Novembro / Dezembro v.1, n.2 (2013) ISSN: 2317-6466 CPMARK Caderno Profissional de Marketing - UNIMEP MUDANÇAS NO PENSAMENTO DO MARKETING: DUAS GRANDES INFLUÊNCIAS DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO ! Michele Cristina Inocência Roberto Silveira Braga Centro Interdisciplinar de Estudos em Criatividade (CIEC) ! RESUMO A estrutura do artigo se dá em quatro seções tendo por base as mudanças do pensamento do Marketing ocorridas face às mudanças na comunicação social. Os autores identificam três períodos: O primeiro período que arbitrariamente vai de 1900 a 1950 é marcado pelo estudo dos canais de distribuição e das funções do marketing. Nesse período, a Europa teve duas grandes guerras em seu território enquanto os Estados Unidos montava o seu “mercado nacional”. O segundo período, que vai de 1950 a 2000, foi marcado por uma explosão na produção de bens e serviços. Entrou fortemente em cena a indústria como a grande usuária da propaganda que, pela televisão de massa, mudava comportamentos e colocava os consumidores como o centro da atenção do Marketing. O terceiro período, que começa no ano 2000, estamos começando a viver. Um novo século, um novo milênio, e a inovação e a criatividade são as palavras da moda. A internet, com a sua interatividade de comunicação, traz inovações a cada ano que passa. O consumidor passa a ter poder sobre as empresas. Atualmente as empresas mais valiosas são empresas ligadas de alguma forma à tecnologia que sustenta a internet. ! Palavras-chave: 1. Marketing; 2. Teoria do Marketing; 3. Comunicação Social; 4. Internet; 5. Inovação; 6. Criatividade. ! ABSTRACT The structure of the paper is given in four sections based on the changes thinking marketing occurred in the face of changes in the media. The authors identify three periods: The first period will arbitrarily from 1900 to 1950 is marked by the study of the distribution channels and marketing functions. During this period, Europe had two major wars on its territory while the United States rode their "home market". The second period, going from 1950 to 2000, was marked by an explosion in the production of goods and services. Came strongly into play industry as the major user of propaganda, television, mass, changed behaviors and put consumers at the center of attention of Marketing. The third period, beginning in 2000, we are beginning to live. A new century, a new millennium, and innovation and creativity are the buzzwords. The internet, with its CPMark - Caderno Profissional de Marketing - UNIMEP 65 Novembro / Dezembro v.1, n.2 (2013) ISSN: 2317-6466 interactivity of communication, brings innovations with each passing year. The consumer shall have power over companies. Currently the most valuable companies are linked in some way to the technology that underpins the internet companies. ! Keys-Word: 1. Marketing; 2. Marketing Theory; 3. Media; 4. Internet; 5.Innovation.; 6. Creativity. ! ! 1 INTRODUÇÃO Este artigo tem por objetivos, apresentar as mudanças do pensamento do marketing em resposta a duas grandes mudanças no sistema de comunicação social. A primeira grande mudança foi o aparecimento da televisão como meio de comunicação de massa. A segunda grande mudança, a partir dos anos 90 nos Estados Unidos, foi o desenvolvimento da internet, também como meio de comunicação de massa, mas com características diferentes da televisão. O primeiro período, que começa em 1900 (data usada somente para efeito de periodização) e que vai até 1950 nos Estados Unidos, envolve os estudos a respeito dos canais de distribuição, ou seja, as instituições envolvidas nos negócios que produziam, distribuíam e vendiam as mercadorias para os consumidores, e como essas instituições funcionavam. As funções executadas pelo canal de distribuição ficaram conhecidas por funções de marketing e imortalizadas pelos 4 Ps de McCarthy. Essa foi a grande contribuição deste período. Basicamente nesse período, o marketing desenvolveu-se nos Estados Unidos, enquanto que a Europa teve duas grandes guerras em seu território. Uma das estratégias de guerra era destruir os meios de produção e distribuição de mercadorias. Não era possível montar um mercado comum europeu, coisa que só veio acontecer bem depois. O segundo período vai de 1950 a 2000. Nesse período, o pensamento do marketing, na sua expressão teórica e acadêmica, começa a CPMark - Caderno Profissional de Marketing - UNIMEP ser utilizado no Brasil, conforme Richers (1981), em 1954 se iniciava o Curso de Administração na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, no qual se ensinava marketing. O fenômeno que definiu esse período foi o advento da televisão como meio de comunicação de massa, que permitiu que as indústrias se comunicassem com os consumidores através da propaganda, criando um novo canal de marketing, fora do canal de distribuição tradicional. A força da propaganda na TV foi tão forte que marketing virou sinônimo de propaganda. Nesse período apareceram os estudos sobre o comportamento do consumidor, com a contribuição de outras ciências humanas, como psicologia, sociologia, antropologia, estudos sobre pesquisa de marketing e planejamento estratégico. Nesse período o Marketing Management (Administração de Marketing) é a escola dominante no Brasil. Essa escola vê o marketing sob o ponto de vista da indústria. Outra característica marcante desse período foi a difusão do marketing pelo mundo, através da sua ferramenta mais típica que eram os filmes de propaganda para televisão. O terceiro período, por uma questão de periodização, começa em 2000, pois significa 100 anos do início do marketing e 50 anos do período de difusão do marketing pelo mundo e não se sabe quanto tempo durará essa mudança, que se mostra muito mais profunda que a mudança causada pela televisão. O que