Centro). Isso pode significar também algum efeito das névoas salinas ou degradação provocada por poluição, ou seja, agentes de degradação (sais ou quaisquer poluentes) cujo transporte e migração estejam associados à atmosfera. Nas fachadas internas do pórtico, essa tendência observada para as fachadas externas não é tão evidente. Com base nos índices esclerométricos, não está claro que haja diferenças significativas entre as fachadas, dadas suas diferenças de posicionamento e orientação geográfica. Além da tabela 6.14, que reúne os dados estatísticos dos ensaios de esclerometria, foram produzidos também mapas de contorno da distribuição dos valores de índice de esclerometria. Nesses mapas a interpolação foi realizada utilizando-se o software Surfer, com o qual se aplicou a técnica da krigagem. Nos mapas, ilustrados nas figuras 6.29, 6.31, 6.33, 6.35 e 6.37, podem-se ver também as dimensões de cada bloco de cantaria ensaiado (escala nas bordas do desenho) e a malha de amostragem dos índices de esclerometria (pequenas cruzes no desenho). A escala de tons de cinza, usada para representar os valores de esclerometria, é a mesma em todas as figuras o que permite comparar as distribuições de valores em todos os blocos testados. Deve-se notar que os valores mais baixos de esclerometria (menor resistência da rocha) estão representados por cores mais escuras, enquanto que os valores mais altos (maiores resistências) aparecem com cores claras nos mapas de contorno. Na figura 6.28, da fachada externa e voltada para a Marina da Glória, estão indicadas as localizações dos blocos onde foram realizados os ensaios com o martelo de Schmidt. É importante notar também que, na placa 6.3, em posição mais alta na fachada, predominam como morfologia de alteração as plaquetas e que a mesma encontra-se mais degradada do que as placas 1.3 e 2.3. Esse fato se reflete nos valores médios dos índices de esclerometria mais baixos (tabela 6.14) e nos mapas de contorno apresentados, que nitidamente apresentam cores mais escuras (menor resistência), como visto na figura 6.28. 144 FIGURA 6. 28 – Localização dos blocos testados com o martelo de Schmidt na fachada voltada para a Marina da Glória (SE) e as respectivas morfologias de alteração. 145 50 45 40 65 60 35 55 Altura (cm) 50 30 45 40 25 35 30 20 25 20 15 15 10 10 5 5 10 15 20 25 30 35 40 45 Largura (cm) 65 60 40 55 Altura (cm) 50 45 30 40 35 20 30 25 20 10 15 10 10 20 30 40 50 60 Largura (cm) 65 60 40 55 Altura (cm) 50 45 30 40 35 20 30 25 20 10 15 10 10 20 30 40 50 60 Largura (cm) FIGURA 6.29 – Mapas de contorno para os índices de esclerometria da fachada externa voltada para a Marina da Glória (SE). O mapa inferior corresponde ao bloco 1.3, o intermediário ao 2.3 e o superior ao 6.3. 146 Na fachada frontal e externa do pórtico (NE) pode-se verificar o mesmo resultado, ou seja, a média dos valores de esclerometria é menor para os blocos mais altos, com reflexos nos mapas de contorno dos dados de esclerometria. A figura 6.30 ilustra os blocos ensaiados e a figura 6.31 os mapas de contorno dos blocos 2.5 e 3.5. 147 FIGURA 6.30- – Localização dos blocos testados com o martelo de Schmidt na fachada externa frontal (NE) e as respectivas morfologias de alteração. 148 65 60 55 30 Altura (cm) 50 45 20 40 35 10 30 25 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Largura (cm) 20 15 10 50 45 65 40 60 55 35 Altura (cm) 50 45 30 40 25 35 30 20 25 20 15 15 10 10 5 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 Largura (cm) FIGURA 6.31 – Mapas de contorno dos valores de esclerometria dos blocos 2.5 (inferior) e 3.5 (superior) da fachada externa frontal (NE). 149 Na fachada externa voltada para o Centro (NW), ocorre o mesmo comportamento já descrito para as outras duas fachadas externas. A figura 6.32 ilustra os blocos ensaiados e a figura 6.33 a distribuição dos dados de esclerometria. FIGURA 6.32 - Localização dos blocos testados com o martelo de Schmidt na fachada externa voltada para o Centro (NW) e as respectivas morfologias de alteração. 150 65 30 60 55 25 Altura (cm) 50 20 45 40 15 35 30 10 25 20 5 15 10 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 Largura (cm) 45 40 65 60 35 Altura (cm) 55 50 30 45 25 40 35 20 30 25 15 20 15 10 10 5 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 Largura (cm) FIGURA 6.33 - Mapas de contorno dos valores de esclerometria dos blocos 1.1 (inferior) e 3.1 (superior) da fachada externa frontal (NE). 