já se sabe é que ela está acontecendo de uma 66 Novembro / Dezembro v.1, n.2 (2013) forma muito rápida e com rupturas com o passado. Assim, o grande fenômeno, nas atividades de negócios, está sendo o aparecimento e consolidação da internet como mais um canal de marketing, que realiza a comunicação (pesquisa de mercado, propaganda) e também a venda, bem como pode organizar os consumidores em redes sociais. Enquanto a televisão de massa era um canal de mão única, da indústria para os consumidores, a internet é um canal interativo que permite uma influência mútua entre empresa e consumidores. Outro ponto que mostra diferenças com o período interior, é que o marketing a partir dos anos 50 era basicamente o marketing das indústrias, enquanto que o uso da internet é preponderante no setor de serviços. Assim, há atualmente 3 canais independentes, com características peculiares e distintas: o canal tradicional de distribuição (que executa a logística) desenvolvido no primeiro período, a TV, que marca uma mudança significativa no marketing no segundo período e a Internet, que é o desafio atual para os teóricos do marketing. Logo, o desafio ao pensamento de marketing é compreender o fenômeno social, que tem se tornado muito mais complexo, através da relação de troca, estudando a interação entre produtores e consumidores. O pensamento do marketing vai além dos interesses dos produtores, está incorporando o interesse dos consumidores e talvez, possa vir a desenvolver ferramentas para a organização do consumo, já que todo o pensamento anterior, tanto do marketing como da administração, estava baseado na organização do trabalho. Logo a seguinte definição de marketing possa ser base de uma nova abordagem: "Marketing é olhar, pensar, analisar, estudar a sociedade através da relação de troca comercial que ocorre dentro da CPMark - Caderno Profissional de Marketing - UNIMEP ISSN: 2317-6466 estrutura definida pela divisão social do trabalho e pela tecnologia." (BRAGA, 2001) ! 2. PRIMEIRO PERÍODO: ASPECTOS DA HISTÓRIA DO MARKETING E A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO NORTE AMERICANO No primeiro período (1900 a 1950) a Europa viveu duas guerras que produziram, através da destruição (de fábricas, meios de transporte, etc.), um colapso na distribuição de produtos, gerando, por exemplo, escassez e racionamento de alimentos, enfim, desestruturando o mercado e não contribuindo para a formação de um ambiente de negócios que produzisse conhecimento de marketing. Por outro lado, nesse período, os Estados Unidos estavam preocupados com as atividades de negócios, que ocorriam nos canais de distribuição de produtos, principalmente produtos agrícolas, face ao que se pode chamar de "desenvolvimento do mercado nacional norte-americano", resultado da crescente complexidade dos canais de distribuição necessários para atender o crescimento das cidades. O fato dos Estados Unidos não envolver seu território em guerra, contribuiu com o ambiente de negócios, que viabilizou a construção de teorias de marketing que procuravam explicar o funcionamento dos canais de distribuição e, consequentemente, entender o funcionamento do mercado. Esse é o motivo que explica que quase todo o conhecimento de marketing, nesse período, foi produzido nos Estados Unidos. A definição de marketing, de 1960, da American Marketing Association, publicada no seu glossário de termos de Marketing, era: "The performance of all the business activities which direct the flow of goods and services from producer to consumer", e refletia claramente a preocupação com os canais de distribuição no período de 1900 a 1950. (AMA, 1960) 67 Novembro / Dezembro v.1, n.2 (2013) Voltando à perspectiva histórica, foi no início do século XX, que o termo marketing passou a ser utilizado sistematicamente, como resultado de um momento histórico da sociedade norte-americana, para entender, organizar e melhorar as práticas comerciais e para enfrentar os problemas cotidianos relativos às trocas sociais que ocorriam no que se chamava de mercado. (BRAGA, 2001) Porém, o que se conhece como marketing surgiu aos poucos, conforme apontou Fullerton (1988), das atividades práticas do comércio desde meados do século XVIII. Porém, como disciplina universitária, relata-se que em 1898 tem-se a primeira Universidade de Comércio na Alemanha e, em 1902, o primeiro curso de marketing nos Estados Unidos. Aqui no Brasil, o marketing na sua expressão teórica, conforme Richers (1981) começou com os primeiros cursos de administração na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas em 1954, já no segundo período (1950 – 2000) da nossa divisão didática. Sheth (1988), no livro Marketing Theory, classificou o pensamento do marketing em 12 “escolas”, cada qual com seu particular ponto de vista. Sheth analisou e avaliou os principais textos de marketing que foram escritos nos Estados Unidos desde o aparecimento do marketing, como disciplina independente e desmembrada da economia, até cerca de 1988. Sheth propõe uma matriz 2x2 considerando a dicotomia das duas perspectivas básicas, ou seja, a dicotomia econômico/ não econômico e interativo/ não interativo, agrupando o pensamento do marketing em 12 escolas, conforme quadro 1. ! ! ! ! ! ! ! CPMark - Caderno Profissional de Marketing - UNIMEP ISSN: 2317-6466 Quadro 1. Escolas do pensamento do marketing PERSPECTI NÃO VA INTERATIVA INTERATIVA Econômica Commodity, Functional, Regional Institutional; Functionalist., Managerial Não Econômica Buyer behavior, Organizational Activist, dynamics. Macromarketing Systems. Social exchange Fonte: Sheth (1998) ! Voltando à construção histórica do pensamento do marketing nos Estados Unidos, foi no período de 1900 – 1950 que surgiram os pioneiros na construção do pensamento do marketing, os quais, basicamente pertencem a quatro escolas. A escola Institucional (o ponto de vista institucional); a Commodity (o ponto de vista das mercadorias); a Funcional (o ponto de vista das atividades e funções) e a Regional (o ponto de vista da localização do varejo). A escola Institucional, foca na compreensão das instituições (intermediários) que executam as funções necessárias para mover os produtos dos consumidores para os produtores. (SHETH, 1988) O estudo dos canais de distribuição surgiu da percepção dos consumidores que consideravam que o preço pago no varejo para produtos agrícolas era injustificavelmente alto. Em resposta à crescente insatisfação dos consumidores com os preços nas grandes cidades e com os atacadistas (atravessadores) e varejistas, muitos teóricos decidiram avaliar as funções e eficiência das organizações envolvidas no transporte e transformação do 68 Novembro / Dezembro v.1, n.2 (2013) fluxo de produtos do produtor para o consumidor. (SHETH, 1988) Weld em 1916, em seu livro The Marketing of Farm Products, defende a eficiência do canal de distribuição, a solução da questão era achar a mais econômica combinação de funções. (SHETH, 1988) Em 1923 Butler, em seu livro Marketing and Merchandising, coloca que a grande função dos intermediários é criar utilidade para produtores e consumidores, e que há 4 tipos de utilidade: a utilidade elementar, a de forma, a de lugar e a de tempo. Os intermediários produzem as utilidades de tempo e lugar, pois eles transportam os produtos do produtor ao consumidor e colocam à disposição dos consumidores na ocasião em que eles necessitam. (SHETH, 1988) Nas décadas de 1930 e 1940 muitos autores contribuíram para o estudo das instituições de marketing como Breyer, Converse, Duddy, Huegy e Revzan. (SHETH, 1988) Uma segunda linha de pensamento, a Commodity, foi a que se concentrou no objeto das transações, ou seja, no chamado produto, mercadoria, aquilo que era produzido pela crescente industrialização e não basicamente os produtos agrícolas. A questão era que, quanto mais crescia a produção da indústria, mais mercadorias deveriam ser colocadas no mercado. A ideia era desenvolver um sistema de classificação baseado nas características dos produtos ou dos objetos de troca, no sentido de melhorar as vendas dos produtos na prática. A contribuição para o pensamento teórico veio de Parlin (1912), Copeland (1923), Rhoades (1927), Aspinwall (1958), Holbrook e Howard (1977), Enis e Roering (1980) e se baseava em demonstrar que, se os produtos pudessem ser classificados em categorias de um sistema racional, poderiam ser estabelecidos os procedimentos de marketing deveriam ser adotados. Pretendia-se CPMark - Caderno Profissional de Marketing - UNIMEP ISSN: 2317-6466 construir um Marketing Cookbook. (SHETH, 1988) A terceira linha de pensamento, a Funcional, foi a que se concentrou nas atividades necessárias para executar as transações, ou seja, tais atividades são conhecidas como funções de marketing. O primeiro texto é de Shaw (1912), que defende os atacadistas e intermediários como úteis ao processo de distribuição de mercadorias colocando as suas funções gerais: repartir o risco; transporte e armazenagem dos produtos; financiamento da operação; venda (incluindo a comunicação de ideias a respeito do produto); montagem, classificação e redespacho. (SHETH, 1988) Weld em 1917 afirma que as funções de marketing não são só executadas pelos atacadistas e intermediários. Em 1935 Ryan achou 52 funções diferentes que foram propostas por vários autores de marketing. Essa lista implica 2 questões gerais: Qual função geral adiciona valor (utilidade) e que tipos de funções só aumentam os custos da distribuição. (SHETH, 1988) Na resposta a essas duas questões os autores estavam falando de 5 funções genéricas que agregam valor: 1. Montagem, 2. Classificação, 3. Padronização, 4. Transporte e 5. Venda e de duas funções que agregam custo: 6. Assumir riscos e 7. Financiamento. Em 1940 Fullbrook argumentou que as funções de marketing são como degraus, tarefas ou serviços para levar o produto do produtor ao consumidor. Em 1950 McGarry apresentou um sistema de 6 funções que foram a base dos 4 Ps de McCarthy, que era professor de pedagogia comercial, em 1960, baseando-se na evolução dos sistemas de classificação dos teóricos como Shaw, Weld, Ryan e especialmente McGarry, propôs os 4 Ps - Product, Price, Place and Promotion. Assim, quem ficou com a fama foi McCarthy, com seus famosos "Four Ps" conhecidos no mundo todo. (SHETH, 1988) 69 Novembro / Dezembro v.1, n.2 (2013) A quarta linha de pensamento, a Regional, foi a que se concentrou na regra de separação física entre consumidores e vendedores (varejo). Quanto um consumidor está disposto a se deslocar para comprar um produto. Por que ele vai a uma loja e não à outra? Como se explica o fluxo de produtos pelas diversas regiões geográficas que possuem diversas fontes e necessidades. Em 1931 Reilly publicou a Lei de Gravitação do Varejo que explica a atratividade das lojas de 2 diferentes cidades para uma pessoa que vive entre as duas cidades. Vaile, Grether e Cox (1952), Grether (1983) também contribuem para o pensamento da escola regional. Nos anos recentes há um movimento em estudar sofisticados modelos matemáticos para delinear regiões de comércio, comparações entre áreas, modelos para localização do varejo versus o censo demográfico e geográfico, etc. (SHETH, 1988) Assim, pode-se afirmar que no período 1900 – 1950, basicamente, os pioneiros estavam procurando entender o funcionamento dos canais de distribuição. Evidentemente que posteriormente a esse período o estudo dos canais de distribuição continuou a ser estudados. ! 