151 Na parte interna do pórtico, como mencionado anteriormente, não se verifica nitidamente o efeito da altura do bloco na fachada. Nas faces dos pilares internos voltados tanto para a Marina da Glória quanto para o Catete, os valores médios de esclerometria são muito semelhantes e parecem não depender da altura em que se encontram os blocos. A figura 6.34 ilustra o pilar interno localizado no lado Centro e voltado para a Marina da Glória (SE) e a figura 6.35 representa a distribuição dos valores de esclerometria para os blocos 2.2 e 5.2. FIGURA 6.34 - Localização dos blocos testados com o martelo de Schmidt no pilar interno do lado do Centro e voltado para a Marina da Glória (SE), e as respectivas morfologias de alteração. 152 45 40 65 35 60 55 Altura (cm) 30 50 45 25 40 35 20 30 25 15 20 15 10 10 5 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 Largura (cm) 55 50 45 65 60 40 55 50 Altura (cm) 35 45 30 40 35 25 30 25 20 20 15 15 10 10 5 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 Largura (cm) FIGURA 6.35 - Distribuição dos valores de esclerometria para os blocos 2.2 e 5.2 do pilar interno localizado no lado do Centro e face voltada para a Marina da Glória (SE). 153 A figura 6.36 ilustra o pilar interno localizado no lado da Marina da Glória e voltado para o Centro (NW) e a figura 6.37 representa a distribuição dos valores de esclerometria para os blocos 2.1 e 3.1. FIGURA 6.36 - Localização dos blocos testados com o martelo de Schmidt no pilar interno do lado da Marina da Glória e voltado para Centro (NW) e as respectivas morfologias de alteração. 154 65 35 60 30 55 Altura (cm) 50 25 45 20 40 35 15 30 10 25 20 5 15 10 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 Largura (cm) (a) 65 50 60 55 Altura (cm) 40 50 45 30 40 35 20 30 25 10 20 15 10 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Largura (cm) (b) FIGURA 6.37 - Distribuição dos valores de esclerometria para os blocos 2.1 (a) e 3.1 (b) do pilar interno localizado na Marina da Glória e face voltada para o Centro (NW). 155 6 .5 Análise dos Resultados Os grupos de patologias mais relevantes são aqueles dos grupos II (Perda de Matéria) e III (Alterações Cromáticas e Depósitos), os quais apresentam percentuais em relação à área total das fachadas externas do pórtico de entrada de, respectivamente, 4,5% e 7,6%. Dentre as morfologias do grupo II destacam-se fortemente as plaquetas (2,9% de todo o grupo) e as erosões (54% do total do grupo). Essas morfologias são particularmente preocupantes porque levam à perda de massa. Em relação à área externa total do pórtico, as morfologias do grupo II afetam cerca 4,5%. É importante salientar, que a continuidade desse processo pode levar, em casos extremos, à necessidade de substituição parcial ou integral dos blocos de cantaria. Nesse caso, ressalta-se que, na área de ocorrência do gnaisse (leptinito) na cidade do Rio de Janeiro, não mais se encontram pedreiras em produção. Atualmente, essas áreas são urbanizadas ou de proteção ambiental, portanto, não mais é permitida a explotação da rocha. O grupo III apresentou-se de forma mais freqüente nas fachadas, afetando cerca de 7,6% da área externa do pórtico. Dentre as morfologias observadas, destacam-se a formação de películas (75,8%) e manchas (22,9%), com relação ao total das patologias observadas no grupo. O Grupo IV (Fissuras, Fraturas e Deformações), o qual encontra-se nas fachadas externas do pórtico de entrada atinge uma área total de 582,95 cm². Percentualmente, isso representa cerca de 0,1% da referida área, ou seja, um percentual desprezível com relação a eventuais medidas preventivas de conservação. Em contrapartida, a fachada interna do pórtico de entrada atinge uma área total de 385,24 cm². Tal representa cerca de 0,2% da referida área, ou seja, um percentual também desprezível em relação a eventuais medidas preventivas de conservação. No entanto, os grupos de patologias mais relevantes são aqueles dos grupos II (Perda de Matéria) e III (Alterações Cromáticas e Depósitos), os quais apresentam percentuais em relação à área total das fachadas internas do pórtico de entrada de, respectivamente, 25,4% e 58,7%. Essas morfologias também merecem alguns comentários. Logo, é difícil afirmar que essas alterações cromáticas tenham se originado no ambiente construído, pois algumas feições 156 parecem indicar que as formas já estavam machadas na própria pedreira. Por esse motivo, não podem ser