3 SEGUNDO PERÍODO: PENSAMENTO DO MKT NO PERÍODO 1950-2000. ADVENTO DA TELEVISÃO E A CONTRIBUIÇÃO DE OUTRAS DISCIPLINAS O segundo período 1950 – 2000 foi marcado pelo advento da televisão como uma revolucionária mídia de massa, permitindo que as indústrias, que antes estavam restritas ao canal de distribuição como canal de comunicação, pudessem falar diretamente com os consumidores. A televisão era e é um canal de comunicação independente do canal de distribuição. Assim, a propaganda tornou-se a principal ferramenta do marketing e teorias de CPMark - Caderno Profissional de Marketing - UNIMEP ISSN: 2317-6466 marketing, pensadas a partir do ponto de vista da indústria, começaram a aparecer, sendo o Marketing Management a principal escola. Castells (1999) também defendeu que a televisão neste período se tornou o “epicentro cultural” da sociedade e, consequentemente, ferramenta de importante influência no comportamento e na relação do indivíduo com o espaço. O autor ainda coloca que o padrão mundial de comportamento, acerca do consumo da mídia era a segunda maior categoria de atividade depois do trabalho. Esse ponto de vista deve, entretanto avaliar o real papel da mídia na cultura, já que somos espectadores/ ouvintes e sua presença constante no dia a dia nos influencia. “ Vi v e m o s c o m a m í d i a e p e l a mídia.” (CASTELLS, 1999. p. 418) Além da influência da televisão, houve outro importante fator, que foi o crescimento da indústria de bens de consumo após o término da segunda guerra. A indústria norteamericana que estava produzindo, quase que exclusivamente ao esforço da guerra, pode reorientar sua produção para bens de consumo das famílias, notadamente a indústria automobilística. Assim, o desafio em abastecer o mercado com produtos industriais, trouxe a necessidade de se conhecer melhor o consumidor, trazendo ao pensamento do marketing conhecimentos produzido em outras disciplinas como, a sociologia, psicologia, antropologia e notadamente a administração. Quem adotou o ponto de vista da indústria foram os autores que Sheth (1988) agrupou sobre o nome de “Managerial”, ou seja, o Management Marketing (administrativo ou gerencial) traduzido como Administração de Marketing. Em 1957 Howard publicou o livro Marketing Management Analysis and Planning, editado no Brasil, em 1970, como Gerência de Marketing - Análise e Planejamento. É um livro voltado à administração. Esse livro de Howard e o 70 Novembro / Dezembro v.1, n.2 (2013) Managerial Marketing: Perspectives and Viewpoints de Kelley e Lazer, publicado em 1958, foram textos largamente usados nas universidades norte-americanas. (SHETH, 1988) Porém, os principais conceitos que fazem parte do marketing administrativo foram os de miopia em marketing de Levitt (1960), marketing mix de Borden (1964), diferenciação de produto e segmentação de mercado de Smith (1956), publicados em artigos para revistas especializadas. (SHETH, 1988) O conceito de marketing mix é importante na abordagem administrativa, pois integra as funções de marketing (os 4 Ps de McCarthy) com as tarefas administrativas da gerência de marketing. Mas, se por um lado, esses conceitos pertinentes à abordagem administrativa foram surgindo e distinguindo marketing de outras disciplinas como administração e economia, outro importante conceito da abordagem administrativa, o "conceito de marketing", foi objeto de especulação sem um fundamento nas práticas comerciais. Essa especulação parte da apresentação do marketing como algo novo e revolucionário, um dos autores que tiveram grande sucesso em apresentar o marketing de tal forma foi Keith, presidente da Pillsbury Company, que escreveu no Journal of Marketing o artigo ‘The Marketing Revolution’ em 1960 citado por Fullerton (1988). Keith estava enfocando a experiência vivida pela Pillsbury, porém, considerando-a como uma experiência típica e não particular e restrita. Keith considerava que todos os negócios estavam passando por uma revolução em seu cotidiano: a “Revolução do Marketing”. Para defender sua opinião, Keith imaginou que as companhias tinham vivido uma “Era da Produção” entre 1860 e 1930, caracterizada por uma ênfase na produção do que na distribuição ou venda. Nesse período o CPMark - Caderno Profissional de Marketing - UNIMEP ISSN: 2317-6466 desafio era aumentar a produção e desenvolver sua tecnologia. A partir de 1930 (após o colapso da bolsa em 1929), veio a “Era da Venda”, pois as mercadorias estavam "encalhando" no mercado, sendo que a ênfase das organizações era a "força de vendas" apoiada por pesquisa de mercado e propaganda. Por fim, em 1950 começava a “Era do Marketing”, caracterizada pela ênfase no consumidor. (SHETH, 1988) Keith estava "dourando" o "conceito de marketing" apresentado por McKitterick. ! [...] a principal tarefa da função do Marketing, em um conceito administrativo, não é somente ser habilidoso em fazer o consumidor corresponder aos interesses do negócio, mas também ser habilidoso em conceber e fazer o negócio corresponder aos interesses do consumidor. (McKitterick, 1957 apud Sheth, 1988) Essa inversão de foco também foi enfatizada por Kotler em 1967, em seu livro ‘Marketing Management’, para ele a questão fundamental é que o conceito de marketing substitui e inverte a lógica do conceito de vendas. Outro autor foi Stanton (1964) em seu livro ‘Fundamentals of Marketing’, na primeira edição brasileira do livro de Stanton (1980), que corresponde à 4ª edição americana (1975), pode-se ler: “O conceito de marketing é uma filosofia, uma atitude ou modo de pensar comercial, enquanto que marketing é um processo ou modo de agir comercial”. Em 1988 Fullerton, no artigo ‘How Modern is Modern Marketing? Marketing's Evolution and the Mith of the Production’, publicado no Journal of Marketing, considera que a estrutura constituída pela era da produção-vendas-marketing foi construída sobre um modelo de periodização catastrófico. As evidências da prática comercial são fortemente contra tal modelo. Um problema na discussão do conceito de marketing é que muitos textos, ou afirmam 71 Novembro / Dezembro v.1, n.2 (2013) que o marketing sempre existiu, ou afirmam que o marketing é característico dos tempos modernos, ou seja, é algo inédito, sem existência prévia, cujo desenvolvimento foi súbito com poucos antecedentes históricos. Fullerton (1988) argumenta que tanto um como outro modelo estão longe das evidências reais. O modelo do marketing como “revolução” exagera as diferenças entre as práticas comerciais modernas em relação às práticas do passado. O modelo do marketing como continuidade (por exemplo, sempre houve venda) esconde as diferenças. A discussão apresentada por Fullerton é muito relevante para a teoria do marketing; a questão é: em que medida as práticas comerciais, ao longo da história, foram se adequando ao momento histórico e em que medida o conhecimento foi sendo construindo para explicar tais práticas comerciais? Sempre há uma ligação entre o presente e o passado. Por exemplo, os criadores do primeiro supermercado se basearam nas ideias de selfservice (auto-serviço), cash and carry (pagar à vista e levar) e one-stop shopping (compra em um só lugar) já existentes na época. O modelo de Fullerton “rejeita a ideia de desenvolvimento (ou evolução) com melhorias”. Desenvolvimento traz mudanças que podem ser melhorias ou não. Tais mudanças serão melhorias dependendo do julgamento posterior, na aplicação ao processo de marketing das empresas ou pelo bem estar social. Não há na periodização (eras) de Keith evidências de que houve um contínuo de mudanças que foram promovendo melhorias no bem estar social por meio do marketing. Como pode ser visto, há uma grande diversidade de pontos de vista sobre o marketing decorrentes do seu caráter interdisciplinar. Historicamente o marketing surgiu no início do século XX como um desmembramento da economia. Foi ao longo do tempo absorvendo contribuições de outras disciplinas como ciências sociais, psicologia e comunicação e após a segunda guerra mundial CPMark - Caderno Profissional de Marketing - UNIMEP ISSN: 2317-6466 aproximou-se da administração com o surgimento da administração de marketing. Contudo, outras abordagens para o marketing foram surgindo. Segundo Di Nallo (1999), essa abordagem ‘semiótica do marketing’ seja talvez uma tentativa que não vem inteiramente da economia e das disciplinas empresário-organizacionais. Isto discute de forma mais profunda as raízes, ou seja, nas ‘interpretações do consumo’ vistas pela matriz antropológica, que visualiza objetos como sinalização e o consumo como comunicação. “Nesse sentido o consumidor não é mais predominantemente aquele conjunto de bens e desejos que o marketing tradicional quer satisfazer, mas um ser social que utiliza os objetos e o consumo para comunicar aos outros e si mesmo a sua própria visão de mundo". (Di NALLO, 1999) O marketing pode ser considerado uma ciência social de caráter interdisciplinar, que se utiliza das metodologias das ciências sociais e de comunicação e de disciplinas relacionadas como administração, psicologia, antropologia, sociologia, economia, entre outras. Embora as ciências sociais não reconheçam o marketing, seria fascinante se o fizessem, já que o marketing tem uma história e busca incessantemente por novos caminhos de pesquisa aplicada em Administração de Empresas, e isso implica mudança em relação à investigação científica que encontra no positivismo suas bases epistemológicas. (BURRELL E MORGAN, 1979; HABERMAS, 1963; PIRSIG, 1987; VERGARA, 1989) ! ! ! ! ! ! ! ! 72 Novembro / Dezembro v.1, n.2 (2013) 4. TERCEIRO PERÍODO: PRÁTICA DO MARKETING A PARTIR DO ANO 2000. A DIFUSÃO DA INTERNET E A COMUNICAÇÃO INTERATIVA No século XXI a economia está cada vez mais globalizada com a interligação de mercados, notadamente do mercado financeiro que a crise do subprime americano mostrou em 2008. Atualmente, a produção teórica do pensamento do marketing não se restringe aos Estados Unidos, apesar de continuar importante o pensamento norte americano, havendo produção teórica nos países emergentes como no Brasil. É um desafio analisar qual é o pensamento do marketing dominante nesse início de século. No século XX, o pensamento do marketing originou-se na economia, caminhou para a comunicação e para a administração e recebeu contribuições de muitas disciplinas. Após a contribuição de outras disciplinas no período de 1950 a 2000 entrase em um novo e período caracterizado por mudanças profundas tanto na oferta de produtos tecnológicos para a comunicação social, como notebooks, tablets, celulares, smartphones, como nos meios de comunicação social com a consolidação da internet como meio de comunicação interativo e independente das mídias tradicionais como redes de TV e de rádio, jornais, revistas, etc. A influência da internet e das redes sociais estão sendo sentidas em primeiro lugar na propaganda e nas práticas comerciais. No momento atual procura-se chamar de marketing digital essas práticas. Só que, no campo da internet, a prática do marketing se faz na base da tentativa e erro. Ninguém sabe como serão as mudanças de comportamento do consumidor em função das tecnologias de mobilidade, nem qual será o impacto dessas tecnologias nas empresas. O certo é que terá reflexos importantes no âmbito da teoria do marketing, mas que, provavelmente, levará uns 10 anos para que a teoria do marketing CPMark - Caderno Profissional de Marketing - UNIMEP ISSN: 2317-6466 possa desenvolver modelos que venham a compreender os novos fenômenos sociais. No caso do pensamento do marketing produzido no Brasil, a influência da internet ainda não se faz presente. Bertero et al. (1999) e Nicolini (2001) citados por Carvalho e Vergara (2002) comprovaram que grande parte da produção