consideradas uma patologia propriamente dita. Em relação ao papel da orientação geográfica da fachada, o cadastro de testes da matriz não mostrou diferenças significativas de valores médios em relação às fachadas Marina (30,3) e Centro (29,5), embora a fachada frontal tenha apresentado valores médios ligeiramente inferiores. Uma sugestão para o aperfeiçoamento do método é calcular a média ponderada pelos percentuais de cada mineral presente na rocha, o que será possível de ser feito quando houver amostras disponíveis para a petrografia. A altura da fachada também impossibilitou uma coleta gradual dos dados que devem ser atribuídos como parâmetro de observação dos testes de cadastro matriz. Em quase todas as faces, com exceção da fachada interna ao pórtico posicionada no lado Centro direcionada para a Marina da Glória, os blocos mais altos apresentaram valores mais baixos, do que os mais próximos à base cuja face citada anteriormente, apresentou um valor médio um pouco inferior ao bloco 5.2. Tal fato se deve, a presença da patologia plaqueta. A direção e velocidade dos ventos de origem S-SE, pode ser um dos fatores contribuintes na degradação do pilar Marina posicionado a SE e voltado para o Centro a NW, visto que pode ser observado, através do mapeamento de danos, que esta é a face interna mais erodida dentre os três posicionamentos analisados. A deposição ácida acelera a corrosão de metais presentes no monumento em questão, favorecendo a atuação do intemperismo químico sobre a rocha (Saraiva et al., 2005). Além disso, o processo de deposição do material particulado pode resultar na alteração cromática da superfície da rocha (Sabbioni, 1995; Baptista Neto et al., 2006), que pode estar diretamente relacionada à atividade de colonização biológica. Tais modificações podem ser avaliadas de forma negativa ou não, tendo em vista o padrão de avaliação estabelecido pelo observador. Quanto à deposição de aerossóis salinos nas fachadas, estes podem contribuir de forma negativa para o aparecimento de eflorescência e subeflorescências salinas, que geralmente se depositam abaixo da superfície externa da rocha. Tal processo tende a se intensificar quando a argamassa utilizada como rejunte entre os blocos apresenta altos índices de cloreto. Logo, a presença de sais, tanto de origem marinha, quanto provenientes de materiais utilizados durante a construção ou reforma do ambiente construído, pode resultar no aparecimento de placas e plaquetas na superfície da rocha. 157 A insolação é um fator climático importante para a análise da degradação do edifício construído, visto que uma orientação geográfica desfavorável tende a comprometer o aspecto estético do monumento, e a incidência direta dos raios solares sobre a rocha pode favorecer a alteração cromática e o aparecimento de fissuras e fraturas, resultantes da dilatação térmica sofrida pela rocha durante a atuação do processo de intemperismo físico. Embora, a face mais exposta à insolação, seja a (NW, voltada para o Centro), esta apresentou menores evidências de alteração, em relação às demais. Durante a realização do presente trabalho pode-se observar, que a morfologia de alteração predominante encontrado no monumento foi à película, embora as faces mais alteradas sejam aquelas que receberam a menor incidência dos raios solares, portanto, tal fato faz supor, que as alterações observadas se devem principalmente a concentração de umidade. 158 7 CONCLUSÕES A metodologia aplicada através do SIG – Sistema de Informações Geográficas, visando à correção de fotos oblíquas, possibilitou uma análise quantitativa do mapeamento dos danos identificados nas fachadas externas e internas do monumento. Desse modo, o presente trabalho tornou-se uma importante contribuição, através da qual foi construído a partir de um exaustivo levantamento de campo um cadastro de apoio ao pesquisador que tenha por objetivo planejar ações de intervenção sobre os monumentos históricos, de modo geral, e em especial ao objeto de estudo desta dissertação - a Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro. As patologias mais relevantes são aquelas pertencentes ao grupo II (Perda de Matéria) e III (Alterações Cromáticas e Depósitos). Conforme, podem ser observadas nos resultados os valores parecem baixos e poderiam fazer supor que as degradações não estão ainda tão disseminadas pelas fachadas do monumento histórico. No entanto, algumas considerações se fazem necessárias. A