acadêmica, ao menos no Brasil seguem abordagens positivistas ou funcionalistas e que isso remete às preocupantes comparações das “escolas brasileiras a fábricas de gestores capitaneadas pela gerência científica, aquela precipitadamente preocupada em prescrever ações universais”, ao invés de abranger o fenômeno em si e tirar lições tanto teóricas quanto práticas da observação. Na objetividade está todo o pensamento positivista das ciências, dos negócios, e do marketing, segundo a filosofia de Comte, “o estado positivo caracteriza-se pela subordinação da imaginação e da argumentação à observação. Cada proposição enunciada de maneira positiva deve corresponder a um fato, seja particular, seja universal.” (COMTE, 1983) Comte (1983) afirma que o conhecimento positivo tem como característica a previsibilidade, ‘ver para prever’, lema da ciência positiva. É farta na literatura dos negócios ações de previsões a respeito de vendas, desenvolvimento econômico e outros. É o prever para prover. Ressalta-se que os artigos publicados no ANPAD até a sua 15ª edição (2011) são uma boa fonte de pesquisa para os autores interessados em discutir a construção do conhecimento em marketing, e tem sido utilizado como objeto de pesquisa. Lima (1999) citado por Vergara e Carvalho (2002) ainda sinaliza certa tendência dos acadêmicos brasileiros na “orientação positivista e de cunho eminentemente prescritivo em detrimento de métodos de orientação fenomenológica, de cunho notadamente interpretativo” que resulta em 73 Novembro / Dezembro v.1, n.2 (2013) grande parte no problema em adotar a observação dos fenômenos como prática importante em campo, e mais potencialmente, estudos em Marketing. Já Sauerbronn, Cerchiaro e Ayrosa (2011), ao discutirem métodos alternativos de pesquisa em Marketing, afirmaram que a abordagem interpretativista ganhou maior atenção ao longo do tempo, e frequentemente é vista como alternativa de produção de conhecimento. Para os autores, este aspecto pode ser mais bem visualizado na segunda metade da década de 80, quando alguns pesquisadores começaram a ver a importância de uma abordagem alternativa para a compreensão de fenômenos de consumo e no Brasil mais enfaticamente a partir do ano 2000. Cerchiaro (2003) aferiu que por volta de 75% dos artigos publicados no ENANPAD (2002) fizeram uso de algum método quantitativo. Compartilha-se da percepção de Sauerbronn, Cerchiaro e Ayrosa (2011) de que exista uma abordagem metodológica dominante, já que existe razoável temor entre os acadêmicos de marketing no Brasil em “adotar uma perspectiva ontológica, epistemológica e metodológica alternativa à dominante com vistas à ‘publicabilidade’ de seus estudos”. Sauerbronn, Cerchiaro e Ayrosa (2011) observam que no escopo do marketing são pouco frequentes os estudos que se destinam a uma reflexão teórica que não apenas sustente, mas estabeleça a produção de conhecimento. Alderson (1965) advertiu sobre a necessidade de os teóricos de marketing romperem com o passado e desenvolverem uma autêntica teoria de marketing. Para se conceber uma ciência, segundo argumentam vários filósofos da ciência, Popper (1975) em particular, é imprescindível, como primeiro passo, responder à questão básica de qual é seu objeto de estudo. (TOLEDO et al, 2008) Moura, Rossi e Pinto (2009) discutiram a utilidade e utilitarismo em Marketing, a CPMark - Caderno Profissional de Marketing - UNIMEP ISSN: 2317-6466 inseparabilidade de ciência e técnica na modernidade. A ‘utilidade’ da ciência, deve ser interpretada como um conceito amplo, extenso e aberto. Já o utilitarismo é uma vertente filosófica baseada no fundamento ou princípio da utilidade, e assim, resultado da noção de utilidade. No ensaio, os autores afirmam que as ciências são dotadas de utilidade, que servem para delinear, perceber, elucidar e antecipar fenômenos. Vieira et al (2002), ao investigar as influências nas pesquisas acadêmicas no Brasil sob a ótica da Teoria Crítica proposta por Habermas (1971), discutiram os limites e áreas que o marketing abrange, e questionaram a forma que suas teorias vem sendo desenvolvidas e também a contribuição que ela pode fazer. Acerca da teoria crítica, os autores observam que ela rejeita as abordagens científicas e funcionais da natureza humana, apreciando abordagens interpretativas do comportamento humano que precisam de contexto num continuum, com intuito de evitar o “etnocentrismo pelo qual todas as outras culturas são vistas e julgadas pelas suas próprias (do pesquisador).” (VIEIRA et al, 2002). Held (1980) citado por VIEIRA et al (2002) diz respeito a valores e foca as linhas básicas, ou premissas que estabelecem pontos positivos e negativos e ainda mostram os objetivos por trás dos pontos não detectados por completo pelo pensamento dominante. Desta forma, a abordagem crítica voga pela valorização e potencialização do indivíduo e a teoria crítica emancipa a consciência coletiva e rejeita as abordagens científicas e funcionais. Críticos do marketing (Brown et al., 1995 apud VIEIRA et al, 2002; Grönroos, 1994; Gummesson, 1994; Hirschman e Holbrook, 1992; Stern, 1998) afirmam ser indispensável “desconceitualizar, reconceitualizar e a partir de então, universalizar as categorias analíticas do Marketing, repensar a estrutura. 74 Novembro / Dezembro v.1, n.2 (2013) Acerca da contribuição da teoria crítica ao marketing, não se vê essa possibilidade, pois os conceitos de ambos são diferentes, e o detalhe é que o marketing nunca se propôs ser neutro, e sim, sempre manteve a proposta de elevar as vendas. (PETER; OLSON, 1983 apud VIEIRA et al, 2002). Os dados apresentados sobre a produção do pensamento do marketing no Brasil revelam que o pensamento acadêmico tem uma forte presença, mas que nem sempre está acompanhando as mudanças na prática do marketing. De certa forma, primeiro vem às mudanças na prática de mercado e só depois que a reflexão teórica examina o impacto de tais mudanças. Assim, o que hoje se chama de marketing digital é composto por práticas de ações de marketing na internet. Provavelmente as práticas vencedoras, que se imporem, é que serão objeto de conceituação pela teoria do marketing. O modelo Produtor-Consumidor elaborado por Braga (2001) visa entender as atuais relações entre marketing e sociedade, propondo uma nova visão das relações de troca no mercado, ou seja, do objeto de estudo do marketing. Tal modelo vem a ser uma contribuição para a discussão da teoria do marketing. A relação de troca, como base do pensamento de Marketing e o modelo Produtor-Consumidor, como um esquema conceitual, permitem entender a influência de uma parte na outra, ou seja, é aberto à interatividade. Troca comercial é o ato de obter um produto (mercadoria e/ou serviço) desejado por alguém, oferecendo-se algo em contrapartida (geralmente dinheiro). O ponto básico é que a relação de troca tem dois lados, envolvendo, no mínimo, duas pessoas ou grupos, as quais se relacionam de um modo dialético, face à interdependência entre elas, ou seja, um lado não pode ser entendido sem o outro lado. Uma loja sem clientes não é uma loja, é um estoque. Assim, há uma CPMark - Caderno Profissional de Marketing - UNIMEP ISSN: 2317-6466 interdependência entre os dois intervenientes sociais: as organizações produtoras e as organizações consumidoras.” (BRAGA, 2001) Atualmente, esse fenômeno social é extremamente fundamental, pois se pode dizer que “se vive no mundo das trocas”, ou seja, as pessoas produzem muito pouco para si e assim, precisam obter através da troca quase tudo que necessitam. Compram-se desde mercadorias, serviços de cuidados pessoais, até serviços ligados a eliminar as “dores da alma”. O mundo das trocas exige que a maioria das pessoas faça renda (geralmente através do trabalho) para poder arcar com as despesas de consumo, ou seja, as pessoas estão nos dois lados da relação de troca. O primeiro lado é o da ‘produção especializada’, que é consequência da divisão social do trabalho determinada pela tecnologia. As organizações e pessoas se especializam em produzir determinados produtos (mercadoria e/ou serviço) com o objetivo particular da troca, e vão ao mercado para trocá-los por outro item que é o equivalente comum: o dinheiro. O outro lado é o lado das ‘necessidades diferenciadas dos consumidores’, tanto pessoais como organizacionais (BRAGA, 2001). ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! 75 Novembro / Dezembro v.1, n.2 (2013) ISSN: 2317-6466 ! Figura 1. Modelo produtor-consumidor. Relação de Troca Lado do Produtor (especialização) Organização da produção Produto Marketing MERCADO Logística Preço de Venda Lado do Consumidor (diversidade) Organização do consumo Dinheiro Necessidades - Benefícios Preço de Compra Comunicação Promoção TV Internet Redes Sociais Ponto de Venda Vendas Planejamento Estratégico de MKT Inovação (BRAGA. R. S. 2012) Informação/Aprendizado Complexidade do Consumo Acesso ao Produto Conveniência Comportamento do Consumidor Hábito de Consumo Divisão Social do Trabalho e Tecnologia Fonte: Braga (2012). ! O esquema gráfico é uma forma didática de apresentar os elementos presentes na teoria do modelo Produtor-Consumidor. O foco do modelo é a relação de troca (transação comercial) onde as pessoas (físicas ou jurídicas) aparecem nos dois lados, produtor (especialização do trabalho social) e consumidor (diferenciação de necessidade de consumo). O modelo Produtor-Consumidor considera as tradicionais ferramentas do marketing (4Ps) que os produtores usam para intervir no mercado, e correlaciona tais ferramentas com o comportamento do consumidor, ou seja, qual é o fenômeno que corresponde aos 4Ps (ferramentas do marketing) no lado do consumo. Isso cria 4 binômios: binômio Produto – Necessidades; binômio Preço de Venda - Preço de Compra; binômio Promoção – Informação e CPMark - Caderno Profissional de Marketing - UNIMEP Aprendizado e binômio Ponto de Venda – Acesso ao produto e conveniência. A observação da troca através dos binômios permite uma maior compreensão do próprio conceito de troca — que é o objeto de estudo do Marketing — e da ação dos agentes (produtor e consumidor) durante o processo. O binômio Produto – Necessidades é o principal, pois é o objeto da troca comercial que foi produzido exclusivamente para ser trocado. Do outro lado, o consumidor vai comprar por algum motivo. Esse motivo é o que o marketing chama de necessidade. O binômio Preço de Venda - Preço de Compra, diz respeito a um determinado produto. O consumidor cria na mente um preço de compra máximo, e o produtor apresenta um preço de venda e estabelece um preço de venda mínimo. O preço final, é o preço da transação, é uma característica do 76 Novembro / Dezembro v.1, n.2 (2013) contrato que diz respeito somente àquela transação, ou seja, o preço de compra é igual ao preço de venda naquela transação. O binômio Promoção – Informação e Aprendizado diz respeito ao processo comunicativo entre as partes. Os produtores querem vender e anunciam, dizem que tal produto está à venda por tal preço em tal lugar. A comunicação é o início do processo de venda. Do outro lado, os consumidores quando querem comprar buscam informações sobre preços dos concorrentes naquele mercado, buscam informações sobre produtos e como utilizá-los, bem como sobre os locais de compra. Com a internet, as empresas começaram a estabelecer uma comunicação interativa no intuito de obter dados para tudo o que for auxiliar nas ações de marketing, desde o desenvolvimento de novos produtos (cocriação) até inovações nos canais de comercialização. O binômio Ponto de Venda – Acesso ao produto e conveniência diz respeito