medida em área não expressa integralmente as degradações, principalmente àquelas do grupo II, que podem se aprofundar na cantaria e provocar perda excessiva de material em profundidade, mesmo que sua projeção em área seja relativamente pequena. O Grupo III apresentou-se de forma mais freqüente nas fachadas da área externa do pórtico. Dentre as morfologias observadas, destacam-se a formação de películas e manchas com relação ao total das patologias observadas no grupo. Essas morfologias, também merecem alguns comentários. No caso das Manchas, da forma como foram definidas (mudanças de um ou mais parâmetros de cor), podem não significar degradações intensas e que, eventualmente, comprometam as propriedades das rochas. Considerando-se a face externa e às fachadas internas ao pórtico, o grupo de patologias I (Perda de Coesão), não foi observado em qualquer das suas fachadas. Com relação ao papel exercido pela orientação geográfica das fachadas na distribuição das morfologias de alteração, pode-se observar a partir do mapeamento realizado que a fachada voltada para a Marina da Glória localizada a (SE) foi a que se mostrou mais susceptível à perda de massa, principalmente, no que se refere às morfologias erosão e plaqueta. 159 Quanto às fachadas internas, a que apresenta maior susceptibilidade à perda de massa foi a que apresentou orientação geográfica direcionada a NE, ou seja, a fachada interna voltada para o Centro. Esse fato faz supor que o processo de insolação, provavelmente mais agressivo na fachada Centro, cuja iluminação solar ocorre na parte da tarde, onde tal ação não deve ser decisiva para a perda de massa observada. Por outro lado, os ventos do quadrante (SE) geralmente são responsáveis pelo transporte de aerossóis salinos, que podem estar diretamente associados a maior degradação da fachada voltada para a Marina da Glória. Desta forma, as deposições de material particulado por via úmida ou seca, decorrentes da circulação do ar e da direção e velocidade dos ventos, assim como a ocorrência de precipitações na cidade do Rio de Janeiro associadas ao acúmulo de gases de origem natural ou antrópica, resultantes da emissão de combustíveis fósseis, são os maiores contribuintes para o aumento da concentração de gases como SO2, NOX (NO+NO2) e NH3, responsáveis pela alteração da composição química da água das chuvas e das condições ácido-base dos aerossóis salinos (Na+e Cl-). Além disso, as deposições de material particulado também podem contribuir para o aparecimento de sujidades e depósitos superficiais sobre a rocha. Os dados de esclerometria não apresentam diferenças significativas de comportamento geomecânicos entre as fachadas. A partir dos valores médios obtidos, pode ser verificado que as rochas localizadas na parte externa do pórtico apresentam uma maior resistência à degradação, portanto encontram-se mais preservadas que os pilares localizados na parte interna. Tal fato se deve possivelmente a não remoção dos materiais alterados pela ação dos ventos e das chuvas na face interna. Em suma, a metodologia aplicada representa um avanço nos procedimentos que envolvem a conservação de bens de valor histórico e cultural, visto que a maioria dos recursos computacionais existentes ainda é subutilizada, e que em geral possibilitava apenas uma mera análise qualitativa da distribuição das patologias encontradas na superfície da rocha. A partir do método empregado foi possível obter resultados baseados em dados numéricos e no futuro esta metodologia servirá de ferramenta para os profissionais, em particular aos arquitetos conservadores, assim como aos geocientistas, que trabalham no campo da preservação do patrimônio cultural. 160 8 A REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARTA DE BURRA. 1980. Recuperável da Internet via <http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do;jsessionid=8D0F7D89B8C29EFD72 6A2117763D9A3 C?id =12372&retorno=paginaLegislacao> acessado em 05 Jan. 2007. ALVIM, S. P. F. Arquitetura religiosa colonial no Rio de Janeiro: Volume 2 – plantas, fachadas e volumes. Rio de Janeiro: Editora UFRJ/IPHAN/Prefeitura da Cidade do rio de Janeiro. 360p. 1999. ANDRADE, M. Anteprojeto para a criação do Serviço do Patrimônio Artístico Nacional, Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Brasília, n o 30. 2002. AUTODESK. AutoCAD 2000 – User´s Guide. Autodesk Inc.. 1999. AUTODESK. 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