aos locais onde os produtos estão à venda, por exemplo, na internet. Os produtores decidem onde os seus produtos serão oferecidos para os seus públicos alvos. Do outro lado, os consumidores preferem as compras mais convenientes, ou seja, o acesso ao produto mais fácil que necessite menos tempo e deslocamento para a compra, e que tenham condições comerciais flexíveis, crédito, etc. A relação de troca envolve do lado do produtor, a organização da produção e o planejamento estratégico de marketing. Do outro lado, envolve os hábitos de consumo, ou seja, a organização do consumo, que é um conceito que as empresas já estão querendo gerenciar. Por exemplo, os sites de busca na internet, como o Google, são uma forma de organização do consumo. A proposta de uma nova visão das relações de troca no mercado, ou melhor, uma evolução desta, tenta priorizar o enfoque das análises em torno da internet como canal de comunicação e de venda. Lembrando que, CPMark - Caderno Profissional de Marketing - UNIMEP ISSN: 2317-6466 inicialmente, a internet era centrada em dois aspectos básicos (correio eletrônico e consultas), e hoje vem consolidando importância significativa num terceiro segmento, ao ligar compradores e vendedores através do comércio eletrônico uma verdadeira evolução tecnológica, especialmente no modo como as empresas estão se relacionando com os seus clientes e eles com as empresas escolhidas. Hoje existe uma interessante ideia de interação, onde todo mundo se comunica com todo mundo, dos diversos objetivos da comunicação ao impacto significativo da vida pessoal; hoje é que a pessoa pode ser a produtora da sua comunicação e tem uma quantidade de meios de comunicação disponíveis. As pessoas estão deixando de ser passivas e se tornando protagonistas. Um exemplo que pode ilustrar essa nova visão nas relações de troca utilizando-se ferramentas, como a internet, está empresas que enquadram seus negócios como serviços e buscam envolver seus clientes em atividades de inovação, como a co-criação como forma de agregar valor e ganhar maior vantagem competitiva para a organização. Em termos de teoria do marketing, o conceito de organização do consumo envolve uma interação das empresas com os consumidores. A internet é o primeiro meio de comunicação social interativa, e pode proporcionar ações de marketing nesse sentido. O modelo produtor-consumidor ao proporcionar a visão simultânea das duas partes da relação de troca preserva a relação de troca como objeto de estudo do marketing. Há muito ainda para se pensar e compreender. ! 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este artigo objetivou mostrar as mudanças do pensamento do Marketing ocorridas face às mudanças na comunicação social nos três períodos identificados pelos autores, onde nos 2 primeiros consolidados em 77 Novembro / Dezembro v.1, n.2 (2013) teorias discutidas pelos estudiosos da área e seu impacto nas atividades de negócios. O que se está vendo hoje é a consolidação da internet que vai além de um canal de marketing, que comunica e vende, mas que também se relaciona com os consumidores em redes sociais, a televisão vista como canal de mão única, hoje divide espaço com a internet, um canal interativo onde o impacto é mútuo. Logo, o desafio ao pensamento de marketing é abordar o fenômeno social complexo, visto por meio da relação de troca que vai além dos interesses dos produtores e consumidores e talvez, possa vir a desenvolver novas ferramentas para a organização do consumo, já que todo o pensamento anterior, tanto do marketing como da administração, estavam ancorados na organização do trabalho. Focar a comunicação para um público alvo específico e altamente segmentado é um papel da rede social, um canal onde as organizações interagem com seus consumidores, e isso é acima de tudo um fator influenciador e seus membros se tornam formadores de opinião. (SAYON, 2008) Solis (2013) infere que a “influência não é popularidade e popularidade não é influência”, já que ela vem daquilo que sabemos. Influenciar é ser capaz de mudar um comportamento e colher resultados. O único alcance da influência é o "efeito", todo o resto é apenas hierarquia social. A mídia social revolucionou a forma como as pessoas se conectam, aprendem e se comunicam, portanto, o tal alcance ou seus efeitos não pode ser desfeito. Mais notavelmente, a mídia social está ajudando a facilitar as revoluções do mundo real, reunindo pessoas mobilizadas em torno de plataformas sociais para organizar os esforços e alcançar os resultados desejados. Desta forma, a comprovação de Carvalho e Vergara (2002) acerca de que a produção acadêmica no Brasil devia indicar CPMark - Caderno Profissional de Marketing - UNIMEP ISSN: 2317-6466 ações gerais, focar o acontecimento e tirar exemplos teóricos e práticos da observação. Já a constatação de Sauerbronn et al (2011) que no escopo do marketing não são visualizados estudos a uma reflexão teórica que produza conhecimento remetem mais uma vez a Alderson (1965) que há época recomendava a necessidade de os teóricos de marketing romperem com o passado e desenvolverem uma autêntica teoria de marketing, como Popper (1975) também defendia como primeiro passo, responder acerca do objeto de estudo. Assim, a percepção é de que não há um acompanhamento das mudanças na prática do marketing e elas não são reportadas e submetidas à teoria. Um exemplo são as tecnologias disruptivas, as redes sociais, novos formadores de opinião, que estão nivelando a hierarquia da mídia e talvez este seja o momento de repensar a proposição de valor de marketing e comunicação e seu papel dentro dela. ! 6 REFERÊNCIAS AMA Committee on Definitions. Marketing Definitions: A Glossary of Marketing Terms. Chicago: AMA. 1960. BRAGA. Roberto S. 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